sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Eliphas Lévi.
O maior ocultista do Séc. XIX, como muitos o consideram, era filho de um modesto sapateiro. Possuía uma irmã, Paulina-Louise, quatro anos mais velha que este. Desde sua infância demonstrava um grande caráter de seu talento para o desenho, seus pais introduziram-no para o ensinamento religioso.
Depois disso, aos dez anos de idade ingressou na comunidade do presbitério da Igreja de Saint-Louis em Lille, onde aprendeu o catecismo com o seu primeiro mestre, abade Hubault, que fazia seleções dos garotos mais inteligentes. Eliphas Levi foi encaminhado por Hubault ao seminário de Saint-Nicolas Du Chardonnet, para concluir seus estudos preparatórios. A vida familiar para ele havia acabado neste momento. No seminário, teve a oportunidade de aprofundar-se nos estudos da filologia, e quando completara seus dezoito anos já era apto para ler a bíblia em seu contexto original.
No ano de 1830, foi transferido para o seminário de Issy para estudar Filosofia. Dois anos depois, ingressou em Saint-Sulpice para estudar Teologia. Foi nesse tempo que esteve em Issy que escreveu seu primeiro drama bíblico, Nemrod. No seminário de Saint-Sulpice criou seus primeiros poemas religiosos, considerados de demasiada beleza.
Eliphas Levi foi ordenado diácono em 19 de dezembro de 1835, em Maio de 1836, teria sido ordenado sacerdote, se não tivesse confessado ao seu superior o amor por Adelle Allenbach, cuja primeira comunhão ele havia realizado. Suas convicções receberam um choque tão grande, que Levi sentiu-se jogado fora da carreira eclesiástica. Por resultado de uma publicação de uns escritos de sua Bíblia da liberdade foi posto preso durante oito meses, incluindo 300 francos de multa, acusado de profanar o santuário da religião, de atentar contras as bases que sustentam a sociedade, de espalhar ódio e a insubordinação. Depois de tanto constrangimento, (Eliphas concluiu seus estudos) e de tantos parênteses na sua vida, enquanto esteve preso, teve contato com os estudos de Swedenborg. Segundo Eliphas mesmo afirmava, que, tais escritos não contêm toda a verdade, mas conduzem os neófitos com segurança na senda.
Começo da carreira no Ocultismo.
Deixando a prisão, realizou pequenos trabalhos, principalmente pinturas de quadros, murais nas igrejas da região e colaborações jornalísticas. Mesmo com esses contratempos da sua vida (que os considerava materiais), não deixou jamais de enriquecer seus conhecimentos e aperfeiçoar sua erudição. Em Swedenborg, encontrou os grandes magos da Idade Media que o introduziram no Adeptado, entre eles foram Guillaume Postel, Raymond Lulle e Henry Corneille Agrippa. Não obstante, em 1845, aos trinta e cinco anos de idade, escreveu sua primeira obra ocultista, nomeada : O livro das Lágrimas ou Cristo Consolador.
Obras.
* Dogma e Ritual da Alta Magia -
* História da Magia
* A Chave dos Grandes Mistérios -
* A Ciência dos Espíritos -
* As Origens da Cabala
* Os Mistérios da Cabala
* Curso de Filosofia Oculta
* Fábulas e Símbolos
* O Livro dos Sábios -
* O Grande Arcano -
* Os paradoxos da Sabedoria Oculta -
* O livro das Lágrimas ou Cristo Consolador.
A Medicina Universal.
CAPUT – RESSURRECTIO - CIRCULUS.
A maioria das nossas doenças físicas vem das nossas doenças morais, conforme o dogma mágico único e universal, e em razão da lei das analogias.
Uma grande paixão à qual a pessoa se abandona corresponde sempre a uma grande doença que prepara a si mesma. Os pecados mortais são assim chamados porque fazem física e positivamente morrer.
Alexandre, o Grande, morreu de orgulho. Ele era naturalmente temperante e entregou- se por orgulho aos excessos que lhe deram a morte.
Francisco I morreu de um adultério. Luís XV morreu por causa do seu viveiro de veados.
Quando Marat foi assassinado, morria de cólera e inveja. Era um monômano de orgulho, que se julgava único, justo, e desejava matar tudo o que não fosse Marat.
Vários contemporâneos nossos morreram de ambição fracassada depois da revolução de fevereiro.
Desde que a vossa vontade esteja irrevogavelmente confirmada numa tendência absurda, estais mortos, e o escolho em que ficareis em pedaços não está longe.
É, pois, verdade dizer que a sabedoria conserva e prolonga a vida.
O grande Mestre disse: “A minha carne é um alimento e o meu sangue uma bebida. Comei minha carne e bebei meu sangue; tereis vida ”. E como o vulgo murmurava, acrescentou: “A carne aqui nada significa; as palavras que vos digo são espírito e vida ”. Queria, pois, dizer: “Saciai -vos do meu espírito e vivei da minha vida ”.
E, quando ia morrer, uniu a lembrança da sua vida ao signo do pão e a de seu espírito ao signo do vinho, e instituiu, assim, a comunhão da fé, da esperança e da caridade.
É no mesmo sentido que os mestres hermetistas disseram: Fazei potável o ouro e tereis a medicina universal; isto é, apropriai a verdade aos vossos costumes, que ela se torne a fonte em que vos saciareis todos os dias, e tereis em vós mesmos a imortalidade dos sábios. A temperança, a tranqüilidade da alma, a simplicidade de caráter, a calma e a razão da vontade não só fazem o homem feliz, mas também sábio e forte. É fazendo - se razoável e bom que o homem se torna imortal. Somos autores do nosso destino, e Deus não nos salva sem nossa colaboração.
A morte não existe para o sábio: a morte é um fantasma tornado horrível pela ignorância e a fraqueza do vulgo.
A mudança atesta o movimento, e o movimento só revela a vida. Até o cadáver não se decomporia se fosse morto: todas as moléculas que o compunham ficam vivas e se movem para se desprender.
E pensareis que o espírito foi o primeiro a desprender- se para não mais viver! Creríeis que o pensamento e o amor podem morrer, quando até a matéria mais grosseira não morre!
Se a mudança deve ser chamada morte, morremos e renascemos todos os dias, porque todos os dias as nossas formas mudam.
Temamos, pois, manchar e rasgar os vossos vestuários, mas não temamos deixá - los quando vem a hora do repouso.
O embalsamamento e conservação dos cadáveres são uma superstição contra a natureza. É um ensaio de criação da morte; é a imobilização forçada de uma substância que de a vida tem necessidade. Mas não se deve também ter muita pressa de destruir ou fazer desaparecerem os cadáveres; porque nada se realiza repentinamente na natureza, e não se deve arriscar romper violentamente os laços de uma alma que se desprende.
A morte nunca é instantânea; ela se opera por graus, como o sono. Enquanto o sangue não esfriou completamente, enquanto os nervos podem estremecer, o homem não está completamente morto, e, se nenhum dos órgãos essenciais da vida está destruído, a alma pode ser chamada, quer por acidente, quer por uma vontade forte.
Disse um filósofo que duvidaria do testemunho universal antes de crer na ressurreição de um morto, e nisso falou temerariamente; porque é pela fé do testemunho universal que ele acreditava na impossibilidade de uma ressurreição. Que seja provada uma ressurreição, que é que resultaria disso? Que era preciso negar a evidência ou renunciar à razão? Seria absurdo supô - lo. Será necessário concluir simplesmente que se acreditou, sem razão, impossível o ressurrecionismo. Ab actu ad posse valet consecutio.
Ousemos, agora, afirmar que a ressurreição é possível, e que até ela acontece mais do que cremos. Quantas pessoas, cuja morte foi jurídica e cientificamente constatada, foram encontradas mortas, é verdade, no seu caixão, mas tendo vivido, e tendo roído os punhos para abrir as suas artérias e escapar, por uma nova morte, de horríveis sofrimentos! Um médico nos dirá que estas pessoas não estavam mortas, mas sim em letargia? É o nome que dais à morte começada que não acaba, à morte que uma volta à vida vem desmentir. Facilmente nos libertamos de embaraços com palavras, quando é impossível explicar as coisas.
A alma esta presa ao corpo pela sensibilidade e, desde que a sensibilidade cessa, é sinal certo que a alma se afasta. O sono magnético é uma letargia ou morte fictícia, e curável à vontade. A eterização ou o torpor produzido pelo clorofórmio é uma letargia verdadeira, que, às vezes, acaba por uma morte definitiva, quando a alma, feliz pelo seu desprendimento passageiro, faz esforço de vontade para ir- se embora definitivamente; o que é possível nos que venceram o inferno, isto é, cuja força moral é superior às da atração astral. Por isso, a ressurreição só é possível para as almas elementares, e são principalmente elas que estão sujeitas a reviver involuntariamente no túmulo.
Os grandes homens e os verdadeiros sábios nunca são enterrados vivos.
Daremos, no nosso Ritual , a teoria e a prática do ressuscitamento, e, aos que me perguntarem se ressuscitei mortos, responderei que, se lhes dissesse, não me acreditariam.
Resta- nos examinar aqui, se a abolição da dor é possível, e se é bom empregar o clorofórmio ou o magnetismo para as operações cirúrgicas. Pensamos, e a ciência o reconhecerá mais tarde, que, diminuindo a sensibilidade, diminuímos a vida, e que tudo o que se tira da dor em tais circunstâncias vem em proveito da morte. A dor atesta a luta da vida, por isso notamos que, nas pessoas operadas em letargia, os curativos são muito dolorosos. Se reiterássemos em cada curativo o adormecimento pelo clorofórmio, aconteceria um das duas: ou o doente morreria, ou entre os curativos a dor voltaria e seria contínua. Não violentamos impunemente a natureza.
Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.
A Pedra dos Filósofos.
ELAGABALA - VOCATIO - Sol - Aurum.
Os antigos adoravam o sol sob a forma de uma pedra preta que denominavam Elagabala ou Heliogabala. Que significava esta pedra, e como podia ela ser a imagem do mais brilhante dos astros?
Os discípulos de Hermes, antes de prometer aos seus adeptos o elixir de longa vida, ou o pó de projeção, lhes recomendavam que procurassem a pedra filosofal . Que é esta pedra , e por que uma pedra?
O grande iniciador dos cristãos convida seus fiéis a construir sobre uma pedra , se não quiserem ver derrubadas suas construções. Chama a si próprio de pedra angular e diz ao mais crente dos seus apóstolos: “Chamas -te Pedro , porque és a pedra sobre a qual construirei minha Igreja ”.
Esta pedra , dizem os mestres de alquimia, é o verdadeiro sal dos filósofos, que entra por um terço na composição do a zoth . Ora, Azoth é, como sabemos, o nome do grande agente hermético e do verdadeiro agente filosofal; por isso representam eles o seu sal sob a forma de uma pedra cúbica, como podemos ver nas doze chaves do Basílio Valentino ou nas alegorias de Trevisano.
Que é, pois, em verdade, esta pedra? É o fundamento da filosofia absoluta, é a suprema e inabalável razão. Antes de pensar na obra metálica é preciso estar sempre fixo sobre os princípios absolutos da sabedoria, é preciso possuir esta razão que é a pedra de toque da verdade. Nunca um homem de preconceitos será rei da natureza e senhor das transmutações. A pedra filosofal é, pois, antes de tudo, necessária; mas, como achá - la? Hermes no - lo ensina na sua tábua de esmeralda. É preciso separar o sutil do fixo, com grande cuidado e uma atenção extrema. Assim, devemos desembaraçar as nossas certezas das nossas crenças e fazer bem distintos os domínios respectivos da ciência e da fé; compreender bem que não sabemos as coisas que cremos, e que não cremos mais em nenhuma das coisas que chegamos a saber, e que, assim, a essência das coisas da fé é o desconhecido e o indefinido, ao passo que é tudo o contrário das coisas da ciência.
Concluirão disso que a ciência repousa sobre a razão e a experiência, ao passo que a fé tem para base o sentimento e a razão. Em outros termos, a pedra filosofal é a verdadeira certeza que a prudência humana dá às investigações conscienciosas e à dúvida modesta, ao passo que o entusiasmo religioso a dá exclusivamente à fé. Ora, ela não pertence nem à razão sem aspirações, desrazoáveis; a verdadeira certeza é a aquiescência recíproca da razão que sabe ao sentimento que crê, e do sentimento que crê à razão que sabe. A aliança definitiva da razão e da fé resultará não da sua distinção e separação absolutas, mas do seu exame mútuo e do seu concurso fraterno. Tal é o sentido das duas colunas do pórtico de Salomão, uma das quais e branca e a outra preta. Elas são distintas e separadas, até são contrárias em aparência; mas a força cega quer reuni - las, aproximando - as, a abóbada do templo se desmoronará; porque, separadas, têm uma idêntica força; reunidas, são duas forças que se destroem mutuamente. É pela mesma razão que o poder espiritual se enfraquece, quando quer usurpar o temporal, e que o poder temporal perece, vítima da sua usurpação do poder espiritual. Gregório VII perdeu o papado, e os reis cismáticos perderam e perderão a monarquia. O equilíbrio humano tem necessidade de dois pés, os mundos gravitam sobre duas forças, a geração exige dois sexos. Tal é o sentido do Arcano de Salomão, figurado pelas duas colunas do tempo, Jakin e Bohas.
O sol e lua dos alquimistas correspondem ao mesmo símbolo e concorrem para o aperfeiçoamento e a estabilidade da pedra filosofal. O sol é o signo hieroglífico da verdade, porque é a fonte visível da luz, e a pedra bruta é o símbolo da estabilidade. È por isso que os antigos magos tomavam a pedra Elagabala pela própria figura do sol, e é também por isso que os alquimistas da Idade Média indicavam a pedra filosofal como o primeiro meio de fazer o ouro filosófico, isto é, de transformar todas as forças vitais figuradas pelos seis metais em sol, isto é, em verdade e em luz, primeira e indispensável operação da grande obra, que leva às adaptações secundárias, e que faz pelas analogias da natureza, achar o ouro natural e grosseiro aos criadores do ouro espiritual e vivo, aos possuidores do verdadeiro sal, do verdadeiro mercúrio e do verdadeiro enxofre filosófico.
Achar a pedra filosofal é, pois, ter descoberto o absoluto, como dizem alhures todos os mestres. Ora, o absoluto é o que não admite mais erro, é o fixo do volátil, é a regra da imaginação, é a própria necessidade do ser, é a lei imutável de razão e verdade; o absoluto é o que é. Ora que está em algum senso precede ele que é. O próprio Deus não existe sem razão de ser e só pode existir em virtude de uma suprema e inevitável razão. É, pois, esta razão que é o absoluto; é nela que devemos crer, se quisermos que a nossa fé tenha uma base razoável e sólida. Puderam dizer, nos nossos dias, que Deus é somente uma hipótese, mas a razão absoluta não o é: ela é essencial ao ente.
São Tomás disse: “Uma coisa não é justa porque Deus a quer, mas Deus a quer porque ela é justa ”. Se São Tomás tivesse deduzido logicamente todas as conseqüências deste belo pensamento, teria achado a pedra filosofal e, em lugar de limitar- se a ser o anjo da escola, teria sido o seu reformador.
Crer na razão de Deus e no Deus da razão é tornar impossível o ateísmo. São os idólatras que fizeram os ateus. Quando Voltaire dizia: “Se Deus não existisse, era preciso inventá- lo ”, ele antes sentia que não entendia a razão de Deus. Deus existe realmente? Nada sabemos disso, mas desejamos que isso seja, e é por isso que nos o cremos. A fé formulada assim é a fé razoável, porque admite a dúvida da ciência; e, com efeito, só cremos nas coisas que nos parecem prováveis, mas que não sabemos. Pensar de outro modo é delirar; falar de outro modo é expressar- se como iluminado ou fanático. Ora, não é a semelhantes pessoas que a pedra filosofal é prometida.
Os ignorantes que desviaram o cristianismo primitivo do seu caminho, substituindo a fé à ciência, o sonho à experiência, o fantástico à realidade; os inquisidores que fizeram, durante tantos séculos, uma guerra de extermínio à magia, chegaram a cobrir de trevas as antigas descobertas do espírito humano; de modo que hoje andamos às apalpadelas para achar de novo a chave dos fenômenos da natureza. Ora, todos os fenômenos naturais dependem de uma única e imutável lei, representada também pela pedra filosofal, mas principalmente pela forma simbólica, que é o cubo. Esta lei, expressa na Cabala pelo quaternário, tinha fornecido aos hebreus todos os mistérios do seu tetragrama divino. Podemos, pois, dizer que a pedra filosofal é quadrada em todos os sentidos, como a Jerusalém celeste de São João e que traz escrito de um lado o nome de Heh.gifMem.gifLamed.gifShin.gif e do outro o de Deus; numa das suas faces o de Adão, na outra o de Heva , depois os de Azoth e Inri nas duas outras. No frontispício de uma tradução francesa de um livro do senhor de Nuisement sobre o sal filosófico, vê - se o espírito da terra de pé num cubo que é percorrido por línguas de fogo; tem um caduceu como phallus , e o sol e a lua no peito, à direita e à esquerda; está barbado, coroado, e tem um cetro na mão. É o Azoth dos sábios no seu pedestal de sal e enxofre. Dão, às vezes, a esta imagem a cabeça simbólica do bode de Mendes; é o Baphomet dos Templários, o bode do Sabbat e o verno dos gnósticos/ imagens bizarras que serviram de espantalho ao vulgo, depois de terem servido para as meditações dos sábios, hieróglifos inocentes do pensamento e da fé que serviram de pretexto aos furores das perseguições. Quanto os homens são desgraçados na sua ignorância, mas também quanto desprezariam a si mesmos se chegassem a conhecê - la!
Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.
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