quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Algo Similar.

, Guardadas todas as proporções, ocorre com Sidarta. Primeiro surgem as três belíssimas filhas de Mâra, Senhor da Ilusão e do Medo, que são sopradas para longe, o iniciando não se move por aquele tipo de convite e um forte vento as tira do cenário.

A segunda tentação é o surgimento de um monumental exército atirando as armas mais avançadas do tempo contra o iniciando (diz-se que até montanhas lhe são arremessadas); sem problemas. Sem nem mesmo piscar os olhos, vê Sidarta cada faca, lança, seta ou pedra transformadas em flores que lhe caem aos pés. Bela metáfora: "Atirais-me pedras? Recebo-as como homenagens!" Com tudo isso, pouquíssimos de nós consegue ver a rosa por dentro da cruz de sofrimentos que carregamos ao longo da nossa existência nesta terra.

Finalmente a tentação para com os deveres sociais, quando lhe é sugerido que não tem o direito de ficar ociosamente meditando ao pé de uma árvore quando há tantas coisas no mundo da concreção a demandar cuidados e atenções. Neste momento Sidarta dá um leve sorriso, toca a Terra e é a própria Terra que responde ao Senhor da Ilusão: "Que deveres sociais têm precedência a encontrar a Iluminação, o caminho para a Libertação de toda a espécie humana?"

Mâra desaparece assim que percebe ser, também ele, mais uma ilusão...

Que bela dádiva seria receber tudo o que se nos oferece como pétalas de flores, por mais que a intenção de quem nos presenteia fosse diversa desta.

Viver inatingido e permanecer impassível ante aplausos ou vaias, ante sucessos ou fracassos, que a vida é cheia destas ilusões todas; isto é atingir o mais elevado degrau da Iluminação, o que os hindus classicamente chamavam Moksha e a tradição budista ensinou a nomear Nirvana.

Quem chega neste estágio não mais precisaria permanecer no mundo e se o faz por compaixão, para ensinar aos seus irmãos humanos os degraus da iluminação, é reverenciado pelos hindus como o Jivan-Mukta ( o "libertado vivo") ou Bodhisatva, aquele cujo ser (satva) é iluminação (bodhi). guardadas todas as proporções, ocorre com Sidarta. Primeiro surgem as três belíssimas filhas de Mâra, Senhor da Ilusão e do Medo, que são sopradas para longe, o iniciando não se move por aquele tipo de convite e um forte vento as tira do cenário.

A segunda tentação é o surgimento de um monumental exército atirando as armas mais avançadas do tempo contra o iniciando (diz-se que até montanhas lhe são arremessadas); sem problemas. Sem nem mesmo piscar os olhos, vê Sidarta cada faca, lança, seta ou pedra transformadas em flores que lhe caem aos pés. Bela metáfora: "Atirais-me pedras? Recebo-as como homenagens!" Com tudo isso, pouquíssimos de nós consegue ver a rosa por dentro da cruz de sofrimentos que carregamos ao longo da nossa existência nesta terra.

Finalmente a tentação para com os deveres sociais, quando lhe é sugerido que não tem o direito de ficar ociosamente meditando ao pé de uma árvore quando há tantas coisas no mundo da concreção a demandar cuidados e atenções. Neste momento Sidarta dá um leve sorriso, toca a Terra e é a própria Terra que responde ao Senhor da Ilusão: "Que deveres sociais têm precedência a encontrar a Iluminação, o caminho para a Libertação de toda a espécie humana?"

Mâra desaparece assim que percebe ser, também ele, mais uma ilusão...

Que bela dádiva seria receber tudo o que se nos oferece como pétalas de flores, por mais que a intenção de quem nos presenteia fosse diversa desta.

Viver inatingido e permanecer impassível ante aplausos ou vaias, ante sucessos ou fracassos, que a vida é cheia destas ilusões todas; isto é atingir o mais elevado degrau da Iluminação, o que os hindus classicamente chamavam Moksha e a tradição budista ensinou a nomear Nirvana.

Quem chega neste estágio não mais precisaria permanecer no mundo e se o faz por compaixão, para ensinar aos seus irmãos humanos os degraus da iluminação, é reverenciado pelos hindus como o Jivan-Mukta ( o "libertado vivo") ou Bodhisatva, aquele cujo ser (satva) é iluminação (bodhi).

CONSCIENCIA CÓSMICA NO ORIENTE.


"O degrau máximo da vida de um ser humano é chegar à compreensão de que tudo é ilusório" Buda

São curiosas mesmo as similitudes entre as mais diversas religiões do mundo quando as estudamos de perto. O que o Eclesiástico chama de "vaidade", a tradição hindu chama de "ilusório". A dor, mera ilusão, o mesmo valendo para os prazeres.

Aplausos? Ilusão. Sucesso? Ilusão. Fracasso? Ilusão. Vaias? Ilusão.

Morrem aqui todas as dicotomias de um mundo religiosamente fundado em pontos de vista éticos. Mesmo aquilo que ousaríamos chamar valorativamente de "bem" ou de "mal", não passa de ilusão; tudo são manifestações da Mente Superior que tudo vê e a tudo criou. E como é que poderia ser diferente?

A história de Sidarta Gautama, o Buda, O Iluminado, Aquele que despertou, amplamente conhecida por nós no ocidente não é "novidade" para a tradição hindu.

A "pedagogia" religiosa hindu clássica sempre pautou-se pela busca do mais elevado degrau da iluminação. Na infância e pré-adolescência, estudava-se os Artha (como lidar com o mundo das aparências, com o prático-pragmático em termos nossos). A transição da adolescência para a idade adulta trazia o ensino dos Kama (relações de plenificação e realização com o sexo oposto). A maturidade era contemplada com o aprendizado das leis do Dharma ("política" no sentido de "relações intersubjetivas em todas as esferas de atuação no cotidiano ao longo da vida". Estes três primeiros degraus de aprendizado eram inclusive acompanhados de manuais, o Sutra; assim temos o Artha Sutra (manual de orientação profissional), o Kama Sutra (manual de orientação para o amor) e o Dharma Sutra (manual de ciência política).

Aqueles cujas ânsias e pulsões internas apontassem naquela direção, após sucesso comprovado nas esferas anteriores eram orientados pessoalmente por grandes líderes espirituais (os gurus) podendo chegar ao Moksha (Iluminação, o grande despertar das percepções psíquicas superiores).

O caminho seguido por Sidarta, contudo, é exemplar. Rememoremo-lo, portanto: abandonando o luxo e a luxúria em que vivia, primeiro Sidarta foi viver entre os anacoretas, os mendicantes, depois abandonou-os também quedando-se meditativo na chamada "Árvore do Conhecimento", onde sofre as três tentações clássicas; a luxúria, o medo da morte e a de viver preso aos deveres sociais.

Vale remarcar aqui que Cristo também passou por três tentações no deserto. Não foram as mesmas tentações, mas também foram três; primeiro a tentação "econômica", quando satanás sugere que transforme pedras em pães e é repreendido; a seguir a tentação política, quando lhe são oferecidos os reinos da Terra e, de novo, Cristo o repreende; finalmente a tentação espiritual, quando é convidado a arremessar-se do alto do Templo para que anjos o amparem: a repreensão final, não tentarás o Senhor teu Deus! faz o demônio desaparecer.

Iluminação Súbita.


- Após um período mais ou menos longo de meditações numa vida dedicada a ideais religiosos, unificadores, o homem cosmicamente iluminado entraria num período mais ou menos prolongado de Paz Profunda.

Grande Elevação Moral - A consciência cosmicamente iluminada raramente comete erros conscientes ou demonstra ter quaisquer defeitos na dimensão moral especificamente falando.

Grande Elevação Intelectual - O homem cosmicamente iluminado está tão distante do homem dotado de mera autoconsciência quanto o indivíduo auto-consciente está distante daquele que manifesta ainda uma consciência indivisa, ou seja, aquele que atingiu a Consciência Cósmica está para o homo sapiens como este para os outros animais.

Perda do Temor da Morte - Pela simples conscientização de que a morte é pura ilusão dos sentidos. Não existe um "fim" para a vida; esta segue sempre em frente!

Imantação da Personalidade - Um grande encanto é acrescentado à personalidade do Iluminado, fazendo com que se transforme num verdadeiro ímã atrator irresistível de outros seres também sequiosos por chegar àquele novo degrau evolutivo.

Como nos outros casos, claro, dentro de mais alguns milênios este novo "salto evolutivo" estará geneticamente incorporado aos seres humanos que passarão a ser - todos - dotados de Consciência Cósmica já na infância. Uma visão ou perspectiva no mínimo otimista e esperançosa e todos precisamos de uma boa dose de otimismo e de esperança nos dias que correm.

CONSCIENCIA CÓSMICA.


O médico canadense Richard M Bucke, num trabalho de mais de setecentas páginas que interessa em muito a todos aqueles que trabalham ou de alguma forma se dedicam a temas como "educação", "evolução humana", "humanismo" e congêneres, trabalho a que intitulou Consciência Cósmica, editado no Brasil pela AMORC, defende a interessante tese de que estamos em processo evolutivo milenar, senão vejamos.

Entre os minerais não percebemos crescimento notório, reprodução, mobilidade, sensibilidade, etc. Não são reconhecidamente dotados do que poderíamos - à falta de expressão mais adequada - chamar de "vida" como a compreendemos.

O reino vegetal, um pouco mais complexo, comporta reprodução, crescimento, alguma mobilidade, como as raízes que penetram subsolo abaixo seguindo as correntes hídricas ou os galhos que, pontuados por folhas buscam a luz solar. Com tudo isso, não se tem aceitação "científica" de qualquer forma de consciência no reino vegetal.

Quando chegamos aos animais, o que os caracteriza mais ostensivamente é a percepção de que são efetivamente dotados de uma forma, ainda que rudimentar, de consciência. Uma consciência coletiva, integrada à natureza em sua plenitude. Têm memória, reflexos, mobilidade, reprodução (na maior parte dos casos sexuada)... Não são dotados de uma autoconsciência, ou seja, de serem separados da natureza individualmente.

Ao chegarmos aos seres humanos, percebemos que, além das características simples existentes no reino animal, encontramos o surgimento da autoconsciência, plenamente desenvolvida hoje entre homens desde aproximadamente os três anos de idade; esta característica nova, a autoconsciência, começou a surgir entre os primeiros hominídeos em raros e esporádicos casos, nos quais alguns seres humanos, por algum motivo, davam este "salto evolutivo" naquela direção, via-de-regra, entre 35 e 42 anos de idade, passando, a partir daí, a fazer parte do patrimônio genético-biológico da humana espécie e hoje, somente em raros casos de esquizofrenia, oligofrenia, idiotismo ou outra patologia nesta direção deixa-se de encontrar a consciência de ser alguém à parte da Natureza entre os seres humanos.

Agora o avanço mais difícil: segundo dr. Bucke, há cerca de cinco milênios começaram a surgir casos raros e esporádicos, sempre também via-de-regra entre os 35 e os 42 anos de idade, de seres humanos que transcenderam a sua condição, atingindo aquilo que o Autor chama de Consciência Cósmica. Dentre os casos perfeitos e completos de Consciência Cósmica arrolados pelo Autor, cito aqui Akhenaton, Lao-Tse, Moisés, Pitágoras, Buda, Jesus Cristo, São Paulo, Maomé e Walt Whitman.

Esta nova consciência, esse novo "salto evolutivo" traz consigo algumas características que passam a distinguir seu detentor, quais sejam:

A ESTRELA VERDE.


"Assim como o perdão nos possibilita o controle sobre o passado, a Esperança nos permite o controle sobre o futuro."
Hannah Arendt

AMORC - Brasil, passo neste ponto a compilar um belo conto narrado pelos rosacruzes brasileiros em momentos de divulgação de seu pensamento:

"Era um vez, milhões e milhões de estrelas no céu. Havia estrelas de todas as cores: brancas, lilases, prateadas, douradas, vermelhas e azuis. Um dia, elas procuraram o Senhor Deus Todo-Poderoso, o Senhor Deus do Universo e disseram-lhe: `Senhor Deus, gostaríamos de viver na Terra, entre os homens...' "Assim será feito" - respondeu Deus - "conservarei todas vocês pequeninas como são vistas e podem descer até a Terra." Conta-se que naquela noite houve a mais linda das chuvas de estrelas. Algumas aninharam-se nas torres das igrejas, outras foram brincar e correr com os vaga-lumes dos campos, outras misturaram-se aos brinquedos das crianças e a Terra ficou maravilhosamente iluminada.

Passado algum tempo porém, as estrelas resolveram abandonar os homens e voltar para ao céu, deixando a Terra outra vez escura e triste. "Por que voltaram?" perguntou Deus à medida em que chegavam novamente ao céu. "Senhor, não nos foi possível permanecer na Terra; lá existe muita desgraça, muita fome, muita violência, muita injustiça, muita maldade, muita doença." E o Senhor lhes disse "Claro, o lugar real de vocês é aqui no céu, estamos no lugar da perfeição, no lugar onde tudo é imutável, onde nada perece." Depois de chegadas todas as estrelas e conferindo-lhes o número, Deus tornou a falar: "Mas está faltando uma estrela... Perdeu-se pelo caminho?" Um anjo, que estava perto, replicou: "Não, Senhor, uma estrela resolveu ficar entre os homens. Ela descobriu que o seu lugar é exatamente onde existe imperfeição, onde há limites, onde as coisas não vão bem." "Mas que estrela é essa?" - voltou Deus a perguntar. "Por coincidência, Senhor, é a única estrela dessa cor." "E qual a cor dessa estrela?"- insistiu Deus. E o anjo disse: "A estrela é verde, Senhor, a estrela verde do sentimento da esperança." Quando então olharam a Terra, a estrela já não estava só. A Terra estava novamente iluminada, porque havia uma estrela verde no coração de cada pessoa. Porque o único sentimento que o homem tem e Deus não tem é a esperança. Deus já conhece o futuro, enquanto que a esperança é própria da Natureza Humana. Daquele que cai, daquele que erra, daquele que não é perfeito, daquele que não sabe ainda como será o seu futuro."

"Que bom, estamos cercados de anjos!"


"Os anjos estão a serviço do amor incondicional de Deus pelos homens"

De tempos em tempos a angelologia ressurge no mundo, como se aqueles seres divinos, ocasionalmente se utilizassem de veículos humanos para lembrar-nos a todos de que não estamos sós. A frase que utilizo aqui como título foi por mim ouvida de uma menininha numa escola religiosa de educação infantil, o Colégio Santa Inês de São José do Rio Pardo. A epígrafe aprofunda a mensagem. Terry Lynn Taylor escreveu um trabalho muito bonito, editado no Brasil pela Cultrix/Pensamento, intitulado Anjos, Mensageiros da Luz, impelida por impulsos superiores a ela mesma, segundo diz na Obra, possivelmente verberando e reverberando idéias confortadoras a todos os que vivem nestes tempos sombrios.

Quantos de nós já sentiu um amor assim, incondicional? É assim que Deus nos ama. Não importa o que façamos, pensemos ou sintamos, estamos sempre ao alcance do amor incondicional de Deus por nós, basta que lhe estendamos as mãos e o pensamento e a qualquer momento o encontramos disposto ao perdão, à compreensão ao consolo.

Nós, humanos, usualmente condicionamos nossos sentimentos de amor a alguma coisa. Nos casos mais nobres à pura e simples correspondência. Se somos correspondidos em nossos sentimentos, o amor segue frutífero e, em geral, "a ingratidão desmancha a afeição". Se dizemos coisas como "eu te amo enquanto for correspondido por você" ou "te amo desde que você não ultrapasse esta ou aquela barreira", de Deus sabemos e sentimos que nos ama incondicionalmente. E os anjos, seus mensageiros, espalhados pelo mundo, talvez pousados entre uma e outra linha destes escritos, sorridentes, estão integralmente entregues ao serviço da felicidade de todos os homens, sem exceção, independentemente do que venhamos a sentir ou pensar acerca de um determinado fato da vida que é em grande medida uma tremenda ilusão dos sentidos.

De um ponto de vista mais "científico" ou cientificista, não há mal algum em acreditar em anjos se isso traz paz de espírito, tranqüilidade e até mesmo saúde física e mental. Teologicamente falando, são tantas as referências a anjos nos livros sagrados de todas as religiões que seria ilógico mesmo ser religioso e acreditar que os anjos estiveram na Terra tempos atrás, não se manifestando mais nos tempos contemporâneos.

Dentre as recomendações dos angelólogos, podemos enfatizar a necessidade da leveza, da alegria que nos fortifica as energias todas no agir cotidiano. Anjo é leveza, despreocupação, felicidade, otimismo, ajuda imediata em tempos de aflição ou angústia, até mesmo salvação em casos extremos!

Há quem veja neste processo de "ressurreição" da angelologia algo como "a nova face do velho demônio". Visão tacanha, uma vez que nenhum reino dividido contra si mesmo sobrevive e, se Satanás promove o bem-estar e a felicidade, deixa de ser um anjo decaído, claro. Se pensarmos e mesmo conversarmos com os anjos e isso nos fizer sentir e fazer sempre o bem, qual é o grande problema? O papa João XXIII, Ângelo Giuseppe Roncalli tinha como costume, quando às vésperas de um encontro com alguém ou alguma delegação "hostil" ao Vaticano, conversar com seu anjo da guarda, solicitando que este entrasse em contato com os anjos da guarda dos outros envolvidos e se fosse estreitando os caminhos para que quando o encontro físico efetivamente se desse já se tivesse vencido algumas etapas. Fazer como bom papa, seguir-lhe o exemplo neste ponto só pode ser benéfico. Mesmo se você for cético, há de concordar não haver mal algum em se pensar e seguir coisas que apontam na direção da bondade, beleza, verdade, justiça.

O ANJO E O DEMONIO.


Problemópolis possui uma rica tradição folclórica, com muitas lendas sobre heróis, reis, deuses e guerras. Um tipo de história que figura proeminentemente nesta tradição é a disputa intelectual entre dois rivais, que freqüentemente toma a forma de um “jogo”: há confrontos entre heróis e monstros, reis e deuses, lógicos e esfinges, e muitos outros.

O antropólogo e arqueólogo John H. Conway, principal autoridade no assunto, relata uma destas lendas em sua clássica obra [1]:

“Antes do mundo se formar, e antes de haver pessoas, flutuava no vazio um gigantesco tabuleiro de xadrez. Sua vastidão é incompreensível aos mortais de hoje: era um tabuleiro infinito em todas as quatro direções.

Neste tabuleiro caminhava um anjo. Em tempos imemoriais, o anjo esteve envolvido numa batalha, cujas causas e vencedores já foram esquecidos; a luta, contudo, custara-lhe as asas, e arremessara-o neste tabuleiro, a que se encontrava para sempre confinado.

Um demônio, vagando pelo éter, deparou-se com o sofrimento do anjo, e decidiu atormentá-lo, tornando sua prisão ainda mais restritiva.

O demônio, com seus poderes infernais, é capaz de destruir quadrados do tabuleiro. Um quadrado destruído torna-se um abismo, e sobre estes o anjo não pode caminhar. Além disso, o demônio ainda possui asas, de modo que ele mesmo não está no tabuleiro, e pode destruir (quase) qualquer quadrado a qualquer hora. Porém, o anjo veste sua armadura de Serafim, cuja aura impede a destruição do quadrado em que o anjo está. O objetivo do demônio, portanto, é cercar o anjo de abismos, de modo que este acabe restrito a um único quadrado.

O anjo e o demônio alternam seus movimentos. Em sua vez, o anjo pode andar um quadrado, na horizontal, vertical ou diagonal (como o rei do xadrez), ou ficar parado. O diabo, em seu turno, destrói um dos quadrados permitidos.

A MENTE HUMANA.


Se abre hoje para novas dimensões e as igrejas não têm condições para acompanhá-la nesse avanço. A luta sem tréguas que sustentaram e ainda sustentam contra o Espiritismo e em especial contra a mediunidade provou a sua incapacidade para enfrentar os novos tempos. A dinâmica da concepção espírita se opõe à mecânica ritual das igrejas como a Física moderna se opõe à Física do passado. Na proporção em que as camadas retrógradas da população terrena vão sendo afastadas do planeta, na sucessão inevitável das gerações, cresce o "esvaziamento das igrejas" e os seminários vão sendo fechados por falta de alunos.

Foi o que aconteceu com as religiões mitológicas do mundo greco-romano. Para poderem sobreviver, as igrejas têm de desigrejar-se, suprimindo o profissionalismo sacerdotal, as suas dogmáticas absurdas, as liturgias vazias de sentido. Antes que possam pagar esse preço demasiado elevado, as forças da evolução as varrerão da face da Terra. Isto não é uma profecia espírita, é uma profecia evangélica de Jesus, no episódio com a mulher samaritana. Que ninguém me acuse de responsável por essa previsão que elas mesmas, as igrejas, por dois mil anos fizeram ler no Evangelho em seus cultos sem a entenderem.

Também não entenderam a questão das muitas moradas da Casa do Pai, nem a do batismo espiritual, nem a do nascer de novo, nem a condenação das exigências rituais dos fariseus. O que podem esperar ou reclamar agora? Respeitáveis pensadores religiosos, reconhecidamente cultos, não conseguem ainda libertar-se da magia das selvas, cujos resíduos impregnam de misticismo as religiões em agonia. Esse apego os impede de socorrer as instituições religiosas no momento crucial. Desesperados, acusam o Espiritismo e os espíritas de incapazes de compreender as sutilezas da fé e exigirem provas materiais do que não é material.

Chegam mesmo a considerar como profanação a pesquisa espírita dos fenômenos mediúnicos. De outras vezes acusam o Espiritismo de práticas primitivas e o confundem com as formas do sincretismo-religioso afro-brasileiro. O materialismo, proclamam, leva os espíritas a quererem materializar espíritos. Perdem a perspectiva cultural do nosso tempo e mergulham no passado, acusando-nos de uma posição retrógada no campo do Espiritualismo.

Nossas ligações com a selva realmente existem e são as mesmas que constatamos nas religiões em agonia, mas há uma diferença fundamental entre a nossa posição e a delas: a reelaboração da experiência. Essa reelaboração não foi feita pelas religiões, que se limitaram a refinar as práticas selvagens e cobri-las com o verniz da civilização. Até mesmo a tentativa de submeter a Divindade ao poder misterioso dos pagés sobrevive em sacramentos das igrejas, dando aos sacerdotes o poder (que foi negado aos anjos) de obrigar o próprio Deus a materializar-se em substâncias materiais do culto, bem como o poder de obrigar o Espírito Santo a manifestar-se nos adeptos para o batismo do espírito.

No Espiritismo, o que sobrevive das selvas é o fenômeno, o fato natural da manifestação dos espíritos através da mediunidade, como todos os fenômenos físicos e químicos, botânicos e biológicos ou psíquicos sobrevivem obrigatoriamente nas ciências. Mas o Espiritismo não permanece apegado às superstições da experiência selvagem, reelabora essa experiência à luz da cultura e descobre as suas leis para poder usá-las em função do progresso. A capacidade humana de conhecer não tem limites e a divisão absoluta entre espírito e matéria já foi superada nas pesquisas físicas.

O materialismo morreu por falta de matéria, como afirmou Einstein, e as religiões agonizam, como podemos ver, por falta de espírito. Há mais apego à matéria nas práticas e nos conceitos das religiões em agonia do que nos ritos selvagens, pois nestes a crença ingênua e instintiva manifestava-se naturalmente, enquanto naquelas é puro artifício, tentativa de racionalização psicológica de heranças atávicas.
J.H. Pires

No Espiritismo.

As práticas místicas são condenadas por dois motivos fundamentais: 1.°) porque o homem está no mundo para viver o mundo com o fim de desenvolver na experiência da vida de relação, as suas potencialidades internas; 2.°) porque a ligação do homem com Deus se faz através do amor ao próximo, na prática da caridade (que é o amor em ação) e de maneira natural, sem a necessidade de práticas rituais ou do emprego de excitantes de qualquer espécie. As pessoas que consideram o Espiritismo como doutrina mística confundem a fenomenologia mediúnica com as práticas do misticismo.

Não sabem que a mediunidade — como hoje está confirmado pelas pesquisas parapsicológicas — é simplesmente uma faculdade humana natural que permite a todos o exercício da percepção extra-sensorial. O misticismo nasceu das manifestações naturais dessa faculdade e da falta de condições culturais para o seu estudo racional. A mística experiência de Deus das religiões dogmáticas depende das práticas místicas e de uma concepção anti-racional do mundo e da vida. Por isso Ranzolli propõe a limitação do termo misticismo às filosofias religiosas, substituindo-o no campo filosófico geral por expressões corno irracionalismo e intuicionismo ou sentimentalismo.

O Cristianismo — que os árabes chamaram religião do livro — utilizou-se em sua origem da mediunidade, mas sua posição em face das religiões anteriores foi nitidamente racionalista. Todos os ensinos de Jesus, mesmo quando ele se referia a Deus, chamando-o de Pai, são racionais. Sua condenação constante do irracionalismo judeu foi sempre seguida de explicações racionais, através de exemplos em forma de parábolas tiradas da própria vida diária do povo. Ao tratar do dogma judaico da ressurreição ele se referia claramente ao nascer de novo, usando exemplos históricos como a volta de Elias reencarnado em João Batista.

Suas referências às potencialidades divinas do homem eram exemplificadas pelos fenômenos produzidos por ele mesmo e pelos seus seguidores. Nunca falou da sua ressurreição como um privilégio, mas ligando-a à ressurreição de todos. O Apóstolo Paulo incumbiu-se de formular a teoria racional da ressurreição, não da carne, mas do espírito, explicando que o corpo espiritual do homem, hoje descoberto pelas ciências como corpo-bioplásmico, é o corpo da ressurreição.

Esse racionalismo foi posteriormente prejudicado pelas influências pagãs e judaicas do misticismo, que atingiriam nas igrejas cristãs um refinamento intelectualista paradoxal, opondo o intelecto a si mesmo. Todo o esforço de Jesus no combate à mitologia foi anulado pelos teólogos, que transformaram ele mesmo em novo mito, fazendo de sua natureza humana uma espécie de simples manifestação pragmática da sua divindade.

O Espiritismo retoma a tradição racionalista do Cristianismo primitivo e, da mesma maneira que os antigos cristãos, prova na prática os ensinos teóricos de Jesus através das manifestações espíritas, da prova concreta das materializações e das aparições tangíveis (como a de Jesus para os apóstolos no cenáculo) dos fenômenos de voz-direta (como o da voz que soou no espaço na hora do batismo) e dos casos pesquisáveis de reencarnação, hoje em pauta na pesquisa científica mundial. Nada disso se refere a misticismo, a práticas místicas através de processos mágicos, de excitantes específicos e de tentativas antinaturais de transformar o homem vivo em um morto-vivo que nega o mundo para viver como espírito desencarnado, desligado dos processos necessários da razão.

O homem é deus em potência, não em ato, e não pode querer antecipar a sua atualização fugindo aos compromissos e experiências da vida terrena. Seus deveres estão aqui, neste mundo, por enquanto, e suas possibilidades de evolução, de transcendência, não se encontram na alienação, na fuga, mas na integração consciente em suas tarefas sociais. O tempo das igrejas está chegando ao fim, como chegou o dos Mistérios na Antiguidade. Elas foram necessárias e tanto serviram como desserviram à Humanidade, revelando sua estrutura imperfeita como a de todas as obras humanas. Em vão se arrogaram investiduras divinas.

MAGIA E MISTICISMO.


O homem primitivo não via o mundo, mas a magia da Natureza. Não tendo ainda o pensamento desenvolvido, o raciocinio metodizado, não podia sequer conceber o mundo. Tinha mais sensações do que emoções e mais emoções do que idéias. Seus sentimentos germinavam no plano larvar dos instintos. E os instintos animais o dominavam, sem dar lugar aos instintos espirituais. Era mais corpo que alma. Kardec assinala dois seres na estrutura humana: o ser do corpo e o ser espiritual.

No homem atual esses dois seres se equilibram e a sua psicologia pode ser medida pela predominância de um ou de outro ou pela sua equivalência. As pessoas em que predomina o ser do corpo estão mais próximas do primitivismo. Aqueles em que os dois seres se equivalem apegam-se mais às coisas materiais e têm dificuldade em conceber a realidade do espirito. As pessoas em que predomina o ser espiritual dão mais importância às questões espirituais. As primeiras estão apegadas ao passado humano, as segundas à pragmática do presente e as terceiras tendem para o futuro.

Mas entre uma e outra dessas posições evolutivas existem numerosas variações que podem ser classificadas em fases intermediárias de múltiplas nuanças. A escala espírita de "O Livro dos Espíritos " oferece-nos um quadro psicológico geral dessas talvez inumeráveis variações tipológicas.

A percepção mágica do mundo (restrita ao ambiente tribal ou do clã) levou o homem primitivo às práticas mágicas. Seu pensamento se desenvolvia na experiência, revelando-lhe progressivamente as relações existentes entre as coisas e os seres. Podemos supô-las assim, como simples dados exemplificativos: vida-alimento, bicho-mato, peixe-água, ave-céu, fruta-árvore, flecha-caça-inimigo, homem-mulher-criança, dia-sol, noite-escuro-lua. Essas relações primárias lhe davam a possibilidade de agir com eficiência no meio físico.

Através delas ele começou a agir instintivamente no plano espiritual e nasceu a magia simpática ou simpatética, a arte incipiente de atingir o inimigo através de reproduções de sua figura em barro ou madeira e de evocar as forças benéficas através de símbolos correspondentes a elas. Nascia o feitiço e conseqüentemente o feiticeiro. E de ambos nasceriam mais tarde os ídolos, os sacramentos, os sacerdotes e as religiões com seus rituais. Esses processos rudimentares arrancavam o homem da selva e do gelo e o lançavam na direção da civilização. Um longo caminho a percorrer no aprimoramento dessas técnicas primitivas através dos milênios.

Mas os homens não estavam sós nem abandonados a si mesmos em nenhuma dessas fases. A idéia de Deus pairava obscura sobre o fundo nebuloso de suas experiências filogenéticas e a lei de adoração os levava a reverenciar o mistério da terra, das águas, do céu estrelado, das montanhas coroadas de nuvens. Do fundo escuro das matas surgiam o bem e o mal, as forças e os seres benéficos e maléficos. Muitos desses seres não tinham a consistência das criaturas de carne e osso. Apareciam e desapareciam como as chamas noturnas dos fogos-fátuos.

Uns os auxiliavam e eram considerados deuses benfazejos. Outros os ameaçavam e eram os deuses malfazejos. Espíritos bons velavam pelas tribos e orientavam os seus chefes. Pagés e xamãs tinham o dom de evocá-los e consultá-los. Como nas cidades cósmicas da Grécia arcaica, de que tratou Durkheim, homens e deuses conviviam numa espécie de intermúndio. Essa situação perdurou nas civilizações agrárias, no ciclo das grandes civilizações orientais, no mundo clássico, gerando as religiões mitológicas com seus oráculos e suas pitonisas. No Judaísmo e no Cristianismo temos a sua continuidade, o que se pode verificar pelos textos bíblicos e evangélicos.

Já no Paganismo encontramos as práticas místicas dos chamados Mistérios, com rituais específicos para levar os iniciados à relação direta com o mundo espiritual e especialmente com Deus. No Egito antigo e nas religiões dos impérios americanos dos aztecas, maias e incas havia o emprego de sumos vegetais que originariam as drogas atuais como a mescalina e o ácido-lisérgico, para a produção do estado de êxtase, que é o fenômeno central dessas práticas. Pelo êxtase, provocado ou espontâneo, o místico se desliga de toda a realidade sensível, do mundo material, e mergulha no inteligível, no mundo espiritual.

O Misticismo tem suas origens remotas no êxtase dos pagés, que em meio às selvas procuravam o contato direto com os espíritos protetores das tribos. O pressuposto do misticismo nas eras civilizadas é a possibilidade humana de superação dos sentidos e da razão para obter-se o conhecimento superior nas fontes divinas. Esse pressuposto conduz os homens a uma fuga da realidade.

O Oráculo de Delfos.


Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o reino dos deuses

Antigamente, Delfos era a capital da Fócida (Grécia) celebrada por seu templo e oráculo de Apolo. Ainda hoje, é possível chegar ao local que fica a 180km de Atenas, na região do Monte Parnaso.

Este oráculo simbolizava uma resposta de um deus a quem se consultava, cuja palavra tinha muito peso e inspirava total confiança.

O nome Delfos é derivado da palavra adelphoi que significa "irmãos". Também poderia se referir a "ermo" ou "solitário", em menção ao lugar afastado onde o oráculo se encontrava.

A manifestação oracular era possível neste lugar privilegiado, que ocorria em conjunção com rituais cerimoniais, interagindo com o poder local e produzindo insights sobre a natureza e possibilidades futuras. A palavra oráculo tem o significado de lugar de invocação ou lugar da palavra sagrada.

Segundo Plutarco, a fama do Oráculo iniciou-se quando um pastor se aproximou do local e notou que suas cabras se comportavam de modo estranho. Quando ele chegou perto delas, foi possuído por um acesso de loucura, falando coisas relacionadas ao futuro.

A notícia se espalhou e rapidamente uma multidão correu para o local. Todos começaram a entrar em um estado alterado de consciência.

Existia em torno do lugar um grande mistério. Para se obter o som da profecia não era necessário mais do que se aproximar da caverna e respirar o vapor que saía de lá. Por isso, os altos sacerdotes proibiram a entrada das pessoas comuns ao local. Não se usava o Oráculo todos os dias, somente em ocasiões especiais.

As riquezas deste templo eram extraordinárias, adquiridas através das doações dos visitantes que o consultavam. Ninguém sabe ao certo a época da fundação deste Oráculo. O que se sabe é que o templo tinha uma imensa reputação, pois muitas pessoas chegavam de todas as partes para consultá-lo.

Da boca de uma fenda saía vapores. Diante dele, era colocado um banquinho chamado trípode (três pés) onde uma pitonisa (nome que deriva da serpente Píton, que foi morta por Apolo) ficava sentada, recebendo o vapor, dizendo a mensagem do Oráculo.

Depois que fazia a adivinhação, a sacerdotisa era baixada da trípode e colocada em sua cela, onde permanecia durante vários dias. Ao longo dos anos, o Oráculo de Delfos foi caindo em declínio, pois alguns sacerdotes fraudavam a resposta na obtenção de lucros pessoais.

Atualmente não existem vestígios do Oráculo de Delfos, apenas algumas colunas que faziam parte do cenário místico. Os cientistas revelaram que o vapor que saía da fenda era na verdade gás etileno. Por isso, quem o inalava, entrava em um estado de transe, euforia ou inconsciência.