quarta-feira, 24 de junho de 2015

a tempestade.

Pássaro e o homem tem essências diferentes. O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas; o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos. Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra. Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos. Muitos levantam a cabeça acima dos montes; mas sua alma jaz nas trevas das cavernas. A civilização é uma arvore idosa e carcomida, cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas são a infelicidade e o desassossego. Deus criou os corpos para serem os templos das almas. Devemos cuidar desses templos para que sejam dignos da divindade que neles mora. Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis, de suas tradições e de seu barulho. Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos. Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas. Os sacerdotes aconselham os outros, mas não aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos. Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão. As descobertas e invenções nada são senão brinquedos com a mente se diverte no seu tédio. Cortar as distâncias, nivelar as montanhas, vencer os mares, tudo isso não passa de aparências enganadoras, que não alimentam ocoração e nem elevam a alma. Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes, nada são senão cadeias douradas com os quais o homem se acorrenta, deslumbrados com seu brilho e tilintar. São os fios da tela que o homem tece desde o inicio do tempo sem saber que, quando terminar sua obra, terá construído a prisão dentro da qual ficará preso. Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só... É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma. Quem o sente não o pode expressar em palavras. E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras. Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas. Gibran Khalil Gibran (1883-1931)