domingo, 16 de dezembro de 2012
Maias - Ciências e Artes.
MEDICINA
O saber médico entre os maias contava com um amplo leque de conhecimento sobre o diagnóstico e o tratamento de diversas doenças. Os remédios produzidos tinham origem diversa e utilizavam matérias de fonte animal e vegetal. Além disso, os tratamentos envolviam o uso de banhos, substâncias alucinógenas, infusões e sangrias. Influenciado por uma forte conotação religiosa, os tratamentos eram conduzidos por xamãs que vinculavam os males físicos a tormentas espirituais.
Os xamãs compunham uma classe exclusiva de sacerdotes conhecedora de diferenciados tratamentos médicos. Entre os diversos sacerdotes, os h’menes eram os que se incumbiam da tarefa de tratar das enfermidades da população. Exercendo atividades auxiliares, os nacomes e chaacoob realizavam sacrifícios e os rituais necessários para um determinado tratamento ou na fabricação de algumas medicações. Além disso, os maias contavam com hábitos de higiene que incluíam banhos diários e o uso de uma goma chamada chicozapote, muito utilizada na higiene bucal.
ASTRONOMIA e MATEMÁTICA.
Tendo grande interesse na movimentação dos corpos celestes, os maias desenvolveram um denso conhecimento astronômico. Observando o Sol e a Lua, conseguiram conceber um preciso calendário composto por meses de 29 dias, e um ano com 365 dias. Além de contarem o tempo pela observância dos movimentos solares e lunares, os maias calcularam o ciclo no qual Vênus encontrava-se alinhada à Terra.
A contagem do tempo entre os maias era realizada pelo uso de dois calendários. O primeiro, chamado tzolkin, possuía 260 dias divididos em 20 períodos de 13 dias. Esse calendário era utilizado para a marcação das principais festividades religiosas dos maias. O segundo, conhecido como haab, era utilizado no controle dos fenômenos naturais e na contagem de qualquer fenômeno desvinculado da esfera religiosa. A junção dos calendários ainda auxiliava em outra contagem de tempo que era marcada a cada 52 anos.
O domínio de tantas formas de contagem do tempo foi possível graças ao saber matemático desenvolvido por este povo. Muitos historiadores apontam que o cálculo maia foi o primeiro a conceber a noção do numeral zero. A base de contagem era feita por um sistema vigesimal que organizava as ordens numéricas da matemática maia.
ESCRITA.
A escrita maia representa uma das mais instigantes áreas do conhecimento desta civilização pré-colombiana. Contando com um sistema composto por aproximadamente mil caracteres, sua escrita concebe a junção de um sistema fonético e simbólico. As mais recentes pesquisas, contando com avançada tecnologia, conseguiram decifrar metade dos sons e símbolos da escrita maia. Sem uma sistematização rígida, os escritos maias utilizavam de diferentes recursos para representar uma mesma idéia.
A escrita, mais que uma via de expressão, representava um artifício de distinção social. Somente as elites tinham o privilégio sobre essa área de conhecimento. Materiais como a cerâmica e a pedra eram utilizados para o registro de informações. Além disso, os maias conseguiram, através de uma fibra vegetal coberta com resina e cal, fabricar uma espécie de papel. Vários livros e códices foram confeccionados a partir desse tipo de papel. Nesses documentos escritos ficaram registrados muitos dos hábitos e ações cotidianas dos povos maias.
ARTE E ARQUITETURA.
A arte maia tinha suma importância na preservação das tradições religiosas. Ao mesmo tempo em que contava e reproduzia as feições de suas principais divindades, a arte maia também envolvia uma importante questão política. Os murais e as esculturas relatavam a grandeza das dinastias que controlavam uma determinada cidade-Estado. Sendo indicada como uma família abençoada pelos deuses, as expressões artísticas maias eram importantes na legitimação do poder político.
Os maias trabalhavam com pedras, matérias em madeira e cerâmica para construírem estátuas e figuras em baixo relevo que adornavam os templos e demais construções urbanas. Na cidade de Bonampak encontram-se várias construções e pinturas da civilização maia. No chamado Templo das Pinturas existem câmaras que relatam a história política, cultural e militar dos povos que se fixaram naquela região. Em outras regiões encontramos ainda o importante legado deixado pela arquitetura maia.
As cidades da civilização maia contavam com avenidas, calçadas, templos e palácios, configurando a grande engenhosidade de suas construções. Em Chichén Itzá e Tikal podem ser encontrados poços, pirâmides e palácios que demonstram a grande riqueza do traçado arquitetônico maia. As residências contavam com três ou quatro cômodos pouco iluminados. Espalhadas por toda Meso-América, as cidades astecas são grande fonte de conhecimento da cultura e da história maia.
Por Rainer Sousa.
Graduado em História.
Maias - Religião.
Os maias, ao serem influenciados pela tradição cultural dos povos olmecas, difundiram uma concepção de mundo onde a contagem cíclica do tempo era fundamental. A observância do movimento dos astros e dos fenômenos climáticos trazia ao pensamento religioso maia uma noção de que os fenômenos eram marcados por uma repetição. A circularidade temporal influenciava, até mesmo, a origem do homem na terra.
Segundo o Popol Vuh, livro sagrado dos maias, os deuses criaram primeiro os seres que não possuíam consciência de si e, por isso, não poderiam adorá-los. O homem surgiu após dois grandes dilúvios, que varreram as primeiras versões humanas feitas a partir de barro e madeira. Na terceira e última tentativa, os deuses resolveram criar o homem a partir do milho, ofereceram a ele a consciência de si e seu sangue foi obtido dos próprios deuses. Para merecerem a dádiva de sua própria existência, os homens deveriam reverenciar os deuses.
O mundo terreno seria a base de outros 13 extratos celestiais que representariam uma escada que conduziria os indivíduos à morada dos deuses. Os templos maias, inspirados nesta escada para o céu, possuíam degraus que alcançavam um determinado topo. Durante os rituais religiosos, a subida do sacerdote ao topo do templo representava a aproximação destes homens com os deuses. Segundo a cosmogonia maia, o mundo era plano e dividia-se entre quatro regiões de diferentes cores.
Além da realizada terrena e celestial, os maias também acreditavam na existência de um submundo habitado pelos mortos. Ah Puch, O Descarnado, era a divindade que controlava esse local. O principal deus dos maias era Itzmana, considerado o rei dos céus. Ixchel, esposa de Itzmana, era uma deusa responsável pelas chuvas e também pelas inundações. Os maias ainda faziam reverências a outros deuses e elementos da natureza.
Os rituais religiosos eram de suma importância para os maias. Sem essas manifestações, os deuses e o universo poderiam vir a desaparecer. Além de preservar a existência do mundo espiritual, os rituais também deveriam apaziguar as divindades com o oferecimento de flores e alimentos. Outro importante aspecto dos rituais religiosos dos maias envolvia o oferecimento de sacrifício humano e animal. A principal importância do sacrifício era a oferenda do sangue, que saciaria a fome dos deuses.
Em geral, um escravo, um inimigo de guerra ou uma virgem eram utilizados durante os sacrifícios humanos. Os sacrificados poderiam ter seu coração extraído, ser executado à flechadas ou afogado em um rio. Durante alguns rituais, a cabeça de um sacrificado era utilizada para a prática de um jogo que representava o movimento e a importância dos astros na manutenção do equilíbrio universal.
Nas cidades maias eram erguidos templos de adoração. Neles ocorriam grandes celebrações públicas que marcavam diferentes épocas do calendário maia. O ano novo, por exemplo, era celebrado por uma diversidade de ritos que faziam referência ao nascimento e à fertilidade.
É importante também citar os rituais funerários, que indicavam a crença maia na vida após a morte. Os mortos eram preparados para uma espécie de viagem para uma outra existência. Nas sepulturas eram colocados alimentos e utensílios pessoais que, segundo a religião maia, poderiam ser utilizados pelo morto durante a sua viagem. Em alguns casos, escravos e mulheres eram juntamente sacrificados para acompanhar o morto durante sua jornada.
Rainer Sousa.
Graduado em História.
LOS CISNES.
II
Los he visto pasar en la hora imponente
Bajo el palio de plata de una noche de Enero
Mientras el lago negro se hacía cancionero
De una rima de paz misteriosa y silente;
En la tinta movible de las aguas del lago
Rielaba de la luna una franja espectral!
Y los cisnes cortaban la franja en un canal
Hecho para sus cuerpos en el oleaje vago;
El temblor de la noche transmitido en el viento
Se asombraba del blanco plumaje inmaculado
Y por no desflorarlo se ocultó avergonzado
Un lirio, en el ramaje informe y ceniciento.
Los he visto de día bajo el palio del sol
Cuando enel lago quieto se miraba el azul
Del cielo y el espacio era así como un tul
Bordado en polvo de oro y enfermo de arrebol;
Puestos en la blancura como una nueva blancura
Triunfaban sobre todo y hasta el sol los mimaba,
Por besarlos más suave sus rayos tamizaba
En las flores y luego los ponía en sua albura.
Los he visto en la aurora como raro diamante
Irisarse el plumaje y volverse una rosa
Que surcaba las aguas sobre una mariposa
Gigantesca y de cuello tornado interrogante.
Los he visto en la tarde cuando el sol se moría
Y el lago era de sangre y era sangre su pluma,
Pluma que se tornaba al correr de la bruma
Nenúfar azulado que en la sombra se abría.
¡Y yo no sé en qué hora los encontré más bellos!...
Os cisnes
I
Como uma branca ronda de flores cujo talo
Sob as águas se erguesse, mórbido e elegante
Vão os cisnes de espuma em fila deslizante
É uma procissão fantástica! Parecem
- volúveis e elegantes- alminhas femininas
Mansamente indolentes, mansamente felinas.
Feito um interrogante seu colo é como símbolo
Da alma que encarnaram e lá vão suavemente
Perguntando ao Mistério o mistério insolvente.
E ao vê-los feito enigmas desfilando, se pensa
Naquela lenda branca do raro Lohengrin
Puxado por um cisne sobre as águas do Rhin.
Outras vezes, bem quietos sobre o lago azulado,
Nos lembram um parêntesis concedido ao sentido,
Um sono de um espírito que ficou adormecido...
E se ocultam o colo de beleza soberba,
Sob a asa de uma neve ricamente bordada
Voltam-se, sem o pescoço, a Beleza truncada!
II
Eu já os vi passar naquela hora imponente
Sob o pálio de prata das noites de Janeiro
Enquanto o lago negro fazia cancioneiro
De uma rima de paz misteriosa e silente;
E na tinta movível das águas desse lago
A lua tremulava um reflexo espectral!
E os cisnes cortavam o brilho num canal
Feito para seus corpos nesse refluxo vago;
O tremor dessa noite transmitido no vento
Se admirava da branca pluma imaculada
E ocultou-se uma flor virgem envergonhada
Temerosa ante o ramo disforme e cinzento.
E eu já os vi de dia sob o pálio do sol
Quando o azul do céu olhava-se no lago
E era o espaço como algum véu fino e vago
Bordado em pó de ouro e enfermo de arrebol;
Postos nessa brancura como nova brancura
Triunfavam sobre tudo e até o sol os mimava,
Por beijá-los mais suave os raios tamisava
Entre mil flores e logo punha-os em sua alvura.
Eu os vi na aurora, como raro diamante
Irisar-se a plumagem e tornar-se uma rosa
Que sulcava as águas sobre essa mariposa
Gigantesca e de colo feito interrogante.
Eu os vi ao entardecer, quando o sol morria
E o lago era de sangue e era sangue sua pluma,
Pluma que se tornava na corrida da bruma,
Nenúfar azulado, que na sombra se abria.
E eu não sei em que hora os encontrei mais belos!...
Alfonsina Storni.
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