contos sol e lua

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sábado, 22 de agosto de 2009

ASSIM,O SOL E A MULHER.....

Que Muda formam o eixo central em torno do qual orbitam todos os outros poderes e seres. São a fonte fundamental de saúde e harmonia, têm o poder de fortalecer e rejuvenescer. De sua união vieram os Gêmeos Guerreiros, o Matador de Monstros (Naye Nezgáni) e o Filho da Água (Tobadsistsíni), que fazem árdua viagem para visitar seu Pai Sol e ganhar dele o poder para derrotar os monstros e libertar o povo (mitologia do Canto da Noite, que serve par libertar o paciente de ataques obsessivos). Ele e seus pais, Mulher que Muda e o Sol são a "Sagrada Família" da teologia navajo. Mulher que Muda e o Sol ligam-se também cada qual a um ser sobrenatural mais fraco, do mesmo sexo, que complementa ou amplia sua natureza: a Lua (Kléhanoi) é o irmão mais fraco do sol, e a Mulher Cocha Branca (Yolkáiestan) a irmã mais fraca de Mulher que Muda.
A Mulher Cocha Branca é um pouco mais dúbia e não confiável do que sua irmã. Esta "Sagrada Família" foi um desenvolvimento posterior, dentro da história mística dos navajos. Nos mundos inferiores dos mitos de origem, o Primeiro Homem e a Primeira Mulher eram os protagonistas e viviam as voltas com bruxarias e o mal. Coiote, Begochidi, o Deus Negro (ou Deus do Fogo), a Mulher Sal, os insetos e os outros animais estavam lá desde o princípio e tiveram papéis importantes na longa ascensão até a luz e a consciência. Além das figuras universais, todo canto parece Ter um mini-panteão próprio. O Canto da Chuva, de Pedra que Fala, do Povo Trovão, em que o Trovão Branco e o Trovão Negro são deidades de destaque. O Canto da Grande Estrela introduz o Povo Estrela, para quem a Grande Estrela é o grande sábio.
No Canto da Noite existem o povos sagrados especiais, geralmente chamados Yei, que na noite final são personificados pelos dançarinos que usam máscaras azuis e colares de sempre-vivas, e cantam numa voz de falsete, sinistra. Os Yei são conduzidos por Deus que Fala (Hastyéyalti), que é como um mentor severo para os heróis do canto, guiando-os e dirigindo-os em suas aventuras, e salvando-os de todo tipo de revés. Geralmente é identificado como o leste e o sol nascente. Seu grito Wu, hu hu hu é parecido com o chamado da manhã dos rituais Pueblo. Geralmente faz parte com Deus Lar como alguns preferem chamá-lo, que parece simbolizar a domesticidade, a paz, a fertilidade, e está associado com o oeste e o sol poente. Nesse sentido são ambos parte do complexo simbólico solar.
O mundo navajo é repleto de divindades. Toda força natural, cada elemento geográfico, toda planta, animal ou fenômeno meteorológico tem seu poder sobrenatural peculiar e pode ser representado por uma imagem personificada nas pinturas em areia. E ainda existe Begochidi! Ele é diferente de todos os outros e encarna a essência do paradoxo. Por um lado é filho do Sol, associado à luz e ao fogo, é uma deidade solar, criador da vida, que teve "relação sexual com tudo que existe no mundo". Neste aspecto benigno, é o patrono dos animais domésticos e de uso: é para ele que se reza pedindo que o cavalo seja muito bom. É retratado como figura solar com cabelo louro ou ruivo, e olhos azuis. Por outro lado, porém, Begochidi é um grande malfeitor e jogador. Ele pode mudar, se o desejar, e assumir qualquer forma de arco-íris, areia, água ventos, insetos, etc. Desmoraliza os outros deuses, mudando-lhes nuvens de insetos para mordê-los sem piedade, até que concordem com suas exigências. Esgueira-se por trás das meninas e belisca-lhes os seios gritando "Bego, bego"(diz-se que seu nome significa Aquele que agarra os seios"). Quando um caçador está fazendo mira, ele agarra seus testículos e estraga o tiro. Faz a mesma coisa quando um homem e uma mulher estão tendo relação sexual. Às vezes, Begochidi aparece como uma minhoca ou inseto que rasteja no pó e representa alguma coisa obscena. Favorece o sexo e a procriação.
No mito do Caminho da Traça, Begochidi vive com o Povo Borboleta . Está sempre pondo suas mãos nas virilhas dessas pessoas e dizendo "Bego, bego". Ele não deixa que se casem enquanto estiver cuidando delas. Um dia quando estava afastado, praticam incesto entre irmãos como consequências desastrosas. Todos ficam com a "loucura da traça" e se atiram ao fogo numa investida enlouquecida e precisam ser separados á força. Finalmente, é encontrada a cura com uso de medicamentos preparados à base de um litro de essência de coiote, texugo, raposa azul ou urso. Quando esse medicamento é ministrado, o irmão e a irmã sentam-se de costas um para o outro, e saem borboletas de suas bocas que se desvanecem no ar. Quando se busca um paralelo para a natureza de Begochidi, pensa-se logo em Mercúrio, tão necessário ao trabalho dos alquimistas. Mercúrio pode ser associado com o fogo, "o fogo universal e cintilante da luz da natureza, que contém em si o espírito celestial". Poderia ser uma criatura também lasciva e, eventualmente, foi representado em coabitação contínua. Num texto Rosa Cruz, sua natureza dual é demostrada primeiro na coabitação, depois na fusão ou mescla dos lados masculino e feminino, associado ao sol e a lua. Como diz Jung: "Ele é um demônio, um psicopompo redentor, e um traquinas esquivo, assim como reflexo de Deus na natureza física".
Assim, tanto Mercúrio como Begochidi combinam o mais baixo e o mais elevado, o traquinas lascivo e a unidade mística com Deus, a ligação do sol com a lua, uma sexualidade desvairada e a transcedência sexual. As duas dimensões podem tanto ajudar como impedir, dependendo de como foram abordadas. Begochidi é um símbolo de reconciliação que contém o bem e o mau, o alto e o baixo, o puro e o impuro, o másculo e o afeminado, e, assim, é um dos conceitos intuitivos mais audaciosos da filosofia religiosa nativa americana, uma engenhosa tentativa de expressar a natureza essencialmente paradoxal do homem, na imagem de um Deus.

MITOLOGIA DOS NAVAJOS.


Os Navajos (Navaho) se autodenominam Dineh, o Povo. Atualmente vivem num planalto que se estende por boa parte dos estados do Arizona, do Novo México e de Utah (é a maior reserva indígena dos Estados Unidos). É um território de imensas proporções, basicamente árido e desértico, recoberto por pequenas reservas de pinheiro de pinhão, juníperos e artemísia. Vários desfiladeiros, como o Canyon de Chelly e del Muerto, estendesse por vários quilômetros em planaltos que se perdem de vista. Formação rochosas brilhantes erguem-se do solo como monumentos descomunais ali colocados por uma antiga raça de gigantes. À primeira vista, a terra parece vazia e inóspita e a atenção então se dirige para o céu azul e sem nuvens. Parece que a mão do homem nunca tocou esse lugar. Somente mais tarde é que se percebe que o terreno aparentemente vazio, é na realidade densamente habitado, pequenos Hogans (cabanas) abrigam-se nas vertentes dos vales e reentrâncias por todos os lados, e rebanhos de carneiros materializam-se em pleno deserto.
A filosofia religiosa dos navajos é ligada a natureza, que busca a harmonia, de uma ligação entre os homens e todas as fases da natureza atuam juntos, e os seres pequenos, aparentemente insignificantes, podem tornar-se tão importantes quanto os grandes e possantes. Há um panteão navajo, mas não uma verdadeira hierarquia. Os grandes deuses, às vezes, são eclipsados por criaturas modestas e humildes que podem realizar aquilo que eles não conseguem.
Todos os poderes, como a possível exceção de Mulher que Muda, são igualmente bons e maus, dependendo de sua natureza intrínseca, do modo como são abordados, de seu humor e das condições do momento, e do contexto de sua atuação. A maioria das cerimônias tem por finalidade persuadir os deuses a outorgar dádivas à humanidade, banir o mal e restaurar a harmonia natural são imagens e rituais vibrantes, que buscam a estabelecer a harmonia do ser humano com as forças naturais a sua volta. É através desta interação que os xamãs evocam os poderes curativos da natureza, em ritos de purificação que incluem orações, cânticos e símbolos cristalizados em pinturas de areia e transmitidos de geração em geração. A cura dos navajos todo um sistema de crença (mitologia dos navajos) do paciente, liberando energia da identificação simbólica para recriar o mundo interior. Os mitos são o alicerce flexível sobre o qual os cantos de cura se assentam. Cada canto tem um mito associado, que descreve sua origem e aventuras do herói ou heroína que buscam obter dos deuses aquele canto.
Às vezes, as orações , os cânticos e as pinturas com areia, além da ação dos rituais, referem-se ao mito, mas não existem correspondências exclusiva. O mito não pode ser reconstituído a partir da cerimônia. Não é sequer exigido do xamã que ele conheça o mito do canto que dirige, embora deva conhecer detalhadamente tudo mais. É porém notável se ele dominar esse conhecimento.
Os rituais navajos organizam-se em torno do culto ao Sol. Em razão da idéia navajo de concepção, a crença de que esta é devida a uma união da luz (calor) com a água (sêmem, umidade), o Sol como símbolo de luz, calor e quentura, domina de certa maneira todos os outros espíritos e deidades. Uma vez que todas as coisas aparecem aos pares - onde um domina e outro é dominado, um é mais forte e outro mais fraco - Mulher que Muda é o equilibrador do par. Seu poder talvez seja tão grande quanto o do Sol, mas qualitativamente diferente. Mulher que Muda (Istsá Natlehi) é o grande símbolo da terra com todas as suas variaçòes sazonais, o poder da mulher de renovar a vida, o amor materno. Ela parece ter uma boa vontade consistente para com a humanidade.

O CAMINHO DA BELEZA.


O mito da irmã mais nova, que deu origem ao Caminho da Beleza, é uma versão mais completa e integrada da viagem da heroína navajo em busca de poder, e só difere da jornada típica do herói em termos de ênfase.
Depois de afastar-se de sua irmã mais velha, Glíshpah continuo-o fugindo em meio aos trovões e à chuva. Suas roupas de baixo tinham sido rasgadas e arrancadas e ela levava na virilha um maço de arroz da montanha. Quando se ajoelho para beber água, ouviu uma voz de um belo jovem aconselhando-a a não ficar ali, pois não era lugar para gente da terra. Ela contou-lhe sua história, e ele a levou para um lugar embaixo da terra onde havia jardins de hogans muito bonitos. Era, enfim, o lar do povo de seu marido, o Povo Serpente.
Como no Caminho da Pluma, a viagem é para baixo, e diz respeito a serpentes, intimamente vinculadas à fertilidade e ao poder de cura. Exceto pela sedução do Homem Serpente de que tinha sido vítima, a heroína tem de passar por provações que lhe são impostas, mas não por culpa sua. Agora, porém, como heróis, ela começa a ignorar as instruções.
Quando ela foi dormir na primeira noite, seus anfitriões aconselharam-na a não reavivar o fogo porque era feio na forma e as chamas não queriam ser vistas. Ela fez justamente o contrário e percebeu que estava rodeada por serpentes grandes aterrorizantes. Procurou escapar, mas não conseguiu encontrar uma saída. Teve de ficar onde estava até o dia clarear. Na manhã seguinte, os anfitriões reclamaram que ela havia pisado em suas costas, durante a noite, causando-lhes dor.
Eis aqui um forte elemento: a besta/a fera. No começo, a heroína esperava unir-se a um belo jovem, mas em vez disso encontra-se cercada e aprisionada por serpentes assustadoras e feias. Ela tem de suportar essa situação (e a suporta) e, por meio dela, adquire seus benefícios e poderes.
UM dia, a heroína preparou um prato com feijões e milho, mas as porções que usou aumentaram magicamente até preencherem todo o hogan. Seus anfitriões chamaram sua atenção: ela devia saber que só dois grãos de milho e dois de feijão eram suficientes. Em outra ocasião, ela abriu duas jarras de água, as quais tinha sido expressamente proibida de tocar. Tempestades de poeira, granizo e chuva foram assim desencadeadas. Foi com grande dificuldade que o Povo Serpente conseguiu voltar para seu hogan e corrigir a situação. Praticamente toleraram sua atitude.
Isso descreve o aprendizado de uma deusa. Mulher Serpente tem poderes de fertilidade imensos e latentes, que ainda não sabe como empregar e controlar. Ela pode aumentar a quantidade de comida e controlar a chuva mas, como aprendiz de feiticeiro, ainda não sabe como deter o processo.
A heroína foi proibida pelo anfitriões de ir para o leste, para o sul e para o norte, mas claro que foi assim mesmo. No primeiro dia, foi andando para o leste e ficou enrolada numa bola de abóbora. Teve de ser arrancada de lá com uso de faca sílex. No segundo dia, perambulou rumo ao sul e deu de cara com Homem Sapo perto de um espelho d’água. Era um bruxo e atirava bolas de lama em cima dela, fazendo com que todas as suas articulações ficassem comprometidas. Felizmente, Homem Grande Serpente tinha poder maior e removeu os projéteis, arremessando-os de volta em Homem Sapo que ficou então manco e torto. No terceiro dia, ela saiu para o norte, e aconteceu o pior. Foi completamente esmagada por uma avalanche de pedras provocada por um bando de corruíras. Foi recuperado depois de imensos esforços despedidos para reunir suas partes. No final, Vento soprou vida em seu corpo.
A morte-renascimento simbólica significa deixar a esfera da vida terrena ordinária e entrar em domínios sobrenaturais para, tendo sucesso, regressar com poder. Como em outros mitos, aqui ocorre umesquartejamento literal, a aniquilação concreta, da qual o herói ou a heroína deve ser salva pelos esforços conjuntos de muitos poderes sobrenaturais, Na última e mais severa de suas catástrofes, Mulher Serpente chamou para si dizendo que antes tinha sempre voltado a salvo, e que dessa vez não seria exceção demonstrando que começa a conhecer e confiar em seus poderes.
A heroína passou quatro anos aprendendo o Caminho da Beleza com seu marido serpente, a quem antes odiara e temera. Foi ele também que realizou a primeira cerimônia para ela. Por causa disso, não podiam viver como marido e mulher. Então ela voltou para casa para transmitir seu precioso conhecimento para seu povo. Encontrou sua irmã no caminho, e esta agora era a instrutora do Caminho até o Topo da Montanha. Abraçaram-se com afeto e choraram de alegria. No início tiveram medo de entrar em sua antiga casa, mas reuniram sua coragem e para lá seguiram. Não foram imediatamente reconhecidas mas depois receberam-nas bem. As duas irmãs ensinaram suas cerimônias para o irmão mais novo, e quando o ensinamento estava completo, sem que nada houvesse sido ocultado, elas partiram. A mais velha foi para o Povo Urso e a mais nova, para o Povo Serpente, onde estava encarregada das nuvens, da chuva, da névoa e da vegetação, para o bem do povo da terra.
A heroína está agora bastante à vontade com seu marido e a feiura e o horror parecem ter desaparecido. Numa Segunda versão deste mito, eles vivem juntos, felizes, e ela tem consentimento de voltar para casa, mas só depois de ter prometido que regressaria para ficar com ele. No final de seu aprendizado, ela está plenamente investida de todo seu poder e é realmente a deusa da fertilidade e da cura. As pinturas em areia de sua cerimônia estão associadas com muito tipos de serpentes, e sua cura serve para infecção causada por mordida de cobra, que se manifesta em articulações doloridas, dor de garganta, problemas de estômago, rins e bexiga, doenças de pele ou ferimentos epidérmicos, e confusão mental ou perda de consciência.

AS HEROÍNAS NAVAJO.


A posição das mulheres na cultura navajo é importante em vários aspectos. Para começar, elas detêm a posse de quase toda a propriedade. Depois a linhagem é reconhecida pelo ramo materno: o navajo pertence ao clã da mãe, e diz-se que simplesmente “nasceu para” o pai. Além disso, as mulheres têm uma forte e decisiva forma de interferência nas questões familiares, e são responsáveis por boa parte do trabalho, incluindo o trabalho da lavoura, dos animais, da fiação de tecidos (fonte importante de renda) e das tarefas domésticas.
Diante desse pano de fundo, não surpreende que existam heroínas cujo papel é tão arriscado e perigoso quanto o dos heróis. Elas têm também um papel importante nas cerimônias de cura. As mais notáveis de todas são as irmãs Glishpah e Bispáli, cuja história começa no mito do Caminho do Inimigo.
CAMINHO DO INIMIGO.
Parte desse mito conta como os guerreiros navajos sustentaram um forte e contínuo ataque contra os Pueblo Taos, com intenção de capturar dois escalpos sagrados como troféus. Os bravos guerreiros que conseguiram os escalpos deveriam ser recompensados com essas adoráveis virgens, com as quais se casariam. Quando a batalha tinha terminado , descobriu-se para consternação geral , que dois velhos feios e desprezíveis tinham conseguidos os escalpos. Como isso não era aceitável, foram propostos vários testes para os candidatos a noivo das moças, após os quais elas seriam dadas ao que atirasem mais longe e com mais precisão. Para a vergonha dos demais competidores, os dois velhos ganharam todas as provas com ampla vantagem. Ainda assim, os guerreiros relutavam em oferecer-lhes o prêmio.
Depois de terem dançado à noite, as moças ficaram cansadas e foram buscar água fresca para beber. Sentiram o odor de tabaco doce vindo do lugar onde os dois velhos estavam acampados. Seguindo o rastro de fumaça, elas descobriram, para sua surpresa, que lá estavam dois belos e jovens candidatos, vestidos com elegância, usando lindas jóias e armas muito bem confeccionadas. Elas pediram um pouco de tabaco de suave aroma e, quando o inalaram, seus sentidos ficaram anuviados que foram facilmente persuadidas a passar a noite ali. A irmã mais velha, Bispáli, ficou com Homem Urso, e a mais jovem , Glíspah, com Homem Serpente.
Quando as moças acordaram, no dia seguinte, em vez de belos amantes encontraram os velhos, feios novamente. Ficaram repugnadas, mas um urso que rosnava de um lado e uma serpente que chacoalava guizos do outro impediram-nas de partir. Seus parentes ficaram furiosos quando descobriram o que tinham acontecido. Senteciaram-nas a ser açoitadas até a morte. Glíshpah e Bispáli não poderiam mais voltar, e então fugiram para a selva perseguidas pelos feios noivos. Os velhos foram capazes de seguir sua rota de fuga com sua fumaça mágica. Logo elas perceberam que se quisessem escapar precisariam se separar. Distanciaram-se uma da outra vertendo muitas lágrimas, sem saber se um dia iriam encontrar-se de novo. A mais velha foi para oeste e tornou-se a heroína do Caminho até o Topo da Montanha; a mais jovem rumou para leste e deu origem ao Caminho da Beleza.
CAMINHO ATÉ O TOPO DA MONTANHA.
Bispáli fugiu para as montanhas recebeu os cuidados dos protetores sobrenaturais, enquanto ficava numa caverna. Permaneceu lá por muito tempo e deu à luz uma menina ursa que tinha os membros recobertos recobertos de pêlos, assim como os seios e a parte de trás das orelhas, e um rosto humano de cor branca. Depois ela iniciou uma viagem em busca de poder, ao longo da qual encontrou muitas personagens sagradas e aprendeu com eles a cerimônia do Caminho até o Topo da Montanha. Seu marido urso tentou recuperá-la, porém ela estava sendo protegida pelos guardiães que a devolveram ao seu próprio povo, mas cuja filha ficou em seu poder. Foi bem recebida pela família e mais tarde casou-se e teve um filho, que também foi criado pelos ursos. O mito então relata as aventuras deste rapaz e as de Osilyí Néyani, o herói do Caminho até o Topo da Montanha.
Fica claro a partir do mito, assim como de outros elementos do Caminho até o Topo da Montanha, que irmã mais velha tem uma íntima identificação com os ursos e o poder desses animais. A família da Mãe Ursa é familiar na mitologia nativo-americana, especialmente na costa noroeste. Existe uma maravilhosa escultura dos índios Haida, mostrando a mãe ursa em agonia, dando de mamar a dois filhotes cujos dentes rasgam a carne de seus seios. Assim, de acordo com os mitos, o modo da mulher domar o poder selvagem é por meio de um casamento com o animal e do provimento de cuidados aos seus filhotes – um estilo bem diferente do herói, que é um caminho de lutas e triunfos bélicos.
Às vezes, os navajo pensa que os ursos são homens disfarçados, especialmente por causa do modo como dão de mamar aos seus filhotes. Outras vezes, referem-se a eles como os ancestrais do navajos. Supõe-se que conheçam poderosos medicamentos e que estejam associados com as montanhas, as ervas de cura e o fogo. Seu poder é tão grande que os navajos sentem medo deles; raramente são caçados e nunca são comidos. Fazem parte dos Guardiães especiais da casa do Sol e, no Canto do tiroteio, um personificador do Urso de repente entra e corre até o paciente, causando um choque que coloca todos em transe, como parte da cura (uma antiga forma de terapia de choque).
O lado negativo ou nefasto do poder do urso está associado com a Virgem Urso Que Muda, a contrapartida sombria da heroína do canto. Ela também é chamada de Deusa Urso, ou, por causa dos muitos pingentes de casco de veado que veste, também é conhecida como Virgem-Cujas-Roupas-Tocam-Como Chocalho. É a esposa do Coiote.
NO início, Virgem Urso Que Muda era virtuosa e linda. Cuidava da casa para seus doze irmãos, e sempre que apareciam um candidato a seu noivo ele a impunha certos testes difíceis, antes de este poder pedi-la em casamento. Coiote decidiu tentar, e porque sua vida estava escondida na ponta de seu nariz e na ponta de sua cauda, ele era praticamente indestrutível. Os irmãos dela ficaram com raiva e tentaram matá-lo, mas não conseguiram. Um dos testes para o candidato a noivo era matar Gigante Marrom e trazer-lhe o escalpo, o que ele fez. Em outra prova, ela o esmagou com pedras por três vezes, e na Quarta pulverizou-o. Todas as vezes ele recuperou sua vida embora na última tivesse precisado de mais tempo para se recompor. Quando finalmente conseguiu, ela teve que aceitá-lo como marido. Desde esse tempo, ela tem ficado ao lado de seu marido contra os seus irmãos e tem sido má.
Coiote ensinou-lhes os procedimentos da feitiçaria e, como ele, ela conseguiu esconder a sua força vital fora do corpo. Para testá-la, Coiote matou-a quatro vezes e depois ela recuperou sua vida. Podia tornar-se uma grande ursa sempre que queria. Vendo todas essas coisas terríveis, seus irmãos fugiram, mas ela os seguiu e matou um a um, exceto o mais jovem, que se escondeu num buraco bem fundo, no chão. Os deuses o estavam ajudando, mas Mulher Urso caçou-o e encontrou seu esconderijo usando mágica. Ela tanto insistiu que finalmente ele saiu do buraco. Pretendendo matá-lo, ela se ofereceu para cuidar dele e pentear seu cabelo. Quando ele se sentou para que ela o penteasse, foi advertido pelo Vento para prestar atenção na sombra dela. Ele viu o focinho dela ficando cada vez maior e no instante em que se preparava para morder sua cabeça e arrancá-la numa só dentada, ele saltou e correu para atacar a força vital da irmã, cujo o local secreto lhe havia sido revelado pelos deuses.
Uma vez que agora seu poder para o bem estava mais forte do que sua força para o mal, ele pôde encontrar aquela força vital e destruí-la. Realizou a cerimônia para ela, para reavivá-la (o simbolismo da morte e renascimento é usado aqui para transformar uma pessoa ruim), e depois transformou-a numa ursa comum. Para sempre, desde então, ela ronda pelas florestas das montanhas, arisca perto dos homens, mas mesmo assim usando seus poderes em benefícios para as pessoas. Nesse ínterim, ele havia lançado os bicos dos seios dela dentro de um pinheiro, e eles se tornaram os pinhões que as pessoas comem, em tempo de penúria.

A MÃE TERRA PACHAMAMA.


A Mãe Terra é a que dá a vida ao homem, é a divindade excelsa no nosso mundo. Pachamama nos ensinou a amar a tudo incondicionalmente, nos mostrou o trabalho como uma altíssima virtude, porque amando tudo e construindo com o trabalho nos tornamos sábios.
Pachamama nos deu estes ensinamentos de vida para nosso crescimento, nos deu o MUNAY, o YANKAY e o YACHAY. O homem não necessita de outras leis e mandamentos, porque o AMOR (MUNAY) nos faz conscientes do "serviço", que deve sempre ser o SERVIÇO DO SER, já que o Serviço é a consciência da reciprocidade ou TRABALHO... estejam seguros de que o AMOR e o TRABALHO (YANKAY) nos levará à consciência superior do SABER ou CONHECER (YANCHAY).
OL invasor que pisou em nossas terras nos criou leis e preceitos de vida que era totalmente contraditórios com os mais altos princípios de comundidade e respeito pela terra na qual vivia o homem andino. Colocaram em nossa história essas leis: "Ama Sua", "Ama Llulla", "Ama Quella" = "Não sejas ladrão, não sejas mentiroso, não sejas preguiçoso". Uma lei, mandamento ou preceito se cria para que um grupo social erradique um mal, para que sejam controlados os desmandes de uma população, etc. Para um povo que disputa com seu irmão e vizinho, há que ensinar a amar mesmo que seja a seu próprio deus! A um povo que vive na escravidão, eterno conflito, temor e condenação, há que ensinar-lhes a não matar e a não desejar o mal alheio. Assim podemos seguir enumerando as leis necessárias para uma sociedade que vive eternamente em individualismo e conflito, onde sua maior instabilidade começa com o rechaço e pouco respeito pela terra que os engendrou.
Que razão teríamos que buscar para ensinar a uma sociedade como a andina a "NÃO ROUBAR", se esta sociedade sabe que tudo pertenece à Pachamama, se esta sociedade vive no princípio comunitário de que TODOS POR UM E UM POR TODOS, se esta sociedade vive no principio do Serviço de HOJE POR TI, AMANHÃ POR MIM; que necessidade de roubar há em uma sociedade onde o principio comunitário estabelece que a criança que nasce terá sua própria terra de trabalho; que necessidade de roubar há em uma sociedade onde morrer de fome não era possível e nem permitido já que a distribuição e preservação de alimentos alcançava uma organização insuspeitável?QUE NECESSIDADE HÁ DE ROUBAR! QUE NECESSIDADE HÁ DE ROUBAR?
Por quê em uma alta sociedade há que MENTIR e DESCONFIAR? Povos onde em muitas casas nem sequer haviam portas estáveis, e muito menos sistemas de alta segurança. Porque mentir, se essa ação não nos engrandece espiritualmente?
Uma sociedade que construiu toda essa grandeza de pedra sobre pedra, a esta sociedade que sabe que pelo trabalho poderá sobreviver e ser grande.Como podemos dizer-lhes: NÃO SEJAM PREGUIÇOSOS!
Mas havia que legitimar todos os ROUBOS, MENTIRAS E PREGUIÇA que o conquistador fez e engendrou nessas terras.
Sabemos que Pachamama é a Mãe da purificação, da limpeza e talvez do perdão. Começamos uma nova era e esta era de luz, todos os irmãos e irmãs são bem vindos. Deixemos que Wiracocha toque nosso Sol interior e aflore o amor com a consciência para chegarmos a ser o homem do novo tempo.

OS FILHOS DO SOL,OS FILHOS DA LUA.E A GRANDE MÃE.


Símbolos serpentinos, triângulos, animais como a rã, a coruja, a onça, o gavião; símbolos do feminino, da gravidez, da abundância, da prosperidade; assim como símbolos do masculino, do sol, da flecha, da lança, da ação, estão presentes como códigos universais em todos os materiais achados em sítios arqueológicos. Na verdade, são fragmentos registrados da produção dos primeiros tempos apôs- o final do Ciclo de Tupã.
Na região amazônica emergiram os antigos ensinamentos que são mantidos ate hoje em ritos e mitos dos povos indígenas. Os antepassados Tupy atravessaram as águas que apagaram o passado da raça vermelha, gerando os futuros Tupinambá e Tupy-Guarani a partir do imenso Amazonas.
Os TupinambáS principiaram sua expansão, romperam o Brasil de norte a sul, influenciaram os nomeados como Tapuia, todo o povo bumerangue, o povo flecha, o povo dos sambaquis e outros. Deixaram o rastro da sua 1íngua e cultura pelos quatro cantos. Expandiram-se ao norte pelo rio Amazonas, ao sul pelo Paraguai, a leste pelo Tocantins e a oeste pelo Madeira. Eram viajantes, navegadores e guerreiros.
Um grupo de tribos seguiu a Lua e teceu um conhecimento para o interior da Terra e o interior de si. Desenvolveu a medicina do sonho, da reflexão, da filosofia e da arte; buscou aprender com os espíritos da natureza os fundamentos da existência. O outro grupo seguiu o Sol e desenvolveu a arte da conquista através da batalha, da caça, da agricultura. Desenvolveu uma medicina a partir do controle dos espiritos da natureza, e passaram a manejar chuvas, plantas, culturas.
O povo bumerangue, o povo de Itararé, o povo dos sambaquis, com o passar do tempo, seriam renomeados tanto pelos seus futuros parentes como pelos seus futuros inimigos, daí florescendo em Goitacaz, Aymoré, Xavante, Krahô, Bororo, etc.

O CORVO.


Resmungava adormecido, no meio da noite, mal dormindo,
Apoiado em volumes de coleções esquecidas demais -
Veio o som, quase um murmúrio, de repente um baque surdo,
Era como se alguém sutilmente arranhasse os meus portais.
“Não deve ser nada”, murmurei, “mas algo bate em meus portais -
Apenas isso, ou pouco mais”.

Não me esqueço; era no frio de dezembro,
E pelo chão o fogo agonizante desenhava sombras supulcrais.
Vivamente eu desejava a aurora, e em vão esperava ir embora
Em meus livros buscava o lamento - lamento pela perdida Lenora -
Rara e radiante donzela que os anjos chamam de Lenora -
Aqui sem nome, mais e mais.

Repentinamente, o melancólico sussurrar da cortina púrpura
Apavorou-me - encheu-me de terrores que sentira jamais;
Venci o medo, e para acalmar as batidas do coração, repeti:
“Este visitante noturno só deseja entrar por meus portais -
Nada além de um visitante noturno tentando atravessar meus portais
Só isso; nada demais”.

Num momento minha alma ficou forte; então endireitei meu porte:
“Ei, senhor”, disse eu, “ou senhora; peço que me perdoe;
Você entende: eu cochilava, e assim de mansinho ouvi a aldrava,
E tão sutilmente veio você batendo, batendo em meus portais,
Raramente alguém mais ouviria” - então escancarei os portais; -
Escuridão eu vi, e nada mais.

Rompi a impenetrável escuridão, e ali fiquei, imaginando, temendo,
Ainda eu duvidava, sonhava sonhos que mortal nenhum sonhou jamais;
Veio o som para quebrar o silêncio; a quietude num momento tenso,
E uma única palavra ali foi dita, foi uma só palavra sussurrada: “Lenora”!
Num só sussurro, ouvi o eco murmurar a mesma palavra: “Lenora!” -
Apenas isso e nada mais.

Numa meia volta eu estava em casa, minha alma me atormentava,
E novamente ouvi batidas, um som mais alto - alto demais.
“Vai ver”, disse eu, “vai ver tem algo agora na minha janela;
Eu verei, então, de que se trata, e o mistério esclarecerei -
Recupero o meu controle, e o mistério esclarecerei; -
É só o vento, soprando mais”.

Rasguei o ar até a janela, escancarei-a e encarei a fera,
Ali estava altivo o Corvo, de dias santos ancestrais.
Voou sem notar minha presença; em nenhum minuto fez anuência,
E num porte de cavalheiro ou senhora, empoleirou-se em meus portais -
Ninho fez sobre o busto de Palas, logo acima dos meus umbrais -
Empoleirou-se, quieto, e nada mais.

Num momento, o pássaro de ébano me fez sorrir de minhas amarguras,
Era estranho seu grave decoro e compostura, sua mesura,
“Visto que sua crista tem corte tortuoso”, disse eu, “certamente é impetuoso,
Enegrecido e envelhecido Corvo errando pelas trevas noturnas -
Responda-me: qual nome é o seu, nas trevas noturnas de Plutão?”
Disse o Corvo: “Nunca mais”.

Resplandeci e maravilhei-me ao ouvir a deselegante ave falar tão claramente,
Apesar do pouco significado da resposta - não achei nada demais;
Você deve concordar comigo: nunca tive nenhum amigo
Em algum momento que tenha visto um pássaro sobre seus portais -
Nem pássaros, ou animais, sobre o busto esculpido acima de seus umbrais,
Com tal nome: “Nunca mais”.

Negro, o Corvo, sentado só sobre o plácido busto, falou apenas
Esta palavra, como se sua alma nesta única palavra vivesse mais.
Vulto negro, não deu um pio; nem mesmo uma pena dele caiu -
Então eu parcamente murmurei: “De meus outros amigos não ouço mais -
Rompendo a manhã, também irás, como minha esperança já mais não há”.
Então disse o pássaro: “Nunca mais”.

Repliquei ao silêncio rompido por resposta tão habilmente dita:
“Aposto que”, disse eu, “o que diz são apenas palavras que ouviu demais,
Vindas de algum mestre infeliz cuja desesperada Desgraça
Encaminhou-se rápida e mais rápida, até tornarem-se abismais -
Num bordão de sua Esperança que a melancolia deu sinais
Deste ‘Nunca, nunca mais’”.

Neste instante, o Corvo ainda fazia-me sorrir de toda a amargura,
E arrastei um assento diante do pássaro no busto sobre os portais;
Veio então, sob a carícia do veludo, meus pensamentos desnudos
E de fantasia em fantasia, fiquei a encarar este pássaro dos dias finais -
Responda-me, agourento, desagradável e lúgubre pássaro dos dias finais:
O que quer dizer ao grasnar: “Nunca mais”?

Recostei-me mergulhado em pensamentos, mas sem expressá-los no momento
Ao pássaro cujos olhos penetrantes queimavam o meu peito mais e mais;
Vindo e indo, isto e mais eu admirava, enquanto minha cabeça eu reclinava
Encostado no veludo iluminado pelo lampião de sombras desiguais
Neste veludo violeta iluminado pelo lampião de sombras desiguais
Que ela não acariciará, ah, nunca mais!

Neste instante, o ar tornou-se denso, perfumado por um invisível incenso
E um flutuante serafim passou revoando pelo assoalho agora.
“Viva!”, gritei, “então Deus finalmente enviou-me anjos para o meu descanso
E, com o repouso, o nepente das lembranças de Lenora!
Remédio; bebe este doce nepente, e esqueça sua perdida Lenora!”
Disse o Corvo: “Nunca mais”.

“Rasputim”, disse eu, “ser odiado - mesmo que profeta, pássaro ou diabo!
Aquele tentador ou tempestade que enviou-te nestas trevas abismais,
Vasta terra desolada, terra deserta e nada encantada -
E nesta casa pelo horror assombrada, - diga-me de verdade, e nada mais -
Nesta terra - há o bálsamo - diga-me - diga-me, e nada mais!”
Disse o Corvo: “Nunca mais”.

“Nostradamus”, disse eu, “ser odiado - mesmo que profeta, pássaro ou diabo!
E pelo Paraíso que paira sobre nós - pelo Deus que ambos adoramos -
Vislumbre esta alma entristecida, e diga, se lá no Édem distante,
É onde posso acalmar as saudades da donzela que os anjos chamam Lenora -
Radiante, rara e saudosa donzela que os anjos chamam Lenora”.
Disse o Corvo: “Nunca mais”.

“Relembre esta palavra como sinal de nossa despedida, pássaro maldito”, gemi -
“Anda, volte à tempestade e mergulhe nas trevas da noite de Plutão!
Vá, e não deixe pluma negra como prova das mentiras que disseste!
E apenas deixe-me à solidão sem fim! - abandone o busto acima dos umbrais!
Nada mais; retire o bico do meu peito, e levante vôo dos meus portais!”
Disse o Corvo: “Nunca mais”.

Nisto o Corvo, nunca aflito, continua sentado, ainda sentado
Empoleirado no pálido busto de Palas, logo acima dos portais;
Vi em seus olhos todo o terror de um demônio adormecido,
E a luz do lampião sobre ele projeta sombras aterradoras no assoalho;
Ressinto minha alma, sob a sombra que adormece flutuante no assoalho,
Se libertará… nunca mais!
*Tradução: C. Primati*

O CORVO BRANCO.


...se fossem nossas almas visíveis aos olhos, se veria distintamente uma coisa estranha, cada um dos indivíduos da espécie humana corresponderia a alguma espécie do reino animal....os animais são as figuras de nossas virtudes e nossos vícios, errantes diante dos nossos olhos; os fantasmas visíveis de nossas almas." (Os Miseráveis-Victor Hugo).
Na mitologia grega, os corvos eram originalmente brancos e eram os mensageiros de Apolo. Até que certo dia, trouxeram-lhe más notícias e a fúria deste deus os chamuscou de preto.
Para os celtas, o corvo também era inicialmente branco. Pássaro associado ao deus Lugh, que tinha a missão de vigiar para que nenhum mortal se aproximasse do leito da amante grávida deste deus. Mas, como toda mulher consegue o que quer quando é determinada, fez com que o corvo silenciasse sobre uma noite que havia passado nos braços de um pastor. Quando interrogado, o pobre corvo mentiu e o deus da adivinhação, furioso, condenou-o a ter a plumagem negra e a lhe obedecer cegamente daquele dia em diante. Esta lenda é representativa de quando mal pode acarretar uma mentira, pois neste momento a consciência se separa da divindade que existe nela. A consciência pode ser iluminada com a luz da verdade, ou sombria com a plumagem negra da mentira.
O corvo na tradição celta também tem papel profético. Era considerado animal sagrado entre os gauleses, bretões, gauleses e gaélicos. Considerado um pássaro celeste, do Sol e da luz, mas também tem lugar preponderante no lado sombrio de todos nós. A "sabedoria do corvo", para os irlandeses significava o conhecimento supremo.
Tanto a deusa da guerra, Bodb, como também a deusa tríplice Morrigan, eram representadas na forma de uma gralha. Branwen era igualmente associada a um corvo branco.
O corvo foi personagem principal na narrativa "O Sonho de Ronabwy". Os corvos guerreiros do Owein, depois de serem massacrados pelos soldados de Artur, reagem com violência e atacam para partir os soldados em pedaços.
Na mitologia germânica, o corvo é o pássaro companheiro do deus Vatã. Na mitologia escandinava, Odim tinha dois corvos. Seus nomes eram: Hugin (a Reflexão) e Munin (a Memória). Os dois deixam seu senhor pela manhã para sobrevoar o mundo e retornam à noite para contar o que viram e ouviram. Odin possuía também dois lobos, o Geri (o Glutão) e Freki (o Voraz). Os corvos representavam o princípio da criação e os lobos o princípio da destruição.
Os licualas do Congo (África), consideram o corvo como um pássaro que os previne de algum infortúnio.
No mundo indígena o corvo tem papel preponderante. Na América do Norte o corvo é a personificação míStica do trovão e do vento. O bater de suas asas é um ato simbólico do vento e sua língua é o raio.
A sua semelhança com a família das águias o tornaram manifestação do Grande Espírito. Ele é figura central do panteão dos índios tlingit (noroeste do Pacífico).
O corvo é protagonista de muitas lendas de tribos norte-americanas e ocupa um lugar fundamental na mitologia e rituais destes povos. É conhecido pelos tainainas, os kutchins, os kaskas, que o chamavam de "Wisakedjak" e também os ojibwa, que o denominavam "Nanasbusch" e os naskapi, que o conheciam como "Djokabish". Para todos estes povos, foi o corvo que criou o homem, organizou e estruturou o mundo, e criou e libertou o Sol e a Lua.
Na Colômbia é um animal celeste e criador. O deus criador, Shai-Iana fundou um reino que se estendia a uma grande altura e embaixo, havia um oceano imenso totalmente vazio. Cansado do seus serviços, o deus criador, acabou por expulsar o Grande Corvo do paraíso e o colocou dentro de um saco. À princípio o corvo não sabia o que fazer, mas assustado e desesperado começou a bater asas no intuito de livrar-se da prisão. Agitou-se tanto, que do oceano primordial erigiu rochas que vieram a constituir as primeiras terras emersas. Depois através de seu canto melodioso criou o primeiro homem que surgiu de dentro de um gigantesco marisco. Usando então sua magia, criou a mulher, pois a sexualidade é o jogo predileto do corvo. Depois roubou dos céus o Sol e ofereceu ao homem o fogo.
Mas o corvo, igual sua cor, tem seu lado negro, sombrio, e sendo assim em algumas tradições ele é ligado a morte e mau-agouro. Segundo algumas idéias populares, quando Deus criou a galinha, o Diabo criou o corvo.
"Quando um corvo vem grasnar em cima de um telhado de uma casa na qual alguém doente, é sinal certo que morrerá dessa doença". Na Normandia, as gralhas eram sinal de fome e, pela direção de seu vôo ou conforme seus grasnos, pressagiavam carestia ou abundância. A maioria das vezes o canto desses pássaros era temido, principalmente se houvesse algum doente por perto.
O corvo de nossos dias é figura arquetípica que já alcançou fama internacional e que foi estigmatizado como a "morte" em um filme, cujo o protagonista principal era Brandon Lee. O ator morreu sem ter podido concluir as filmagens.
Como se pode observar, este pássaro negro é tipo como anunciador da morte, que plana sobre os campos de batalha para alimentar-se da carne dos mortos. O corvo leva aqui a fama de uma marginalidade trágica de monstro desapiedado e devorador de corpos. Mas em algumas crenças ele também é um herói solar. Algumas vezes demiurgo, mensageiro e guia divino. É guia das almas na sua última viagem e conhece os terríveis segredos das trevas.

AS LEIS DO CORVO.


Conta a historia, que o Corvo era fascinado por sua sombra. Ficava olhando, brincando, tocando, arranhando, bicando e se deliciando com ela até que esta criou vida e o comeu, engoliu o Corvo.
Se encararmos os olhos do CORVO, podemos perceber que ali existe um portal para o sobre-natural.
O Corvo contém o incognoscível, o impenetrável mistério do Mundo da Criação e por isso é considerado o Guardião das Leis Sagradas e, desse modo, ele pode dobrar, manipular essas leis e molda-las de acordo com sua vontade.
Todos os textos sagrados estão sob a guarda do CORVO que também é o protetor dos Arquivos de toda a história e conhecimento dos Ancestrais.
O Corvo nos fala que as Leis Humanas não são as mesmas que as Leis Sagradas. Ele nos ensina que a forma como nós, os Humanos, vemos a realidade física é pura ilusão.
Existem bilhões de Mundos, infinitas criações, e o Grande Espírito habita cada uma delas.
Trabalhar com o Corvo, ou quando ele nos aparece em alguma situação, é prenuncio, presságio de mudanças.
Devemos parar e observar como interpretamos as Leis do Grande Espírito e as leis dos humanos.
OCorvo vive no vazio, no vácuo e aí não existe tempo.
OS antigos nos falam que esse animal pode ver as três dimensões: passado, presente e futuro. Ele contem a luz , a escuridão e as trevas e pode enxergar tanto a realidade interna como a externa.
Ele nos faz resgatar e trabalhar com os nossos conhecimentos intuitivos sobre o bem e o mal; nos faz retirar cada véu, desvendar, achar e viver a verdade, sem interferências ou vontades.
O CORVO nos ensina a endereçar com determinação e convicção as nossas vontades, desejos e objetivos, além de ordenar a justiça, o equilibrio e a harmonia.
Estar pronto para caminhar nas suas palavras, falar a sua verdade, saber o seu papel , sua missão, e trabalhar com o passado, presente e futuro no aqui e agora é o presente que o Corvo nos oferece.
Quando aprendemos a trabalhar e permitir que a integridade e honra sejam os nossos Guias, a sensação de estar sozinho é banida para sempre. Só assim a sua verdadeira vontade, seu Poder Pessoal poderá tornar-se sua realidade.Aisha Jalilah

CORVO A MAGIA.

O corvo sempre foi o portador da magia. Este seu papel foi reconhecido nas mais diversas culturas, ao longo dos tempos, em todo o planeta. É considerado sagrado honrar o Corvo como sendo portador da magia. Se esta magia for ruim, ela inspirará muito mais medo do que respeito. Aqueles que trabalham com a magia de forma errada têm razões para temer o Corvo, pois isto é sinal de que estão se imiscuindo em áreas que não dominam, e os feitiços que estão fazendo certamente acabarão retornando contra eles. Em vez de deplorar o lado negro da magia, conscientize-se de que você só irá temer o Corvo quando necessitar aprender algo sobre os seus temores secretos ou sobre os demônios criados por sua própria imaginação.
A magia do corvo é poderosa e pode lhe infundir a coragem necessária para penetrar nas trevas do vazio no qual residem todos os seres que ainda não tem forma definida. O Vazio é denominado "Grande Mistério". O Grande Mistério já existia antes que todas as coisas viessem a existir. O Grande Espírito é oriundo do Grande Mistério e vive no Vazio. O Corvo é o mensageiro do Vazio.
O Corvo é prenúncio de mudança de consciência, que pode, inclusive, significar uma viagem pelo Grande Mistério ou por alguma senda situada à margem do tempo. A cor do Corvo é a cor do Vazio - o buraco negro do espaço sideral que congrega todas as energias criadoras. Significa que você conquistou por seus próprios méritos o direito de vislumbrar um pouco mais da magia da vida.
Na cultura dos índios norte-americanos, a cor preta tem diversos significados, mas não simboliza o mal. O preto pode simbolizar, por exemplo, a busca de respostas, o Vazio, ou o caminho para as dimensões suprafísicas.
O Corvo é o mensageiro da magia cerimonial e um curador que opera à distância e que está sempre presente em qualquer Roda de Cura. É ele que conduz o fluxo de energia de uma cerimônia mágica, guiando-a até o seu objetivo final. Seu papel é o de interligar as mentes dos praticantes do ritual com as mentes daqueles que estão necessitando daquele trabalho.
A magia do Corvo não pode ser interpretada de forma racional porque é a magia do desconhecido em ação, preparando a chegada de algum acontecimento muito especial. O Corvo é o protetor dos sinais de fumaça e das mensagens espirituais representadas por ele.

CORVO A FORÇA CRIADORA.


A simbologia do corvo é, ao contrário da da águia, tipicamente européia... embora haja referências bastante antigas e importantes na mitologia dos índios norte-americanos.
Por sua cor negra, o corvo é associado à idéia de PRINCÍPIO (noite materna, trevas primigênias, terra fecundante...); por seu caráter aéreo, associado ao CEU, ao PODER CRIADOR E DEMIÚRGICO; às FORÇAS ESPIRITUAIS; por seu vôo, MENSAGEIRO. Por tudo isso, ele aparece na mitologia dos povos primitivos como um ser investido de extraordinária significação cósmica: tanto para os índios na América do Norte, quanto para os celtas, germanos e siberianos, ele é o grande civilizador e criador do mundo visível.
Um mito grego, segundo Pausânias (séc. II) afirma que o corvo era, inicialmente, uma ave branca. Colocada por Apolo como guardião de sua amante Coronis, ele se descuidou e a mulher, embora grávida, fugiu para trair o deus com Isquis. Irado, Apolo o castigou tornando-o preto.
Algo "curiosamente" muito semelhante aparece na Saga de Yelt, o heróico iniciador das civilizações indígenas norte-americanas. Segundo a lenda, Yetl transformou-se em corvo para conseguir para seu povo um pouco da água mantida sob a guarda dos deuses. Surpreendido na fuga, foi condenado à mudança de cor, do branco para o preto. Ainda assim, Yelt fugiu, sobrevoou o mundo, vomitou sobre ele a água roubada dos deuses e, assim, criou rios e lagos.
Outra lenda grega, também nos fala de uma condenação, desta vez pelo crime da desobediência: forçado a buscar água para uma cerimônia celebrada pela coletividade dos deuses, o corvo atrasou-se no caminho, para esperar o amadurecimento de uns figos cobiçados por ele. Como castigo, fora condenado a ficar sem água durante todo o verão... o que lhe valeu uma rouquidão que explica o crocitar dos corvos até hoje.
Aliás, apesar de os corvos habitarem regiões secas, é notável as inúmeras associações dele com a água. Talvez as mais comuns tratam de sua ligação com as tempestades: é sabido que os corvos recolhem-se sempre que há iminência de chuvas fortes; isso gerou a crença de que são capazes de prever tempestades. A observação de seu comportamento tornou-se, então, um bom fator de previsão meteorológica.
Por causa de seu vôo alto, o corvo foi, muitas vezes, visto como um mensageiro dos deuses. Inúmeras lendas, de diferentes partes do mundo, falam-nos de como um corvo orientou humanos em suas jornadas. Por exemplo: segundo uma tradição, foram corvos que orientaram os beócios rumo ao lugar em que deveriam fundar uma nova cidade – a Beócia. Teriam sido eles que, também, guiaram Alexandre, o Grande, até o templo de Júpiter Amon, no oásis de Siwa, no Egito... e que, lá, predisseram sua morte. O imperador japonês Jimmu, teria marchado para a guerra, no século VII, guiado por um corvo dourado. Um corvo era o mensageiro do Rei Marres, do Egito. Odin informava-se a respeito do que acontecia no mundo por intermédio de dois corvos: Huginn e Muninn: todos os dias eles sobrevoavam a terra e, depois, empoleiravam-se nos ombros do deus para lhe cochichar o que viram. Huginn e Muninn representam, portanto, a memória e o pensamento.
Uma derivação oriental interessante é aquela em que um corvo de três pernas aparece dentro de um disco solar. As três pernas correspondem ao trípode – símbolo solar: aurora/sol nascente, zênite/sol do meio-dia e ocaso/sol poente. É assim que aparece como emblema imperial chinês, significando a vida e atividade do imperador e, por extensão, o YANG.
Na poesia anglo-saxônica, o corpo é freqüentemente associado às batalhas. E há tanta semelhança entre as tradições celtas e germânicas que, sem dúvida, suas origens remontam a uma época em que as duas correntes étnicas ainda não haviam sofrido ramificações.
É interessante notar que muitas fábulas envolvem corvos e corujas como antagônicos. Certamente incorporam reminiscências muito antigas relacionadas à oposição dos corpos celestes: Lua (coruja) e Sol (corvo). Uma tradição grega afirma que os corvos jamais penetram a acrópole exatamente por causa disso: a rivalidade entre Apolo (Sol/corvo) e Atenas (Lua/coruja), obviamente uma derivação de lendas de contraposição dia-noite.
Na Europa cristã os deuses, sem falar na sua cor negra e voz rouca, adquiriu uma simbologia sinistra e uma ligação com maus espíritos. Santo Ambrósio, por exemplo, exprobra o corvo por não haver retornado à arca quando Noé o soltou a inspecionar os efeitos do dilúvio. Lendas judaicas, maometanas e cristãs apresentam-no como desprezível e ímpio, por causa de seu regime alimentar de carniça. Falam de santos atormentados no deserto por demônios em forma de corvos e de bruxas que os cavalgavam. Shakespeare faz inúmeras menções ao corvo como ave mau-agourenta: acreditava-se que o esvoaçar crocitante de corvos sobre alguma casa onde houvesse alguém doente, sobretudo ao entardecer, era sinal de morte iminente. Esse misterioso relacionamento com a morte decorre do fato de a presença de corvos no céu indicarem, aos caçadores, a proximidade de carniça.
Apesar de toda propaganda negativa dos cristãos em relação ao corvo, ele nunca perdeu seus atributos místicos. Como o poder, a ele atribuído, de uma capacidade especial para predizer o futuro. A observação do hábito de os corvos devorem primeiro os olhos dos cadáveres associado à grande eficiência ocular dessa ave (capaz de localizar uma carniça a enormes distâncias) , levou à crença de que, se um cego tratasse os corvos com benevolência, poderiam recuperar a visão; quem comesse três corações de corvo reduzidos a cinzas, viraria um exímio atirador. Além disso, como enxergar longe é uma forma simbólica de se descrever o dom da clarividência ou antecipação do futuro, a ingestão de corações de corvos também podia dar às pessoas o poder profético – atribuído à essas aves. Essa reputação oracular subsiste até hoje em algumas ilhas britânicas. A expressão irlandesa "conhecimento de corvo" , é uma figura de linguagem para indicar conhecimento e percepção de tudo.
No campo da medicina popular, há igualmente inúmeras atribuições aos corvos: segundo Plínio, os ovos de corvo são ingredientes de uma antiga magia homeopática grega. Já Ovídio refere-se, em sua Metamorphoses, à bruxa Medea aplicando uma mistura de antílope e cabeça de corvo que sobrevivera a nove gerações humanas, nas veias envelhecidas de Jasão para restituindo-lhe a juventude. Aliás, a longevidade sempre foi um dos atributos de todos os pássaros da família dos corvos.
Outra lenda fala-nos das capacidades fantásticas ao corvo: seus ovos servem para pintar cabelos grisalhos, dando-lhes novamente a coloração negra. Mas havia um cuidado especial: o "paciente" deveria manter a boca cheia de óleo para evitar que seus dentes também se escurecessem irremediavelmente.
Só com o desenvolvimento da alquimia, é que ele recupera alguns dos aspectos de sua simbologia primitiva: aqui o corvo é o nigredo ou estado inicial, como qualidade inerente à "primeira matéria" ou provocada pela divisão dos elementos (putrefactio). Dentro da simbologia alquímica, o corvo manteve uma certa representação alegórica da SOLIDÃO – o isolamento daquele que vive num plano superior aos demais.