domingo, 15 de janeiro de 2012

QUANDO NIETZSCHE CHOROU. Irvin D. Yalom.


No último quartel do séc.XIX em Veneza, no café Sorrento, tem lugar um encontro entre o médico austríaco, Josef Breuer e a insinuante jovem russa Lou Salomé, que promoveu uma série de outros encontros entre aquele e Friederich Nietzsche.

Explicadas as motivações tecidas à volta de um triângulo amoroso entre si, Paul Reé e Nietzsche, e porque a humanidade não poderia arriscar-se a perder o seu mais promitente filósofo, Lou materializa a primeira entrevista deste com Breuer, por intermédio do amigo comum Overbeck, com vista à descoberta da origem do mal, que vinha atacando o filósofo, o qual, é mantido na ignorância desta sua diligência, por aquela saber o que este pensa das ajudas desinteressadas.

Horas de intensa observação deram a conhecer a Breuer a personalidade obstinada e orgulhosa de Nietzsche. Como tratar alguém que recusa ajuda? Porque recusa?

Gorado o acordo para o tratamento, despediram-se friamente. Mas uma recaída do filósofo retoma o contacto com Breuer que lhe ouve, em estado quase comatoso um inesperado mas inconsciente pedido de ajuda. Aberta a brecha, Breuer avança, decidido a fazer Nietzsche soçobrar às suas tentativas de penetração na sua, até então, inviolável psique.

Mantinha-se, no entanto, inexpugnável o filósofo a quaisquer intromissões na sua fortaleza interior. Sucedem-se diálogos de prospecção psíquica, tão duros como inteligentes que os conduzem a um acordo peculiar.

Assentam, então num tratamento recíproco. Breuer, autor da iniciativa, aceita como clínico tentar debelar as enxaquecas de Nietzsche, e este como médico da mente, aceita tratar Breuer.

Homem realizado na sociedade vienense, pela excelência da sua ciência e do seu profissionalismo, Breuer conquistou a fama pela descoberta da importância do ouvido interno para o equilíbrio.

Tendo aplicado o mesmerismo a Bertha, uma jovem lindíssima, sua paciente, com uma grave histeria, criou problemas pelo tempo passado junto da doente, que fizeram nascer em Mathilde, sua esposa, ciúmes inconvenientes. A passar dos quarenta anos, Breuer pergunta-se se era aquilo por que tinha lutado.

Um sonho que recorrentemente o perseguia, e de que já havia falado com o seu amigo Freud, curioso destas fitas cerebrais, piora a situação pelo que poderia significar.

Mas com Bertha afastada da sua vida Breuer sente começar a descer para um subterrâneo desconhecido.

A argúcia argumentativa de Nietzsche, calça botas de soldado com que lhe pisa a estrutura familiar laboriosamente construída. E confronta-o, sem piedade, com a paternidade das escolhas assumidas. Então compreende!

Não havia sido Breuer a escolher o seu caminho. Sempre na esteira dos outros. A carreira, os amigos, o bem-estar, a mulher tinham-no moldado aos seus interesses. A sua genuinidade dormia sob o anestésico da sociedade. Sentiu um ferrão a rasgar o tórax.As escolhas não tinham sido suas. Foram eles que lhe apontaram os caminhos. Como a um cavalo condicionado por antolhos. E de repente tudo se desmorona.

Nietzsche médico das almas, cruel cirurgião da mente, tendo penetrado nos labirínticos meandros da psique de Breuer, desperta-lhe a força da idiossincracia própria de um ser irrepetível e único, pelo que começa a sentir-se como o caçador caçado.

Equipado com as armas necessárias à superação de si, Nietzsche encaminha Breuer para um exercício de auto consciência, o qual, induzido por hipnose pelo seu amigo Freud, consegue figurar Bertha, na intimidade com um outro clínico, dessacralizando assim momentos considerados como possíveis unicamente consigo. Imagina-se, então, profundamente ridículo. A catarse funcionou. Breuer recuperou-se e tornando-se naquilo que é assumiu-se como autor do seu futuro.

Sorridente, afirma-se curado para desgosto de Nietzsche que assim perde mais um amigo.

Nietzsche, a maior parte do ano doente, acossado por doenças do foro psiquiátrico acompanhadas de graves manifestações somáticas, era um homem deprimido. A atravessar desertos de solidão. Uma solidãoaltiva, desejada, própria dos fortes.A sua imaginação febril, afectada pelo rompimento com Wagner, ficou fundamente abalada com as notícias da irmã Elizabeth sobre o que Lou fazia correr sobre ele na sociedade. A traição de novo a corroer-lhe as entranhas. Está condenado a viver só com o seu mal. Longe do mundo e dos homens. Voltaria a galgar o alto Engadine de onde administraria na companhia da sua querida e orgulhosa dor o vasto e exclusivo império do seu EU, tanto mais robusto quanto mais sofrido.

Breuer sarado tinha de se ir embora. É quando se apercebe da íntima tristeza com que Nietzsche saudou a sua cura, e lembrando-se do pedido de ajuda, resolve fazer xeque mate ao mal do, agora, seu amigo. Sempre vencido nos diálogos mantidos com ele,não podia dispersar esta oportunidade única. Tal mostra de fragilidade seria a salvação dele. E sua também. Como clínico. Como amigo.

Se consigo Bertha foi a um tempo a origem da sua angústia, não teve dúvidas em eleger Lou Salomé como uma das grandes causadoras dos pesadelos, insónias e aflições de Nietzsche. Que finalmente se abre e denuncia um coração dilacerado, ao saber que aquela havia produzido, com ele Breuer, o mesmo comportamento insinuantemente provocador tal como, com ele, Nietzsche, que se julgava, no recesso do seu individualismo, senhor absoluto dos mimos de Lou Salomé.

Chamando então a si Freud e toda a sua ciência, a par de tudo o que com o filósofo aprendera, Breuer, impiedoso, escalavra aquele coração, libertando-o da solidão auto imposta, como sobrevivência num mundo imperfeito. Com a certeza e segurança da amizade entretecida na cumplicidade da dor, diluída pelo abraço que acede ao humano, demasiado humano.E que se torna menos mau sempre que um homem chora.

Friedrich Wilhelm Nietzsche 15/10/1844. 25/08/1900.


Órfão de pai aos cinco anos, Nietzsche passou a sua infância em Naumburg, uma pequena cidade da Alemanha às margens do rio Saale, onde cresceu em companhia da mãe, tias e avó. Foi batizado como Friedrich Wilhelm em homenagem ao rei da Prússia. Mais tarde, o filósofo abandonou o nome do meio.

Considerado por professores como um aluno brilhante, recebeu dos colegas o apelido de "pequeno pastor", profissão dos seus avós, que eram protestantes. Aos 14 anos, em conseqüência de sua dedicação aos estudos, obteve uma bolsa na renomada escola de Pforta. Lá, ganhou fluência em grego e latim e, ao mesmo tempo, começou a questionar os ensinamentos do cristianismo.

Depois de Pforta, foi para Bonn estudar filosofia e teologia. Convocado para o Exército em 1867, escapou da atividade devido a uma queda durante uma cavalgada. Convencido por um professor, passou a morar em Leipzig para estudar filologia. Com apenas 24 anos, conseguiu ser nomeado professor de filologia clássica na Universidade de Basiléia. Seu primeiro trabalho acadêmico conhecido foi "A Origem e Finalidade da Tragédia", que escreveu em 1871.

Nesta época, começou a sua amizade com o compositor Richard Wagner. A casa de campo do músico, localizada nas imediações do lago de Lucerna, em Tribschen, serviu-lhe de refúgio e inspiração.

Saúde debilitada
Em 1870, acontece a guerra franco-prussiana e Nietzsche participa como enfermeiro do Exército, mas uma crise de difteria e disenteria impede o filósofo de continuar trabalhando. A partir daí, publica o seu primeiro livro, "O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música" (1871), obra que recebeu grande influência de Wagner e Schopenhauer.

Com crises constantes de cefaléia, problemas de visão e dificuldade para se expressar, foi obrigado a interromper a sua carreira universitária por um ano, mas não deixou de escrever. Quando tentou retornar às atividades acadêmicas, enfrentou sérios problemas em suas cordas vocais que tornaram a sua fala quase inaudível.

Em 1879, quase cego, Nietzsche abandonou definitivamente a universidade, passando a dedicar-se exclusivamente à escrita. Neste período, editou seus principais livros, mas a fama somente chegou ao final do século 19, perto de sua morte. Publicou, então, "Humano, muito humano", e passou temporadas em Veneza e Gênova. Muito abatido com a rejeição por parte de Lou Andréas Salomé, jovem finlandesa com quem pretendia se casar, o filósofo voltou a morar com a mãe e a irmã, sempre demonstrando solidão e sofrimento.

Na última década de vida, Nietzsche começou a apresentar sinais de demência e a escrever cartas para muitas pessoas. Assinava seus textos como "Dionísio" e "O Crucificado". Internado na Basiléia, teve o diagnóstico de paralisia cerebral progressiva, que segundo os médicos, provavelmente foi causada pelo uso de drogas como ópio e haxixe, ingeridas pelo filosofo como auto-medicação. O filósofo morreu em 25 de agosto de 1900, sem recuperar a sua sanidade mental.

Uma de suas obras mais conhecidas é "Assim falava Zaratustra". O livro narra os ensinamentos de um filósofo, Zaratustra, após a fundação do Zoroastrismo na antiga Pérsia. Baseado em episódios, as histórias do livro podem ser lidas em qualquer ordem. Outras obras importantes do filósofo são "Além do Bem e do Mal" (1886), "A Genealogia da Moral" (1887), "O Caso Wagner" (1888), "O Crepúsculo dos Ídolos" (1889) e "Os Ditirambos de Dionísio" (1891).

Os estudiosos em Nietzsche classificam a sua obra como uma crítica aos valores ocidentais, da tradição cristã e platônica. Desde seus primeiros textos, as idéias do filósofo grego Platão eram condenadas como decadentes. Ao mesmo tempo, o filósofo repudiava o cristianismo e o classificava como 'platonismo para o povo'. A sua proposta era o resgate de um super-homem criador, que ficasse além do bem e do mal.

O Anticristo. Friedrich Nietzsche.


Este pequeno livro escrito em 1888 marca a posição do autor de transvalorar todos os valores. Uma crítica radical dos valores do cristianismo com o ousado diagnóstico de que estes são responsáveis pelo adoecimento do homem.
Um experimento transvalorado, já que aqui o cristianismo não é avaliado na verdade de seus dogmas, mas sim como fenômeno moral que norteia todo o processo civilizatório ocidental; se posiciona de fora destes valores buscando identificar o jogo de forças que estão presentes na sua origem e que permanecem ainda. O que quer saber é: o que valem esses valores e para onde eles nos levam.
Verifica no cristianismo uma interpretação do mundo puramente ficcional, sem nenhum contato com a realidade, pelo contrario, movida pelo ódio e pelo ressentimento desta mesma realidade.
Busca entendê-lo desde sua raíz judaica quando esta ainda possuía um Deus poderoso e que se transforma depois num Deus bom; quando se torna impotente perante o conquistador. A releitura que seus profetas fizeram do seu passado, no exílio, traduzida em termos de obediência ou não a Deus, é a causa das grandezas e sofrimentos de um povo. A invenção do pecado como forma de controle sacerdotal sobre um povo.
O papel de Jesus: Visto como um revolucionário anarquista que traz a Boa Nova na sua prática de vida, destruindo toda a distância entre Deus e o homem. Jesus veio ensinar uma vida nova e não uma nova fé.
Sua morte na cruz renova o espírito de vingança em seus apóstolos que não conseguem entender o motivo de tanta crueldade e precisam encontrar um culpado. Paulo encontra no signo Deus na cruz a fórmula para a vingança e invertendo todos os ensinamentos do mestre, que ele nem mesmo conheceu, cria uma religião do ódio aos valores aristocráticos em favor de tudo o que é baixo, fraco, impotente.
Paulo consegue inverter a boa nova de Jesus criando uma religião sacerdotal que vence Roma, o modelo de civilização para homens fortes.
O modelo de civilização que triunfa com o cristianismo é um adestramento e domesticação do tipo homem e a forma encontrada para levá-lo a cabo foi o adoecimento do animal homem.
Um experimento transvalorado que termina com uma sentença de condenação ao cristianismo e marca o êxito da transvaloração de seu autor.
Sobra a questão: Quem foi o anticristo?
Nietzsche? o primeiro a transvalorar o cristianismo?
Paulo? Aquele que transformou a boa nova na religião do ressentimento?
ou Jesus? Aquele que, com sua vida, negou todos os valores defendidos pelo cristianismo?

Decepção.


Com você conheci todos os sentimentos
possíveis e imagináveis
Por você chorei, sofri, amei e odiei!
Odiei pessoas que nada me fizeram
mas o fiz por você!


Por você perdi noites de sono
temi coisas inexistentes
que me fizestes acreditar
chorei e orei!


Não queria que fosse assim
eu não merecia
Acreditava em tudo que você dizia
fui infantil talvez por crer demais


Hoje estou desolado nem sei se é pecado
perdi a fé nas pessoas
Por você errei na minha boa fé
de coração desejo que sejas feliz


A vida é uma sementeira
na qual plantamos nossas ações
o colhedor somos nós não há escapatória
escrevemos no livro da vida nossa história
o protagonista somos nós!
Joe Luigi.