contos sol e lua

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domingo, 4 de julho de 2010

Vendendo sua Alma a Satanás.


O mito de Fausto apresenta uma situação curiosa no encontro do herói, que é a alma que procura, com diferentes classes de Espíritos. O Espírito de Fausto, inerentemente bom, sente-se atraído para as ordens superiores; sente afinidade pelo benevolente Espírito da Terra, e deplora a incapacidade de retê-lo e aprender com ele. Face a face com o espírito de negação, ao qual está disposto a servir, ele se sente de um certo modo senhor da situação, porque esse espírito não pode sair pela parte superior do símbolo da estrela de cinco pontas na posição em que está colocada no chão. Mas, tanto sua incapacidade em reter o Espírito da Terra e obter instrução desse exaltado Ser, como seu domínio sobre o espírito de negação, decorrem do fato dele ter entrado em contato com eles por acaso e não através do poder da alma desenvolvido internamente.
Quando Parsifal, o herói de outro desses grandes mitos da alma, visitou pela primeira vez o Castelo do Graal, foi-lhe perguntado como havia chegado ali, e ele respondeu: "Eu não sei". Aconteceu que ele entrou no lugar sagrado da mesma forma que uma alma percebe, às vezes, um vislumbre dos reinos celestiais numa visão; mas ele não podia ficar no Monte Salvat. Foi forçado a sair novamente para o mundo e aí aprender suas lições. Muitos anos depois ele retornou ao Castelo do Graal, triste e cansado da busca e a mesma pergunta lhe foi feita: "Como chegaste aqui?" Mas, desta vez, sua resposta foi diferente, pois disse: "Através da procura e do sofrimento eu vim".
Este é o ponto fundamental que marca a grande diferença entre alguns que se põem em contato com Espíritos dos reinos suprafísicos por acaso e tropeçam no entendimento de uma lei da Natureza, ou aqueles que, por zelosos estudos e principalmente por viver a vida, obtêm a Iniciação, conscientes dos segredos da Natureza. Os primeiros não sabem como usar este poder inteligentemente e estão, portanto, desamparados. Os últimos são sempre senhores das forças que manejam, enquanto os outros são vítimas de quem quiser tirar vantagem deles.
Fausto é o símbolo do homem, e a humanidade foi, no princípio, dirigida pelos Espíritos de Lúcifer e pelos Anjos de Jeová. Agora estamos olhando para o Espírito Cristo na Terra como o Salvador, para emancipar-nos da influência egoísta e negativa dos lucíferos.
Paulo nos dá uma visão da evolução futura que nos está destinada, quando disse que, após Cristo estabelecer Seu reino, Ele o entregará ao Pai, e então será tudo em tudo.
No entanto, Fausto procura primeiro comunicar-se com o macrocosmo, que é o Pai. Como o centauro celeste, Sagitários, ele aponta seu arco para as estrelas mais altas. Não está satisfeito em começar por baixo e galgar o cimo gradativamente. Quando repelido por aquele sublime Ser, desce um degrau na escala e procura comunhão com o Espírito da Terra, que também o desdenha, pois ele não pode tornar-se o pupilo das elevadas forças enquanto não ajustar-se às suas regras, para assim poder entrar no caminho da Iniciação pela porta verdadeira. Portanto, quando percebe que o pentagrama junto da porta detém o Espírito do mal, entrevê uma oportunidade para fazer um acordo. Está pronto para vender sua alma a Satanás.
Mas, como foi dito antes, está totalmente despreparado para manter o domínio com êxito, e o poder do espírito rapidamente desobstrui o caminho e liberta Lúcifer. Mas este, embora saia do gabinete de Fausto, logo volta, pronto para negociar com a alma que procura. Ele descreve, diante dos olhos de Fausto, quadros brilhantes de como viver a vida, como poderá satisfazer suas paixões e desejos. Fausto, sabendo que Lúcifer não está desinteressado, pergunta que compensação ele quer. A isto, Lúcifer responde:
" Eu me comprometo a ser teu servo aqui, enfim,
E a todo o teu aceno e chamado, alerta vou estar;
Mas, quando na esfera além nos formos encontrar,
Então, tu farás o mesmo para mim".
O próprio Fausto acrescentou uma condição aparentemente singular com respeito à época em que o serviço de Lúcifer terminar, e quando sua própria vida terrestre tiver chegado ao fim.
Embora pareça estranho, nós temos na aquiescência de Lúcifer e na cláusula proposta por Fausto, leis básicas de evolução. Pela Lei de Atração somos postos em contato com Espíritos semelhantes, tanto aqui como na vida futura. Se servimos as forças superiores aqui e trabalhamos para elevar-nos, encontraremos companheiros com a mesma índole neste mundo e no próximo. Mas, se gostamos da escuridão mais do que da luz, estaremos ligados ao submundo aqui e no futuro também. Não há como escapar desta lei.
Além disso, somos todos "construtores do templo" trabalhando sob a direção de Deus e Seus ministros, as divinas Hierarquias. Se evitarmos a tarefa que nos foi imposta na vida, seremos colocados sob condições que nos forçarão a aprender. Não há descanso nem paz no caminho da evolução e se procurarmos prazer e alegria a ponto de excluir o trabalho da vida, o dobrar fúnebre dos sinos logo será ouvido. Se chegarmos, alguma vez, a um ponto em que estejamos inclinados a ordenar que as horas parem ou se estamos tão satisfeitos com a nossa vida que até cessamos nossos esforços para progredir, nossa existência estará rapidamente terminada. Observamos que as pessoas que se retiram dos negócios vivendo apenas para aproveitar o que acumularam, logo morrem; enquanto que o homem que troca sua profissão por uma outra ocupação, geralmente vive mais tempo. Nada é tão fácil para encerrar uma existência do que a inatividade. Como já foi dito, as Leis da Natureza são enunciadas no acordo de Lúcifer e na condição acrescentada por Fausto:
"Se eu me satisfizer com a indolência e o lazer,
Que seja essa, então, a última hora que eu possa ter.
Quando tu com lisonjas me fores adular.
Até que auto-complacente eu venha a ser;
Quando tu com prazeres me puderes enganar,
Seja esse o meu dia final.
Sempre que a hora for passando.
Eu digo: 'Oh! fica, és tão leal!'
Assim, a força a ti eu vou dando.
De levar-me ao mais profundo desespero.
M
Meu dobrar de sinos não o deixes prolongar,
De meu serviço, livre irás ficar;
E quando do relógio o ponteiro indicador tiver caído,
Esteja, então, o meu tempo concluído".
Lúcifer pede a Fausto que assine o contrato com uma gota de sangue. E quando perguntado por que, diz astuciosamente: "O sangue é uma essência muitíssimo peculiar". A Bíblia diz que é assento da alma.
Quando a Terra estava em processo de condensação a aura invisível que circundava Marte, Mercúrio e Vênus, penetrou na Terra e os Espíritos desses planetas estiveram em relacionamento especial e íntimo com a humanidade. O ferro é metal de Marte e pela mescla do ferro com o sangue, a oxidação torna-se possível; assim, o calor interno, necessário para a manifestação de um Espírito que habita internamente, foi obtido pela ação dos Espíritos Lucíferos de Marte. Eles são, portanto, responsáveis pelas condições sob as quais o Ego está enclausurado no corpo denso.
Quando o sangue é extraído do corpo humano e coagula, cada partícula tem uma forma especial, distinta das partículas de qualquer outro ser humano. Portanto, quem tiver sangue de uma certa pessoa, tem um elo de ligação com o Espírito que construiu as partículas do sangue. Ele tem poder sobre essa pessoa, se souber como usar esse conhecimento. Foi essa a razão porque Lúcifer exigiu a assinatura com o sangue de Fausto, pois com o nome de sua vítima escrito em sangue, poderia conservar a alma escravizada de acordo com as leis envolvidas.
Sim, de fato! O sangue é uma essência muitíssimo peculiar, importante tanto na magia branca como na negra. Todo conhecimento usado em qualquer direção, deve necessariamente alimentar-se da vida que é primariamente derivada dos extratos do corpo vital, isto é, a força do sexo e o sangue. Todo conhecimento que não seja assim alimentado e nutrido, é tão impotente como a filosofia que Fausto tirou de seus livros. Livros não são suficientes por si só. Somente na medida em que trazemos esses conhecimentos para nossas vidas, alimentando-os e vivenciando-os, é que eles têm real valor.
Existe, no entanto, uma importante diferença a considerar: enquanto o aspirante da Ciência Sagrada alimenta sua alma com sua própria força sexual, e as paixões inferiores com seu próprio sangue que, então, ele transmuta e depura, aqueles que aderem à magia negra vivem corno vampiros à custa da força sexual dos outros e do sangue impuro sugado das veias de suas vítimas. No Castelo do Graal vemos o sangue puro e depurador operando maravilhas sobre os cavaleiros virtuosos que aspiravam desempenhar elevadas ações. Porém, no Castelo de Herodes, a personificação da voluptuosidade - Salomé - fez com que o sangue da paixão corresse desenfreadamente pelas veias dos participantes, e o sangue que jorrou da cabeça do martirizado Batista serviu para dar-lhes o poder que eles não tinham, por serem muito covardes para adquiri-lo através do sofrimento e da própria depuração.
Fausto tenciona adquirir poder rapidamente com o auxílio de outros, tocando num ponto perigoso, do mesmo modo como fazem hoje aqueles que seguem os que se intitulam "adeptos" ou "mestres". Estes estão prontos para explorar os mais baixos apetites dos crédulos, da mesma forma que Lúcifer ofereceu-se para ajudar Fausto. Mas eles nunca poderão dar o poder da alma, não importa o que aleguem. Isto é conquistado internamente, pela paciente perseverança em fazer o bem, um fato que nunca será demasiado repetir.Max Heindel.

Vendendo sua Alma a Santanás (continuação)


Por estar aborrecido, Fausto responde com desdém à exigência de Lúcifer de assinar com sangue o pacto entre eles e, então, profere as seguintes palavras:
"Não temas que faltar à minha palavra eu vá.
O propósito de toda a minha energia
Em inteira concordância com meu juramento está.
Levianamente, muito alto tenho aspirado;
Estou no mesmo nível que tu;
Eu, o Grande Espírito escarnecido; desafiado.
A própria Natureza se escondeu de mim.
Rasgada está a teia do pensamento; minha mente
Abomina toda a classe de conhecimento.
Nas profundezas. de prazeres sensuais mergulhadas
Deixemos ficar nossas paixões incendiadas,
Envoltas nos abismos de mágicos véus formosos,
E que nossos sentidos vibrem em encantos assombrosos".
Tendo sido desdenhado pelas forças que conduzem ao bem e estando completamente dominado pelo desejo de obter conhecimento direto e de verdadeiro poder, está disposto a ir até as últimas conseqüências. Mas Deus está sempre presente, como foi dito no prólogo:
"Um homem bom em sua mais escura aberração,
Conhece ainda o caminho que o conduz à salvação".
Fausto é a alma aspirante, e a alma não pode ser permanentemente desviada do caminho da evolução.
A declaração de Fausto sobre seu objetivo corrobora,a afirmação de que ele tem um ideal elevado, mesmo quando chafurda na lama. Ele quer experiência:
"O fim que eu aspiro não é o prazer.
Agonizante bem-aventurança - eu anseio por realização.
Ódio enamorado, rápido aborrecimento.
Purgado do amor do saber, minha vocação.
De hoje em diante, o objetivo de todos os meus poderes vai ser
Livrar meu peito de toda angústia, conhecer
Todo o infortúnio e o bem estar humanos no âmago do meu coração.
O sublime e o profundo em pensamento abraçar,
Os vários destinos do homem em meu peito acumular".
Antes que alguém possa ser realmente compassivo, deve sentir, como Fausto também o deseja, tanto a profundidade das tristezas da alma humana como suas elevadas alegrias; pois, somente quando conhecemos estes extremos dos sentimentos humanos podemos sentir a compaixão necessária por aqueles que precisam ser ajudados, e assim colaborar na elevação da humanidade. Através de Lúcifer, Fausto é capaz de conhecer tanto a alegria como a tristeza. Lúcifer também admite isto quando diz:
"A força que mesmo o mal planejando
Para o bem está trabalhando".
Pela interferência dos Espíritos de Lúcifer no esquema da evolução, as paixões da humanidade foram despertadas, intensificadas e conduzidas para um canal que tem causado todas as tristezas e enfermidades no mundo. Não obstante, isso despertou a individualidade no homem e libertou-o das condições liderantes dos Anjos. Fausto, pela ajuda de Lúcifer, é afastado dos caminhos convencionais, tornando-se assim individualizado. Quando o pacto entre Fausto e Lúcifer foi concluído, tivemos a réplica dos Filhos de Caim, que são os descendentes e protegidos dos Espíritos de Lúcifer, como vimos em "Maçonaria e Catolicismo".
Na tragédia de Fausto, Margarida é a protegida dos Filhos de Seth, o clero, descrito na lenda Maçônica. No momento, as duas classes representadas por Fausto e Margarida devem defrontar-se, e entre elas será encenada a tragédia da vida. Em conseqüência das desgraças sofridas por elas, a alma criará asas que a elevarão novamente aos reinos das bem-aventuranças de onde veio. Nesse ínterim, Lúcifer leva Fausto à cozinha das bruxas onde ele vai receber o elixir da juventude, para que, rejuvenescido, possa tornar-se desejável aos olhos de Margarida.
Quando Fausto aparece no palco, a cozinha das bruxas está repleta de instrumentos que são usados em magia. Um fogo infernal queima sob uma chaleira onde são preparadas as poções de amor, e há aí muito mais coisas fantásticas. Observamos vários objetos inanimados, mas o que mais desperta a nossa atenção é uma família de macacos, a qual tem um grande significado porque representa uma fase da evolução humana.
A humanidade, satisfeita com a paixão instigada pelos Espíritos de Lúcifer ou Anjos caídos, libertou-se da hoste angelical liderada por Jeová. Como conseqüência desse obstinado desejo, foram logo envolvidos por "revestimentos de pele" e separados uns dos outros. O egoísmo suplantou o sentimento de fraternidade, atingindo o nadir do materialismo. Alguns foram mais passionais que outros. Por isso, seus corpos cristalizaram-se mais. Eles degeneraram e tornaram-se antropóides. Seu tamanho foi reduzido à medida que se aproximavam do limite onde a espécie devia ser extinta. Eles são, portanto, os pupilos especiais dos Espíritos lucíferos. Assim, o mito de Fausto mostra-nos uma fase da evolução humana não incluída na lenda Maçônica, e dá-nos uma visão mais completa e conjunta do que realmente aconteceu.
Houve uma época em que toda a humanidade passou pelo ponto onde os cientistas acreditam estar localizado o elo perdido. Os que agora são antropóides degeneraram a partir daquele ponto, enquanto a família humana evoluiu até o presente estágio de desenvolvimento. Sabemos como a indulgência para com as paixões embrutece aqueles que por elas se deixam levar. Podemos compreender prontamente que quando o homem estava ainda em formação, sem individualidade e sob controle direto das forças cósmicas, esta indulgência não era controlada pelo sentimento da individualidade que, de certo modo, nos protege hoje. Portanto, os resultados seriam naturalmente mais desastrosos e de maiores conseqüências.
Alguma vez, a alma aspirante deve entrar na cozinha das bruxas como o fez Fausto, e encarar o objetivo da lição que nos leva a considerar a conseqüência do mal, representada pelo macaco. A alma tem, então, permissão para encontrar-se com Margarida no jardim, para tentar e ser tentada, para escolher entre a pureza e a paixão, para cair como Fausto, ou permanecer firmemente na pureza, como fez Parsifal. Sob a Lei da Compensação receberá sua recompensa pelas ações praticadas no corpo. De fato, a sorte é irmã gêmea do merecimento, como Lúcifer mostra a Fausto, e a verdadeira sabedoria só se conquista com paciente perseverança na prática do bem.
"Quão ligada está a sorte ao merecimento,
Isso ao tolo jamais ocorreria.
Eu juro, tivesse ele a pedra do homem sábio,
A pedra do filósofo não seria".
Fiel a seu propósito de estudar a vida em vez de livros, Fausto pede a Lúcifer que consiga introduzi-lo na casa da Margarida. Tenta conquistar a afeição dela com um principesco presente de jóias, que Lúcifer introduziu às escondidas em seu armário. O irmão de Margarida está ausente, lutando por sua pátria. Sua mãe não é capaz de decidir o que fazer com o presente, e o leva ao seu guia espiritual na igreja. Este aprecia mais o brilho das gemas do que as preciosas almas a ele confiadas. Negligencia seu dever à vista de um colar de pérolas, mais ansioso em garantir as jóias para o adorno de um ídolo, do que defender uma filha da igreja contra o perigo moral que a cerca. Assim, Lúcifer vence e rapidamente recebe uma recompensa de sangue e, em seguida, de almas humanas. Para conseguir acesso aos aposentos de Margarida, Fausto a persuade a dar à sua mãe uma poção para dormir, o que causa a esta, a morte. Valentino, o irmão de Margarida, é morto por Fausto. Margarida é encarcerada e sentenciada a sofrer pena capital.
Quando uma semente adere à polpa de uma fruta ainda verde, é doloroso retirá-la de lá. Da mesma forma, o sangue, que é o assento da alma, está no corpo de uma pessoa e, quando esta encontra um fim súbito e prematuro, é fácil perceber o sofrimento de tal morte. Os Espíritos de Lúcifer deleitam-se com a intensidade do sentimento e evoluem através disso. Em relação ao objetivo, a natureza de uma emoção não é tão essencial quanto sua intensidade. Por isso, eles agitam as paixões humanas de natureza inferior, que são mais intensas em nosso presente estágio de evolução do que os sentimentos de alegria e amor. Como resultado, incitam à guerra e ao derramamento de sangue, e o que nos parece maligno agora, na realidade, são degraus para ideais mais nobres e elevados, pois, através da tristeza e do sofrimento, tais como foram gerados em Margarida, o Ego eleva-se cada vez mais na escala da evolução. Aprende o valor da virtude quando desliza na direção do vício.
Foi com verdadeira compreensão deste fato que Goethe escreveu:
"Quem nunca comeu seu pão em amargo afã,
Quem nunca, acordado, a meia-noite viu passar,
Chorando, esperando pelo amanhã,
Os Poderes celestiais não sabe ainda avaliar".
Max Heindel.

A Cadeia Mágica.


M anus – A Força
O grande agente mágico, que denominamos luz astral, que outros chamam a alma da terra, que os antigos químicos designavam sob os nomes de Azoth e Magnésia, esta força oculta, única e incontestável é a chave de todos os impérios, o segredo de todos os poderes; é o dragão volante de Média, a serpente do mistério Edênico; é o espelho universal das visões, o laço das simpatias, a fonte dos amores, da profecia e da glória. Saber apoderar - se deste agente é ser depositário do próprio poder de Deus; toda magia real, efetiva, todo o verdadeiro poder oculto. Está aí, e todos os livros da verdadeira ciência só têm o fim de o demonstrar.
P ara apoderar- se do grande agente mágico, duas operações são necessárias: concentrar e projetar; em outros termos, fixar e mover. O autor de todas as coisas deu para base e garantia do movimento a fixidez; o mago deve agir da mesma forma.
O entusiasmo é contagioso, dizem. Por que? É que o entusiasmo não se produz sem crenças firmes. A fé produz a fé; crer é ter uma razão de querer; querer com razão é querer com ma força, não direi infinita, mas indefinida.
O que se opera no mundo intelectual e moral, com maior razão se realiza no mundo físico; e quando Arquimedes pedia um ponto de apoio para levantar o mundo, ele procurava simplesmente o grande arcano mágico.
Num dos braços do andrógino de Henri Khunrath lê - se esta palavra: Coagula, e no outro: Solve.
Reunir e espalhar são os dois verbos da natureza; mas como reunir, como espalhar a luz astral ou alma do mundo? Reúne - se pelo isolamento, e espalha- se por meio da cadeia mágica.
O isolamento consiste, para o pensamento, numa independência absoluta; para o coração, numa liberdade completa; para os sentidos, numa continência perfeita.
T odo homem que tem preconceitos e temores, todo indivíduo apaixonado e escravo das suas paixões é incapaz de reunir ou coagular, conforme a expressão de Khunrath, a luz astral ou a alma da terra.
Todos os verdadeiros adeptos foram independentes até o suplício, sóbrios e castos até a morte; e a razão desta anomalia é que, para dispor de uma força, não deveis ser dominado por esta força de modo que disponha de vós.
Mas então, vão exclamar os homens que procuram na magia um meio de contentar os desejos da natureza, para que serve um poder que não se pode usar para se satisfazer? As pérolas nada são, pois, porque não tem preço alguma para o rebanho de Epicuro? Cúrcio não achava mais bonito mandar nos que têm ouro do que possuí - lo?
Não é preciso ser um pouco mais do que um homem ordinário, quando se tem a pretensão de ser quase Deus? Aliás, sinto afligir-vos e desanimar-vos, mas não invento aqui as altas ciências; eu as ensino e constato as suas rigorosas necessidades, estabelecendo as suas primeiras e mais inexoráveis condições.
Pitágoras era um homem livre, sóbrio e casto; Apolônio de Thyana e Júlio César foram homens de uma espantosa austeridade; Paracelso fazia duvidar do seu sexo, tanto era estranho às fraquezas amorosas; Raimundo Lullo levava os rigores da vida até o ascetismo mais exaltado; Jerome Cardan exagerou a prática do jejum a ponto de morrer de fome, se dermos crédito à tradição; Agrippa, pobre e correndo de cidade em cidade, quase morreu de miséria, para não se sujeitar aos caprichos de uma princesa que insultava a liberdade da ciência. Qual foi, pois, a felicidade destes homens? A inteligência dos grandes segredos e a consciência do poder. Era bastante para estas grandes almas. É preciso ser como eles para saber o que souberam? Não, certamente, e este livro que escrevo é, talvez, a prova disso; mas para fazer o que fizeram é absolutamente necessário empregar os meios que usaram.
Mas que fizeram realmente eles? Admiraram e subjugaram o mundo, reinaram verdadeiramente mais do que os reis. A magia é um instrumento de bondade divina ou de orgulho diabólico, mas é a morte das alegrias da terra e dos prazeres da vida mortal.
- Então, para que estudar?
- Simplesmente para conhecer, e depois, talvez, também para aprender a desconfiar da incredulidade estúpida ou da credulidade pueril. Homens de prazer (e como metade destes homens conto por muitas mulheres), não é um prazer muito grande o da curiosidade satisfeita? Lede, pois, sem temor; não ficareis magos apesar da vossa curiosidade.
Aliás, estas disposições de renúncia absoluta só são necessárias para estabelecer correntes universais e mudar a face do mundo; há operações mágicas relativas e limitadas a um certo círculo, que não exigem tão heróicas virtudes. Pode - se agir sobre as paixões pelas paixões, determinar as simpatias e antipatias, até afligir e curar, sem ter a onipotência do mago; somente é preciso estar prevenido do risco que se corre de uma reação proporcional à ação e de que facilmente se poderia ser vítima.Tudo isto será explicado no Ritual .
Fazer a cadeia mágica é estabelecer uma corrente magnética, que se torna mais forte conforme a extensão da cadeia. Veremos no Ritual, como estas correntes podem ser produzidas e quais são as diferentes maneiras de formar a cadeia. A tina de Mesmer era uma cadeia mágica muito imperfeita; vários grandes círculos de iluminados, em diferentes países do Norte, têm cadeias mais poderosas. Até a sociedade de certos padres católicos, célebres pelo seu poder oculto e sua impopularidade, é estabelecida pelo plano e conforme as condições das cadeias mais poderosas, e é o segredo da sua força, que atribuem unicamente à graça ou à vontade de Deus, solução vulgar e fácil de todos os problemas de força em influência ou adestramento. Teremos de apreciar, em nosso Ritual, a série de cerimônias e evocações verdadeiramente mágicas que compõem a grande obra da vocação, sob o nome de exercícios de Santo Inácio.
Todo entusiasmo propagado numa sociedade, por uma continuidade de comunicações e práticas firmes, produz uma corrente magnética e se conserva ou aumenta pela corrente. A ação da corrente é arrastar e, muitas vezes, exaltar fora das medidas as pessoas impressionáveis e fracas, nervosas, os temperamentos dispostos ao histerismo ou às alucinações. Estas pessoas logo se tornam poderosos veículos da força mágica, e projetam com força a luz astral na própria direção da corrente; opor- se, então, às manifestações de força, seria, de algum modo, combater a fatalidade. Quando o jovem fariseu Saul, ou Schôl veio lançar - se, como todo fanatismo e toda teimosia de um sectário, através do cristianismo invasor, punha- se, contra sua vontade, à mercê da força que acreditava combater; por isso foi fulminado por um formidável raio magnético, que foi, sem dúvida, mais instantâneo pelo efeito combinado de uma congestão cerebral e de uma queimadura solar. A conversão do jovem israelita Afonso de Ratisbona, é um fato contemporâneo absolutamente da mesma natureza. Conhecemos uma seita de entusiastas da qual se ri a distância e na qual entram Contra vontade os que dela se aproximam, mesmo para combatê - la. Direi mais, os círculos mágicos e as correntes magnéticas se estabelecem por si mesmos e influem, conforme leis fatais, sobre os que são submetidos à sua ação. Cada um de nós é atraído para um círculo de relações que é seu mundo e cuja influência sofre. Jean Jacques Rousseau, este legislador da revolução francesa, este homem que a nação mais espiritual no mundo aceitou como a encarnação de razão humana, Jean Jacques Rousseau foi arrastado à mais triste ação da sua vida, o abandono de seus filhos, pela influência magnética de um círculo de libertinos, pela corrente mágica de uma mesa de hotel. Ele o conta simples e ingenuamente nas suas Confissões , e é um fato que ninguém notou. Muitas vezes, são os grandes círculos que fazem os grandes homens, e reciprocamente. Não há gênios incompreendidos; há homens excêntricos , e a palavra parece ter sido inventada por um adepto. O homem excêntrico em gênio é aquele que procurar formar para si um círculo, lutando contra a força de atração central das cadeias e correntes estabelecidas. O seu destino é de ser despedaçado ou ter sucesso. Qual é a dupla condição de sucesso em tal caso? Um ponto central de fixidez e uma ação circular perseverante de iniciativa. O homem de gênio é aquele que descobriu uma lei real, e que, por conseguinte, possui uma força invencível de ação e direção. Pode morrer na obra; mas o que o ele quis realizar se realiza, apesar da sua morte e, muitas vezes, mesmo por causa da sua morte: porque a morte é uma verdadeira assunção para o gênio. Quando me elevar da terra, dizia o maior dos iniciadores, arrastarei tudo após mim.
A lei das correntes magnéticas é a do próprio movimento da luz astral. Este movimento é sempre duplo e se multiplica em sentido contrário. Uma grande ação prepara sempre uma reação igual, e o segredo dos grandes sucessos está inteiramente na presciência das reações. É assim que Chateaubriand, inspirado pelo desgosto das saturnais revolucionárias, pressentiu e preparou o imenso sucesso do seu Gênio do Cristianismo . Opor- se a uma corrente que começa seu círculo é querer ser despedaçado como o foi o grande e infeliz Juliano; opor- se à corrente que percorreu todo o círculo da sua ação é tomar a chefia da corrente contrária. O grande homem é aquele que chega a tempo e que sabe inovar o propósito. Voltaire, no tempo dos apóstolos, não teria achado eco para a sua palavra, e, talvez, teria sido simplesmente um parasita engenhoso dos festins de Trimalcyon. Na época em que vivemos, tudo está pronto para uma nova explosão do entusiasmo evangélico e do desinteresse cristão, precisamente por causa do desengano universal, do positivismo egoísta e do cinismo público do interesses mais grosseiros. O sucesso de certos livros e as tendências místicas dos espíritos são sintomas inequívocos desta disposição geral. Restauram - se as igrejas e constróem- se novas; quanto mais acham falta de crenças, mais esperam - nas; o mundo inteiro espera ainda uma vez o Messias, e não tardará a vir. Por exemplo, que haja um homem de posição elevada, pela sua classe ou por sua fortuna, um papa, um rei ou até um judeu milionário judeu, e que este homem sacrifique pública e solenemente todos os todos seus interesses materiais à salvação da humanidade, que se faça redentor dos pobres, propagador e até vítima das doutrinas de devotamento e caridade, e fará, ao redor de si, uma concorrência imensa, e dar- se-á uma transformação completa no mundo. Porém, a alta posição do personagem é, antes de tudo, necessária, porque nos nossos tempos de miséria e charlatanismo, todo Verbo proveniente de baixo é suspeito de ambição e velhacaria interessada. Vós, pois, que nada sois e que nada tendes, não espereis ser apóstolos ou messias. Tendes a fé e quereis agir na razão da vossa fé; chegai primeiramente aos meios de ação, que são a influência da posição e o prestígio da fortuna. Outrora se fazia ouro com a ciência; hoje é preciso refazer a ciência com o ouro. Fixaram o volátil, é preciso volatilizar o fixo; em outros termos, materializaram o espírito; é preciso, agora, espiritualizar a matéria. A palavra mais sublime não é ouvida nos nossos dias, se não for produzida sob a garantia de um nome, isto é, de um sucesso que representa um valor material. Quanto vale um manuscrito? O que vale, na livraria, a assinatura do autor. A razão social Alexandre Dumas & Cia., por exemplo, representa uma das garantias literárias da nossa época., mas a Casa Dumas só vale pelos seus produtos habituais: os romances. Que Dumas ache uma utopia magnífica ou uma solução admirável do problema religioso, considerado a sua descoberta como caprichos divertidos do romancista, e ninguém o tomará a sério, apensar da celebridade européia do Panurgo da literatura moderna. Estamos no século das posições conquistadas: cada qual na razão do que é social e comercialmente falando. Al liberdade ilimitada da palavra produziu um tal conflito de discursos, que hoje não se pergunta mais: “Que dizem? ”mas sim: “Quem disse isso? ”Se foi Rothschild, ou a sua santidade Pio IX, ou mesmo Monsenhor Dupanloup, é alguma coisa. Se foi Tartempion, muito embora este seja (o que, afinal de contas, é possível) um prodígio ainda ignorado de gênio, ciência e bom senso, nada é.
Àqueles, pois, que me disserem: “Se tens o segredo dos grandes sucessos e da força que pode mudar o mundo, por que não te serves dele? ”responderia: - Esta ciência me veio muito tarde para mim mesmo, e perdi, para adquiri - la, o tempo e os expedientes que, talvez, me teriam posto em condições de fazer uso dela; mas ofereço - a aos que estão em posição de servirem - se dela. Homens ilustres, ricos, grandes do mundo, que não estais satisfeitos do que tendes, e que sentis, no coração, uma ambição mais nobre e mais vasta, quereis ser os pais do mundo novo, os reis de uma civilização rejuvenescida? Um sábio, pobre e obscuro, achou a alavanca de Arquimedes, e vô - la oferece unicamente pelo bem da humanidade, e sem nada vos pedir em troca.
Os fenômenos que ultimamente agitaram a América e a Europa, a propósito das mesas falantes e das manifestações fluídicas, outra coisa não são senão correntes magnéticas que começam a formar- se, e solicitações da natureza que nos convida, para a salvação da humanidade, a reconstituir as grandes cadeias simpáticas e religiosas. Com efeito, a estagnação da luz astral seria a morte do gênero humano, e os entorpecimentos deste agente secreto já se manifestaram por espantosos fantasmas de decomposição e morte. O cólera- morbo, por exemplo, as doenças das batatas e uvas não têm outra causa, como viram, obscura e simbolicamente, em sonho, os dois pastorinhos de La Salette.
A fé inesperada que a sua narração provocou e a imensa concorrência de peregrinos, determinada por uma narração tão singular e tão vaga como a destas duas crianças sem instrução e quase sem moralidade, são provas da realidade magnética do fato e da tendência fluídica da própria terra em operar a cura dos seus habitantes.
A s superstições são instintivas, e tudo o que é instintivo tem uma razão de ser na própria natureza das coisas; é nisso que os céticos de todos os não refletiram bastante.
Atribuímos, pois, todos os fatos estranhos do movimento das mesas ao agente magnético universal, que procura uma cadeia de entusiasmo para formar novas correntes. É uma força cega por si mesma, mas que pode ser dirigida pela vontade dos homens e que é influída pelas opiniões correntes. Este fluido universal, se quiserdes que seja um fluido, sendo o meio comum de todos os organismos nervosos e o veículo de todas as vibrações sensitivas, estabelece, entre as pessoas impressionáveis, uma verdadeira solidariedade física, e transmite, de umas às outras, as impressões da imaginação e do pensamento. O movimento da coisa inerte, determinado pelas ondulações do agente universal, obedece, pois, à impressão dominante, e reproduz, nas suas revelações, ora toda a bizarria e toda a mentira dos sonhos mais incoerentes e mais vagos.
Os golpes dados nos móveis, a agitação ruidosa da louça, os instrumentos de música tocando por si mesmos, são ilusões produzidas pelas mesmas causas. Os milagres dos convulsionários de Saint-Medard eram da mesma ordem e pareciam, às vezes, interromper as leis da natureza. Exageração, de um lado, produzida pela fascinação, que é a o embevecimento especial ocasionado pelas congestões de luz astral; e, de outro, oscilações ou movimentos reais imprimidos à matéria inerte pelo agente universal e sutil do movimento e da vida: eis tudo o que há no fundo destas coisas tão maravilhosas, como se poderão convencer facilmente, reproduzindo à vontade, por meios indicados no Ritual , os mais admiráveis destes prestígios, e constatando nisso a ausência, facilmente apreciável, superstição, alucinação ou erro.
Muitas vezes me aconteceu, depois de experiências de cadeias magnéticas feitas com pessoas sem boa intenção e sem simpatia, ser acordado em sobressalto, à noite, por impressões e contatos verdadeiramente horríveis. Uma noite, entre outras senti realmente a pressão de uma mão que me estrangulava; levantei -me, acendi a luz, e pus - me tranqüilamente a trabalhar para utilizar a minha insônia e afastar os fantasmas do sono. Então, os livros se deslocavam perto de mim, com ruído, os papéis se agitavam e batiam uns contra os outros, a lenha estalava como se fosse partir - se, e golpes surdos eram dados no forro do quarto. Eu observava com curiosidade, mas também com tranqüilidade, todos estes fenômenos, que não eram menos maravilhosos se só a minha imaginação fosse a sua causa, tanta realidade havia nas suas aparências. Aliás, acabo de dizer que de modo algum estava atemorizado, e que me ocupava de outra coisa muito diversa das ciências ocultas, no momento, em que se produziam.
Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.