contos sol e lua

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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma Dança Chamada Amor.


"Eu nunca disse que o amor é destruído pelo casamento. Como pode o casamento destruir o amor? Sim, ele é destruído no casamento, mas é destruído por você, não pelo casamento. Ele é destruído pelos parceiros. Como pode o casamento destruir o amor? É você que o destrói porque você não sabe o que é o amor. Você simplesmente finge que sabe, você simplesmente tem esperança de conhecê-lo, você sonha que o conhece, mas você não sabe o que é o amor. O amor deve ser aprendido, ele é a maior arte que existe.
Se as pessoas estão dançando e alguém o convida para vir e dançar, você diz, 'eu não sei.' Você não salta simplesmente e começa a dançar, achando que todo mundo vai pensar que você é um grande dançarino. Você só provará que é um bufão. Você não provará que é um grande dançarino. A dança precisa ser aprendida - a sua graça, os seus movimentos. Você precisa treinar o corpo para a dança.
Você não vai pintar só porque a tela, o pincel e a tinta estão ali disponíveis. Você não começa a pintar. Você poderá dizer, 'Tudo o que é preciso está aqui, então eu posso pintar.' Você pode pintar, mas nunca será um pintor dessa maneira.
Você encontra uma mulher – a tela está ali. Você imediatamente se torna um amante – você começa a pintar. E ela começa a pintar em você. Naturalmente ambos provam serem tolos – tolos pintados – e mais cedo ou mais tarde vocês compreenderão o que está acontecendo. Mas você nunca pensa que o amor é uma arte. Você não nasce com a arte, ela nada tem a ver com seu nascimento. Você tem que aprendê-la. O amor é a arte mais sutil.
Você nasce apenas com a capacidade. Naturalmente você nasce com um corpo; você pode ser um dançarino porque você tem um corpo. Você pode mover o seu corpo e pode ser um dançarino – mas a dança tem que ser aprendida. Muitos esforços são necessários para se aprender a dançar. E dançar não é tão difícil porque na dança você está envolvido sozinho.
O amor é muito mais difícil. É dançar com um outro alguém. O outro também precisa saber o que é dançar. Ajustar-se com alguém é uma grande arte. Criar uma harmonia entre duas pessoas... duas pessoas significam dois mundos diferentes. Quando dois mundos se aproximam, é provável que aconteçam choques caso você não saiba como harmonizar. Amor é harmonia. E a felicidade, a saúde, a harmonia, tudo acontece a partir do amor. Aprenda a amar. Não se apresse em se casar, aprenda a amar. Primeiro torne-se um grande amante.
E qual é o requisito? O requisito é que um grande amante está sempre pronto para dar amor e não se incomoda se ele retorna ou não. Ele sempre retorna, isso é da própria natureza das coisas. É exatamente como se você fosse às montanhas e cantasse uma canção, e o vale respondesse. Você já viu um eco nas montanhas, nas colinas? Você grita e o vale grita, ou você canta e o vale canta. Cada coração é um vale. Se você derramar amor nele, ele responderá.

A primeira lição do amor é não pedir amor, mas simplesmente dá-lo. Torne-se um doador. E as pessoas estão fazendo exatamente o contrário. Mesmo quando elas dão, elas dão somente com a idéia de que o amor deve vir de volta. É uma barganha. Elas não compartilham livremente. Elas compartilham com uma condição. Elas seguem observando pelo canto dos olhos se ele está vindo de volta ou não. Pessoas muito pobres... elas não conhecem o funcionamento natural do amor. Você simplesmente derrama, ele retornará.
E se ele não estiver retornando, não há nada com que se preocupar – porque o amante sabe que amar é ser feliz. Se ele retorna, é bom, então a felicidade se multiplica. Mas mesmo se ele nunca retornar, no próprio ato de amar você se torna tão feliz, tão extático... quem irá se preocupar se ele retorna ou não?
O amor tem sua própria felicidade intrínseca. Ela acontece quando você ama. Não há necessidade de esperar pelo


resultado. Simplesmente comece a amar. Pouco a pouco você verá muito amor retornando para você. A pessoa ama e passa a saber o que é o amor apenas por amar. Assim como a pessoa aprende a nadar nadando, a pessoa aprende a amar amando.
E as pessoas são muito mesquinhas. Elas estão esperando que um grande amado apareça, então elas amarão. Elas se mantêm fechadas, afastadas. Elas simplesmente esperam. De algum lugar, alguma Cleópatra virá e então eles abrirão seus corações, mas com o passar do tempo eles esqueceram completamente como abri-los.
Não perca qualquer oportunidade de amor. Mesmo passando por uma rua, você pode estar amando. Mesmo com um pedinte você pode ser amoroso. Não há necessidade de você lhe dar alguma coisa; você pode pelo menos sorrir. Isso não custa nada – mas o seu próprio sorriso abre seu coração, faz o seu coração mais vivo. Segure a mão de alguém – um amigo ou um estranho. Não espere que você só amará quando a pessoa certa aparecer. Então, a pessoa certa nunca aparecerá. Continue amando. Quanto mais você amar, mais será a possibilidade da pessoa certa aparecer, porque o seu coração começará a florescer. E um coração em flor atrai muitas abelhas, muitos amantes.
Você foi treinado de uma maneira muito errada. Primeiro, todo mundo vive sob uma impressão errada de que já é um amante. Só por ter nascido, você pensa que é um amante. Isso não é tão fácil. Sim, existe uma potencialidade, mas a potencialidade tem que ser treinada, disciplinada. Uma semente existe, mas ela tem que se tornar uma flor.
Você pode continuar carregando sua semente; nenhuma abelha estará vindo. Você já viu abelhas vindo até as sementes? Elas não sabem que as sementes podem se tornar flores? Mas elas vêm somente quando as sementes se tornam flores. Torne-se uma flor, não permaneça uma semente.
Duas pessoas, separadamente infelizes, criam mais infelicidades um para o outro quando ficam juntas. Isso é matemático. Você era infeliz, sua esposa era infeliz e vocês estão esperando que estando juntos se tornarão felizes? Essa é a aritmética mais simples – como dois e dois são quatro. É simples assim. Não se trata de uma alta matemática; isso é muito comum, você pode contar nos dedos. Vocês ambos se tornarão infelizes.
Cortejar é uma coisa. Não dependa do cortejar. Na verdade, antes de se casar, livre-se do cortejar. Minha sugestão é que o casamento deve acontecer depois da lua-de-mel, nunca antes. Somente se tudo correr bem, somente então o casamento deve acontecer.
Lua-de-mel depois do casamento é muito perigosa. Pelo que eu sei, noventa e nove por cento dos casamentos se acabam quando acaba a lua-de-mel. Mas aí você já foi pego, você não tem como escapar. Então, toda a sociedade, a lei, os tribunais – todo mundo estará contra você se você deixar a esposa, ou se a esposa deixar você. Então, toda a moralidade, a religião, o sacerdote, todo mundo estará contra você. Na verdade a sociedade deveria criar todas as barreiras possíveis ao casamento e nenhuma barreira ao divórcio. A sociedade não deveria permitir que as pessoas se casassem tão facilmente. O tribunal deveria criar barreiras – viva com a mulher por dois anos pelo menos, depois o tribunal poderia permitir que você se casasse. Atualmente eles estão fazendo exatamente o oposto. Se você quiser casar-se, ninguém pergunta se você está pronto ou se é apenas um capricho, só porque você gostou do nariz da mulher. Quanta tolice! Ninguém consegue viver junto só por causa de um nariz alongado. Depois de dois dias o nariz será esquecido. Quem olha para o nariz da própria esposa?
A esposa nunca parece bonita, o marido nunca parece bonito. Uma vez que você se familiarizou, a beleza desaparece.
Devia-se permitir que duas pessoas vivessem juntas o tempo suficiente para que se tornassem familiarizadas, uma com a outra. E mesmo que elas quisessem se casar, não deveria ser permitido. Então os divórcios desapareceriam do mundo. Os divórcios existem porque os casamentos estão errados e forçados. Os divórcios existem porque os casamentos são feitos num clima romântico.
Um clima romântico é bom se você for um poeta – e poetas não são tidos como bons maridos ou boas esposas. Na verdade, os poetas são quase sempre solteiros. Eles se fazem de bobos mas nunca são pegos, e então o romance deles permanece vivo. Eles continuam escrevendo poesias, belas poesias.
Não se deveria casar com um homem ou com uma mulher num clima de poesia. Deixe que o clima da prosa venha e então se estabeleça. Porque a vida do dia-a-dia é mais como uma prosa do que como uma poesia. A pessoa deveria se tornar suficientemente madura.
Maturidade significa que a pessoa não é mais um tolo romântico. Ela compreende a vida. Compreende a responsabilidade da vida, compreende os problemas de estar junto com um outro alguém. Ela aceita todas as dificuldades e ainda assim decide viver com a outra pessoa. Ela não está esperando que exista apenas um caminho para o céu e que tudo sejam rosas. A pessoa não está esperando por tolices; ela sabe que a realidade é difícil. Ela é áspera. Existem rosas, mas entre elas existem muitos espinhos.
Quando você se tornou alerta quanto a todos esses problemas e ainda assim você decide que vale a pena se arriscar e estar com uma pessoa, mais do que estar só, então vá e case-se. Então o casamento nunca matará o amor, porque este amor é realístico. O casamento só consegue matar o amor romântico. E amor romântico é o que as pessoas chamam de ‘amor a um filhote de cãozinho’. Não se deve depender disso. Não se deve pensar nisso como alimento. Isso pode ser apenas como um sorvete. Você pode comê-lo algumas vezes, mas não dependa dele. A vida tem que ser mais realística, mais prosa.
E o casamento, ele mesmo nunca destrói nada. O casamento apenas coloca para fora tudo aquilo que está escondido em você – ele traz para fora. Se o amor está escondido atrás de você, dentro de você, o casamento o traz para fora. Se o amor era apenas um fingimento, era apenas uma isca, então, mais cedo ou mais tarde, ele irá desaparecer. E então a sua realidade, a sua personalidade feia irá emergir. O casamento é apenas uma oportunidade, assim o que quer que você tenha para colocar para fora, var ser externado.
Eu não estou dizendo que o amor é destruído pelo casamento. O amor é destruído pelas pessoas que não sabem como amar. O amor é destruído porque em primeiro lugar ali não havia amor. Você tem vivido num sonho. A realidade destrói aquele sonho. Se não for por isso, o amor é algo eterno, é parte da eternidade. Se você cresce, se você conhece a arte, e se você aceita as realidades do amor-vida, então ele continuará crescendo todos os dias. O casamento se torna uma oportunidade extraordinária para crescer no amor.
Nada consegue destruir o amor. Se ele existe ali, ele continua crescendo. Mas o meu sentimento é que, em primeiro lugar, ele não existe ali. Você compreendeu mal a si mesmo, alguma outra coisa estava ali. Talvez o sexo estivesse ali, a atração sexual estivesse ali. Então isso será destruído, porque uma vez que você tenha amado uma mulher, então a atração sexual desaparece – porque a atração sexual é apenas com o desconhecido. Uma vez que você tenha experimentado o corpo da mulher ou do homem, daí a atração sexual desaparece. Se o seu amor era apenas atração sexual, então é provável que ele desapareça.
Assim, nunca confunda o amor com alguma outra coisa. Se o amor é realmente amor... O que eu quero dizer quando digo ‘realmente amor’? Eu quero dizer que apenas por estar na presença do outro você de repente se sente feliz, só por estar junto você entra em êxtase, apenas a presença do outro preenche alguma coisa profunda em seu coração... algo começa a cantar em seu coração, você entra em harmonia. Apenas a exata presença do outro ajuda você a estar junto; você se torna mais individual, mais centrado, mais enraizado. Então isso é amor.
O amor não é uma paixão, amor não é uma emoção. O amor é uma compreensão profunda de que alguém, de alguma maneira completa você. Alguém torna você um círculo completo. A presença do outro aumenta a sua presença. O amor lhe dá liberdade para ser você mesmo; ele não é possessivo.
Assim, observe. Nunca pense em sexo como amor, senão você irá se iludir. Esteja alerta e quando você começar a sentir com alguém que a simples presença, a pura presença – nada mais, nada mais é preciso, não peça por nada mais – simplesmente a presença, simplesmente que outro esteja ali, é o bastante para fazer você feliz... alguma coisa começa a florescer dentro de você, mil e uma flores de lótus... então você está amando, então você consegue passar por todas as dificuldades que a realidade cria. Muitas angústias, muitas ansiedades – você será capaz de passar por todas elas, e o seu amor estará florescendo mais e mais, porque todas essas situações se tornarão desafios. E o seu amor superando esses desafios, se tornará mais e mais forte.
Amor é eternidade. Se ele estiver aí, então ele seguirá crescendo e crescendo. O amor conhece o começo, mas não conhece nenhum fim.
Osho.

OSHO.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Os Doze Tons Cósmicos.


" Se alguém desejar saber se um reino é bem ou mal governado, se a sua moral é boa ou má, examine a qualidade da sua música, que lhe fornecerá a resposta ". Confúcio.

As mencionadas palavras de Confúcio correspondem aos preceitos da Sabedoria Antiga relativos aos sons que afirmava que todas as civilizações aperfeiçoam-se e moldam-se de acordo com o tipo de músicas que nelas são executadas. Diz que se a música de uma civilização é melancólica, romântica, o próprio povo é romântico; se é vigorosa e marcial, então os vizinhos dessa nação devem se acautelar.

A Sabedoria Antiga assegura que uma civilização permanece estável e inalterada enquanto a sua música também permanecer inalterada. Mudar o estilo da música ouvida pelo povo acarreta inevitavelmente uma mudança do próprio estilo de vida desse povo. Esse conceito fazia com que os sábios afirmassem que se a música de uma civilização estivesse nas mãos dos maus ou dos ignorantes, só poderia levá-la à inevitável ruína Por outro lado, nas mãos dos iluminados a música era um instrumento de beleza e de poder, capaz de conduzir toda uma nação à uma idade áurea de paz e prosperidade. Este era um dos pontos de intransigência demonstrada por Confúcio.
Por pensar como muitos filósofos antigos justifica-se o porquê da intransigência de Confúcio a respeito da vigilância que se deve ter sobre a música.

Os grandes místicos do passado sabiam que todas as coisas criadas tinham como base variações do Som Cósmico chamados pelos hindus de OM. Segundo eles esse som libera energia sob forma de vibração que diretamente, ou por ressonância, gera e modificada tudo quanto há. Esse conceito antes somente admitido pelos místicos e Iniciados atualmente vem sendo aceito pela própria ciência que já começa a afirmar que toda matéria é energia ( E=MC2 ), que as coisas existentes são composta de um algo fundamental, e que as freqüências desse algo determina a natureza específica de cada átomo. Assim é plenamente aceitável a concepção de que a música libera no mundo material uma energia fundamental, superfísica, que vem de fora do mundo da experiência cotidiana.

Desta forma não há razão para se estranhar o lado melódico de algumas religiões e Ordens Iniciáticas. Sabe-se que a voz do sacerdote, da sacerdotisa ou vestal age no tempo e espaço e através do qual manifestam-se determinadas forças que podem ter poder energizante do Criador.

A música ritualística pode servir de canal entre Deus e o homem, é uma chave para a liberação das energias do Supremo no mundo material.

" Os demônios entoam em conjunto louvores a Deus. Eles perdem a maldade e a ira". Mistério da Primeira Hora - Nuctemeron - Apolônio de Tiana.

Entre outras referências podemos considerar o homem em seu aspecto negativo através dos sons modificando suas qualidades inferiores.

A história tem mostrado que uma inovação no estilo musical de um povo tem sido invariavelmente seguida de uma inovação política e moral, por isto é que os filósofos antigos, especialmente os chineses, davam muito atenção à música do seu país, desde que tinham certeza de que para que todos os cidadãos se mantivessem livres dos perigos do uso indevido da música e do seu poder, e para que todos aproveitassem o seu efeito benéfico, ela tinha que ser devidamente orientada. Toda música deveria transmitir verdades eternas e especialmente influir no caráter do homem visando torna-lo melhor.

Os mestres da antigüidade estavam certos de que toda música vulgar e sensual exercia uma influência imoral sobre o ouvinte, daí o porquê de toda música devia ser devidamente cuidada para que ela fosse dirigida ao lado espiritual e não para o lado da degradação. Qualquer música deveria ser direcionada de tal forma que o seu efeito se fizesse sentir no sentido do bem. Por isto justifica-se Confúcio haver condenado diversos estilos de música que supunha moralmente perigosos. Dizia: "A música de Cheng é lasciva e corruptora, a música de Sung é mole e efeminante, a música de Wei é repetitiva e tediosa, a música de Ch´i é dura e predispõe à arrogância." Também são palavras de Confúcio: " A música do homem de espirito nobre, suave e delicado, conserva um estado d´alma uniforme, anima e comove. Um homem assim não abriga o sofrimento nem o luto no coração; os movimentos violentos e temerários lhes são estranhos". " Se alguém desejar saber se um reino é bem ou mal governado, se a sua moral é boa ou má, examine-se a qualidade da sua música, que terá a resposta".

A cítara chinesa de 4 cordas tem uma razão espiritual de ser. As quatro cordas relacionam-se com as quatro estações e também a concepção dos quatro aspectos do homem: Mente abstrata, mente concreta, emoções, e corpo físico. Estas quatro qualidades mais tarde foram representados pelos alquimistas como os quatro elementos: Fogo, Ar, Água e Terra.

A música por ser uma manifestação vibratória está diretamente relacionada com os Princípios Herméticos em todos os seus aspectos. Na escala tonal, mantendo-se de lado 2 semitons, existem 7 tons maiores e 5 tons menores perfazendo um total de 12 tons que somados aos semitons perfazem o número 14. Pela música pode-se penetrar intimamente nos mistérios desses três números.

Os 12 tons estão associados às 12 casas do zodíaco, que na realidade refletem as vibrações dos 12 focos de irradiação cósmica [1] sobre os quais já falamos em palestras anteriores. Por isto dizem que a astrologia começou como o estudo do Tom Cósmico. Concebia-se a astrologia como originalmente baseada nesses 12 tons e nas influências que as suas freqüências vibratórias exerciam sobre a terra.

O tempo tem muito a ver com os 12 tons cósmico, não é sem razão que o tempo tem base 12 o dia tem doze horas, o ano tem doze meses.[2]
música.

Padrão de Vitral da Idade Média.
Os chineses, e outros povos da antigüidade, misticamente dividiam o ano em períodos de l2 meses e o dia em dois períodos de 12 horas. Tais divisões não eram arbitrárias, resultavam de um sábio reconhecimento, por parte do homem, de fatos objetivos de natureza cósmica, pois sabiam que os 12 tons musicais eram manifestações da ordem celestial no mundo terreno. À cada um dos períodos correspondia um determinado tom, ou seja, cada hora corresponderia a um tom e da mesma forma a cada mês do ano. Neste contexto reconheciam na música certa correspondência com a data - mês - e com o horário do dia, por isso numa determinada hora a música adequada normalmente era diferente daquela indicada para uma outra hora, e o mesmo com relação aos meses. Desta forma procurava-se a harmonia vibratória entre a música ao nível da terra com a vibração correspondente ao nível cósmico. Em outras palavras, eles concebiam os sons audíveis como sendo manifestações a nível físico das vibrações primordiais imediatas ao OM.
Assim como os Tons Cósmicos mantinham a harmonia e a ordem nos céus, da mesma forma a música mantinha a ordem e a harmonia na terra, bastando para isto que a sua composição e execução fosse estruturada como um reflexo adequado da ordem, da harmonia, e da melodia dos Tons Cósmicos.José Laércio do Egito - F.R.C.

O Caminho de Santiago- Luz do Ocidente


Luz do Ocidente.

O Caminho de Compostela não é o único caminho que levava os peregrinos da Europa de Oriente para Ocidente, terminando invariavelmente na costa atlântica, não em mar aberto, mas em rias profundas, que permitiam abrigo e ancoragem segura de barcos. Mas é o único caminho que foi “recuperado” pelo cristianismo, passando a constituir uma das suas três peregrinações principais, juntamente com Roma e Jerusalém.

Além do Caminho de Compostela havia mais três, dois dos quais bastante conhecidos e um que terá caído no esquecimento. Estranhamente, esses caminhos estavam escalonados por latitudes separadas de três em três graus, todas passavam por lugares sagrados e por regiões onde abundam megalitos e dólmenes, vestígios naturais atribuídos à antiga civilização celta ou lígure.

Já vimos que o Caminho de Compostela corria ao longo do paralelo 42. Logo acima, no paralelo 45, havia desde tempos imemoriais um caminho que talvez fosse o menos importante e por isso esquecido, mas que passava por Le Puy, pelas célebres grutas de Lascaux e terminava em Lugon. Não existe ponto de referência para o início deste caminho.

Mais a norte, ao longo do paralelo 48 havia o caminho que tinha início em Sainte-Odile, na Alsácia, povoação situada em recinto de antigas construções ciclópicas impossíveis de datar, e terminava perto de Quessant, na costa atlântica. Ao longo deste caminho encontramos inúmeros megalitos, provavelmente pontos de referência e orientação para os peregrinos. Passa por diversos locais sagrados, especialmente por Chartres, o lugar mais sagrado dos franceses.

Subindo mais três graus na latitude, encontramos o caminho britânico ao longo do paralelo 51. É provável que este caminho tivesse origem mais a leste, no continente europeu, numa altura em que talvez ainda não existisse o Canal da Mancha e a Ilhas Britânicas não existissem como ilhas, mas fazendo parte do continente.

Considerando apenas o território britânico, este caminho começa em Canterbury e passa por Maidstone (a pedra da Virgem), Godstone (a pedra de Deus), por um cromeleque chamado Amesbury, que alguns entendem significar o “túmulo de Adão”, depois por outro cromeleque, Avesbury, que talvez signifique o “túmulo de Eva”. Passa também por Stonehenge, com o seu “grande templo do Sol” e o Cathoir Ghall, a “sala de dança dos gigantes”. Segue-se Glastonbury, onde se conta que José de Arimateia teria depositado o Graal, perto da colina de Avalon, que antes dos depósitos fluviais era a ilha mítica de Avalon, bem conhecida através da lenda de Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. Este caminho termina num local próximo de Tintagel, onde foi descoberto, gravado na pedra, um labirinto semelhante a um outro encontrado na Galiza, não distante de Santiago de Compostela.

Tudo isto, as rotas traçadas de Oriente para Ocidente, a balizagem ao longo de um paralelo preciso com pequenas variações de minutos, a existência de lugares considerados desde sempre sagrados ao longo desses caminhos, não pode ser obra do acaso.

É de presumir que estes caminhos foram traçados com fins religiosos, em que os peregrinos seguiam a rota do Sol, ou a rota indicada pela Via Láctea, de leste para oeste e terminando sempre no mar atlântico. Mas a precisão com que foram marcados sugere-nos que poderia haver outro motivo que ainda desconhecemos, mas que podemos pressentir. Para uma peregrinação religiosa não é necessária a existência de uma rota elaborada com tal precisão, qualquer caminho serve, desde que sirva para atingir o objectivo final. Por exemplo, para a peregrinação a Roma ou Jerusalém não existe um caminho pré-determinado. No caso de Compostela, outros caminhos foram sendo criados ao longo do tempo, como o chamado caminho português, mas prevaleceu sobre todos o caminho tradicional, aquele que segue ao longo do paralelo 42. O que procuravam os peregrinos a Ocidente?

Uma das profecias de João XXIII diz: “ (…) Luz do Neiva no Oriente, mas a luz vem sempre do Ocidente”. Seria para esta luz que os peregrinos caminhavam através de mil dificuldades impostas pelas condições do terreno e dos perigos que punham em risco a própria vida? Que luz seria esta? Será que os portos atlânticos que os peregrinos demandavam eram pontos de encontro com seres que vinham do mar e traziam consigo todo um conjunto de conhecimentos que depois legavam a esses peregrinos?

Temos que reconhecer que estamos perante um enigma, pois na verdade não sabemos para que é que esses caminhos serviam. Alguns autores afirmam que se tratava de caminhos iniciáticos, ao longo dos quais o peregrino era submetido a provas duras que lhe poderiam proporcionar o acesso a um conhecimento maior. Outros afirmam que durante o percurso o peregrino poderia aprender certos conhecimentos ocultos, como por exemplo o tratamento da pedra. Já vimos que os talhadores de pedra na região, no tempo dos lígures, se chamavam tiagos. O que é que acontecia quando chegavam ao seu destino, à beira do Atlântico? Entravam em contacto com seres que consideravam superiores, que depois chamaram deuses, vindos de algures do meio do oceano? Para tentarmos encontrar alguma resposta temos que recorrer à tradição.

Parece não haver já dúvidas para ninguém de que existiu, há uns milhares de anos, uma grande ilha a meio do Atlântico, de que os arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias serão os remanescentes. Parece também não haver dúvidas para ninguém de que, há uns milhares de anos, se deu um imenso cataclismo, que na Bíblia se chama Dilúvio Universal. Este dilúvio é conhecido sob a forma de lendas em todas as latitudes e longitudes da Terra. Portanto, havendo assim tantas descrições, umas mais fantasiosas que outras, é prova de que aconteceu na realidade. Esse cataclismo terá afundado essa ilha e levado para o fundo das águas os atributos de uma civilização evoluída, a que Platão chamou de Atlântida.

Aparentemente não havia uma única ilha, mas várias ilhas, uma grande ilha rodeada de outras menores. Estas ilhas seriam habitadas por duas raças, uma de pele escura avermelhada e outra de pele clara. A de pele escura era de pequena estatura, mas a de pele clara era constituída por indivíduos altos. Não é credível que esses habitantes não tivessem entrado em contacto com os habitantes das regiões limítrofes, como a Europa ocidental, a costa ocidental da África e a costa oriental da América. Também não é credível que não tivesse havido migrações, tanto para ocidente como para oriente, e que esses povos migrados não se tivessem misturado com as populações locais. Acreditamos que essas migrações terão fundado colónias que mantiveram ligações com a pátria de origem, cujos conhecimentos procuraram transportar para as novas terras que ocupavam.

A determinada altura aconteceu o cataclismo que, além de afundar a pátria de origem, causou devastações por toda a Terra, salvando-se apenas uns poucos sobreviventes. Estes, a pouco e pouco, órfãos da terra-mãe, foram esquecendo os prodígios que a sua civilização tinha alcançado, mas mantiveram os conhecimentos básicos que lhes permitiram depois dar início a outras civilizações. Por isso a civilização do antigo Egipto despontou de repente, como o desabrochar de uma rosa.

Assim, os caminhos traçados de forma quase geométrica poderão ter sido os marcos de referência para os sobreviventes do cataclismo, que após aportarem em locais abrigados da costa, se encaminhavam para o interior ao encontro das populações aí residentes e também sobreviventes. Temos consciência de que esta é uma teoria sem bases de prova, mas é uma teoria tão boa como muitas outras. Com o tempo, esses caminhos serviram para levar os peregrinos em busca desses seres que um dia vieram do ocidente, movidos por uma vaga lembrança da portentosa civilização que aí teria existido.

Isto leva-nos a outro ponto, que é o de saber onde ficaria situado o Paraíso Terrestre. Segundo a Bíblia, estava situado na região de quatro rios, dentre os quais, o Tigre e o Eufrates. Embora na Mesopotâmia actual (Iraque) não existam esses quatro rios, apenas aqueles dois referidos, pesquisas por satélite revelaram a existência em tempos idos de mais dois rios. Portanto, assunto resolvido, o Paraíso ficava localizado na Mesopotâmia. Mas, como grande parte dos livros da Bíblia terão sido escritos por sábios judeus após a sua libertação do cativeiro na Babilónia, é muito provável que a descrição do Paraíso tenha sido originada em alguma lenda daquela região e assim, a indicação daqueles rios.

Por outro lado, Caim, depois de ter assassinado Abel, foi enviado para a Terra de Nod, a leste do Éden. Aparentemente, apesar de expulsos, Adão e Eva ainda estariam no Paraíso (Éden), porque foi dali que Caim foi enviado para leste. Mas “Nod”, segundo alguns autores, significa “peregrinação”, quer dizer, a partir do Éden, Caim peregrinou pelas terras do leste. Mas a leste de quê? Da Mesopotâmia? Foi Caim peregrinar para os antigos Irão, Afeganistão, Paquistão, Índia? Para sabermos que leste era esse precisamos de situar o Éden em algum lugar.

Por estudos feitos através de satélites, está provado que o deserto do Sara foi, em tempos recuados, uma região luxuriante, com várias cidades hoje soterradas debaixo das areias, com lagos e quatro rios, entre os quais o próprio Nilo, que terá sido desviado do seu primitivo curso para o actual que conhecemos. A civilização que ali prosperou terá vindo, muito provavelmente, da Atlântida. Os tuaregues, os “aristocratas” do deserto, serão originários da civilização que ali se implantou pois, segundo a lenda, a filha da Poseidon, Atena, ter-se-á retirado para a terra de Hoggar para ali cumprir uma missão civilizadora. A terra de Hoggar é o Sara e Atena, como rainha dessa região, chamava-se Tin-Hinan.

Esta rainha, considerada deusa pelos tuaregues, terá estabelecido um governo matriarcal e por isso, entre os tuaregues a mulher continua a ter um papel muito especial, é a guardiã da tradição. Mas uma lenda acaba quando começa a História e assim, Tin-Hinan deixou de ser uma lenda quando o seu túmulo foi descoberto em Abalessa, ao sul da actual Argélia. Pelo estudo dos seus restos mortais, tratava-se de uma mulher branca, de elevada estatura, parecida com as mulheres egípcias do tempo dos faraós, as ancas estreitas e as espáduas largas.

Por motivos que desconhecemos, o Nilo foi desviado do seu curso, privando o Hoggar da sua água, e parte da população ali existente terá partido para oriente, criando a esplendorosa civilização egípcia. Seria o Hoggar, o local em que se situava o Éden, pois também era uma região de quatro rios?

Segundo a tradição, a grande ilha da Atlântida também tinha quatro rios, os quais corriam no sentido dos pontos cardeais. Seria, afinal, a Atlântida, o local do Paraíso terrestre? Tanto do Hoggar como da Atlântida, as migrações foram feitas maioritariamente para leste, exceptuando as eventuais migrações que terão povoado as Américas.

Assim, talvez aqueles caminhos tão bem demarcados no terreno levassem os peregrinos em busca, não só dos seres que em tempos recuados teriam vindo do mar a ocidente, mas em busca do Paraíso perdido.
Manuel O. Pina.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Silêncio.


Tudo está em vibração e ao mesmo tempo tudo é constituído por vibrações, esse Principio Hermético é a base da existência de tudo quanto há no Mundo Imanente. Por isto os chamados Livros Sagrados usam a expressão "O Verbo" quando citam a estruturação do universo, ou seja, a Força Criadora. O Verbo indica vibração e um efeito básico de toda vibração, ao ser detectada, pode ser considerado um som, contudo nem todos os sons são audíveis mediante um órgão sensorial.
Se toda creação é vibração e se vibração é som, consequentemente podemos dizer que dentro da criação, no Universo Imanente, não pode existir silêncio. Na verdade quando se fala de silêncio neste mundo trata-se apenas de uma condição relativa, é uma vibração condicionada aos limiares de percepções. Por exemplo, uma vibração de 31.000 ciclos por segundo é silencio para o ser humano, mas não para um cachorro. Esse índice vibratório não é detectado pelo ouvido humano, mas sim pelo de alguns animais, como o cão, por exemplo. Mergulhado num meio pleno de vibração de 31.000 c/s um homem diria estar no silêncio, contudo um cachorro não "diria" o mesmo, pois este índice de vibração é perfeitamente perceptível para ele. Sendo assim, silencio é uma condição relativa ao limiar de percepção e não uma condição próprio do Universo Imanente; é um efeito e não uma causa.

Quando se fala de silêncio está-se falando de algo relativo, aliás, não poderia ser diferente desde que tudo nesse mundo imanente é relativo, por isto ele pode ser chamado de "mundo relativo".

O ser humano, assim como todas as coisas, basicamente são um tremendo bulício de vibrações. Sem vibração nenhuma estrutura poderia existir.

O ser humano constantemente está em vibração e interagindo mediante ressonância com tudo quanto há. Ao nível de estrutura não vibrar seria não existir como algo. Esta é a razão pela qual as pessoas têm tremenda repulsa ao silêncio; quando muito dizem que querem o silêncio, mas isto indica apenas um afastamento de limiares sonoros intensos, pois quando o limiar de percepção auditiva pessoal é atingido - silêncio pessoal - elas simplesmente tornam-se inquietas e logo procuram algo para atender a necessidade de ruídos. Assim podemos dizer que a pessoa tem necessidade de perceber vibrações e uma das maneiras é a percepção auditiva, ou sejam, os sons.

As pessoas têm dificuldades em enfrentar o silêncio porque a própria estrutura física depende de vibrações assim como a grande maioria dos seus processos psíquicos só manifestam-se mediante vibração.

O organismo é algo pleno de vibração, nele tudo está vibrando, os átomos, as moléculas, as células, os órgãos e o organismo como um todo pode apresenta-se como uma resultante vibratória que é a somatória de todas essas freqüências.

Já dissemos que o silêncio total não existe no universo imanente por ser ele constituído de vibrações. A fim de existir o silêncio total seria preciso não existir qualquer vibração em torno da pessoa ou nela própria. Isto eqüivaleria à parada total de tudo, a parada total dos átomos, moléculas células; a cessação de todo Movimento, e assim por diante o que por certo seria um desmoronamento pleno, um retorno à não existência física. Seria a derrocada do próprio Universo Imanente, um retrocesso pleno da creação, a volta ao MA [1] . A Creação [2] se fez quando MA vibrou pela ação de RA, assim sendo, o não vibrar é o retorno à condição primordial MA. Penetrar no silêncio absoluto seria o mesmo que sair do Mundo Imanente seria o cessar toda vibração e isso simplesmente envolveria a dissolução do próprio indivíduo. O existir no mundo significa vibrar e interagir com as mais diversas categorias de vibrações, portanto, de sons.

O silencio total eqüivale a perda da vibração e sem vibração coisa alguma pode existir desde que qualquer coisa existente no universo é constituído de vibrações e sempre em ressonância com todas as demais.

Em decorrência dessa dependência da vibração é que desde época imemoriais fala-se de sons. Dizem que o mundo foi criado pela palavra, ou seja, pelo som. Assim é que os livros sagrados usam o termo verbo com sinônimo de palavra, ou seja, sinônimo de som.
música.

Ilustração da Idade Média.
Os egípcios chamavam às energias vibratórias universais de "O Verbo" dos seus deuses; por sua vez os pitagóricos as chamavam de "Música das Esferas", e os antigos chineses "Energias Celestes da Perfeita Harmonia". Os antigos consideravam as Vibração Cósmica a origem e a base de toda a matéria e energia existente no universo. Consideravam os tons como variações do OUM (OM).
Neste Ciclo de Civilização, desde a época dos Vedas sabe-se que todas as coisas existentes no Universo derivam-se de um som Cósmico que, em sua forma mais pura e menos diferenciada, é conhecido como OM. Todavia, assim como a luz branca pura se diferencia nas cores do arco-íris, também a Vibração Fundamental diferencia-se em imenso número de vibrações constituindo as variações de freqüências do OM os Tons Cósmicos que estão presentes em diferentes combinações por todo o universo. Estão presentes em todas as substâncias e formas em distintas combinações vibratórias e constituem as próprias substâncias e formas. Segundo a combinação dos Tons Cósmicos presentes em determinada área assim é a natureza da substância naquele determinado espaço.

Quando daquilo que chamam de criação dos espíritos, ou seja, da individuação da consciência, houve um movimento. Sair de um estado para outro indica movimento, assim o separar é movimento. Portanto não pode haver separação sem que haja movimento, e movimento é vibração, é som. Disto decorre que a individuação de cada espirito corresponde a um tom, que é o Tom Primordial [3] de cada um. Este tom ressoará por toda a trajetória do ser e isto tem que ser levado em consideração porque é de suma importância na escolha do nome que a pessoa recebe ao nascer. Um nome desarmônico, que não seja ressonante com o Tom Primordial , evidentemente será uma causa de desarmonia existencial muito séria. Parte dos sucessos e dos fracassos das pessoas resultam do nome que têm. A cultura materialista dominante no Ocidente faz com que a escolha do nome de um filho seja feita por varias razões, até mesmo por composição silábica do nome dos pais, ou por homenagem ao pai, ao avô e assim por diante. Isto na maioria das vezes é assinar um pedido de dificuldades para o filho. O nome que deve ser dado a um filho é recebido intuitivamente, é o resultado da ressonância da vibração daquele espirito que é percebido por alguém intimamente ligado a ele.

Os Tons Cósmicos, por integrarem diretamente o OM, são considerados a manifestação das forças mais poderosas do universo por comporem a fonte da própria Criação, daí a imensa importância atribuída até mesmo aos sons audíveis desde que são reflexos Tons Cósmicos nos quais reside uma enorme força criativa, preservativa e destrutiv
José Laércio do Egito - F.R.C..

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os Sete Dons do Mago.


As pessoas que estudam as religiões orientais e outros ramos difundidos no Ocidente desenvolvem uma tendência quase mórbida pela aquisição de dons, que vão desde manifestações psíquicas simples até um nível bem profundo como aquilo que em Sânscrito é denominado de Siddhis. A pessoa que apresenta tais poderes é considerada um Mago.

A palavra Mago deriva dos termos Sânscritos: Magh, Mah, ou Maha que pode ser traduzido por “grande”.

Na Pérsia os magos eram homens de conhecimentos incomuns que se dedicavam ao serviço da Divindade; eram sacerdotes do fogo, “adoradores” do fogo.
Na Antiguidade, Mago era um titulo honorifico, mas que ao longo do tempo foi decaindo e se tornando distante do seu significado original. Inicialmente era sinônimo de valores honoráveis, contudo, lentamente foi se tornando um termo indicativo para impostor, farsante, charlatão, chegando ao ponto do Catolicismo afirmar ser pessoa que vende a alma ao diabo. A despeito disso no Cristianismo Primordial não fosse assim; veja-se que no Novo Testamento consta que Jesus quando nasceu recebeu a visita de três reis magos, que eram sacerdotes, astrólogos, seguidores e praticantes de ritos do fogo da Babilônia.

Sempre os verdadeiros magos dispunham de certos poderes, ou seja, de capacidades incomuns que um autêntico mago tem que ter ao menos sete deles, hoje conhecidos pelo nome de Os Sete Dons do Mago. Em decorrência de o mago ser uma pessoa dotada de certas capacidades envolvendo dons incomuns o Catolicismo a condena.

No Ocidente os dons mais comuns de um Mago, são em número de sete: Vidência – Premonição – Telepatia – Telecinesia – Teleplastia – Astromância e Anastasis.

Vidência – (Clarividência): Capacidade de ver as coisas invisíveis para os outros, independentemente de espaço e tempo. Inclui também a clariaudiência;
Premonição: Capacidade de prever o futuro, de profetizar;
Telepatia: Capacidade de se comunicar mentalmente à distância;
Telecinesia: Capacidade de mover objetos materiais sem neles tocar;
Teleplastia: Capacidade de produzir materializações, de plasmar e exteriorizar as idéias;
Astromância: (Geomância): Capacidade de utilizar energias telúricas e dos astros e para finalidades mágicas;
Anástasis: Capacidade de sair do corpo. Desdobramento e “Viagem Astral”.

Vale salientar que esses poderes apenas ocorrem em nível de mundo imanente. O mago pode dominá-los sem que seja um ser liberto.

Além desses dons, certos iogues em algumas encarnações desenvolveram outras qualidades ainda mais sensacionais, sendo as mais conhecidas apresentadas em número de oito, conhecidos como Siddhis:

Animâ – Poder de diminuir seu corpo até ao nível de um átomo,
Mahima – Poder de no espaço (inverso de Animâ);
Laghimâ – Poder de se tornar leve quanto um floco de algodão (anular a gravidade);
Garimâ – Poder de se tornar pesado, até mais do que a própria terra;
Prâpti – Poder de chegar a qualquer lugar que desejar, até mesmo à Lua;
Prâkâmya – Poder de realizar todos os seus desejos:
Ichatva – Poder de crear;
Vaziltva – Poder de dominar tudo (Dominium).

A maioria das pessoas põe dúvida se isso pode ser verdade, se tais poderes podem existir, mas na vida de Grandes Mestres temos visto. Atualmente Sai Baba, por exemplo tem mostrado a maioria desses poderes. Na historia há muitos casos, sendo mais citados alguns apresentados por Jesus. Ele podia se tornar leve e caminhar sobre as água citado nos Evangelhos Canônicos, ou se mostrar pequenino, ou imenso, atingindo as nuvens, como é citado por João descrito nos Evangelhos

Evidentemente tudo isso exige muita energia, por isso somente pessoas especiais são capazes de demonstrar tais capacidades.

Embora os 7 Dons e os 8 Siddhis sejam manifestações espetaculares, ainda assim Iniciados de elevado nível não dão muito valor a eles por saberem se tratar de artifícios da mente, de algo que só ocorre no Mundo de Maya. O Hermetismo endossa essa afirmação, mesmo considerando poderes admiráveis ainda assim não tenham capacidade de libertar o ser do jugo do mundo da ilusão. Revendo o filme Matrix embora sensacionais, as lutas encetadas por Neal nada significava no sentido de eliminar o mundo virtual em que ele se encontrava. Somente com a abertura de um portal feita pelos seus companheiro que estavam num plano superior é que ele saia daquele ilusão. Coisa similar acontece no ser vivenciando o mundo hodierno, por ser capaz de feitos sensacionais ainda assim ele não se liberta. Nenhuma pratica marcial podia tirar Neal do cenário, da mesma forma nenhuma capacidade extra-sensórias é capaz de fazer o mesmo com um ser que vive no Mundo Imanente.

Os poderes do Mago e os Siddhis podem ser muito valiosos para muitas finalidades no mundo, mas apenas em nível de Imanência, e não como meio de libertação. Por isso é que o Hermetismo diz ser preferível usar o tempo em exercícios direcionados à energia. Não fazer como muitas pessoas fazem, levam uma vida inteira para o desenvolverem imensa número de dons que no final em nada contribuem para a consecução do objetivo maior que é a libertação final. A V?O?H?diz ser muito mais produtivo o desenvolvimento da capacidade de administrar a energia, de ampliar o poder energético pessoal, pois tendo bastante energia a pessoa pode apresentar todos os dons sem que tenha que passar anos a fio efetivando treinamentos exaustivos, para que detenham capacidades que têm valor muito relativo desde que funcionam apenas em nível de Imanência e que o ser precisa é meios de se libertar da escravidão do Mundo de Maya.

Nenhum dos Dons, ou dos Siddhis libertam o ser. Muitas doutrinas os têm como objetivos importantes, mas que na verdade, embora sensacionais, indicam poderes, mas mesmo assim é algo que ocorre em nível de imanência. Em nível de libertação são como demonstrações esportivas, ginásticas ao nível da mente, tal como a ginástica o é ao nível do corpo.

Praticantes de algumas doutrinas levam anos para através da meditação, ou de outros exercícios, entrar em estado de Samadi ou equivalentes. Na verdade isso é muito gratificante, mas algo que só dura momentos, que logo a pessoa volta ao mundo habitual sem trazer nada capaz de libertá-lo da ilusão de mundo. Estados elevados de mente são muito efêmeros, a pessoa volta ao mundo habitual sem que haja sofrido grandes transformações, muitas vezes até mesmo qualquer acréscimo de conhecimentos. Também sem sequer se vê, na quase totalidade das vezes, transformação alguma, nem mesmo ampliação do poder pessoal.

Se poderia dizer que nem mesmo o nível Prâkâmya que dá ao ser a capacidade de realizar todos os seus desejos, realiza o grande salto da libertação. O que consegue realizar são feitos próprios do mundo habitual, coisas limitadas ao Mundo Imanente, ele não chega ao nível da libertação. Pode concretizar desejos dentro do mundo, mas não o poder de sair dele.

Ichatva representa a capacidade de criar, mas não de criar mundos e sim de coisas pertencentes ao mundo, nada, além disso. Ichatva não leva o ser a criar realidades distintas, a transmutar o mundo, como pode fazer o ser que haja adquirido um imenso poder pessoal, que tenha domínio sobre a energia o que o pode tornar um ser liberto.

A Libertação ocorre pela transmutação da realidade, o ser só se liberta quando ele atinge a capacidade de gerar sua realidade própria.José Laércio do Egito - F.R.C.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Caminho de Santiago - O Caminho das Estrelas.



Já vimos que o presumível corpo de Tiago descoberto por um certo Pelágio (homem do mar) em princípios do século nono da nossa era, pode muito bem ser o corpo do bispo Prisciliano, a primeira vítima mortal da perseguição da Igreja aos que considerava hereges.

O nome de Compostela pode ter tido várias origens e, certamente, tem diversos significados. Vulgarmente Compostela quer dizer “o campo da estrela”, uma referência à estrela que teria aparecido indicando o local exacto da sepultura de Tiago. Para os alquimistas pode ser o “compost”, a estrela que se forma na superfície do crisol numa das primeiras operações da Grande Obra. Mas existe um outro significado mais secreto, em que “compost” significa “mestre”, o que dará “Mestre da Estrela”.

Este último significado, apesar de aparentemente incompreensível, relaciona-se com Tiago que, na tradição lígure, um povo que ocupou o ocidente europeu antes dos celtas, Tiago é o nome dado ao talhador da pedra, ou mestre construtor. Neste caso estamos a falar de uma época muito anterior ao advento do cristianismo.

A origem do nome “Tiago” é bem estranha pois, apesar de todas as explicações, é difícil compreender como é que Jacó ou Jacob, por muitas corruptelas que possa ter havido, tenha resultado em Tiago, que acaba também por ser uma corruptela de Santiago (Santo Iago). Este nome só existe em português ou castelhano com algumas variantes como Yago ou Iago.

Mestre Tiago, o talhador de pedra, era natural de uma aldeia dos Pirenéus, e aqui começa outra lenda que nos chega das relações que havia entre fenícios e lígures, dois povos que mantêm ainda hoje um certo mistério, pois desconhecemos realmente quem eram uns e outros, e qual a sua origem. No entanto, esta lenda parece-nos mais verosímil do que a lenda de Santiago.

Tiago era um mestre Jars, um mestre iniciado no tratamento da pedra e a lenda diz-nos que talhava a pedra desde a idade de quinze anos. Na época da construção do Templo de Salomão, este pediu ajuda ao rei de Tiro, Hiram, que era fenício, pois entre os israelitas, um povo que recentemente saíra da vida nómada e de viver em tendas, não havia quem soubesse tratar a pedra e a madeira de cedro, abundante no antigo Líbano. Hiram teria convocado Mestre Tiago e alguns companheiros para o virem ajudar na construção do Templo.

Isto acontece por volta do ano 900 antes da nossa era, de acordo com a Bíblia. Sabe-se que os fenícios mantinham relações comerciais com os lígures, que viajaram por todo o Mediterrâneo e pelo Atlântico, transpondo as “Colunas de Hércules” (Estreito de Gibraltar), e portanto, é natural que tenham visitado muitas vezes a costa da Galiza, aportando talvez a antigas cidades marítimas como Noya. Desta forma teriam tido conhecimento da existência desses mestres construtores ou talhadores da pedra. Assim, não é impossível que esses mestres construtores tenham viajado até Jerusalém para aí participarem da construção do Templo de Salomão.

No século XII, no Códice Calixtino, atribuído ao Papa Calixto II, denomina-se pela primeira vez para a cristandade o Caminho de Santiago como o Caminho das Estrelas, ou da Via Láctea, explicando que o caminho terrestre é o desenho da Via Láctea, porque a sua rota se situa exactamente sob ela, indicando a direcção de Santiago e servindo assim, durante a noite, de orientação aos peregrinos.

Antes da era cristã e da presumível descoberta do corpo de Tiago, essa rota já era um caminho de peregrinação que simbolizava a viajem do Sol de oriente para ocidente, afogando-se no oceano para lá do cabo Finisterra e voltando a renascer no dia seguinte a leste. Havia em Finisterra um templo dedicado ao Sol, o templo de Ara Solis. Actualmente, muitos peregrinos chegados a Compostela, continuam a caminhar até Finisterra, porque entendem que a verdadeira peregrinação ali termina em face do oceano, o que põe em causa, de certo modo, a definição do Caminho como exclusivamente católico.

Ainda que possamos considerar que esta simbologia solar possa estar relacionada com a influência romana pelo seu culto do “Sol Invictus”, é provável que a sua origem seja mais antiga. Embora não existem referências do Sol como divindade entre os celtas, estes celebravam os Equinócios e os Solstícios, rituais relacionados com o Sol. Há também uma clara semelhança entre este caminho solar e o culto egípcio do Sol.

Pode também ser que este culto do Sol não tenha origem celta, mas lígure. Os fenícios consideravam este povo representante da civilização ocidental. É provável que os lígures tenham dado origem a outros povos. Para alguns historiadores, os lusitanos seriam de origem lígure, e não celta. É possível também que os etruscos, anteriores aos romanos na Península itálica, tenham tido origem nos lígures.

Não se sabe muito acerca deste povo, nem da religião que eles praticavam, mas é de supor, considerando que era comum aos povos da antiguidade, que entre as suas divindades o culto do Sol tivesse um lugar importante.

Evidentemente que a Via Láctea não é uma observação exclusiva do Caminho de Santiago. Em qualquer outro lugar da Terra, desde que a noite não seja atenuada pelas luzes das cidades, temos sempre sobre as nossas cabeças esse espectáculo grandioso do mar de estrelas que parece terminar na Constelação de Cão Maior, onde sobressai a estrela mais brilhante do nosso firmamento, Sírius. No entanto, algo de estranho acontece no Caminho de Santiago.

Desde os seus primórdios, logo a seguir ao célebre Concílio de Niceia em que se estabeleceram os seus fundamentos dentro do Império Romano, A Igreja adoptou sempre duas atitudes em relação às tradições e religiões locais que ia encontrando: ou as destruía, substituindo-as pela sua própria doutrina; ou adaptava-as, sempre que se verificasse grande dificuldade em eliminá-las. Isto aconteceu por todo o lado durante os séculos em que a Igreja tinha todo o poder e dominava o mundo ocidental. Na costa mediterrânica, por exemplo, substituiu o culto de Ísis, nas suas variadas formas de expressão, pelo culto de Maria Madalena. No Caminho das Estrelas, não podendo eliminar a sua tradição, adaptou-a e transformou-a num caminho de peregrinação para a cristandade. Para isso usou de muitos artifícios que foram acrescentando detalhes à lenda para a tornar mais verosímil. É o caso da presumível “revelação” de Carlos Magno.

Carlos Magno, filho mais velho de Pepino o Breve, foi rei dos Francos, dos Lombardos e o primeiro Imperador do Sacro Império Romano a partir do ano 800, restaurando o antigo Império Romano do Ocidente. Viveu portanto numa época coincidente com a descoberta do túmulo de Tiago.

Como todo o monarca na altura, passou a vida em batalhas e conquistas. Ao fim de dezoito batalhas conseguiu um império considerável. Nessas conquistas procedeu à conversão forçada ao cristianismo dos povos dominados, massacrando os que se recusavam a converter-se. Mas talvez um dos seus objectivos principais, a conquista da Península Ibérica, nunca o conseguiu realizar.

Carlos Magno nunca se aventurou a passar para ocidente dos Pirenéus, nunca pôs os pés na Península Ibérica, mas fez-se constar que teria visitado o túmulo de Tiago e banhado a espada nas águas do Atlântico. No entanto, apesar de nunca ter trilhado o Caminho das Estrelas, no seu túmulo em Aix-la-Chapelle encontram-se esculpidas duas filas de estrelas assinalando a sua “revelação” no Caminho de Compostela.

Por estranho que possa parecer, estas duas filas de estrelas existem no terreno, mais ou menos ao longo do paralelo 42.

Se desenharmos duas linhas rectas entre a costa atlântica e a costa mediterrânica do sul de França, vamos encontrar essas duas filas de estrelas ao longo do paralelo 42. Assim, partindo da costa mediterrânica em direcção a oeste, que é o sentido do Caminho, na latitude 42º 30´ vamos encontrar “Pic Estelle” (Pico da Estrela), depois “Puig de l´ Estelle” (Monte da Estrela) e, mais a oeste encontramos o “Puig de Tres Estelles”. Continuando para oeste encontramos mais algumas povoações cujos nomes estão relacionados com as estrelas. Esta linha termina perto de Pontevedra, na ilha de La Toja.

Um pouco mais a norte, numa latitude de 42º 46´ encontramos outra fila de estrelas. Começando no leste temos “Les Eteilles”, a seguir vem “Estillon”, depois “Lizarra”, Lizarraga, todos nomes que significam uma relação com as estrelas. Esta linha passa um pouco a sul de Compostela, mas passa sobre o Pico Sacro e vai terminar em Noya.

Desconhecemos a antiguidade destas povoações, mas acreditamos que sejam mais antigas que o cristianismo, pois alguns dos nomes, como Lizarra, são em língua basca. Se não eram originalmente povoações, eram pelo menos marcos de um caminho demarcado com toda a precisão por uma ciência antiga da qual nos sobraram alguns testemunhos.

Como veremos em próximos capítulos, existe uma relação entre o Caminho de Compostela e o Antigo Egipto onde, principalmente aqui, se encontra a expressão maior desse conhecimento antigo: a Grande Pirâmide. Para além das especulações e das várias teorias sobre a sua construção, alguns dados são simplesmente fantásticos: está situada num meridiano que atravessa o maior número de terras e menor número de mares, o que pressupõe um excelente conhecimento geográfico; o côvado, que talvez tenha sido a medida usada para a sua construção, é a décima milionésima parte do raio de Terra no pólo; a sua altura corresponde à bilionésima parte da distância média da Terra ao Sol.

A hipótese das linhas do Caminho de Compostela serem obra do acaso não pode ser considerada. Não é possível que essas povoações tenham nascido exactamente ao longo do mesmo paralelo por acaso ou coincidência. Então, essas linhas terão sido traçadas em tempos remotos com determinada finalidade. Qual?

Juan G. Atienza, no seu livro sobre Compostela “La Ruta Sagrada” diz o seguinte:

“O Caminho constitui um itinerário sagrado em direcção a mitos que nos dão conta de um arcaico centro do mundo, onde se encontravam supostamente implantadas chaves fundamentais do conhecimento transcendente.”
Manuel O. Pina

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

DEUSA ÍSIS.

Eu concebi
carreguei
e dei à luz a toda vida
Depois de dar-lhe todo meu amor
Dei-lhe também meu amado Osíris
Senhor da vegetação
Deus dos cereais
para ser ceifado
e nascer outra vez
Cuidei de você na doença
fiz suas roupas
observei seus primeiros passos
Estive com você até mesmo no final
segurando sua mão
para guiá-lo para a imortalidade
Você para mim é TUDO
E eu lhe dei TUDO
E para você eu fui TUDO
Eu sou sua Grande-Mãe, ÍSIS.

Nossa amada Deusa Ísis foi cultuada e adorada em inúmeros lugares, no Egito, no Império Romano, na Grécia e na Alemanha. Quando seu amado Osíris foi assassinado e desmembrado pelo seu irmão Seth que espalhou seus pedaçospor todo o Egito, Ísis procurou-os e os juntou novamente. Ela achou todos eles, menos seu órgãos sexual, que substitui por um membro de ouro. Através de magia e das artes de cura, Osíris volta à vida. Em seguida, ela concebe seu filho solar Hórus.
Os egípcios ainda mantêm um festival conhecido como a Noite da Lágrima. Tal festival tem sido preservado pelos árabes como o festival junino de Lelat-al-Nuktah.


ÍSIS, DO MITO À HISTÓRIA.

No começo só existia o grande, imóvel e infinito mar universal, sem vida e em absoluto silêncio. Não havia nem alturas, nem abismos, nem princípio, nem fim, nem leste, nem oeste, nem norte e nem sul. Das primeiras sombras se desprenderam as trevas e apareceu o caos. Desse ilimitado e sombrio universo surgiu a vida e, com ela, a estirpe dos Deuses.
Conta a mitologia solar que o criador de tudo foi Atum, o Pai dos Pais. A partir do momento que Atum toma consciência de si mesmo, ele tornou-se Rá.
Em sua infinita sabedoria, o Deus consciente, desejou e materializou uma separação entre si mesmo e as águas primordiais, desejando emergir a primeira terra seca em forma de colina a que os egípcios chamaram a "colina benben".
Então Atum criou os outros Deuses. Recolheu seu próprio sêmen na mão, e engolindo-o se fecundou a si mesmo. Vomitou, dando vida a Shu e Tefnut, o ar seco e o ar úmido.
Shu e Tefnut se unem e dão a luz ao Deus Geb, a terra, e a Deusa Nut, o céu, que, por sua vez, quando se uniram fisicamente tiveram quatro filhos: Osíris (Deus da Ordem), Seth (Deus da Desordem) e suas irmãs Ísis e Neftis, nascidos nessa ordem. A nova geração completa o número de nove divindades, a Enéada, que começa com o Deus criador primordial. Na escrita egípcia o três era utilizado para representar o número plural, enquanto que o nove proporciona um meio simbólico de indicar o "todo". A Enéada do Deus Sol é conhecida entre os egiptólogos como a Enéada Heliopolitana.
Osíris, o primogênito, havia herdado de seu pai Geb a terra para governá-la. Já a Deusa Ísis, cujo nome significa "o trono", "a sede" (capital), se uniu a seu irmão Osíris, para sustentar todo o seu poder, estabelecendo-se assim, o primeiro casal real do Egito. Se ele era o rei, soberano da terra, ela ia ser seu trono, a sede eternamente estável, de onde era exercida toda a realeza sobre o Egito.


ÍSIS E O NOME SECRETO DE RÁ.

O Deus Sol Rá tinha tantos nomes que inclusive os Deuses não conheciam todos. Um dia, a Deusa Ísis, Senhora da Magia, se pôs a aprender o nome de todas as coisas, para tornar-se tão importante como o Deus Rá.
Depois de muitos anos, o único nome que Ísis não sabia era o nome secreto de Rá, assim decidiu enganá-lo para descobrir.
A cada dia, enquanto voava pelo céu, Rá envelhecia e até já começava a babar. Ísis recolheu sua baba e modelando-a com terra, deu forma a uma serpente, que depois colocou no caminho de Rá. Esse foi mordido e caiu ao solo agonizante. Ísis disse ao Deus que poderia curá-lo, desde que ele lhe revelasse seu nome secreto. Ele se negou, porém ao notar que o veneno da cobra era potente suficientemente para matá-lo, não teve outra opção a não ser revelá-lo. Com esse conhecimento secreto, Ísis pode apropriar-se de parte do poder de Rá.


ÍSIS E OSÍRIS (segundo Plutarco).

No Egito, assim como na Babilônia, o culto da lua precedeu o do sol. Osíris, Deus da lua, e Ísis, a Deusa da lua, irmã e esposa de Osíris, a mãe de Hórus, o jovem Deus da lua, aparecem nos textos religiosos antes da quinta dinastia (cerca de 3.000 a. C.).
É difícil fazer um estudo conciso sobre o significado do culto de Ísis e Osíris, pois, durante muitos séculos nos quais esta religião floresceu, aconteceram mudanças na compreensão dos homens em relação a ele.
Nos primeiros registros, Osíris, parece ser um espírito da natureza, concebido como o Nilo ou como a lua, o qual, pensava-se, controlava as enchentes periódicas do rio. Era o Deus da umidade, da fertilidade e da agricultura. Durante o período da lua minguante, Seth, seu irmão e inimigo, um demônio de um vermelho fulvo incandescente, devorava-o. Dizia-se que Seth tinha se unido a uma rainha etíope negra para ajudá-lo na sua revolta contra Osíris, provavelmente uma alusão à seca e ao calor, que periodicamente vinham do Sudão, assolavam e destruíam as colheitas da região do Nilo.
Seth era o Senhor do Submundo, no sentido de Tártaro e não de Hades, usando-se termos gregos. Hades era o lugar onde as sombras dos mortos aguardavam a ressureição, correspondendo, talvez, à idéia católica do purgatório. Osíris era o Deus do Submundo neste sentido, Tártaro é o inferno dos condenados, e era deste mundo que Seth era o Senhor.
Nas primeiras formas do mito, Osíris era a lua e Ísis a natureza, Urikitu, a Verde da história caldéia. Mas, posteriormente, ela tornou-se a lua-irmã, mãe e esposa do Deus da lua. É neste ciclo que este mito primitivo da natureza começou a tomar um significado religioso mais profundo. Os homens começaram a ver na história de Osíris, que morreu e foi para o submundo, sendo depois restituído à vida pelo poder de Ísis, uma parábola da vida interior do homem que iria transcender a vida do corpo na terra.
Os egípcios eram um povo de mente muito concreta, e concebiam que a imortalidade poderia ser atingida através do poder de Osíris de maneira completamente materialista. Era por essa razão que conservavam os corpos daqueles que tinham sido levados para Osíris, através da iniciação, como conta o "Livro dos Mortos"; com efeito, acreditavam que, enquanto o corpo físico persistisse, a alma, ou Ka, também teria um corpo no qual poderia viver na Terra-dos-bem-aventurados, como Osíris que, no texto de uma pirâmide da quinta dinastia, é chamado de "Chefe daqueles que estão no Oeste", isto é, no outro mundo.
Ísis e Osíris eram irmãos gêmeos, que mantinham relações sexuais ainda no ventre da mãe e desta união nasceu o Hórus-mais-velho. No Egito, nesta época, era hábito entre os faraós e as divindades a celebração de núpcias entre irmãos, para não contaminar o sangue.
A história continua contando que quando Osíris tornou-se rei, livrou os egípcios de uma existência muito primitiva. Ensinou-lhes a agricultura e a feitura do vinho, formulou leis e instruiu como honrar seus deuses. Depois partiu para uma viagem por todo o país, educando o povo e encantando-o com sua persuasão e razão, com a música, e "toda a arte que as mesas oferecem".
Enquanto ele estava longe sua esposa Ísis governou, e tudo correu bem, mas tão logo ele retornou, Seth, que simbolizava o calor do deserto e da luxúria desenfreada, forjou um plano para apanhar Osíris e afastá-lo. Confeccionou um barril do tamanho de Osíris. Então convidou todos os Deuses para uma grande festa, tendo escondido seus setenta e dois seguidores por perto. Durante a festividade, mostrou seu barril que foi admirado por todos. Prometeu dá-lo de presente àquele que coubesse nele. Então todos entraram nele por sua vez, mas ele se ajustou somente a Osíris. Neste momento, os homens escondidos apareceram e, rapidamente lacraram a tampa do barril. Levaram-o e jogaram no rio Nilo. Ele boiou para longe e alcançou o mar pela "passagem que é conhecida por um nome abominável".
Este evento ocorreu no décimo sétimo dia de Hator, isto é, novembro, no décimo oitavo ano de reinado de Osíris. Ele viveu e reinou por um ciclo de vinte e oito períodos ou dias, porque ele era a lua, cujo ciclo completa-se a cada vinte e oito dias.
Quando Ísis foi sabedora dos acontecimentos fatídicos, cortou uma mecha de seu cabelo e vestiu roupas de luto e vagou por todos os lugares, chorando e procurando pelo barril. Foi seu cachorro Anúbis, que era filho de Néftis e Osíris, que levou-a até o lugar onde o caixão tinha parado na praia, no país de Biblos. Ele havia ficado perto de uma moita de urzes, que cresceram tanto com sua presença, que tornou-se uma árvore que envolveu o barril. O rei daquele país mandou cortar a tal árvore e de seu tronco fez uma viga para a cumeeira de seu palácio, sem sequer imaginar que o mesmo continha o barril.
Ísis para reaver seu marido, fez amizade com as damas de companhia da rainha daquele país e acabou como enfermeira do príncipe. Ísis criou o menino dando-lhe o dedo ao invés de seu peito para mamar.
Os nomes do rei e da rainha são: Malec e Astarte, ou Istar. Bem sugestivo, pois nos faz ver que Ísis teve que recuperar o corpo de Osíris de sua predecessora da Arábia.
Acabou tendo que revelar-se para a rainha e implorou pelo tronco da árvore que continha o corpo de Osíris. Ísis retirou o barril da árvore e levou-o consigo em sua barcaça de volta para casa. Ao chegar, escondeu o caixão e foi procurar seu filho Hórus, para ajudá-la a trazer Osíris de volta à vida.
Seth que havia saído para caçar com seus cachorros, encontra o barril. Abriu-o e cortou o corpo de Osíris em catorze pedaços espalhando-os. Aqui temos a fragmentação, os catorze pedaços que óbviamente referem-se aos catorze dias da lua.
Ísis soube do ocorrido e saiu à procura das partes do corpo. Viajou para longe em sua barcaça e onde quer que acahasse uma das partes fazia um santuário naquele lugar. Conseguiu reunir treze das peças unindo-as por mágica, mas faltava o falo. Então fez uma imagem desta parte e "consagrou o falo, em honra do qual os egípcios ainda hoje conservam uma festa chamada de "Faloforia", que significa "carregar o falo".
Ísis concebeu por meio dessa imagem e gerou uma criança, o Hórus-mais-jovem.
Osíris sugiu do submundo e apareceu para o Hórus-mais-velho. Treinou-o então para vingar-se de Seth. A luta foi longa, mas finalmente Hórus trouxe Seth amarrado para sua mãe.
Este é o resumo do mito.
Os cerimoniais do Egito eram relacionados com esses acontecimentos. A morte de Osíris, interpretada todos os anos, bem como as perambulações de Ísis e suas lamentações, tinham um papel conspícuo. O mistério final de sua ressureição e a demonstração pública, em procissão, do emblema de seu poder, a imagem do falo, completavam o ritual. Era uma religião na qual a participação emocional da tristeza e alegria de Ísis tinha lugar proeminente. Posteriormente, tornou-se de fato uma das religiões nas quais a redenção era atingida através do êxtase emocional pelo qual o adorador sentia-se um com Deus.

ARQUÉTIPO DA PROVEDORA DA VIDA.

É pelo poder de Ísis, através de seu amor, que o homem afogado na luxúria e na paixão, eleva-se a uma vida espiritual. Ísis, antes de tudo, é provedora da vida. Comumente é representada amamentando seu filho Hórus, pois ela é a mãe que nutri e alimenta tudo que gera. Ísis com seu bebê no colo, acabou transformada na Virgem Maria com o menino Jesus.
Embora Isis fosse considerada como mãe universal ela era venerada como protetora das mulheres em particular. Sendo aquela que dá a vida, que presidia sobre vida e morte, ela era protetora das mulheres durante o parto e confortava aquelas que perdiam seus entes queridos. Em Ísis, as mulheres encontravam o apoio e a inspiração para prosseguirem com suas vidas. Ísis proclamava ser, em hinos antigos, a deusa das mulheres e dotava suas seguidoras de poderes iguais aos do homem.
Esta Deusa é também freqüentemente representada como uma Deusa negra. Este fato está diretamente associado ao período de luto de Ísis (morte de Osíris), quando ela vestia-se de preto ou ela própria era preta.
As estátuas pretas de Ísis tinham também um outro sentido. Plutarco declara que "suas estátuas com chifres são representações da Lua Crescente, enquanto que as estátuas com roupa preta significavam as ocultações e as obscuridades nas quais ela segue o Sol (Osíris), almejando por ele. Conseqüentemente, invocam a Lua para casos de amor e Eudoxo diz que Ísis é quem os decide".
No Solstício de Inverno, a Deusa, na forma de vaca dourada, coberta por um traje negro, era carregada sete vezes em torno do Santuário de Osíris morto, representando as perambulações de Ísis, que viajou através do mundo pranteando sua morte e procurando pelas partes espalhadas de seu corpo. Este ritual, era um procedimento mágico, que tencionava prevenir que a seca invadisse as regiões férteis do Nilo, pois a ressurreição de Osíris era, naquela época, um símbolo da enchente anual do Nilo, da qual a fertilidade da terra dependia.


ÍSIS E HÓRUS.

Muita conhecida de todos os nós é a história de Hórus, o filho de Ísis, a Deusa do Egito, tanto quanto os também tão estimados e conhecidos Maria e o menino Jesus no cristianismo. Entretanto, existem algumas diferenças entre os dois: a Ísis é adorada como uma divindade maternal muito antiga. Algumas vezes é representada com um disco do sol (ou lua) na cabeça, flanqueada à direita e à esquerda por dois chifres de vaca. A vaca era e é por seu úbere dispensador de leite o animal-mãe, usado em muitas culturas como símbolo materno. Outra diferença fundamental entre Ísis e Maria é também o fato de Ísis ter sido venerada como a grande amada. Ainda no ventre materno ela se casou com seu irmão gêmeo Osíris, que ela amava acima de tudo.
Nos rituais antigos egípcios, executados para obter a ressurreição, o olho de Hórus tinha papel muito importante e era usado para animar o corpo do morto cujos membros tinham sido reunidos. Hórus, filho e herdeiro por excelência, é invocado também, para que impeça a ação do réptéis que estão no céu, na terra e na água, os leões do deserto, os crocodilos do rio.
Protetor da realeza, Hórus desempenha ainda, o papel capital do Deus da cura. A magia de Hórus desvia as flechas do arco, apazigua a cólera do coração do ser angustiado.


ARQUÉTIPO DE CURA.

Ísis era invocada nas antigas escrituras como a senhora da cura, restauradora da vida e fonte de ervas curativas. ela era venerada como a senhora das palavras de poder, cujos encantamentos faziam desaparecer as doenças.
À noção de magia liga-se também, imediatamente ao nome de Ísis, que conhece o nome secreto do Deus supremo. Ísis dipõe do poder mágico que Geb, o Deus da Terra, lhe ofereceu para poder proteger o filho Hórus. Ela pode fechar a boca de cada serpente, afastar do filho qualquer leão do deserto, todos os crocodilos do rio, qualquer réptil que morda. Ela pode desviar o efeito do veneno, pode fazer recuar o seu fogo destruidor por meio da palavra, fornecer ar a quem dele necessite. Os humores malignos que perturbam o corpo humano obedecem a Ísis. Qualquer pessoa picada, mordida, agredida, apela a ísis, a da boca hábil, identificiando-se com Hórus, que chama a mãe em seu socorro. Ela virá, fará gestos mágicos, mostrar-se-á tranqüilizadora ao cuidar do filho. Nada de grave irá lesar o filho da grande Deusa.
Ísis aparece em na nossa vida para dizer que é hora de meditar. Você tem desperdiçado sua energia maternal sem guardar um pouco para si mesma? Sua mãe lhe deu todo o amor que você precisou? Pois agora é tempo de você se dar "um colo" para curar as mágoas do passado. Todos nós precisamos de cuidados maternos, independente de sermos donzela, mãe ou mulher madura.


ARQUÉTIPO DA MÃE-NATUREZA.

Ísis, Deusa da lua, também é Mãe da Natureza. Ela nos diz que para este mundo continuar a existir tudo que é criado um dia precisa ser destruído. Ísis determina que não deve haver harmonia perpétua, com o bem sempre no ascendente. Ao contrário, deseja que sempre exista o conflito entre os poderes do crescimento e da destruição. O processa da vida, caminha sobre estes opostos. O que chamamos de "processo da vida", não é idêntico ao bem-estar da forma na qual a vida está neste momento manifesta, mas pertence ao reino espiritual no qual se baseia a manifestação material.
Com certeza, se a morte e a decadência não tivessem dotados de poderes tão grandes quanto as forças da criação, nosso mundo inteiro já teria alcançado o estado de estagnação. Se tudo permanecesse para sempre como foi primeiramente feito, todas as capacidades de "fazer" teriam sido esgotadas há séculos. A vida hoje estaria hoje totalmente paralisada. E, assim, inesperadamente, o excesso de bem, acabaria em seu oposto e tornar-se-ia excesso de mal.
Ísis, tanto na forma da natureza, como na forma de Lua, tinha dois aspectos. Era criadora, mãe, enfermeira de todos e também destruidora.
O nome Ísis, significa "Antiga" e era também chamada de "Maat", a sabedoria antiga. Isto corresponde a sabedoria das coisas como são e como foram, a capacidade inata inerente, de seguir a natureza das coisas, tanto na forma presente como em seu desenvolvimento inevitável, uma relação à outra.P.Wikepédia.

domingo, 5 de agosto de 2012

NAS MARGENS DO GANGES - por Rabindranath Tagore.


Se gostas de ouvir narrações dos tempos passados, então senta-te nesse degrau e presta atenção ao chapinhar da água.
Estávamos nas proximidades do mês de Ashwin (Setembro). A ribeira ia cheia. Da escadaria que descia, somente quatro degraus estavam fora da água. Na margem da ribeira cresciam tufos de plantas compactos sob os ramos dos bosques de mangueiras, onde a corrente formava um ângulo e deixava a descoberto três grandes montões de tijolo As barcas de pesca, amarradas aos troncos de babilas, balouçavam-se indolentemente. Os grandes caniços que cobriam o banco de areia captavam os primeiros raios de sol e começavam a florir antes de atingir o seu pleno desenvolvimento.
Os barcos abriam as suas velas sobre a ribeira cheia de sol. O sacerdote, com os seus vasos rituais, dispunha-se a tomar o banho. As mulheres, em grupos, vinham buscar água. Era a hora em que Kusum tinha o costume de aparecer no alto da escadaria e tomar banho.
Mas naquela manhã não a vi chegar. Diante do ghât (1), Bhudan e Swarno lamentavam-se. A sua amiga - diziam - tinha sido levada para casa do marido, uma localidade muito afastada da ribeira, e que se distinguia por uma população estranha, casas estranhas e caminhos estranhos.
Entretanto ela quase desapareceu da minha memória. Passou um ano. As mulheres que vinham tomar banho falavam novamente de Kusum. Uma tarde, porém, estremeci ao reconhecer dois pés familiares. Mas ai, eles não traziam anéis e tinham perdido o seu tilintar musical de outrora!
Kusum estava viúva. Dizia-se que o marido fora chamado a uma cidade longínqua e que ela apenas o vira uma ou duas vezes. O correio trouxera-lhe a notícia da sua morte. Viúva aos oito anos, apagara na fronte o sinal vermelho de casada, despojara-se dos seus braceletes e voltara para a velha casa à beira do Ganges. Mas encontrou poucas amigas dos tempos de solteira. Bhudan, Swarno e Amala tinham casado e partido; só Sarat ficara; mas afirmavam que se dispunha a casar em Dezembro.
Da mesma forma que o Ganges, na estação das chuvas aumenta gradualmente de volume e transborda, assim Kusum se aproximava, dia a dia, da plena floração de beleza. Mas com vestes brancas e sem enfeites, de rosto pensativo e atitude calma, lançavam-lhe um véu sobre a juventude e ocultavam-na, como uma bruma, aos olhos dos homens. Dez anos tinham decorrido sem que ninguém reparasse que Kusum se desenvolvia.
Uma manhã, há muitos anos e por esta mesma temperatura de fim de Setembro, um sannyasi (2) jovem e de pele clara, chegado não se sabe donde, veio abrigar-se no templo de Sivá, na minha frente. A notícia da sua chegada em breve se espalhou por toda a aldeia. Abandonando as bilhas, as mulheres acorriam ao templo para saudar o santo homem.
A multidão aumentava de dia para dia. A fama do sannyasi depressa se espalhou entre as mulheres. Ele, ora recitava o Bhagvat ora comentava o Gita (3), ou pregava no templo acerca do tema que escolhiam num livro santo. Uns pediam-lhe conselhos, outros os seus sortilégios ou a sua ciência de curar.
Passaram-se meses. Em Abril, na época do eclipse solar, os banhos do Ganges atraíam uma multidão considerável. Uma feira se organizou sob as árvores de babla. Entre os numerosos peregrinos, acorridos para saudar o sannyasi, vinha um grupo de mulheres da aldeia onde Kusum fora casada.
Era uma manhã. O sannyasi, sentado num degrau, rezava, quando, de súbito, entre os peregrinos, uma mulher fazendo sinal a uma das suas companheiras, murmurava:
- Mas é o esposo de Kusum!
A companheira, afastando um pouco o véu exclamou:
- Palavra, é bem ele! É o filho mais novo dos Chattergi, que habita na minha aldeia!
Uma terceira, disse por sua vez:
- Ele tem exactamente a mesma testa, o mesmo nariz e os mesmos olhos.
Enquanto uma outra, sem mesmo olhar para o sannyasi, agitava a sua bilha na água, suspirando:
- Ai! Ele não é nem será o que foi! Pobre da Kusum!
Uma delas objectou então: «Ele não tinha uma barba tão grande»; e outra: «Ele não era tão magro»; uma outra ainda: «Parecia-me mais alto». E a discussão ficou por aí.
Uma noite de lua cheia, Kusum veio sentar-se perto da água, no mais alto dos meus degraus.
A sua sombra projectava-se sobre mim.
Estávamos sós junto do ghât. Os grilos cantavam à nossa volta. O tanger dos gongos e das sinetas do templo tinham cessado e o murmúrio da água era cada vez mais fraco, para se perder em breve, como a saudade dum som, nos bosques indistintos da margem oposta. Um raio da lua brilhava nas águas escuras do Ganges. Ao montante do rio, sob as sebes e arbustos, sob o pórtico do templo e sob os bosques das palmeiras, perfilavam-se sombras de formas fantásticas. Os morcegos balouçavam-se nos ramos de chatuns. Na proximidade das habitações, os chacais soltavam uivos arrepiantes e prolongados.
O sannyasi saiu do templo com o seu passo lento. Desceu alguns degraus ghât e viu uma mulher só. Ia afastar-se quando de súbito Kusum ergueu a cabeça; voltou-se. O véu caiu e a lua iluminou-lhe o rosto.
Um mocho voou por cima da sua cabeça. Ao ouvir o pio da ave ela estremeceu, ajustou o véu e prosternou-se aos pés do sannyasi.
O Sannyasi deu-lhe a bênção e perguntou:
- Quem sois?
Ela respondeu:
- O meu nome é Kusum.
Nessa noite não trocaram mais palavra. Kusum voltou para casa, lentamente, e o sannyasi permaneceu durante longas horas nos degraus do ghât. Quando, enfim, a lua emigrou do este para o oeste, o Sannyasi levantou-se e entrou no templo.
Vi todos os dias Kusum vir prosternar-se aos pés do sannyasi. Quando ele comentava os livros sagrados, permanecia a um canto e escutava-o; quando acabava as suas orações da manhã, ele chamava-a para junto de si e conversava com ela sobre assuntos religiosos. Kusum não podia compreender tudo, mas escutava-o com atenção e fazia esforços para o compreender. Ele dirigia-a e ela obedecia-lhe escrupulosamente. Kusum ajudava o serviço, sempre pronta à adoração de Deus, colhendo flores para a oferenda e indo buscar água ao Ganges para lavar o chão do templo.
O inverno ia terminar. Os ventos eram ainda frios, por vezes; à noite, a brisa quente da primavera soprava bruscamente do sul e o céu tornava-se azulado; depois dum longo silêncio ouvia-se novamente o som das flautas e a música da aldeia. Os barqueiros deixavam ir os barcos ao sabor da corrente, paravam de remar e entoavam cânticos a Krishna. Era a primavera.
Nesta altura, perdi Kusum de vista. Havia alguns dias que ela deixara de aparecer no templo, no ghât ou diante do sannyasi.
Ignoro o que se passou então, mas, pouco depois, os dois encontraram-se de novo, uma noite, nas escadarias.
Com os olhos baixos, Kusum perguntou:
- Senhor, chamou-me?
- Sim, porque não vinhas? Porque esqueceste, há algum tempo, o serviço de Deus?
Ela ficou silenciosa.
- Diz-me o teu pensamento, sem receio.
Voltando o rosto, ela respondeu:
- Senhor, eu sou uma pecadora, faltei ao meu dever de adoração.
O sannyasi disse-lhe:
- Kusum, eu sei que a tua alma está perturbada.
Ela estremeceu ligeiramente; depois, cobrindo o rosto com o Sari, sentou-se no degrau aos pés do sannyasi e começou a chorar.
Ele recuou um pouco e continuou:
- Diz-me o que tens no coração; eu te mostrarei o caminho da paz.
Ela respondeu com fé e palavras entrecortadas:
- Se me ordena, falarei. Mas receio que não possa exprimir-me com clareza. Mestre, certamente adivinhou tudo. Eu adorei um ser humano como a um Deus, venerei-o, e, ao render-lhe este culto, o meu coração transbordou de felicidade. Mas uma noite, eu sonhei que o Senhor da minha alma estava sentado num jardim, estreitando a minha mão direita na sua mão esquerda e murmurava palavras de amor. A cena não parecia de forma alguma estranha. O sonho desfez-se, mas a sua impressão ficou. No dia seguinte, quando os meus olhos se levantaram para ele, pareceu-me diferente. A imagem que me apareceu no sonho continuava a perseguir-me. Atemorizada tentei fugir para longe, mas a imagem não saía do meu espírito. Desde então, a minha alma não conhece a paz, e tudo em mim se tornou sombrio!
Enquanto enxugava as lágrimas ao mesmo tempo que falava, o Sannyasi martelava convulsivamente, com o pé, o degrau de pedra.
Quando ela acabou de contar, o Sannyasi perguntou:
- Diz-me: quem viste no teu sonho?
Com as mãos juntas, ela suplicou:
- Não posso.
Ele insistiu:
- Deves dizer-me tudo.
Ela contorceu as mãos e interrogou:
- Assim o deseja?
- É teu dever! - respondeu o sannyasi.
Então ela exclamou:
- Senhor, fostes vós que eu vi!
E deixando-se cair no degrau, começou a soluçar profundamente.
Quando sossegou e pôde levantar-se, o Sannyasi disse numa voz meiga:
- Deixarei este lugar esta mesma noite e não me verás mais. Sabes que sou um sannyasi e que não pertenço a este mundo. Deves esquecer-me.
Kusum respondeu em voz baixa:
- Assim farei, Senhor!
O sannyasi murmurou:
- Digo-te adeus...
Sem dizer palavra, Kusum inclinou-se e tocou os pés do sannyasi com a fronte.
E o santo homem deixou a aldeia.
A lua desaparecera; a noite tornou-se escura. Ouvia-se o chapinhar da água. O vento soprava furiosamente nas trevas, como se quisesse varrer as estrelas do céu.