contos sol e lua

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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

HALLOWEEN .

Durante todo o mês de outubro a pequena Salem (cidade do estado de Massachusetts, fundada em 1626 e por muito tempo um dos principais portos americanos) se agita, ou melhor, “treme” sob o efeito do festival Haunted Happenings, com intensa programação que celebra o Halloween. Trazido pelos colonizadores para o Novo Mundo, o costume de origem celta, relacionado ao culto aos mortos e reverência ao céu e à terra, sofreu influência dos romanos e da Igreja. A festa pagã, antes chamada de Samhain, tornou-se assim o Halloween (que vem de “All Hallow’s Eve” ou “Hallow Evening” – alusão à vigília de todos os mártires ou santos, que antecede o Dia dos Mortos do calendário católico). Nos Estados Unidos, ao longo dos anos, somaram-se à comemoração diversos elementos “assustadores” – monstros, esqueletos, assombrações, caveiras, gatos pretos, fantasmas – que divertem especialmente as crianças. Fantasiadas, elas saem em grupos, apavorantes ou nem tanto, batendo de porta em porta da para perguntar “trick or treat” (travessura ou gostosura, em tradução livre), para ganhar doces e balas em troca de nada aprontar contra os vizinhos. E as bruxas? – Embora a expressão “Dia das Bruxas” seja adotada como a tradução do Halloween para o português, a associação da data com a feitiçaria ganhou força na Europa a partir da Idade Média, quando ocorreram as intensas perseguições às bruxas (pessoas que supostamente praticavam magia). No fim do século 17, Salem entra definitivamente nessa história com os acontecimentos macabros que acabaram dando notoriedade sinistra à cidade. Por conta de pura superstição, uma onda de terror se impôs, gerando perseguição, prisão, julgamento e condenação à morte de pessoas, a maioria mulheres, acusadas de bruxaria. A histeria durou um ano – os últimos julgamentos ocorreram em 1692 –, até que uma lei libertou os presos e proibiu o processo por essa acusação em todo o território americano. O episódio inspirou o escritor Arthur Miller a criar, no início dos anos 50, a peça As Bruxas de Salem (The Crucible, no original). O texto foi adaptado para o cinema pelo próprio Miller, em 1996, no filme dirigido por Nicholas Hytner e estrelado por Daniel Day-Lewis e Winona Ryder. Ao incorporar tradição ancestral e sua própria história, Salem é toda Halloween, e ninguém, dos habitantes locais aos milhares de visitantes que lotam a cidade em outubro, deixa passar em branco a estação das “Jack O’ Lanterns” esculpidas em abóboras. O Haunted Happenings tem atrações o mês inteiro, incluindo eventos, manifestações, feirinha, visitas especiais a museus e casas de bruxas oficiais, apresentações e tours que rompem as madrugadas para aproveitar melhor as horas mais “bruxuleantes”, passando ainda por jardins “assustadora e humoradamente” decorados… Além do Halloween, o festival celebra também o outono, época em que as árvores e folhagens se tingem de cores quentes antes de caírem aos primeiros ventos invernais, atração extra em toda a região de New England. Cenário e clima perfeitos da “cidade Halloween”. Autora: Ivone Santos. HALOWEEN TUPINIQUIM - Waldyr Argento Jr) Parecia uma festa normal, a não ser, é claro, pelas fantasias oriundas do império americano. Entra ano e sai ano e nós brasileiros nos rendemos mais à cultura do capitalismo selvagem. Antes que digam que sou um comunista ou socialista, vou logo esclarecendo: sou meio humanista. Tudo bem, vocês podem me dizer que eu estou errado, e daí? É assim que penso! Mas, vamos ao que realmente é motivo dessa “croniqueta”. O povo todo vestido de bruxa, de caveira, fantasia de abóbora era uma perfeita festa de halloween... Exceto é claro pelo país, tupiniquim! Todos, todos sem exceção se divertiam, afinal era uma festa, né? E festa é conosco mesmo!!! Já viste povo mais animado que o nosso? Eu não!!! E lá pelas tantas da celebração às bruxas, aparece um indivíduo diferente... Não, não era uma das bruxas de Eastwood, e nem o Harry Porter, muito menos o Senhor dos Anéis... Era um negrinho franzino e que mancava, pois só tinha uma das pernas... Todos pensavam se tratar de um disfarce... Mas o cachimbo que exalava um cheiro tradicional e as evidências mostravam que era um ser diferente. Talvez oriundo das histórias em quadrinhos, ou mais precisamente um dos personagens do mestre Lobato... E o dito cujo riu para o pessoal, soltou uma baforada e indagou: - Eta festa boa essa molecada!!! Quanta animação pessoal!!! Posso saber o que vocês estão comemorando??? Um dos convidados mais exaltado resolveu retrucar o menino: - Que fantasia maneira, neguinho!!! Cadê a sua outra perna... – E riu do moleque, pensando se tratar de um truque de imagem, de espelhos... Ah, sei lá!!! O vulgo pretinho sorriu e deu mais uma baforada no seu cachimbo: - Uai, isso é festa das boas, mas não consigo entender de quê? E quanto a truques... Eu sou mesmo assim!!! Se falta a outra perna, sobra coragem!!! - Amigos... Bonita essa brincadeira, né??? Mas alguém pode me informar o quê está acontecendo? – indagou um dos participantes, curioso. - Sabemos não, amigo!!! Acho que deve ser coisa do pai de vocês!!! – retrucou outro participante do evento. - Que pai doces, o quê!!! Eu vi essa animação toda e resolvi participar!!! Afinal, uma festa cheia de indivíduos estranhos como eu e de bruxas!!! Que festa é essa??? – indagou o pretinho. - É Halloween!!! - O quê? É Haroldo ruim, é? Bem que me disseram que o menino não era flor que se cheire!!! Esse tal de Haroldo, hein? - Ô seu neguinho manco!!! Vai embora, vai!!! Não vê que Halloween é a festa das bruxas??? E o Haroldo é o filho do dono dessa mansão e que financiou essa festinha!!! - Das bruxas??? Interessante, né? Se é festa das bruxas por que não convidaram a Cuca? - Quê Cuca o quê, moleque!!! Tu tá é lelé da cuca!!! - A Cuca, oras!!! A bruxa mais conhecida do Brasil!!! Acho que ela vai ficar sentida com essa falta de consideração!!! Nisso, do nada aparece a feiosa em carne e osso. E com o seu rabão de jacaré!!! - Saci??? Tu me chamaste moleque??? - Aiiiii!!! Não falei!!! Mexeram com a dita cuja!!! Agora ocês que agüentem a sua fúria!!! Nisso, todos convidados começam a desconfiar dos dois personagens. Primeiro procuram em vão a outra perna do Saci. E se desesperam com o fato do moleque ir, vir e às vezes sumir sem deixar vestígios. Ao tentarem encarar a bruxa Cuca, alguns recebem um pouco da sua ira em raios elétricos de baixa intensidade... Outros chegam a se ferir um pouco testando os seus dentes. E alguns mais desavisados tomam uma pequena lambada dela. Sabe-se Deus quando irão despertar. Mas o fato é que quando se apercebem que se trata do Saci e da Cuca de verdade, os meninos vestidos de bruxa e de amigos do TIO SAM, fogem desesperados do local. Aos risos, o Saci indaga à Cuca: - Viu amiga, o que dá mexer com nós??? Saíram todos correndo pras suas casinhas, né??? - Isso aí, Saci amigo!!! - É, Cuca!!! E óia que eles nem conheceram o Curumim, o Boitatá e nem a Mula sem cabeça!!! - É, eta povinho fraco esse, né??? ORIGEM DA PALAVRA HALOWEEN. A palavra Halloween tem origem na religião católica. É uma contração da expressão "Ali Halliows Eve", no inglês atual, "All Hallows Eve", que significa "Véspera do Dia de Todos os Santos". O Halloween, conhecido no Brasil como Dia das Bruxas, é comemorado na noite de 31 de outubro. No aspecto religioso, essa ocasião é conhecida como a vigília da Festa de Todos os Santos, dia 1º de novembro. Estudiosos de folclore acreditam que os costumes populares do Halloween exibem traços do Festival da Colheita, realizado pelos romanos em honra à Pamona (deusa das frutas), e também do Festival Druída de Samhain (Senhor da Morte e Príncipe das Trevas). De acordo com a crença, Samhain reunia as almas dos que tinham morrido durante o ano para levá-los ao céu dos druídas, nesse exato dia. Para os druídas, Samhain era o fim do verão e o Festival dos Mortos. O dia 31 de outubro marca também o término do ano céltico. Período Pré-Cristão . Acreditava-se que os espíritos dos mortos voltavam para visitar seus parentes à procura de calor e provisões, pois o inverno aproximava-se e, junto a ele, o reinado do Príncipe das Trevas. Os Druídas invocavam forças sobrenaturais para acalmar os espíritos maus. Estes raptavam crianças, destruíam plantações e matavam os animais das fazendas. Acendiam-se fogueiras nos topos das colinas nas noites de Samhain. As fogueiras talvez fossem acesas para guiar os espíritos às casas dos seus parentes ou para matarem ou espantarem as bruxas. A inclusão de feiticeiras, fadas e duendes nesses rituais originou-se da crença pagã de que, na véspera do Dia de Todos os Santos, havia uma grande quantidade de espíritos de mortos que levavam avante uma oposição aos ritos da igreja de Roma, e que vinham ridicularizar a celebração de Todos os Santos, com festas e folias próprias deles mesmos. Supunha-se que fantasmas " frustrados" pregavam peças nos humanos e causavam acontecimentos sobrenaturais. Período Cristão. Com o passar dos tempos, a comemoração do Halloween tornou-se alegre e divertida, sem todos aqueles vestígios sombrios e tenebrosos da tradição céltica, tornando-se mais conhecida na América após a emigração escocesa, em 1840. Alguns dos costumes trazidos pelos colonos foram mantidos, mas outros foram mudados, a fim de que houvesse adaptação às novas maneiras de viver. Como exemplo, temos as Jack-O-Lanterns que, feitas com nabos primitivamente, passaram a ser feitas com abóboras. Essas Jack-O-Lanterns são um dos símbolos mais conhecidos do Halloween e têm sua origem entre os irlandeses. Jack-O-Lantern Conta a lenda que um homem chamado Jack não conseguiu entrar no céu porque era muito avarento, e foi expulso do inferno porque costumava pregar peças no diabo. Foi, então, condenado a vagar eternamente pela terra carregando uma lanterna para iluminar seu caminho. "Trick or Treat" (Travessuras ou Gostosuras) A fórmula Trick or Treat também se originou da Irlanda, onde as crianças iam de casa em casa pedindo provisões para as comemorações do Halloween, em nome da deusa irlandesa Muck Olla. As crianças inglesas continuaram esta tradição, vestidas com roupas extravagantes, pedindo doces e balas. Hoje em dia, principalmente nos EUA, o Halloween é lembrado com muitas festas e alegria. Nessas festas, as pessoas usam máscaras e se vestem como fantasmas, bruxas, Conde Drácula, Frankstein, ou da maneira que achar mais engraçado ou horripilante. As crianças saem às ruas fantasiadas, batendo de porta em porta, pedindo doces e dizendo: "Trick or Treat". Quem não as atende pode ter uma desagradável surpresa, pois elas podem lhe pregar alguma peça.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ORAÇÃO À MÃE TERRA.

(Uma Oração Essênia) Abençoado seja o Filho da Luz que conhece sua Mãe Terra... Pois é Ela a doadora da vida. Sabe que a sua Mãe Terra está em ti e tu estás Nela. Foi Ela quem te gerou e quem te deu a vida... E te deu este corpo que um dia tu lhe devolverás. Sabe que o sangue que corre nas tuas veias Nasceu do sangue da tua Mãe Terra. O sangue Dela cai das nuvens, jorra do ventre Dela, Borbulha nos riachos das montanhas... E flui abundantemente nos rios das planícies. Sabe que o ar que respiras nasce da respiração da tua Mãe Terra. O alento Dela é o azul celeste das alturas do céu... E os sussurros das folhas da floresta. Sabe que a dureza dos teus ossos foi criada dos ossos de tua Mãe Terra. Sabe que a maciez da tua carne nasceu da carne de tua Mãe Terra. A luz dos teus olhos e o alcance dos teus ouvidos... Nasceram das cores e dos sons da tua Mãe Terra, Que te rodeiam feito as ondas do mar cercando o peixinho. Como o ar sustenta o pássaro, Em verdade te digo, tu és um com tua Mãe Terra. Ela está em ti e tu estás Nela. Dela tu nasceste, Nela tu vives - e para Ela voltarás novamente. Segue, portanto, as Suas leis Pois teu alento é o alento Dela. Teu sangue, o sangue Dela. Teus ossos, os ossos Dela. Tua carne, a carne Dela. Teus olhos e teus ouvidos são Dela também. Aquele que encontra a paz na sua Mãe Terra, Não morrerá jamais. Conhece esta paz na tua mente. Deseja esta paz ao teu coração. Realiza esta paz com o teu corpo. - Evangelho dos Essênios -

Saudades.

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades... Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei... Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser... Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro... Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser... Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre! Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências... Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer! Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar! Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade. Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que... não sei onde... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi... Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades Em japonês, em russo, em italiano, em inglês... mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados... para contar dinheiro... fazer amor... declarar sentimentos fortes... seja lá em que lugar do mundo estejamos. Eu acredito que um simples "I miss you" ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades... Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência... Clarice Lispector.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Almas Perdidas.

DEUS é LUZ e VERDADE! Por este motivo dizemos que não há religião superior à verdade; e tantas vezes se diz, também, que “a voz do povo é a voz de Deus”, querendo com isto significar, exactamente, que na voz do povo anda a verdade. E a verdade é que dentro de cada um de nós há um deus, que chamamos EGO, ESPÍRITO, EU. Temos dentro de nós mesmos um deus e um demónio! O deus chama-se EU SUPERIOR ou EGO, ou ESPÍRITO, a parte de nós mesmos que pertence à eternidade e por isso não morre com o corpo, mas volta a renascer para se libertar inteiramente das suas condições mesquinhas de luz obscurecida pela carne e pelos seus instintos; o demónio chama-se EU INFERIOR e é a sombra do EU SUPERIOR, tendo sido criado nas relações deste com a Terra e as suas leis, que sempre conspiram contra o Céu. As condições terrenas buscam as celestes, e estas, por meio da Luz e da Verdade, procuram elevar as terrenas a mais altas possibilidades. Portanto, a nossa existência terrena traz consigo mesma altíssima finalidade. E quando tivermos atingido este glorioso estado – glorioso porque foi conquistado pelo nosso esforço pessoal e persistente –, seremos DEUSES de facto, e não podemos voltar às condições dolorosas da Terra, porque despimos inteiramente as nossas vestes materiais, terrenas e vestimos a nossa própria luz criadora, que atrairá outros seres ao mesmo estado em que existimos. Nos esforços para atingir a craveira divina vamos pondo em vibração certas camadas de matéria. Os espíritos que vivem nela estão infinitamente abaixo de nós. Por isso dizemos que pertencem ao reino sub-humano. Estes Espíritos da Natureza, que se movem e vivem nesses estados de matéria, ajudam-nos a graduar para mais altos destinos. Mas fazem-no criando-nos dificuldades, aumentando as nossas debilidades! Por isso dizemos que as leis que regem a matéria nos limitam os movimentos e nos prendem às condições terrenas, utilizando para esse fim as ilusórias satisfações que se nos deparam no atrito com o mundo material. E como não conhecemos outras de maior transcendência, vamo-nos deixando vencer por estes efémeros prazeres, que sempre se esvaiem como fumo. E tal como este deixa um resíduo que chamamos fuligem, assim também o poder vibratório da matéria posta em acção pelo espírito que demanda o prazer terreno deixa resíduo a que chamamos EU INFERIOR. Será depois o SACRIFICADOR de que tanto falam as religiões, o TENTADOR, o nosso CARRASCO IMPLACÁVEL! Porém, desta mesma substância terrena, o EU SUPERIOR vai extraindo uma essência, subtilizando muito mais a já subtil matéria que nos dá sensações gratas mas ilusórias; e com ela forma aquilo que chamamos ALMA. É ela que nos permite entrar, de vida em vida, em novos corpos, umas vezes masculinos, outras femininos, para irmos provando bem e profundamente as ilusões terrenas e sentindo a necessidade pungente de mais elevadas condições. Desde que o homem pôde ter apurado na matéria com que formou a ALMA, ele pôde também entrar em corpos terrenos e usá-los, estando dentro deles, em plena posse de todas as suas células! Sem ALMA os seres humanos ficam totalmente impedidos de RENASCER, de continuar as suas experiências em corpos terrenos até se graduarem como deuses. E a ALMA, que representa um penosíssimo esforço do EGO para preparar um meio de poder entrar em corpos de matéria para com eles acelerar a sua evolução, pode perder-se também, exactamente como sucede com todas as nossas aquisições que, assim como vieram, se podem perder! E muitas vezes, em vez de chamar ao criminoso “alma perdida”, exclama dum modo simples: “Que desalmado!” Nestas duas expressões o povo afirma que podemos perder a ALMA, essa aquisição admirável que nos permitiu iniciar a ascese a mais altas esferas, que nos capacitou para evoluir, para ascender gradualmente a melhores condições! Mas o povo não diz – porque não sabe: as tais verdades que emergem da voz do povo são sempre veladas, limitadas, não permitindo um exame profundo de cada problema posto à nossa resolução – é como se perde a ALMA. Nem vislumbram como poderá o criminoso perder uma tão importante conquista! Mas, como a ALMA foi criada gradualmente, ao longo de muitas vidas e de penosíssimos esforços, assim também a podemos perder, ao longo de vidas mal vividas, criminosamente vividas. Todo aquele que vive contrariando as leis da Natureza, desprezando a virtude e dando largas aos seus instintos viciosos, vai negando à sua alma o alimento predilecto, que se resume na prática de boas obras, em viver virtuosamente, em seguir a doutrina pregada por CRISTO para nossa redenção. E assim definha as energias psíquicas, tornando a sua alma cada vez mais débil até que se perde! Praticando a caridade, o amor puro, a virtude, e buscando constantemente a luz da sabedoria, a alma vai sendo ampliada. Torna-se cada vez mais forte! Vivendo a vida pelo seu lado mais grotesco e grosseiro, contrariando a virtude que sempre pode elevar-nos, recusando a prática da bondade, da caridade, dando largas aos instintos é como vamos debilitando a ALMA. E quando esta debilidade atinge certo grau perde-se o que restava! É a morte da ALMA! Por isso os grandes clarividentes, que puderam sondar estas coisas, nos dizem como tais desgraçados seres estão inteiramente despidos, nus, sem possibilidade alguma de voltarem a RENASCER para continuarem a sua evolução! Pretende-se, no tempo em que vivemos, fomentar os prazeres materiais, numa total descrença dos poderes divinos. E isto é muito mau sintoma! E a culpa deste estado reside no materialismo que tudo subverte, inclusivamente o campo religioso, onde se despreza um princípio fundamental que é negado aos fiéis. Este princípio é o selo de santidade que deve ser impresso SEMPRE nos ensinamentos religiosos! Ao pregar, será bom que se pregue apenas o que de cristalino existe em nossos corações! Se assim não for, se pregarmos apenas com os lábios, as nossas palavras são ocas ou envenenadas. E, então, o que pregamos é mau, fomenta o materialismo, a descrença. Só pode afundar-nos, desarmar-nos! Atentem nisto os que ministram a religião! E sigam CRISTO, vivendo a sua doutrina de modo que, ao pregá-la, as suas palavras levem conteúdo bom e santo para contagiar os ouvintes. Não o façam como simples fariseus, dados apenas às cómodas aparências. Se assim não fizerem será grande a sua responsabilidade! O EGO é de natureza divina. E tudo quanto é divino perdura, não pode perder-se irremediavelmente! Portanto, os EGOS caídos no caos ou Inferno não ficam para sempre perdidos. Mas terão de aguardar nessas tremendas condições uma oportunidade para voltarem à evolução. Essa oportunidade só virá quando a Humanidade a que pertencem tenha concluído a sua evolução, terminado o seu dia de manifestação, passado a noite cósmica que sempre vem após o fim de um ciclo evolutivo e cuja duração é sempre de muitos milhões de anos. Nessa altura ser-lhes-á dada a libertação das condições infernais e irão dirigir, como pioneiros, os novos seres que iniciam a sua evolução. O Purgatório também não é um lugar onde crepitam fogueiras para envolverem as almas! É simplesmente um estado de espírito em que se faz o exame de todo o mal que fizemos enquanto vivemos neste mundo, com o sofrimento emergente de cada acção praticada. A permanência no estado purgatorial é limitada a cerca de um terço da vida que vivemos neste mundo; a permanência no estado infernal é muito longa, parece eternizar-se! Mas ao fim todos serão salvos! As ALMAS PERDIDAS são como as folhas a que foi recusada a seiva e amareleceram e caíram, sendo depois arrastadas pelo vento, acabando por apodrecerem e se dissolverem na terra, donde tinham sido edificadas. Os seus materiais voltarão a ser utilizados em novas criações, porque tudo tem a sua utilidade, nada se perde irremediavelmente! Que nenhum de nós se deixe vencer pela maldade nem pelos vícios, para que não perca a sua alma! Cultivemos a virtude, pratiquemos a caridade, falemos sempre a VERDADE e só a VERDADE! Não aticemos, NUNCA, as chamas devoradoras do ódio, que sempre desgraça a ALMA! Vivamos sempre em AMOR PURO a todos os seres da Criação, dando-lhe todo o auxílio para que subam a melhores alturas! E desta maneira fortaleceremos as nossas almas, daremos maior brilho ao que CRISTO chamou dourado traje de bodas, que é o CORPO GLORIOSO com que havemos de entrar na vida eterna, na Glória Eterna!) Francisco Marques Rodrigues.

O Peregrino das Idades.

O Peregrino das Idades O homem é, necessariamente, um eterno peregrino das idades, vagando através das malhas da ilusão; não age, entretanto, como o Judeu Errante, como um prisioneiro, galgando as espirais das idades sem fim, mas como, um espectador, um apreciador da maravilhosa construção de um Grande Arquitecto, que observa os acontecimentos nos quais toma parte, os quais não pertencem ao seu Ego e estão além dele. O homem sábio aproveita as lições da vida ilusória e fica livre das suas limitações e ansiedades. Não foi um sábio e esclarecido místico que disse: “Porque não temos aqui cidade permanente, mas vamos buscando a futura” (Heb 13,14)? E ainda: “...casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2Cor 5,1). Pode parecer-nos um objectivo distante, uma caminhada infinda, porém, algum dia, alcançaremos o lugar onde faremos e usaremos “túnicas de peles” (Gén 3,21) à vontade e então ficaremos como nossos Irmãos Maiores, os “Filhos da Mente de Brama”, “sem pai, nem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias, nem fim de vida” (Heb 7,3). Para atingir esse objectivo, é necessário que o homem esteja apto a manejar o ceptro poderoso que cria e destrói, voluntariamente, tudo que o espírito quiser. Esse poder somente pode ser alcançado por intermédio das experiências que o tempo oferece e pela convicção de que o homem não é sujeito á variação dos dias, mas que permanece fora disso, embora ligado a corpos que sofrem variações. Nessas ocasiões é que compreendemos o significado da frase: “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (2Pe 3,8). Inspirado por essa expressão profética, um dos maiores poetas do mundo compôs um poema no qual um monge, não compreendendo o significado do tempo para o próprio Deus que adorava, saiu a passeio pelos arredores. E, ouvindo o canto suavíssimo de um pássaro, durante dez minutos (como ele havia pensado), resolveu voltar ao mosteiro. Verificou então que os dez minutos tinham sido mil anos para o mundo que ele ignorou totalmente durante o seu êxtase. A razão pela qual o tempo parece a única realidade ao peregrino é que, durante suas experiências, tem necessidade de mudar constantemente as “túnicas de pele”, pois é por meio delas que adquire o saber e é por meio delas que o tempo estende sua sombra como realidade. Pois, para elas, descanso, alimento e abrigo, são necessidades e uma das maiores imposições do tempo é a ideia de que o peregrino começa a vida como uma criatura nova, ágil e cheia de frescura; porém, à proporção que o tempo passa, começa a crescer, seus músculos se enrijecem, o rosado das faces desaparece, o passo torna-se inseguro, a vista embaçada, o paladar desaparece e, finalmente, a ilusão completa-se e o homem transforma-se num velho prisioneiro entre os muros do tempo, cercado pelas suas próprias deficiências e curvando-se aos golpes dos seus dias que se encurtam. Até mesmo o próprio indivíduo que se adapta às ilusões do tempo, crendo que envelhece com o decorrer dos anos, mentalmente se revolta contra o entorpecimento das faculdades e dos membros corporais que não mais lhe obedecem. O espírito incansável que habita em seu íntimo conhece o seu parentesco com as estrelas e aguarda o alento divino para fortalecer seu coração e renovar suas energias. A sua verdadeira morada é em qualquer parte. O espírito é um habitante da esfera maior, de horizontes infinitos, e nunca fica satisfeito com o limite do tempo. A sua peregrinação começa através dos infindos caminhos do tempo, como uma centelha viva da divindade, que deve crescer mercê de uma sabedoria acumulada pelas suas circunvoluções em torno da Chama Infinita, de onde emanam outras centelhas, seguindo o mesmo destino. A princípio, e durante muitas incarnações, essa centelha habitando numa túnica de pele, ignora que existe outra vida que lhe pertence, outra morada além das estrelas, temporariamente abandonada. Porém, gradualmente, à proporção que os frutos de suas experiências se acumulam no íntimo, despontam alguns lampejos. Surgem cenas diante da vista interna, as quais o peregrino tem a sensação de ter conhecido anteriormente. Vê muitas paisagens de lugares distantes e exclama: “já estive ali!” Velhos amigos são encontrados e calorosamente cumprimentados, pois tem diante de si a visão clara de um conhecimento anterior; velhos inimigos são também encontrados e as dividas são pagas; ocorre, então, uma grande expansão da consciência. Quando isso acontece, a vida, não só no corpo, como fora dele, torna-se uma maravilhosa aventura que se realiza, não no tempo, mas nos infinitos campos da eternidade. Colhemos no nosso corpo aquilo que plantámos e guardámos no celeiro dos nossos conhecimentos. O peregrino atinge o grande plano de evolução, lenta, porém, seguramente e por si próprio; o drama é assistido através dos véus do tempo, mas nem por isso é menos real e impressionante. Uma nova criatura sai das sombras da adversidade, reconhece as oportunidades perdidas, quando habitava outros corpos, em tempos idos, e desprezou a tarefa que lhe cumpria desempenhar e que foi realizada por outrem. Pela agonia da perda, aprende três coisas: não pode reter o que lhe não pertence; o que é tirado de outrem deve ser pago, ainda que seja em gotas de sangue; e, finalmente, nada que verdadeiramente lhe pertence, pode ser tirado. (...) Seguro pelo conhecimento das idades, ele passa entre as colunas do tempo, absorvendo novas experiências e transmutando-as no ouro da sabedoria, a qual persistirá além do tempo. Sorri diante da sua própria dor e não recusa conforto aos seus irmãos de sofrimento. Aceita a adversidade porque ela lhe traz a força de resistência. Aprende a sentir todas as agonias, todos os cruéis desesperos que abalam a vida do espírito; todas as esperanças que fenecem deixando a dor no seu lugar; todas as separações que parecem eternas; todas as provações que não parecem ter fim. Aprende a trilhar o caminho com o coração magoado pelas dores do mundo, derramando lágrimas secretas; porém, caminha com a certeza de que tudo passa, porque tem os olhos abertos. Colhe todos os benefícios, embora saiba que um dia será crucificado e que outros virão para tomar parte no grande drama da evolução. Sabe que nesse dia estará em união com tudo o que vive. E este conhecimento torna suave o espinhoso trajecto do Caminho. Finalmente, chegará o tempo em que o peregrino, purificado, apenas verá luz à sua frente, felicidade no seu caminho. Bastará estender a mão para obter aquilo que almejou através das angústias de amargas existências. Então, é-lhe oferecida a escolha. Ele pode gozar a paz da perfeição, a glória de sua união com o Espírito, o puro amor que o aguarda, ou pode voltar para junto dos seus irmãos de sofrimento, escolhendo o caminho da renuncia, a fim de os auxiliar na sua evolução. E quando ele escolha renúncia, entregando-se ao mundo que conquistou, o peregrino transmuta-se na mais sagrada essência que a terra pode produzir: torna-se a flor mais esplendorosa e o portador do mais elevado título: “Salvador dos Homens”. Rev. rasacrus nº 394 - Dez / 2009