contos sol e lua

contos sol e lua

sábado, 13 de junho de 2015

Terra.

Aceita a minha homenagem, Terra, enquanto faço a minha última vénia ao dia. Ajoelhado aos pés do altar do poente Tu és poderosa, e apenas reconhecível pelos poderosos; Tu equilibras o encanto e a severidade, Misturando o masculino com o feminino, Trazendo à vida humana o insuportável conflito. A taça que a tua mão direita enche com nétar É esmagada pela tua mão esquerda; O teu pátio ressoa com o teu riso trocista. Tornas o heroísmo difícil de alcançar; Toda a excelência custosa Não tens misericórdia com aqueles que merecem misericórdia. Um incessante combate oculta-se a teus pés: As tuas colheitas e frutos são coroas de vitória ganhas na batalha. Terra e mar são os teus cruéis campos de batalha – A vida proclama o seu triunfo no rosto da morte. A civilização finda os seus alicerces na tua crueldade: A ruína é a condenação exata para qualquer falta. No primeiro capitulo da tua história os Demónios eram supremos – Rudes, bárbaros, brutais Aos seus dedos toscos e grossos faltava arte; Com clavas e malhos nas mãos armaram motins do mar e nas montanhas. O seu fogo e o seu fumo agitaram violentamente o céu até ao pesadelo; Eles controlaram o mundo inerte; Eles cegaram o ódio da Vida. Os deuses vieram a seguir; com os seus feitiços e subjugaram os Demónios – Despedaçada foi a insolência da matéria A Terra-Mãe estendeu no seu manto verde: Nos picos do Este estava a Aurora; Nas costas Oeste caiu A Noite Derramando a Paz no seu cálice Os Demónios foram humilhados Mas a barbárie primordial manteve as suas garras na tua história. De repente podia invadir a ordem com a anarquia – Dos negros esconderijos do teu ser Pode surgir como uma serpente. A sua loucura está no seu sangue Os feitiços dos deuses ressoam no céu e no ar e na floresta, Cantando solenemente dia e noite; alto e baixo; Mas das regiões sob a tua superfície Às vezes os Demónios semidomesticados levantam os seus capelos – Eles ferem-te profundamente e às tuas criaturas Arruinando a tua própria criação. No teu assento sobre o bem e o mal, À tua vasta e terrível beleza, Ofereço hoje a minha homenagem de vida ferida. Toco o teu enorme e sepultado depósito da vida e da morte, Sinto-o através do meu corpo e do meu pensamento. Os cadáveres de inúmeras gerações de homens jazem amontoados no teu pó: Eu também acrescentarei alguns punhados, a medida à medida da final das minhas dores e alegrias, Acrescentando a esse enorme absorvente, a essa forma absorvente, a essa fama absorvente, A esse silencioso monte de pó. Terra, presa à pedra ou voando entre as nuvens; Absorta na medição silenciosa da cordilheira Ou ruidosamente como o bramido de insones ondas do mar; És a beleza e a fertilidade, o terror e a fome. Por um lado acres de searas, inclinando-se com a maturação, Limpas do orvalho de cada manhã por delicados raios de sol – Ao poente também, oferecendo na sua ondulante verdura a Alegria, a Alegria; Por outro lado, nos desertos insalubres, secos, estéreis, A dança de espetros entre ossos de animais espalhados. Contemplai as tuas tempestades Baisakh desceras velozmente como falcões negros Rasgando o horizonte com bicos de luz relampejante Com chicotada da cauda nas arvores Até estas caírem desesperadas no chão; Telhados de colmo soltam-se Fugindo do vento como condenados das suas correntes. Mas em Phalgun vi a quente brisa do Sul, Propagar todas as rapsódias e solilóquios do amor No seu perfume de flor e manga; Vi o vinho espumante do Céu transbordar da taça da lua; Ouvi sebes submeterem-se bruscamente à agitação do vento E estalarem em ofegantes murmúrios. Tu és gentil e feroz, antiga e renovada; Emergiste do fogo sacrificial da criação original há muito, muito tempo. A tua peregrinação cíclica está preparada com vestígios sem sentido da história; Abandonando as tuas criações sem remorsos, juntas umas sobre as outras, Esquecidas. Guardião da Vida, tu alimentas-nos Em pequenas gaiolas de tempo fragmentado, Fronteiras de todos os nosso jogos, limites reconhecidos. Hoje, estou à tua frente sem ilusões: Não te peço a imortalidade à tua porta Para os muitos dias e noites que passei a tecer as tuas grinaldas. Mas se eu tivesse dado real valor Ao teu pequeno assento um minúsculo segmento de uma das Eras Que se abrem e fecham como clarões nos milhões de anos Da tua órbita solar ; Se eu tivesse ganho nos tribunais da vida algum sucesso, Então marcaria a minha fronte com um sinal feito da tua argila – Para ser apagado a tempo pela noite Na qual todos os sinais desaparecem no desconhecido final. Ó longínqua, impiedosa Terra, Antes de eu ser completamente esquecido Deixa-me colocar a minha homenagem aos teus pés. Rabindranath Tagore.

SUFISMO.

O Sufismo tem sido reconhecido há muito tempo como representantes da espiritualidade e detentores dos conhecimentos e práticas do caminho místico, no despertar da espiritualidade humana, e no resgate da relação do ser humano com o Divino, na busca do desenvolvimento pleno de sua consciência e suas infinitas potencialidades. O Sufismo contém elementos comuns de outras tradições e pode dar continuidade à elas incorporando-as dentro de seu processo. O Sufismo tem um caráter universal, mesmo estando ele ligado ao contexto do mundo Islâmico. Encontramos no Sufismo aspectos das tradições da antiga Pérsia, Egito, Grécia, e outras. Vemos dentro de seus conhecimentos e práticas um conhecimento mais amplo que praticamente sintetiza os elementos mais diversos. O Sufismo tem como objetivo o retorno do ser humano à sua dimensão mais perfeita aproximando-o ao Divino, como qualquer caminho místico verdadeiro. O Sufismo foi o grande responsável por introduzir no Islã um grau cultural que acabou por influenciar o próprio Ocidente durante a Idade Média. O Sufismo influenciou tanto Cristãos e Judeus como as escolas esotéricas. Também influenciou a filosofia, com a tradução dos textos dos filósofos gregos e em todo o desenvolvimento posterior, nas ciências, na medicina, na matemática, na astronomia e nas Artes através da influência moura. Os primeiros Sufis apareceram alguns anos após a morte do profeta Maomé. Eram indivíduos que se retiraram para o deserto ou para locais sem evidência, para preservar e dar continuidade aos conhecimentos que receberam. À eles Maomé teria confiado os aspectos mais esotéricos do conhecimento que possuía, a dimensão mais mística ou espiritual. Em contato com outras tradições, estes primeiros sufis foram os maiores responsáveis pelo desenvolvimento da dimensão mística do Islã, e aos poucos foram formando escolas e ganhando importância como os verdadeiros representantes da espiritualidade. Começaram a ser conhecidos como Sufis e inseriram suas escolas na comunidade. A melhor aproximação na definição de Sufismo reside em um de seus próprios atributos, o Caminho. Uma via que dá acesso ao "Ser Humano Desperto". O Sufismo considera o homem atual não plenamente no gozo das qualidades e atributos a que afirma ter direito e uso. O seu comportamento poderia ser qualificado de "Sono". Para despertar esse homem, o Sufismo dispõe de um arsenal de meios, métodos e processos. Existem princípios que permitem a escolha correta. O princípio do tempo correto, do lugar correto, de pessoas corretas, de situação social correta e a presença de um mestre preparado. Reais progressos, segundo os sufis, só podem ser realizados sob a orientação de um mestre vivo e atuante. A aproximação ao Sufismo feita através de livros, palestras e discussões é mera aproximação. O Sufismo é um processo vivencial e experimental que, sob as orientações de um mestre qualificado, dentro das condições de tempo, lugar e situação social e pessoal realiza a transformação do ser humano, de forma a levá-lo a um aperfeiçoamento, cujo produto final é conhecido como Sufi. Este processo não entra em conflito com as necessidades, disposições, realizações e realidades, do mundo exterior ao indivíduo. Um sufi pode existir em qualquer lugar. O Sufismo é a essência absoluta de todas as religiões. Sempre que uma religião se torna viva é por causa do Sufismo. Sufismo significa simplesmente um caso de amor com o supremo, um caso de amor com o todo. Sufismo é a arte de remover obstáculos entre você e você, entre o self e o self, entre a parte e o todo.Ele não conhece formalidade. Um sufi é um sufi. Não há como definí-lo. Através da mente e do intelecto não é possível conhecê-lo.Você pode apenas vivenciá-lo. A única maneira de saber o que é um sufi.é tornar-se um deles. O Sufismo só pode ser transferido de pessoa a pessoa e não a partir de um livro. É uma transmissão além das palavras. Os sufis tem uma palavra especial para isso que é Silsila. Silsila significa uma transferência de um coração a outro coração, de pessoa a pessoa. O Sufismo é muito pessoal. Um sufi tem de obter uma inocência primal. Ele tem de abandonar todos os tipos de cultura, condicionamento. Ele tem de se tornar novamente um animal. Sufi significa lã, na raiz da palavra alemã e árabe. Quando você escolhe que isto é bom e aquilo é mau, você permanece dividido. Um sufi não conhece escolha. Ele é consciente sem escolha. O que quer que aconteça, ele aceita como uma causa dada por Deus. Ele confia na mente universal. A palavra sufi pode ser derivada de sufa - pureza, limpeza, purificação. Quando você vive uma vida sem escolhas, surge uma pureza natural no sentido de ser divino. Para um sufi Deus não é uma idéia. É sua realidade vivida. Esta realidade não está em algum lugar no céu. Ela está aqui e em todos os lugares, agora. Deus é apenas um nome para a totalidade da existência. A palavra sufi pode ser derivada de outra palavra, sufia, que significa escolhido como amigo de Deus. A sabedoria surge através do seu próprio ser. Você é a luz de si mesmo. O Alcorão diz que três qualidades tem de estar no coração do buscador. A humildade, a caridade e a verdade (autenticidade). Estes são os três pilares do Sufismo. Humildade define o homem que entendeu todas as formas do ego, não do desejo. Caridade aparece quando você, a partir da sua abundância, compartilha a alegria de dar tal como a flôr dá o seu perfume. O sufi vive no momento e esse pequeno momento torna-se luminoso através da concentração de energia. O Sufismo é o caminho do amor e do sentimento. Sufismo é o despertar do coração. Os sufis são aqueles que tem coração. O coração é a faculdade de perceber o bem amado. Só atravéz do coração você realiza a vida. É como uma celebração. O Sufismo é uma grande celebração. Um sufi lhe dá métodos, não doutrina. Os sufis são chamados "O povo do caminho" e eles dizem: Trabalhem o método! Para seguir um método a pessoa precisa estar em busca. Um mestre vivo lhe dará apenas uma visão do que é possível. Então você começa a trabalhar por si mesmo. Cada um tem de encontrar sua própria disciplina. Existem três planos: corpo, mente e alma. O primeiro é sharia, que significa o corpo da religião. O ritual, o formal e mais social do que espiritual. Sharia é o núcleo superficial da religião. Sharia é a circunferência de um círculo. A segunda camada é hagiga. É o centro da circunferência, a alma da religião e a essência. O terceiro plano é a tarica que significa o caminho, o método, de fora para dentro. Só um raio pode ligar a circunferência ao centro e os raios são as pessoas do caminho, que transmitem muitas técnicas. Tárica é levar a pessoa até a verdade para que ela possa ver por si mesma. Cada degrau tem de ser celebrado. O sufi dá a você o conhecimento sobre tárica, sobre o método mas não dá a você conhecimento sobre princípios. Os sufis dizem que se um homem não tem consciência, nada pode ser ensinado. Sufi significa consciência na vida, conciência num plano mais elevado do qual normalmente vivemos. Um mestre não reajusta a sua mente, ele o ajuda a dissolvê-la livre de condicionamentos, leis, sociedade. Ele lhe dá liberdade. Quando a pessoa começa a se perguntar o que é a religião verdadeira, o que é o verdadeiro Deus, ela se transforma em um buscador sufi. Não há nenhum significado existindo na vida. Alguém tem de criá-lo. A verdade religiosa não é uma coisa. É um significado e um sentido. Cada pessoa ir atrás dela para descobrí-la e explorá-la. O conhecimento é uma teoria; o conhecer é uma experiência; conhecer quer dizer que você abre os olhos e você vê . Conhecimento significa que quem abriu os olhos viu e fala sobre isso e continua a acumular informações. Os sufis dizem que se uma pessoa quer renunciar a algo, deve renunciar ao conhecimento que acumulou na memória. Essa é a verdadeira barreira para se tornar como crianças, um inocente. Toda a existência é de cada pessoa. Ela deve explorá-la sem nenhum preconceito e filosofia mantendo a mente aberta. e assim ficará surpresa por descobrir que Deus existe. A existência é um mistério, o imprevisível está em todo lugar. O corpo é a alma visível e a alma é o corpo invisível. Contemplação Sufi significa pessoas sentadas em profunda recordação de Deus. Apenas sentadas silenciosamente observando a fonte fluindo energia. O que vier do mestre, a pessoa está pronta para recebê-la. Baraka, a graça, está sempre fluindo do mestre. Se você estiver aberto, você será preenchido por ela. Você pode beber da fonte do seu mestre, onde quer que você esteja. Meditação é um meio de ir para dentro de si mesmo, na profundidade onde os pensamentos não existem. Sufis, o povo do caminho - Livro de Osho.

A Poesia Mística e Amorosa de Rumi . Pedro Tornaghi.

. Pouco conhecido no Brasil, o sufismo é uma fraternidade espiritual nascida na antiga Pérsia e marcada pela busca de liberdade interna. Seus adeptos são, muitas das vezes, artistas, poetas, músicos, dançarinos, atores, que se utilizam da arte como meio de afinar sua espiritualidade. Dessa maneira, eles se destacam por criar meditações criativas e inspiradas, alegres e despojadas. O sufismo é um movimento espiritual que se infiltra em todas as demais escolas espirituais e religiões e tenta extrair de cada uma delas suas verdades mais íntimas e secretas. Sua essência é aceitar qualquer experiência e decifrar a inteligência camuflada por trás dela. Dessa maneira, um sufi nunca evita uma experiência, mas busca usá-la, seja qual for, como caminho para a vivência da espiritualidade. O caminho dos sufis rumo à realização espiritual passa sempre pelo coração. Ser um sufi significa viver um caso de amor com a espiritualidade, envolvendo a paixão fervorosa de um amante e a maturidade tranqüila de um amor fraterno. Pode-se mesmo dizer que os dois referenciais máximos do sufismo são o a liberdade e o amor. Rumi, poeta sufi do século XII resume este espírito em seus versos: “Ó amantes, abandonai as tolas ilusões. / Enlouquecei, perdei de vez a cabeça. / Erguei-vos do fogo ardente da vida / – tornai-vos pássaros, sede pássaros” O arrebatamento que Rumi evoca é a matriz do comportamento sufi, a entrega sem limites, sem medir as conseqüências e principalmente, sem medir o quanto se dá e o quanto se espera de volta, a entrega total como se não houvesse outra coisa a ser feita. A entrega que só conhecem aqueles que estão embriagados pela paixão. Rumi pede em seus versos uma atualização constante do sentir, “Limpa teu coração dos velhos rancores, / lava-o sete vezes / e serve o vinho do amor / torna-te o amor.” Esse é o cerne do sufismo, amar infinitamente o finito, de forma que o contato com o infinito não esteja fora, mas dentro de si. Amar tão infinitamente, que não é preciso alcançar algo fora de si que contenha, como “prêmio”, a espiritualidade, mas que essa própria intensidade e pureza de amor, possa traduzir o néctar da espiritualidade. Dessa maneira, para o sufi, mais importante que “o que” fazer, é “como” fazê-lo, com que sinceridade interna, com que inteireza, com que intensidade de doação de si. Assim, segue Rumi no poema: “Enche tua alma de todo o amor, / transforma-o na alma suprema. / Senta à mesa dos santos, / embriaga-te, sê o vinho.” Sim, “sê o vinho”, quem é capaz de reconhecer o próprio nectar e embriagar-se dele? Todos o são, potencialmente, mas na prática, quantos o fazem? “Dentro do coração emperdenido do homem / arde o fogo que derrete o véu de cima abaixo. / Desfeito o véu, / o coração descobre as histórias de Hidr / e todo o saber que vem de nós.” Sim, o mestre sufi aponta o tempo todo para isso: o grande saber não está em nenhum livro, mas no centro do peito da pessoa; Rumi, um dos maiores intelectuais e eruditos de sua geração, achava a erudição um perigo, que poderia afastar a pessoa de sua fonte mais pura de sabedoria, o coração. Por isso, não se contentou em criar algumas das mais belas e populares poesias persas de todos os tempos, mas criou também a mais famosa meditação sufi, o sama, o giro dos Dervishes. Para conhecer a riqueza do universo sufi, é necessária a prática, mais que qualquer conhecimento escrito. Como diz Rumi, “A palavra surge da alma, / mas diante dela se apequena / …ter sabedoria e vertê-la em palavras / é a honra maior a nós concedida, / mas, diante do sol da verdade, / fala e saber minguam e desaparecem”. Esse foi o recado de Rumi e tem sido o de todo o movimento sufi: se você quer conhecer a verdade interior, leia o quanto quiser, ou simplesmente não leia, mas, “pratique”, se você quer falar sobre espiritualidade, conheça-a primeiro, de verdade. O meio para isso pode ser praticar as meditações sufis. Com o coração. Mundos Infinitos - Rumi. A cada instante a voz do amor nos circunda e partimos em direção ao céu profundo Por que deter-se a olhar ao redor? Já estivemos antes por esses espaços e até os anjos os reconhecem Retornemos ao mestre, que é lá nosso lugar Estamos acima das esferas celestes, somos superiores aos próprios anjos Além da dualidade nossa meta é a glória suprema Quão distante está o mundo terreno do reino da pura substância? Por que descemos tanto? Apanhemos nossas coisas e subamos mais uma vez Sorte não nos faltará ao entregarmos de novo nossas almas Nossa caravana tem por guia Mustafá, a glória do mundo Ao contemplar sua face a lua partiu-se em dois pedaços Não pôde suportar tanta beleza e fez-se feliz mendicante frente àquela riqueza A doçura que o vento nos traz é o perfume de seus cabelos A face que traz consigo a luz do dia reflete o brilho de seus pensamentos Olha bem dentro de teu coração e vê a lua que se despedaça Por que teus olhos ainda fogem dessa visão maravilhosa? O homem emerge do oceano da alma como os pássaros do mar Como há de ser terra seca o lugar do descanso final de uma ave nascida nesse mar? Somos pérolas desse oceano. A ele pertencemos. Cada um de nós. Seguimos o movimento das ondas que se arrastam até a terra e então retornam ao mar E eis que surge a última onda e arremessa o navio do corpo à terra E quando essa onda regressa naufraga a alma em seu oceano E este é o momento da união Rumi. .

Despertar.

O segredo dos segredos se abriria para você. A face do desconhecido Oculto além do universo Apareceria no espelho de sua percepção. Na verdade, sua alma e a minha são a mesma Este é o real significado de nossa relação Entre nós não existe mais eu e você. Acredite em mim. Tudo o que aparece são as sombras e imagens. A mão que as desenha é a mão do senhor A pessoa não ama A menos que ilumine sua alma Ele não é um amante A menos que gire como estrelas ao redor da lua Se você olhar cuidadosamente, verá que cada partícula no ar Feliz ou triste está mergulhada Dentro do sol do Universo Absoluto Cada partícula está tão bêbada e louca quanto nós. União... é o jardim do Paraíso Separação... é o sofrimento do Inferno O amor permanente no universo Sempre permanece coberto E torna nu aquele que está coberto Este é o ponto sutil. Oh alma, quem é o seu amor? Você sabe? Oh coração quem está dentro de você? Você sabe? Oh carne, você busca um caminho para escapar de forma desonesta. Quem está puxando você para Ele? Olhe. Quem está buscando por você? O universo estava repleto de milagres. O orvalho do amor estava misturado com a argila humana Centenas de sacrifícios por amor Entraram nas veias da alma e produziram uma única gota Que é chamada de coração Oh Amado, estamos mais próximos de você que o Amor. Somos o solo no qual você anda É razoável, na crença do amor, Ver todos os universos através de você Mas não ver você? É necessário maturidade para o caminho do amor. É necessário estar fora dos problemas da terra. Curar a própria cegueira. A verdade preenche o universo Você tem olhos para vê-la? rumi.

"A NOITE DE NÚPCIAS (A UNIÃO) ".

Esta noite iremos para o lugar da eternidade. Esta é a noite de núpcias - uma união que nunca acaba do amante e do Amado. Sussurramos doces segredos um para o outro e o universo-criança respira pela primeira vez E então? Você deseja colocar seu pescoço no grilhão do amor? Bem, então não reclame da dor e da dificuldade Apenas vá em direção à isso com a mente calada No final o seu grilhão enferrujado Se transformará em uma corrente de ouro Agora que você está livre deste mundo O que o faz pensar que pode permanecer separado dele? Você não sabe? No momento em que você se transformou na lua, você se transformou na mais visível luz do céu Meu coração se purifica na Sua doce água; Agora meu amor desabrocha sem espinhos. Eu ouço que esse amor é a chave para cada coração. Mas se não há fechaduras, para que falar de chaves? Você deseja a união? União não é algo que pode ser encontrado no chão ou comprada no mercado. A união vem apenas às custas da vida De outro modo, qualquer pessoa poderia alcançar a união. A cada passo que dou me desfaço de mais um vínculo. Eu dou uma centena de passos, os véus caem, O Amado aparece - maravilhoso, radiante - Estou ardendo em paixão! Oh irmão, você não vê? É por mim mesmo que eu me apaixono! Oh Amor, Quando procuro por você Eu o encontro procurando por mim. Quando olho em volta Encontro os cachos de seu cabelo em minhas mãos. Eu sempre pensei que estava bêbado em seu vinho, Agora eu descobri que seu vinho estava bêbado de mim. Eu sou o espelho e a face nele. Eu sou o som e aquele que o canta. Eu sou a doença e a cura. Eu sou a doce água e o copo cheio até a borda. Sem olhar eu posso ver todas as coisas dentro de mim. Por que eu deveria incomodar meus olhos Agora que posso ver o mundo todo com os Seus? Um dia nossas almas serão uma E nossa união será para sempre. Eu sei que tudo o que dou para você volta para mim. Então, eu lhe dou minha vida esperando que seja Você a voltar para mim. Você pede lucro - não fuja do freguês. Você pede a lua - não fuja da noite. Você pede pela rosa - não fuja dos espinhos. Você pede pelo Amado - não fuja de você. Não procure por Deus, Procure por aquele que procura por Deus. Mas por que procurar afinal? Ele não está perdido, Ele está exatamente aqui, Tão próximo quanto o próprio ar. O som maravilhoso que vem do céu - sou eu. A doce fragrância que vem do jardim - sou eu. A grande beleza que vem do coração e da alma Até que eu saia…espere! Eu não posso sair - sou eu. Estou preenchido com esplendor, girando com seu amor. Parece que estou girando ao seu redor mas não - eu giro ao redor de mim mesmo. Durante o dia eu rezava para você e não sabia. Durante a noite eu ficava com você e não sabia. Eu sempre pensei que eu era eu - mas não, Eu era você e não sabia! Um passo em direção ao seu próprio coração é um passo em direção ao Amado. Nesta casa de espelhos você vê muitas coisas - Limpe seus olhos, somente você existe. Existe uma força interna Que dá a você a vida - procure-a. Em seu corpo Jaz uma gema sem preço - procure-a. Oh sufi andarilho, se você deseja encontrar o maior dos tesouros Não olhe para fora, Olhe para dentro e encontre-O. Todo o meu falar é loucura, cheio de sim's e não's Durante muito tempo eu bati na porta - quando ela se abriu eu descobri que estava batendo por dentro! Venha, por favor, venha Seja você quem for Religioso, infiel, herético ou pagão Mesmo que tenha feito promessas uma centena de vezes Mesmo que tenha quebrado suas promessas uma centena de vezes Esta caravana não é a caravana do desespero Esta porta está aberta para todos. Venha, venha seja você quem for. rumi.

"INTOXICAÇÃO DIVINA".

Nós bebemos o vinho do nosso próprio sangue, envelhecido nos barris de nossas próprias almas. Nós daríamos nossa vida por um pequeno gole daquele néctar, nossas cabeças em troca de uma só gota. Outra manhã! Sirva o vinho! A vida sem seu amor não é nada senão morte lenta. A decisão é sua - Aceite o choro do silencioso rubah Ou suporte este coração que queima repleto de pesar. Oh irmão, Tome um gole desta taça dourada - Seu néctar irá transformar este mundo em um paraíso. Beba, beba e ria da nuvem que os outros chamam de desespero. Estou tão embriagado Que perdi a entrada e a saída. Perdi a terra, a lua e o céu! Não coloque outro copo de vinho na minha mão, Coloque-o em minha boca - Porque perdi o caminho da minha própria boca! Nossa embriagues não vem do vinho. A alegria do compartilhar Não vem da corda do rubah. Sem a beleza celestial para preencher nossos copos, sem amigos, sem canto, sem vinho, Nós queimamos como loucos e rolamos embriagados sobre o chão. Dizem que o paraíso será sublime Com um precioso vinho que jorra sem parar e com donzelas para encher nosso copo. Por que não beber desse vinho agora? Por que não nos juntarmos à dança agora? Porque é assim que será de qualquer maneira. "Oh irmão, traga o vinho puro do amor e da liberdade." "Mas mestre, um furacão está chegando." "Mais vinho - nós iremos ensinar a essa tempestade uma coisa ou duas sobre giro!" Sua dança me tomou hoje e subitamente comecei a girar. Todos os reinos giraram ao meu redor em uma celebração infinita. Minha alma perdeu seu controle Meu corpo derrama sua fadiga Ouvindo suas mãos batendo e o som de seu tambor ressoando Eu flutuo em direção aos céus! Uma centena de ondas quebra sobre as águas do coração Levadas pelo vento do Samá Qualquer coração que se junta às águas de todos os corações irá ser destroçado neste vento e gritará Samá! O sufi está dançando como os raios de sol quando brilham. Dança do crepúsculo até a madrugada, Eles dizem, "Isto é trabalho do demônio". Certamente então, o Demônio com quem dançamos é doce e alegre e ele mesmo é um girador em êxtase! O mundo dança em volta do sol. A luz da manhã surge Girando com delícia. Como pode alguém Tocado por seu amor Não dançar como um salgueiro? O Amado, como o sol, irá brilhar. O amante, como os átomos, irá girar. Como a brisa da primavera O amor balança a terra gentilmente - Cada ramo, que não está morto, irá dançar. rumi.

"UMA BRINCADEIRA DE CRIANÇA".

Ouça o poeta Sanai, que vivia recluso: "Não erra pelas estradas em teu êxtase. Dorme na taverna." Quando um bêbado cai na rua, as crianças riem dele. Se cai na lama. Ele segue qualquer e todas as estradas. As crianças seguem, sem conhecer o gosto do vinho, ou como sente sua bebedeira. Todas as pessoas no planeta sã crianças, exceto uns poucos. Ninguém é adulto exceto aqueles livres do desejo. Deus disse, "O mundo é um jogo, um jogo de crianças, e vós sois as crianças." Deus fala a verdade. Se tu não deixastes a brincadeira de criança, como podes ser um adulto? Sem pureza de espírito, se ainda estás em meio à luxúria e à ganância e outros quereres, és como crianças brincando de sexo. Elas lutam e se esfregam, mas não é sexo! O mesmo com as lutas da humanidade. É uma disputinha de espadas de brinquedo. Sem finalidade, totalmente fútil. Como crianças em cavalinhos-de-pau, os soldados afirmam cavalgar Boraq, o cavalo-da-noite de Maomé, ou Duldul, sua mula. Tuas ações não significam nada, o sexo e a guerra de que participas. Estás segurando as calças e dançando, Dun-da-dun, dun-da-dun. Não espere a morte para descobrir isto. Reconheça que a tua imaginação, o teu pensamento e os teus sentidos são bambus que as crianças cortam e fingem que são cavalinhos. O conhecimento dos amantes místicos é diferente. As ciências empíricas, sensoriais, são como um asno carregado de livros, ou como a maquiagem da mulher. Sai com água. Mas se tu carregas a bagagem corretamente, te dará alegria. Não carrega a tua carga de conhecimentos por alguma razão egoísta. Nega teus desejos e vontades, e uma montaria verdadeira surgira sob você. Não fique satisfeito com o nome de HU, com apenas palavras a respeito. Experimente aquela respiração. dos livros e das palavras surge a fantasia, e as vezes, da fantasia vêm a união. rumi.

de Poemas - RUMI.

Vem, Te direi em segredo Aonde leva esta dança. Vê como as partículas do ar E os grãos de areia do deserto Giram desnorteados. Cada átomo Feliz ou miserável, Gira apaixonado Em torno do sol. ***************** Ninguém fala para si mesmo em voz alta. Já que todos somos um, falemos desse outro modo. Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma Fechemos pois a boca e conversemos através da alma Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo. Vem, se te interessas, posso mostrar-te. ******************** Desde que chegaste ao mundo do ser, uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses. Primeiro, foste mineral; depois, te tornaste planta, e mais tarde, animal. Como pode isto ser segredo para ti? Finalmente, foste feito homem, com conhecimento, razão e fé. Contempla teu corpo - um punhado de pó - vê quão perfeito se tornou! Quando tiveres cumprido tua jornada, decerto hás de regressar como anjo; depois disso, terás terminado de vez com a terra, e tua estação há de ser o céu. ****************** Não durmas, senta com teus pares A escuridão oculta a água da vida. Não te apresses, vasculha o escuro. Os viajantes noturnos estão plenos de luz; não te afastes pois da companhia de teus pares. ************** Faltam-te pés para viajar? Viaja dentro de ti mesmo, e reflete, como a mina de rubis, os raios de sol para fora de ti. A viagem conduzirá a teu ser, transmutará teu pó em ouro puro. ***************** Sofreste em excesso por tua ignorância, carregaste teus trapos para um lado e para outro, agora fica aqui. ******* Na verdade, somos uma só alma, tu e eu. Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti. Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo, Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu. ****** Oh, dia, levanta! Os átomos dançam, As almas, loucas de êxtase dançam. A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança, Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança. ****** Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio: - Não me esconda nada dos segredos do mundo! Muito docemente, ele me disse ao ouvido: - Chut! Podemos compreender, mas não exprimir! ****** Quero fugir a cem léguas da razão, Quero da presença do bem e do mal me liberar. Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser. Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis! ******* Eu soube enfim que o amor está ligado a mim. E eu agarro esta cabeleira de mil tranças. Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça, Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim. ***** Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu; Esta água nunca faltou a este riacho Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume, Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro? ****** Se busco meu coração, o encontro em teu quintal, Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo. Se bebo água, quando estou sedento Vejo na água o reflexo do teu rosto. ****** Sou medido, ao medir teu amor. Sou levado, ao levar teu amor. Não posso comer de dia nem dormir de noite. Para ser teu amigo Tornei-me meu próprio inimigo. ******* Teu amor me tirou de mim. De ti, preciso de ti Noite e dia, eu queimo por ti. De ti, preciso de ti. ******* Não posso dormir quando estou contigo por causa de teu amor. Não posso dormir quando estou sem ti por causa de meu pranto e gemidos. Passo as duas noites acordado mas, que diferença entre uma e outra! ******** Não temos nada além do amor. Não temos antes, princípio nem fim. A alma grita e geme dentro de nós: - Louco, é assim o amor. Colhe-me, colhe-me, colhe-me! ******* À noite, pedi a um velho sábio que me contasse todos os segredos do universo. Ele murmurou lentamente em meu ouvido: - Isto não se pode dizer, isto se aprende. ******* A fé da religião do Amor é diferente. A embriaguez do vinho do Amor é diferente. Tudo que aprendes na escola é diferente. Tudo que aprendes do Amor é diferente. ****** - Vem ao jardim na primavera, disseste. - Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz. Que posso fazer com tudo isso sem ti? E, se estás aqui, para que preciso disso? Jalaluddin Rumi...***

MOISÉS E O PASTOR.

Certa vez, Moisés ouviu um pastor rezando assim: "Ó Deus, mostra-me onde estás, para que eu possa tornar-me Teu servo. Limparei Teus sapatos e pentearei Teus cabelos, coserei Tuas roupas e irei buscar leite para Ti". Ao ouvi-lo rezar dessa maneira insensata, Moisés repreendeu-o, dizendo: "Ó tolo!, embora teu pai fosse religioso, tu te tornaste um infiel. Deus é um Espírito, e não precisa desses cuidados grosseiros, como tu, em tua ignorância, supões". Envergonhado com essa censura o pastor rasgou suas vestes e fugiu para o deserto. Então ouviu-se uma voz do céu dizendo: "Ó Moisés, por que fizeste partir meu servo? Teu ofício é reconciliar meu povo comigo, e não afastá-lo de mim. Dei a cada raça diferentes costumes e formas de louvar-me e adorar-me. Não tenho necessidade de seus louvores, estando acima de toda necessidade. Não considero as palavras, mas um coração ardente. São várias as formas de mostrar-me devoção, mas se a devoção for sincera, elas são aceitas". AS FORMAS RELIGIOSAS NÃO IMPORTAM Uma voz veio de Deus a Moisés: "Por que fizeste partir meu servo? Vieste para levar os homens a se unirem a Mim, E não para afastá-los de Mim. Na medida do possível, não te ocupes em dividir; 'A coisa que mais me desagrada é o divórcio'. A cada pessoa, destinei formas peculiares, A cada uma, dei costumes particulares, Aquilo que em ti é louvável, nele é repreensível, O que é veneno para ti, para ele é mel. O que é bom para ele, é mau para ti, O que é belo nele, em ti é repulsivo. Estou isento de toda pureza e impureza, Não preciso da preguiça ou do vigor do meu povo. Não criei os homens para tirar deles proveito, Mas para verter sobre eles minha beneficência. Nos homens da Índia, os hábitos da Índia são louváveis, Nos homens da China, os da China. Eu não sou purificado por seus louvores, São eles que se tornam puros e brilhantes com isso. Não considero o exterior e as palavras, Considero o interior e o estado do coração. Olho o coração, se ele é humilde, Embora as palavras possam ser o inverso da humildade. Porque o coração é substância, e as palavras, acidente. Acidentes são só um meio, a substância é a causa final". Rumi.

SHAMS É O SOL DE RUMI.

"Estivesse eu no Leste ou no Oeste, estivesse eu para ascender aos céus, eu não teria encontrado nenhum traço Teu, e nenhum traço da vida eterna. Eu estava entre os ascetas da terra, senhores do atril; até que um acidente do coração trouxe-me até um amor que nada pode diante de Ti mas que chega a acariciar Tuas mãos... Primeiro eu me apaixonei pelos livros. E elevei-me acima de outros eruditos e outros homens letrados. Mas ao ver que tuas mãos forneciam o vinho do amor divino, eu fiquei embriagado e quebrei minhas penas. Eu fiz minha ablução numa chuva de lágrimas. A qibla* da minha oração tornou-se a face do amado. Se houver algum obstáculo entre tu e eu que seja ele despedaçado. Melhor, se eu tiver que viver privado de ti, que a minha existência seja atirada ao fogo. 'És tu o meu amante, na Kaaba ou na igreja... As chamas do amor desprendem-se para além da face da terra e do trono de Deus. E nestas chamas eu não posso ocultar a face de Shamsuddin... Shams de Tabriz é o Sheikh da religião, o significado oceânico do senhor dos mundos. É ele o mar da alma. Ele é aquele que se precipita, espumando, fluindo e renovando o mar. Diante dele, a terra, os céus e todas as coisas existentes, são como nada... Como um astro iluminado, Mevlana se move na órbita de Shams. Ele foi atraído para a sua luz, absorvido na sua radiação. Quando o sol de Shams nasce, todas as sombras se esvanessem..." Rumi

A Linguagem dos Pássaros.

Um grupo de pássaros desejava encontrar a seu rei; então pediram à poupa sábia (um pássaro com crista em forma de abano) que lhes ajudasse em sua busca. A poupa lhes disse que o rei que estão procurando se chama Simurgh (que significa em persa “Trinta Pássaros”) e que vive escondido na montanha de Kaf, porém é uma viajem muito difícil e perigosa. Os pássaros imploram à poupa que os guie. A poupa aceita e começa a ensinar a cada pássaro de acordo com seu nível e temperamento. Ela lhes diz que para alcançar o alto da montanha, necessitam atravessar cinco vales e dois desertos; quando tiverem passado o segundo deserto, entrarão no palácio do rei. Os de vontade débil, temerosos da viagem, começam a por desculpas. O louro, que é egocêntrico e egoísta, diz que no lugar de ir em busca do rei, buscará o Santo Gral. O pavão real, a ave legendária do paraíso, exclama que tem sonhado que voltará ao céu e que vai esperar pacientemente esse dia. A pata, se lamenta porque sua vida depende de estar próxima da água e morreria se si separasse dela. A garça tem uma desculpa similar; não lhe é possível viajar longe do mar, porque seu amor pela água é tão grande que, embora permaneça sentado durante anos à sua margem, não tem ousado beber nem uma gota, se não o mar acabaria sem água. A coruja declara que prefere ficar e buscar as ruínas com a esperança de encontrar um tesouro algum dia. O rouxinol diz que não necessita viajar, porque está enamorado da rosa e este amor é suficiente para ele. Possui os segredos do amor que nem outra criatura tem; e com uma voz maravilhosa canta ao amor: - Conheço os segredos do amor. Toda noite derramo meu canto de amor. A música mística da flauta se inspira em meu lamento, e sou eu quem faz desabrochar a rosa e comover os corações dos namorados. Ensino mistérios com minhas tristes notas, e quem me ouve se perde em êxtase. Ninguém conhece os meus segredos, unicamente a rosa. Tenho me esquecido de mim mesmo e só penso na rosa. Alcançar a Simurgh está acima de mim! O amor da rosa é suficiente para o rouxinol! A poupa que escutou pacientemente responde ao rouxinol: - Tu estás preocupado com a forma exterior das coisas, pelos prazeres de uma forma sedutora. O amor da rosa tem lançado espinhos a teu coração. Não importa quão grande seja a beleza da rosa, se desvanecerá em poucos dias; e o amor a algo tão passageiro só pode causar repulsa ao perfeito. Se a rosa te sorri é só para enxerte de dor, porque ela rir-se de ti a cada primavera. Abandona a rosa e seu quente calor. “O que quer dizer Attar com esta simples conversação? Nós humanos temos o desejo de buscar a perfeição, mas muitas vezes tendemos a parar o processo tão logo detectamos o mais ligeiro sinal de progresso. Isto é especialmente certo nos aspirantes ao caminho espiritual: muitos buscadores estão encantados com as primeiras etapas do despertar e o confundem com a completa iluminação. Attar nos adverte de tais perigos: não devemos confundir o amor do imaginário com o amor do Real. Por esta razão, o rouxinol tem que abandonar seu enganoso apego pela rosa para buscar ao eterno Amado.” A poupa deleita os pássaros com maravilhosas histórias daqueles que têm feito a perigosa viagem. Depois de ter ouvido as histórias da poupa, os pássaros estão inspirados para começar sua viajem até o primeiro vale. Entretanto, logo começam a ter problemas, e se dão conta de que o caminho vai ser mais difícil do que haviam imaginado. Alguns voltam a por desculpas. Um afirma que a poupa não é suficientemente sábia para conduzi-los. Outro se queixa que satanás lhe tem possuído e lhe está pondo as coisas difíceis. E outro expressa seu desejo de ter dinheiro e a comodidade de uma vida de luxo. Finalmente, a poupa decide que a única forma para que os pássaros compreendam, é descrever-lhes os sete vales e desertos da viajem. O primeiro é o Vale da Busca. Aqui se busca a Verdade com inquietude, diz a poupa. Com constância, se busca um significado maior ao propósito da vida. Só um buscador com dedicação pode atravessar a salvo o primeiro vale e ir ao segundo, o Vale do Amor. Aqui se sente um desejo ilimitado de ver ao Rei Amado. Um fogo abrasador começa a crescer no coração e se faz devastador. O lugar é mais perigoso que o primeiro vale, porque há obstáculos no caminho para por a prova o amor. Entretanto esse mesmo amor impulsiona ao buscador sair do vale e ir até uma terra mais alta: o terceiro vale, o Vale do Conhecimento. Uma vez que se entra nesta terra, o coração se ilumina com a verdade. Se adquire aqui o conhecimento interior do Amado. Deste lugar o viajante continua a viajem ao Vale do Desapego, onde perde seus desejos de possessões mundanas. Não existe ataduras com o mundo material para o viajante que atravessa esse vale; liberado dos desejos agora o aspirante é completamente independente. Cada novo lugar que o buscador encontra é mais perigoso que o anterior e deve ser explorado passo à passo, porque cada um contém suas próprias provas e dificuldades. Assim, cada encontro com uma terra diferente é uma experiência nova. O quinto vale é o Vale da Unidade. O viajante experimenta nele que todos os seres são unos em essência, que toda variedade de idéias, experiências e criaturas da vida tem realmente uma só fonte. O viajante chega ao Deserto do Medo. Então se esquece da existência de si mesmo e de todos os demais. Vê a luz, não com os olhos da mente, sim com os olhos do coração. A porta do divino tesouro, o segredo dos segredos, se abre. Nesta terra, o intelecto já não funciona. Aqui se pergunta ao viajante quem é e o que és, responde: “Não sei nada.” Finalmente chega ao Deserto do Aniquilamento e da Morte. Neste ponto, o aspirante entende finalmente como uma gota se funde no oceano da unidade com o Amado. Tem encontrado o destino da viajem para encontrar ao rei. Depois de ouvir a descrição da poupa sobre o que lhes espera, os pássaros se animam tanto que imediatamente continuam sua viajem. No caminho alguns morrem pelo calor e se jogam no mar. Outros se cansam e não podem continuar; um grupo é caçado por animais selvagens e outros mais se distraem tanto pelo atrativo das terras que atravessam, que se perdem e ficam para trás. Só trinta alcançam seu destino: a montanha de Kaf. No palácio real, o guarda da entrada trata cruelmente os trinta pássaros. Mas os pássaros, que têm passado o pior, são tolerantes e não se permitem sentir-se molestados por sua dureza. Finalmente, o servidor pessoal do rei sai e conduz os pássaros ao salão real. Ao entrar, os pássaros olham tudo assustados. Não sabem o que ocorre, porque no lugar de ver a Simurgh, “Trinta Pássaros”, tudo o que vêm é... Trinta Pássaros. Finalmente compreendem que, olhando-se a si mesmos, têm encontrado ao rei, e que em sua busca do rei, têm encontrado a si mesmos. Os que atravessam as sete cidades do amor se purificam. Quando chegam ao palácio real, encontram ao rei que se revela a seus corações. "Fariduddin Attar"