contos sol e lua

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terça-feira, 29 de junho de 2010

Druida-A Espiritualidade dos Celtas


Os historiadores costumavam dizer que os Druidas eram os sacerdotes dos povos Celtas, a antiga raça Celta era também uma criação do período de Renovação, provocado por ideais políticos ingleses e por ideais românticos num período no qual tanto a Escócia quanto a Irlanda lutavam para se desvencilhar do controle britânico. Atualmente é mais claramente aceito e compreendido o fato de que os europeus da Idade do Ferro não possuíam uma cultura homogênea, e que jamais houveram invasões desses ditos Celtas; ao invés disso, o que se espalhou pela Europa foi a tecnologia do trabalho em ferro e as vantagens e benefícios associados.
Os povos encontrados na Grã Bretanha pelos historiadores e escritores romanos há dois mil anos realmente possuíam uma espiritualidade muito clara e seus sacerdotes eram conhecidos como Druidas. Há quanto tempo esses sacerdotes eram conhecidos como "Druidas" é assunto para a evolução lingüística, e atualmente, para a tradição, é um tanto irrelevante. Mais importante é dizer que Júlio César, o único escritor a ter encontrado um Druida pessoalmente, nos diz que essa Tradição tem origem na Grã Bretanha.
O Druidismo é uma espiritualidade natural das Ilhas Britânicas. Como qualquer espiritualidade nativa que é profundamente arraigada na terra, suas bases são a própria Terra e os Ancestrais, através dos quais honramos as forças da Natureza. Ao honrar a Terra, o solo que nos alimenta, o sol que nos dá luz e calor, a fonte de nossa água, as plantas e os animais, honramos nosso mundo externo. Ao honrar nos ancestrais e todos os que nos tornaram o que somos, honramos nosso meio-ambiente interior. É esta teia de temas que confere às tradições pagãs muito de sua força.
Toda tradição local evolui de acordo com as cores e texturas do meio em que se desenvolve. Assim, se por um lado existem semelhanças entre as espiritualidades ancestrais dos índios americanos, Aborígenes, Huna, Maia, Shinto, Maori e outras, por outro elas diferem de modo determinante por conta do clima e da paisagem. O Druidismo surgiu das rochas, das florestas e da chuva da Grã-Bretanha, e sua própria natureza está envolta pela beleza, poder e lendas que envolvem a Grã-Bretanha desde tempos imemoriáveis. O Druidismo é a prática de se honrar a força vital enquanto ela floresce, vive, perece e gera vida novamente nestas terras.
Mas o fluxo de energia vital está sempre em constante mutação, e isto fica especialmente óbvio em uma ilha de clima temperado. Os botões da primavera se abrem, macios sob a chuva fria, alongando-se no verão antes de adotar a coloração dourada sob as luas da colheita, para então liberar seus grãos e dançar livremente ao sabor dos ventos frios do inverno. É a partir desta compreensão da vida como um rio que flui que recebemos o cerne da prática druídica: Awen. Esta antiga palavra galesa, que literalmente significa "Espírito Flutuante", é compreendida como a Inspiração divina e é justamente essa busca pela Inspiração que é parte tão importante da tradição. Awen é o poder, a água do fonte sagrado, ou o leite da Deusa Mãe, encontrado no Santo Graal. Awen é a Inspiração líquida e a essência de todo o conhecimento que era (ou é) fervido no caldeirão dos deuses ancestrais, os caldeirões do Renascimento.
Se a salvação pode ser vista, talvez de modo simplista, como a busca definitiva do cristianismo, então a Inspiração é a busca do Druidismo. Por sermos animistas, nós entendemos que toda a criação possui um espírito, e a matéria e o mundo físico são a criatividade desse espírito. O Druida sabe que é nesta relação, de espírito para espírito, que a Inspiração é encontrada. Ao sentar-se no topo de uma escarpa, observando o sol a se pôr no oceano, nosso espírito reconhece o poder e a beleza essenciais que formam o espírito, e então ele recebe a Inspiração. Ao segurar uma pedra que cintila com cristais, tocamos e somos tocados pelo espírito da pedra, de sua natureza, de sua história. Ao sentir a energia das árvores na floresta, a vitalidade das sementes que transplantamos na primavera, a força do cavalo que responde à nossa inclinação e muda de direção, ao sentir os véus prateados da lua sobre nossa pele nua, recebemos a Inspiração.
Quando reconhecemos o espírito de algum aspecto da criação - seja um elemental, uma planta, um animal, uma pedra ou um humano - recebemos a oportunidade de conhecer nosso próprio espírito, de responder a partir desse nosso espírito, e é esta consciência que nos dá o poder associado ao velho druida arquetípico: a mistura de vulnerabilidade e invulnerabilidade. Pois no Druidismo não existe o desejo de transcender a realidade. O Druida explora a suavidade e a beleza da carne e do sangue, desfrutando de seu potencial, expressando sua criatividade através do mundo físico e da matéria, descobrindo a beleza do mundo a sua volta, sempre ciente de sua impermanência e seu estado de constante mutação, sempre ciente da energia espiritual que é eterna e invulnerável.
Quando o espírito toca o espírito, onde há comunhão nesse nível e a energia vital é trocada, ali flui o Awen. É como o relâmpago que irrompe entre a terra e o céu, entre os olhos dos amantes.
Mas aspirar a beleza da Inspiração não é o bastante. É responsabilidade de um Druida assegurar que essa energia continue a fluir, de espírito para espírito, pois a energia retida no corpo ou na alma estagna e incha na forma de doença ou vaidade. Dessa forma, a Inspiração deve ser manifesta, a energia inalada deve ser exalada e isto ocorre através da critividade do Druida.Emma Restall Orr.

A Kabalah.


MALKUTHH – PRINCIPIUM - PHALLUS
Todas as religiões conservaram a lembrança de um livro primitivo escrito em figuras pelos sábios dos primeiros séculos do mundo, e cujos símbolos, simplificados e vulgarizados mais tarde, forneceram à Escritura suas letras, ao Verbo seus caracteres, à Filosofia oculta seus signos misteriosos e seus pantáculos.
Este livro, atribuído a Enoque, o sétimo senhor do mundo depois de Adão, pelos hebreus; a Hermes Trismegisto pelos egípcios; a Cadmo, o misterioso fundador da Cidade Santa, pelos gregos, - este livro era o resumo simbólico da tradição primitiva, chamada, depois de Cabala, uma palavra hebraica que é equivalente a tradição.
Esta tradição repousa inteiramente sobre o dogma único da magia: o visível é para nós a medida proporcional do invisível. Ora, os antigos, tendo observado que o equilíbrio é, em física, a lei universal, e que resulta da oposição aparente de duas forças, concluíram que em Deus, isto é, na primeira causa vivente e ativa, se deviam reconhecer duas propriedades necessárias uma à outra: a estabilidade e o movimento, a necessidade e a liberdade, a ordem racional e a autonomia volitiva, a justiça e o amor, e, por conseguinte, também a severidade e a misericórdia; e são estes dois atributos que os cabalistas judeus personificam de algum modo sob os nomes de Geburah e Chesed.
Acima de Geburah e Chesed reside a coroa suprema, o poder equilibrante, princípio do mundo ou do reino equilibrado, que vemos designado sob o nome de Malkuth no versículo oculto e cabalístico do Pater de que já falamos.
Mas Geburah e Chesed, mantidos em equilíbrio, em cima pela coroa e embaixo pelo reino, são dois princípios que podem ser considerados, quer na sua abstração, quer na sua realização. Abstratos ou idealizados, tomam os nomes superiores de Hocmah , a sabedoria, e de Binah , a inteligência.
Realizados, chamam - se à estabilidade e o progresso, isto é, a eternidade e a vitória: Hod e Netsah .
Tal é, conforme a Cabala, o fundamento de todas as religiões e de todas as ciências, a idéia prima e imutável das coisas: um tríplice triângulo e um círculo, a idéia do ternário explicada pela balança multiplicada por si mesma nos domínios do ideal, depois a realização desta idéia nas formas. Ora, os antigos uniram as noções primárias desta simples e grandiosa teologia à própria idéia dos números, e qualificaram, assim, todos os algarismos da década primitiva.
1. Kether - A Coroa, o poder equilibrante.
2. Hocmah – A Sabedoria, equilibrada na sua ordem imutável pela iniciativa da Inteligência.
3. Binah – A Inteligência ativa, equilibrada pela Sabedoria.
4. Chesed – A Misericórdia, segunda concepção da Sabedoria, sempre benévola, porque é forte.
5. Geburah – O Rigor necessitado pela própria Sabedoria e pela Bondade. Sofrer o mal e é impedir o bem. 6. Tiphereth – A Beleza, concepção luminosa do equilíbrio nas formas, o intermediário entre a coroa e o reino, o princípio mediador entre o criador e a criação. (Que sublime idéia não achamos aqui da poesia e do seu soberano sacerdócio!)
7. Netsah – A Vitória, isto é, o triunfo eterno da inteligência e da justiça.
8. Hod - A Eternidade das vitórias do espírito sobre a matéria, do ativo sobre o passivo, da vida sobre a morte. 9. Yesod - O Fundamento, isto é, a base de toda crença e de toda verdade, é o que chamamos em filosofia o Absoluto . 10. Malkuth - O Reino, é o universo, é a criação inteira, a obra e o espelho de Deus, a prova da razão suprema, a conseqüência formal que nos força a remontar às premissas virtuais, o enigma cuja palavra é Deus, isto é: razão suprema e absoluta.
Estas dez noções primárias, unidas aos dez primeiros caracteres do alfabeto primitivo, significando, ao mesmo tempo, princípios e números, são os que os mestres da Cabala chamam as dez Sephiroth.
O tetragrama sagrado.
Indica o número, a origem e as relações dos nomes divinos. É ao nome de Iodchavad, escrito com estes vinte e quatro sinais coroados de um tríplice florão de luz, que devem ser referidos os vinte e quatro anciãos coroados do Apocalipse. Na Cabala, o princípio oculto é chamado de ancião, e este princípio, multiplicado e como que refletido nas causas segundas, cria suas imagens, isto é, tantos anciãos quantas concepções diversas há da sua única essência. Estas imagens menos perfeitas, ao se afastarem da sua fonte, lançam nas trevas um último reflexo ou um último clarão que representa um velho horrível e desfigurado: é o que vulgarmente é chamado o diabo. Por isso, um iniciado ousou dizer: “O diabo é Deus compreendido pelos malvados ”; e um outro, em termos mais estranhos, mas não menos enérgicos, acrescentou: “O diabo é formado dos fragmentos de Deus ”. Podemos resumir e explicar estas asserções tão novas, fazendo notar que, até no simbolismo, o demônio é um anjo caído do céu por ter querido usurpar a divindade. Isso pertence à linguagem alegórica dos profetas e lendários. Filosoficamente falando, o diabo é uma idéia humana da divindade sobrepujada e despojada do céu pelo progresso da ciência e da razão. Moloch, Adramelek, Baal, foram, entre os orientais primitivos, as personificações do deus único, desonradas por atributos bárbaros. O deus dos jansenistas, criando para o inferno a maioria dos homens e comprazendo - se com as torturas eternas dos que não quis salvar, é uma concepção ainda mais bárbara do que a de Moloch; por isso, o deus dos jansenistas já é para os cristãos sábios e esclarecidos um verdadeiro Satã caído do céu.
Os cabalistas, multiplicando os nomes divinos, uniram todos, quer à unidade do tetragrama, quer à figura do ternário, quer à escada sefírica da década: traçam assim a escada dos nomes e dos números divinos.
Triângulo que se pode traduzir assim, em letras romanas:

I
IA
SDI
JEHV
ELOIM
SABAOT
ARARITA
ELVEDAAT
ELIM GIBOR
ELIM SABAOT
O conjunto de todos estes nomes divinos, formado do único tetragrama, mas fora do próprio tetragrama, é uma das bases do Ritual hebreu, e compõe a força oculta que os rabinos cabalistas invocam sob o nome de Semhamphorash.
Falaremos agora dos Taros, sob o ponto de vista cabalístico. Já indicamos a fonte oculta de seu nome. Este livro hieroglífico se compõe de um alfabeto cabalístico e de uma roda ou círculo de quatro décadas, especificadas por quatro figuras simbólicas e típicas, tendo cada uma, para raio, uma escada de quatro figuras progressivas representando a Humanidade: homem, mulher, moço e criança; senhor, senhora, combatente e criado. As vinte e duas figuras do alfabeto representam primeiramente os treze dogmas, depois as nove crenças autorizadas pela religião hebraica, religião forte e fundada sobre a mais alta razão.
Eis a chave religiosa e cabalística dos Taros, expressa em versos técnicos à maneira dos antigos legisladores:

1 Aleph. Tudo mostra uma causa inteligente, ativa.

2 Bet. O número dá prova da unidade viva.
3 Gimmel. Nada pode limitar aquele que tudo contém.
4 Dalet. Só, antes de qualquer princípio, está presente em toda parte.
5 Heh. Como é único senhor, é o único adorável.
6 Vav. Revela aos corações puros seu dogma verdadeiro.
7 Zayin. Mas é preciso um só chefe às obras da fé.
8 Het. É por isso que só temos um altar, uma lei.
9 Tet. nunca o Eterno mudará a sua base.
10 Yod. Dos céus e dos nossos dias regula cada fase.
11 Khaf. Rico em misericórdia e enérgico no punir.
12 Lamed.Promete a seu povo um rei no porvir.
13 Mem. O túmulo é a passagem para a terra nova. Só a morte acaba, a vida é eterna.
Tais são os dogmas puros, imutáveis, sagrados. Completemos, agora, os números reverenciados: 14 Nun.g O bom anjo é aquele que acalma e tempera.
15 Samekh. O mau é o espírito de orgulho e cólera.
16 Ayin. Deus manda no raio e governa o fogo.
17 Peh. Vésper e o seu orvalho obedecem a Deus.
18 Tzadi. Coloca sobre nossas torres a Lua como sentinela.
19 Kuf.O seu sol é a fonte em que tudo se renova.
20 Resh. O seu sopro faz germinar o pó dos túmulos.
0 ou 21 Shin. Onde os mortais sem freio descem em multidão.
21 ou 22 Tav. Sua coroa cobriu o propiciatório.
E sobre os querubins faz pairar sua glória.
Com o auxílio desta explicação, puramente dogmática, já se pode entender as figuras do alfabeto cabalístico do Tarô. Assim a figura nº 1, chamada o Pelotiqueiro, representa o princípio ativo na unidade de autotelia divina e humana; o nº 2, chamado vulgarmente a Papisa, figura a unidade dogmática dos números, é a Cabala ou a Gnose personificada; o nº 3 representa a Espiritualidade divina sob o emblema de uma mulher alada, que tem numa das mãos a águia apocalíptica, e, na outra, o mundo suspenso na ponta do seu cetro. As outras figuras são tão claras e tão facilmente explicáveis como estas primeiras. Os quatro signos, isto é, aos Paus, às Copas, às Espadas e aos Círculos ou Pantáculos,, vulgarmente chamados Ouros. Estas figuras são hieróglifos do tetragrama; assim, o Pau é o phallus dos egípcios ou iod dos hebreus; a Copa é o octeis ou o hê primitivo; a Espada é a conjunção de ambos ou o lingham figurado no hebreu anterior ao cativeiro pelo vô , e o Círculo ou Pantáculo, imagem do mundo, é o hê final do nome divino.
Tomemos um Tarô e reunamos, quatro por quatro, todas as páginas que formam a Roda ou ROTA de Guilherme Postello; ponhamos juntos os quatro ases, os quatro dois, etc., e teremos dez montes de cartas que dão a explicação hieroglífica do triângulo dos nomes divinos, de acordo com a escada do denário que demos precedentemente. Poderemos, pois, lê - los assim, referindo cada número à Sephirot correspondente:

Heh.Vav.Het.Yod.

Quatro letras do nome que contém todos os nomes.
1 . - KETHER.
Os quatro ases:
A coroa de Deus tem quatro florões.

2. – CHOCMAH
Os quatro dois:
A sua sabedoria se espalha e forma quatro rios.

3. - BINAH
Os quatro três:
Da sua inteligência dá quatro provas.

4. - CHESED
Os quatro quatro:
Da sua misericórdia há quarto benefícios.

5. - GEBURAH
Os quatro cinco:
O seu rigor quatro vezes pune quatro erros.

6. - TIPHERET
Os quatro seis:
Por quatro raios puros a sua beleza se revela.

7. – NETSAH
Os quatro sete:
Celebremos quatro vezes a sua vitória eterna.

8. - HOD
Os quatro oito:
Quatro vezes triunfa na sua eternidade.

9. - YESOD
Os quatro nove:
Por quatro fundamentos seu trono é suportado.


10. - MALCHUT
Seu único reino é quatro vezes o mesmo:
E conforme os florões do divino diadema.
Por este arranjo tão simples, o sentido cabalístico de cada lâmina. Assim, por exemplo, o cinco de paus significa rigorosamente Geburah de Jod , isto é, justiça do Criador ou cólera do homem; o sete de copas significa vitória da misericórdia ou vitória da mulher; o oito de espada significa conflito ou equilíbrio eterno; e assim outras. Assim podemos compreender como faziam os antigos pontífices para fazer este oráculo; as lâminas lançadas à sorte davam sempre um sentido cabalístico novo, mais rigorosamente verdadeiro na sua combinação, unicamente a qual era fortuita; e, como a fé dos antigos nada dava ao acaso, eles liam as respostas da Providência nos oráculos do Tarô, que eram chamados Theraph ou Theraphims entre os hebreus, como o pressentiu primeiramente o sábio cabalista Gaffarel, um dos magos habituais do cardeal Richelieu.
Quanto às figuras, eis um último dístico para explicá - las:

REI, DAMA, CAVALEIRO, VALETE

Esposo, moço, criança, toda a humanidade,
Sobem por estes quatro degraus à unidade.
As dez Sephiroth e as vinte e duas lâminas do tarô formam o que os cabalistas chamam os trinta e dois caminhos da ciência absoluta. Quanto às ciências particulares, dividem -nas em cinqüenta capítulos, que chamam as cinqüenta portas. (Sabemos que porta significa governo ou autoridade entre os orientais). Os rabinos dividem a Cabala também em Bereschit ou Gênese universal, e Mercavah, ou carro de Ezequiel; depois, das duas maneiras de interpretar os alfabetos cabalísticos, formam duas ciências, chamadas Gematria e a Temurah, e compõem delas a arte notória, que fundamentalmente nada mais é que a ciência completa dos signos do Tarô e a sua aplicação complexa e variada à adivinhação de todos os segredos, quer da filosofia, quer da natureza, quer do futuro. Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Canção de Amairgin.


Eu sou o vento sobre o mar,
Sou uma onda do oceano,
Sou o rugido do mar,
Sou um boi dos sete exílios,
Sou um falcão num penhasco,
Sou uma lágrima do sol,
Sou uma curva num labirinto,
Sou um javali em bravura,
Sou um salmão numa lagoa,
Sou um lago numa planície,
Sou uma força a distribuir-se,
Sou o espírito do dom da habilidade,
Sou uma folha de grama a oferecer à terra matéria decomposta,
Sou um deus da criação a oferecer inspirações.

Quem mais limpa as pedras da montanha?
Quem é que declama o nascer do sol?
Quem é que diz onde o sol se põe?
Quem traz o gado da casa de Tethra?
Sobre quem sorri o gado de Tethra?
Quem é este boi?
Quem é o deus tecelão que remenda a palha dos ferimentos?
O encantamento de uma lança.
O encantamento do vento.
Versão da Canção de Amairgin in: MATTHEWS, Caitlín & MATTHEWS, John. The Encyclopedia of Celtic Wisdom: a Celtic Shaman’s Sourcebook. London: Rider, 2001.

Ritos Celtas.


Os primeiros celtas não construíam templos para a adoração de seus deuses, mas mantinham altares em bosques de (Nemeton) dedicados a serem locais de adoração. Algumas árvores eram consideradas elas próprias sagradas. A importância das árvores na religião celta pode ser mostrada pelo fato que o nome da tribo dos Eburônios contém uma referência a yew tree, e nomes como Mac Cuillin (filho de acebo), e Mac Ibar (filho de yew) aparecem nos mitos irlandeses. Apenas durante o período de influência romana os celtas começaram a construir templos, um hábito que foi passado as tribos germânicas que os suplantaram.
Escritores romanos insistiam que o sacrifício humano era praticado pelos celtas em larga escala e há indícios dessa possibilidade vindos de achados na Irlanda, no entanto a maior parte da informação sobre isso veio de rumores de "segunda mão" que chegavam a Roma. São muito poucas as descobertas arqueológicas que substanciam o processo de sacrifício e assim os historiadores modernos consideram que os sacrifícios humanos eram um acontecimento extremamente raro nas culturas Celtas.
Mas havia também, no entanto, um culto guerreiro centrado nas cabeças cortadas de seus inimigos. Os celtas muniam seus mortos de armas e outros pertences, o que indica que acreditavam na vida após a morte. Depois do funeral, eles também cortavam a cabeça do morto e esmagavam seu crânio para evitar que seu espírito permanecesse preso.
Nenhuma menção aos cultos celtas pode deixar de descrever os druidas. Esses sacerdotes representam simplesmente a classe mais ou menos hereditária de xamãs, característica de todas as sociedades indo-européias antigas. Em outras palavras, eles são o equivalente a casta brâmane indiana ou aos magi persas, e como estes um especialista nas práticas de magia, sacrifício e augurio. Eles eram conhecidos por ser particularmente associados a carvalhos e trufas; essas últimas talvez usadas na confecção de medicamentos ou alucinógenos. Outra figura importante na manutenção das lendas célticas era o bardo; aquele que, através de suas músicas, difundia os feitos de bravura dos heróis do passado. Desse ponto de vista a cultura celta não foi uma cultura histórica - do ponto de vista que não teve história escrita (ainda que os celtas possuíssem formas rudimentares de escrita, baseadas em traços verticais e horizontais). Suas histórias eram transmitidas oralmente, e os bardos eram particularmente bons nisso já que, uma vez que suas histórias eram musicadas, tornava-se fácil lembrar das palavras exatas que a compunham. Além disso, eles podem ter sido considerados uma espécie de profetas. Os historiadores Estrabo descreveu-os como "vates", palavra que significa inspirado, estasiado. É bem possível que a sociedade céltica tivesse, além da religião taumatúrgica e ritualística dos druídas, um elemento de comunicação estásica com o Além. A Conversão dos Druidas.
O Cristianismo se espalhou com muita facilidade pelas regiões célticas como a Gália, Bretanha, Grã-Bretanha e Irlanda. A presença se faz notar desde o século II, mas mais intensamente a partir do século IV. Vários mosteiros são abertos. São Colombano fundou mosteiros em Annegray no Vosges, em Luxeit na Borgonha, e até em Bobbio na Lombardia. São Patrick (ou São Patrício) é o santo padroeiro da Irlanda. Vários manuscritos da Idade Média contam a sua lenda. Nascido possivelmente em 390 ou 415 (não há certeza sobre as datas), ele não tem origem irlandesa, mas grã-bretã. Quando jovem, foi raptado por piratas e tornado escravo na Irlanda. Liberto seis anos depois, se torna sacerdote e depois bispo, quando decide responder a um chamado divino para converter os seus sequestradores. Desembarca em Ulster, querendo implantar uma rede de discipulos, e inicia a conversão dos druidas, ritualísticos da sociedade local. E, desde então, oficialmente, em cada ultimo domingo do mês de julho, multidões de irlandeses galgam o monte Croagh Patrick para render homenagem ao santo fundador.
Resquícios Modernos.
Os modos e as crenças celtas tiveram um grande impacto na atualidade das regiões em que se encontravam. Conhecimentos sobre a religião pré-cristã ainda são comuns nas regiões que foram habitadas pelos celtas, apesar de agora estarem diminuindo. Adicionalmente, muitos santos não-oficiais são adorados na Escócia, como Saint Brid na Escócia (Brigid, na Irlanda), uma adaptação cristã da deusa de mesmo nome. Vários ritos envolvendo peregrinações a vales e poços considerados sagrados aos quais creditam propriedades curativas têm origem celta. As festas dos celtas eram baseadas nos solstícios e equinócios.O Imbolc era celebrado no dia 1º de fevereiro e marcava o começo da vida da natureza depois da hibernação do inverno.O Samhain,a festa dos mortos,ocorria em 1º de novembro.A festa cristã de todos os santos no dia 1º de novembro é derivada dessa data comemorativa celta.F.P.Wikepédia.

A Iniciação.


Iesod – Bonum.
O iniciado é aquele que possui a lâmpada de Trismegisto, o manto de Apolônio, e o bastão dos patriarcas.
A lâmpada de Trismegisto é a razão esclarecida pela inteligência; o manto de Apolônio é a posse plena e total de si mesmo, que isola o sábio das correntes instintivas; e o bastão dos patriarcas é o auxílio das forças ocultas e perpétuas da natureza.
A lâmpada de Trismegisto alumia o presente, o passado e o futuro, mostra claramente a consciência dos homens, ilumina os recônditos do coração das mulheres. A lâmpada brilha com tríplice chama, o manto se redobra três vezes, e o bastão se divide em três partes.
O número nove é o dos reflexos divinos: ele exprime idéia divina em toda sua força abstrata, mas também exprime o luxo na crença e, por conseguinte, a superstição e a idolatria.
É por isso que Hermes fez dele o número da iniciação, porque o iniciado reina sobre a superstição e pela superstição, e só ele pode caminhar nas trevas, apoiado como está no seu bastão, envolto no seu manto e iluminado pela sua lâmpada.
A razão foi dada a todos os homens, mas nem todos sabem fazer uso dela; é uma ciência que é preciso aprender. A liberdade é oferecida a todos, mas nem todos sabem apoiar- se nela; é um poder de que é preciso apoderar- se.
A nada chegamos que não nos custe mais de um esforço. O destino do homem é que se enriqueça do que ganha e que depois tenha, como Deus, a glória e o prazer de dar.
A ciência mágica se chamava, outrora, arte sacerdotal e arte real, porque a iniciação dava ao sábio o império sobre as almas e a aptidão para governar as vontades.
A adivinhação é também um dos privilégios do iniciado; ora, adivinhação é simplesmente o conhecimento dos efeitos contidos nas causas e a ciência aplicada aos fatos do dogma universal da analogia.
Os atos humanos não se escrevem somente a luz astral; deixam também os seus traços na fronte, modificam as feições e o andar, mudam o acento da voz.
Cada homem traz, pois, consigo a história da sua vida, legível para o iniciado. Ora, o futuro é sempre a conseqüência do passado, e as circunstâncias inesperadas não mudam quase nada dos resultados racionalmente esperados. É possível, pois, predizer a cada homem o seu destino.
É possível julgar de uma existência inteira por um só movimento; um só desacerto pressagia uma série de desgraças. César foi assassinado porque amava as poesias de Ossian; Luiz Filipe devia deixar o trono como o fez, porque usava um guarda - chuva. São paradoxos para o vulgo, que não compreende as relações ocultas das coisas; mas são razões para o iniciado, que compreende tudo e de nada se admira.
A iniciação preserva das falsas luzes de misticismo; ela dá à razão humana o seu valor relativo e a sua infalibilidade proporcional, unindo -a à razão suprema pela cadeia das analogias.
O iniciado não tem, pois, esperanças duvidosas, nem temores absurdos, porque não tem crenças desarrazoáveis; sabe o que pode e nada lhe custa ousar. Por isso, para ele, ousar é poder.
Eis, pois, uma nova interpretação dos atributos do iniciado; a sua lâmpada representa o saber, o manto que o envolve representa a sua discrição, o seu bastão é o emblema da sua força e da sua audácia. Ele sabe, ousa e cala- se.
Sabe os segredos do futuro, ousa no presente e cala - se sobre o passado.
Sabe as fraquezas do coração humano, ousa servir- se delas para fazer a sua obra, e cala- se sobre os seus projetos.
Sabe a razão de todos os simbolismos e de todos os cultos, ousa praticá- los ou abster- se deles sem hipocrisia e sem impiedade, e cala- se sobre o dogma único da alta iniciação.
Sabe a existência e a natureza do grande agente mágico, ousa fazer os atos e pronunciar as palavras que o submetem à vontade humana, e cala - se sobre os mistérios do grande arcano.
O or isso, podeis vê- lo muitas vezes triste, nunca abatido nem desesperado; muitas vezes pobre, nunca envilecido nem miserável; muitas vezes perseguido, nunca abandonado nem vencido.
Ele se lembra muitas vezes da viuvez e do assassinato de Orfeu, do exílio e da morte solitária de Moisés, do martírio dos profetas, das torturas de Apolônio, da cruz do Salvador; sabe em que abandono morreu Agrippa, cuja memória ainda é caluniada; sabe a que fadigas sucumbiu o grande Paracelso, e tudo o que teve de sofrer Raimundo Lullo para, enfim, chegar a uma morte sanguinolenta. Lembra - se de Swedenborg fazendo - se de louco ou mesmo perdendo a razão, a fim de fazer perdoar a sua ciência; de Saint-Martin, que se ocultou toda a sua vida; de Cagliostro, que morreu abandonado nos calabouços da Inquisição; de Cazotte, que subiu ao cadafalso. Sucessor de tantas vítimas, não ousa menos, mas compreende ainda mais a necessidade de calar - se.
I mitemos o seu exemplo, aprendamos com perseverança; quando soubermos, ousemos e calemo -nos. Eliphas Levi - Ritual e Dogma da Alta Magia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Realização.


HOD - VIVENS.
As causas se revelam pelos efeitos, e os efeitos são proporcionais às causas. O verbo divino, a palavra única, o tetragrama, se afirmou pela criação quaternária. A fecundidade humana prova a fecundidade divina: o iod do nome divino é a virilidade eterna do primeiro princípio. O homem compreendeu que foi feito à imagem de Deus, quando compreendeu que Deus era a idéia que se fazia de si mesmo engrandecida até o infinito.
Compreendendo Deus como o homem infinito, o homem disse a si mesmo: - Eu sou o Deus finito.
A magia difere do misticismo em não julgar a priori mas, sim, depois de ter estabelecido a posteriori a própria base dos seus julgamentos, isto é, só depois de ter compreendido a causa pelos efeitos contidos na própria energia da causa, por meio da lei universal da analogia; por isso, nas ciências ocultas, tudo é real, e as teorias são estabelecidas somente sobre as bases da experiência. São as realidades que constituem as proporções do ideal, e o mago só admite como certo, no domínio das idéias, o que é demonstrado pela realização da palavra; é o verbo propriamente dito. Um pensamento se realiza tornando - se palavra; esta se realiza pelos sinais, sons e figuras dos sinais: é este o primeiro grau de realização. Depois, ela se imprime na luz astral por meio dos sinais da escrita ou da palavra; ela influi sobre outros espíritos, refletindo - se neles; se reflete atravessando o diáfano dos outros homens, aí toma formas e proporções novas, depois se traduz em ato e modifica a sociedade e o mundo; é este o último grau de realização. Os homens que nascem num mundo modificado por uma idéia, trazem consigo a sua impressão e é assim que o verbo se faz carne. A impressão da desobediência de Adão, conservada na luz astral, só pode ser apagada pela impressão mais forte da obediência do Salvador, e é assim que se pode explicar o pecado original e a redenção, num sentido natural e mágico.
A luz astral, representada nos antigos símbolos pela serpente que morde a sua cauda, representa, ao mesmo tempo, a malícia e a prudência, o tempo e a eternidade, o tentador e o Redentor. É que esta luz, sendo o veículo da vida, pode servir de auxiliar tanto ao bem como ao mal, e pode ser tomada pela forma ígnea de Satã como pelo corpo do Espírito Santo. É a arma universal da batalha dos anjos, e ela alimenta tão bem as chamas do inferno como o raio de São Miguel. Poderíamos compará- la a um cavalo de natureza análoga à que é atribuída ao camaleão, e que sempre refletisse a armadura do seu cavaleiro.
A luz astral é a realização ou a forma da luz intelectual, como esta é a realização ou forma da luz divina.
O grande iniciador do Cristianismo, compreendendo que a luz astral estava sobrecarregada dos reflexos impuros da depravação romana, quis separar seus discípulos da esfera ambiente dos reflexos e fazê- los atentos unicamente à luz interior, a fim de que, por meio de uma fé comum, pudesse comunicar - se mutuamente por meio de novos cordões magnéticos a que chamou graça, e vender, assim, as correntes transbordadas do magnetismo universal, ao qual dava os nomes de diabo ou Satã, para exprimir a sua putrefação. Opor uma corrente a outra é renovar o poder da vida fluídica. Por isso, os reveladores nada mais fizeram do que adivinhar, pela exatidão de seus cálculos, a hora própria das reações morais.
A lei de realização produz o que chamamos o respiro magnético, de que são impregnados os objetos e lugares, o que lhes comunica uma influência conforme com nossas vontades dominantes, principalmente com as que são confirmadas e realizadas por atos. Com efeito, o agente universal, ou a luz astral latente, sempre procura o equilíbrio; enche o vácuo e aspira o cheio, o que faz contagioso o vício, como certas doenças físicas, e serve poderosamente ao proselitismo da virtude. É por isso que a coabitação com seres antipáticos é um suplício; é por isso que as relíquias, quer dos santos quer dos grandes celerados, podem produzir efeitos maravilhosos de conversão ou perversão súbita; é por isso que o amor sexual, muitas vezes, se produz por um sopro ou contato, e não somente pelo contato da própria pessoa, mas até por meio dos objetos que ela tocou e magnetizou sem o saber.
A alma aspira e respira exatamente como o corpo. Ela aspira o que crê ser felicidade, e respira idéias que resultam das suas sensações íntimas. As almas doentes têm mau hálito e viciam a sua atmosfera moral, isto é, misturam seus reflexos impuros com a luz astral que as penetra e nela estabelecem correntes deletérias.
Muitas vezes ficamos admirados de sermos assaltados, na vida social, por pensamentos maus que não julgamos possíveis, e não sabemos que isso é devido a alguma vizinhança mórbida. Este segredo é de grande importância, porque leva à manifestação das consciências, um dos poderes mais incontestáveis e mais terríveis da arte mágica.
O respiro magnético produz em redor da alma uma irradiação de que ela é o centro, e ela rodeia- se do reflexo de suas obras, que lhe fazem um céu ou um inferno. Não há atos solitários e não poderia haver atos ocultos; tudo o que realmente queremos, isto é, tudo o que confirmamos pelos nossos atos, fica escrito na luz astral, onde se conservam os nossos reflexos; estes reflexos influem continuamente sobre o nosso pensamento por meio do diáfano, e é assim que cada um se torna e permanece filho das suas obras.
A luz astral, transformada em luz humana no momento da concepção, é o primeiro envoltório da alma, e, combinando - se com os fluidos mais sutis, forma o corpo etéreo ou o fantasma sideral dos que fala Paracelso na sua filosofia intuitiva ( Philosophia sagax ). Este corpo sideral, desprendendo - se na hora da morte, atrai a sim e conserva por muito tempo, pela simpatia dos homogêneos, os reflexos da vida passada; se uma vontade poderosamente simpática o atrai numa corrente particular, ele se manifesta naturalmente, porque nada há mais natural do que os prodígios. É assim que se produzem as aparições. Mas desenvolveremos isto mais completamente no capítulo especial da Necromancia.
Este corpo fluídico, submetido, como a massa da lua astral; a dois movimentos contrários, atrativo à esquerda, e repulsivo à direita, ou reciprocamente, nos dois sexos, produz em nós as lutas dos diferentes atrativos e contribui para a ansiedade da consciência; muitas vezes é influído pelos reflexos dos outros espíritos e é assim que se produzem quer as tentações, quer as graças sutis e inesperadas. É também a explicação do dogma tradicional dos dois anjos que nos assistem e experimentam. As duas forças da luz astral podem ser figuradas por uma balança em que são pesadas as nossas boas intenções para a vitória da justiça e a emancipação da nossa liberdade.
O corpo astral nem sempre é do mesmo sexo que o corpo terrestre, isto é, as proporções das duas forças, variando da direita para a esquerda, parecem, muitas vezes, contradizer a organização visível; é o que produz os erros aparentes das paixões humanas, e pode explicar, sem as justificar de modo algum diante da moral, as singularidades amorosas de Anacreonte ou Safo.
Um magnetizador hábil deve apreciar todos estes matizes, e damos, no nosso Ritual, os meios de os reconhecer.
Há duas espécies de realizações, a verdadeira e a fantástica. A primeira é o segredo exclusivo dos magos, a outra pertence aos encantadores e feiticeiros.
As mitologias são realizações fantásticas do dogma religioso, as superstições são o sortilégio da falsa piedade; mas mesmo as mitologias e superstições são mais eficazes sobre a vontade humana do que uma filosofia puramente especulativa e exclusiva de toda prática. É por isso que São Paulo opõe as conquistas da loucura da Cruz à inércia da sabedoria humana. A religião realiza a filosofia adaptando-a às fraquezas do vulgo; tal é, para os cabalistas, a razão secreta e a explicação oculta dos dogmas da encarnação e da redenção.
Os pensamentos que não se traduzem em palavras são pensamentos perdidos para a humanidade; as palavras que não são confirmadas por atos são palavras ociosas, e não há grande distância da palavra ociosa à mentira.
É o pensamento formulado por palavras e atos que constitui a boa obra ou o crime. Logo, quer em vício, quer em virtude, não há palavra da qual não sejamos responsáveis; principalmente, não há atos indiferentes. As maldições e bênçãos sempre têm seus efeitos e qualquer ação, seja qual for, quando é inspirada pelo amor ou pelo ódio, produz efeitos análogos ao seu motivo, ao seu valor e à sua direção.
O imperador cujas imagens tinham sido mutiladas e que, levando a mão à fronte, dizia: “Não me sinto ferido ”, fazia uma falsa apreciação e diminuía nisso o mérito da sua clemência. Qual homem de bem veria com sangue frio os insultos feitos ao seu retrato? E se realmente semelhantes insultos, feitos mesmo contra a vontade, caíssem sobre nós por uma influência fatal, se a arte dos enfeitiçamentos fosse real, como não é permitido a um adepto duvidá- lo, quanto não seria mais imprudente, e até mais temerária ainda, a palavra deste bom imperador!
Existem pessoas quem nunca são ofendidas impunemente, e, se a injúria que se lhes fez é mortal, começa - se desde então a morrer. Existem outras que até não a encontrais em, vão, e cujo olhar muda a direção de vossa vida. O basilisco que mata pelo olhar não é uma fábula, é uma alegoria mágica. Em geral, é ruim para a saúde ter inimigos, e qualquer pessoa não desafia impunemente a reprovação de quem quer que seja. Antes de se opor a uma corrente, é preciso que a pessoa se assegure bem se possui a força ou se é levada pela corrente contrária; aliás será destruída ou fulminada, e muitas mortes súbitas não têm outras causas. As mortes terríveis de Nadab e Abiu, de Osa, Ananias e Safira, foram causadas pelas correntes elétricas das crenças que ultrajavam; os tormentos das ursulinas de Loudun, das religiosas de Louviers e dos convulsionários de jansenismo, tinham o mesmo princípio e se explicam pelas mesmas leis naturais ocultas. Se Urbano Grandier não tivesse sido supliciado, teria acontecido uma das duas: ou as freiras possessas morreriam em espantosas convulsões, ou os fenômenos de frenesi diabólica teriam ganho, multiplicando - se, tantas vontades e tanta força, que o próprio Grandier, apesar da sua ciência e sua razão, teria ficado alucinado a ponto de caluniar a si próprio, como fizera o infeliz Gaufridy, ou teria morrido de repente, com todas as circunstâncias terríveis de um envenenamento ou de uma vingança divina.
O infeliz poeta Gilberto foi, no século XVIII, vítima da sua ousadia em desafiar a corrente da opinião e até do fanatismo filosófico da sua época. Culpado de lesa -filosofia, morreu louco furioso, assaltado pelos mais incríveis terrores, como se o próprio Deus o tivesse punido por ter sustentado a sua causa fora de propósito, mas, com efeito, perecia vítima de uma lei da natureza que não podia conhecer; tinha - se oposto a uma corrente elétrica e caiu fulminado.
Se Marat não tivesse sido assassinado por Carlota Corday, teria infalivelmente sido morto por uma reação da opinião pública. O que o fizera leproso era a execração das pessoas de bem, e devia sucumbir a isso.
A reprovação causada pela Saint-Berthelemy foi a causa única da horrível doença e da morte de Carlos IX; e Henrique IV, se não fosse sustentado por uma imensa popularidade, que devia à força simpática de sua vida astral, Henrique IV, dizemos nós, não teria sobrevivido à sua conversão e teria perecido pelo desprezo dos protestantes, combinado com a desconfiança e a raiva dos católicos.
A impopularidade pode ser uma prova de integridade e de coragem, mas nunca é prova de prudência ou política; os golpes dados contra a opinião são mortais para os homens de Estado. Podemos ainda lembrarmo - nos do fim prematuro e violento de vários homens ilustres, que não convém mencionar aqui.
Os descréditos diante da opinião podem ser grandes injustiças, mas sempre não são menores causas de insucessos e, muitas vezes, sentenças de morte.
Do mesmo modo, as injustiças feitas a um só homem podem e devem, se não forem reparadas, causam a perda de um povo ou de uma sociedade inteira: é o que se chama o grito do sangue, porque, no fundo de toda injustiça, há o germe de um homicídio.
É por causa destas leis terríveis de solidariedade que o cristianismo tanto recomenda o perdão das injúrias e a reconciliação. Aquele que morre sem perdoar, lança - se na eternidade armado de um punhal e se devota aos horrores de uma eterna matança.
É uma tradição e uma crença invencível entre o povo a da eficácia das bênçãos ou maldição paternas ou maternas. Com efeito, quanto mais os laços que unem duas pessoas são estreitos, tanto é mais terrível nos seus efeitos o ódio entre elas. O tição de Altheu queimando o sangue de Meleagra é, na mitologia, o símbolo deste poder temível.
Todavia, que os pais tomem cuidado com isso, porque não se acende o inferno no seu próprio sangue e não se vota os seus à desgraça, sem queimar e tornar infeliz a si próprio. Nunca é um crime perdoar, e sempre é um perigo e uma ação má amaldiçoar.
Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Círculo Mágico e o Altar.


O círculo, círculo mágico ou esfera é um templo bem definido, embora não-físico. Actualmente, na Wicca, rituais e trabalhos de magia acontecem dentro de tais construções de poder pessoal.
O círculo mágico tem origem antiga. Versões dele eram utilizadas na velha magia babilónica. Magos cerimoniais da Idade Média e da Renascença também o utilizavam, bem como muitas tribos indígenas americanas, apesar de o fazerem, provavelmente, por motivos diferentes.
Há dois tipos principais de círculos mágicos. Aqueles utilizados por magos cerimoniais antigos (e actuais) são criados para proteger o mago das forças que ele gera. Na Wicca, o círculo é utilizado para criar um espaço sagrado no qual os humanos encontram a Deusa e o Deus.
Na Europa pré-cristã, a maioria dos festivais religiosos do paganismo acontecia ao ar livre. Eram celebrações ao Sol, à Lua, às estrelas e à fertilidade da Terra. As pedras erguidas, círculos de pedras, bosques sagrados e fontes cultuadas da Europa são resquícios desses antigos dias.
Os ritos pagãos passaram ao ostracismo na época de sua proibição pela nova e poderosa igreja. Nunca mais os prados ouviram as vozes cantando os nomes dos deuses solares, e a lua passava sem adoração pelos céus nocturnos.
Os pagãos tornaram-se reservados quanto a seus ritos. Alguns os praticavam ao ar livre somente sob a protecção da escuridão. Outros adaptaram-nos a ambientes fechados.
Infelizmente, a Wicca herdou esta última prática. Entre muitos Wiccanos, rituais a céu aberto constituem uma novidade, uma agradável ruptura com os rituais domésticos. Chamo a esta síndrome de "sala-de-estar de Wicca". Apesar de muitos Wiccanos praticarem sua religião em ambientes fechados, o ideal é executar os ritos ao ar livre, sob o Sol e a Lua, em locais silvestres e isolados, longe do assédio dos humanos.
Tais ritos Wiccanos são difíceis de praticar hoje. Os rituais tradicionais da Wicca são complexos e normalmente requerem um grande número de instrumentos. Privacidade é também algo difícil de obter, além do simples medo de ser visto. Por que ter medo?
Há adultos tidos como responsáveis e inteligentes que nos prefeririam ver mortos do que praticando nossa religião. Tais "cristãos" são minoria, mas certamente existem, e mesmo hoje os Wiccanos são vítimas de agressões psicológicas e violência física nas mãos dos que não compreendem sua religião.
Não permita que isto o assuste. Os rituais podem ser praticados ao ar livre, se forem adaptados para atrair o mínimo de atenção. Vestir-se com um robe preto encapuzado, enquanto mexe um caldeirão e manuseia facas no ar no meio de um parque público não é o melhor meio de evitar ser notado.
Roupas comuns são aconselháveis em rituais ao ar livre em áreas onde possa ser visto. Podemos utilizar instrumentos, mas lembre-se de que estes são acessórios, não necessidades. Deixe-os em casa se sentir que podem trazer problemas.
Em 1987, numa viagem a Maui, acordei-me ao nascer do sol e caminhei até a praia. O Sol estava apenas nascendo por detrás de Haleakala, tingindo o oceano de rosa e vermelho. Caminhei pela areia coral até um ponto onde a água morna batia em rochas vulcânicas.
Lá, depositei uma pequena pedra na areia em honra às antigas deidades havaianas. Sentado diante dela, abri-me à presença das deusas e deuses ao meu redor. A seguir, caminhei pelo mar e atirei uma plumeria lei à água, oferecendo-a a Hina, Pele, Laka, Kane, Kanaloa e todos os seus semelhantes.
Não pronunciei longos textos nem ergui instrumentos ao ar. Ainda assim, as deidades lá estavam, por toda a parte, enquanto as ondas quebravam contra minhas pernas e a aurora rompia por completo sobre o antigo vulcão, tocando o mar com uma luz esmeralda.
Rituais ao ar livre como este podem ser mil vezes mais eficazes por serem ao ar livre, e não numa sala repleta de aço e plástico e as engenhocas de nossa era tecnológica.
Quando não forem possíveis (o clima é certamente um factor), os Wiccanos transformam suas salas e quartos em locais de poder. Fazem-no ao criar um espaço sagrado, um ambiente mágico no qual as deidades são acolhidas e celebradas, e no qual os Wiccanos se dão conta dos aspectos da Deusa e do Deus interior. Pode-se também praticar magia nesse espaço. Esse espaço sagrado é o círculo mágico.
É praticamente um pré-requisito para trabalhos em ambientes fechados. O círculo define a área ritual, retém o poder pessoal, isola energias perturbadoras - em suma, cria uma atmosfera apropriada para os ritos. Permanecer dentro de um círculo mágico, observando o brilho das velas no altar, aspirando o perfume do incenso e entoando antigos nomes é uma maravilhosa experiência evocativa. Quando correctamente formado e visualizado, o círculo mágico executa sua função de aproximar-nos da Deusa e do Deus.
O círculo é construído com poder pessoal o qual é sentido (e visualizado) saindo do corpo, através do punhal mágico (athame), e rumo ao ar. Quando completo, o círculo é uma esfera de energia que engloba toda a área de trabalho. A palavra círculo é equivocada: uma esfera de energia é o que realmente se cria. O círculo simplesmente assinala o anel onde a esfera toca a terra (ou o chão) e continua através dela para formar a outra metade.
Algum tipo de marcação é feito no solo para mostrar onde o círculo secciona a Terra. Pode ser um barbante que forme um círculo, um leve círculo riscado com giz, ou objectos depositados de modo a indicar seus limites. Estes podem ser flores (ideais para ritos de primavera e verão); ramos de pinho (festivais de inverno); pedras ou conchas; cristais de quartzo e até mesmo cartas de tarô. Use objectos que activem sua imaginação e estejam em sintonia com o ritual.
O círculo tem normalmente nove pés de diâmetro, pois nove é o número da Deusa, se bem que qualquer medida confortável é aceita. Os pontos cardeais são em geral assinalados com velas ou com os instrumentos rituais a eles correspondentes.
O pentagrama e um pote com sal ou terra podem ser colocados no Norte. Este é o domínio da terra, o elemento estabilizador, fértil e nutritivo que é a base dos outros três.
DEUSA OS DOIS DEUS
Simbolização das áreas divinas de um altar.
O incensário com incenso fumegante é atribuído ao Leste, lar do elemento intelectual, o Ar. Flores frescas ou incenso de varetas também podem ser usados. O Ar é o elemento da mente, da comunicação, do movimento, da adivinhação e da espiritualidade ascética.
Ao Sul, uma vela normalmente representa o Fogo, o elemento da transformação, da paixão e da mudança, do sucesso, da saúde e da força. Uma lâmpada a óleo ou um pedaço de lava vulcânica também pode ser utilizado.
Um cálice ou pote de água pode ser depositado no Oeste do círculo para representar a Água, o último dos quatro elementos. A Água é o domínio das emoções, da mente psíquica, do amor, da cura, da beleza e da espiritualidade emocional.
Alternativamente, esses quatro objectos podem ser depositados sobre o altar, em posições correspondentes às direcções e aos seus atributos elementais.
Uma vez que o círculo esteja formado ao redor do espaço de trabalho, tem início o ritual. Durante os trabalhos de magia, o ar dentro do círculo pode ficar desconfortavelmente quente e fechado - o ar de fato fica diferente do mundo externo, carregado com a energia e vivo com o poder.
O círculo é um produto da energia, uma construção palpável, a qual pode ser sentida e percebida com experiência. Não é meramente um anel de flores ou barbante, mas uma barreira sólida, viável.
De acordo com a Wicca, o círculo representa a Deusa, os aspectos espirituais da natureza, fertilidade, infinidade, eternidade. Simboliza ainda a própria Terra.
O altar, com os instrumentos, fica no centro do círculo. Pode ser feito de qualquer material, apesar de a madeira ser melhor. Recomenda-se especialmente o carvalho, devido a seu poder e força, assim como o salgueiro, sagrado para a Deusa.
A Wicca não acredita que a Deusa e o Deus habitem o altar em si. É um local de poder e magia, mas não é sacrossanto. Apesar de o altar ser normalmente preparado e desmontado para cada ritual mágico, alguns Wiccanos também possuem altares permanentes. Seu altar pode tornar-se um desses.
O altar é por vezes redondo, para representar a Deusa e a espiritualidade, apesar de também poder ser quadrado, simbolizando os quatro elementos. Pode ser nada mais do que uma área no chão, uma caixa de papelão coberta com um pano, dois blocos com uma tábua sobre eles, uma mesa de café, um velho toco de uma árvore há muito cortada ou uma pedra grande e plana. Durante rituais a céu aberto, um fogo pode substituir o altar. Incenso em varetas pode ser utilizado para delinear o círculo. Os instrumentos usados são os poderes da mente.
Os instrumentos da Wicca são normalmente distribuídos sobre o altar num padrão agradável. Em geral, o altar é montado no centro do círculo, de frente para o Norte. O Norte é a direcção do poder. É associado à Terra, e uma vez que esta é nossa morada podemo-nos sentir mais confortáveis com este alinhamento. Alguns Wiccanos também montam seus altares voltados para o Leste, onde o Sol e a Lua surgem.
O lado esquerdo do altar é geralmente dedicado à Deusa. Seus instrumentos sagrados são ali depositados: o cálice, o pentagrama, o sino, os cristais e o caldeirão. Pode-se, ainda, colocar uma imagem da Deusa ali, e também apoiar uma vassoura no lado esquerdo do altar.
Se não conseguir encontrar uma imagem apropriada da Deusa (ou se simplesmente não o quiser), pode substituí-la por uma vela verde, prata ou branca. O caldeirão, por vezes, também é colocado no chão, ao lado do altar, se for grande demais para ficar em cima dele.
No lado direito, a ênfase é no Deus. Uma vela vermelha, amarela ou dourada, ou ainda uma figura apropriada é ali colocada, assim como o incensário, o bastão, o athame (punhal mágico) e o punhal de cabo branco.
Flores podem ser colocadas no meio, talvez num vaso ou num pequeno caldeirão. Outra possibilidade é colocar o incensário no centro, para que a fumaça seja oferecida tanto para a Deusa como para o Deus, e o pentagrama pode ser posicionado diante do incensário.
Símbolo ou vela da Deusa.
Os dois.
Símbolo ou vela do Deus.
Incensário.
Pote de Água.
Vela Vermelha.
Pote de Sal.
Taça.
Pentagrama.
Incenso.
Bastão.
Caldeirão (ou material para o encantamento).
Athame.
Sino.
Bolline.
Disposição sugerida para o Altar.
Alguns Wiccanos seguem um planejamento de altar mais primitivo, mais voltado para a natureza. Para representar a Deusa, uma pedra redonda (perfurada, se disponível), uma bonequinha de milho ou uma concha do mar funcionam a contento. Cones de pinho, pedras afiadas e bolotas de carvalho podem ser usados para representar o Deus. Use sua imaginação ao montar o altar.
Se estiver trabalhando magia dentro do círculo, leve todos os itens necessários para dentro dele antes de iniciar, no altar ou sob este. Nunca se esqueça de Ter fósforos à mão, bem como um pequeno recipiente no qual depositar os fósforos utilizados (não é adequado atirá-los no incensário ou no caldeirão).
Apesar de podermos colocar imagens da Deusa e do Deus, não somos idólatras. Não acreditamos que uma tal estátua ou pilha de pedras realmente seja a deidade representada. E, apesar de reverenciarmos a natureza, não cultuamos árvores ou pedras ou aves. Simplesmente nos deleitamos com as manifestações das forças criativas universais - a Deusa e o Deus.
O altar e o círculo mágico no qual ele fica é uma construção pessoal e deve ser de seu agrado. Meu primeiro mestre de Wicca preparava altares elaborados adequados à ocasião - se não pudéssemos praticar ao ar livre. Para um rito da Lua Cheia, ele cobriu o altar com cetim branco, colocou velas brancas em suportes de cristal, um cálice de prata, rosas brancas e folhagens brancas. Um incenso composto de rosas brancas, sândalo e gardênia flutuava pelo ar. O altar resplandecente inundava o ambiente com energias lunares.“Guia essencial da Bruxa Solitária”, de Scott Cunnigham.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A Espada Flamejante.


Netsah - Glaudius.
O setenário é o número sagrado em todas as teogonias e em todos os símbolos, porque é composto do ternário e do quaternário. O número sete representa o poder mágico em toda a sua força; é o espírito protegido por tidas as potências elementares; é a alma servida pela natureza; é o sanctum regnum de que falam as Clavículas de Salomão, e que é representado, no Tarô, por um guerreiro coroado, trazendo um triângulo na sua couraça, e de pé, em cima de um cubo, ao qual estão atreladas duas esfinges, uma branca e outra preta, que puxam em sentido contrário e voltam a cabeça, olhando uma à outra. Este guerreiro está armado com uma espada flamejante, e tem, na outra mão, um cetro rematado por um triângulo e uma bola.
O cubo é a pedra filosofal. As esfinges são as duas forças do grande agente, correspondentes a Jakin e Bohas, que são as duas colunas do templo; a couraça é a ciência das coisas divinas, que faz o sábio invulnerável aos golpes humanos; o cetro é a baqueta mágica; a espada flamejante é o sinal da vitória sobre os vícios, que são em número de sete, como as virtudes; as idéias dessas virtudes e desses vícios eram figuradas, pelos antigos, pelos símbolos dos sete planetas então conhecidos.
Assim, a fé, esta aspiração ao infinito, esta nobre confiança em si mesmo, sustentada pela crença em todas as virtudes, a fé, que, nas naturezas fracas, pode degenerar em orgulho, era representada pelo Sol; a esperança, inimiga da avareza, pela Lua; caridade, oposta à luxúria, por Vênus, a brilhante estrela da manhã e da tarde; a força, superior à cólera, por Marte; a prudência, oposta à preguiça, por Mercúrio; a temperança, oposta à gula, por Saturno, a quem se dá uma pedra para comer ao invés de seus filhos; e a justiça, enfim, oposta à inveja, por Júpiter, vencedor dos Titãs. Tais são os símbolos que a astrologia tira do culto helênico. Na Cabala dos Hebreus, o Sol representa o anjo de luz; a Lua, o anjo das aspirações e dos sonhos; Marte, o anjo exterminador; Vênus, o anjo dos amores; Mercúrio, o anjo civilizador; Júpiter, o anjo do poder; Saturno, o anjo das solidões. Chamam -nos também: Mikael, Gabriel, Samael, Anael, Rafael, Zacariel e Orifiel. Estas potências dominadoras das almas partilham a vida humana por períodos, que os astrólogos mediam sobre as revoluções dos planetas correspondentes.
Porém, não se deve confundir a astrologia cabalística com a astrologia judiciária. Explicaremos esta distinção. A infância é votada ao Sol, a adolescência à Lua, a juventude a Marte e Vênus, a virilidade a Mercúrio, a idade madura a Júpiter e a velhice a Saturno. Ora, a humanidade inteira vive sob leis de desenvolvimento análogas às da vida individual. É sobre esta base que Trithemo estabelece a sua clavícula profética dos sete espíritos de que falamos alhures, e por meio da qual se pode, seguindo as proporções analógicas dos acontecimentos sucessivos, predizer com certeza os grandes acontecimentos futuros, e fixar adiantadamente, de período em período, os destinos dos povos e do mundo.
São João, depositário da doutrina secreta do Cristo, consignou esta doutrina no livro cabalístico do Apocalipse, que ele representa fechado com sete selos. Acham - se aí os sete gênios das mitologias antigas, com as copas e espadas do Tarô. O dogma escondido sob estes emblemas é a pura Cabala, já perdida pelos fariseus, na época da volta do Salvador; os quadros que se sucedem nesta maravilhosa epopéia profética são tantos pantáculos que o ternário, o quaternário, o setenário e o duodenário são as chaves. As suas figuras hieroglíficas são análogas às do livro de Hermes ou da Gênese de Enoque, para nos servir de arriscado título que exprime somente a opinião pessoal do sábio Guilherme Postello.
O querubim ou touro simbólico que Moisés coloca à porta do mundo edênico, e que tem na mão uma espada flamejante, é uma esfinge, tendo um corpo de touro e uma cabeça humana; é a antiga esfinge assíria, de que o combate e a vitória de Mitra eram a análise hieroglífica. Esta esfinge armada representa a lei do mistério que vigia à porta da iniciação para desviar dela os profanos. Voltaire, que nada sabia de tudo isso, riu muito de ver um boi armado de espada. Que teria ele dito se tivesse visitado as ruínas de Mênfis e Tebas, e que teria a responder aos seus insignificantes sarcasmos, tão apreciados em França, este eco dos séculos, que dorme nos sepulcros de Psammético e Ramsés?
O querubim de Moisés representa também o grande mistério mágico, de que o setenário exprime todos os elementos, sem, todavia, dar a sua última palavra. Este verbum inenarrabile dos sábios da escola de Alexandria, esta palavra que os cabalistas hebreus escrevem Heh. Vav. Heh. Yod. traduzem por Aleph.Yod.Resh.Aleph. Resh.Aleph. , exprimindo, assim, a triplicidade do princípio secundário, o dualismo dos meios e a unidade tanto do primeiro princípio como do fim, depois também a aliança do ternário com o quaternário numa palavra composta de quatro letras, que formam sete, por meio de uma tríplice e uma dupla repetição; esta palavra se pronuncia Ararita.
A virtude do setenário é absoluta em magia, porque o número é decisivo em todas as coisas; por isso, as religiões o consagraram nos seus ritos. O sétimo ano, entre os Judeus, era jubilar; o sétimo dia é consagrado ao repouso e à prece, há sete sacramentos, etc.
As sete cores do prisma, as sete notas da música, correspondem também aos sete planetas dos antigos, isto é, às sete cordas da lira humana. O céu espiritual nunca mudou, e a astrologia ficou mais invariável que a astronomia. Os sete planetas, com efeito, não são mais do que símbolos hieroglíficos dos laços de nossas afeições. Fazer talismãs do Sol, da Lua ou de Saturno, é prender magneticamente a vontade a signos que correspondem aos principais poderes da alma; consagrar alguma coisa a Vênus ou a Mercúrio é magnetizar esta coisa numa intenção direta, quer de prazer, quer de ciência ou proveito. Os metais, animais, plantas ou perfumes análogos são, nisso, nossos auxiliares. Os animais mágicos são: entre os pássaros, correspondentes ao mundo divino, o cisne, a coruja, o gavião, a pomba, a cegonha, a águia e a poupa; entre os peixes, correspondentes ao mundo espiritual ou científico, a foca, o celerus, o lúcio, o timalo, o mugem, o delfim, e a siba; entre os quadrúpedes, correspondentes ao mundo natural, o leão, o gato, o lobo, o bode, o macaco, o veado e a toupeira. O sangue, a gordura, o fígado e o fel destes animais servem para os encantamentos; o seu cérebro se combina com os perfumes dos planetas, e é reconhecido, pela prática dos antigos, que possuem virtudes magnéticas correspondentes às sete influências planetárias.
Os talismãs dos sete espíritos se fazem, quer em pedras preciosas, tais como o carbúnculo, o cristal, o diamante, a esmeralda, a ágata, a safira e o ônix, quer nos metais, como o ouro, a prata, o ferro, o cobre, o mercúrio fixo, o estanho e o chumbo. Os símbolos cabalísticos dos sete espíritos são: para o Sol, uma serpente, com cabeça do leão; para a Lua, um globo ocupado por dois crescentes; para Marte, um dragão mordendo o cabo de uma espada; para Vênus, um lingam; para Mercúrio, o caduceu hermético e o cinocéfalo; para Júpiter, o pentagrama flamejante nas garras ou no bico de uma águia; para Saturno, um velho coxo uma serpente enlaçada ao redor da pedra helíaca. Todos estes signos se acham nas pedras gravadas dos antigos, e particularmente nos talismãs das épocas gnósticas, conhecidos sob o nome de Abraxas. Na coleção dos talismãs de Paracelso, Júpiter é representado por um padre com hábito eclesiástico, e no Tarô é figurado por um grande hierofante vestido com a tiara de três diamantes, tendo na mão a cruz de três braços, formando o triângulo mágico e representando, ao mesmo tempo, o cetro e a chave dos três mundos.
R esumindo tudo o que dissemos da união do ternário e do quaternário, teremos tudo o que nos restaria a dizer do setenário, esta grande e completa unidade mágica, composta de 4 e 3. Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Equilíbrio Mágico.


TIPHERETH - UNCUS.
A inteligência suprema é necessariamente razoável. Deus, em filosofia, pode não ser mais do que uma hipótese imposta pelo bom senso bom à razão humana. Personificar a razão absoluta é determinar o ideal divino.
Necessidade, liberdade e razão, eis o grande do e supremo triângulo dos cabalistas, que chamam a razão Kether , a necessidade Hocmah e a liberdade Binah , no seu primeiro ternário divino.
Fatalidade, vontade e poder, tal é o ternário mágico que, nas coisas humanas, corresponde ao triângulo divino.
A fatalidade é o encadeamento inevitável dos efeitos e causas numa ordem, dada.
A vontade é a faculdade diretora das forças inteligentes para conciliar a liberdade das pessoas com a necessidade das coisas.
O poder é o sábio emprego da vontade, que faz servir a própria fatalidade à realização dos desejos do sábio.
Quando Moisés fere a rocha, não cria a fonte de água; ele a revela ao povo, porque uma ciência oculta lha revelou a ele próprio por meio da baqueta adivinhatória.
O mesmo acontece com todos os milagres da magia: existe uma lei, o vulgo a ignora, o iniciado serve- se dela.
As leis ocultas são, muitas vezes, diametralmente opostas às leis comuns. Assim, por exemplo, o vulgo crê na simpatia dos semelhantes e na guerra dos contrários; é a lei oposta que é verdadeira.
Diziam outrora: a natureza tem horror ao vácuo; era preciso dizer: a natureza é amante do vácuo, se o vácuo não fosse, em física, a mais absurda das ficções.
O vulgo toma, habitualmente, em todas as coisas, a sombra pela realidade. Volta as costas à luz e se mira na obscuridade que projeta.
As forças da natureza estão à disposição daquele que lhes sabe resistir. Se sois tão senhor de vós mesmo para nunca ficar bêbado, disponde do terrível e fatal poder do embebedamento. Se quiserdes embebedar os outros, dai - lhes de beber à vontade, mas não bebais.
Dispõe do amor dos outros, quem é senhor do seu. Quereis possuir, não vos deis. O mundo está imantado da luz do sol, e estamos imantados da luz astral do mundo. O que se opera no corpo do planeta se repete em nós. Há, em nós, três mundos análogos e hierárquicos, como na natureza inteira.
O homem é o microcosmo ou pequeno mundo, e conforme o dogma das analogias, tudo o que está no grande mundo se reproduz no pequeno. Há, pois, em nós, três centros de atração e de projeção fluídica: o cérebro, o coração ou o epigastro e o órgão genital. Cada um destes órgãos é único e duplo, isto é: nele se encontra a idéia do ternário. Cada um destes órgãos atrai de um lado e repele do outro. É por meio desses aparelhos que nós nos pomos em comunicação com o fluido universal, transmitido em nós pelo sistema nervoso. São Também estes três centros que são a sede da tríplice operação magnética, como explicaremos alhures.
Quando o mago chegou à lucidez, quer por intermédio de uma pitonisa ou sonâmbula, quer por seus próprios esforços, comunica e dirige à vontade vibrações magnéticas em toda a massa da luz astral, cujas correntes adivinha com o auxílio da baqueta mágica, que é uma baqueta adivinhatória aperfeiçoada. Por meio destas vibrações, influi no sistema nervoso das pessoas submetidas à sua ação, precipita ou suspende as correntes da vida, acalma ou atormenta, cura ou faz adoecer, mata, enfim, ou ressuscita. Mas, aqui paramos, diante do sorriso da incredulidade. Deixemos - lhe o triunfo fácil de negar o que não sabe.
Demonstraremos, mais tarde, que a morte é sempre precedida de um sono letárgico e só opera por graus; que a ressurreição, em certos casos, é possível; que a letargia é uma morte real, mas não acabada, e que muitos mortos acabam de morrer depois do seu enterro. Mas não é disso que se trata neste capítulo. Dizemos, pois, que uma vontade lúcida pode agir sobre a massa da luz astral, e, com o concurso de outras vontades que absorve e arrasta, determinar grandes e irresistíveis correntes. Digamos também que a luz astral se condensa ou se rarifica, conforme as correntes a acumulam, mais ou menos, em certos centros. Quando falta energia suficiente para alimentar a vida, causa doenças de decomposição súbita, que fazem o desespero da medicina. O cólera -morbo, por exemplo, não tem outra causa, e as colunas de animálculos observados os supostos por certos sábios podem ser o efeito dele, antes que a causa. Era, pois, preciso tratar o cólera por insuflação, se, em tal tratamento, o operador não se expusesse a fazer com o paciente uma troca muito perigosa para o primeiro.
Todo esforço inteligente da vontade é uma projeção de fluido ou luz humana, e aqui importa distinguir a luz humana da luz astral, e o magnetismo animal do magnetismo universal.
Servindo - nos da palavra fluido, empregamos uma expressão generalizada e procuramos fazer- nos compreender por este meio; mas estamos longe de dizer que a luz latente seja um fluido. Tudo nos levaria, pelo contrário, a preferir, na explicação deste ente fenomenal, o sistema das vibrações. Seja como for, esta luz, sendo o instrumento da vida, se fixa naturalmente em todos os centros vivos. Ela se prende ao centro dos planetas como ao coração do homem (e por coração entendemos, em magia, o grande simpático), mas se identifica à vida própria do ser que anima, e é por esta propriedade de assimilação simpática que ela se divide sem confusão. Assim, ela é terrestre nas suas relações com o globo da terra e exclusivamente humana nas suas relações com os homens.
É por isso que eletricidade, o calórico, a luz e a imantação produzidas pelos meios físicos ordinários, não somente não produzem, mas, ao contrário, tendem a neutralizar os efeitos do magnetismo animal. A luz astral, subordinada a um mecanismo cego, e procedendo dos centros dados de autotelia, é uma luz morta, e opera matematicamente, conforme os impulsos dados ou conforme leis fatais; a luz humana, pelo contrário, só é fatal no ignorante que faz tentativas ao acaso; no vidente, ela é subordinada à inteligência, submetida à imaginação e dependente da vontade. É esta luz que, projetada sem cessar pela nossa vontade, forma o que Swedenborg chama as atmosferas pessoais. O corpo absorve o que o rodeia e irradia sem cessar, projetando seus miasmas e suas moléculas invisíveis; o mesmo acontece com o espírito, de modo que este fenômeno, chamado por alguns místicos o respiro , tem realmente a influência que lhe é atribuída, quer no físico, quer no moral. É realmente contagioso respirar o mesmo ar que os doentes, e achar- se no círculo de atração e expansão dos malvados.
Quando a atmosfera magnética de duas pessoas é de tal modo equilibrada que o atrativo de uma aspira a expansão da outra, produz - se uma atração que se chama a simpatia; então, a imaginação, evocando a ela todos os raios ou reflexos análogos ao que experimenta, se faz um poema de desejos que arrastam a vontade, e se as pessoas são de sexo diferente, produz - se nelas ou geralmente na mais fraca das duas um embebedamento completo de luz astral, que se chama a paixão propriamente dita ou amor.
O amor é um dos grandes instrumentos do poder mágico; mas é formalmente interdito ao mago, ao menos como embebedamento ou como paixão. Desgraçado do Sansão da Cabala, se deixar adormecer por Dalila! O Hércules da ciência, que muda o seu cetro real contra o fuso de Omphale, sentirá logo as vinganças de Dejanira, e só lhe restará a fogueira do monte Eta para escapar ao apertamento devorador da túnica de Nesso. O amor sexual é sempre uma ilusão, porque é o resultado de uma miragem imaginária. A luz astral é o sedutor universal, figurado pela serpente do Gênese. Este agente sutil, sempre ativo, sempre luxuriante de seiva, sempre florido de sonhos sedutores e inebriantes imagens; esta força cega por si mesma e subordinada a todas as vontades, quer para o bem, quer para o mal; este circulus sempre renascente de vida indômita que dá vertigem aos imprudentes; este corpo ígneo; este éter impalpável e presente em toda parte; esta imensa esta sedução da natureza, como defini - la inteiramente e como qualificar a sua ação? De algum modo indiferente por si mesma, ela serve para o bem como para o mal; ela leva a luz e propaga as trevas; pode - se chamá- la igualmente Lúcifer e Lucífugo: é uma serpente, mas pode pertencer aos tormentos do inferno como às oferendas de incenso prometidas ao céu. Para apoderar- se dela, é preciso, como a mulher predestinada, pôr o pé sobre sua cabeça.
O que corresponde à mulher de cabalística, no mundo elementar, é a água, e o que corresponde à serpente é o fogo. Para dominar a serpente, isto é, para dominar o círculo da luz astral, é preciso chegar a pôr- se fora das suas correntes, isto é, isolar- se. É por isso que Apolônio de Thyana se envolvia inteiramente num manto de lã fina, no qual punha os pés, e cuja ponta punha em cima da cabeça; depois, arcava em semicírculo a sua coluna vertebral e fechava os olhos, após ter realizado certos ritos de deviam ser passes magnéticos e palavras sacramentais, tem por fim fixar a imaginação e determinar a ação da vontade. O manto de lã é de grande uso em magia, e é o veículo ordinário dos feiticeiros que vão ao sabbat , o que prova que os feiticeiros não iam realmente ao sabbat, mas sim que o sabbat vinha achar os feiticeiros isolados nos seus mantos e trazia ao seu translúcido as imagens análogas às suas preocupações mágicas, misturadas com os reflexos de todos os atos do mesmo gênero que se tinham realizado antes deles no mundo.
Esta corrente da vida universal é também figurada, nos dogmas religiosos, pelo fogo expiatório do inferno. É o instrumento da iniciação, é o monstro a dominar, é o inimigo a vencer; é ela que envia às nossas evocações e conjurações da goecia tantas larvas e fantasmas; é nela que se conservam todas as formas cujo conjunto fantástico e fortuito povoa nossos pesadelos de tão abomináveis monstros. Deixar- se arrastar para baixo por este rio que dá viravoltas é cair nos abismos da loucura, mais terríveis que os da morte: afastar as sombras deste caos e fazer- lhe dar formas perfeitas aos nossos pensamentos é ser homem de gênio, é criar, é ter triunfado do inferno!
A luz astral dirige os instintos animais e dá combate à inteligência do homem, que tende a perverter pelo luxo de seus reflexos e a mentira das suas imagens; ação fatal e necessária, que os espíritos elementares e as almas sofredoras dirigem e tornam mais funestas ainda, com suas vontades inquietas, que procuram simpatias nas nossas fraquezas e nos tentam, menos para nos perder do que para adquirir amigos.
Esse livro das consciências que, conforme p dogma cristão, deve ser manifestado no último dia, não é outro senão a luz astral, na qual se conservam as impressões de todos os verbos, isto é, de todas as ações e de todas as formas. Os nossos atos modificam o nosso respiro magnético, de modo que um vidente pode dizer, aproximando - se de uma pessoa pela primeira vez, se esta pessoa é inocente ou culpada, e quais suas virtudes e seus crimes. Esta faculdade, que pertence à adivinhação, era chamada, pelos místicos cristãos da Igreja primitiva, o discernimento dos espíritos.
As pessoas que renunciam ao império da razão e gostam de desviar sua vontade em perseguição dos reflexos da luz astral, estão sujeitas a alternativas de furor e tristeza que fizeram imaginar todas as maravilhas da possessão do demônio; é verdade que, por meio destes reflexos, os espíritos impuros podem agir sobre tais almas, fazer delas instrumentos dóceis e mesmo habituar - se a atormentar o seu organismo, no qual vêm residir por obsessão ou embrionato . Estas palavras cabalísticas são explicadas no livro hebreu da Revolução das Almas, de que nosso décimo terceiro capítulo conterá a análise detalhada.
É , pois, extremamente perigoso divertir - se com os mistérios da magia; é, principalmente, temerário praticar seus ritos por curiosidade, por ensaio e como que para tentar as forças superiores. Os curiosos que, sem serem adeptos, se preocupam de evocações ou magnetismo oculto, parecem crianças que brincam com fogo perto de um barril de pólvora fulminante; serão, mais cedo ou mais tarde, vítimas de alguma terrível explosão.
Para isolar- se da luz astral, não basta rodear- se de pano de lã; é preciso ainda, e principalmente, ter imposto uma quietação absoluta ao seu espírito e ao seu coração, ter saído do domínio das paixões e estar seguro na perseverança dos atos espontâneos de uma vontade inflexível. É preciso também reiterar muitas vezes os atos desta vontade, como veremos na nossa introdução Ritual , a vontade fica certa de si mesma só por atos, como as religiões só têm império e duração pelas suas cerimônias e seus ritos.
Existem substâncias inebriantes que, exaltando a sensibilidade nervosa, aumentam o poder e por das representações e, por conseguinte, das seduções astrais; pelos mesmos meios, mas seguindo uma direção contrária, pode - se amedrontar e perturbar os espíritos. Estas substâncias, magnéticas por si mesmas e magnetizadas ainda pelos práticos, são o que se chamam filtros ou beberagens encantadas. Mas não trataremos desta perigosa aplicação da magia envenenadora. Não existem mais, é verdade, fogueiras para os feiticeiros, mas há sempre, e mais do que nunca, castigos para os malfeitores. Limitemo -nos, pois, a constatar, na ocasião, a realidade deste poder.
Para dispor da luz astral é preciso também compreender a sua dupla vibração e conhecer a balança das forças, que se chama o equilíbrio mágico, e que, em Cabala, se exprime pelo senário.
Este equilíbrio, considerado na sua causa primeira, é a vontade de Deus; no homem, é a liberdade, na matéria, é o equilíbrio matemático.
O equilíbrio produz a estabilidade e a duração.
A liberdade produz a imortalidade do homem, e a vontade de Deus põe em ação as leis da razão eterna.
O equilíbrio é rigoroso. Se for observada a lei, ele existe; se for violada, por mais levemente que seja, ele não existe mais.
É por isso que nada é inútil ou perdido. Toda palavra e todo movimento são pró ou contra o equilíbrio, pró ou contra a verdade; porque o equilíbrio representa a verdade, que se compõe de pró e do contra conciliados, ou, ao menos, mutuamente equilibrados.
Dizemos, na introdução do Ritual , como o equilíbrio mágico deve ser produzido, e por que ele é necessário para o sucesso em todas as operações.
A onipotência é a liberdade mais absoluta. Ora, a liberdade absoluta não poderia existir sem um equilíbrio perfeito. O equilíbrio mágico é, pois, uma das condições primárias do sucesso nas operações da ciência, e deve - se procurá - lo até na química oculta, aprendendo a combinar os contrários sem os neutralizar um por outro.
É pelo equilíbrio que se explica o grande e antigo mistério da existência e da necessidade relativa do mal.
Esta necessidade relativa dá, em magia negra, a medida do poder dos demônios ou espíritos impuros, aos quais as virtudes que são praticadas na terra dão mais furor, e, em aparência, até mais força.
Nas épocas em que os santos e anjos fazem abertamente milagres, os feiticeiros e diabos fazem, por sua vez, maravilhas e prodígios.
É a rivalidade que, muitas vezes, faz o sucesso; sempre se acha apoio no que resiste.Eliphas Levi - Ritual e Dogma da Alta Magia.

domingo, 20 de junho de 2010

O Pentagrama.


GEBURAH - Ecce
Até agora expusemos o dogma mágico no que tem de mais árido e mais abstrato; aqui começam os encantamentos; aqui podemos anunciar os prodígios e revelar as coisas ocultas.
O pentagrama exprime a dominação do Espírito sobre os elementos, e é por este signo que encadeamos os Silfos do ar, as salamandras do fogo, as Ondinas da água e os Gnomos da terra.
Armado deste signo e convenientemente disposto, podeis ver o infinito através daquela faculdade que é como que o olho de vossa alma, e vós vos fareis servir por legiões de anjos e colunas de demônios.
E , primeiramente, estabeleçamos princípios:
Não há mundo invisível, há somente vários graus de perfeição nos órgãos.
O corpo é a representação grosseira e como que a casca passageira da alma.
A alma pode perceber de si mesma e sem intermédio dos órgãos corporais, por meio da sua sensibilidade e do seu diáfano , as coisas quer espirituais, quer corporais, que existem no universo.
Espiritual e corporal são palavras que somente exprimem os graus de tenuidade ou densidade da substância.
O que se chama, em nós, imaginação, não é mais que propriedade inerente à nossa alma de se assimilar as imagens e os reflexos contidos na luz viva, que é o grande agente magnético.
Estas imagens e estes reflexos são revelações, quando a ciência intervém para nos revelar o seu corpo ou a sua luz. O homem de gênio difere do sonhador e do louco somente nisto: as suas criações são análogas à verdade, ao passo que a dos sonhadores e loucos são reflexos perdidos e imagens desviadas.
Assim, para o sábio, imaginar é ver, como, para o mago, falar é criar.
Podem - se, pois, ver realmente e em verdade os demônios, as almas, etc., por meio da imaginação; mas a imaginação do adepto é diáfana, ao passo que a do vulgo é opaca; a luz de verdade atravessa uma como por janela esplêndida, e se refrata na outra como uma massa vítrea cheia de escórias e corpos estranhos.
O que contribui mais para os erros do vulgo e as extravagâncias da loucura são os reflexos das imaginações depravadas umas nas outras.
Mas o vidente sabe, com certeza, que as coisas imaginadas por ele são verdadeiras, e a experiência sempre confirma as suas visões.
Dizemos, no Ritual , por que processo se adquire esta lucidez.
É por meio desta luz que os visionários extáticos se põem em comunicação com todos os mundos, como isso acontecia tão freqüentemente a Emanuel Swedenborg, que, não obstante, não era perfeitamente lúcido, pois que não discernia os reflexos dos raios e misturava, às vezes, ilusões aos seus mais admiráveis sonhos.
Dizemos sonhos, porque o sonho é o resultado de um êxtase natural e periódico que se chama sono. Estar em êxtase é dormir; o sonambulismo magnético é uma reprodução do êxtase.
Os erros do sonambulismo são ocasionados pelos reflexos do diáfano das pessoas acordadas, e principalmente do magnetizador.
O sonho é a visão produzida pela refração de um raio de verdade; a ilusão é a alucinação ocasionada por uma reflexão.
A tentação de Santo Antonio, com seus pesadelos e monstros, representa a confusão dos reflexos com os raios diretos. Enquanto a alma luta, ela é razoável; quando sucumbe a esta espécie de embebedamento invasor, é louca.
Distinguir o raio direto e o separar do reflexo, tal é a obra do iniciado.
Agora, digamos alto que esta obra sempre foi realizada por alguns homens de “elite ”no mundo; que a revelação por intuição é, assim, permanente, e que não há barreira intransponível que separe as almas, porque na natureza não há nem interrupções repentinas nem muralhas abruptas que possam separar os espíritos. Tudo é transição e matizes e, se supusermos a perfectibilidade, se não infinita, ao menos indefinida das faculdades humanas, veremos que todo homem pode chegar a tudo ver, e, por conseguinte, a tudo saber, ao menos num círculo que pode alargar indefinidamente.
Não há vácuo na natureza, tudo é povoado. Não há morte real na natureza, tudo está vivo.
"Vedes esta estrela?" - dizia Napoleão ao cardeal Fresch. - " Não, Senhor" - " Pois bem, eu a vejo! ”E, certamente, ele a via.
É por isso que acusam os grandes homens de terem sido supersticiosos: é que eles viram o que o vulgo não vê.
Os homens de gênio diferem dos simples videntes pela faculdade que possuem de fazer sentir aos outros homens o que vêem e de se fazer crer por entusiasmo e simpatia.
São os médiuns do Verbo divino.
Digamos, agora, como se opera a visão. Todas as formas correspondem a idéias, e não há idéia que não tenha sua forma própria e particular.
A luz primordial, veículo de todas as idéias, é a mãe de todas as formas, e transmite- as de emanação em emanação, apenas diminuídas ou alteradas por causa da densidade dos meios.
As formas secundárias são reflexos que voltam ao foco da luz emanada.
As formas dos objetos, sendo uma modificação da luz, ficam na luz onde o reflexo as envia. Por isso, a luz astral ou o fluido terrestre, que chamamos o grande agente mágico, está saturado de imagens ou reflexos de toda espécie os quais a nossa alma pode evocar e submeter ao seu diáfano , como falam os cabalistas. Estas imagens sempre nos estão presentes e somente se acham apagadas pelas impressões mais fortes da realidade durante a vigília, ou pelas preocupações do nosso pensamento, que deixa a nossa imaginação desatenta ao panorama móvel da luz astral. Quando dormimos, este espetáculo se apresenta por si mesmo a nós, e é assim que se produzem os sonhos: sonhos incoerentes e vagos, se alguma vontade dominante não fica ativa no sono e não dá, mesmo contra a vontade da nossa inteligência, uma direção ao sonho, que, então, se transforma em visão.
O magnetismo animal não é nada mais do que um sono artificial produzido pela união, quer voluntária, quer forçada, de duas almas, uma das quais está acordada, enquanto a outra dorme, isto é, uma das quais dirige a outra na escolha dos reflexos para mudar os sonhos em visões e saber a verdade por meio das imagens. Assim, as sonâmbulas não vão realmente aos lugares aonde o magnetizador as manda; elas evocam as suas imagens na luz astral, e nada podem ver do que não existe nesta luz.
A luz astral tem uma ação direta sobre os nervos, que são os condutores, na economia animal, e que a levam ao cérebro; por isso, no estado de sonambulismo, pode - se ver pelos nervos, e sem mesmo ter necessidade da luz irradiante, o fluido astral sendo uma luz latente, como a física reconheceu que existe um calórico latente.
O magnetismo entre dois é, sem dúvida, uma descoberta maravilhosa; mas o magnetismo de um só, dirigindo - se a si mesmo, ficando lúcido à vontade, é a perfeição da arte mágica; e o segredo desta grande obra não está para ser achado: foi conhecido e praticado por um grande número de iniciados, e principalmente pelo célebre Apolônio de Thyana, que deixou dele uma teoria, como veremos no nosso Ritual .
O segredo da lucidez magnética e da direção dos fenômenos do magnetismo provém de duas coisas: da harmonia das inteligências e da união perfeita das vontades numa direção possível e determinada pela ciência; isto é, para o magnetismo operado entre diversos. O magnetismo solitário exige preparações de que falamos no nosso primeiro capítulo, quando enumeramos e fizemos ver, em toda a sua dificuldade, as qualidades exigidas para ser um verdadeiro adepto.
Esclareceremos cada vez mais este ponto importante e fundamental nos capítulos que vão seguir.
Este império da vontade sobre a luz astral, que é a alma física dos quatro elementos, é figurado em magia, pelo pentagrama, cuja figura colocamos no frontispício deste capítulo.
Assim, os espíritos elementais são submissos a este signo, quando é empregado com inteligência, e pode - se, colocando - o no círculo ou na mesa das evocações, fazê - los dóceis, o que, em magia se chama prendê - los.
Expliquemos, em poucas palavras, esta maravilha. Todos os espíritos criados comunicam entre si por sinais e aderem a um certo número de verdades expressas por certas formas determinadas.
A perfeição das formas aumenta em razão do desembaraço dos espíritos, e os que não estão presos pelas cadeias da matéria reconhecem, à primeira intuição, se um signo é a expressão de um poder real ou de uma vontade temerária.
A inteligência do sábio dá, pois, valor ao seu pantáculo, como a sua ciência dá peso à sua vontade, e os espíritos compreendem imediatamente este poder.
Assim, com o pentagrama, pode - se forçar os espíritos a aparecerem em sonho, quer durante a vigília, quer durante o sono, trazendo eles mesmos, diante do nosso diáfano, o seu reflexo, que existe na luz astral, se viveram, ou um reflexo análogo ao seu verbo espiritual, se não viveram na terra . Isto explica todas as visões e demonstra, principalmente, por que os mortos aparecem sempre aos videntes, quer como eram na terra, quer como estão ainda no túmulo, nunca como estão numa existência que escapa às percepções do nosso organismo atual.
As mulheres grávidas estão, mais que os outros, sob a influência da luz astral, que concorre para a formação dos seus filhos, e que lhes apresenta, sem cessar, as reminiscências de formas de que está cheia. É assim que as mulheres muito virtuosas enganam por semelhanças equívocas a malignidade dos observadores. Elas imprimem, muitas vezes, ao fruto do seu casamento uma imagem que as comoveu em sonho, e é assim que as mesmas fisionomias se perpetuam, de século em século.
O uso cabalístico do pentagrama pode, pois, determinar a figura dos filhos a nascer, e uma mulher iniciada pode dar a seu filho as feições de Nereu ou de Aquiles, como as de Luiz XIV ou de Napoleão. Nós indicamos no nosso Ritual o modo de o fazer.
O pentagrama é o que se chama, em Cabala, o signo do microcosmo, o signo cujo poder Goethe exalta no belo monólogo do Fausto:
"Ah! como a esta vista todos meus sentidos estremeceram! Sinto a juvenil e santa volúpia da vida ferver nos meus nervos e nas minhas veias. Será um Deus aquele que traçou este signo que acalma a vertigem de minh ’alma, enche de alegria meu pobre coração, e, numa impulsão misteriosa, desvenda ao redor de mim as forças da natureza? Sou um Deus? Tudo se torna tão claro para mim; vejo, nestes simples traços, a natureza ativa se revelar à minh ’alma. Agora, pela primeira vez, reconheço a verdade desta palavra do sábio: - O mundo dos espíritos não está fechado! Teu sentido está obtuso, teu coração está morto. Levanta -te! Banha, ó adepto da ciência, o teu peito, ainda envolto de um véu terrestre, nos esplendores do dia nascente!" - (Fausto, 1 parte, cena 1).
Foi em 24 de Julho de 1854 que o autor deste livro, Eliphas Levi, fez em Londres a experiência da evocação pelo pentagrama, depois de se ter preparado, para isso, por todas as cerimônias que estão marcadas no Ritual . O sucesso desta experiência, cujas razões e detalhes damos no 13 º capítulo do Dogma e as Cerimônias no 13 º capítulo do Ritual , estabelecem um novo fato patológico que os homens de verdadeira ciência admitirão sem dificuldade. A experiência, reiterada até três vezes, deu resultados verdadeiramente extraordinários, mas positivos e sem mistura alguma de alucinação. Convidamos os incrédulos a fazerem um ensaio consciencioso e razoável, antes de levantar os ombros e sorrir.
A figura do Pentagrama, aperfeiçoada conforme a ciência e que serviu ao autor para esta prova, é a que está no começo deste capítulo e que não se acha tão completa nem nas clavículas de Salomão, nem nos calendários mágicos de Tycho - Brahé e Duchenteau.
Observemos somente que o uso do pentagrama é muito perigoso para os operadores que não tem completa e perfeita inteligência dele. A direção das pontas da estrela não é arbitrária, e pode mudar o caráter de toda operação, como explicaremos no Ritual .
Paracelso, este inovador em magia, que sobrepujou todos os outros iniciados pelos sucessos de realização obtidos por ele só, afirma que todas as figuras mágicas e todos os signos cabalísticos dos pantáculos aos quais os espíritos obedecem, se reduzem a dois, que são a síntese de todos os outros; o signo do macrocosmo ou do selo de Salomão, cuja figura já demos e reproduzimos na página seguinte, e o do microcosmo, ainda mais poderoso que o primeiro, isto é, o pentagrama, do qual dá, na sua filosofia oculta, uma minuciosa descrição.
Se perguntarem como um signo pode ter tanto poder sobre os espíritos elementais, perguntaremos, por nossa vez: por que o mundo cristão se prosternou diante do sinal da cruz? O sinal por si mesmo nada é, e só tem força pelo dogma de que é resumo e verbo. Ora, um signo que resume, exprimindo -as, todas as forças ocultas da natureza, um signo que sempre manifestou aos espíritos elementares e outros um poder superior à sua natureza, naturalmente os enche de respeito e temor e os força a obedecer, pelo império da ciência e da vontade sobre a ignorância e a fraqueza.
O Sêlo de Salomão.
É também pelo pentagrama que se medem as proporções exatas do grande e único athanor necessário à confecção da pedra filosofal e à realização da grande obra. O alambique mais perfeito que possa elaborar a quintessência é conforme esta figura, e a própria quintessência é figurada pelo signo do pentagrama.Eliphas Levi - Ritual e Dogma da Alta Magia.

sábado, 19 de junho de 2010

O Tetragrama .


GEBURAH CHESED - PORTA LIBRORUM - ELEMENTA.
H á, na natureza, duas forças que produzem um equilíbrio, e os três são simplesmente uma única lei. Eis o ternário resumindo - se na unidade, e, ajuntando a idéia à unidade à do ternário, chega - se ao quaternário, primeiro número quadrado e perfeito, fonte de todas as combinações numéricas e princípio de todas as formas.
Afirmação, negação, discussão, solução, tais são as quatro operações filosóficas do espírito humano. A discussão concilia a negação com a afirmação, fazendo -as necessárias uma à outra. É assim que o ternário filosófico, produzindo - se do binário antagônico se completa pelo quaternário, base quadrada de toda verdade. Em Deus, conforme o dogma consagrado, há três pessoas, e estas três pessoas são um só Deus. Três e um, dão a idéia de quatro, porque a unidade é necessária para explicar os três.
Por isso, em quase todas as línguas, o nome de Deus é de quatro letras, e, em hebreu, estas quatro letras fazem três, porque há uma delas que se repete duas vezes: a que exprime o Verbo e a criação do Verbo.
Duas afirmações tornam possíveis ou necessárias duas negações correspondentes. O ente é significado, o nada não o é. A afirmação, como Verbo, e cada uma destas afirmações corresponde à negação do seu contrário.
É assim que, conforme o dizer dos cabalistas, o nome do demônio ou do mal se compõe das letras invertidas do próprio nome de Deus ou do bem.
Este mal é o reflexo perdido ou a miragem imperfeita da luz na sombra.
Mas tudo o que existe, quer em bem, quer em mal, quer na luz, quer na sombra, existe e se revela pelo quaternário.
A afirmação da unidade supõe o número quatro, se esta afirmação volta à unidade como num círculo vicioso. Por isso, o ternário, como já observamos, se explica pelo binário e se resolve pelo quaternário, que é a unidade quadrada dos números pares e a base quadrangular do cubo, unidade de construção, de solidez e de medida.
O tetragrama cabalístico: Jodhéva, exprime Deus na humanidade e a humanidade em Deus. Os quatro pontos cardeais astronômicos são, relativamente a nós, o sim e o não da luz: o oriente e o ocidente, e o sim e o não do calor: o sul e o norte.
O que está na natureza visível revela, como já o sabemos, conforme o dogma único da Cabala, o que está no domínio da natureza invisível, ou das causas segundas, todas proporcionais e análogas às manifestações da causa primeira.
Por isso, esta causa primeira sempre se revelou pela cruz: a cruz, esta unidade composta de dois, que se dividem um ao outro, para formar quatro; a cruz, esta chave dos mistérios da Índia e do Egito, o Tau dos patriarcas, o signo divino de Osíris, o Stauros dos gnósticos, a chave de arco do templo, o símbolo da maçonaria oculta; a cruz, este ponto central da junção dos ângulos retos de dois triângulos infinitos; a cruz que, na língua nacional, parece ser a raiz primitiva e o substantivo fundamental do verbo crer e do verbo crescer, reunindo, assim, as idéias de ciência, religião e progresso.
O grande agente mágico se revela por quatro espécies de fenômenos, e foi classificado, pelas experiências das ciências profanas sob quatro nomes: calórico, luz, eletricidade, magnetismo.
Deram - lhe também os nomes de tetragrama, inri, azoth, éter, od, fluido magnético, alma da terra, serpente, lúcifer, etc.
O grande agente mágico é a quarta emanação da vida -princípio de que o sol é a terceira forma (ver os iniciados da escola de Alexandria e o dogma de Hermes Trismegisto).
De modo que o olho do mundo (como o chamavam os antigos) é a miragem do reflexo de Deus e a alma da terra é um olhar permanente do sol que a terra recebe e guarda por impregnação.
A lua concorre para esta impregnação da terra, repelindo para ela uma imagem solar durante a noite, de sorte que Hermes teve razão de dizer, falando do grande agente: “O sol é seu pai, a lua é sua mãe ”. Depois, acrescenta: "O vento o trouxe no seu ventre, porque a atmosfera é o recipiente e como que o cadinho dos raios solares, por meio dos quais se forma esta imagem viva do sol que penetra a terra inteira, vivifica -a, fecunda- a e determina tudo o que se produz na sua superfície, por seus eflúvios e suas correntes contínuas, análogas às do próprio sol ”.
Este agente solar é vivente por duas forças contrárias: uma força de atração e uma forma de projeção, o que faz Hermes dizer que ele sempre sobe e desce.
A força de atração se fixa sempre no centro dos corpos, e a forma de projeção nos seus contornos ou na sua superfície.
É por esta dupla força que tudo é criado e tudo subsiste.
Seu movimento é um enrolamento e um desenrolamento sucessivos e indefinidos, ou antes simultâneos e perpétuos, por espirais de movimentos contrários que nunca se encontram.
É o mesmo movimento que o sol, que atrai e repele, ao mesmo tempo, todos os astros do seu sistema.
Conhecer o movimento deste sol terrestre, de modo a poder aproveitar das suas correntes e dirigi - las, é ter realizado a grande obra, e é ser senhor do mundo.
Armado de uma tal força, podeis vos fazer adorar e o vulgo vos julgará Deus.
O segredo absoluto desta direção foi possuído por alguns homens, e pode ainda ser achado. É o grande arcano mágico; depende de um axioma incomunicável e de um instrumento que é o grande e único athanor dos hermetistas do mais alto grau.
O axioma incomunicável está contido cabalisticamente nas quatro letras do tetragrama, dispostas do modo como está representado na página seguinte, nas letras das palavras Azoth e Inri , escritas cabalisticamente, e no monograma do Cristo, tal como estava bordado no lábaro, e que o cabalista Postello interpreta pela palavra Rota , da qual os adeptos formaram o seu Tarô ou Tarot, repetindo duas vezes a primeira letra, para indicar o círculo e fazer compreender que a palavra está invertida.
Toda a ciência mágica consiste no conhecimento deste segredo. Conhecê- lo e ousar servir- se dele é a onipotência humana; mas revelá - lo a um profano é perdê- lo; revelá- lo até a um discípulo é abdicar em favor desse discípulo, que, a partir desse momento, tem direito de vida e morte sobre o seu iniciador (fá - lo no ponto de vista mágico), e o matará certamente, temendo a si próprio a morte. (Isto nada tem de comum com os atos qualificados de assassinato em legislação criminal, desde que a filosofia prática, que serve de base e ponto de partida às nossas leis não admite os fatos de enfeitiçamento e influências ocultas).
Os quatro nomes cabalísticos.
Nós entramos, aqui, em revelações estranhas, e nos preparamos para todas as incredulidades e todos os desprezos do fanatismo incrédulo; porque a religião de voltariana tem também seus fanáticos, muito embora contra a vontade das grandes sombras que devem amuar- se, agora, de um modo lastimoso, nas carneiras do Pantheon, enquanto catolicismo, sempre forte com suas práticas e seu prestígio, canta o ofício sobre suas cabeças.
A palavra perfeita, aquela que é adequada ao pensamento que exprime, contém sempre virtualmente ou supõe um quaternário: a idéia e suas três formas necessárias e correlativas, depois também a imagem da coisa expressa com os três termos do juízo que a qualifica. Quando digo: “O ente existe", afirmo implicitamente que o nada não existe.
Uma altura, uma largura que a altura divide geometricamente em dois, e uma profundidade separada da altura pela intersecção da largura, eis o quaternário natural composto de duas linhas que se cruzam. Há também, na natureza, quatro movimentos produzidos por duas forças que se sustêm uma à outra por sua tendência contrária. Ora, a lei que rege os corpos é análoga e proporcional àquela que governa os espíritos, e a que governa os espíritos é a própria manifestação do segredo de Deus, isto é, do mistério da criação. Suponde um relógio de duas molas paralelas, com uma endentação que as faça mover em sentido contrário, de modo que, uma afrouxando - se, aperte a outra: assim, o relógio se dará corda por si mesmo, e tereis achado o movimento perpétuo. Esta endentação deve ser para dois fins e de grande precisão. Será impossível de se achar? Não o cremos. Mas quando um homem a tiver descoberto, este homem poderá compreender, por analogia, todos os segredos da natureza: o progresso em razão direta da resistência .
O movimento absoluto da vida é, assim, o resultado perpétuo de duas tendências contrárias que nunca são opostas. Quando uma das duas parece ceder à outra, é uma mola que recebe corda, e podeis esperar uma reação de que é muito possível prever o momento e determinar o caráter; é assim que, na época do maio fervor do cristianismo, o reino do Anticristo foi conhecido e predito. Mas o Anticristo preparará e determinará a nova vinda e o triunfo definitivo do Homem -Deus. Ainda isto é uma conclusão rigorosa e cabalística contida nas premissas evangélicas.
Assim, a profecia cristã contém uma quádrupla revelação:
1 ª - a queda do mundo antigo e o triunfo do Evangelho sob a primeira vinda;
2ª - grande apostasia e vinda de Anticristo;
3 ª - queda do Anticristo e volta às idéias cristãs;
4ª - triunfo definitivo do Evangelho ou segunda vinda, designada sob o nome de juízo final.
Esta quádrupla profecia contém, como se pode ver, duas afirmações e duas negações, a idéia de duas ruínas ou mortes universais e de dois renascimentos; porque a toda idéia que aparece no horizonte social se pode assinar, sem temor de erro, um oriente e um ocidente, um zênite e um nadir . É assim que a cruz filosófica é a chave da profecia, e que se podem abrir todas as portas de ciência com o pantáculo de Ezequiel, cujo centro é uma estrela formada pelo cruzamento de duas cruzes.
A vida humana também não é formada destas quatro fases ou transformações sucessivas: nascimento, vida, morte, imortalidade? E notai que a imortalidade da alma, necessitada como complemento do quaternário, é cabalisticamente provada pela analogia, que é o dogma único da religião verdadeiramente universal, como é a chave da ciência e a lei inviolável da natureza.
A morte, com efeito, não pode ser um fim absoluto, do mesmo modo que o nascimento não é um começo real. O nascimento prova a preexistência do ente humano, pois que nada se produz do nada, e a morte prova a imortalidade, porque o ente não pode cessar de existir, do mesmo modo que o nada não pode cessar de não existir. Ente e nada são duas idéias absolutamente inconciliáveis, com esta diferença: que a idéia do nada (idéia inteiramente negativa) sai da própria idéia do ente, de que o nada nem mesmo pode ser compreendido como uma negação absoluta, ao passo que a idéia do ente nem mesmo pode ser aproximada do nada, e ainda menos sair dele.
Dizer que o mundo saiu do nada é proferir um monstruoso absurdo. Tudo o que existe procede do que existia; por conseguinte, tudo que existe nunca poderá não existir mais. A sucessão das formas é produzida pelas alternativas do movimento: são fenômenos da vida que se substituem uns aos outros, sem de destruírem. Tudo muda, porém nada perece. O sol não está morto quando desaparece no horizonte; até as formas mais móveis são imortais e sempre substituem na permanência da sua razão de ser, que é a combinação da luz com os poderes agregativos das moléculas da substância prima. Por isso, elas se conservam no fluido astral, e podem ser evocadas e reproduzidas conforme a vontade do sábio, como o veremos ao tratar da Segunda vista e da evocação das lembranças na necromancia e noutras operações mágicas.
Voltaremos a tratar do grande agente mágico no quarto capítulo do Ritual , onde acabaremos de indicar os caracteres do grande arcano e os meios de prender este formidável poder.
Digamos, aqui, duas palavras dos quatro elementos mágicos e dos espíritos elementares.
Os elementos mágicos são: em alquimia, o sal, o mercúrio, o enxofre, e o azoth; em Cabala, o macrocosmo, o microcosmo e as duas mães; em hieróglifos, o homem, o águia, o leão e o touro; em física antiga, conforme os termos e as idéias vulgares, o ar, a água, a terra e o fogo.
Em magia, sabe - se que a água não é a água ordinária; que o fogo não é simplesmente fogo, etc. Estas expressões ocultam um sentido mais elevado. A ciência moderna decompôs os quatro elementos dos antigos e encontrou neles muitos corpos considerados simples. O que é simples é a substância prima e propriamente dita; só há, pois, um elemento material e este elemento se manifesta sempre pelo quaternário, nas suas formas. Conservaremos, pois, a sábia distinção das aparências elementares, admitida pelos antigos, e reconheceremos o ar, o fogo, a terra e a água pelos quatro elementos positivos e visíveis da magia.
O sutil e o espesso, o dissolvente rápido e o dissolvente lento, ou os instrumentos do calor e do frio, formam, em física oculta, os dois princípios positivos e os dois princípios negativos do quaternário, e devem ser figurados assim:
O ar e a terra representam, assim, o princípio masculino, o fogo e a água se referem ao princípio feminino, pois que a cruz filosófica dos pantáculos é, como já dissemos, um hieróglifo primitivo e elementar do lingham dos ginosofistas.
A estas quatro formas elementares correspondem as quatro idéias filosóficas seguintes:

O Espírito
A Matéria
O Movimento
O Repouso

A ciência inteira, com efeito, está na inteligência destas quatro coisas, que a alquimia reduzia a três:

O Absoluto
O Fixo
O Volátil

e que a Cabala refere à própria idéia de Deus, que é razão absoluta, necessidade e liberdade, tríplice noção expressa nos livros ocultos dos Hebreus.

Sob os nomes de Kether, Hocmah e Binah para o mundo divino, de Tiphereth, Hesed e Geburah no mundo moral, e, enfim, de Yesod, Hod e Netsah no mundo físico, que, com o mundo moral, está contido na idéia do reino ou Malkuth , explicaremos, no décimo capítulo deste livro, esta teogonia, tão racional quanto sublime.

Ora, os espíritos criados, sendo chamados à emancipação pela prova, são colocados, desde o seu nascimento, entre estas quatro forças, duas positivas e duas negativas, e são postos em condições de afirmar ou negar o bem, de escolher a vida ou a morte. Achar o ponto fixo, isto é, o centro moral da cruz, é o primeiro problema que lhe é dado para resolverem; a sua primeira conquista deve ser a da sua própria liberdade.
Começam, pois, por ser arrastados uns ao norte, outros ao sul; uns à direita, outros à esquerda, e, enquanto não são livres, não podem ter o uso da razão, nem se encarnarão a não ser em formas animais. Estes espíritos não emancipados, escravos dos quatro elementos, são o que os cabalistas chamam os demônios elementares, e povoam os elementos que correspondem ao seu estado de servidão. Existem, pois, realmente silfos, ondinas, gnomos e salamandras, uns errantes e procurando encarnarem - se, outros encarnados e vivendo na terra. Estes são os homens viciosos e imperfeitos.
Voltaremos a este assunto no décimo quinto capítulo, que trata dos encantamentos e dos demônios.
É também uma tradição de física oculta que fez ser admitida, pelos antigos, a existência das quatro idades do mundo; somente que não se dizia ao vulgo que essas quatro idades deviam ser sucessivas, como as quatro estações do ano e renovar- se também. Assim, a idade de ouro passou e ainda está para vir. Mas isto se refere ao espírito de profecia, e falaremos disso no capítulo nono, que trata do iniciado e do vidente.
Ajuntaremos, agora, a unidade ao quaternário, e teremos conjunta e separadamente as idéias da síntese e da análise divinas, o deus dos iniciados e dos profanos. Aqui o dogma se populariza e torna - se menos abstrato; o grande hierofante intervém.Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.