contos sol e lua

contos sol e lua

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A vida é uma tela vazia.Osho.

A vida em si é uma tela vazia. Ela torna-se qualquer coisa que você venha a pintar. Você pode pintar a miséria, você pode pintar o êxtase. Esta liberdade é a sua glória. Você pode usar esta liberdade de maneira tal que toda a sua vida se torne um inferno, ou de maneira que sua vida se torne bela, abençoada, cheia de êxtase, uma coisa divina. Depende de você – o homem tem toda liberdade. Perceba que é por isso que existe tanta agonia; porque as pessoas são tolas e não sabem o que pintar nelas. Tudo depende de você – essa é a glória do homem. Essa é uma das maiores dádivas que Deus lhe deu. Nenhum outro animal recebeu a dádiva da própria liberdade. Todos os animais são programados, exceto o homem. A rosa tem que ser uma rosa, a flor de lótus tem que ser uma flor de lótus; o pássaro terá asas, o animal andará sobre quatro patas. O homem é totalmente livre. Esta á a sua beleza. Você é deixado desprogramado. Você tem que criar a si mesmo. Portanto, tudo depende de você: você pode se tornar um Buda – ou você pode se tornar um Hittler. Você pode se tornar um assassino ou um meditador. Você pode permitir a si mesmo tornar-se um lindo florescimento da consciência, ou você pode se tornar um robô. Mas lembre-se: A vida não é nem miséria nem glória. A vida é uma tela vazia e requer uma grande arte. Você é o responsável – e somente você, ninguém mais.

O Desapego.Osho.

O amor é a única libertação do apego. Quando você ama tudo, não está preso a nada. Na verdade, o fenômeno do apego precisa ser entendido. Por que você se agarra a algo? Porque tem medo de perdê-lo. Talvez alguém possa roubá-lo. Seu medo é de que amanhã você não possa ter o que tem hoje. Quem sabe o que acontecerá amanhã? A mulher ou o homem que você ama… qualquer movimento é possível: vocês podem se aproximar ou podem se distanciar. Vocês podem novamente se tornar estranhos ou podem ficar tão unidos que não seria correto dizer nem mesmo que vocês são duas pessoas diferentes; é claro, existem dois corpos, mas o coração é um só, a canção do coração é uma só e o êxtase os envolve como uma nuvem. Vocês desaparecem nesse êxtase: você não é você, ela não é ela. O amor passa a ser tão total, tão grande e irresistível que você não pode permanecer você mesmo; você precisa submergir e desaparecer. Nesse desaparecimento, quem se prenderá, e a quem? Tudo é. Quando o amor desabrocha em sua totalidade, tudo simplesmente é. O receio do amanhã não surge, daí não surgir a questão do apego. “Todas as nossas misérias e sofrimentos não são nada mais do que apego. Toda a nossa ignorância e escuridão é uma estranha combinação de mil e um apegos. Nós estamos apegados a coisas que serão levadas no momento da morte, ou mesmo, talvez, antes. Você pode estar muito apegado a dinheiro, mas você pode ir à bancarrota amanhã. Você pode estar muito apegado a seu poder e posição, mas eles são como bolhas de sabão. Hoje eles estão aqui; amanhã eles não deixarão nem um traço. (…) Todas as nossas posições, todos os nossos poderes, nosso dinheiro, nosso prestígio, respeitabilidade são todos bolhas de sabão. Não fique apegado a bolhas de sabão; senão, você estará em contínua miséria e agonia. Essas bolhas de sabão não se importam por você estar apegado a elas. Elas continuam estourando e desaparecendo no ar e deixando-o para trás com o coração ferido, com um fracasso, com uma profunda destruição de seu ego. Elas o deixam triste, amargo, irritado, frustrado. Elas transformam sua vida num inferno. Compreender que a vida é feita da mesma matéria que os sonhos é a essência do caminho. Desapegue-se: viva no mundo, mas não seja do mundo. Viva no mundo, mas não permita que o mundo viva dentro de você. Lembre-se que ele é um belo sonho, porque tudo está mudando e desaparecendo. Não se agarre a nada. Agarrar-se é a causa de sermos inconscientes. Se você começar a se desprender, uma tremenda liberação de energia acontecerá dentro de você. A energia que estava envolvida no apego às coisas trará um novo amanhecer ao seu ser, uma nova luz, uma nova compreensão, um tremendo descarregar – nenhuma possibilidade para a miséria, a agonia, a angustia. Ao contrário, quando todas essas coisas desaparecem, você se encontra sereno, calmo e tranqüilo, numa alegria sutil. Haverá um riso no seu ser. (…) Se você se tornar desapegado, você será capaz de ver como as pessoas estão apegadas a coisas triviais, e quanto elas estão sofrendo por isso. E você rirá de si mesmo, porque você também estava no mesmo barco antes. O desapego é certamente a essência do caminho.”

Oração para o 1º Dia do Ano.

Ó Deus eterno e onipotente, com a vossa graça damos princípio a este novo ano! Que será de nós no seu decurso? Passá-lo-emos santamente? Chegaremos até seu fim? Só Vós o sabeis, Senhor. A nós só cumpre entregá-lo totalmente em vossas mãos, confiando unicamente na vossa misericórdia. Começamo-lo oferecendo-vos as mais devotas e fervorosa homenagens do nosso coração, como as primícias desse novo ano. Nós vos adoramos, vos louvamos e vos bendizemos, ó fonte de todo bem. Desejamos que sejais adorado, louvado e engrandecido por todas as criaturas. Consagramo-vos o nosso corpo, a nossa alma, todos os nossos sentidos, todas as nossas faculdades e potências, e toda nossa vida. Nós vos oferecemos todos os nossos pensamentos, afetos, palavras e obras. Ó, quem nos dera passar este ano em perfeito holocausto à vossa divina glória! Tais são nossos desejos. Mas, Senhor, Vós bem sabeis quão fracos e mesquinhos somos. Dignai-vos, pois, derramar sobre nós a torrente de vossas graças, para que, com elas fortificados, superemos os obstáculos, vençamos as dificuldades, e só vivamos para vossa honra e glória, e para a santificação de nossas almas. Virgem Santíssima, São José, Anjo da Nossa Guarda, todos os santos e santas da corte do Céu, intercedei por nós no decurso deste novo ano. Assim seja.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

HO'OPONOPONO .

"Sinto muito" e "Te amo" - Processo de cura Havaiano: Ho'oponopono significa amar-se a si mesmo Já ouvimos muitas vezes que criamos nossa realidade, que o mundo é um reflexo de quem somos, que somos todos um, que tudo começa e termina em nós. Acredito que vocês já saibam disto. Mas, outra coisa é verificar se, de fato, compreendemos a essência de todas as afirmações que fazemos. Existe um processo de cura e perdão criado por uma tribo havaiana, a dos Kahunas. O método chama-se: Ho´oponopono. Parece estranho dizer que existe um processo de perdão, mas vejam só: Você julga ou condena alguém por algo que tenha dito ou feito, ou deixado de dizer ou fazer? Você julga ou condena quando sabe que alguém está doente, porque não teve bons hábitos alimentares ou higiênicos ou sexuais? Você julga ou condena quando vê alguém repetir uma situação? Você julga ou condena quando alguém sofre por um mal, que outra pessoa tenha feito? Então, você é humano! E por ser humano, tem consciência de seus pensamentos, portanto, condições de modificá-los, se quiser... Esse processo consiste em curar e perdoar primeiramente você, porque somos espelhos do mundo, o mundo reflete nossos pensamentos e ações, as pessoas refletem nossos pensamentos, ações, emoções e comportamentos. Devemos também sempre nos lembrar que o perdão é um processo, não é um fim em si mesmo. Estamos sempre precisando perdoar algo, seja em nós mesmos, nos outros, nos eventos ou nas instituições. Portanto, tenha em mente que hoje é um bom dia para perdoar. Falando assim, parece estranho, mas se você desejar melhorar a sua vida, você deve cura-se e perdoar-se. Se você deseja curar ou perdoar alguém, mesmo um criminoso mentalmente doente, você faz curando a si mesmo. É tão simples! Nada está do lado de fora, mas dentro de você, da sua mente. Para todos e para cada um de vocês: Sinto muito, eu te amo! Não importa que tipo de problema existe, trabalhe com você mesmo. DR.LHALEAKALA HEW LEN - Terapeuta

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

POEMA EM LINHA RETA.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. (Fernando Pessoa)

Perdoando Deus.

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre. E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais. Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele – mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação. … mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.Clarice Lispector. em Felicidade Clandestina.

Almas indecisas...

Almas ansiosas, trêmulas, inquietas, Fugitivas abelhas delicadas Das colméias de luz das alvoradas, Almas de melancólicos poetas. Que dor fatal e que emoções secretas vos tornam sempre assim desconsoladas, Na pungência de todas as espadas, Na dolência de todos os ascetas?! Nessa esfera em que andais, sempre indecisa, Que tormento cruel vos nirvaniza, Que agonias titânicas são estas?! Por que não vindes, Almas imprevistas, Para a missão das límpidas Conquistas E das augustas, imortais Promessas?! Cruz e Souza.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

HERMES TRISMEGISTO.

O MITO E A REALIDADE Filho de Zeus e de Maia, a mais jovem das Plêiades da mitologia grega, Hermes nasceu num dia quatro (número que lhe era consagrado), numa caverna do monte Cilene, ao sul da Arcádia. Divindade complexa, com múltiplos atributos e funções, Hermes foi no início um deus agrário, protetor dos pastores e dos rebanhos. Um escrito de Pausânias deixa bem claro esta atribuição do filho de Maia: “Não existe outro deus que demonstre tanta solicitude para com os rebanhos e para com o seu crescimento”. Mais tarde, os escritores e os poetas ampliaram o mito, como por exemplo, Homero, nos seus poemas épicos Ilíada e Odisséia. Na Odisséia, por exemplo, o deus intervém como mago e como condutor de almas (nas Rapsódias X e XXIV). Protetor dos viajantes, Hermes é também o deus das estradas. Nas encruzilhadas, para servir de orientação, os transeuntes amontoavam pedras e colocavam no topo do monte a imagem da cabeça do deus. A pedra lançada sobre um monte de outras pedras, simbolizava a união do crente com o deus ao qual elas estavam consagradas. Considerava-se que nas pedras do monte estavam a força e a presença do divino. Para os gregos, Hermes regia as estradas porque andava com incrível velocidade, por usar as sandálias providas de asas. Deste modo, tornou-se o mensageiro dos deuses, principalmente de seu pai, Zeus. Conhecedor dos caminhos, não se perdendo nas trevas e podendo circular livremente nos três níveis (Hades ou infernos, Terra ou telúrico e Paraíso ou Olimpo), Hermes tornou-se um deus condutor de almas. A astúcia, a inventividade, o poder de tornar-se invisível e de viajar por toda a parte, aliados ao caduceu com o qual conduzia as almas na luz e nas trevas, são os atributos que exaltam a sabedoria de Hermes, principalmente no domínio das ciências ocultas, que se tornarão, na época helenística, as principais qualidades do deus. A partir deste ponto, Hermes se converteu no patrono das ciências ocultas e esotéricas. É ele quem sabe e quem transmite toda a ciência secreta. O feiticeiro Lúcio Apuléio declara em seu livro de bruxaria (De Magia) que invocava Mercúrio – o Hermes dos romanos – como sendo aquele que possuía os segredos da magia e do ocultismo. Hermes Trismegistos é o nome grego dado ao deus egípcio Thoth, considerado o inventor da escrita e de todas as ciências a ela ligadas, inclusive a medicina, a astronomia e a magia. Segundo o historiador Heródoto, já no séc. V a.C. Thoth era identificado e assimilado a Hermes Trismegisto, i.e., ao Três Vezes Poderoso Hermes. A pedra de Roseta, gravada no ano 196 a.C também identifica Hermes como Thoth. A tradução dos hieróglifos das câmaras mortuárias do Vale dos Reis permitiu dividir os escritos atribuídos a Hermes-Thoth em dois tipos principais: o Hermetismo “popular” que trata da astrologia e das ciências ocultas, e o Hermetismo para os “cultos”, que trata de Teologia e de Filosofia. Do renascimento até ao final do século XIX pouca atenção foi dispensada aos Escritos Herméticos populares. Estudos recentes mostraram, no entanto, que a literatura popular hermética é anterior ao Hermetismo dito culto, e reflete as idéias e convicções dominantes no império romano. Os Escritos Herméticos sobre Teologia e Esoterismo constam de dezessete tratados, que compõem o Corpus Hermeticum. Este conjunto de Escritos reúne as compilações feitas por Stobaeus e por Apuleius. A compilação de Apuleius for traduzida para o Latim por Asclepius. Estes escritos são datados dos três primeiros séculos da era cristã e foram escritos em língua grega, embora os conceitos neles contidos sejam de origem egípcia. O Corpus Hermeticum reúne a Hermética e a Tábua de Esmeralda. Estas duas obras são trabalhos estritamente herméticos sobre os quais se fundam a ciência e a filosofia alquímicas. A Hermética consta de uma série de livros, dos quais o mais importante é Livro I, Pimandro, que é um diálogo de Hermes consigo mesmo. O Hermetismo foi estudado durante séculos pelos árabes, e por seu intermédio chegou ao Ocidente, onde influenciou homens como Albertus Magnus. Em toda a literatura Medieval e do Renascimento são freqüentes as referências a Hermes Trismegistos e aos Escritos Herméticos, estudados e aprofundados, principalmente, pelos Alquimistas e pelos Rosacruzes. Para os Rozacruzes, Hermes Trismegistos foi um sábio. O Dr. H. Spencer Lewis, escritor e Grande Mestre da Ordem Rosacruz, se referia a Hermes como uma pessoa real. No mundo greco-latino, sobretudo em Roma, com os gnósticos e neoplatônicos, Hermes Trismegisto se converteu num deus cujo poder varou os séculos. Na realidade, Hermes Trismegisto resultou de um sincretismo com o Mercúrio latino e com o deus egípcio Thoth, o escrivão no julgamento dos mortos no Paraíso de Osíris, e patrono de todas as ciências na Grécia Antiga. Em Roma, a partir dos primeiros séculos da era cristã, surgiram muitos tratados e documentos de caráter religioso e esotérico que se diziam inspirar-se na religião egípcia, no neoplatonismo e no neopitagorismo. Esse vasto conjunto de escritos que se acham reunidos sob o nome de Corpus Hermeticum, coleção relativa a Hermes Trismegisto, é uma fusão de filosofia, religião, alquimia, magia e astrologia, e tem muito pouco de egípcio. Desse Corpus Hermeticum muito se aproveitou a Gnose (conhecimento esotérico da divindade, transmitido através dos ritos de iniciação). Os gnósticos, com seu sincretismo religioso greco-egípcio-judaico-cristão surgido também nos primeiros séculos da nossa era, procuraram conciliar todas as tendências religiosas e explicar-lhes os seus fundamentos através da Gnose. As sandálias de Hermes eram dotadas de asas, separavam a terra do corpo pesado e vivente, e daí vem a importância simbólica das sandálias depostas, rito maçônico que evoca a atitude de Moisés no monte Sinai, pisando descalço a terra santa. Descalçar a sandália e entregá-la ao parceiro era, entre os judeus, a garantia de cumprimento de um contrato. Para os antigos taoístas, as sandálias eram o substituto do corpo dos imortais, e seu meio de deslocamento no espaço. Em Hermes e Perseu, as sandálias aladas são o símbolo da elevação mística. O caduceu significa em grego bastão de arauto. Símbolo dos mais antigos, sua imagem já se acha gravada, desde o ano 2.600 a.C., na taça do rei Gudea de Lagash. São várias as formas e múltiplas as interpretações do caduceu. Insígnia principal de Hermes, é um bastão em torno do qual se enrolam, em sentidos inversos, duas serpentes. Enrolando-se em torno do caduceu, elas simbolizam o equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo, o que leva a interpretar o bastão do deus de Cilene como um símbolo de paz. A serpente é um símbolo encontrado na Mitologia de todos os povos. Todas as grandes idéias surgidas no início da Civilização foram representadas pela serpente: o Sol, o Universo, Deus, a Eternidade. Enroscada no Tau, a serpente é o símbolo do Grau 25 do REAA. Também se pode interpretar o caduceu como sendo o símbolo do falo ereto, com duas serpentes acopladas. Esta interpretação do caduceu é uma das mais antigas representações indo-européias, sendo encontrado na Índia antiga e moderna, associado a numerosos ritos, bem como na Grécia, onde se tornou a insígnia de Hermes. Espiritualizado, esse falo de Hermes penetra no mundo desconhecido em busca de uma mensagem espiritual de libertação e de cura. Hoje em dia o caduceu é o símbolo universal da Medicina. O esoterismo maçônico, com a sua tradução em rituais, símbolos e ensinamentos, é criação de grandes pesquisadores, colecionadores de livros e de manuscritos raros, e grandes estudiosos das culturas da antiguidade. Elias Ashmole, Desaguilliers e Francis Bacon foram alguns destes homens, Rosacruzes e grandes conhecedores do hermetismo e da transmutação alquímica dos metais, através da Pedra Filosofal. Eles introduziram na Maçonaria os mesmos conceitos filosóficos, utilizando agora os instrumentos da arte de construir, como símbolos da regeneração e do aperfeiçoamento moral e espiritual do Homem. Hermes Trismegisto foi, na Mitologia Grega, o deus que reuniu os atributos que todos os grandes pensadores e iniciados desejaram transmitir às futuras gerações. Ele foi um deus tão importante que na cidade de Listra, a multidão, ao ver o milagre realizado pelo apóstolo Paulo, tomou-o por Hermes e gritou entusiasmada, pensando estar diante de um deus sob forma humana. Obra consultada. Hermes Trismegisto - Ensinamentos Herméticos AMORC Grande Loja do Brasil

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O que representavam as 10 pragas do Egito e quais são os deuses que estão relacionados com elas?

Um trecho que, sem dúvida, chama muito a atenção dos cristãos ou mesmo não cristãos, é a passagem sobre as 10 Pragas que o Senhor lançou sobre o Egito. Estas terríveis pragas tiveram por fim levar Faraó (Faraó, era o título dado ao monarca do Egito ) a reconhecer e a confessar que o Deus dos hebreus era supremo, estando o seu poder acima da nação mais poderosa que era então o Egito (Ex 9.16; 1Sm 4.8) cujos habitantes deveriam ser julgados por sua crueldade e grosseira idolatria. Porém, poucos conhecem um importante aspecto dos planos de Deus para aquele povo e para os nossos dias. Além da principal finalidade, relatada na Bíblia, que é libertação do povo de Israel, cativo do Faraó, as 10 pragas tiveram grande importância sobre os habitantes do Egito. Deus estava desafiando os deuses egípcios. E como se deu isso? A resposta é simples. Imagine: Por que Rãs, Gafanhotos, Águas em Sangue, Chuva de Pedras…? O certo é que Deus queria falar algo mais. O Deus de Israel estava se revelando ao Seu povo e ao Império Egípcio. Cada praga era direcionada a divindades, conforme a credibilidade do povo em confiar nesses “falsos senhores”. Abaixo você pode ver mais detalhadamente esse processo. 1) Água em sangue (Êx. 7:14-24) A primeira praga, a transformação do Nilo e de todas as águas do Egito em sangue, causou desonra ao deus-Nilo, Hápi. A morte dos peixes no Nilo foi também um golpe contra a religião do Egito, pois certas espécies de peixes eram realmente veneradas e até mesmo mumificadas. (Êx 7:19-21) 2) Rãs (Êx. 8:1-15) A rã, tida como símbolo da fertilidade e do conceito egípcio da ressurreição, era considerada sagrada para a deusa-rã, Heqt. Assim, a praga das rãs trouxe desonra a esta deusa. (Êx 8:5-14) 3) Piolhos – (Êx. 8:16-19) A terceira praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de transformar o pó em borrachudos, por meio de suas artes secretas. (Êx 8:16-19) Atribuía-se ao deus Tot a invenção da magia ou das artes secretas, mas nem mesmo este deus pôde ajudar os sacerdotes-magos a imitar a terceira praga. 4) Moscas (Êx. 8:20-32) A linha de demarcação entre os egípcios e os adoradores do verdadeiro Deus veio a ficar nitidamente traçada da quarta praga em diante. Enquanto enxames de moscões invadiam os lares dos egípcios, os israelitas na terra de Gósen não foram atingidos pela praga (Êx 8:23,24). Deus algum pôde impedí-la,nem mesmo Ptah, “criador do universo”, ou Tot, senhor da magia. 5) Peste sobre bois e vacas (Êx. 9:1-7) – A praga seguinte, a pestilência no gado, humilhou deidades tais como: Seráfis (Ápis) – deus sagrado de Mênfis do gado, a deusa-vaca, Hator e a deusa-céu, Nut, imaginada como uma vaca, com as estrelas afixadas na sua barriga. Todo gado do Egito morreu, mas nenhum morreu de Israel. (Êx. 9:4 e 7).Fonte:Parte desse conteúdo foi elabora pelo Pr. Valdeci Júnior e parte dele pode ser encontrado na enciclopédia “Estudo Perspicaz das Escrituras” 6) Feridas sobre os egípcios (Êx. 9:8-12) Deus nesta praga zombou a deusa e rainha do céu do Egito, Neite. Moisés jogou o pó para o céu que deu um tumor ulceroso na pele do povo que doeu demais. Os magos também pegaram a doença e não puderam adorar a sua deusa e rainha religiosa. Israel novamente foi poupado dessa praga. (Êx. 9:11) 7) Chuva de pedras (Êx. 9:13-35) A forte saraivada envergonhou os deuses considerados como tendo controle sobre os elementos naturais; por exemplo, Íris – deus da água e Osiris – deus de fogo. 8) Gafanhotos (Êx. 10:1-20) A praga dos gafanhotos significava uma derrota dos deuses que, segundo se pensava, garantiam abundante colheita. Deus encheu o ar de gafanhotos. Os deuses egípcios (Xu – deus do ar e Sebeque – deus-inseto) não puderam fazer nada para não deixar acontecer. (Êx 10:12-15) 9) Escuridão total (Êx. 10:21-23) Com esta praga Deus derrubou o deus principal do Egito, Rá, o deus-sol. A palavra Faraó significa sol, ele era um deus. Egito ficou nas trevas (sem ver nadinha) durante 3 dias, mas Israel ficou na luz. (Êx. 10:23). 10) Morte de todos os primogênitos (Êx. 11-12) Inclusive entre os animais dos egípcios – A morte dos primogênitos resultou na maior humilhação para os deuses e as deusas egípcios. (Êx 12:12) Os governantes do Egito realmente chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá ou Amom-Rá. Depois disto todos souberam que Deus era o Senhor e Seu nome ficou anunciado em toda a terra. Deus destruiu todo deus falso do Egito. Na morte do primogênito Deus mostrou que Ele tem na Sua mão o poder de morte e de vida. O Faraó tinha pretensão de ser adorado, de ser uma divindade. O primogênito era, em potencial um faraó, pois era o herdeiro do trono. Deus demonstrou a falsa deidade de Faraó e seu filho.Fonte:Parte desse conteúdo foi elabora pelo Pr. Valdeci Júnior e parte dele pode ser encontrado na enciclopédia “Estudo Perspicaz das Escrituras”

domingo, 6 de setembro de 2015

FORÇA INTERNA AUXILIAR DA CURA.

FORÇA INTERNA AUXILIAR DA CURA Pelo poder da VONTADE nós projetamos uma idéia através da mente, tomando ela forma concreta como pensamento-forma ao atrair da Região do Pensamento Concreto a matéria mental com que então se reveste”. (Conceito Rosacruz do Cosmos”). A mente humana, portanto, quando dirigida positivamente pelo Espírito, pode alcançar grandes coisas continuamente em todas as fases da vida. Assim, uma atitude mental construtiva, criativa, é a chave de nossos poderes internos de fortaleza, saúde, coragem e equilíbrio. O pensamento é considerado como força e energia, poderosa para o bem ou para o mal, como também o é a intangível força conhecida como eletricidade. Daí precisarmos ter muito cuidado ao lidar com os nossos processos mentais quando desejamos determinados resultados. Pensamentos são coisas, e todo pensamento que formamos torna-se parte de nossa aura mental e de nossa vida. Pensamentos criadores, individuais e coletivos, produzem tudo o que do esforço humano é útil, belo e de valor duradouro na vida para a saúde e para o progresso das pessoas. Por conseguinte, pensar e viver retamente produz saúde, felicidade e prosperidade, e encoraja a transmutação de qualquer mal que nos aflija. Por outro lado, hábitos destrutivos de pensar reagem desfavoravelmente sobre o organismo físico, criando condições doentias e infelizes nas vidas e nos negócios das pessoas. Indivíduos que se permitem pensamentos negativos têm todas as probabilidades de serem vencidos pelo mal. Aquele que se encontra enfermo, fraco e aflito, independentemente dos sintomas que apresente, deve formar uma imagem mental da perfeição e saúde físicas que deseje para viver mais abundantemente. Deve condicionar sua mente para visualizar saúde enquanto, obviamente, esteja sofrendo por alguma doença. Isso é razoável e lógico porque a doença se deve principalmente a conceitos mentais errôneos e a reações emocionais indevidas. Como toda a humanidade começa a ter uma mais ampla compreensão, apreciação e utilização das potencialidades ocultas e poderes da mente humana, em virtude dos atuais e crescentes meios de comunicação e informação, a vida de um também crescente percentual de pessoas em todo o mundo deve mudar para melhor “A Vida não espera de nós sacrifícios inatingíveis, ela apenas pede que façamos nossa jornada com alegria em nosso Coração e para ser uma benção para todos aqueles que nos rodeiam. Se nós fazemos o mundo melhor com a nossa visita, então nós cumprimos a nossa missão.” Dr. Edward Bach

OS MISTÉRIOS, DE GOETHE.

Trad. Raul Guerreiro I Uma magnífica balada vos está reservada; Com agrado a escutai, e a todos conclamai! Por vales e montanhas a vereda avança; Aqui a visão se limita, ali outra vez se liberta, E se a senda de manso se embrenha na mata, Não imaginai que se trata de engano; O que queremos, após o bastante subirmos, É em boa hora nos acercarmos da meta. II Mas não creia alguém que à custa de reflectir Poderá um dia decifrar por inteiro esta balada: Muita gente deverá aqui imenso ganhar, Pois variegados frutos tem a terra-mãe a oferecer; Uns há que, de olhar sombrio, se afastam daqui, Enquanto outros, de ânimo alegre, se deixam ficar: Goze assim cada um segundo o seu prazer, Para alguns peregrinos a fonte deverá brotar. III Fatigado da longa e penosa jornada, Que ele por elevado impulso encetara, De bastão na mão, a modos de peregrino devoto, Chegou o irmão Marcus, por rumos erradios E carente de algo comer e beber, Num fim-de-tarde ameno a um vale, Desejoso de naqueles baixios arborizados Encontrar um tecto acolhedor onde pernoitar. IV No monte escarpado que se depara à sua frente, Crê entrever os vestígios de um caminho; Segue então o sendeiro, que em curvas avança, Tendo que contornar rochedos para poder subir; Em breve se encontra elevado sobre o vale, Enquanto o Sol de novo o alumia com afável luz, E em breve ele avista, com íntima satisfação, O cimo do monte ao alcance do seu olhar. V E ao seu lado o Sol, que no seu declínio Reina ainda esplêndido entre nuvens obscuras; Ele reúne forças para conseguir galgar ao topo, Onde espera ver em breve a sua faina compensada. "Ora bem", diz ele de si para si, "já devia se mostrar, Se vive pelas cercanias qualquer coisa de humano!" Após subir, põe-se à escuta e sente-se como renascido, Conforme um repique de sinos alcança os seus ouvidos. VI E depois de atingir o pináculo máximo, Ele avista um vale próximo, suavemente ondulado. O seu olhar calmo reluz de satisfação; Pois defronte à mata ele de súbito divisa Um esbelto edifício erigido na campina verde. Agora mesmo o último raio de Sol o veio beijar: Rápido ele cruza os prados humedecidos de orvalho, Rumo ao mosteiro, cuja luz vem ao seu encontro. VII Em breve ele se encontra junto desse lugar sereno, Que inunda o seu espírito de paz e esperança, E sobre a ogiva do portão cerrado Vislumbra um misterioso ornato. Ele pára e cisma, murmurando as palavras De devoção que em seu coração arqueja, E põe-se a reflectir: "O que quer isto significar?" Baixa agora o Sol e extingue-se o som de sinos. VIII Ele avista aquele símbolo majestosamente erigido, Aquele conforto e esperança para o mundo inteiro, Em nome do qual espíritos aos milhares se prometeram E corações aos milhares com ardor suplicaram, O qual o poder da amargosa morte aniquilou, E em tantos pendões triunfais vai ostentado: Um novo alento revivesce os membros fatigados, Enquanto os olhos baixa, após avistar a cruz. IX De novo ele sente a redenção que daí irrompeu, E sente em si próprio a fé de meio mundo; Mas eis que um novo sentido lhe invade a alma, Perante a cena que aos seus olhos se oferece: Rosas abraçam em profusão a cruz! Quem terá à cruz rosas acrescentado? A coroa parece vicejar de todos os lados Como que a trazer brandura ao rude madeiro. X Nuvens ténues e argênteas pairam no céu, Alteando-se com rosas e cruz nos ares, E do centro irrompem, qual vida sagrada, Três raios de luz, de um só ponto irradiados; Não há palavra alguma a acompanhar esta cena, Que possa trazer sentido e clareza ao mistério. À luz do crepúsculo cada vez mais ensombrado Ele põe-se de pé, medita e sente-se edificado. XI Ele bate por fim à porta, conforme as estrelas Já elevadas lançam sobre ele o seu luzidio olhar. Abre-se a porta e ele é recebido com alegria, Com braços abertos, com mãos distendidas. Ele diz então de onde vem, de que distante lugar Os desígnios de entes superiores o enviaram. Todos o escutam e pasmam. Honram então o enviado, Tal como antes o visitante e estranho haviam honrado. XII Juntam-se depois os demais, ávidos também de ouvir, E sentem-se comovidos por misteriosa energia. Nenhum suspiro ousa o invulgar visitante disturbar, Pois cada palavra faz eco nos corações. O que ele tem a relatar age como profunda lição, Proferida com sabedoria por lábios infantis: Na franqueza e pureza com que se revela Ele mais parece um habitante de outra terra. XIII «Bem-vindo", exclama então um velho, "bem-vindo, Se consolo e esperança for o que a tua mensagem traz! Bem vês, que angústia nos assola a todos, Conquanto a nossa alma se deleite em te ver: Mas, ah! o mais belo tesouro nos será arrebatado, E assim vivemos mergulhados em receios e tormentos. Em grave hora os nossos muros te vêm acolher, Ó estrangeiro, para connosco também lamentar. XIV Pois, ah! o homem que todos aqui uniu, Esse que temos por pai, amigo e guia, Que foi pela vida abrasado com luz e coragem, Dentro em breve de nós se apartará, Apenas há pouco ele próprio o anunciou; Mas sobre o quando ou o como, nada nos revela: E assim, a certeza da sua partida é para nós Misteriosa e repleta de amargo sofrimento. XV Como vês, todos aqui já temos cabelos agrisalhados, Pois a natureza a nós próprios já ordena a descansar: Nunca aceitámos alguém que, no verdor dos anos, Tenha renunciado cedo demais o seu coração ao mundo. Após termos provado das alegrias e mágoas da vida, E conforme o vento as nossas velas já não insuflava, Permitido nos foi vir com honra aqui aportar, Consolados de um porto seguro descobrir. XVI Divina paz habita no peito desse homem, Esse nobre que aqui nos conduziu; Ao longo do sendeiro da vida o acompanhei, E bem vivos tenho na consciência os velhos tempos; As horas em que ele agora solitário se prepara, Anunciam-nos a perda que se aproxima. O que é o Homem? Por que pode ele a sua vida Assim deixar, e não doá-la a um melhor? XVII Esse seria portanto o meu único desejo! Por que devo abdicar de semelhante anseio? Quantos e quantos já partiram antes de mim! Mas só ele devo com mais amargura chorar. Oh, com que alegria ele outrora te receberia! Mas os encargos da casa já nos cedeu; Embora ninguém ainda tenha tomado a sucessão, Em espírito ele já de nós se apartou. XVIII Uma só breve hora diariamente vem ter connosco, Narrando coisas, e mais do que nunca se comovendo: Podemos então ouvir da sua própria boca, Quão maravilhosamente o guiou a Providência; A tudo atentamos, para que dessa revelação segura Nenhum pormenor se perca para a posteridade; Cuidamos até para que um de nós zelosamente tudo anote, E assim as suas memórias permaneçam puras e fiéis. XIX Com efeito, muita coisa preferiria eu próprio contar, Em vez de agora apenas permanecer quieto a ouvir; O menor detalhe não me deverá escapar, Pois tudo guardo ainda vivo na lembrança; Oiço atento, mas só a custo consigo dissimular, Que nem sempre estou satisfeito com tudo isso: Se alguma vez eu falar de todas essas cousas, Bem mais esplêndidas elas deveriam ressoar da minha boca. XX Eu, como terceiro, mais e livremente posso contar, Como um espírito mui cedo o anunciou à mãe, E como uma estrela, durante a celebração do seu baptismo, Resplendente se revelou no céu crepuscular; E também como um gavião, de asas distendidas, Veio pousar entre as pombas no pátio; Mas não cruel e desalmado, como de habitual, Mas sim como a convidá-las amenamente à concórdia. XXI Depois, ele ainda modestamente nos ocultou, Como enquanto criança subjugou a cobra, Que tinha encontrado enleada no braço da irmã, Envolvendo a adormecida em forte aperto. A ama havia fugido, abandonando o bebé; Com mão decidida ele esmagou a serpente, E chegando a mãe, admirou-se a tremer de alegria Com a façanha do filho, e a filha que vivia. XXII E também nos ocultou, como de uma rocha seca, Após tocada pela sua espada, uma fonte brotou, Rolando forte como uma ribeira, em ondas agitadas, Montanha abaixo até ao fundo do vale: Ainda hoje ela jorra tão forte e tão cintilante Como no instante em que irrompeu à sua frente, E os acompanhantes, que ao milagre assistiram, Nem ousaram matar a sede que os abrasava. XXIII Se a natureza um homem de tal modo elevou, Não é milagre algum se tanto pode realizar; Nele devemos louvar o poder do Criador, Que a frágil argila de tal maneira honrou; Mas se um homem, de todas as provas da vida, A mais amarga vence, que é vencer-se a si próprio, Podemos então jubilosos apontá-lo aos demais e dizer: Eis alguém que é verdadeiro, que vale por si próprio! XXIV Pois qualquer força avança em frente pelo espaço, Buscando viver e actuar aqui e acolá; Em contrapartida, o caudal impetuoso do mundo Prende e tolhe de todos os lados, arrastando-nos consigo: Em meio a semelhante tormenta interior e luta externa Ouve o espírito uma mensagem de difícil compreensão: Da dominância que sobre todos os seres impera, Liberta-se o homem que a si próprio se supera. XXV Quão cedo já lhe ensinara o coração, O que nele nem devo chamar de virtude: Que respeitasse a severa palavra do pai, Sendo diligente mesmo quando este, cru e rude, As horas livres da juventude com tarefas onerava, Às quais o filho de bom gosto se entregava, Tal como um miúdo errante e sem lar o faria, Por carência, em troco de uma parca esmola. XXVI Teve que acompanhar os combatentes às lutas, Inicialmente como peão, fizesse chuva ou sol, Cuidando dos cavalos e preparando as mesas, Mostrando-se útil a cada velho guerreiro. A qualquer hora do dia ou da noite, solícito, Ele percorria os bosques como veloz estafeta, E assim, acostumado a viver só para os demais, As suas estafas pareciam só lhe dar prazer. XXVII Tal como em combate, de ânimo valoroso e vivaz, Ele recolhia as flechas que no solo encontrava. Corria depois a colher ele próprio ervas curativas, Preparando com elas pensos para os feridos. Tudo em que tocasse começava logo a sarar, Sentindo a sua mão, os enfermos se animavam: Não havia quem o não estimasse com alegria! Só o pai parecia não reconhecer o seu valor. XXVIII Leve, como um veleiro que da carga Não sente o peso e rápido vai de porto a porto, Suportava com ligeireza o ensino paternal; Ser obediente era o seu preceito basilar; E tal como pelo prazer o menino, ou pela fama o jovem, Ele só pela vontade alheia se afastou do lar. Debalde tentou o pai novas provas conceber, Mas quando ia a exigir, já tinha que louvar. XXIX Por último deu-se também este por vencido, Reconhecendo activamente o valor do filho; Desvanecera-se já a aspereza do velho, E ofereceu-lhe de surpresa um cavalo de valor; Dispensado foi o rapaz de serviços de menor, Ostentava agora uma espada, em vez de curto punhal: E assim adentrou ele, após tantas provas, uma Ordem, À qual de nascimento o direito lhe assistia. XXX Assim poderia eu ainda dias a fio relatar, Cousas capazes de assombrar qualquer ouvinte; Certamente a sua vida será um dia comparada Por descendentes às mais sublimes histórias; Aquilo que para a alma em fábulas e poesias Se afigura irreal, mas sobremaneira a fascina, Aqui lhe é dado escutar e de bom grado gozar, Duplamente feliz de o receber autenticamente. XXXI Perguntas-me tu como se chama esse eleito, Esse pelos olhos da Providência escolhido? Esse que amiúde eu louvo, mas jamais o suficiente, E a quem tantas e incríveis cousas sucederam? Humanus é o nome desse santo, desse sábio, O melhor homem que os meus olhos já viram: E a sua estirpe, tal como a chamam os fidalgos, Deverás conhecer junto com os seus antepassados.» XXXII Assim o Ancião falou, e bem mais falaria, Pois de tantas maravilhas ele era conhecedor, E nós ainda semanas a fio nos deleitaríamos Com tudo aquilo que nos tinha a contar; Mas de súbito o seu falar se interrompe, Conforme o coração bate mais forte pelo hóspede. Retiram-se em breve os demais irmãos, voltando depois, Até já lerem dos seus lábios o que ele quer dizer. XXXIII E desfrutada a refeição, sentindo-se agora Marcus Afeiçoado ao senhor da casa e à sua comitiva, Solicitou ainda um cálice límpido Cheio d'água, o qual também lhe foi servido. Em seguida conduziram-no ao grande salão, Onde se lhe depara uma cena extraordinária. O que ele aí viu, não deverá ficar oculto, Conscienciosamente vos desejo narrar. XXXIV Nenhum adorno havia aí que ofuscasse os olhos, Uma simples abóbada em arestas se erguia ao alto, E ao longo das paredes treze cadeiras ele avistou, Dispostas em círculo, qual piedoso coro, Entalhadas com extrema arte por hábeis mãos; À frente de cada uma estava uma pequena estante. Sentia-se aqui a devoção como algo natural, Bem como uma paz de vida e um convívio fraternal. XXXV Nas cabeceiras avistou treze escudos pendentes, Pois a cada cadeira um deles pertencia. Pareciam aqui não ostentar orgulho da sua casta, Cada qual parecia imbuído de significado e intenção, E o irmão Marcus ardia agora de anseio Para saber o que tantas imagens ocultavam; No centro de tudo avista então aquele símbolo Pela segunda vez: uma cruz com ramos de rosas. XXXVI Coisas infindas pode a alma aqui imaginar, Os objectos sucedem-se uns aos outros; E elmos pendem sobre vários brasões, Espadas e lanças também se avistam aqui e ali; Armamentos, tais como de campos de batalha Se pode recolher, ornamentam este local: Aqui pendões e armas de terras estrangeiras, E acolá, se bem vejo, até correntes e correias! XXXVII Cada qual se ajoelha diante da sua cadeira, Batendo no peito, imerso em silenciosa prece; Nos seus lábios soam curtas canções, Das quais piedosa alegria se alimenta; Abençoam-se agora os irmãos fielmente unidos E retiram-se para um sono que a fantasia não perturba: Enquanto os demais se vão, fica Marcus Com uns poucos na sala, imerso em contemplação. XXXVIII Embora tão exausto, ele quer permanecer acordado, Pois uma profusão de imagens fortemente o atrai: De um lado, avista um dragão cor de fogo, Saciando a sua sede em chamas selváticas; Do outro lado, um braço enfiado na goela de um urso, Da qual jorra sangue em borbotões ardentes; Os dois escudos pendiam, igualmente distanciados, À direita e à esquerda da cruz rosada. XXXIX Para onde quer que os seus olhos se dirijam, Mais ele se espanta com tanta arte e grandeza, A riqueza parece daqui premeditadamente banida, Tudo parece ter-se simplesmente autocriado. Deverá ele admirar-se que a obra esteja consumada? Deverá ele admirar-se que ela fosse assim concebida? Afigura-se-lhe como se só agora, em divino arrebatamento, Ele tivesse começado a viver, nesse exacto momento. XL «Por sendeiros maravilhosos cá vieste ter", Diz-lhe de novo com afecto o Ancião; "Deixa que estas imagens te convidem a ficar, Até chegares a saber o que tantos heróis praticaram; O que aqui se oculta não pode ser decifrado, A menos que te seja revelado em segredo; Bem podes imaginar quanto aqui foi sofrido, Vivido e perdido, e o quanto foi conquistado. XLI Mas não julgues que apenas de tempos antigos O velho fala, pois muito aqui se passa agora mesmo; O que tu vês, pretende muito mais exprimir; Em breve uma cortina, e depois um véu, o ocultará. Se te apraz, podes então te preparar: Atravessaste, ó amigo, apenas a primeira porta; Com amizade foste recebido no umbral, Creio que mereces no mais íntimo adentrar.» XLII Após breve sono numa cela imersa em paz Um surdo repique de sinos acorda o nosso amigo. De pronto ele se ergue, infatigável e vivaz, O filho do céu respondendo ao apelo à devoção. Vestindo-se num ápice, ele corre para o umbral, E já lhe vai adiante o coração a caminho da igreja, Submisso e sereno, transportado nas asas da oração; Tenta abrir o ferrolho, mas encontra-o fechado. XLIII E conforme escuta, repete-se a espaços iguais, Três vezes, um golpe sobre um bronze cavo; Mas não são horas a dar, nem sinos a soar, E de quando em quando misturam-se sons de flauta; O timbre, que é tão invulgar e difícil de interpretar, Ressoa de tal modo, que o coração inunda de gozo, Sério e convidativo, como se fossem cânticos Entoados de passagem por felizes pares. XLIV Ele corre à janela, para talvez daí ver, O que o confunde e maravilhosamente o comove; No distante Oriente avista o dia a amanhecer, O horizonte orlado com névoas diáfanas. E em seguida – como acreditar nos próprios olhos? – Uma estranha luminosidade a vaguear pelos jardins: Três jovens ele vislumbra, com tochas nas mãos, Percorrendo de abalada as alamedas. XLV Ele vê claramente o brilho dos trajes alveados, Que graciosamente mal envolvem os seus corpos, Avista também flores nas cabeças encaracoladas, E rosas entrelaçadas a orlar os seus cintos; Eles parecem estar a voltar de danças nocturnas, Reanimados e esbeltos após jovial esforço. Apressam depois o passo e apagam, como as estrelas, As tochas, desaparecendo na distância. eria oportuno esclarecer os seus enigmas.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O BOTÃO DE ROSA.

O campo abrira o seio às expansões frementes das árvores senis, dos galhos viridentes. Caía a tarde fresca Loira, gentil, vivaz como a canção tudesca. A iluminada esfera Calma, profunda, azul como um sonhar de virgem, Dava um brilho-cetim às verdes folhas d'hera. No ar uma harmonia avigorada e casta, No crânio uma vertigem Duma idéia viril, duma eloqüência vasta. Tardes formosíssimas, Ó grande livro aberto aos geniais artistas, Como tanto alargais as crenças panteístas, Como tanto esplendeis e como sois riquíssimas. Quanta vitalidade indefinida, quanta, Na pequenina planta, No doce verde-mar dos trêmulos arbustos, Que misticismo, justos, Bebia a alma inteira ao devassar o arcano Das árvores titãs, das árvores fecundas Que tinham, como o oceano, Febris palpitações intérminas, profundas. Esplêndidas paisagens, Opunha o largo campo às vistas deslumbradas. As múrmuras ramagens, À luz serena e terna, à luz do sol - que espadas De fogo arremessava, em frêmitos nervosos, Pelo côncavo azul dos céus esplendorosos, Tinham falas de amor, segredos vacilantes Finos como os brilhantes. A música das aves Cortava o éter calmo, em notas multiformes, Límpidas e graves Que estouravam no ar em convulsões enormes. Aqui e além um rio Serpejava na sombra, em meio de um rochedo Áspero e sombrio. O olhar perscrutador, o grande olhar, sem medo E o espírito mudo, Como um herói gigante avassalavam tudo... Nuns madrigais risonhos Abria-se o país fantástico dos sonhos. Alavam-se os aromas Leais, inexauríveis Das largas e invisíveis Selváticas redomas. A seiva rebentava Em ondas - irrompia Na doce e maviosa e plácida alegria De uma ave que cantava, Dos belos roseirais Que ostentavam a flux as rosas virginais. E as jubilosas franças Dos arvoredos altos, Rígidos, atléticos, Derramavam no campo uns fluidos magnéticos Dumas vontades mansas. A doce alacridade ia explosindo aos saltos. E toda a natureza Robusta de saúde e estrênua de grandeza Libérrima e vital, Erguia-se pujante, audaz e redentora, No gérmen material da força criadora, Dentre a vida selvagem, mística, animal... Dos roseirais preciosos Nos renques primorosos, Numa linda roseira abria castamente, Como um sonho de luz numa cabeça ardente, O mais belo, o mais puro entre os botões de rosa. Tinha essa cor formosa, Tinha essa cor da aurora, Quando ensangüenta em rubro a vastidão sonora. Era um botão feliz Sorrindo para o Azul, zombando da matéria. Tinha o leve quebranto e a maciez etérea Que uma estrofe não diz. Das pétalas macias, Das pétalas sanguíneas, Doces como harmonias Brandas e velutíneas Uns perfumes sutis se espiralavam, raros, Pela mansão do Bem, pelos espaços claros. Perfumes excelentes, Perfumes dos melhores Perfumes bons de incógnitos Orientes. Matéria, não deplores O viver natural dos vegetais alegres; Eles são mais ditosos Que os nababos e reis nos seus coxins pomposos; E por mais que tu regres O matéria fatal, a tua vida inteira, No rigor da higiene; E por mais que a maneira Do teu grande existir, desse existir - perene De ironias e pasmos, Explosões de sarcasmos Tu completes, matéria - ó humanidade ousada Com a ciência altanada; E por mais que no século, Tu mergulhes a idéia, o prodigioso espéculo, Será sempre maior e exuberante e forte, Ó matéria fatal, Essa vida tão rica Que se corporifica Na valente coorte Do poder vegetal. Era um botão feliz, Cuia roseira, impávida, Ébria de aromas bons, ébria de orgulhos - ávida De completa fragrância, Palpitava com ânsia Desde a própria raiz. E entanto o sol tombara e triunfantemente Como um supremo Rubens, Jorrando à curvidade etérea do poente, O ouro e o escarlate, aprimorando as nuvens, Numa distribuição simpática de cores, De tintas e de luzes De galas e fulgores Rubros como o estourar dos férvidos obuses. O cérebro em nevrose, No pasmo que precede a augusta apoteose De uma excelsa visão perfeitamente bela, De uma excelsa visão em límpidos docéis, Exaltava o acabado artístico da Tela E o gosto dos pincéis. Caíam da amplidão em névoas singulares Os pálidos crepúsculos. Os fúlgidos altares Do homem primitivo - a relva, o prado, o campo Onde ele ia buscar a força de uma crença Que então lhe iluminasse a alma escura e densa, Morriam de clarões - os poderosos músculos Da fértil mãe de tudo - a natureza ingente - Deixavam de bater. - O olhar do pirilampo Oscilava, tremia - azul, fosforescente. As sombras vinham, vinham, Lembrando um batalhão d'espectros que caminham E a casta nitidez sintética das cousas Tomava a proporção das funerárias lousas. Completara-se então o mais extraordinário, O mais extravagante, Dos fenômenos todos: A noite. - Enfim descera a treva do Calvário, A treva que envolveu o Cristo agonizante. Coaxavam negras rãs nos charcos e nos lodos. A abóbada espaçosa, a física amplitude, Mostrava a profundez da angústia de ataúde De um operário pobre, Quando se escuta o dobre Amplíssimo e funéreo, Sinistro e compassado, Rolar pela mansão gloriosa do mistério, Assim com um soluço aflito, estrangulado. Devia ser, devia Por uma noite assim, Como esta noite igual, Que derramou Maria A lágrima da dor, - que o célebre Caim Sentiu dentro do crânio as convulsões do Mal. Mas o botão de rosa, Traído pelo estranho zéfiro da sorte, Rolou como uma cisma Intensa e luminosa Ardente e jovial em que a razão se abisma E foi cair, cair no pélago da morte, Em um dos mais raivosos, Em um dos mais atrozes Rios impetuosos, Cheios de surdas vozes, Sozinho, em desamparo, assim como um proscrito, Em meio à placidez Dos astros no infinito E à mesma irracional e fúnebre mudez. Depois e além de tudo, Além do grave aspecto inteiramente mudo, Ao tempo que morria O cândido botão - em um dos tantos galhos Virentes da roseira - alegre no ar se abria Um outro que ostentava as pétalas sedosas, As pétalas gracis de cores deliciosas, De cores ideais. As auras musicais Passavam-lhe de leve, Nos tímidos rumores, De um ósculo mais breve. E dentre a exposição das delicadas flores, Das rosas - o botão Aberto ultimamente às cúpulas austeras, Às plagas da esperança, a irmã das primaveras, Pendido um quase nada, esbelto na roseira, Mostrava aquela unção, A ínclita maneira De quem se glorifica Subindo ao céu azul da majestade pura, Da eterna exuberância, Da fonte sempre rica, Da esplêndida fartura Da luz imaculada - a egrégia substância Que faz das almas claras Pela fecundidade olímpica do amor, Magníficas searas, De onde se difunde à vida sempiterna, À vida essencial, à lei que nos governa, À idéia varonil do poeta sonhador. A arte especialmente, esse prodígio, atriz, Como o botão de rosa Tão meigo e tão feliz, Pode ser arrojada e brutalmente, ao pego, Na treva silenciosa, Onde o espírito vai, atordoado e cego, Cair, entre soluços, Como um colosso ideal tombado ao chão de bruços, Ou pode equilibrar-se em admirável base Estética e profunda, Assim, bem como o outro, à mais radiosa altura. Deves sondá-la bem nesta segunda fase. Precisas para isso uma alma mais fecunda. Precisas de sentir a artística loucura... Cruz e sousa.

A Verdade. Osho.

“A verdade é. Não é preciso esforço algum de sua parte para inventá-la. A verdade tem que ser descoberta, não inventada. E o que está nos impedindo de descobri-la? Nos ensinaram muitas mentiras, montanhas de mentiras. Estas são as barreiras que continuam falsificando a verdade, que não permitem que nossos corações sejam um reflexo daquilo que ela é. A verdade não é uma conclusão lógica. A verdade é a existência, a realidade. Ela já está aqui – ela sempre esteve aqui. Somente a verdade existe. Então, por que não conseguimos encontrá-la? Porque desde o início da infância, nos ensinaram falsidades, pré-julgamentos, ideologias, religiões, filosofias... Tudo isto fez com que ficássemos perdidos. Como fazer para encontrá-la? A verdade não é uma idéia. Você não precisa ser um hindu para conhecê-la, ou um muçulmano, ou um cristão. Se você for um hindu, nunca irá conhecê-la; exatamente por ser um hindu, isto irá mantê-lo cego. O que queremos dizer quando dizemos, ‘eu sou um hindu, ou um muçulmano, ou um judeu’? Nos queremos dizer, ‘ eu já tenho idéias a respeito do que é a verdade – idéias da Bíblia, do Corão, ou do Gita, mas eu já tenho as idéias. Eu não conheço a verdade, mas já sei muito a respeito dela.’ E este ‘já sei muito a respeito’ é o único problema que tem que ser resolvido. Uma vez que você abandone suas idéias a respeito da verdade, você se verá face a face diante dela interna e externamente. Você se verá diante dela porque nada mais existe. Mas, os pais, a sociedade, o estado, a igreja e o sistema educacional, todos eles dependem de mentiras. Assim que a crianca nasce, eles começam a montar as armadilhas para lhe incutir mentiras. A criança é indefesa. Ela não consegue escapar de seus pais, ela é completamente dependente. Você pode explorar a sua dependência... E isto tem sido explorado ao longo dos séculos. Ninguém foi tão explorado quanto as crianças – nem o proletariado, nem as mulheres. Ninguém foi explorado tanto, tão profundamente e tão destrutivamente quando as inocentes crianças. E porque são indefesas e dependentes, elas aprendem qualquer coisa que vocês lhes ensinem. Elas têm que engolir todas as mentiras que vocês continuam empurrando para dentro delas. É uma questão de sobrevivência, pois elas não conseguem sobreviver sem vocês. É uma questão de vida ou morte! Elas têm que ser hindus, ou muçulmanas, ou jainas, ou budistas, ou comunistas. Tudo que vocês estiverem interessados em colocar em suas mentes, vocês colocarão. Ao invés de torná-las mais alertas, mais conscientes, mais vivas e mais reflexivas como um espelho, ao invés de torná-las mais puras, vocês as tornam cheias de idéias... Camadas e camadas de poeiras. E assim, fica impossível para elas ver aquilo que é. Elas começam a ver aquilo que não é e param de ver aquilo que é. Então, ser verdadeiramente religioso significa um renascimento: tornar-se novamente como uma criança e abandonar tudo o que a sociedade lhe deu. A religião é uma rebelião contra tudo o que lhe foi imposto, uma rebelião contra ser reduzido a um computador. Simplesmente olhe para dentro! Tudo o que você sabe, foi-lhe ensinado, não é um conhecimento seu, não é autenticamente seu. Como pode ser autêntico, se não é seu? Você não é uma testemunha dele, você é apenas uma vítima – vítima das circunstâncias. É apenas um acidente nascer na Índia ou na Inglaterra. É apenas um acidente nascer numa família hindu ou numa família cristã. Por causas desses acidentes, a sua natureza essencial foi perdida. Você foi forçado a perdê-la. Se você quiser resgatá-la, você terá que renascer. E é isto exatamente o que Jesus quer dizer quando diz a Nicodemos: ‘A não ser que nasça novamente, você não entrará no reino de Deus.’ Na verdade, ele não quer dizer que você tem que morrer, tem que cometer suicídio e depois nascer de novo. Isto não irá ajudar, pois você irá nascer novamente com alguns pais, numa certa sociedade, dentro de uma certa igreja, e de novo a mesma estupidez será feita com você. Por ‘renascimento’, Jesus quer dizer que agora, deliberadamente e conscientemente, você é capaz de abandonar tudo o que lhe foi ensinado. Abandone o seu conhecimento e torne-se inocente. E esta é a única maneira de se tornar inocente. O conhecimento é a contaminação. Ser inocente é estar num estado de não-conhecimento e, funcionar a partir deste estado, é a única maneira de conhecer a verdade. Medite sobre estes sutras tremendamente significantes de Goutama Buda. Ele diz: Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro E o verdadeiro como sendo falso, Você faz vista grossa para o coração E se enche de desejos. A mente nada mais é que desejos. O coração não conhece desejos. Você ficará surpreso ao saber que todos os desejos pertencem à cabeca. O coração vive no presente, ele pulsa e bate no aqui e agora. Ele nada conhece a respeito do passado e do futuro. Ele sempre está aqui e agora. E eu não estou falando a respeito de uma filosofia. Eu estou simplesmente declarando um fato tão simples que você pode observá-lo dentro de si mesmo: o seu coração está batendo agora. Ele não consegue bater no passado nem no futuro. O coração conhece apenas o presente, por isto ele é completamente puro. Ele não está poluído pelas memórias do passado, pelos conhecimentos, pelas experiências passadas, por tudo que lhe foi dito e ensinado, pelas escrituras e pelas tradições. Ele nada sabe a respeito de todas estas tolices! Ele nada sabe a respeito do futuro, do amanhã. Para ele o passado não existe mais e o futuro ainda não existe. Ele está completamente aqui. Ele é imediato. Mas a mente é exatamente o oposto do coração. Ela nunca está aqui e agora. Ou ela está pensando nas belas experiências do passado ou está desejando as mesmas belas experiências no futuro. Assim ela segue pulando entre o passado e o futuro. Ela nunca pára no presente. Ela ignora completamente o presente. Para a mente, o presente não existe. Veja o ponto: o presente é a unica coisa que existe, mas para a mente o presente é a unica coisa que não existe. O passado é não-existencial, o futuro é não-existencial, mas para a mente essas são as únicas coisas existenciais. A cabeça é o problema... E o coração é a solução. A criança funciona a partir do coração. Na medida em que você começa a crescer, começa a se mover do coração para a cabeça. Quando alcança a graduação na universidade, o coração já foi esquecido completamente. Você está pendurado na cabeça. Toda a sua energia moveu-se para a cabeça. Agora você nada sabe a respeito da realidade. Você está cheio de lixo erudito e tolices acadêmicas. Você pode ser um Ph.D. um D.Litt. Você conhece muito, mas nada conhece! Porque o verdadeiro conhecer acontece no coração, não na cabeça. E as universidades existem para desviar a sua energia do coração para a cabeça. Todas as universidades no mundo, até agora, têm sido inimigas da humanidade. Toda a função delas é servir ao estado e à igreja. Elas são agentes do status quo, elas são agentes de interesses ocultos. Elas não servem a você. Elas servem aos poderosos, aos patrões, aos opressores e aos exploradores. As universidades servem a tudo o que está ao redor do poder. Elas ainda não estão a serviço da humanidade. Se elas estivessem verdadeiramente a serviço da humanidade, então as universidades seriam os locais para se aprender a rebelião, elas criariam revolucionários. A univerdade não criaria pessoas convencionais, conformistas. Ela criaria rebeldes, aventureiros, prontos para arriscarem suas vidas pela verdade. Isto não aconteceu ainda. É um fato triste que em nome da educação seja dada continuidade a alguma coisa muito feia. Por trás da fachada, algo muito criminoso continua. E o crime é este: eles desviam sua energia do coração para a cabeça, destroem sua capacidade de amar e forçam-no a aprender lógica. Para eles a lógica é mais importante que o amor, pensar é mais importante que ser sensível. Isto é colocar o carro na frente dos bois. Isto está totalmente às avessas. É por isto que a humanidade está em tal confusão. O que não é verdadeiro parece ser verdadeiro e o que é verdadeiro parece ser não-verdadeiro. Eles tem tido êxito em distorcer a sua visão. Os Budas têm lutado contra todos estes interesses ocultos. Buda diz: Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro E o verdadeiro como sendo falso, Você faz vista grossa para o coração E se enche de desejos. A mente é desejo e vocês continuam se enchendo de mais e mais desejos, mais e mais ambições, buscando poder, prestígio e riqueza. E se esqueceram completamente que existe um coração batendo dentro, o qual já vive em Deus, o qual já é parte da lei maior – ais dhammo sanantano – aquilo que já é parte da inesgotável e eterna lei. Vocês já estão ligados a Deus a partir de seus corações. Seus corações são raízes no solo de Deus. Seus corações ainda são alimentados por Deus, pela verdade. Mas vocês não estão ali. Vocês deixaram o local vazio. Vocês vivem na cabeça. Vocês passam todos os dias em suas cabeças; nunca descem de lá. Mesmo durante a noite, enquanto dormem, vocês continuam com o barulho na cabeca... Sonhos, sonhos e mais sonhos. Durante o dia, pensamentos, e durante a noite, sonhos. Eles não são diferentes. O sonho é apenas a tradução do pensamento para a linguagem do sono, e vice-versa: pensar nada mais é que a tradução do sonho para a linguagem do dia. Você continua se movendo entre estas duas coisas: sonhar e pensar. Ambos são desejos. O que você pensa a não ser desejos? O que você sonha a não ser desejos? Buda diz que o falso parece ser verdadeiro porque você se tornou falso para a sua própria verdade, para o seu próprio coração. Volte para o seu coração e então você será capaz de reconhecer a verdade como verdade e o falso como falso. Isto é iluminação, isto é voltar para casa. Veja o falso como falso. Mas, por onde começar? Comece por ver o falso como falso. É por isto que todos os Budas parecem ser negativos, todos os Budas parecem ser destrutivos. Eles negam. Jesus nega. Ele diz repetidas vezes: ‘No passado lhes foi dito isto, mas eu digo a vocês...’ E ele muda todo o ponto de vista. Por exemplo, ele diz: ‘No passado foi dito que a lei era: pague com a mesma moeda. Se alguém lhe atirar um tijolo, reaja atirando-lhe uma pedra. Mas eu lhes digo, se alguém bater-lhe em uma face, ofereça a outra também. E se alguém levar-lhe o casaco, dê-lhe a camisa também. E se alguém forçá-lo a andar uma milha, ande duas.’ Maomé é contra todas as imagens de Deus porque seu povo esteve adorando imagens por séculos. Eles tinham trezentos e sessenta e cinco deuses, um deus para cada dia do ano. A Caaba, na época de Maomé, era um dos maiores templos do mundo, dedicado a trezentos e sessenta e cinco deuses. Maomé destruiu todos aqueles ídolos. Isto parece negativo! Buda diz: ‘Não existe verdade nos Vedas nem nos Upanishads. Cuidado com palavras bonitas! Cuidado com especulações filosóficas! Não desperdice seu tempo com lógica. Fique em silêncio! Jogue fora os Vedas de sua cabeça; somente assim você consegue ficar em silêncio.’ Ele parece negativo, ele parece nihilista, perigoso – mas esta é a única maneira que você pode ser ajudado. O falso tem que ser mostrado a você como falso. Você tem que começar com isto: neti neti – nem isto nem aquilo. O Mestre tem que dizer a você: ‘Isto é falso e aquilo é falso.’ Ele tem que continuar apontando para você tudo o que for falso, porque quando você souber tudo o que for falso, de repente uma transformação acontece em sua consciência. Quando você se tornar consciente do que é falso, começará então a ficar consciente do que é verdadeiro. Não se consegue ensinar o que é a verdade, mas certamente se consegue ensinar o que não é a verdade. Você foi condicionado; você pode ser descondicionado. Você foi hipnotizado – como hindu, muçulmano, cristão, jaina... A função do Mestre é desipnotizá-lo. Uma vez que você seja desipnotizado, de repente será capaz de ver a verdade. A verdade não precisa ser ensinada.”

A escuridão não existe.

"Eu não vejo escuridão em lugar algum. Você é que está mantendo os olhos fechados. A escuridão não existe. É criação sua. O sol está em todo lugar, a luz está em todo lugar, estamos em pleno meio-dia. Mas você continua apertando os seus olhos, mantendo-os fechados. Daí a escuridão. Agora, ninguém pode forçar os seus olhos a se abrirem. Existem algumas coisas que você tem que fazer por si mesmo. Se você quiser espirrar, você terá que espirrar, eu não posso fazer isso por você. Se você quiser assoar o nariz, você que terá que fazer isso, eu não posso fazer por você. Existem algumas coisas que você tem que fazer por si mesmo. Esta é uma das coisas mais fundamentais da vida. Se não fosse assim, mesmo em sua liberdade, você seria um escravo. Se eu tirá-lo da sua escuridão, ou qualquer outra pessoa, aquela luz não será muito luminosa. Você estará aprisionado naquela luz, você não veio de livre e espontânea vontade, você não floresceu espontaneamente. Alguma vez você já observou uma criança tentando abrir à força um botão de flor? O botão pode ser aberto, mas não será uma flor, alguma coisa ficará faltando, algo de grande significado. A alma estará faltando. A flor tem alma quando ela floresce espontaneamente, daí ela tem vida. Quando você a força, você a destrói. Tudo que é belo na vida pode apenas acontecer; não pode ser feito. Existe uma bela história sobre um mestre Zen, Joshu: Um dia, Joshu caiu na neve e gritou 'Ajude-me! Ajude-me!' Um discípulo de Joshu aproximou-se e deitou ao seu lado. Joshu riu, levantou-se e disse ao discípulo: 'Certo! Perfeitamente certo! Isso é o que eu estou fazendo com você também.' Joshu tinha caído na neve e gritado, 'Ajude-me! Ajude-me!' Mas não havia necessidade alguma. Se você caiu, você pode se levantar. A mesma energia que fez você cair, consegue fazer você se levantar. A pessoa que não consegue se levantar, não consegue nem mesmo cair. A mesma energia que o leva a se perder, pode trazê-lo para casa. A pessoa que não consegue voltar para casa, não consegue também se perder, porque é necessário energia. A mesma energia que faz de você um pecador, pode fazê-lo um santo. Na verdade, ser um pecador é mais complexo, mais difícil, mais trabalhoso. Ser um santo não é complexo nem trabalhoso. E ser religioso definitivamente não é trabalhoso. É a mesma energia! Você está mantendo os seus olhos fechados, e despendendo muita energia para mantê-los fechados. A mesma energia que os está mantendo fechados, se relaxados, irá ajudá-los a se abrirem. O discípulo é um discípulo de verdade. Ele entendeu Joshu perfeitamente bem. Ele sabe que ele criou uma situação, ele deitou-se conscientemente. Talvez o discípulo estivesse passando e Joshu caiu - criou uma situação - e gritou, 'Ajude-me! Ajude-me!' E o discípulo veio e deitou-se ao seu lado. Ele não o ajudou, em absoluto. O que ele estava fazendo? Ele não estava tentando ajudá-lo, de modo algum. Ele estava simplesmente sendo compreensivo. Ele estava dizendo, 'O que pode ser feito? Ok, eu sou seu discípulo, eu vou deitar ao seu lado. O que mais eu posso fazer?' Um mestre é compassivo com você, ele tem compaixão. O que mais ele pode fazer? Um mestre verdadeiro não pode segurar suas mãos, porque isso o manterá sempre dependente. Trazer você para fora à força, é o mesmo que mantê-lo ainda dentro. Na hora em que o mestre soltar suas mãos, você voltará para o seu velho mundo, para a sua velha mente. Aquilo ainda não estava encerrado, ainda estava agarrado dentro de você. Um mestre verdadeiro ajuda sem ajudar. Tente entender: um mestre verdadeiro ajuda sem ajudar. A sua ajuda é muito indireta, ele nunca vem imediatamente ajudá-lo. Ele vem de maneira muito sutil. Ele se aproxima de você como uma brisa muito frágil, não como uma ventania selvagem. Ele se aproxima de você como uma aura, invisível. Ele o ajuda certamente, mas nunca força você. Ele o ajuda apenas até onde você está pronto para ir, nunca um passo a mais. Ele nunca empurra você violentamente, porque qualquer coisa feita violentamente será perdida, mais cedo ou mais tarde. Aquilo que você não desenvolveu de livre e espontânea vontade, você perderá. Você não pode desfrutar aquilo que não cresceu em seu ser espontaneamente. Você desfruta o seu próprio crescimento. Eu posso até mesmo dar-lhe a verdade, e você irá jogá-la fora, porque você não irá reconhecê-la. Eu posso forçá-lo a acordar, mas você irá cair no sono no momento em que eu me for, e você vai me xingar e ficar com raiva de mim, pois você ainda estava curtindo os seus sonhos. Você estava curtinho sonhos doces e aí chegou um homem e o acordou. Algumas vezes observe a si mesmo. Você tem que pegar um trem bem cedo, quatro ou cinco horas da manhã, e você pede alguém para acordá-lo às quatro horas. Assim ele faz. E você fica com raiva. Você não gosta da idéia, mas essa idéia foi sua. Você sente como se ele fosse seu inimigo. Ouvi contar a respeito de Emanuel Kant, um filósofo alemão, que ele era muito preso a horários. Ele quase se movia como um ponteiro de relógio, exatamente na hora, tudo, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Por toda a sua vida ele costumava acordar cedo, às cinco horas da manhã. Ele tinha um criado. O criado tinha que arrastá-lo para fora da cama e às vezes até mesmo bater nele. Ele tinha dado tal poder ao criado. Ele lhe disse: 'Ainda que você tenha que me bater, bata. Vai ser uma boa luta para você, mas você tem que me acordar. Não escute o que eu lhe disser de manhã cedo. Eu irei repreendê-lo, gritarei com você e o ameaçarei dizendo que irei colocar fogo em você, mas não se preocupe. Qualquer coisa que eu disser, vai ouvindo, mas me arraste para fora da cama.' Ele tornou-se muito dependente desse criado, de tal modo que o criado quase se tornou o patrão e o patrão tornou-se o criado. Algumas vezes o criado o deixava. Daí, ele tentava encontrar outros criados, mas ninguém se adaptava, pois como bater no seu patrão às cinco horas da manhã? Mesmo ele dizendo, 'Bata-me!', o criado ficava com medo. E o velho criado tinha que ser trazido de volta novamente. Mas, como isso acontece? Você pode estar curtinho um sonho bom e aconchegante. Está fazendo frio, mas debaixo do cobertor está quente e aconchegante. Sim, você havia decidido antes que iria se levantar cedo, mas e agora... ? Você quer virar para o lado e cair no sono de novo. Ninguém pode ser acordado antes da sua hora, nem deve ser. E não há qualquer problema. Simplesmente tente compreender porque você mantém seus olhos fechados. Mais do que pedir-me para forçá-los a se abrirem, tente compreender porque você os mantém fechados. Tente compreender quais sonhos você ainda tem que sonhar. Você já não sonhou o bastante? Você, na verdade, já não sonhou mais do que o suficiente? Por milhões de vidas você tem sonhado. E você não alcançou nada com todos esses sonhos. Você permanece vazio, oco. Ainda assim, você continua se enchendo com novos sonhos, com novos desejos, com novas ambições. É bem possível que agora você esteja sonhando com iluminação, por isso você fez essa pergunta. Você sonhou muitos sonhos. Agora um novo sonho surgiu em sua mente: tornar-se um buda, alcançar a iluminação. Isto é novamente um sonho. Se você tivesse realmente terminado com todos os seus sonhos, então quem estaria mantendo você dormindo? Abra seus olhos! Na verdade, nem mesmo haverá necessidade de abrir os seus olhos. Uma vez que você tenha compreendido que você já sonhou todos os sonhos possíveis, os olhos se abrirão. Não haverá nem mesmo a necessidade de abri-los porque ninguém estará lá para fechá-los. Olhe para meu punho: se eu tiver que mantê-lo como um punho, eu terei que mantê-lo fechado, cerrado. No momento em que eu parar de fechá-lo, ele começará a se abrir espontaneamente. Estar aberto é natural, estar fechado é antinatural. Para mantê-lo fechado você tem que colocar muita energia nele. Para abrir, nenhuma energia é necessária. Isso é uma coisa muito estranha: para permanecer miserável, você precisa colocar muita energia nisso. Para permanecer alegre, você não precisa de qualquer energia, de jeito algum. A felicidade é grátis, ela nada custa. A miséria você precisa fazer por merecer. Se você quiser ser miserável, muito esforço será necessário para permanecer miserável. É um estado muito antinatural. Um punho cerrado é antinatural; uma mão aberta é natural. A mão aberta não necessita energia, caso contrário você se sentiria cansado; ao final do dia você estaria morto de cansado por ter ficado todo o dia com a mão aberta. Daí, você dirá, 'Por todo o dia eu mantive minhas mãos abertas e agora eu estou me sentindo muito cansado.' Qualquer dia, mantenha o seu punho fechado por todo o tempo e ao final da tarde você se sentirá realmente cansado. O natural é a mão aberta. Um coração aberto é um fenômeno natural; um ser aberto é simplesmente natural. Um ser fechado é muito antinatural, muito artificial; você tem que colocar toda a sua energia nisso. Essa é a minha observação em milhares de pessoas: elas dão toda a sua energia para se manterem miseráveis. Permanecer no inferno é um grande investimento. Não é fácil, é muito difícil. Você precisa ser muito forte para estar no inferno, muito teimoso, decidido. (...) Você tem que ser duro como um diamante, somente então você pode permanecer no inferno. Se não for assim... ninguém está impedindo o seu caminho. Basta relaxar e você entra no céu, o relaxamento é a porta. Você diz: Eu estou tateando no escuro. Relaxe. No momento em que você relaxar, os seus olhos começarão a se abrir, assim como um botão abre e se torna uma flor, assim como um punho que não mais se mantém cerrado começa a se abrir e se torna uma mão aberta. Eu não estou aqui para forçar isto. Eu estou aqui para esclarecê-lo como isto acontece. Eu posso falar a respeito desse processo, eu não posso fazê-lo para você. Compreendido, ele acontece. Eu não lhe prometo coisa alguma. Eu só lhe prometo uma coisa: o que aconteceu comigo eu farei com que fique óbvio para você. Daí, cabe a você seguir. Buda disse: os budas só indicam o caminho, mas é você que tem que ir, cabe a você seguir o caminho."osho.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Presságio.

O AMOR, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer... Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... Fernando Pessoa

Quando Eu não te Tinha.

Quando eu não te tinha Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo. Agora amo a Natureza Como um monge calmo à Virgem Maria, Religiosamente, a meu modo, como dantes, Mas de outra maneira mais comovida e próxima ... Vejo melhor os rios quando vou contigo Pelos campos até à beira dos rios; Sentado a teu lado reparando nas nuvens Reparo nelas melhor — Tu não me tiraste a Natureza ... Tu mudaste a Natureza ... Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim, Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma, Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, Por tu me escolheres para te ter e te amar, Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente Sobre todas as cousas. Não me arrependo do que fui outrora Porque ainda o sou. Só me arrependo de outrora te não ter amado. Alberto Caeiro

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Música, o Medicamento Divino.

“No principio era o Verbo”. Assim o Cosmos emergiu do Caos; assim começou nosso Universo. As estrelas são dirigidas pelo Verbo; por Ele é ordenado o majestoso deslocamento dos estelares em torno do Sol. Há muito tempo Pitágoras falou da “música das esferas”, dizendo ser isso um fato real, pois cada estelar emite sua nota particular. A cada estelar Pitágoras atribui uma nota da escala e comparando a distancia entre eles, tons e semitons, formou as sete notas da escala musical. Todo esquema evolutivo do nosso sistema solar pode ser relacionado às sete oitavas e um terço do teclado do piano, sendo até esse 1/3 de vital significação. O arquétipo de cada ser humano é construído por esses maravilhosos sons celestiais. O Ego, ao iniciar um novo ciclo de vida, desce do Terceiro Céu à Região do Pensamento Concreto, onde a música das esferas põe em vibração os átomos-semente dos seus futuros veículos. Os sons dessa música formam linhas de força vibratórias que mais tarde atrairão e arrumarão as partículas físicas de maneira idêntica às quais grãos de areia tomam formas geométricas definidas quando se passa um arco de violino pela borda de um prato que os contenha. Todos os estelares ajudam nossa obra de construção do arquétipo, mas somente aquele que vibra em harmonia particular com o átomo-semente físico é que se torna o regente da vida e os sons de todos os outros estelares são modificados por esse Astro Pai. Durante a construção do arquétipo, nem todos os sons emitidos pelos estelares em seus vários aspectos podem ser usados pelo átomo-semente. Somente aqueles aos quais o Ego aprendeu a responder são utilizados. Por isso, a nota chave de cada pessoa é individual. Vemos daí porque a música, a mais elevada das artes, tem tanto poder curativo. (Revista Serviço Rosacruz – 06/60)

Inspirados pelo Amor.

Uma atitude corajosa e otimista é essencial para manter a nossa saúde, bem como para ajudarmos outros que estejam doentes. Há uma razão científica para isso, mas só será revelada plenamente pela filosofia oculta. A energia do Sol flui constantemente em nosso corpo por meio do baço, um órgão especialmente adaptado para a atração e assimilação desse éter universal. No plexo solar esse éter é convertido em um fluido rosado que banha o sistema nervoso. Por meio desse fluido vital os músculos se movem e os órgãos desempenham suas funções vitais. Quanto melhor for a saúde, maior será a quantidade deste fluido solar que poderemos absorver, mas dele só utilizamos uma parte; o excesso é irradiado do corpo em linhas retas. Os germens das doenças não poderão entrar do exterior devido a essas invisíveis torrentes de força e os microrganismos que entram no corpo com o alimento são rapidamente expelidos. Não obstante, toda a vez que tivermos pensamentos de medo ou de ódio, o baço funcionará mal e deixará de especializar o fluido vital em quantidade suficiente. Tais pensamentos levam as linhas de força se curvar permitindo assim o acesso fácil aos organismos deletérios que pode então se alimentar nos nossos tecidos, sem nenhuma oposição, causando as doenças. Além disso, os pensamentos de medo e de ódio tomam forma e, com o decorrer do tempo, se cristalizam naquilo que nós conhecemos como micróbios das doenças infecciosas são, particularmente, a incorporação do medo e do ódio e por isso, só poderão ser vencidos pela força contrária – coragem e amor. Se estivermos perto de uma pessoa infectada por doença contagiosa, temendo o contágio, é quase certo atrairmos para nós os micróbios venenosos, mas se pelo contrário, nos aproximarmos de tal pessoa em atitude mental não temerosa, escaparemos à infecção, particularmente se o fizermos inspirados pelo amor. (Revista: Serviço Rosacruz – Dez\58)

domingo, 5 de julho de 2015

O Místico.

Uma Viagem Fora do Corpo Seguindo a via iniciática rosacruciana, Francisco Marques Rodrigues alcançou o apuro das faculdades mentais e físicas em grau que lhe permitiu o despojamento, a imaculação das deficiências que subjugam o Eu às eventualidades do espaço e do tempo pelas limitações que decorrem do uso do corpo físico. Realizando os seus exercícios espirituais, que têm como premissa última o desenvolvimento das energias e capacidades na plenitude do que genuinamente somos, mobilizou capacidades que lhe permitiram contrariar essa limitação, atingindo um estádio de consciência que permitia transpor os condicionamentos corporais: podia delivrar à vontade o corpo físico e, nessa serena e inteira desvinculação do veículo denso, manter mobilizadas as suas faculdades psíquicas, capaz de adquirir uma consciência holoística abstida das aparências enganadoras impostas pela limitação do espaço. Na vida de Marques Rodrigues aconteceram pelo menos duas destas viagens do espírito, que ocorreram em tempos muito diferentes. Eis um dos relatos, notável pela distância geográfica entre as localidades, Lisboa e Maputo, ex-Lourenço Marques, em Moçambique. Aurora da Liberdade Figueiredo residia, desde Setembro de 1976, em Maputo. Vivia no Bairro do Alto Maé. Espírito metódico, muito pragmático, anotava tudo pormenorizadamente no seu diário. Aurora de Figueiredo sofria atrozmente de um problema circulatório de um membro inferior que lhe provocava dores lancinantes. Depois da independência daquela colónia as dificuldades agravaram-se. Tudo escasseava e, naturalmente, a assistência médica digna desse nome estava reduzida ao mínimo. Para agravar a situação Aurora de Figueiredo residia num andar de um prédio em que há muito os elevadores tinham deixado de funcionar, obrigando-a a um retiro tão indesejado quando doloroso e prolongado. Em 1987, no auge de uma das suas habituais crises, quase em desespero, Aurora de Figueiredo lembrou-se insistentemente de Francisco Marques Rodrigues. Pensou telefonar-lhe. A sua ajuda seria inestimável. Se ao menos estivesse em Lisboa, onde os recursos eram diferentes... Algum tempo depois, ocupada em resolver assuntos relacionados com a sua vida profissional, arrastava-se com dores no seu flat, de uma assoalhada para outra. Exausta, e quase em desespero, senta-se na esperança de a crise diminuir. Momentos depois Cocky, o cão de raça Cocker, agita-se. Reage, inquieto, como se ali estivesse alguém estranho. O seu nervosismo incomoda Aurora de Figueiredo que olha em redor, intrigada com a inquietação do animal e vê, claramente, Francisco Marques Rodrigues. Reconhece-lhe os traços fisionómicos e até pormenores do vestuário. Levanta-se na ânsia de cumprimentar o visitante. Ouviu um familiar "Viva". Surpresa, tenta acalmar Cocky, que permanece inquieto perante aquela presença estranha ao ambiente familiar. O sentimento inicial de Aurora de Figueiredo, de satisfação, deu lugar a um certo embaraço quando se lembrou de estar longe de Lisboa. E nem sequer havia aberto a porta. Perplexa, recostou-se novamente e fechou os olhos em recolhimento. Teve uma estranha, intensa e agradável sensação de frescura na sua perna e, pouco depois, desapareceram todas as dores. Retomou logo a sua actividade normal. No dia seguinte, a 17 de Agosto, expede uma carta para Lisboa pormenorizando o sucedido. No dia imediato Francisco Marques Rodrigues tem idêntica iniciativa. Envia-lhe algumas palavras de conforto e aconselha o seu regresso urgente a Lisboa. Aurora de Figueiredo regressaria, efectivamente, em 22 de Junho 1988. Ficou acamada desde fins de Abril de 1991, vindo a falecer em 4 de Novembro desse ano. Aurora de Figueiredo vivia nesse tempo com a filha, Maria Laura Sampaio que leccionava no Liceu Salazar. Acumulava as funções lectivas com as de Directora Administrativa, mas conseguia arranjar tempo para acompanhar a mãe nos momentos mais difíceis. Esclareceu-nos alguns pormenores interessantes: o cão, o local da residência, etc. As fotografias da época pertencem ao seu arquivo pessoal.Francisco Marques Rodrigues.[ Revista rosacrus. nº 368 - Jun / 2003 ]