terça-feira, 30 de março de 2010

Leis do Carma.


Trata-se de um tema desafiante e útil, pois é sempre difícil tentar conhecer e compreender a profundidade de certas Leis Cósmicas, para aceita-las e viver em harmonia com as mesmas. A Lei do Carma é um desafio maior, porque, para tentar melhor compreendê-la precisamos, geralmente, nos voltar para o lado negativo, os erros cometidos ou insucessos de nossa vida, o que, de certo modo, pode ser incômodo para nós. Contudo, se pensarmos em termos de "custo/benefício", os benefícios dessa compreensão serão maiores do que os custos de alguma reação emocional, pois tentarmos conhecer como essa Lei Divina opera, nos dará segurança e confiança para tomar decisões, desde as mais simples ás mais importantes em nossas vidas, com a convicção, serenidade e a confiança daqueles que melhor compreendem a peração das Leis do Criador.
A Lei do Carma é objeto de interesse de várias correntes filosóficas e religiosas, como o hinduísmo, a teosofia e o espiritismo. Do ponto de vista dessas correntes, é encarada como uma lei de causa e efeito, à semelhança da lei da gravidade, por exemplo. É lei aplicada à alma ou parte imaterial do homem, que colhe os resultados de sua própria semeadura ou plantio, ou, em outras palavras, sofre a reação de sua própria ação. É encarada como uma lei justa, impessoal, que opera pelas linhas da experiência, vida e caráter pessoais e se espelha na busca da evolução pelo homem e no equilíbrio cósmico, e está acima da noção humana de bem e mal. Para essas correntes, a Lei do Carma se vincula à doutrina da reencarnação, e o carma de cada ser deve determinar as circunstâncias de seus renascimentos. Há semelhanças entre essas visões da Lei do Carma, e seus aspectos essenciais têm pontos em comum com o pensamento rosacruz.
Caracterização da Lei do Carma.
Todos nós, seres humanos, de maneira geral, ficamos perplexos quando tentamos entender como opera a Lei do Carma. Isto é natural, porque compreende-la é compreender os pensamentos da Mente Divina, infinita, e isto é difícil para uma mente finita como a nossa.
Vamos nos ater ao que dizem os ensinamentos rosacruzes, evidenciando pontos considerados de maior interesse para todos, pela perplexidade que despertam e pela necessidade de sua melhor compreensão para a nossa evolução pessoal.
Carma é uma palavra oriental que significa ação. No dicionário encontra-se a seguinte definição: do sânscrito karman; nas filosofias da Índia, o conjunto das ações dos homens e suas conseqüências.
Segue-se uma caracterização sucinta da Lei do Carma, em sete pontos. Examinemos cada uma dessas sete características:
1ª. É UMA LEI CÓSMICA DE CAUSA E EFEITO, SENDO, PORTANTO, JUSTA, IMPESSOAL E INFALÍVEL
Como tantas outras leis da natureza, a Lei do Carma é uma Lei Cósmica, Divina, que opera da mesma forma que a lei da gravidade, por exemplo. Se, por algum motivo, atiramos uma grande pedra para o ar, levando a lei da gravidade a afeta-la e depois, por ignorância ou indiferença, colocamo-nos na trajetória da queda da pedra, poderemos sofrer um acidente. Nosso ato de atirar a pedra acarretará um efeito, no caso desagradável, sobre nós. A Lei do Carma opera de forma semelhante, e cada um de nossos atos ou pensamentos são causas que podem reverter em efeitos, agradáveis ou não, sobre nós. A lei da gravidade afetaria qualquer pessoa que atirasse a pedra sempre que esta ação fosse praticada. Os efeitos da lei cármica também se manifestam sempre para todas as pessoas, inclusive todas as espécies de coisas vivas, a despeito de sua condição social, poder econômico, raça ou credo, sempre que as pessoas invocarem os efeitos dessa lei. Nisto reside o princípio de justiça, impessoalidade e infalibilidade que a caracterizam. Por ser uma Lei Cósmica, sempre se cumpre, é imutável e nunca falha.
2º. É UMA LEI DE COMPENSAÇÃO, QUE VISA À HARMONIA CÓSMICA E À EVOLUÇÃO DA ALMA DO HOMEM, E SUA FUNÇÃO É ENSINAR E NÃO PUNIR.
A Lei do Carma é também chamada de "Lei de Compensação", porque por seu intermédio devemos compensar o universo, ou a vida, por nossos atos que interfiram com a harmonia cósmica, que prevê a evolução do ser humano e do próprio universo, segundo parâmetros de Luz, Vida e Amor, instituídos por nosso Criador. A cada vez que pensarmos ou agirmos fora desses princípios, estaremos "descompensando" as Leis Cósmicas, por assim dizer, e em algum momento, de alguma forma, deveremos restabelecer o equilíbrio por nós afetado. Para ilustrar essa característica, utilizaremos o simbolismo da balança cármica, uma grande balança de dois pratos. Esta balança pesará tudo, em matéria de pensamento ou conduta humana, que, de alguma forma, direta ou indiretamente, por nossa causa seja nela colocado.
Para melhor compreensão da balança, tenhamos em mente o que se segue. Um dos pratos da balança representará o "bem", os bons atos humanos, as atitudes harmonizadas com as Leis Cósmicas. O outro prato representará o "mal", os atos que contrariam a harmonia prevista para a humanidade ou o universo. Do ponto de vista cósmico, a balança tenderá ao equilíbrio quando o prato do "bem", da harmonização cósmica, tiver mais peso que o prato do "mal", da desarmonia, ou seja, quando o ser humano estiver "harmonizado", e predominantemente positivo em seus pensamentos e atos, agindo de forma cooperativa, solidária, tolerante e amorosa com seus semelhantes e consigo mesmo. Sempre que o "mal" começar a pesar mais, ou seja, quando estivermos predominantemente "desarmonizados", negativos, intolerantes, rancorosos, vingativos, invejoso, vaidosos, pouco cooperativos com nossos semelhantes e conosco, a balança tenderá ao desequilíbrio. Em ambos os casos, estaremos incorrendo em carma, que será favorável quando estivermos harmonizados, e desfavorável quando ferirmos a harmonia.
Nosso carma favorável se reverterá em benesses e felicidade; sentiremos paz interior e desejaremos, cada vez mais, fazer o bem. O carma negativo, ao contrário, tenderá a nos puxar cada vez mais para baixo, trazendo-nos problemas e inquietações. Neste caso, a balança voltará ao equilíbrio quando compensarmos ou repararmos, de alguma forma, os erros praticados, e compreendermos que nossa forma de agir foi incorreta. Neste ponto qualquer sofrimento cármico se aliviará e deverá desaparecer.
Aprender a lição, compensar o erro, e seguir o caminho da evolução é o que a Lei do Carma espera de nós. Entretanto, se persistirmos no erro, aumentaremos o desequilíbrio, e a necessidade de compensação e a lição a ser aprendida serão cada vez maiores. Isto explica porque algumas pessoas vivem carmas negativos mis leves que outras em circunstâncias semelhantes. Há os que percebem e corrigem os seus erros ao primeiro movimento de desequilíbrio da balança, enquanto outros permanecem indiferentes ou desafiam as Leis Divinas, e seu sofrimento é maior.
O sofrimento cármico pode ser abreviado, a não ser quando as pessoas relutam em aprender a lição que elas mesmas invocaram para si. Há pessoas que suportam passivamente seu sofrimento cármico, por acreditarem que nada podem fazer para diminuí-lo, e com isto o sofrimento persiste. Ao tomarmos conhecimento de um erro, procuremos repara-lo o quanto antes, fazendo equilibrar os pratos da balança com atitudes amorosas, utilizando, com sabedoria, a Luz que temos o privilégio de receber da Ordem Rosacruz, AMORC.
3º. NOSSO CARMA, É FUNÇÃO DE NOSSO LIVRE-ARBÍTRIO, E PODE INFLUENCIAR NOSSA MISSÃO DE VIDA.
Se O CRIADOR escolheu o homem para expressar plenamente o poder de Sua Luz, Vida e Amor, o homem também deve escolher a Senda que lhe permitirá uma expressão consciente desse triplo poder. Para levar a bom termo a escolha dessa Senda, a Divindade lhe outorgou o dom do livre-arbítrio.
A cada dia estamos movimentando nossa "balança cármica" com nosso livre-arbítrio. Quando no uso do mesmo cedemos às pressões negativas do mundo que nos cerca, é como se, deliberadamente, passássemos da luz para as trevas. Para retornar à luz restabelecer nossa relação harmoniosa com as Leis Cósmicas, temos que fazer alguma coisa por nosso próprio esforço, e esta ação é o ato cármico ou de compensação.
Tendo esta consciência, passaremos a ser mais cautelosos com o uso do nosso livre-arbítrio, especialmente em ocasiões mais significativas para a nossa vida e a de pessoas de nosso convívio.
O curso de nosso carma exercerá grande efeito em nossa missão de vida, nossas experiências e aprendizado. Seguem-se alguns exemplos. Uma pessoa com poucas posses materiais, mas que de suas posses fez o melhor uso, empregando todos os meios para se revelar um espírito humanitário, tendo usado seus bens pessoais para beneficiar outras pessoas, que não apenas a si mesma, criou uma condição cármica favorável à realização de mais obras altruísticas e caridosas, podendo usufruir de muita riqueza, nesta ou em outra vida, para cumprir essa nobre missão. Por outro lado, uma pessoa muito rica, mas egoísta ao extremo, sem o menor interesse em auxiliar uma única alma vivente, poderá ter sua vida presente alterada, tornando-se pobre, passando a sofrer as necessidades da miséria, ou vir a renascer em família pobre e ter que experimentar as vicissitudes de uma vida humilíssima, sentindo a amargura da falta de solidariedade de seus semelhantes, de modo a aprender o valor da solidariedade humana.
Nosso comportamento afeta o nosso amanhã. Se hoje somos imorais, amorais, injustos para com os outros e para com nós mesmos, produziremos condições cármicas coerentes que afetarão negativamente nossa vida. Se formos progressistas em nosso modo de pensar, se evoluirmos adequadamente e nos elevarmos diariamente a um plano superior, tornaremos nossa futura missão de vida mais fácil, mais agradável e mais benéfica para todos.
4º. AS CONDIÇÕES CÁRMICAS QUE CRIAMOS PODEM SE MANIFESTAR NESTA VIDA OU EM FUTURAS ENCARNAÇÕES.
Não é correto pensarmos que o nosso carma diz respeito somente à nossa próxima encarnação. Ao criarmos condições cármicas, elas podem se manifestar no minuto, hora, dia, semana, mês ou ano seguintes, nesta vida, como também podem ser relegadas a outras encarnações. Se o carma não se manifesta nesta vida é porque nem sempre temos contato com situações, lugares e coisas que propiciem essa manifestação. Vejamos um exemplo. Se constantemente adotarmos uma atitude de crueldade para com crianças de modo geral, maltratando-as sempre que as encontramos, recusando-nos deliberadamente a ajudar as que estejam verdadeiramente em dificuldades, sendo sistematicamente intolerantes para com elas, estaremos incorrendo em carma negativo para com os pequeninos. A Lei do Carma pode decretar que devemos aprender a tratar melhor as crianças. Poderemos aprender a lição tornando-nos crianças e sofrendo o impacto de maus tratos alheios ou tendo filhos e vendo-os passar por tais dissabores. Se não temos filhos, ou já não somos mais crianças, nosso carma pode ser adiado até que tenhamos filhos ou até sermos crianças em outra encarnação. Há muitas condições cármicas que se manifestam imediatamente, outras que tardam um pouco a se concretizar, porém todas têm sempre a mesma finalidade: nos ensinar uma lição de vida. Pode acontecer que nossa experiência seja adiada para a ocasião mais adequada ao nosso aprendizado.
5º. TODOS OS NOSSOS ATOS PODEM GERAR CARMA, MAS NEM TODAS AS NOSSAS TRIBULAÇÕES SÃO, NECESSARIAMENTE, O RESULTADO DE UM CARMA NEGATIVO.
Se toda má ação acaba se traduzindo em uma prova cármica, nem todas as provas que o ser humano conhece são, necessariamente, o resultado de um carma negativo. Algumas provações fazem parte da vida no plano terreno, e é impossível viver neste mundo sem estar sujeito a enfrentar problemas e dificuldades. E há, também, os sofrimentos decorrentes de escolhas que fizemos antes de nos encarnar, com o objetivo de acelerar nossa própria evolução ou de contribuir para a evolução de outras pessoas.
A propósito, é incorreto pensar que todos os nossos infortúnios (um nascimento com deficiência física ou mental, uma doença incurável, um acidente grave e incapacitante, a perda de bens materiais, por exemplo) sempre constituem débitos cármicos. Por outro lado, não se deve duvidar de que essas provas, não necessariamente cármicas, possam gerar um carma muito positivo a quem as enfrenta com confiança, esperança e dignidade. Neste campo, mais do que em qualquer outro relacionado ao carma, convém sermos cautelosos em nossos julgamentos, quer digam respeito à nossa própria vida ou a de outrem.
6º. TODOS OS NOSSOS ATOS, DE MAIOR OU MENOR PESO, PODEM CRIAR CARMA, NÃO DEVENDO SER JULGADO POR SUA APARÊNCIA.
Muitas pessoas acreditam que só as coisas de maior impacto podem desequilibrar a balança cármica. E, por pensarem assim, continuam a manter atitudes incorretas, aumentando seu carma negativo. Não podemos avaliar nossos atos unicamente por sua dimensão objetiva. Na verdade, podemos criar um carma negativo na "calada da noite", num momento de selente recolhimento, sem sermos notados. Por exemplo, ao abrigar sentimentos de ódio ou inimizade, ainda que não os manifestemos, é nocivo; ter ciúmes de alguma coisa ou alguém e deixar que esse ciúme macule nosso pensamento é igualmente nocivo. Ouçamos os ditames de nossa consciência e teremos a noção exata da dimensão de nossos atos, antes de passarmos à ação.
7º. NÃO PODEMOS BURLAR O CARMA, MAS PODEMOS AMENIZÁ-LO, FAZÊ-LO CESSAR OU BUSCAR DIRECIONAR OS SEUS EFEITOS PARA OCASIÃO FUTURA.
A compensação do ato cármico, a conscientização e a reparação do erro cometido, fazem cessar ou amenizar o débito por nós adquirido. Além disso, se percebermos que alguma lição nos está sendo ou nos será imposta pela Lei do Carma, poderemos buscar, com toda a humildade, de acordo com nosso merecimento e em consonância com as Leis Cósmicas de amor e perdão, dirigir os efeitos e o curso dessa ação para ocasião que julgarmos mais oportuna, em que a lição a ser aprendida possa ser mais suportável para nós. A direção poderá ser feita mediante preces de intercessão ao Deus de nossos corações e exercícios místicos de visualização e criação mental.
Estes fatos são mais uma comprovação do Amor e misericórdia do Criador para com o ser humano e de que a Lei do Carma visa conscientizar, ensinar e iluminar, e não punir as pessoas.
Revista O Rosacruz – 4º Trimestre 2007