sábado, 3 de agosto de 2024

Salmos de Salomão......

Os Salmos 72 e o 127 são atribuídos ao Rei Salomão, filho de Davi. Estes dois belíssimos salmos do rei Salomão são poema e canção em forma de oração a Deus. O salmista Salomão, conhecido por sua sabedoria, expressa confiança, adoração, fé e gratidão ao Senhor. Os Salmos de Salomão na Bíblia: Salmos 72: O rei justo e o seu reinado eterno Salmos 127: Todo o bem procede de Deus Estes Salmos, da autoria de Salomão, fazem parte do cânon da Bíblia. Não devem ser confundidos com a coleção de 18 poemas apócrifos, também chamados "Salmos de Salomão", que não pertencem à Bíblia Sagrada. Salmos 72 O Salmo 72 é um salmo real atribuído ao rei Salomão, que fala sobre a justiça, a retidão, a bondade e graça de Deus. Neste Salmo, é feita uma oração pelo rei, pedindo a Deus bênçãos para o governante justo e prosperidade sobre o seu reino. Além disso, este salmo também prenuncia o Messias prometido, que reinará para sempre. 1Reveste da tua justiça o rei, ó Deus, e da tua retidão o filho do rei, 2para que ele julgue com retidão e com justiça os teus que sofrem opressão. 3Que os montes tragam prosperidade ao povo e as colinas o fruto da justiça. 4Defenda ele os oprimidos no meio do povo e liberte os filhos dos pobres; esmague ele o opressor! 5Que ele perdure como o sol e como a lua por todas as gerações. 6Seja ele como chuva sobre uma lavoura ceifada, como aguaceiros que regam a terra. 7Floresçam os justos nos dias do rei, e haja grande prosperidade enquanto durar a lua. 8Governe ele de mar a mar e desde o rio Eufrates até os confins da terra. 9Inclinem-se diante dele as tribos do deserto, e os seus inimigos lambam o pó. 10Que os reis de Társis e das regiões litorâneas lhe tragam tributo; os reis de Sabá e de Sebá lhe ofereçam presentes. 11Inclinem-se diante dele todos os reis, e sirvam-no todas as nações. 12Pois ele liberta os pobres que pedem socorro, os oprimidos que não têm quem os ajude. 13Ele se compadece dos fracos e dos pobres e os salva da morte. 14Ele os resgata da opressão e da violência, pois aos seus olhos a vida deles é preciosa. 15Tenha o rei vida longa! Receba ele o ouro de Sabá. Que se ore por ele continuamente, e todo o dia se invoquem bênçãos sobre ele. 16Haja fartura de trigo por toda a terra, ondulando no alto dos montes. Floresçam os seus frutos como os do Líbano e cresçam as cidades como as plantas no campo. 17Permaneça para sempre o seu nome e dure a sua fama enquanto o sol brilhar. Sejam abençoadas todas as nações por meio dele, e que elas o chamem bendito. 18Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, o único que realiza feitos maravilhosos. 19Bendito seja o seu glorioso nome para sempre; encha-se toda a terra da sua glória. Amém e amém. 20Encerram-se aqui as orações de Davi, filho de Jessé. Salmos 127 O Salmo 127, também atribuído ao rei Salomão, é um cântico de 'romagem' (peregrinação, ou dos degraus) que eram entoados pelos peregrinos a caminho de Jerusalém, nas celebrações das festas. Além disso, ele também é um salmo didático de (sabedoria ou sapiencial). Em, suma é ensinado que de nada valem os esforços e projetos humanos se Deus não fizer com que eles prosperem. Além disso, ele retrata a importância da confiança em Deus para o sucesso na vida, especialmente voltado para os laços familiares, projetando a construção de um lar abençoado por Deus. 1Se não for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda. 2Será inútil levantar cedo e dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento. O Senhor concede o sono àqueles a quem ele ama. 3Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá. 4Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude. 5Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles! Não será humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunal.

A oração de Salomão no Templo de Jerusalém.... Oração de Salomão retirada do trecho de 1 Reis 8:23-53......

Salomão foi um rei de Israel, filho de Davi e Bate-Seba. Ele é reconhecido como o homem mais sábio do mundo, uma dádiva de Deus que lhe foi concedida quando, ao invés de desejar riqueza ou poder, pediu sabedoria para governar seu povo. A oração que Salomão fez a Deus está registrada em 1 Reis 8:22-61. Durante esta cerimônia no Templo de Jerusalém, Salomão orou a Deus, pedindo bênçãos, perdão e proteção para o povo de Israel, destacando a importância do templo como um lugar de oração e comunhão com Deus. Veja a oração de Salomão completa: Oração de Salomão "Senhor, Deus de Israel, não há Deus como tu em cima nos céus nem embaixo na terra! Tu que guardas a tua aliança de amor com os teus servos que, de todo o coração, andam segundo a tua vontade. Cumpri­ste a tua promessa a teu servo Davi, meu pai; com tua boca prometeste e com tua mão a cumpriste, conforme hoje se vê. "Agora, Senhor, Deus de Israel, cumpre a outra promessa que fizeste a teu servo Davi, meu pai, quando disseste: 'Você nunca deixará de ter, diante de mim, um descendente que se assente no trono de Israel, se tão somente os seus descendentes tiverem o cuidado de, em tudo, andarem segundo a minha vontade, como você tem feito'. Agora, ó Deus de Israel, que se confirme a palavra que falaste a teu servo Davi, meu pai. "Mas será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí! Ainda assim, atende à oração do teu servo e ao seu pedido de misericórdia, ó Senhor, meu Deus. Ouve o clamor e a oração que o teu servo faz hoje na tua presença. Estejam os teus olhos voltados dia e noite para este templo, lugar do qual disseste que nele porias o teu nome, para que ouças a oração que o teu servo fizer voltado para este lugar. Ouve as súplicas do teu servo e de Israel, o teu povo, quando orarem voltados para este lugar. Ouve dos céus, lugar da tua habitação, e, quando ouvires, dá-lhes o teu perdão. "Quando um homem pecar contra seu próximo, tiver que fazer um juramento e vier jurar diante do teu altar neste templo, ouve dos céus e age. Julga os teus servos; condena o culpado, fazendo recair sobre a sua própria cabeça a consequência da sua conduta, e declara sem culpa o inocente, dando-lhe o que a sua inocência merece. "Quando Israel, o teu povo, for derrotado por um inimigo por ter pecado contra ti, voltar-se para ti e invocar o teu nome, orando e suplicando a ti neste templo, ouve dos céus e perdoa o pecado de Israel, o teu povo, e traze-o de volta à terra que deste aos seus antepassados. "Quando se fechar o céu e não houver chuva por haver o teu povo pecado contra ti e, se o teu povo, voltado para este lugar, invocar o teu nome e afastar-se do seu pecado por o haveres castigado, ouve dos céus e perdoa o pecado dos teus servos, de Israel, teu povo. Ensina-lhes o caminho certo e envia chuva sobre a tua terra, que deste por herança ao teu povo. "Quando houver fome ou praga no país, ferrugem e mofo, gafanhotos peregrinos e gafanhotos devastadores, ou quando inimigos sitiarem suas cidades, quando, em meio a qualquer praga ou epidemia, uma oração ou súplica por misericórdia for feita por um israelita ou por todo o Israel, teu povo, cada um sentindo as suas próprias aflições e dores, estendendo as mãos na direção deste templo, ouve dos céus, o lugar da tua habitação. Perdoa e age; trata cada um de acordo com o que merece, visto que conheces o seu coração. Sim, só tu conheces o coração do homem. Assim eles te temerão durante todo o tempo em que viverem na terra que deste aos nossos antepassados. "Quanto ao estrangeiro, que não pertence a Israel, o teu povo, e que veio de uma terra distante por causa do teu nome - pois ouvirão acerca do teu grande nome, da tua mão poderosa e do teu braço forte -, quando ele vier e orar voltado para este templo, ouve dos céus, lugar da tua habitação, e atende ao pedido do estrangeiro, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome e te temam, como faz Israel, o teu povo, e saibam que este templo que construí traz o teu nome. "Quando o teu povo for à guerra contra os seus inimigos, por onde quer que tu o enviares, e orar ao Senhor voltado para a cidade que escolheste e para o templo que construí em honra ao teu nome, ouve dos céus a sua oração e a sua súplica e defende a sua causa. "Quando pecarem contra ti, pois não há ninguém que não peque, e ficares irado com eles e os entregares ao inimigo que os leve prisioneiros para a sua terra, distante ou próxima; se eles caírem em si, na terra para a qual tiverem sido deportados, e se arrependerem e lá orarem: 'Pecamos, praticamos o mal e fomos rebeldes'; e se lá eles se voltarem para ti de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra dos inimigos que os tiverem levado como prisioneiros, e orarem voltados para a terra que deste aos seus antepassados, para a cidade que escolheste e para o templo que construí em honra ao teu nome, então, desde os céus, o lugar da tua habitação, ouve a sua oração e a sua súplica e defende a sua causa. Perdoa o teu povo, que pecou contra ti; perdoa todas as transgressões que cometeram contra ti e faze com que os seus conquistadores tenham misericórdia deles; pois são o teu povo e a tua herança, que tiraste do Egito, da fornalha de fundição. "Que os teus olhos estejam abertos para a súplica do teu servo e para a súplica de Israel, o teu povo, e que os ouças sempre que clamarem a ti. Pois tu os escolheste dentre todos os povos da terra para serem a tua herança, como declaraste por meio do teu servo Moisés, quando tu, ó Soberano Senhor, tiraste os nossos antepassados do Egito". - Oração de Salomão retirada do trecho de 1 Reis 8:23-53

A Beleza Universal.......Christian Bernard...

O adágio “Se você quer ser belo, detenha-se por um minuto diante do seu espelho, cinco diante da sua alma e quinze diante do seu Deus” resume bem um dos objetivos a que todo ser humano deveria buscar. Pagar tributo à Beleza divina deveria ser nosso objetivo prioritário, e ele não pode ser alcançado a menos que nós mesmos nos tornemos belos. Quando falo em Beleza, naturalmente não me refiro à estética corporal à qual alguns atribuem demasiada importância e que, infelizmente, tornou-se, em nossa época, um culto ridículo e mesmo perigoso. Penso sobretudo na beleza de nosso santuário interior, a qual, independentemente do aspecto exterior do templo no qual se encontre, pode irradiar-se a todo momento sob a forma de um magnetismo que nada nem ninguém pode alterar ou diminuir. Neste sentido, a feiúra não deve ser considerada como uma ausência de beleza física, mas como a expressão de uma grande falta de espiritualidade. O que confere beleza à garrafa, à parte a pureza de sua forma e a qualidade de seu vidro, é antes de tudo o grau de luminosidade que ela é capaz de refletir. O mesmo se aplica ao ser humano. Pelo tempo em que ele esconder sua luz interior, permanecerá prisioneiro de seu corpo e, no melhor dos casos, não poderá manifestar senão a aparência daquilo que lhe parece belo. Somente o misticismo pode nos dar o poder de desvelar nossa espiritualidade e de libertar plenamente as virtudes escondidas de nossa alma. Tomemos, por exemplo, a verdade. Não há erro mais grave do que a recusa em ver e ouvir a verdade. A verdade é una porque Deus é Uno, mas os erros são múltiplos porque a ignorância desconhece o número de seus adeptos. Ora, o que torna belo o indivíduo é o conhecimento de si mesmo – esse conhecimento que pode elevá-lo até as estrelas mais longínquas para lhe presentear com a Consciência divina. Observemos também que não é por acaso que o estado de consciência crística é simbolizado na Árvore cabalística pela sefira Tiphereth, ela própria símbolo da beleza adâmica na Terra. Não é dito que o próprio Mestre Jesus veio para manifestar a Beleza Divina? Esforcemo-nos para imitar a beleza de intenção e de ação que animou o Mestre Jesus ao longo de seu ministério. Isto naturalmente não quer dizer que devemos nos tomar por ele e buscar inflar nosso próprio ego por uma pomposa imitação daquilo que julgamos conhecer acerca dele. Isto significa simplesmente que devemos nos aplicar plenamente para sensibilizar as pessoas de nosso convívio àquilo que é belo, a fim de levar seu senso estético a evoluir na direção dos arquétipos superiores. Creio que é difícil atingir este objetivo por intermédio da arte, pois ela, nesse ponto da evolução humana, ainda é uma expressão muito imperfeita da Perfeição divina. É verdade que muitos são os mestres que, por intermédio da música, da pintura, da escultura ou de outros ramos da arte, encarnaram formas-pensamento de grande pureza e perfeição. Mas para a maioria das pessoas, tais obras estão além do que elas são capazes de sentir e de compreender em matéria de beleza. É sem dúvida por esta razão que uma pintura inspirada será para alguns o cúmulo do horror ou que, inversamente, uma música decadente será para outros o summum da inspiração. Tudo isto naturalmente não quer dizer que não haja beleza universal. Isto simplesmente nos mostra que o homem encarnado, antes de ser capaz de discernir a existência de tal beleza, permanece por muito tempo prisioneiro de uma má concepção daquilo que é belo. Neste livro, um outro capítulo também está consagrado à beleza, mas mais particularmente à beleza através da arte. Não é senão evoluindo na direção dos planos de consciência cada vez mais elevados que cada um pode retirar o véu e se aproximar da magnificência da verdadeira beleza. Enquanto o homem não atinge um certo degrau de evolução, ele não faz mais do que projetar em seu meio o sentido que sua mente dá à beleza. Dito de outra maneira, ele busca aquilo que é belo por meio dos olhos do corpo, e não através dos olhos de sua alma. Segundo esse ponto de vista, podemos dizer que existem tantos critérios de beleza quanto indivíduos, e isto procede se compararmos todas as civilizações e formas de sociedade, mesmo as atuais. Podemos, no entanto, constatar que há coisas sobre as quais existe um consenso no tocante à sua beleza. Sobre elas, é dito que refletem a harmonia, inspiram e apaziguam. Para darmos alguns exemplos, nunca aconteceu de você ouvir dizer que uma aurora ou um crepúsculo, ou ainda um céu estrelado, são feios. As coisas acontecem diferentemente quando perguntamos às pessoas o que elas pensam da beleza deste ou daquele objeto. Aparece então uma divergência entre as diversas concepções de beleza, cada qual sendo resultante da educação, da personalidade e da evolução interior de cada um. Portanto, é fácil compreender que o problema do homem não é que ele seja insensível à beleza universal, mas sobretudo que, na maioria dos casos, ele não toma consciência dela, não sabe onde situá-la ou é incapaz de exprimí-la naquilo que ele pensa, diz e faz. Como venho de salientar, todo indivíduo é sensível à beleza que se manifesta pelo viés da natureza. Devemos então levar nosso meio, e mesmo um público mais amplo, se pudermos, a refletir sobre o porquê e o como desta sensibilidade à beleza. Agindo assim, conduziremos progressivamente essas pessoas a não mais se contentarem com aquilo que constitui a beleza da natureza e do universo, mas a participarem conscientemente nela enquanto atores e espectadores. Que possamos dar a eles o desejo de abrir o “Livro do homem” e o “Livro da natureza” e o desejo de conhecer e compreender as leis que se operam neles e ao redor deles. É a isso que me dediquei através destas reflexões, e espero que você possa encontrar em si e a seu redor a sublime beleza universal.

As quatro aptidões....Fonte: Revista “O Pantáculo”, ano I, nº 1 – edição 1993.....

Podemos chamar as Quatro Aptidões de edifício base, fundamento e alicerce de todo místico na Senda para que possa se qualificar como “Iniciado”, mais precisamente “Discípulo”. Cada Discípulo, por suas aspirações, seu desejo sincero de se elevar e progredir, dirige-se para a senda da maestria que um dia alcançará. Mas antes de chegar ao que nós místicos denominamos “domínio do Eu” ou “domínio da vida”, é primordial ter as quatro aptidões: determinar, ouvir, ver e falar. DETERMINAR – é importante considerar esta expressão em seu sentido esotérico, ou seja, a faculdade de resolver todos os problemas encontrados na senda com o máximo de eficiência e com o melhor critério possível. Mas qual será a ferramenta que encontraremos em nossa vida que vai nos permitir adquirir essa faculdade? É a “Sabedoria”. A Sabedoria Divina, aquela que se encontra na Tradição Primordial. Nesse nível é que encontramos a verdadeira Sabedoria. Sem consciência dela o que dispomos é de um punhado de coisas, talvez nada, quando se trata de benefícios úteis para a humanidade. OUVIR – primeiramente é preciso saber escutar, mas um ser que só escuta não ouve necessariamente. Para o místico, o êxito em ouvir é escutar a voz do nosso Guardião, a voz do nosso “Eu Interior”, para atingirmos o domínio do Eu. VER – não apenas no sentido físico como o compreendemos e que está entre os cinco sentidos objetivos. Ver, usando os olhos como canais da Alma, “as janelas da alma” como dizia Leonardo da Vinci. Na Tradição o olho sempre esteve presente como um símbolo do conhecimento. O olho é a consciência que interpenetra o universo, a Divina visão que tudo abrange. Para o Místico, Ver, é aspirar à LUZ. FALAR – é o quarto aspecto que definimos na introdução como aptidão. A palavra é verdadeiramente uma força muito poderosa que se manifesta através das coisas e o místico nunca fica indiferente ao poder da palavra. Segundo São João: “No início era o Verbo, e o Verbo estava com DEUS, e o Verbo era DEUS”. Analisando esta frase de grande profundeza esotérica compreendemos que a criação do universo foi através de uma ideia, um pensamento expressado e articulado em forma de palavras. O homem deve considerar que a palavra tem, de fato, um poder criador e espiritual. É por isso que a escolha da palavra correta transmitida a outrem é fundamental. O Discípulo deve proclamar a verdade que está no seu interior. Foi isto que fizeram os grandes Avatares e Iniciados da humanidade. Devemos sempre emitir palavras convenientes e construtivas. Ao utilizar o poder da palavra, devemos nos manter íntegros e éticos. Trabalhando estas quatro aptidões estaremos nos preparando para um tempo de que ainda não temos não temos consciência…”

Um caminho.......IRÈNE BEUSEKAMP......

Há muitos anos que estou nesse mundo. Tinha cinco anos de idade quando fui à aula pela primeira vez. Aprendi, estudei mais e mais e agora sei tanto que já não sei o que sei. E assim como Montaigne, digo: “Que sei eu?”. Os exegetas de Montaigne por muito tempo pensaram que, através desse questionamento retórico, ele procurava exprimir seu ceticismo e suas desilusões. Ele ainda era um rapazinho imberbe e falava latim fluentemente. Mais tarde, estudará filosofia e direito. Viajou muito e ocupou cargos públicos. Contudo, é o fenômeno “ser humano” que absorverá cada vez mais o seu interesse. Foi assim que ele se recolheu ao seu castelo e se consagrou ao estudo do homem. Como vivia sozinho, tornou-se ele próprio o objeto de suas observações, as quais depositou em seus Ensaios. Era no silêncio que ele encontrava aquilo que para ele era o mais importante: seu Eu interior, ao qual chamava “fundo da loja”. Produziu muitos escritos sobre o homem na forma de ensaios e no entanto jamais soube quem ou o que é o homem: “Que sei eu?”. Apesar dos muitos anos de estudos, o homem permanecia para ele um mistério. Quanto às eventuais experiências espirituais no mais profundo de si mesmo, ele sempre preservou o silêncio. Se me permitirem, regressarei agora às minhas próprias experiências. De tudo aquilo que aprendi (por vezes eu ficava com a cabeça “recheada”), adquiri um saber consideravelmente extenso, mas aquilo que sei de verdade não vem daquilo que acumulei no meu cérebro, mas do mais profundo de mim mesmo, durante curtos ou longos momentos de silêncio puro – momentos em que tudo em nós se cala e nos quais parece que somos recobertos por um véu etéreo e quando, subitamente, nosso Mestre Interior se manifesta e confirma aquilo que um mestre disse há tanto tempo: “O Reino dos Céus está em vós”. O Mestre, o Mestre Interior, Deus. Há alguns meses escrevi uma meditação de palavras, expressões e frases que eu lia ou ouvia e que ficaram gravadas em meu coração. Ei-la: O Reino dos Céus está em vós. Adeptos da Senda, permiti-me vos saudar com essa perene afirmação. A ilusão atual do homem é superestimar o intelecto que tanto lhe acresceu e que tornou possível, graças a maravilhas tecnológicas, uma mudança total de suas condições de vida. A humanidade se encontra sob a empresa de um desenvolvimento tecnológico que parece não se deter. Novas descobertas são feitas em todos os domínios. O universo revela seus segredos à ciência e todas as riquezas e recursos de nossa Mãe Terra são usados e esgotados. O mundo já não está mais em equilíbrio. Ao passo que os países ocidentais, ávidos por Ter (já não se sabe mais conjugar o verbo “Ser”) são cada vez mais levados a adquirir produtos completamente inúteis, a outra parte do mundo sofre com a fome e permanece privada daquilo que há de mais essencial para a vida. Já é mais do que urgente que tomemos consciência da armadilha de nossa evolução intelectual e nos engajemos em novas veredas – veredas que se revelam cada vez mais e que foram indicadas em todos os tempos por sábios de todas as civilizações no âmbito de uma única ciência – a ciência da alma. Não é insueto que sábios conheçam tudo a respeito do menor dos insetos, que nem sequer podem ver a olho nu, e não saibam o porquê e o como de sua própria existência? Ou que geneticistas saibam tudo a respeito das plantas, animais e seres humanos e não se empenhem no mistério de seu próprio ser e nas particularidades de sua pessoa? Ou ainda que o homem atravesse o universo em todos os sentidos, pouse na Lua e, ainda assim, não possa encontrar o caminho que o conduz a si mesmo? “O Reino dos Céus está em vós”. Adeptos da Senda, permiti-me repetir essa mensagem secular. É a mensagem do sorriso infinito da Esfinge que se eleva calma e serena da areia do Egito; é a mensagem formulada em diferentes termos pelo místico alemão dos séculos XIII e XIV, Mestre Eckhart: “Deus está no centro do homem”. Tomás de Aquino e Jacob Boehme exprimiram a mesma coisa em longos escritos que nem sempre são fáceis de ler e que se baseiam na experiência verdadeira – uma experiência que também é possível para o homem desse novo século. Nossa época é justamente aquela em que os valores divinos ganham em clareza e em que a vida espiritual se torna tão marcante e tão real quanto à vida material. É a época em que o termo “iniciação” reencontra seu significado primordial: um começo, um novo começo. E assim deveria ser, uma vez que toda criatura é uma parte do Espírito original que está na origem de nosso mundo – o Espírito em que habitam o Amor eterno, a Sabedoria infinita e uma Paz indestrutível. Nas escolas de Mistérios dos países de civilização pré-cristã, a iniciação era considerada como um ato extremamente importante. No fim das cerimônias dos mistérios de Elêusis, na Grécia antiga, as últimas palavras que o iniciado ouvia eram: “Que a Paz esteja em ti”, e então ele retomava seu caminho, tendo a alma apaziguada e o coração em júbilo. A iniciação era para ele apenas um profundo despertar para aquilo que ele era na realidade; era a conquista de sua vida espiritual e aquele que não tivesse esta experiência não era um ser completo. Se esta experiência interior era possível dois mil anos antes de Cristo, também o é dois mil anos depois. Durante esses quatro mil anos a natureza fundamental do homem não mudou, nem tampouco sua busca a si mesmo, assim como acontece com o Adepto na Senda, que aspira ao reencontro com o Divino. Em sua verdadeira realidade, tal como ele foi e será para sempre, o homem é um ser espiritual, ainda que habite um corpo material. Nossos sentidos, que de alguma forma riem-se de nós, são a razão pela qual confundimos nosso verdadeiro Eu com nosso corpo material. O Divino não nos cerca penas durante a nossa primeira infância, mas em todos os momentos de nossa vida. Nós ainda não o sabemos ou não o sabemos mais. Atrás da pessoa que julgamos ser existe outra pessoa que não vemos: nosso Eu real, que já existia antes que os pensamentos e os desejos se apoderassem de nós. Atrás de nosso corpo de carne e de sangue existe uma consciência brilhante e sublime. Nossa verdadeira vida se desenrola nas profundezas de nosso coração e não tem nenhum espaço na máscara superficial da personalidade que mostramos ao mundo. Adepto da Senda, és o herdeiro de um tesouro escondido nos recônditos de tua própria natureza. O Reino dos Céus está em ti. Aquele que, recolhido ao seu próprio silêncio, parte em busca de si mesmo, não é um sonhador. Ele faz apenas aquilo que cada qual deve fazer numa determinada fase de sua evolução; o caminho pode ser longo ou curto, mas tudo o que tem a fazer é conservar seus olhos espirituais bem abertos e escutar a voz que fala dentro dele. Um dia, seu grande Eu lhe será revelado e ele estará às margens da Eternidade. Quer a porta de nossa alma se abra por um segundo, um minuto ou uma hora, a revelação será completa. Nem um amargo sofrimento e nem um pesado fardo podem aniquilar esse conhecimento – um conhecimento que não é traduzível por palavras. Aquele que uma vez sentiu seu ser mais interior se dissolver e se fundir com o infinito sabe que isso é inexprimível. É a iluminação do espírito e do coração – o que há de mais milagroso na vida do homem. Buscai o vosso Eu, encontrai o vosso verdadeiro Eu e conhecereis o sentido da vida e o mistério do universo se desvelará por si mesmo. Pensai nas palavras do Mestre da Galileia: “Procurai e encontrareis. Batei à porta e ela vos será aberta”. Descobri que vós sois uma parcela de uma Vida infinita que se exprime em Luz e Amor: “Aquele que conhece sua própria natureza conhece o Paraíso”, disse um aluno de Confúcio. Em outras palavras: “O Reino dos Céus está em vós”. […] Que assim seja!