contos sol e lua

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Lilith.

Lilith é vulgarmente tratada como um demônio da noite. Ela é também referida na Cabalá como a primeira mulher do bíblico Adão. Pensa-se que o Relevo Burney, um relevo sumeriano, a represente. Muitos acreditam que há uma relação entre Lilith e Inanna, deusa sumeriana da guerra e do prazer sexual. Inanna era a deusa (dingir) do amor, do erotismo, da fecundidade e da fertilidade, entre os antigos sumérios, sendo associada ao planeta Vênus. Era especialmente cultuada em Ur, mas era alvo de culto em todas as cidades sumerianas. Surge em praticamente todos os mitos, sobretudo pelo seu caráter de deusa do amor (embora seja sempre referida como a virgem Inanna); por exemplo, como se a deusa tivesse se apaixonado pelo jovem Dumuzi, tendo este morrido, a deusa desceu aos infernos para resgatá-lo dos mortos, para que este pudesse dar vida à humanidade, agora transformado em deus da agricultura e da vegetação. É cognata das deusas semitas da Mesopotâmia (Ishtar) e de Canaã (Asterote e Anat), tanto em termos de mitologia como de significado. O dia 2 de janeiro é tradicionalmente consagrado a Ishtar, a deusa dos acádios, herança dos seus antecessores sumérios, cognata da deusa Asterote dos filisteus, de Ísis dos egípcios. Mais tarde, ela foi assumida também na Mitologia Nórdica como Easter, a deusa da fertilidade e da primavera. Essa deusa era irmã gêmea de Shamash e filha do importante deus lua – Sin. Considerados uma das maravilhas do mundo, os Portões de Ishtar, na Babilônia, foram transportados para um museu na Europa, o Museu de Berlim. Uma réplica se encontra no Iraque. Astarte e Afrodite Astarte (em grego Αστάρτη e em hebraico עשתרת) – personagem do panteão fenício e na tradição bíblico-hebraica conhecida como deusa dos Sidônios (I Reis 11:2). Era a mais importante deusa dos fenícios. Filha de Baal e irmã de Camos. Deusa da lua, da fertilidade, da sexualidade e da guerra, adorada principalmente em Sidom, Tiro e Biblos. A deusa Astarte foi a mais importante das numerosas divindades fenícias e a única que permaneceu inamovível na sua rica mitologia, apesar das profundas e contínuas mudanças no culto que resultaram de diversas influências oriundas de toda a área do Mediterrâneo, recebidas por este povo de navegantes. A deusa era uma representação das forças da fecundidade e, como tal, foi adorada sob diversos aspectos. Todos eles tinham em comum a imagem de uma deusa amorosa, bela, fecunda e maternal. Chamaram-lhe Kubaba-Cibeles na Síria do Norte. Esta e as outras divindades fenícias eram adoradas em santuários, mas o seu culto não carecia de esculturas religiosas, pelo que, muitas vezes, elas faltavam nos templos. A sua sede era uma simples pedra ou pilone no centro do lugar sagrado. A proteção divina na vida doméstica era invocada em estatuetas de material tosco, inacabadas, ou em amuletos de inspiração egípcia, como, por exemplo, o célebre escaravelho solar das pinturas faraônicas. Tem muitos atributos relacionados com Afrodite, a deusa grega do amor, do sexo, da regeneração e da beleza corporal. De acordo com o mito mais aceito, nasceu quando Urano (pai dos Titãs) foi castrado por seu filho Cronos, que atirou os genitais cortados de Urano no oceano, e este começou a ferver e espumar. De aphros (“espuma do mar”), ergueu-se Afrodite e o mar a carregou para Chipre. Por isso, um de seus epítetos é Kypris. Assim, Afrodite é de uma geração mais antiga que a maioria dos outros deuses olímpicos. Afrodite (em grego, Αφροδίτη) era a deusa grega da beleza e da paixão sexual. O seu culto estendeu-se a Esparta, Corinto e Atenas. Foi identificada como Vênus pelos romanos. Suas festas eram chamadas de afrodisíacas e eram celebradas por toda a Grécia, especialmente em Atenas e Corinto. Suas sacerdotisas eram prostitutas sagradas, que representavam a deusa, e o sexo com elas era considerado um meio de adoração e contato com a deusa. Seus símbolos incluem a murta, o golfinho, o pombo, o cisne, a romã e a limeira. Entre seus protegidos, contam-se os marinheiros e artesãos. Com o passar do tempo, e com a substituição da religiosidade matrifocal pela patriarcal, Afrodite passou a ser vista como uma deusa frívola e promíscua, como resultado de sua sexualidade liberal. Parte dessa condenação a seu comportamento veio do medo humano frente à natureza incontrolável dos aspectos regidos pela deusa do amor. Voltando a Lilith…Contam algumas histórias que Lilith é também chamada de “A mulher escarlate”, um demônio que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças, Cérbero. Outros aspectos e nomes de Lilith, além dos já citados, são: Aino (finlandesa, Deusa da Beleza); Amaterasu (japonesa, Deusa do Sol, liderança); Axo Mama (peruana, Deusa da Fertilidade); Cibele (asiana menor, Deusa da Fertilidade); Hathor (egípcia, Deusa do Amor); Freya (norueguesa, Deusa do Amor e da Cura); Hécate (grega, Deusa da Magia e da Morte); Itchita (siberiana, A Grande Mãe); Oxum (africana, Deusa da Fertilidade e do Amor); Kaly (hindu, a face escura da Grande Mãe). Na origem de todos os povos do mundo sempre existiu a tradição de um casal fundador da raça humana. A maioria é formada por casais-deuses, exceto nas religiões patriarcais, como a judaico-cristã-islâmica, em que um único Deus masculino formou todas as coisas e seres. Entretanto, ao estudar a espiritualidade hebraica, por meio da Cabala, aprendemos que o grande deus monoteísta não é do sexo masculino, ele é completo em si mesmo; o que existem são divisões de gênero, inclusive é uma insolência lhe dar aspecto humano, pois sua essência é luz pura. E desde quando luz tem sexo? Ao se estudar Carl Jung, descobriremos que dentro de cada homem há uma mulher (anima) e em cada mulher há o princípio masculino (animus). Esse eterno jogo de yin-yang se ajusta e se completa. Portanto, nenhum indivíduo é inteiramente masculino ou inteiramente feminino. Cada um de nós é composto dos dois elementos e esses dois constituintes estão freqüentemente em conflito. O princípio feminino ou “Eros” é universalmente representado pela Lua e o princípio masculino ou “Logos”, pelo Sol. O mito da criação no Gênesis afirma: Deus criou duas luzes, a luz maior para reger o dia e a luz menor para reger a noite. O Sol como princípio masculino é o soberano do dia, da consciência, do trabalho e da realização, do entendimento e da discriminação conscientes, o Logos. A Lua, o princípio feminino, é a soberana da noite, do inconsciente. É a deusa do amor, controladora das forças misteriosas que fogem à compreensão humana, atraindo os seres humanos irresistivelmente um para o outro, ou separando-os inexplicavelmente. Ela é o Eros, poderoso, fatídico e totalmente incompreensível. Na natureza, o princípio feminino ou a deusa feminina mostra-se como uma força cega, fecunda, cruel, criativa, acariciadora e destruidora. É a fêmea das espécies mais mortal que o macho, feroz em seu amor como também com seu ódio. Esse é o princípio feminino na forma demoníaca. O medo quase universal que os homens têm de cair sob o domínio ou a fascinação de uma mulher. A atração que esta mesma servidão tem para eles são evidências de que o efeito que uma mulher produz num homem é, em geral, realmente de caráter demoníaco. Quando Jehová criou a Adão, criou ao mesmo tempo a uma mulher, Lilith, retirada do barro da terra. Foi entregue a Adão como esposa. Porém, Lilith não estava satisfeita, pois esperava outra coisa de Adão. Ela não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de reivindicar igualdade foi a de recusar a forma de relação sexual com o homem por cima. Inimizou-se com ele, pronunciou o nome inefável de Jeová e se foi voando pelos ares. Adão queixou-se a Deus de sua esposa, e este enviou à sua procura três anjos: Senoi, Sansenoi e Samanglof, que a encontraram nas margens do Mar Vermelho, onde mais tarde as tropas egípcias seriam engolidas por ordem de Moisés. Lilith se negou a voltar a ocupar seu lugar junto de Adão. Os três anjos, por ordem de Jeohvá, avisaram-na de que a cada dia perderia cem de seus filhos se não regressasse. Lilith então fez um trato, e os anjos tentaram afogá-la no Mar Vermelho; porém Lilith advogou em causa própria e salvou sua vida com a condição de jamais causar dano a uma criança recém-nascida de onde viera seu nome escrito. A História de Lilith na Tradição Judaica Finalmente, Jehová deu a Lilith, Sammael (Satã – O Senhor das forças do mal; adversário), e ela foi a primeira das quatro esposas do “Diabo” e a perseguidora dos recém-nascidos. (Paul Louis Bernard Drach, De l’harmonie de l’Église et de la Synagogue, II, p.319) De acordo com essa narração, Lilith foi entregue a Adão como uma mulher-objeto. Entretanto, ela se rebela e se nega a obedecer Jehová, que é seu pai. Esse não pode desfazer-se dela; uma vez que a criou para Adão, só poderá deixá-la. E foi feito, pois o nome de Lilith não é citado mais que uma vez na Bíblia, reduzida assim a um estado incerto. Segundo uma velha tradição, Lilith seria uma figura sedutora, de cabelos longos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os homens que dormem sozinhos. As poluções noturnas masculinas podem significar um ato de conúbio com a demônia, capaz de gerar filhos demônios para a mesma. As crianças recém-nascidas são as suas principais vítimas. A crença em Lilith, durante muito tempo, serviu para justificar as mortes inexplicáveis dos recém-nascidos. Uma forma de proteger as crianças contra a fúria da bela demônia é escrever na porta do quarto os nomes dos três anjos enviados pelo Senhor. Outra maneira é a de fixar no berço do recém-nascido, três fitas, cada uma delas com um nome dos três anjos. Segundo Unterman, na véspera do Shabat e da Lua Nova, quando uma criança sorri é porque Lilith está brincando com ela. Para protegê-la, deve-se bater três vezes de leve no nariz da criança, pronunciando uma fórmula de proteção contra Lilith. O mesmo autor afirma que, na Idade Média, era considerado perigoso beber água nos solstícios e equinócios, períodos estes em que o sangue menstrual de Lilith pinga nos líquidos expostos. Finalmente, uma outra tradição judaica afirma que a lendária rainha de Sabá que teria visitado Salomão nada mais era do que Lilith. O sábio rei, contudo, descobriu o ardil, ao levantar a saia da rainha e constatar que as suas pernas eram peludas. Segundo uma lenda judaica, após a expulsão do paraíso, Adão, para se mortificar, ficou 130 anos afastado de Eva. Uma ocasião que estava dormindo sozinho, Lilith o encontrou, deitou-se ao seu lado e dele concebeu um sem-número de demônios. Os que se defrontavam com eles eram torturados e mortos (Gorion, 54). A rebelião de Lilith contra Adão e o Criador levou à necessidade da criação de Eva, esta formada a partir de uma costela de Adão (Gênesis 2, 21). É possível, portanto, imaginar que um corte foi realizado entre o capítulo 1, versículo 28, e o capítulo 2, versículo 21. É provável que esse corte tenha ocorrido mesmo, em época bastante remota, como no quarto século antes de Cristo, quando se supõe que o texto escrito tomou uma forma aproximada da atual (Leach, 1983:77). O próprio teor do capítulo 1, versículo 28, sustenta esta hipótese: “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra …” Como seria possível abençoar a ambos e recomendar a multiplicação se Eva ainda não estava criada? Roberto Sicuteri (1986: 27) chama a atenção para outro detalhe importante: após a criação de Eva, extraída da costela de Adão, este diz: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gênesis 2, 23). Para Sicuteri, esta agora soa como uma inequívoca referência a uma mulher anterior. (Roque de Barros Laraia). A palavra lilith, que se pode relacionar com o assírio lílitu, de lilaatuv, “noite”, significa propriamente “noturno”. Também Lilu, na mitologia assíria, são espíritos malignos que sempre surgem na escuridão da noite. A Lílít do texto hebraico se traduz na versão grega de Septuaginta e por Lamia na Vulgata latina de São Jerônimo. As lamias são muito conhecidas nas tradições gregas e latinas, como monstros voadores noturnos, que sempre aparecem sob o aspecto de pássaros. A maioria dos autores afirma que as lamias são monstros femininos que devoram homens e crianças. Portanto, as lamias e Lilith têm muitos pontos em comum e foram convertidas em “vampiras”. Mas, o papel de Lilith parece não terminar quando se une a Satã; aliás, muito pelo contrário. Segundo o Zohar (Hhadasch, seção Yitro, p.29), depois participa da perdição de Adão, ao qual Jehová concede como segunda esposa a Eva, nascida da sua própria costela, ou seja, à imagem do homem, o reflexo do homem, ou a imagem castrada de Adão. “Depois de que o Tentador (Sammael) houvera desobedecido ao Santíssimo, bendito seja, o Senhor o condenou a morrer”. A Cabala faz eco desta tradição (livro Emek-Ammelehh, XI), que Sammael será castigado: “Nesse dia, Jehová visitará com sua terrível espada a Leviatã, a serpente insinuante, que é Sammael, e a Leviatã, a serpente sinuosa, que é Lilith. Esse texto nos diz que tão-somente Lilith está incluída no castigo junto com Sammael e não as outras três esposas, e que Lilith também apresenta o aspecto de serpente. O que se conclui é que ela está reprimida no inconsciente e, quando surge, coloca a sociedade paternalista em xeque. Assim, quando Eva convida Adão para comer a maçã, é das mãos de Lilith que a receberá. Eva, porém, à sua maneira, repetiria o gesto de rebelião de sua antecessora. Deus tinha permitido ao homem comer todas as frutas do jardim, com apenas uma exceção: “Mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis, 2,17). É exatamente essa interdição que é rompida por Eva. A versão canônica diz que a mulher assim procedeu tentada pela serpente, sob a alegação de que o consumo da fruta proibida a tornaria tão poderosa como Deus. Acreditando na pérfida serpente, Eva comeu do fruto proibido e convenceu o seu companheiro a fazer o mesmo. A punição por esse ato de desobediência original foi a perda da imortalidade; a partir de então, os homens tornaram-se mortais. Existem outras interpretações para esta história. Os teólogos modernos acreditam que a serpente foi a forma tomada pelo Demônio para tentar Eva. Existe também a crença de que Lilith teria se transformado em serpente para tentar Eva e se vingar de Adão. Uma terceira interpretação é a que faz parte de uma tradição judaica: “A serpente bíblica era um animal astucioso, que caminhava ereto sobre as duas pernas, falava e comia os mesmos alimentos que o homem. Quando viu como os anjos prestigiavam Adão, teve ciúme dele, e a visão do primeiro casal tendo relação sexual despertou na serpente o desejo por Eva. Por instigação de Satã ou Samael, ou, segundo algumas versões, possuída por ele, a serpente persuadiu Eva a comer o fruto proibido e seduziu-a. Como castigo, suas mãos e pernas foram cortadas e ela teve de se arrastar sobre o seu ventre, todo alimento que comia sabia a pó, e tornou-se eterna inimiga do homem.(…) Quando teve relação sexual com Eva, injetou sua peçonha nela e em todos os seus descendentes. Essa peçonha só foi removida do povo de Israel quando estavam no Monte Sinai e receberam a Torá.” (Unterman, 1992: 236). E também ao comer o fruto da Árvore, eles passaram a ter o dissernimento, o livre-arbítrio. Segundo o antropólogo Roque de Barros Laraia, o Gênesis é um mito de origem que busca explicar o surgimento do primeiro homem e como tal não difere muito de outros mitos, integrantes das diferentes cosmologias existentes, principalmente em dois pontos fundamentais: 1.O mito não visa à explicação do surgimento de toda a humanidade ¾ como depois foi sugerido pelos exegetas judaicos e cristãos ¾, mas apenas o surgimento de um povo específico, no caso os hebreus. Tal fato está confirmado pelo versículo 16 do capítulo 4: “E saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Nod, da banda do oriente do Éden.” O versículo seguinte afirma que “Caim conheceu a sua mulher e ela concebeu, e pariu Enoch…” Há duas interpretações possíveis para esses dois versículos: a primeira é que o conheceu significa apenas ter relações sexuais e, portanto, Caim teria chegado ao leste do Éden já com uma companheira. Mas a interpretação mais plausível é que de fato tenha encontrado um outro povo. Isto é mais condizente com o estilo dos mitos de origens, marcados fortemente pelo etnocentrismo. 2.O mito narra a história do pecado original. É, portanto, semelhante às narrativas que mostram que o homem perdeu a imortalidade em função de sua própria culpa. Uma escolha mal feita, um ato de desobediência (como no Gênesis) ou uma ofensa a um ser sobrenatural. Os Tupi Guarani seriam imortais se a primeira mulher não tivesse duvidado dos poderes de Mahíra. O texto bíblico relata a dupla desobediência da mulher: Lilith não atende a convocação do Senhor para voltar para Adão; Eva come do fruto proibido e convence Adão a fazer o mesmo. A Visão dos Mistérios Órficos Dentro dos Mistérios Órficos, Nyx, um negro espírito alado, levantou-se do Vazio do Caos para deitar o ovo cósmico de prata contendo o dourado espírito alado do amor, Eros, também conhecido como Phanes – o Revelador, cuja beleza radiante iluminou a Terra. Nyx, a Mãe Noite primal, dentro de seu reino estrelado também deu à luz as Fates (Destinos), as Hespérides, as Fúrias e Nêmesis (George 1992: 112-117). Como a mitologia evoluiu, a precedência era classificada como dia e luz; todas as coisas sinônimas à noite escura ficaram exiladas ao chthonic (de khthonios – dentro ou fora da Terra), isto é: fertilidade, parto, abundância, colheitas, destino e morte, reino do submundo, regiões astrais, o mundo dos sonhos e a psique interna. Com efeito, Hecate desenvolveu-se como a guardiã desses lugares sombrios e solitários, e de seus inerentes Mistérios ocultos. Atos obscuros do mistério sexual, Kundalini, profecia, inspiração e adivinhação, todos vieram de dentro de seu dom. Criaturas da noite – corujas, cachorros e cavalos tornaram-se seus totens, assim como o fizeram todas as criaturas do submundo aquático – cobras, serpentes, aranhas, sapos e rãs. (Ibid) Como Dama da Transe-Formação, sua luz divina de gnose é secretada por seus poderes chthonicos de vida e morte; sua sexualidade voraz leva suas vítimas em um abraço profético de regeneração. Suas sacerdotisas legendárias levavam os agonizantes através de uma morte extática pelas suas convulsões orgásticas (George 1992: 111). Ultimamente ligada à lua negra, anteriormente Hecate sempre havia sido a deusa da iluminação da alma. Tempo e destino estão dentro de seu domínio; muitos de seus epítetos revelam seus inúmeros papéis e formas – Sábia, Rainha das Sombras, Senhora da Iniciação, Guardiã do Portal, Condutora de Almas, e A Brilhante (www.hecate.org.uk/history.html). Para os místicos, a Noite Escura é a profundeza do amor (Eros) e luz (Phanes). George (1992: 118) afirma que, dentro filosofia oriental, o preto representa o estado informe da matéria pura e um todo unificado, sem nenhuma separação. Isso é um truísmo refletido dentro da Nyx grega e da Nut egípcia; ambas carregam a mensagem eterna da matrix universal como uma expressão do verdadeiro amor (sabedoria e compreensão/compaixão), da qual a ignorância induz ao medo e vazio. Waterson (1999:190) recebeu muitas críticas dos acadêmicos por promover a idéia de que Hecate é derivada de Hekt, uma deusa egípcia de cabeça de sapo, deusa do nascimento, da morte e da ressurreição, parteira dos deuses, mas sua teoria é merecedora de uma melhor inspeção. Essa deusa primal criativa parece ter ajudado Osíris a se levantar dos mortos, precedendo o papel adotado por Ísis. Além disso, seu símbolo, o sapo, foi mais adiante adotado pelos cristãos para representar a ressurreição de Cristo. Foram encontrados em numerosas luminárias cerâmicas com a inscrição: “Eu sou a ressurreição”. O eminente egiptólogo Wallis Budge (1971: 63) explica que dentre os ritos fúnebres egípcios, o amuleto de sapo (juntamente com o escaravelho) era colocado sobre a múmia, para mostrar o poder de ressurreição de Hekt sobre o mesmo. Mais tarde, a mitologia grega revelou que Hecate, assim como Lúcifer/Lux (luz) nasce de Nyx/Nox (escuridão). Bem antes disso, contudo, ela era originalmente uma deidade da Trácia e foi adotada no panteão grego como uma Titã, uma deidade pré-olímpica. Ela era descrita como uma bonita donzela com cabelos adornados por estrelas que iluminavam as trevas. Sua tocha em chamas revelava seu papel como illuminatrix e Condutora (a que guia os mortos) através de seus três reinos – os Céus, Terra e os Mares/Mundo Subterrâneo. A Tomadora de Almas Como já foi demonstrado, somente mais tarde, quando foi consignada ao Inferno, Lilith assumiu o papel mais sinistro de tomadora de almas. Curiosamente, seu dia de festa é 13 de agosto, como uma deusa de fertilidade, e é um dia em que ela é propícia a evitar desastres que acontecem às colheitas. É notavelmente perto de 15 de agosto, quando acontece a festa da Santa Virgem Maria, a qual mais tarde assumiu essa função! Em cada uma de suas quatro mãos (às vezes seis), Hecate maneja um objeto: uma chave que destranca os mistérios ocultos e a sabedoria da vida após a morte; uma corda/flagelo que representa tanto o cordão umbilical (permitindo nascimento) e o laço (morte); e a adaga, o símbolo da verdadeira vontade, que corta a ilusão e divide a corda (permitindo o nascimento) e o laço (facilitando a libertação da alma). Em sua quarta mão (nesta ou ainda nas três restantes), ela eleva a tocha (ou tochas) de iluminação e iniciação. Assim pode-se ver que ela preenche todos os papéis de Creatrix, Illuminatrix e Initiatrix – a (verdadeira) Deusa Tripla (de tripla face) (George 1992: 142-45). Tanto Hecate quanto Hermes compartilham o papel de “Condutor de Almas” e “Protetor das Encruzilhadas” e caminhos secretos dos planos mentais e físicos. Hermes freqüentemente se posta de pé ao lado de Hectarea, uma forma tríplice de Hecate, completa com suas três cabeças e seis braços. Acredita-se que sejam amantes ou companheiros, e eles são curandeiros, protetores da energia lunar e arautos da morte. Fazendo a ponte entre os mundos, eles revelam o passado, o presente e o futuro simultaneamente, conferindo visões proféticas e comunicação ancestral. De seu mundo crepuscular de ilusões, seus dons de encantamento asseguram o arrebatamento e ventura de seus devotos. Outro epíteto bem menos conhecido é Hekatos, que significa “A Distante” (a Magia transportada pelo ar que atinge seu objetivo), o qual Hecate, como uma forma de Ártemis, divide com Apolo. As lendas também falam dela como um anjo fosforescente, brilhando nas trevas do submundo, onde sua luz hipnótica de transe-formação é revelada dentro dos montes de terra dos sepulcros decadentes dos mortos. Aqui se encontram suas fusões de papel com os de Perséfone e de Deméter, com a qual ela ficou associada dentro de mitos alternativos gregos. Vale relembrar que os gregos sempre viram Hecate como uma jovem donzela. Ela se tornou uma velha somente para os romanos (que julgaram seus papéis conectados aos assuntos de sangue feminino – nascimento e menstruação – como impuros) quando Ártemis e Se1ene a suplantaram nesta forma (Ibid). Martha Ann e Dorothy Myers-Imel (1993: 157) também nos fazem lembrar, dentro dos Mistérios de Elêusis, o papel de Brimo (a destruidora terrível da vida), que dá à luz a Brimos (o Salvador). Ela é associada com Cybele, Deméter, Perséfone e Hecate e é também a guia de Perséfone quando ela volta para o mundo da superfície, ao chegar do Inferno de Hades. Ainda assim é Phosphorous – aurora e crepúsculo, mãe e guardiã, a que traz a aurora da vida, nascimento e morte. Ela é a Estrela Matutina, a portadora da Gnose, a propylia – aquela que fica diante do portal, e propolos – a guardiã do limite e condutora, a líder do caminho (Robert von Rudolf, Horned Owl Library). Shani – Revista Online The Cauldron Brasil. Lilith nos lembra eternamente que as forças do “mal” respondem às forças da vida, e que tudo se equilibra – dia e noite, trevas e luz, masculino e feminino. Isso faz com que visualizemos o piso mosaico no centro dos nossos Templos Maçônicos. As leituras modernas do mito de Lilith, entretanto, destacam o seu aspecto revolucionário e mesmo feminista. Ela representa a revolta contra um sistema hierárquico injusto, que quer impor um domínio inquestionável e repressor do masculino sobre o feminino. Lilith é a representação da mulher indômita, selvagem, livre, vibrante de energia, pronta para viver a sua sexualidade de forma plena e prazerosa, sem medos nem vergonha, é a celebração do princípio feminino. Nota: Lilith é citada na Epopéia de Gilgamesh (aprox.2000 a.C.), no Antigo Testamento (Isaías 34:14) e em relatos da Torá assírio-babilônica e hebraica, dentre outras fontes históricas. Ela aparece no Zohar, ou Livro do Esplendor, uma obra cabalística do século XIII que constitui o mais influente texto hassídico, e no Talmude, o livro dos hebreus. Seus filhos demônios, os Lilins, são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia. Outras fontes são o Alfabeto de Ben Sira (séculoVII), em que se inscreve a versão mais ingênua do mito, o Zohar (século XIII), que dá do mesmo a versão mais oculta, e a Cabala. Ir.’. Wagner Veneziani Costa •CAMPBELL, Joseph, MOYERS, Bill. O Poder do Mito. Palas Atena. •SINGER, Marian. O Livro Completo de Wicca e Bruxaria. Madras Editora – 2004 •As Deusas e a Mulher – Jean Shinoda Bolen. •Jardim do Éden Revisitado – Roque de Barros Laraia. •Lilith, a Lua Negra – Roberto Sicuteri. •O Livro de Lilith – Barbara Koltuv. •Os Mistérios da Mulher – M. Esther Harding. •Revista de Antropologia – Roque de Barros Laraia. •Rosane Volpatto – http://www.rosanevolpatto.trd.br/lilith.html

Lenda da Solidão.

Na deserta praia de sua vida, um feliz eremita ergueu, certa vez, um lindo castelo de areia e povoou de mil figuras da ilusão! Ouviu vozes, músicas. O mavioso canto de sereia transbordou-se em seu coração! E ele, dando asas à ilusão, sonhou com a cidade grande e lamentou a sua solidão. Ao longe, o mavioso e triste canto de uma rolinha, se destacava no pungente painel de uma sutil saudade, que já se prenunciava! Entre a moldura da tristeza, suas árvores tão queridas, de braços abertos para os céus, pareciam-lhe rogar em uma surda oração para que não fosse embora, mas ele levantou-se e disse: adeus! Mas ao chegar à cidade só encontrou gente de braços cruzados para Deus, para o próximo e para seus irmãos. Assustado, olhou para o céu e viu, no encantado e imenso Templo de Deus, milhares de estrelas em torno de uma poética lua, irradiantes de luz e vitais influências para todas as formas de vida da terra e do cosmos, em geral. Voltou seu olhar novamente para os homens, mas viu que a luz de seus olhares há muito se extinguira nas nebulosas masmorras de seus vícios e ilusões. Olhou para as árvores dos pomares e as viu carregadas de frutas que a todos serviam, pobres e ricos, sem nada pedir. De ânimo renovado e com grandes ideias, procurou seus irmãos, porém não encontrou neles qualquer fruto do amor pelo próximo em seus corações. Olhou para o mar e o viu semeado de pescadores em seus pequenos barcos, repletos de peixes! Voltou novamente o seu olhar, com um restinho de esperança, a procura de seus irmãos. Descobriu, mais uma vez desiludido, que o barco de suas vidas, vazio de boas obras, boiava à deriva, no turbulento mar de suas lamentáveis ambições! Envergonhado por seus irmãos perante Deus, não mais se atrevia em olhar para cima. Cabisbaixo, olhava para o chão quando notou uma correção de disciplinadas formiguinhas e, mais além, ordenadas abelhinhas, todas operando pacífica e conscientemente em torno do ideal único e sagrado: a comunidade! Comparou-as com o ser humano e sentiu-se decepcionado e convencido de que eram mesmo egoístas, vaidosos e ambiciosos, pois muitos de reuniam em torno de uma comunidade com a intenção de tirar vantagens e dar vazão às suas vaidades e maus instintos. E naquele momento, o eremita começou a compreender que a telecomunicação que tanto o encantara, vencendo todas as distâncias, não conseguira vencer a mais importante: a imensa distância, cada vez maior, que existe entre as almas do ser humano. Desiludido, abandonou aquela pobre comunidade, uma verdadeira selva de frias pedras com homens de gelo e templos de areia. No caminho de volta ao terno aconchego de sua tão querida floresta e à pureza de seu comunitário convívio entre sua fauna e flora tão agredidas pela ambição do ser humano, ele foi meditando. E então, num arroubo de entusiasmo e lucidez, exclamou: — Meu Deus! Eu agora sinto a tua fascinante presença! Eu te vejo em toda parte! No majestoso jequitibá e na humilde flor da tiririca! No trinado do canário e no coaxar de um velho sapo! Na força do jaguar e na beleza de uma frágil borboleta! Eu te vejo em toda extasiante pureza que deslumbra meus olhos e acalenta meu coração! Porque tu és a própria pureza que os homens, cegos de amor, estão destruindo! E o bom eremita admirava encantado sua exuberante floresta, com suas belas árvores tão repletas de flores, frutos e ninhos de passarinhos. E a pureza de seus rios, tão cristalinos, sempre servindo a tudo e a todos! O significado do gesto daquelas árvores de braços abertos para o céu compreendeu, agora, ser uma muda e eterna oração de agradecimento ao divino criador pela oportunidade de viver e ser úteis. Seus animais e suas aves em comunidades multicoloridas eram uma orquestra de seres felizes, em cantos mil, de amor a Deus, ao próximo e a liberdade! Compreendia que agora começava a ver a sagrada obra de Deus com “olhos de ver”, como tanto pegou o Grande Mestre! Que a solidão que julgava ter era apenas uma nota desafinada do enganoso canto das profanas sereias da vida! Compreendia compadecido que aqueles seres que respeitava como irmãos, nada mais eram que um rebanho de robôs em solidões paralelas! Revista Universo Maçônico.Ed.17.Novembro de 2011. Autor: Ir∴ Lacerda Júnior

Destinos.

Os nossos destinos são obra inteiramente nossa, exclusivamente nossa; nós os talhámos e eles por nós esperam; nós os semeámos e os havemos de colher! Tudo quanto fazemos prepara, edifica o nosso destino, o nosso porvir. Por isso, destino e carácter são duas coisas tão intimamente ligadas entre si, que não podem ser separadas! Cristo, na sua linguagem simbólica, disse a seu respeito: “O que tu semeias, isso mesmo hás-de colher”. E nestas palavras tão simples, o Mestre revela uma grande verdade. Ao entrar neste mundo por meio da forma física, feita do mais subtil pó da terra, em molde elaborado de éter, nós somos forçados a lutar contra as leis naturais, inteligentes, vivas e sempre prontas para nos dominarem. Pode parecer aos leitores que desconhecem a filosofia rosacruz que tais leis são impossíveis, pois não conhecem outras que não sejam as que o homem faz, escritas, impressas, inertes, servindo apenas e rigidamente para orientarem a nossa conduta na sociedade; as leis da Natureza são vivas, agem sobre nós, compelem-nos à acção e repelem-nos na sua actuação; arrastam-nos e podem elevar-nos às mais sublimes alturas. Quem não as viu ainda operando num ciclone? Numa tempestade que tudo destroi na sua passagem? Num terramoto ou num maremoto que tudo arrasam? E todavia elas regulam o tempo, produzem tudo quanto é necessário à nossa existência terrena. Não podemos dispensar a sua colaboração connosco, tão preciosas elas são. Temos de nos acautelar com esses elementos para que não nos criem sérios obstáculos; e essa cautela resume-se em ordenar bem todos os nossos actos, fortalecer a nossa vontade para realizar os nossos planos, para que eles não lesem os direitos alheios e estejam dentro das nossas possibilidades, quer dizer, dentro do absolutamente justo. Porque, se os nossos pensamentos e actos preparam os nossos destinos, e todos desejamos somente o que é bom, somos forçadamente levados a só praticar acções justas. E, assim, teremos melhores destinos, um porvir mais calmo e feliz. Se, pelo contrário, nos deixarmos arrastar pelo pendor terreno, o nosso carácter não melhora, as nossas condições são confusas e penosas, criaremos então destinos sombrios e dolorosos. O destino colectivo abrange grandes grupos de pessoas, a aldeia, a cidade, a nação e muitas vezes grupos de nações, pois reúne todos aqueles egos que criaram pelos seus crimes, ao longo de vidas passadas, as mesmas condições de destino. Nos destinos individuais achamos aqueles que vivem solitários, recusando a convivência com outros seres, ou tendo mesmo de suportar a sua recusa a ligarem-se com eles. O carácter destas pessoas está em perfeita harmonia com elas. Evitam, a seu modo, e de concordância com os seus desejos, as pessoas e as coisas, isolam-se, gozam ou sofrem sozinhos, o que lhes torna muito mais dura a existência. Todos os golpes do destino são suportados de qualquer modo, mas procurando sempre encobri-los no seu reduto espiritual, dispensando, sempre que possível, o auxílio de outras pessoas. Nos destinos comuns tudo é diferente. Juntam-se dois indivíduos de sexo oposto e desta união resulta que automaticamente se ligam a eles todos os parentes de ambos, e os filhos, e os filhos destes, e os seus associados para o estabelecimento das famílias. Mas, ainda as coisas não ficam por aqui. A todos se unem os amigos, os inimigos, os vizinhos e os colegas de trabalho, queremos dizer, todas as pessoas que vivem tão perto que não podem deixar, de algum modo, de tomar parte nas suas alegrias e tristezas. E então vêm marido e mulher, ou são pais e filhos, irmãos, tios, primos, cunhados, sogros, vizinhos ou colegas, pois de vida em vida são-nos facultados meios de redimir o mau passado, de vencer o mal, de curar o ódio e o transformar em amor, em bem. Por isso nós somos testemunhas tantas vezes de cenas desagradáveis entre cônjuges, entre irmãos, cunhados, tios, sogros, pais e filhos, vizinhos ou colegas de trabalho. E quantas vezes ao esboçar-se um matrimónio, logo surgem discordâncias familiares. E tudo se faz no sentido de evitar o casamento, chegando mesmo ao uso de meios condenáveis. Se buscamos justificações sérias, não as encontramos. Tudo quanto se alega não ultrapassa o domínio do disparate e da má vontade injustificável. Mas se buscamos as ocultas causas de tão grande má vontade vamos achá-las em vidas passadas. É ódio velho, mas não cansado ainda. Muitas vezes o detestado matrimónio realiza-se, mesmo sem o acordo familiar, e a má vontade acaba por um apaziguamento do antigo ódio, agora já cansado. E então juntam-se e vão amar-se daí por diante. O ódio perdeu a sua cor rubra para tomar a rosada, e tudo terminou em bem. Venceram culpas do passado e puderam dar um passo em frente, para uma vida melhor, mais harmoniosa e perfeita. O ódio e o amor ligam-nos para sempre. Não merece a pena odiar, já que temos de curar as feridas do ódio com o mais puro amor. Portanto, cultivemos as melhores relações de amizade, se queremos ser felizes. O amor é aquela famosa alquimia que muda a natureza dos metais pobres em puro ouro de lei. Simplesmente os metais pobres são os nossos instintos, nossos maiores inimigos; e o ouro é a nobreza do nosso carácter. São egos que em vidas passadas negaram aos seus genitores o respeito e o amor que lhes deviam. Em vez da gratidão por lhes terem dado o ser e os amparar na vida, para que triunfem, eles preferiram a ingratidão, a falta de respeito e de amor para com seus pais. Por isso agora nasceram sem o direito ao amor dos seus genitores e, para serem criados e educados, foi necessário recolhê-los em asilos. Assim, faltando-lhes a doce chama do amor dos pais, eles hão-de ansiar por ele. Hão-de desejá-lo, ardentemente, em vidas futuras. O castigo dos nossos actos fica sempre connosco e surgem em qualquer altura das nossas vidas, mas certamente nas alturas próprias. No terramoto que destruiu Agadir, em 1960, foram retiradas dos escombros muitas vítimas algumas dias depois de estarem debaixo dos mesmos. Em que ansiedade terão vivido aqueles dias e noites entre os mortos, e sem esperança de serem salvos? Ninguém que não tenha passado por tão dura prova poderá avaliar tão horrorosa situação. Todos os que necessitam de passar por uma prova grave e colectiva, vão juntar-se no local onde o desastre ou cataclismo há-de produzir-se. E aí terão, no momento apropriado, a sua execução. Os nossos pensamentos e actos esperam sempre por nós e tecem os nossos destinos, elaboram o nosso próprio carácter. Por isso, quem desejar melhor destino, terá de modificar o seu carácter, porque só na medida em que nos aperfeiçoamos moralmente podemos modificar as nossas condições sombrias e dolorosas. Francisco Marques Rodrigues.