contos sol e lua

contos sol e lua

terça-feira, 30 de novembro de 2010

TERCEIRO BARDO.


Instruções preliminares
Oh. escuta bem
Tu estás agora ingressando no terceiro bardo
Antes enquanto experimentavas as pacíficas e coléricas visões do
segundo Bardo
Tu não podias reconhecê-lo
Através do medo ficavas inconsciente
Agora enquanto recuperas
Tua consciência se levanta
Como uma truta brincando para adiante,
fora da água lutando por sua forma original
Teu ego anterior começou a operar outra vez
Não te esforces por decifrar coisas
Se por fraqueza estás atraído a actuar e pensar
Tu queres vagar no meio do mundo do fogo da existência
E padecer dor
Relaxa teu intranquilo espírito
Oh! tu foste incapaz de reconhecer as formas arquetípicas do
segundo Bardo
Tu baixaste até agora
Agora, se tu desejas ver a verdade
Tua mente deve descansar sem distracção
Não há nada que fazer, nada em que pensar
Flutua em direcção ao não-obscuro, primordial brilhante, estado vazio de teu
intelecto
Neste caminho tu obterás liberação
Se és incapaz de relaxar tua mente
Medita em teus amigos
Pensa neles com profundo amor e confiança
Como sobre-obscurecendo a coroa de tua cabeça
Isto é de grande importância
Não te distrai-as
Oh!
Tu podes sentir o poder de realizar proezas
De perceber e comunicar com poder extrasensorial
De mudar forma, tamanho e número
De atravessar espaço e tempo instantaneamente

Estas sensações chegam a ti naturalmente
Sem nenhum método por tua parte
Não as desejas
Não trates de exercitá-las
Reconhece-as como sinal de que estás no terceiro
Bardo
No período de reentrada no mundo normal

Oh!
Se não entendeste o mencionado
Neste momento
Como resultado de teu próprio jogo mental
Espantosas visões podem vir
Ráfagas de vento e ráfagasgeladas

Zumbidos echasquidos da maquinaria de controle
Simulando risos
Tu podes imaginar terror produzindo observações:
«Culpável», «estúpido», «inadequado», «sujo»,
Tais troças imaginadas e pesadelos paranóicos
São os restos do egoísta egodominando, jogojogando.
Não as temas
São teus próprios produtos mentais
Recorda que estás no terceiro Bardo
Tu estás lutando por entrar na densa atmosfera do jogo da
existência rotineira,
Deixa esta reentrada ser suave e lenta
Não trates de usar força ou poder de vontade.

Oh…,
Como tu és conduzido aqui e além pelos sempre moventes
ventos do Karma
Tua mente, não tendo lugar para descansar ou focar-se
És como uma pluma lançada pelo vento
Ou como um ginete no cavalo ou alento
Incessantemente ou involuntariamente tu errarás chamado no
desespero por teu velho ego.
Tua mente corre até que estejas exausto e miserável
Não te detenhas nestes pensamentos
Conhece o descanso no estado inalterado
Medita na unidade de toda a energia
Assim tu serás livre de dor, terror e confusão

Oh ...,
Tu podes sentir-te confuso e desorientado
Tu podes estar assombrado de tua conduta
Tu podes mirar teus companheiros viajantes e amigos
e dar conta de que não podem entender-te
Tu podes pensar: Eu estou morto.. Que farei..
E sentir grande miséria
Só como um peixe arrojado fora da água sobre brasas ao vermelho rojo

Tu podes assombrar-te de que nunca voltarás
Lugares familiares, parentes, as pessoas que te conhecem se te aparecem
como em um sonho
Ou através de um vidro obscuro
Se tu estás vendo semelhantes experiências
Pensando não será de nenhuma utilidade
Não tentes explicar
Este é o resultado natural de teu próprio programa mental
Tais sensações indicam que estás no terceiro bardo
Confia em teu guia
Confia em teus companheiros
Confia no misericordioso Buda
Medita calmamente sem distracção.
Oh....
Tu podes agora sentir como se estivesses oprimido
e e s tr uj a d o
Como entre rochas e penhascos
Ou como dentro de uma jaula ou prisão
Recorda:

Estes são sinais de que tu estás tentando forçar um retorno a teu
ego
Pode ser uma opaca, luz cinzenta .
Estes são sinais do terceiro Bardo
Não lutes por retornar
A reentrada sucederá por si mesma
Reconhece onde estás
O reconhecimento te guiará à liberação
As visões de reentrada

Oh....
Tu não entendes-te o que está sucedendo
Até agora estiveste buscando a tua passada personalidade
Incapaz de encontrá-la, podes começar a sentir que nunca serás o mesmo
outra vez
Que volverás como uma pessoa mudada
Entristecido por isto sentirás pena de ti mesmo
Vais tratar de encontrar teu ego, alcançar o controlo,
Deste modo pensando, te assombrarás aqui e ali
Incessantemente e distraidamente
Diferentes imagens de teu próprio futuro serão vistas por ti
A que te obceca a verás mais claramente
A arte especial destes ensinamentos é particularmente importante
neste momento.
Qualquer imagem que vejas.
Medita acerca dela como vindo de Buda
Este nível de existência também existe em Buda

Esta é uma arte sumamente profunda
Te fará livre de tua presente confusão
Medita acerca (nome do ideal protector) tanto quanto possas
Visualiza-a como uma forma produzida por um mago
Então deixa sua imagem dissolver-se
Começando pelas extremidades
Até que nada seja visível
Põe-te em um estado de claridade e vazio
Habita neste estado por um momento
Medita agora uma vez mais em teu ideal protector
Uma vez mais na Luz Clara
Faz isto alternativamente
Depois deixa tua própria mente dissolver-se também gradualmente
Onde quer que o ar penetre, a consciência penetra
Onde quer que a consciência penetre, o sereno
êxtase penetra
Habita tranquilamente no incriado estado de serenidade
Neste momento o renascimento das paranóias será evitado
A perfeita iluminação será conseguida
Para toda a influência determinante do pensamento

Oh....
Podes agora experimentar alegria momentânea
seguida de pena momentânea de grande intensidade
Como otensionarse e relaxar de uma catapulta
Irás através de agudas oscilações de humor
Tudo determinado pelo Karma
Não te aferres às alegrias nem te enfades com as penas
As acções de teus amigos podem evocar enfado ou pena em ti.
Se te enfadas ou te deprimes
Terás uma experiência infernal
Não tem importância o que a gente faça
Nenhum pensamento nebuloso pode surgir
Medita acerca do amor em relação a eles
Frequentemente neste estado da sessão só estarás um
segundo longe da descoberta da mudança alegre de Tua vida;
Recorda que cada um de teus, companheiros é Buda consigo
mesmo
Tua mente agora, sem ter onde focar-se ou força interrogadora,
Sendo luz e movendo-se continuamente.
Todos os pensamentos que te ocorram
Positivos ou negativos
Exercerão grande poder
Tu estás extremamente receptivo
Portanto não penses em coisas egoístas
Recorda tua preparação para a viagem
Mostra pura afeição e humilde fé
Através da ausência destas palavras a recordação virá
A recordação será seguida do reconhecimento e a liberação
Para o juízo das visões.

Oh, se estás experimentando uma visão de juízo e culpa
Escuta atentamente
Estás sofrendo isto porque é o resultado de teu mísero jogo
mental
Teu Karma
Ninguém está fazendo nada
Tua mente está criando o problema
Portanto flutua na meditação
Lembra-te das tuas formas não que crês
Lembra os ensinamentos deste manual
Lembra-te da amigável presença de teus companheiros
Se não sabes como meditar
Concentra-te em um objecto ou sensação
Toma-lo (dá-te ao que se preocupa um objecto)
Concentra-te na realidade desse objecto
Reconhece a ilusória natureza de existência e fenómeno
Este momento é de grande importância
Se estás distraído agora te custará sair do pântano da miséria
Até agora as experiências do Bardo vieram a ti e não as
reconheces-te
Estiveste distraído
Neste período experimentaste todo o medo e todo o terror
Ainda que sempre com êxito até aqui
Podes reconhecer e obter liberação aqui
Tua sessão pode chegar a ser estática e reveladora
Se tu não sabes como meditar, recorda (ideal da pessoa)
Recorda teus companheiros recorda este manual
Pensa em todos esses medos e terroríficas aparições como
pertencendo a teu próprio ideal,
como o uno misericordioso
São provas divinas
Recorda teu guia
Repete os nomes uma e outra vez ainda que sempre decaiam
Não serás danificado
As visões sexuais

Neste momento podes ver visões de casais juntos
Tu estás convencido que ao teu redor ocorre uma orgia
Desejo e expectativa se apoderam de ti que a acção sexual te espera
Quando estas visões ocorram
Recorda, retém-te a ti mesmo de acção ou de apego
Humildemente exercita tua fé
Flutua na corrente
Confia fervorosamente no processo
Meditação e confiança na unidade da vida são as chaves
Se tratas de entrar em tua velha personalidade por que és atraído ou rechaçado
Se queres unir-te à orgia que estás alucinando
Renascerás a um nível animal
Experimentarás desejo possessivo e ciúmes
Sofrerás estupidez e miséria
Se desejas evitar essas misérias
Escuta e reconhece
Rechaça os sentimentos de repulsão ou atracção
Recorda que o descendente esforço contrário à iluminação é
forte em ti
Medita sobre a unidade com teus companheiros de viajem
Abandona os ciúmes
Nem atracção nem repulsão por tuas alucinações sexuais
Não vagarás na miséria largo tempo
Repete estas palavras a ti mesmo
E medita sobre isso
Quatro métodos de prevenção da entrada
Meditação sobre o Buda.

Oh.... tranquilamente medita sobre tua figura protectora
Ela é como um reflexo da lua na água
É aparente, todavia, não existente
Como uma ilusão produzida pela magia
Se tu não tens uma figura especial protectora
Medita sobre o Buda ou sobre mim
Com isto na mente medita tranquilamente
Então, originando avisualizadora forma de teu protector ideal
Se dissolve desde as extremidades
Medita sem nenhuma ideia feita, sobre A Clara Luz
Vazio

Esta é uma arte muito profunda
Por virtude disso o renascimento é adiado
Uma maior iluminação futura é segura.
Meditação sobre bons jogos.

Tu estás vagando agora pelo terceiro Bardo
Como um sinal disto mira teu espelho e tu não verás teu rosto
normal
Neste momento tu deves fazer simples resolução em tua mente
Isto é muito importante
É como dirigir a corrida de um cavalo com o uso dosriñones
Todo o que tu desejes sucederá
Meditação sobre a ilusão.
Se ainda estás baixando te liberarás
Medita como se segue:

As actividades sexuais, manipulação da maquinaria,
a simulação do riso, sons esporádicos e aparições terroríficas,
Em verdade estes fenómenos são em natureza ilusões
Sem embargo eles podem aparecer de verdade
São irreais e falsos
São como sonhos e aparições
Não permanentes, não fixas
¿Que vantagem há em apegar-se ou ter medo delas?
Tudo são alucinações de tua mente
Tu própria mente não existe
Portanto, ¿por quê existem elas?
Só tomando estas ilusões por algo real tu navegarás ao redor
desta confusa existência
Todas são como sonhos, como ecos
Como cidades de nuvens
Como reflexos, como formas relaxadas
Como fantasmagorias
A lua vista na água
Não são reais nem um momento
Mantendo-te firme agudamente nesta linha de pensamento
A crença de que elas são reais é dissipada
E a liberação é alcançada
Meditação sobre o vazio.

Todas as substâncias são parte de minha própria consciência.
Esta consciência é vazia, incriada, e não cessante,
Meditando assim,
Deixa descansar a mente no incriado estado
Como o chover de água sobre água
A mente deve ser deixada em sua própria postura fácil mental
Em sua naturalinmodificada condição clara e vibrante
Mantendo este relaxado, incriado estado da mente
O renascimento na rotina jogo realidade é seguramente evitado
Medita sobre isto até que tu sejas certamente livre
Para depois escolher a personalidade

Escuta:
É quase tempo de voltar
Faz a selecção de tua futura personalidade de acordo com os
melhores ensinamentos
Escuta bem:
Os sinais e características do nível de existência a vir.
Aparecerão ante ti em sinais premonitórios.
Reconhece-os
Quando encontres que tu voltaste à realidade
Intenta seguir as deliciosas agradáveis visões
Evita as desagradáveis e obscuras
Se voltas em pânico, um espantoso estado seguirá.

Se te esforças por escapar às obscuras lúgubres visões,
Um estado infeliz seguirá.
Se tu voltas em resplendor, um feliz estado seguirá.
Teu estado mental agora, afectará seu posterior nível de ser
O que escolhas.
Escolhe imparcialmente
Sem atracção nem repulsão.
Entra no jogo existência com boa graça
Voluntariamente e livremente
Permanece tranquilo
Recorda estes ensinamentos.
Do livro Tibetano dos Mrtos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Voz do Silêncio.


Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.
Martha Medeiros.

Sombras Abstratas.


O vento sopra a face com sensaçao de liberdade
Chegam as sombras roubando o doce azul
...deixando as cinzas
O medo tras a dor e a dor tras o medo
Dependentes um do outro
Inseparaveis ate o fim
O casal de lagrimas
Donos das feridas sangrentas
Sedentas de esperança
...luz do espirito
Refugio da alma
Guia da memoria
Descanso chamado morte?
Ou será que pode-se viver na morte,
sendo algo que permanesce vivo?!
[D.A]

Como dar vida às nossas vidas.


Há um antigo ditado japonês:
"Se houver relacionamento, faço; se não houver relacionamento, saio".
Um Mestre Zen, no final do século passado, fez a seguinte alteração:
"Havendo relacionamento, faço; não havendo, crio relacionamento".
Essa mudança de paradigma é extremamente importante. Devemos também lembrar que criar um relacionamento não significa, necessariamente, obter resultados imediatos, embora muitas vezes estes ocorram.
Novos relacionamentos em padrões antigos perdem seu significado. Precisamos criar relacionamentos a partir de novas maneiras de nos relacionar, de ver o mundo, de ser, de inter ser. Essa nova maneira pode, inclusive, recarregar de energia positiva antigos relacionamentos.
Para descobrirmos novas maneiras precisamos, primeiramente desenvolver a capacidade de perceber como estão nossos relacionamentos atuais.
Observe e considere meticulosamente a si mesmo. Perceba como está se relacionando em casa, na rua, no trabalho, no lazer. Perceba como respira, como anda, como toca nos objetos, como usa sua voz, como são seus gestos e como são seus pensamentos e os não pensamentos. Esse observar não deve ser limitante, constrangedor, confinador. Apenas observe. Como você se relaciona com o meio ambiente, biodiversidade, reciclagem, justiça social, melhor qualidade de vida, guerras, violência, terror, paz, harmonia, respeito, garantia dos Direitos Humanos? Como você e o seu logos se relacionam entre si e em relação aos projetos de sucesso, de lucro, de desenvolvimento e progresso de sua organização?
Como está se relacionando com o mais íntimo de si mesmo, com a essência da Vida, com o Sagrado?
Será que é capaz de ver, ouvir, sentir e perceber a rede de inter relacionamentos de que é feita a vida? Percebe e leva em consideração, na tomada de decisões, a interdependência?
Tanto individualmente, como no coletivo, nossa participação e compreensão como estão? Será que estamos conscientemente vivendo nossas vidas e direcionando nossos pensamentos, ações e palavras para o sentido de mudança que queremos e sonhamos?
Mahatma Gandhi disse: "Temos de ser a transformação que queremos no mundo".
Geralmente pensamos no mundo como alguma coisa distante e separada de nós, mas nós somos a vida do universo em constante movimento. Podemos até dizer que o mundo somos nós. Nossa vida forma o mundo, é o mundo, não apenas está no mundo. Inclui todas as formas de vida e seus derivados e nos inclui neste instante, instante após instante. Há um monge chinês do século VII, Gensha Shibi , que dizia : "O Universo é uma jóia arredondada. Somos a vida desse universo em constante transformação. Nada vem de fora, nada sai para fora".
De momento a momento tudo está mudando, nós fazemos parte dessa mudança e podemos escolher, discernir qual o caminho que queremos dar a esse constante transformar. É por isso que digo que a transformação começa em nós. Na verdade vai além de apenas começar. É em nós. Nossa capacidade humana de inteligência e compreensão nos permite fazer escolhas. E o que estamos escolhendo?
Outra frase de Mahatma Gandhi:
"Quando uma pessoa dá um passo em direção à Paz, toda a humanidade avança um passo em direção à Paz"
A minha decisão, a sua decisão pode transformar ou influenciar a direção da mudança.
Há um sutra budista que descreve o mundo como uma rede de inter relacionamentos. Como se fosse uma imensa teia de raios luminosos e em cada intersecção uma jóia capaz de receber essa luz e emitir raios em todas as direções. Qualquer pequena mudança afeta o todo. Cada ser que se transforme em um ser de paz, de harmonia, de ternura, carinho e respeito pela vida em todas as suas formas estará sendo uma mudança viva e influenciando tudo e todos.
Qual o primeiro passo? Conhecer a si mesmo. Conhecer nossos mecanismos.
O que nos afeta, nos incomoda? O que nos alegra? O que nos irrita? Como transformar a raiva em compaixão? Como transformar o desafio em competição leal, justa, empreendedora, enriquecedora? Sem nos preocuparmos com os créditos, se formos capazes de fazer o bem, não fazer o mal, fazer o bem aos outros estaremos transformando nossos lares, nossas amizades, nosso ambiente de trabalho, nossas organizações, nossas cidades, estados, países, nações, mundo e a nós mesmos no florescimento da Cultura da Paz.
"Estudar o Caminho de Buda é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo. Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por tudo que existe. Transcender corpo e mente seu e dos outros. Nenhum traço de iluminação permanece e a Iluminação é colocada à disposição de todos os seres." (Mestre Zen Eihei Dogen - 1200-1253)
É importantíssimo que iniciemos este "estudar a si mesmo", já. Cada um de nós que perceber seu próprio mecanismo ficará em controle desse mecanismo e não mais à mercê de seus sentimentos e emoções, desejos e frustrações, puxado, empurrado, espremido e puxando, empurrando, espremendo - envenenados pela ganância, raiva e ignorância.
Imagine um mundo aonde podemos brilhar uns para os outros, sem ódios, mas com carinhoso respeito e terna compreensão. Percebendo nossas diferenças, aceitando a diversidade da vida e juntando nossas capacidades tanto intelectuais como físicas na construção desse verdadeiro Céu, Paraíso, Terra Pura, Shambala de que falam as religiões, todas elas.
Cabe a nós, a cada um de nós criar esse relacionamento de carinho com a vida, de ternura com todos os seres, de compreensão, de sabedoria e compaixão para percebermos o Caminho Iluminado e o Nirvana permeando toda a existência.
Isso é dar vida à nossa própria vida.
Haverá explicação e prática da meditação sentada e caminhando, exercícios de plena atenção, momentos de pausa e de reflexão a fim de desenvolver a percepção de si mesmo, do outro e do meio ambiente, de como agimos, reagimos atualmente - nosso relacionamentos - e do que seria conveniente fazer para ocorrer mudanças (caso as considerem necessárias) ou direcionar transformações individuais e coletivas.
Monja Coen.

O Rio dos Sentimentos.


N ossos sentimentos desempenham um papel muito importante por dirigirem todos os nossos pensamentos e ações. Existe em nós um rio de sentimentos, no qual cada gota d'água é um sentimento diferente e cada um depende de todos os outros para sua existência. Para observar esse rio, sentamo-nos à sua margem e identificamos cada sentimento à medida que ele vem à tona, passa por nós e desaparece.
Há três tipos de sentimentos — agradáveis, desagradáveis e neutros. Quando temos um sentimento desagradável, podemos querer afastá-lo. O mais eficaz é voltar à nossa respiração consciente e apenas observá-lo, identificando-o em silêncio para nós mesmos. "Inspirando, sei que há um sentimento desagradável em mim. Expirando, sei que há um sentimento desagradável em mim." Chamar o sentimento pelo seu nome, "raiva", "tristeza", "alegria" ou "felicidade", nos ajuda a identificá-lo com clareza e reconhecê-lo em maior profundidade.
Podemos usar nossa respiração para entrar em contato com nossos sentimentos e aceitá-los. Se nossa respiração for leve e tranqüila — resultado natural da respiração consciente — nossa mente e nosso corpo irão lentamente se tornando leves, tranqüilos e claros. E da mesma forma nossos sentimentos. A observação plenamente consciente se baseia no princípio da "não-dualidade": nosso sentimento não está separado de nós nem foi causado apenas por algo externo a nós. Nosso sentimento é nosso eu, e temporariamente nós somos esse sentimento. Não submergimos nesse sentimento, nem nos aterrorizamos com ele, tampouco o rejeitamos. Nossa atitude de não nos agarrarmos aos nossos sentimentos e de tampouco rejeitá-los é a atitude de desapego, uma parte vital da prática da meditação.
Se encararmos nossos sentimentos desagradáveis com cuidado, afeição e não-violência, podemos transformá-los naquele tipo de energia que é saudável e que tem a capacidade de nos nutrir. Através da observação consciente, nossos sentimentos desagradáveis podem ser muito esclarecedores para nós, proporcionando-nos revelações e compreensão a respeito de nós mesmos e da nossa sociedade.
A não-cirurgia.
A medicina ocidental dá ênfase demais à cirurgia. Os médicos querem eliminar o que não for desejável. Quando temos algum distúrbio no corpo, eles muitas vezes nos aconselham uma operação. O mesmo parece se aplicar à psicoterapia. Os terapeutas pretendem nos ajudar a descartar o que é indesejável e manter somente o que é desejável. Mas o que sobra pode não ser muito. Se tentarmos nos livrar do que não queremos, podemos nos livrar da maior parte de nós mesmos.
Em vez de agir como se pudéssemos nos desfazer de partes de nós mesmos, deveríamos aprender a arte da transformação. Podemos transformar nossa raiva, por exemplo, em algo mais salutar, como a compreensão. Não precisamos de cirurgia para eliminar nossa raiva. Se nos enfurecermos com nossa raiva, teremos duas raivas ao mesmo tempo. Devemos apenas observá-la com amor e atenção. Se cuidarmos da nossa raiva dessa forma, sem tentar fugir dela, ela se transformará. E uma pacificação. Se estivermos em paz em nosso íntimo, poderemos aceitar nossa raiva. E possível tratar a depressão, a ansiedade, o medo ou qualquer sentimento desagradável dessa mesma forma.
Transformando os sentimentos.
O primeiro passo ao lidar com os sentimentos é reconhecer cada sentimento no instante em que surge. O meio para isso é a plena consciência. No caso do medo, por exemplo, você recorre à plena consciência, olha para o medo e o reconhece como medo. Você sabe que o medo brotou de você mesmo e que a plena consciência também brotou de você mesmo. Os dois estão em você, não em luta, mas um cuidando do outro.
O segundo passo consiste em se tornar uno como sentimento. Melhor não dizer, "Vá embora, Medo. Não gosto de você. Você não é eu." Muito mais eficaz é dizer, "Oi, Medo. Como é que você está hoje?" Em seguida, você pode estimular esses seus dois aspectos, a plena consciência e o medo, a se cumprimentarem como amigos e a se unirem. Isso pode parecer assustador, mas, como você já sabe que você é mais do que seu medo, não é preciso se amedrontar. Desde que sua mente esteja alerta, ela fará companhia ao seu medo. A prática fundamental é nutrir a plena consciência com a respiração consciente, para mantê-la alerta, cheia de vida e força. Embora no inicio sua plena consciência possa não ser muito potente, se você a alimentar, ela se tornará mais forte. Contanto que a sua consciência esteja plena e presente, você não será submerso pelo medo. Na realidade, você começará a transformá-lo no exato instante em que dentro de si der à luz a percepção.
O terceiro passo é o de acalmar o sentimento. Como a consciência plena está cuidando bem do seu medo, ele começa a acalmar-se. "Inspirando, acalmo as atividades do corpo e da mente." Você acalma seu sentimento só por estar com ele, como uma mãe segurando ternamente o filhinho que chora. Ao sentir a ternura da mãe, o neném se acalma e pára de chorar. A mãe é sua mente alerta, nascida das profundezas da sua consciência, e ela tratará do sentimento da dor. A mãe que segura o bebê forma uma unidade com ele. Se a mãe estiver pensando em outras coisas, a criancinha não se acalmará. A mãe tem de abandonar as outras coisas e apenas segurar seu filhinho. Por isso, não evite seu sentimento. Não diga, "Você não é importante. Você é só um sentimento." Passe a formar uma unidade com ele. Você pode dizer, "Expirando, acalmo meu medo."
O quarto passo é largar o sentimento, soltá-lo. Graças à sua calma, você está à vontade, mesmo em meio ao medo; e sabe que esse medo não vai crescer e se transformar em algo esmagador. Quando você se descobre capaz de tomar conta do seu medo, ele já está reduzido a um mínimo, tornando-se mais brando e menos desagradável. Agora você pode sorrir para ele e deixá-lo partir, mas por favor não pare por aqui. Acalmar e largar um sentimento são apenas curas para os sintomas. Você agora tem a oportunidade de se aprofundar e trabalhar na transformação da raiz do seu medo.
O quinto passo é olhar profundamente. Você examina em profundidade o seu bebê — seu sentimento de medo — para ver o que está errado, mesmo depois que o bebê parou de chorar, mesmo depois que o medo se foi. E impossível segurar uma criança no colo o tempo todo. Por isso, você deve examiná-la para ver a causa do que está errado. Com esse exame, você verá o que o ajudará a começar a transformar o sentimento. Você perceberá, por exemplo, que seu sofrimento tem muitas causas, internas e externas ao seu corpo. Se há algo de errado em volta dele, se você conserta a situação, com carinho e cuidado, ele se sentirá melhor. Ao examinar seu bebê, você verá os elementos que o estão fazendo chorar. Ao vê-los, você saberá o que fazer e o que não fazer para transformar o sentimento e se sentir livre.
Esse processo é semelhante ao da psicoterapia. Em companhia do paciente, o terapeuta observa a natureza da dor. Muitas vezes, o terapeuta pode revelar causas de sofrimento que se originam da forma pela qual o paciente encara a vida, das opiniões que ele tem sobre si mesmo, sobre a sua cultura e o mundo em geral. O terapeuta examina esses pontos de vista e essas opiniões com o paciente, e juntos eles colaboram para libertá-lo daquele tipo de prisão em que estava. No entanto, o esforço do paciente é crucial. O professor deve trazer à luz o professor que existe dentro do aluno; e o psicoterapeuta deve trazer à luz o psicoterapeuta que está no íntimo do seu paciente. O "psicoterapeuta interno" do paciente poderá então trabalhar em tempo integral de uma forma muito eficaz.
O terapeuta não trata do paciente simplesmente lhe repassando um outro conjunto de opiniões. Ele tenta ajudar o paciente a perceber que tipos de idéias e de crenças levaram ao seu sofrimento. Muitos pacientes querem se ver livres dos sentimentos dolorosos, mas não querem se livrar das opiniões, dos pontos de vista que são as verdadeiras raízes dos seus sentimentos. Portanto, o terapeuta e o paciente têm que trabalhar juntos para ajudar o paciente a ver as coisas como elas são. O mesmo vale para quando recorremos à plena consciência para transformar nossos sentimentos. Depois de reconhecermos o sentimento, de nos tornarmos unos com ele, de o acalmarmos e de o largarmos, podemos examinar suas causas em profundidade. Elas muitas vezes se baseiam em percepções incorretas. Assim que compreendemos as causas e a natureza dos nossos sentimentos, eles começam a se transformar.
Monge Thich Nhat Hanh.
Do livro: Paz a cada passo - Como manter a mente desperta em seu dia-a-dia.
Editora: Rocco.

domingo, 28 de novembro de 2010

SEGUNDO BARDO: O Período de Alucinações.


Se a Serena Luz primária não for reconhecida, ainda há a possibilidade de manter a Serena Luz secundária. Se ela é perdida, então vem o Chonyid Bardo, o período das ilusões cármicas ou intensas misturas alucinatórias do jogo realidade. É muito importante que as instruções sejam lembradas – elas podem Ter grande efeito e influência.
Durante este período, o fluxo de consciência, microscopicamente nítido e intenso, é interrompido por tentativas fugazes de interpretar e racionalizar. Mas o ego-jogador normal não está funcionando efetivamente. Existem, portanto, possibilidades ilimitadas para, por um lado, novidades intelectuais e emocionais agradáveis se deixar-se flutuar com a corrente; e, por outro lado, temíveis emboscadas de confusão e terror se tentar-se impor a sua vontade à experiência.
A proposta desta parte do manual é preparar a pessoa para os pontos de escolha que surgem durante este estágio. Estranhos sons, visões sobrenaturais e perturbadoras podem ocorrer. Eles podem impressionar, assustar e atemorizar a não ser que se esteja preparado.
A pessoa experiente será capaz de manter a percepção de que todas as percepções vêm de dentro e será capaz de sentar-se calmamente, controlando sua consciência expandida como um aparelho de televisão multidimensional fantasmagórico: as alucinações mais agudas e sensíveis – visuais, audíveis, táteis, olfativas, físicas e corporais; as reações mais requintadas, o discernimento compassivo do eu, do mundo. A chave é a inação: a integração passiva com tudo o que ocorre à sua volta. Se você tentar impor sua vontade, usar sua mente, racionalizar, buscar explicações, você será pego em rodamoinhos alucinatórios. O lema: paz, aceitação. É um panorama que muda continuamente. Você é temporariamente apartado(a) do mundo de jogo. Aproveite isso.
Os inexperientes e aqueles para os quais o ego-controle é importante podem considerar a passividade impossível. Se você não puder se manter inativo(a) e subjugar sua vontade, então a única atividade que pode certamente reduzir o pânico e puxá-lo(a) de volta dos jogos mentais alucinatórios é o contato físico com outra pessoa. Vá até o guia ou até outro participante e ponha sua cabeça no ombro dele(a) ou no seu colo; ponha seu rosto próximo ao dele(a) e se concentre no movimento e no som da respiração dele(a). Respire profundamente e sinta o ar correr para dentro e a expiração. Esta é a forma mais antiga de comunicação viva; a irmandade da respiração. A mão do guia sobre sua testa pode ajudar no relaxamento.
O contato com outro participante pode ser mal-entendido e provocar alucinações sexuais. Por esta razão, esse tipo de ajuda deve ser combinada previa e explicitamente. Participantes despreparados podem impor medos ou fantasias sexuais no contato. Desligue-os; eles são produções ilusórias cármicas.
O aconchegar terno, gentil e apoiador dos participantes é do desenvolvimento natural da Segunda fase. Não tente racionalizar este contato. Seres humanos e, analogamente, quase todas as criaturas terrestres móveis têm se aconchegado por muito tempo, em noites escuras e confusas por muitas centenas de milhares de anos.
Inspire e expire com seus companheiros. Nós somos todos um! Isso é o que a respiração está lhe dizendo.
Segundo Bardo.
O problema essencial do Segundo Bardo é que toda e qualquer imagem – humana, divina, diabólica, heróica, má, animal, coisa – que o cérebro humano invoca ou as lembranças de vidas passadas, podem apresentar-se à consciência: imagens e formas e sons girando interminavelmente.
A solução essencial – repetida de novo e de novo – é reconhecer que seu cérebro está produzindo as visões. Elas não existem. Nada existe exceto da forma como sua consciência dá vida às coisas.
Não há, é claro, modo de classificar as infinitas trocas e combinações de elementos visionários. O córtex contém registros de bilhões de imagens da história da pessoa, da raça e das formas vivas. Qualquer delas, à taxa de cem milhões por segundo (de acordo com neurofisiologistas), pode inundar a consciência. Balouçando neste brilhante e sinfônico mar de imaginário está o que resta da mente conceitual. Num turbulento e infindável aguaceiro do Oceano Pacífico balouça uma pequena boca aberta a gritar (entre bocados de água salgada) “Ordem! Sistema! Explique tudo isso!”
Não se pode prever que visões ocorrerão, nem sua seqüência. Pode-se apenas incitar os participantes a fechar a boca, respirar pelo nariz, e desligar a irrequieta mente racionalizante. Mas só uma pessoa experiente de inclinações místicas consegue fazer isso (e assim permanecer no sereno esclarecimento). A pessoa despreparada ficará confusa ou, pior, entrará em pânico: a luta intelectual para controlar o oceano.
Com o objetivo de guiar a pessoa, ajudá-la a organizar suas visões em unidades explicáveis, o Chonyid Bardo foi escrito. Há duas seções: (1) Sete Deidades pacíficas com suas simetricamente opostas ego-armadilhas; (2) Oito Deidades Coléricas que podemos alegremente aceitar como produções visionárias, ou fugir de medo.
Cada uma das Sete Deidades Pacíficas (representações Pai-Mãe bissexuadas) é acompanhada por consortes, criados, deidades menores, santos, anjos, heróis. Cada uma das Deidades Coléricas é similarmente acompanhada. Luzes, objetos simbólicos, belos, horríveis, assustadores, ferventes, também são vistos.
Se lido literalmente, o Livro Tibetano dos Mortos o(a) faria esperar o “Mestre de Todas as Imagens Visíveis” (ou seu oposto, a absurdidade da estupidez) no primeiro dia; a “Deidade Imóvel da felicidade” e seus consorte, criados e seu oposto no segundo, etc. O manual não deve, é claro, ser usado rigidamente, exotericamente, mas deve ser tomado em sua forma esotérica, alegórica.
Lido desta perspectiva, vemos que os lamas ouviram ou nomearam milhares de imagens que podem ferver no mosaico ajoalhado em constante mudança da retina (aquele atoleiro de multi-camadas de bilhões de raios e cores, infiltrado, como um tapete persa ou uma escultura maia, com incontáveis capilares multicoloridos). Através da leitura preparatória do manual e por sua repetição durante a experiência, o novato é levado via sugestão a reconhecer seu fantástico caleidoscópio retinal.
O mais importante, a pessoa aprende que as visões vêem de dentro. Todas as deidades e demônios, todos os paraísos e infernos são internos.
O estudante com interesse particular pelo budismo tântrico ou tibetano deve mergulhar no Chonyid Bardo. Deve arranjar placas coloridas das catorze chamas do Bardo, e arranjar para que o guia o leve segundo a seqüência prevista durante a sessão. Isto providenciará inesquecíveis séries de libertação e permitirá ao devoto emergir “reencarnado” da experiência na tradição lamaísta.
A intenção deste manual é tornar disponível o esboço geral do Livro Tibetano e traduzi-lo num inglês psicodélico. Por esta razão, não apresentaremos a seqüência detalhada de alucinações lamaísta, mas, em vez disso, vamos listar algumas aparições comumente relatadas pelos ocidentais.
Seguindo o Thodol Tibetano, classificamos as visões do Segundo Bardo em sete tipos:
A Fonte ou Visão do Criador; 2. O Fluxo Interior de Processos Arquetípicos; 3. O Fluxo Flamejante de unidade Interior; 4. A Estrutura de Vibrações Ondulares de Formas Exteriores; 5. As Ondas Vibratórias de Unidade Exterior; 6. “O Circo Retinal”; 7. “O Teatro Mágico” [Devemos a frase “circo retinal” a Henri Michaux (Miserável Milagre) e o termo “teatro mágico” a Hermann Hesse (O Lobo da Estepe)].
As visões 2 e 3 envolvem o fechar dos olhos e nenhum contato com estímulos externos. Na visão 2 o imaginário interior é primariamente conceitual. A experiência pode se estender das revelações e do insight à confusão e ao caos, mas o significado intelectual, cognitivo, é primordial. Na visão 3 o imaginário interior é primariamente emocional. A experiência pode se estender do amor e da unidade extática ao medo, desconfiança e isolamento.
As visões 4 e 5 envolvem olhos abertos e atenção para os estímulos exteriores, tais como sons, luzes, toque etc. Na visão 4 o imaginário exterior é primariamente conceitual e na visão 5 os fatores emocionais predominam.
A lista sétupla acima descrita tem alguma semelhança com o esquema mandálico das Deidades Pacíficas listadas para o Segundo Bardo no Livro Tibetano dos Mortos.
Visões Pacíficas.
A FONTE.
A primeira Deidade Pacífica listada pelo Bardo Thodol é o Bhagavan Vairochana, que ocupa o centro da mandala dos cinco Dhyani Budas. Seus atributos como força-da-fonte foram traduzidos para aqueles do criador monoteístico das religiões ocidentais.
Olhos fechados, estímulos exteriores ignorados.
A Luz Branca, ou energia do Primeiro Bardo, pode ser interpretada como Deus, o Criador. O Espalhador da Semente. O poder que torna todas as imagens visíveis. Semente de tudo o que é. Poder Soberano. O Todo-Poderoso. O Sol Central. A Única Verdade. A Fonte de Toda Vida Orgânica. A Mãe Divina. O Princípio Criador Feminino. Mãe do espaço do Céu. Pai-Mãe Irradiante. Revelações magníficas, tanto espirituais quanto filosóficas, podem ocorrer neste ponto produzindo a mais alta união entre experiência e intelecto. Mas, devido ao carma ruim (normalmente crenças religiosas de natureza monoteística ou punitiva), a gloriosa luz da semente da sabedoria pode impressionar e causar terror. A pessoa desejará fugir e terá uma rejeição absurda pela sombria luz branca simbolizando a estupidez.
Pessoas de educação judeu-cristã concebem um enorme fosso entre a divindade (que está “lá encima”) e o eu (“aqui embaixo”). Os apelos dos místicos cristão pela união com a divindade sempre causaram problemas aos teólogos comprometidos com a distinção cosmológica sujeito-objeto. A maioria dos ocidentais, portanto, acha difícil alcançar a unidade com a luz-fonte.
Se o guia verificar que o viajante está lutando contra pensamentos ou sentimentos relativos à energia da fonte criativa, ele pode ler as instruções apropriadas è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO 1: A FONTE.
O Fluxo Interior de Processos Arquetípicos.
Olhos fechados, estímulos externos ignorados; aspectos intelectuais.
Se a luz indiferenciada do Primeiro Bardo ou da Energia da Fonte for perdida, ondas luminosas de diferentes formas podem inundar a consciência. A mente da pessoa começa a identificar essas figuras, isto é, a rotulá-las e a experimentar revelações sobre o processo vital. [O Lama Govinda nos diz que Amoghasiddhi representa “ a misteriosa atividade de forças espirituais, que trabalham apartadas dos sentidos, invisíveis e imperceptíveis, com o objetivo de guiar o indivíduo (ou, mais propriamente, todos os seres vivos) em direção à maturidade do conhecimento e da libertação. A luz amarela de um sol (interior) invisível ao olhar humano (no qual o espaço incompreensível do universo parece abrir-se a si mesmo) para o sereno e místico verde de Amoghasiddhi (...) No plano elementar, esta força todo-penetrante corresponde ao elemento do ar o princípio de movimento e extensão, da vida e da respiração (prana).” Lama Govinda: Fundamentos do Misticismo Tibetano. Londres: E. P. Dutton & Co., Inc., 1959, p. 120.
O quinto dia do Bardo Thodol confronta o falecido com o Buda Bhagavan Amoghasiddhi, Conquistador Todo-Poderoso, do reino verde do norte da Realização Bem-Sucedida das Melhores Ações, assistido pela Mãe Divina, e por dois bodhisattvas representando as funções mentais do “equilíbrio, imutabilidade, e foça todo-poderosa” e “iluminador das obscuridades”.
Especificamente, o indivíduo é capturado num fluxo infindável de formas coloridas, imagens microbiológicas, acrobacias celulares, rodopios capilares. O córtex é ligado a processos moleculares que lhe são completamente novos e estranhos: uma Niágara de desenhos abstratos; a corrente da vida fluindo, fluindo.
Estas visões talvez possam ser descritas como puras sensações de processos celulares e subcelulares. É incerto se elas envolvem a retina ou/e o córtex visual, ou se são flashes de sensações moleculares, diretas, em outras áreas do sistema nervoso central. São subjetivamente descritas como visões interiores.
Outra classe de imagens de processos interiores envolve o som. Novamente, não sabemos se essas sensações se originam no aparelho auditivo e/ou no córtex auditivo, ou se são flashes de sensações moleculares diretas de outras áreas. São subjetivamente descritos como sons interiores: cliques, batidas, zumbidos, palmas, gemidos, assobios estridentes. [O Livro Tibetano inclui uma brilhante descrição dos ruídos dos processos interiores. inumeráveis (outros) tipos de instrumentos musicais, enchendo (de música) os sistemas do mundo e fazendo com que vibrem e tremam e balancem com sons tão poderosos que atordoam o cérebro.
OS instrumentos musicais: grandes tambores, pratos (normalmente de metal), concha, sinos (como os pequenos sinos usados no serviço da missa cristã), tímpanos, pequenos clarinetes (soam como as gaitas de fole das Highlands escocesas), grandes trombetas e trombetas feitas de fêmures humanos. Embora o som combinado desses instrumentos esteja longe de ser melodioso, os lamas afirmam que eles psiquicamente produzem no devoto uma atitude de profunda veneração e fé, porque são homólogos aos sons naturais que ouve-se o corpo produzir quando os dedos são postos nos ouvidos para silenciar os sons exteriores. Fazendo isso, são ouvidos o som de batidas, como se um grande tambor estivesse sendo tocado; sons de batidas, como de pratos; um som sussurrante, como de vento se movendo pela floresta – como quando se escuta uma concha; um zumbido como o de sinos; um som agudo de bater palmas, como quando o tímpano é usado; um som de gemido, como o do clarinete; um som grave de gemido, como se produzido por uma grande trombeta; e um som estridente, como o da trombeta de Fêmur.”
Isto não é apenas interessante como uma teoria da música sacra tibetana, mas dá a pista para a interpretação esotérica dos sons naturais simbólicos da Verdade (a que se refere o segundo parágrafo que se segue, e outras partes do nosso texto), que é dita ser, ou proceder das faculdades intelectuais dentro da mentalidade humana.” (Evans-Wentz, p.128)] Esses ruídos, como as visões, são sensações diretas livres de conceitos mentais. Unidades de energia molecular, dançantes, brutas.
As mentes entram e saem dessa corrente evolucionária, gerando revelações cosmológicas. Dúzias de insights darwinianos e míticos são comunicados à consciência. É permitido à pessoa olhar para trás no fluxo do tempo e perceber como a energia vital continuamente se manifesta em formas transitórias, sempre em mudança. Formas microscópicas se fundem a mitos criacionais primais. O espelho da consciência é seguro pela corrente da vida.
Enquanto a pessoa flutua com a corrente, ela recebe lições da cosmologia de bilhões de anos. Mas o empuxo da mente está sempre presente. A tendência de impor a ordem isolante, arbitrária, ao processo orgânico.
Às vezes o viajante sente que deve relatar a sua visão. Ele converte o fluxo vital num teste do borrão cósmico – tenta rotular cada forma. “agora vejo uma cauda de pavão. Agora cavaleiros mouros em armaduras coloridas. Oh, agora uma cachoeira de jóias. Agora, música chinesa. Agora, serpentes como se fossem colares, etc.” Verbalizações desse tipo enevoam a luz, interrompem o fluxo e não devem ser encorajadas.
Outra armadilha é aquela da imposição de uma interpretação sexual. O fluxo de energia dançante, brincalhão, é, no sentido mais reverente, sexual. Formas se unindo, girando umas com as outras, se reproduzindo. Eros em suas inumeráveis manifestações. Os tibetanos se referem às Bodhisattvas Pushpema, personificação das flores, e Lasema, a “Bela”, retratadas segurando um espelho em atitude coquete. Mantenha a consciência espontânea, pura, da Sabedoria-em-forma-de-Espelho. Ria alegremente das travessuras do processo vital, sempre a produzir formas em padrões atraentes para manter a dança em movimento. Se o viajante interpretar as visões de Eros nos termos de seus modelos pessoais de jogos sexuais, e tentar pensar ou planejar – “o que devo fazer? Que papel devo interpretar?” – é provável que ele escorregue para o terceiro Bardo. Tramas sexuais dominam sua consciência, o fluxo cai, empana-se o brilho do espelho, e ele renasce grosseiramente como um ser pensante e confuso.
Um outro impasse é a imposição de jogos de sintomas físicos ao fluxo biológico. As novas sensações somáticas podem ser interpretadas como sintomas. Se é novo, deve ser ruim. Qualquer órgão do corpo pode ser selecionado como o foco da “doença”. Pessoas cuja expectativa primária ao tomar uma substância psicodélica é médica são particularmente propensas a cair nesta armadilha. Médicos são, de fato, extremamente propensos e podem imaginar doenças coloridas e ataques fatais.
No caso dos psicodélicos mais amplamente usados , é seguro dizer que tais efeitos corporais praticamente nunca são efeito direto da droga. A droga age apenas sobre o cérebro e ativa padrões neurais centrais. Todos os sintomas físicos são criados pela mente. Indisposição física é um sinal de que o ego está lutando para manter ou recuperar o controle através da dissolução dos limites emocionais.
Se a pessoa se queixar de sintomas físicos como náusea ou dor, o guia deve ler para ela as è INSTRUÇÕES PARA SINTOMAS FÍSICOS.
O equivalente colérico, negativo, desta visão ocorre se o viajante reage com medo ao poderoso fluxo de formas vitais. Tal reação é atribuída ao resultado cumulado da interpretação de scripts dominada por raiva e estupidez. Um mundo infernal pode seguir-se como um pesadelo. As formas visuais aparecem como um confuso caos de objetos feios, baratos, típicos de lojas de R$ 1,99 , vulgares e inúteis. A pessoa pode ficar aterrorizada ante a perspectiva de ser tragada por eles. Os impressionantes sons podem ser ouvidos como ruídos de rangidos, horríveis e opressivos. A pessoa tentará escapar dessas percepções por meio de atividades externas agitadas (conversar, ficar andando em círculos etc.) ou através de atividade mental analítica e conceitual.
A experiência é a mesma, e interpretação intelectual é diferente. Em vez de revelação, há confusão; em vez de calma alegria, há medo. O guia, ao reconhecer que o viajante está em tal estado, pode ajudá-lo a se libertar, lendo-lhe as è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO.
O Fluxo Flamejante de Unidade Interior.
Olhos fechados, estímulos exteriores ignorados, aspectos emocionais.
As instruções do Primeiro Bardo devem mantê-lo(a) face a face com o êxtase-de-vazio. Ainda existem classes de homens que, tendo carregado conflitos cármicos a respeito de inibições de sentimentos, mostram-se incapazes de manter a experiência pura além de quaisquer sentimentos, e escorregam para visões de caráter emocional. A energia indiferenciada do Primeiro Bardo é tecida em jogos visionários na forma de sentimentos intensos. Pulsantes, estranhas e intensas sensações de amor e unidade serão sentidas; o equivalente negativo são sentimentos de afeição, cobiça, isolamento e preocupações com o corpo.
A coisa vem mais ou menos assim: o fluxo puro de energia perde sua qualidade nula e torna-se perceptível como sentimentos intensos. Um jogo emocional é imposto. Novas e incríveis sensações físicas pulsam através do corpo. O brilho da vida é sentido fluindo pelas veias. A pessoa dilui-se num oceano unitivo de eletricidade fluida orgástica [A Deidade Pacífica do Bardo Thodol personificando esta visão é o Buda Amitabbha, a sabedoria e sentimento todo-criteriosos, luz ilimitada, representando a vida eterna. O Lama Govinda escreve que “A luz vermelho-escura da criteriosa visão interior, brilha do seu coração o fogo corresponde a ele e assim, de acordo com o antigo simbolismo tradicional, ao olho e à função da visão.” (Govinda, op. Cit., p.120). com o Bhagavan Amitabbha vem o Bodhisattva Chennazee, corporificação da compaixão e piedade, o grande piedoso sempre alerta para descobrir a angústia e socorrer quem está com problemas. Ele é acompanhado pela Bodhisattva “A Gloriosa de Voz Gentil”, e a mulher encarna a “música” e a “luz”.], o fluxo infinito de vida compartilhada, de amor.
Visões relatadas a respeito do sistema circulatório são comuns. O sujeito cai em sua própria rede arterial. O motor do coração reverbera com a pulsação da vida. O coração pára então, e o fogo rubro sangra para fundir-se com todos os seres vivos. Todos os organismos vivos estão vibrando juntos. Se está alegremente consciente da dança sexual elétrica de dois bilhões de anos de duração; se está por fim livre de roupas e membros robóticos e ondula-se na infinita corrente de formas vivas. Dominando esse estado extático está o sentimento de amor intenso. Você é uma parte alegre de toda vida. A lembrança das antigas desilusões da individualidade e diferenciação provoca gargalhadas exultantes. Toda a angulosidade dura, seca e frágil dos scripts de vida derrete-se. Você deriva – suave, úmido(a), quente. Fundido(a) com a vida. Você sente a si mesmo flutuando num mar quente. Sua individualidade e autonomia de movimentos estão desaparecendo umidamente. Seu controle capitula perante o organismo total. Feliz passividade. Unidade ondulante, orgástica, extática. Todas as preocupações são varridas para longe. Tudo é recebido ao mesmo tempo que é dado. Há revelação orgânica. Toda célula do seu corpo está cantando uma canção de liberdade – o universo biológico inteiro está em harmonia, libertado da sua (de você) censura e controle e de suas restritas ambições.
Mas espere! Você, você está desaparecendo na unidade. Está sendo arremessado(a) pela ondulação extática. Seu ego, aquele único e pequenino fio remanescente do self, grita: PARE! Você está terrificado(a) pela atração da radiante luz vermelha, transparente, ofuscante, gloriosa. Você se torce e sai do fluxo vital, puxado por sua intensa afeição por seus antigos desejos. Há uma terrível sensação quando suas raízes o separam da matriz vital – um rasgar de suas fibras e veias arrancadas do corpo maior ao qual você estava amarrado(a). E quando você tira a si mesmo(a) do fluxo flamejante de vida a vibração pára, o êxtase cessa, seus membros endurecem e enrijecem em formas angular, seu corpo de boneco de plástico recupera sua orientação. Então você se senta, isolado(a) do fluxo da vida, mestre impotente dos seus desejos e apetites, miserável.
Enquanto você vai deslizando pelo rio evolucionário, vem uma sensação de ilimitado poder individualizado. O deleite do fluir do pertencer cósmico. A descoberta estarrecedora de que a consciência pode sintonizar-se a um número infinito de níveis orgânicos. Há bilhões de processos celulares no seu corpo, cada qual com o seu universo de experiência – uma variedade sem fim de êxtases. As simples alegrias e dores e responsabilidades do seu ego representam um conjunto de experiências – um conjunto repetitivo e empoeirado. Quando você escorrega para o fluxo flamejante de energia biológica, séries e mais séries de conjuntos experienciais passam diante de seus olhos. Você não está mais enclausurado(a) numa estrutura de ego e tribo.
Mas através do pânico e de um desejo de encerrar-se no âmbito familiar, você interrompe o fluxo, abre os olhos; então a fluidez se perde. A potencialidade de se mover de um nível de consciência a outro se vai. Seu medo e o desejo de controlar o(a) levaram a instalar-se num sítio estático de consciência. Para usar a metáfora oriental ou genética, você congelou a dança da energia e comprometeu a si mesmo(a) a uma nova encarnação, e fez isso por causa do medo.
Quando isso acontecer, existem vários passos que podem levá-lo(a) de volta ao fluxo biológico (e dele para o Primeiro bardo). Primeiro, feche os olhos. Deite-se sobre seu estômago e deixe seu corpo descer pelo soalho, fundir-se com o que está em volta. Sinta as extremidades quadradas e duras do seu corpo amolecerem e começarem a se mover no fluxo sangüíneo. Deixe o ritmo da respiração transformar-se num marefluxo. O contato corporal é provavelmente o método mais eficaz de amaciar superfícies endurecidas. Sem movimentos. Sem jogos corporais. O contato físico com outro invariavelmente traz de volta a unidade do fluxo-flamejante. Seu sangue começa a fluir no sangue de outro. A respiração dele(a) joga ar em seus pulmões. Vocês dois derivam no ria capilar.
Outra forma de imagens do fluxo vital é o fluxo de sensações auditivas. A série infindável de sons abstratos (descritos na visão anterior) atravessa a consciência. A reação emocional a eles pode ser neutra ou pode envolver sentimentos intensos de unidade, ou de medo e aborrecimento.
A reação positiva ocorre quando o indivíduo funde-se com o fluxo sonoro. A batida surda do coração é sentida como um hino básico da humanidade. O som da respiração como o correr do rio de toda vida. Sentimentos irresistíveis de amor, gratidão e unidade se misturam no instante do som, dentro de cada nota do concerto biológico.
Mas, como sempre, o viajante pode intrometer-se com sua personalidade e as vontades e opiniões dela. Ele pode não “gostar” do barulho. Seu ego ajuizador pode ficar ofendido pelo sons da vida. A batida do coração é, afinal, monótona; a música natural do ouvido interno, com seus cliques e zumbidos e assobios, carece da simetria romântica de Beethoven. A terrível separação de “mim” do meu corpo ocorre. Horrível. Fora do meu controle. Desligue isso.
O guia treinado normalmente é capaz de perceber quando a ego-afeição ameaça puxar a pessoa para fora do fluxo unitivo. Nesse momento ele poderá guiar o viajante lendo as è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO 3.
A Estrutura de Vibrações Ondulares de Formas Externas.
Olhos abertos e envolvimento com estímulos exteriores; aspectos intelectuais.
A luz pura e livre de conteúdos do Primeiro Bardo provavelmente envolve energia básica de ondas elétricas. Isto é inominável, indescritível, porque está muito além de quaisquer conceitos que possuamos agora. Algum físico atômico do futuro pode ser capaz de classificar essa energia. Talvez isto seja sempre inefável para um sistema nervoso tal qual o do homo sapiens. Pode um sistema orgânico “compreender” o enormemente mais eficiente inorgânico? Em qualquer evento, a maioria das pessoas, mesmo as mais iluminadas, acham impossível manter o contato experiencial com essa luz-nula e escorregam de volta à imposição de estruturas mentais, alucinatórias e revelatórias do fluxo.
Assim somos trazidos a outra visão freqüente que envolve intensa e unitiva consciência dos estímulos exteriores. Se os olhos estiverem abertos, essa super-realidade pode ser efetivamente visual. O impacto penetrante de outros estímulos pode também desencadear o imaginário revelatório.
A coisa acontece desta forma: A consciência do indivíduo é subitamente invadida por um estímulo de fora. Sua atenção é capturada, mas sua antiga mente conceitual não está funcionando. Mas outras sensibilidades estão. Ele experimenta sensações diretas. O “ser” bruto[9]. Ele vê não objetos, mas padrões de ondas luminosas. Ele ouve não “música” ou sons “significativos”, mas ondas acústicas. Ele está fascinado com a revelação súbita de que todas as sensações e percepções são baseadas em vibrações de ondas. Que o mundo em torno de si, que até agora tinha uma solidez ilusória, é nada mais que um jogo de ondas físicas. Que ele está envolvido num show televisivo cósmico que não tem mais substancialidade que as imagens na tela de sua televisão. [A Deidade Pacífica do Thodol personificando esta visão é Akshobhya. De acordo com o Lama Govinda, “Na luz da Sabedoria-em-Forma-de-Espelho (...) as coisas estão livres se sua ‘coisidade’ seu isolamento, sem estarem privadas de sua forma; estão despidas de sua materialidade, sem estar dissolvidas, porque o princípio criativo da mente, que está no botão de toda forma e materialidade, é reconhecido como o lado ativo da Consciência de Suprimento (alaya-vijnana) universal, na superfície da qual as formas se erguem e se vão, como as ondas na superfície do oceano . Govinda, op. Cit., p. 119).]
A estrutura atômica da matéria é, por suposto, intelectualmente conhecida por nós, mas nunca experimentada pelo adulto exceto em estados da consciência intensamente alterada. Aprender a partir de um livro de física sobre a estrutura ondular da matéria é uma coisa. Experienciá-la – estando nela – com as velhas, familiares, rudes coisas “sólidas” e seu conforto alucinatório distantes e indisponíveis, é uma coisa totalmente distinta.
Se essas visões supra-reais envolvem fenômenos ondulares, então o mundo exterior assume uma irradiação e uma revelação que são surpreendentemente claras. O insight experienciado de que o mundo existe na forma de ondas, imagens eletrônicas, pode gerar uma sensação de força iluminada. Tudo é experimentado enquanto consciência.
Essas radiações exultantes devem ser reconhecidas como produtos de seus próprios processos internos. Você não deve tentar controlar ou conceitualizar. Isto pode vir mais tarde. Há o perigo de congelamento alucinatório. O indivíduo corre (às vezes literalmente) de volta à realidade tridimensional, convencido da “verdade” de uma revelação experienciada. Muitos místicos mal-instruídos e muitas pessoas chamadas loucas caíram nesta armadilha. E como tirar uma foto de uma tela de TV e sair gritando que finalmente tomou-se posse da verdade. Tudo é o Maya extático-elétrico, a dança de ondas de dois bilhões de anos. Nenhuma parte dela é mais real que as outras. Tudo em todos os momentos está cintilando com todo o significado.
Até aqui temos considerado a irradiação positiva da claridade; mas há terríveis aspectos negativos na quarta visão. Quando o indivíduo sente que seu “mundo” está se fragmentando em ondas, ele pode ficar terrificado. “Ele”, “mim”, “eu” estão se dissolvendo! Espera-se que o mundo à minha volta esteja parado, estático e morto, esperando tranqüilamente por minha manipulação. Mas essas coisas passivas se transformaram numa dança cintilante de energia viva! A natureza maya dos fenômenos causa pânico. Onde está a base sólida? Toda coisa, todo conceito, toda forma sobre a qual alguém apoia sua mente entra em colapso e torna-se vibrações elétricas carentes de solidez.
O rosto do guia ou do amigo querido da pessoa transforma-se num mosaico de impulsos em seu córtex. “Minha consciência” criou tudo aquilo de que estou consciente. Eu esculpi meu mundo, meus entes queridos, eu mesmo. Todos são apenas padrões de energia cintilante. Em vez de claridade e força exultante, há confusão. O indivíduo cambaleia, agarrando-se a padrões de elétrons, esforçando-se para congelá-los de volta a suas funções robóticas familiares.
Toda a solidez se foi. Todos os fenômenos são figuras de papel grudadas na tela de vidro da consciência. Para o despreparado, ou para a pessoa cujo resíduo cármico acentue o controle, a descoberta da natureza ondular de toda estrutura, a revelação maya, é uma desastrosa rede de incertezas.
Temos discutido apenas os aspectos visuais da quarta visão. Os fenômenos auditivos são de igual importância. Aqui a natureza sólida e rotulada dos padrões auditivos se perde, e o impacto mecânico do som chocando-se contra o tímpano é registrado. Em alguns casos, o som converte-se em sensação pura, e ocorre a sinestesia (mistura de modalidades de sentidos). Os sons são experienciados como cores. Sensações externas chocando-se contra o córtex são consideradas como eventos moleculares, inefáveis.
As mais dramáticas visões auditivas ocorrem com música[11]. Assim como todo objeto irradia um padrão de elétrons e pode tornar-se a essência de toda energia, também ode toda nota musical ser sentida como energia nua temendo no espaço, eterna. O movimento das notas, como o bate-rebate dos feixes oscilográficos. Cada uma capturando toda a energia, a cota elétrica do universo. Nada existindo a não ser a nítida e aguda ressonância na membrana do tímpano. Revelações inesquecíveis a respeito da natureza da realidade ocorrem nesse momento.
Mas a interpretação infernal também é possível. Enquanto a estrutura de som aprendida entra em colapso, o impacto direto de ondas pode ser sentido como ruído. Para alguém que estiver obrigado pela ordem instituída, sua ordem, no mundo em volta de si, é pelo menos aborrecido e freqüentemente perturbador ter a tatuagem crua do som ressonando na consciência.
Ruído! Que conceito irreverente. Não é tudo ruído; toda sensação, o padrão divino de energia ondular, sem sentido a penas para aqueles que insistem em impor seu próprio sentido?
A preparação é a chave para uma passagem serena através desse território. O indivíduo que tenha estudado este manual será, quando face a face com o fenômeno, capaz de reconhecê-lo e fluir com ele.
O guia sensível estará pronto a perceber, a partir de qualquer deixa, que o indivíduo está vagando na quarta visão. Se os olhos do viajante estiverem abertos (indicando reações visuais), ele poderá ler as è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO 4.
Se o guia sentir que o viajante estiver experienciando a fragmentação do som exterior em vibrações ondulares, ele pode corrigir apropriadamente as instruções (mudando das referências visuais para as auditivas).
As Ondas Vibratórias de Unidade Exterior.
Olhos abertos, ou envolvimento com estímulos exteriores; aspectos emocionais.
Wnquanto as percepções aprendidas desaparecem e a estrutura do mundo exterior se desintegra em fenômenos ondulares diretos, o objetivo é manter uma consciência pura, livre de conceitos (Primeiro Bardo). A despeito das preparações, é provável que se seja levado para trás por suas próprias inclinações mentais para duas interpretações, alucinatórias ou revelatórias, da realidade. Uma reação leva à claridade intelectual ou à apavorada confusão da quarta visão (descrita logo acima). Uma outra interpretação é a reação emocional à fragmentação das formas diferenciadas. Pode-se set engolfado na unidade extática, ou pode-se escorregar para o egoísmo isolado. O Brado Thodol chama a primeira de “Sabedoria da Igualdade” e o último de “atoleiro de existência mundana emergindo de egoísmo violento”. [A Deidade Pacífica da quarta visão vem na forma de Bhagavan Ratnasambhava, nascido de uma jóia. Ele é abraçado pela mãe divina, Ela dos Olhos de Buda, e acompanhado pelos Bodhisattva, matriz do céu, Todo-Bom, e daqueles portando incenso e rosário. “No plano elementar, Ratnasambhava corresponde à terra, que carrega e alimenta a todos os seres com equanimidade e paciência de uma mãe, a cujos olhos todos os seres, paridos dela, são iguais.” (Govinda, op. Cit., p.119)] no estado de unidade radiante, a pessoa sente que existe apenas uma rede de energia no universo e que todas as coisas e todos os seres sensíveis são manifestações momentâneas dos padrões simples. Quando interpretações egoístas são impostas à quinta visão, os fenômenos “boneco de plástico” são experienciados. Formas diferenciadas são vistas como inorgânicas, enfadonhas, padronizadas[12], surradas, plásticas, e todas as pessoas (incluindo si mesmo) são vistas como manequins sem vida isolados da dança vibrante de energia, que foi perdido.
Os dados experienciais desta visão são semelhantes aos da quarta visão. Toda estrutura artificial aprendida entra em colapso e retorna à forma de vibrações de energia. A consciência é dominada não por claridade reveladora, mas por unidade cintilante. O indivíduo é fascinado pelo jogo de forças rodopiante e silencioso. Estranhas formas dançam ao seu redor, todos os objetos em volta dele irradiam energia, emanações brilhantes. Seu próprio corpo é visto como um jogo de forças. Se ele se olha num espelho, vê um mosaico brilhante de partículas. A sensação de sua própria estrutura ondular torna-se mais forte. Uma sensação de derretimento, flutuação. O corpo não é mais uma unidade separada, mas um grupo de vibrações enviando e recebendo energia – uma fase da dança de energia que tem sido dançada por milênios.
Uma sensação de profunda unicidade, um sentimento de unidade de toda energia. Diferenças superficiais de papel, casta, status, sexo, espécie, forma, poder, tamanho, beleza, mesmo as distinções entre o inorgânico e a energia viva, desaparecem ante a visão extática de todos em um. Todos os gestos, palavras, atos e eventos são equivalentes em valor – todos são manifestações da consciência una que tudo permeia. “Você”, “Eu” e “Ele” se foram, “meus” pensamentos são “nossos”, “seus” sentimentos são “meus”. A comunicação é desnecessária, desde que exista comunhão completa. Uma pessoa pode sentir as sensações e o humor de outra diretamente, como se fossem os seus próprios. Por um olhar, palavras e vidas inteiras podem ser transmitidas. Se todos estão em paz, as vibrações estão “em fase”. Se há discórdia, aparecerão vibrações “fora de fase” que serão sentidas como música dissonante. Os corpos se derretem em ondas. Objetos no ambiente – luzes, árvores, plantas, flores – parecem se abrir e lhe dar boas vindas: eles são parte de você. Vocês todos são simplesmente pulsos diferentes das mesmas vibrações. Uma sensação pura de harmonia extática com todos os seres é a tônica desta visão.
Mas, como antes, pode haver medo. A unidade requer o auto-sacrifício extático. A ego-perda traz assombro ao despreparado. A fragmentação de formas em ondas traz o mais terrível temor conhecido do homem: a revelação epistemológica final.
A verdade da matéria é que todas as formas aparentes de matéria e corpo são grupos momentâneos de energia. Somos pouco mais que tremulações uma tela de TV multidimensional. A realização diretamente experienciada pode ser deleitosa. Você subitamente acorda de uma ilusão de formas separadas e fisga a dança cósmica. A consciência desliza pelas matrizes ondulares, silenciosamente, na velocidade da luz.
O terror vem com a descoberta da transitoriedade. Nada é fixo, nenhuma forma é sólida. Tudo o que você possa experienciar “não é nada além” de ondas elétricas. Você se sente afinal trapaceado. Uma vítima de um grande produtor de televisão. Desconfiança. As pessoas ao seu redor são robôs sem vida da TV. O mundo ao seu redor é uma fachada, um cenário de palco. Você é uma marionete indefesa, um boneco de plástico num mundo de plástico.
Se outros tentam ajudar, eles são vistos como se fossem feitos de madeira, figuras de cera, sem sentimentos, frios, grotescos, maníacos, monstros de ficção científica. Você é incapaz de sentir. “Estou morto. Não voltarei a viver e sentir novamente.” Em pânico você pode tentar forçar o sentimento a voltar – por uma ação, um grito. Então você entrará no estágio do Terceiro Bardo e renascerá de maneira desagradável.
O melhor método para escapar dos terrores da quinta visão é relembrar este manual, relaxar, e balançar com a dança ondular. Ou comunicar ao guia que você está na fase do boneco de plástico, e ele o guiará de volta.
Uma outra solução é mover-se rumo ao fluxo biológico interior. Siga as instruções dadas na terceira visão: feche os olhos, deite-se de bruços, procure o contato corporal, flutue no seu fluxo corporal. Fazendo assim, você está recapitulando a seqüência evolutiva. Por bilhões de anos, a energia inorgânica dançava no ciclo cósmico antes de o ritmo biológico começar. Não a apresse.
Se o guia sentir que a pessoa está experienciando visões de boneco de plástico ou estiver com medo da incontrolabilidade de suas próprias sensações, ele deve ler para ela as è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO 5.
“O Circo Retinal”
Cada uma das visões do Segundo Bardo até aqui descritas era um aspecto da “experienciação da realidade”. O fogo interior ou as ondas exteriores – apreendidos intelectualmente ou emocionalmente – cada visão com suas armadilhas correspondentes. Cada uma das “Deidades Pacíficas” aparece com suas “Deidades Coléricas” auxiliares. Manter quaisquer dessas visões por qualquer período de tempo requer um certo grau de concentração ou “unidirecionidade” da mente, da mesma forma que a capacidade de reconhecê-las e não sentir medo. Assim, para a maioria das pessoas, a experiência pode passar por uma ou mais destas fases sem que o viajante seja capaz de segurá-las ou ficar com elas. Ele pode abrir e fechar os olhos, pode ficar alternadamente absorto em sensações internas ou em formas externas. A experiência pode ser caótica, bela, emocionante, incompreensível, mágica, mutante. [No Bardo Thodol, no sexto dia aparecem as luzes radiantes das Cinco Sabedorias combinadas dos Dhyani-Budhas, as deidades projetivas (guardiãs da mandala) e os Budas dos Seis Reinos do jogo-existência. De acordo com o Lama Govinda: “O Caminho Interior de Vajra-Sattva consiste na combinação dos raios das Sabedorias dos quatro Dhyani-Buddhas e sua absorção pelo próprio coração da pessoa – em outras palavras, no reconhecimento de que todas essas irradiações são emanações da própria mente da pessoa num estado de perfeita tranqüilidade e serenidade, um estado no qual a mente revela sua verdadeira natureza universal.” (Govinda, op. Cit., p. 262)].
Ele viajará livremente através de muitos mundos de experiência – do contato direto com imagens e formas do processo vital, ele pode passar às visões de “papéis” humanos. Ele pode ver e entender com clareza e brilho inimaginados vários scripts sociais e individuais que ele e os outros interpretam. Suas próprias batalhas na existência cármica (de scripts) parecerão deploráveis e risíveis. Liberdade extática da consciência é a tônica desta visão. A exploração de reinos inimagináveis. Aventuras teatrais. Encenações dentro de encenações dentro de encenações. Os símbolos tornam-se as coisas simbolizadas e vice-versa. Palavras tornam-se coisas, pensamentos são música, a música é cheirada, os sons são tocados, completa intercambialidade dos sentidos.
Todas as coisas são possíveis. Todos os sentimentos são possíveis. A pessoa pode “experimentar” vários humores assim como faz com peças de roupa. Os indivíduos e objetos giram, transformam-se uns nos outros, unem-se, fundem-se, dispersam-se novamente. Objetos exteriores dançam e cantam. A mente os toca como a instrumentos musicais. Eles assumem qualquer forma, significado ou qualidade que se lhes ordene. São admirados, adorados, analisados, examinados, trocados, feitos bonitos ou feios, grandes ou pequenos, importantes ou triviais, úteis, perigosos, mágicos ou incompreensíveis. Pode-se reagir a ele com maravilhamento, fascinação, humor, amor, repugnância, espanto, horror, deleite, medo, êxtase.
Como um computador com aceso ilimitado a qualquer programa, a mente vaga livremente. Lembranças pessoais e raciais borbulham à superfície da consciência, misturadas com fantasias, desejos , sonhos e objetos exteriores. Um evento no presente carrega-se de profunda significância emocional, um fenômeno cósmico torna-se idêntico com alguma peculiaridade pessoal. Problemas metafísicos são burlados e jogados de lado. “Processo primário” puro, chuva de associação espontânea, opostos se unindo, imagens se fundindo, condensando, mudando, entrando em colapso, se expandindo, unindo-se, conectando-se.
Essa visão caleidoscópica do jogo-realidade pode ser assustadora e confusa para um indivíduo malpreparado. Em vez de claridade requintada de percepção multinivelada, ele pode experienciar um caos confuso de formas incontroláveis, sem significado. Em vez de deleite ante as acrobacias brincalhonas do intelecto livre, haverá um apego angustiado a uma ordem ilusória. Podem ocorrer alucinações mórbidas e escatológicas, evocando repugnância e vergonha.
Como antes, essa visão negativa ocorre apenas se a pessoa tentar controlar ou racionalizar este panorama mágico. Relaxe e aceite o que vier. Lembre-se de que todas as visões são criadas por sua mente, as alegres e as tristes, as belas e as feias, as deleitosas e as terrificantes. Sua consciência é criadora, intérprete e espectadora do “circo retinal”.
Se o guia sentir que o viajante estiver ou permanecer na visão do “circo retinal”, pode ler-lhe as instruções apropriadas è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO 6: “O CIRCO RETINAL”.
“O Teatro Mágico”
Se o viajante não for capaz de manter a serenidade passiva necessária à contemplação das visões anteriores (as deidades pacíficas), ele entra agora numa fase mais ativa e dramática. O jogo de formas e coisas torna-se o jogo de vultos heróicos, espíritos sobre-humanos e semideuses. [No Manual Tibetano, esta é descrita como a visão das cinco “Deidades Portadoras do Conhecimento”, arranjadas em forma de mandala, cada uma abraçada por Dakinis, numa dança extática. As Deidades Portadoras do Conhecimento simbolizam “o mais alto nível de conhecimento individual ou humanamente concebível, como o obtido na consciência dos grandes iogues, pensadores inspirados ou semelhantes heróis do espírito. Elas representam o último passo antes do ‘avanço’ em direção à consciência universal – ou o primeiro passo no retorno de lá para o plano do conhecimento humano”. (Govinda, op. Cit., p. 202). As Dakinis são corporificações femininas do conhecimento, representando os impulsos inspiracionais da consciência levando ao avanço. As outras quatro Portadoras do Conhecimento, além do central Senhor da Dança, são: o Portador do Conhecimento sustentando a terra, o Portador do Conhecimento de que tem poder sobre a duração da vida, o Portador do Conhecimento do Grande Símbolo, e o Portador do Conhecimento da Realização Espontânea.] Você pode ver figuras irradiantes em formas humanas. O “Senhor Lótus da Dança”: a imagem suprema de um semideus que percebe os efeitos de todas as ações. O príncipe do movimento, dançando num abraço extático com seu equivalente feminino. Heróis, heroínas, guerreiros celestiais, semideuses masculinos e femininos, anjos, fadas – a forma exata dessas figuras dependerá da tradição e do background da pessoa. Figuras arquetípicas nas formas de personagens das mitologias grega, egípcia, nórdica, celta, asteca, persa, indiana ou chinesa. As formas diferem, a fonte é a mesma: elas são corporificações concretas de aspectos da própria psique. Forças arquetípicas abaixo da consciência verbal são expressíveis apenas de forma simbólica. As figuras freqüentemente são extremamente coloridas e acompanhadas de uma variedade de sons impressionantes e inspiradores. Se o viajante estiver preparado e num estado de espírito relaxado e desprendido, ele será exposto a uma apresentação deslumbrante e fascinante de criatividade dramática. O Teatro Cósmico. A Divina Comédia. Se seus olhos estão abertos, ele pode visualizar os outros viajantes como representando essas figuras. O rosto de um amigo pode transformar-se no de um garotinho, de um bebê, de um deus-menino; de uma estátua heróica, de um velho sábio; na de uma mulher, animal, deusa, mãe d’água, garotinha, ninfa, elfo, gnomo, leprechaun. Imagens de grandes pintores erguem-se como as representações familiares desses espíritos. As imagens são múltiplas e inesgotáveis. Uma viagem iluminada pelas áreas nas quais a consciência pessoal funde-se com o supra-individual.
O perigo é que o viajante fique aterrorizado ou indevidamente atraído por essas poderosas figuras. As forças representadas por elas podem ser mais intensas do que aquelas para as quais ele estava preparado. Incapacidade ou indisposição para reconhecê-las como produtos da própria mente levam a pessoa a fugir numa caçada animalística. A pessoa pode se envolver na caçada por poder, luxúria, riqueza e descer às lutas de renascimento do Terceiro Bardo.
Se o guia sentir que o viajante caiu na armadilha, as instruções apropriadas podem ser lidas è INSTRUÇÕES PARA A VISÃO 7: “O TEATRO MÁGICO”.
AS VISÕES COLÉRICAS
Pesadelos do Segundo Bardo.
Sete visões do Segundo bardo foram descritas. Em cada uma delas, o viajante poderá reconhecer o que viu e ser libertado. Multidões serão libertadas por esse reconhecimento; e embora multidões obtenham a libertação desta maneira, o número de seres sensíveis sentindo-se grandes, as poderosas obscuridades do mau carma se adensam, propensões de uma espera muito longa, a Roda da Ignorância e da Ilusão não fica nem esgotada nem acelerada. A despeito das confrontações, há uma enorme preponderância daqueles que vagam e caem sem ser libertados.
Assim, no Thodol Tibetano, depois de sete deidades pacíficas, vêm sete visões de deidades coléricas, cinqüenta e oito em número, masculinas e femininas, “cuspidoras de fogo, coléricas, bebedoras de sangue”. Essas Herukas, como são chamadas, não serão descritas em detalhes, especialmente porque os ocidentais estão sujeitos a experienciar as deidades coléricas de formas diferentes. Ao invés de ferozes demônios de muitas cabeças, é mais provável que sejam engolfados e moídos por uma maquinaria impessoal, manipulada por cientistas, aparelhos de tortura e outros horrores da ficção científica. [Algumas observações gerais a respeito da interpretação tibetana dessas visões. As Deidades Coléricas são consideradas “apenas as antigas Deidades Pacíficas num aspecto modificado”. O Lama Govinda escreve: “As formas pacíficas de Dhyani-Buddhas representam o mais alto ideal de Budidade] em sua condição estática, final, completa, do alcance final ou perfeição, vistas retrospectivamente como um estado de completo descanso e harmonia. As Herukas, por outro lado, são descritas como ‘bebedoras de sangue’, raivosas ou deidades ‘terrificantes’- são meramente o aspecto dinâmico do esclarecimento, o processo de se tornar um Buda, ou alcançar a iluminação, como simbolizado pela luta de Buda com a Multidão de Mara As figuras extáticas, heróicas e terrificantes, expressam o ato de avançar em direção ao impensável, o intelectualmente “Inalcansável”. Elas representam o salto por sobre o abismo, que boceja entre a consciência de superfície intelectual e a consciência-profunda supra-pessoal intuitiva.” (Govinda, op. Cit., pp. 198, 202)]
Os tibetanos consideram as visões de pesadelo primariamente como produtos intelectuais. As atribuem ao chakra do Cérebro, enquanto as deidades pacíficas são atribuídas ao chakra do Coração e as deidades Portadoras do Conhecimento ao chakra intermediário da Garganta. Elas são as reações da mente ao processo de expansão da consciência. Representam as tentativas do intelecto de manter suas fronteiras ameaçadas. Simbolizam a luta do avanço da consciência e do entendimento da ego-perda.
Por causa do terror e do espanto que causam, o reconhecimento é difícil. De certo modo é até mais fácil que, uma vez que alucinações negativas comandem toda a atenção, a mente esteja alerta e portanto através da tentativa de escapar do medo e do terror, as pessoas se envolvam em estados psicóticos e sofram. Mas com a ajuda deste manual e a presença de um guia, o viajante reconhecerá essas visões infernais assim que as vir, e lhes dará as boas vindas como a velhos amigos.
Aqueles que acreditem nesses doutrinas mesmo que elas pareçam incultas, irregulares no desempenho de deveres, inelegantes os hábitos, e talvez até incapazes de praticar a doutrina com sucesso – não deixem ninguém duvidar deles ou ser-lhes desrespeitoso, mas preste reverência a sua fé mística. Só isto já será capaz de torná-lo(a) apto(a) a alcançar a libertação. Elegância e eficiência da prática devocional não são necessárias – apenas conhecimento e confiança nesses ensinamentos.
A]s pessoas bem preparadas não precisam absolutamente experienciar as visões infernais do Segundo Bardo. Desde o início elas podem passar por estados paradisíacos guiadas por heróis, heroínas, anjos e superespíritos. “Elas se fundirão numa irradiação de arco-íris; haverá chuvas de sol, doce aroma de incenso no ar, música nos céus, irradiações.”
Este manual é indispensável para os estudantes que estejam despreparados. Os competentes em meditação reconhecerão a Serena Luz no momento da ego-perda e entrarão no Vazio-Cheio-de-Felicidade (Dharma-Kaya). Reconhecerão também as visões positivas e negativas do Segundo Bardo e obterão a iluminação (Sambhogha-Kaya); e renascerão num nível mais elevado e se tornarão inspirados santos ou professores (Nirmana-Kaya). O estudo e a busca do esclarecimento sempre podem ser retomados do ponto em que foram interrompidos pela última ego-perda, assegurando assim a continuidade do carma.
Através do uso deste manual, o esclarecimento pode ser obtido sem meditação, estudando-se a sós. Ele pode libertar mesmo os muito apegados aos scripts]. A distinção entre aqueles que sabem e aqueles que não sabem torna-se muito clara. O esclarecimento segue-se instantaneamente. Aqueles que forem alcançados por ele não terão experiências negativas prolongadas.
A visão concernente às visões do inferno é a mesma de antes; reconhecê-las como suas próprias formas-pensamentos; relaxar, flutuar rio abaixo. As è INSTRUÇÕES PARA AS VISÕES COLÉRICAS podem ser lidas. Se, depois disto, o reconhecimento ainda for impossível e a libertação não for obtida, então o viajante descerá ao Terceiro Bardo, o Período da Reentrada.
CONCLUSÃO DO SEGUNDO BARDO.
Mesmo que alguém já tenha feito muitas experiências, há sempre a possibilidade de ocorrerem desilusões nessas experiências psicodélicas. Aqueles com prática em meditação reconhecem a verdade assim que a experiência começa. Ler este manual antes é importante. Ter algum grau de autoconhecimento ajuda no momento da ego-morte.
A meditação nas várias formas arquetípicas positivas e negativas é muito importante para as fases do Segundo Bardo. Portanto, leia este manual, o tenha com você, lembre-se dele, grave-o na mente, leia-o regularmente; deixe que as palavras e os significados fiquem bem claros; eles não devem ser esquecidos, mesmo sobre extrema coação. Chama-se “A Grande Libertação pela Audição” porque mesmo as ações egoístas da consciência podem ser libertadas ao ouvi-lo. Se ouvido apenas uma vez, pode ser eficaz mesmo que não entendido, será lembrado durante o estado psicodélico, desde que então a mente esteja mais lúcida. Deve ser anunciado a todas as pessoas vivas; deve ser lido sobre todos os travesseiros; deve ser lido aos moribundos; deve ser transmitido.
Aqueles que tiverem acesso a esta doutrina são felizardos. Ela não é fácil de encontrar. Mesmo quando lida, é difícil de compreender. A libertação será obtida simplesmente não descrendo do que se ouvir disto.
O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS.Tradução automática,via ferramentas de idiomas.

sábado, 27 de novembro de 2010

PRIMEIRO BARDO: O PERÍODO DA EGO-PERDA OU DO ÊXTASE DE NÃO-JOGOS.


Todos os indivíduos que tenham recebido os ensinamentos práticos deste manual serão postos, se o texto for lembrado, face a face com a irradiação extática e receberão a iluminação instantaneamente, sem entrar em lutas alucinógenas e sem mais sofrer na antiga trilha da evolução normal que atravessa os vários mundos do jogo existência.
Esta doutrina é a base de todo o modelo tibetano. Fé é o primeiro passo na “Trilha Secreta”. Então vem a iluminação e com ela a certeza; é quando o objetivo é alcançado. O sucesso implica uma preparação muito incomum na expansão da consciência, e do mesmo modo muita calma, e o jogar o jogo compassivo (bom carma) da parte do participante. Se pode-se fazer o participante ver e apreender a idéia da mente vazio tão logo o guia a revela – isto é, se ele tem o poder para morrer conscientemente – e, se no supremo instante de perder o ego, puder reconhecer o êxtase que o tomará, então, e se tornar uno com ele, todos os vínculos ilusórios de jogos se quebrarão imediatamente: o sonhador acorda para a realidade simultaneamente com a poderosa conquista do reconhecimento.
É melhor se o guru (professor espiritual), de quem o participante recebe as instruções, estiver presente, mas se o guru não puder estar presente, deve haver outra pessoa experiente; se o último caos também não for possível, então uma pessoa em quem o participante confie deve ser capaz de ler este manual sem impor quaisquer se seus próprios jogos. Assim, o participante trará à mente o que ele ouviu precisamente a respeito da experiência e virá a reconhecer pela primeira vez a Luz fundamental e indubitavelmente obterá a libertação.
Libertação é o sistema nervoso destituído de atividade mental-conceitual. [Realização do Vazio, do Não-Tornado, do Não-Nascido, do Não-Formado, implica o estado do Buda, o Perfeito Esclarecimento – o estado da mente divina do Buda. Pode ser de ajuda lembrar-se de que esta antiga doutrina não está em conflito com a física moderna. O teórico físico e cosmologista George Gamow apresentou em 1950 um ponto de vista próximo da experiência fenomenológica descrita pelos lamas tibetanos.
Se imaginamos a história correndo de volta no tempo, inevitavelmente chegamos à época do ‘big squeeze’ com todas as galáxias, estrelas, átomos e núcleos atômicos espremidos, por assim dizer, ao tamanho de um caroço. Durante este estágio primitivo da evolução, a matéria deve Ter estado dissociada em seus componentes elementares Chamamos esta mistura primordial de ‘ylem’.
Neste primeiro ponto na evolução do ciclo atual, de acordo com este físico de primeira linha, existia apenas o Não-Tornado, o Não-Nascido, o Não-Formado. E este, de acordo com os astrofísicos, é o modo como a coisa acaba; a unidade silenciosa do Não-Formado. Os budistas tibetanos sugerem que o intelecto ordenado pode experimentar o que os astrofísicos confirmam. O Buda Vainochana, o Dhyani Buda do Centro, Manifestador de Fenômenos, é a mais alta forma de chegar ao esclarecimento. Como fonte de toda a vida orgânica, nele todas as coisas visíveis e invisíveis têm sua consumação e absorção. Ele é associado ao Reino Central do Densamente-Condensado, isto é, a semente de todas as forças universais e as coisas estão condensadas juntas, densamente. Esta notável convergência da astrofísica moderna e do antigo lamaísmo não requer nenhuma explicação complicada. A consciência cosmológica – e consciência de todo processo natural – está lá no córtex. Você pode confirmar este conhecimento místico pré-conceitual através da observação empírica e meditação, mas está tudo lá no seu crânio. Seus neurônios “sabem” porque estão ligados diretamente ao processo, são parte dele.] a mente em seu estado condicionado, isto é, quando limitada a palavras e jogos do ego, está continuamente em atividade de formação de pensamento. O sistema nervoso em estado de quietude, alerta, acordado mas não ativo, é comparável ao que os budistas chamam de o mais elevado estado de dhyana (meditação profunda) quando ainda unida ao corpo humano. O reconhecimento consciente da serena Luz induz a uma condição consciência extática como o que os místicos e santos do Ocidente chamavam de iluminação.
O primeiro sinal é o vislumbre da “Serena Luz da Realidade”, “a mente infalível do estado místico puro”. Isto é a consciência das transformações energéticas sem a imposição de categorias mentais.
A duração deste estado varia para cada indivíduo. Depende da experiência, da segurança, confiança, preparação e dos elementos exteriores em torno do participante. Naqueles que já tenham tido uma pequena experiência prática do tranqüilo estado de consciência de não-jogos, e naqueles que tenham scripts felizes, este estado pode durar de trinta minutos até várias horas.
Neste estado, a realização do que os místicos chamam de “Verdade Final” é possível, desde que tenham sido providenciada anteriormente a preparação necessária pela pessoa, de outro modo, ela não poderá se beneficiar agora, e deverá vagar por estados alucinatórios cada vez mais profundos, determinados pelos seus jogos passados, até voltar à realidade rotineira.
É importante lembrar que o processo de expansão da consciência é o reverso do processo do nascimento, sendo o nascimento o início da vida de scripts e a experiência de ego-perda sendo uma cessação temporária da vida de scripts. Mas em ambos há uma passagem de um estado de consciência para outro. E assim como uma criança precisa acordar e apreendera experência da natureza deste mundo, da mesma forma uma pessoas no momento da expansão da consciência precisa acordar para este novo mundo brilhante e tornar familiares suas tão peculiares condições.
Naqueles grandemente dependentes de seus jogos do ego[6], e que temem abandonar o controle, o estado iluminado dura tão somente o tempo de estalar um dedo. Em alguns, ele pode durar o tempo de tomar um lanche ou almoçar ou coisa que o valha.
Se o indivíduo estiver preparado para diagnosticar os sintomas da ego-perda, ele não precisará de nenhuma ajuda externa neste ponto. A pessoa prestes a abandonar o ego deve ser capaz não apenas de diagnosticar os sintomas assim que eles vierem como também de reconhecer a Serena Luz sem que outra pessoa ajude a identificá-la. Se a pessoa falhar em reconhecer e aceitar o início da ego-perda, ela pode queixar-se de estranhos sintomas corporais. Isto indica que ela não alcançou o estado de libertação. Então o guia ou amigo deve explicar os sintomas como indicadores do início da ego-perda.
Eis uma lista das sensações físicas comumente relatadas: 1. Pressão corporal, que os tibetanos chamam de terra-se-desfazendo-em-água; 2. Frio úmido, seguido por calor febril, o que os tibetanos chamam de água-se-desfazendo-em-fogo; 3. Desintegração do corpo ou a sua dispersão em átomos, chamada fogo-se-desfazendo-em-ar; 4. Pressão na cabeça e nos ouvidos, que os americanos chamam de foguete-sendo-lançado-ao-espaço; 5. Formigamento nas extremidades; 6. Sensação de como se o corpo estivesse derretendo ou escorrendo como cera; 7. Náusea; 8. Tremor, começando na região pélvica e se espalhando para o tronco.
As reações físicas devem ser reconhecidas como sinais indicativos da transcendência. Evite tratá-las como sintomas de doença, aceite-as, una-se a elas, aproveite-as.
Uma leve náusea ocorre freqüentemente com a ingestão de “morning glory” ou peiote, raramente com mescalina, e ainda com menor freqüência com LSD e pscilocibina. Se o sujeito experimentar sensações estomacais, elas devem ser saudadas como um sinal de que a consciência está se movendo pelo corpo. Os sintomas são mentais; a mente controla as sensações, e o indivíduo deve unir-se à sensação, experienciá-la totalmente, aproveitá-la e, tendo a aproveitado, deve deixar a consciência fluir para a próxima fase. É mais comum deixar que a consciência fique no corpo – a atenção do indivíduo pode mover-se do estômago para a respiração, as batidas do coração. Se isto não livrá-lo da náusea, o guia deve guiar a consciência para eventos externos – música, uma caminhada no jardim etc.
O aparecimento de sintomas físicos da ego-perda, reconhecida e entendida, deve resultar na conquista tranqüila da iluminação. Se a aceitação extática não ocorrer (ou quando o período de silêncio tranqüilo parecer estar terminando), as seções de instruções relevantes podem ser sussurradas ao ouvido. É freqüentemente útil repeti-las, claramente, incutindo-as à pessoa para evitar que sua mente fique vagando por aí. Um outro método de guiar a experiência com um mínimo de atividade é ter as instruções previamente gravadas na voz do próprio sujeito. Isto recordará ao viajante sua preparação prévia; fará com que a consciência nua seja reconhecida como a “Serena Luz do Início”; vai lembrar ao indivíduo sua união com o estado de perfeito esclarecimento e ajudá-lo a mantê-lo.
Quando, experimentada a ego-perda, se estiver familiarizado(a) com este estado, em virtude da experiência e preparação prévias, a Roda do renascimento (isto é, todos os jogos) parará, e a libertação será alcançada imediatamente. Mas tal eficiência espiritual é raríssima, e a condição mental normal da pessoa é inadequada à suprema façanha de manter-se no estado em que brilha a Serena Luz, e aí vai descendo progressivamente a estados cada vez mais baixos da existência Bardo, até o renascimento. A comparação com uma agulha equilibrada sobre uma linha é usada pelos lamas para explicar esta condição. Enquanto a agulha mantêm o equilíbrio, ela permanece sobre a linha. Mas por fim a lei da gravidade (o puxão do ego ou de uma simulação exterior) a afeta, e ela cai. No reino da Serena Luz, da mesma forma, a mentalidade de uma pessoa no estado de transcendência do ego momentaneamente desfruta da condição de estabilidade, de perfeito equilíbrio e de unidade. Sem estar familiarizada com este estado, que é um estado extático de não-ego, a consciência do ser humano médio carece da capacidade de funcionar nele. Propensões cármicas (isto é, propensões a jogos/scripts) envolvem o princípio-da-consciência com idéias de personalidade, do ser individualizado, do dualismo. Assim, perdendo o equilíbrio, a consciência cai para fora da Serena Luz. São os processos do pensamento que impedem a realização do Nirvana (que é a “extinção da chama” do desejo egoísta de jogos); e então a Roda da vida continua girando.
Todas ou algumas das passagens apropriadas nas instruções podem ser lidas ao viajante durante o período de espera até que a droga faça efeito, e quando os primeiros sinais da ego-perda aparecerem. Quando o viajante estiver claramente num êxtase de transcendência do ego, o guia sábio permanecerá em silêncio.
A Serena Luz Secundária Vista Imediatamente Após A Ego-perda.
A seção anterior descreve como a Serena Luz pode ser reconhecida e mantida a libertação. Mas se tornar-se aparente que a Serena Luz Primária não está sendo reconhecida, então pode-se assumir certamente que está principiando o que é chamado a fase da Serena Luz Secundária. O primeiro lampejo da experiência usualmente produz um estado de êxtase da maior intensidade. Toda célula do corpo é sentida como sendo envolta em criatividade orgástica.
Pode ser de ajuda descrever em maiores detalhes alguns dos fenômenos que geralmente acompanham o momento da ego-perda. Um deles pode ser chamado de “fluxo de ondas de energia”. O indivíduo torna-se consciente de que é parte de um campo de energia carregado, e de que está cercado por ele, que parece quase elétrico. Para prolongar o estado de ego-perda tanto quanto possível, a pessoa preparada relaxará e permitirá que as forças fluam através dela. Há dois perigos a evitar: a tentativa de controlar ou racionalizar esse fluxo. Ambas as reações são indicativas da atividade do ego e então a transcendência do bardo se perde.
O segundo fenômeno pode ser chamado de “fluxo vital biológico”. Aqui a pessoa torna-se consciente dos processos bioquímicos e fisiológicos, da atividade rítmica pulsante no interior do corpo. Freqüentemente isto pode ser sentido como poderosos motores ou geradores continuamente pulsando e irradiando energia. Um fluxo interminável de formas celulares e cores passa como raios. Os processos biológicos interiores podem também ser ouvidos com chiados e barulhos de crepitação e trituração característicos. Novamente a pessoa deve resistir à tentação de rotular e controlar esses processos. Nesse ponto você está ligado(a) a áreas do sistema nervoso que são inacessíveis à percepção rotineira. Você não pode arrastar seu ego para dentro dos processos moleculares da vida. Esses processos são um bilhão de anos mais velhos que a mente conceitual erudita.
Uma outra fase típica e mais compensadora do Primeiro bardo envolve o movimento de energia extática sentido na espinha. A base da espinha parece estar derretendo ou pegando fogo. Se a pessoa puder manter-se calma e concentrada, a energia será sentida como se fluísse para cima. Os adeptos do tantra devotam décadas de mediação concentrada para liberar essa energia extática que chamam de Kundalini, a Força da Serpente. Permite-se que as energias subam através de vários centros ganglionares (chakras) até o cérebro, onde são sentidas como um ardor no fundo do crânio. Essas sensações não são desagradáveis para a pessoa preparada mas, pelo contrário, são acompanhadas pelos mais intensos sentimentos de alegria e iluminação. Indivíduos mal-preparados podem interpretar a experiência em termos patológicos e tentar controlá-la, normalmente com resultados desagradáveis. [O professor R. C. Zaehner, que como estudante oriental e “expert” em misticismo deve saber mais sobre o assunto, publicou um relato sobre como esta experiência de primeira classe pode ser perdida e distorcida com queixumes hipocondríacos pelos não-educados.
Senti algo curioso no meu corpo, que me fez lembrar do que o Sr. Custance descreve como um ‘formigamento na base da espinha’, que, de acordo com ele, geralmente precede um ataque psicótico. Foi bem assim. Na Broad Walk esta sensação ocorreu de novo e de novo até que o clímax da experiência foi alcançado . Eu não gostei dela, absolutamente.” (R. C. Zaehner: Misticism, Sacred and Profane. Oxford University Press, 1957, p. 214).]
Se os indivíduos falham em reconhecer o fluxo corrente dos fenômenos do Primeiro Bardo, a libertação do ego é perdida. A pessoa se vê retornando às atividades mentais. Nesse ponto ela deveria tentar se lembrar das instruções ou ser lembrada delas, e um segundo contato com esses processos poderia ser feito.
O segundo estágio é menos intenso. Uma bola quicando alcança a maior altura no primeiro salto; o segundo quique é menor, e assim vai até que a bola volte ao repouso. A consciência na ego-perda é similar a isto. Seu primeiro salto espiritual, ao deixar o corpo-ego, é o mais alto; o próximo é mais baixo. Então a força do carma (isto é, dos jogos passados), se ergue e diferentes formas de realidades exteriores são experimentadas. Finalmente, a força do carma tendo se esgotado, a consciência retorna ao “normal”. As rotinas são retomadas e assim ocorre o renascimento.
O primeiro êxtase normalmente termina com um flashback momentâneo para a condição do ego. Este retorno pode ser feliz ou triste, cheio de amor ou de suspeitas, de medo ou de coragem, dependendo da personalidade, da preparação e do cenário.
Este flashback do ego-jogo é acompanhado por uma preocupação com a identidade. “Quem sou eu agora? Estou morto(a) ou não-morto(a)? O que está a acontecer?” Você não consegue determinar. Vê o que o cerca e a seus como costumava fazer antes. Há uma sensitividade penetrante. Mas você está em outro nível. A compreensão do seu ego não é mais tão segura quanto antes.
As alucinações e visões cármicas ainda não começaram. Nem as aparições atemorizantes nem as visões paradisíacas começaram ainda. Este é um período mais prenhe e sensitivo. O saldo da experiência pode ser levado para um lado ou para outro dependendo da preparação e do clima emocional.
Se você tem experiência na alteração da consciência ou se é uma pessoa naturalmente introvertida, lembre-se da situação e do plano. Fique calmo(a) e deixe que a experiência o(a) leve aonde ela quiser. Você provavelmente experienciará o êxtase da iluminação; ou pode derivar em esclarecimentos estéticos, filosóficos ou interpessoais. Não segure: deixe o rio levá-lo(a).
A pessoa experiente está normalmente além da dependência do cenário. Ela pode desligar-se da pressão exterior e retornar à iluminação. Uma pessoa extrovertida, dependente de jogos sociais e situações exteriores pode, no entanto, ficar prazerosamente distraída (cores, sons, pessoas). Se você antecipar a distração do extrovertido e quiser manter um estado de êxtase de não-jogos, então lembre-se de seguir as seguintes instruções: não se distraia, tente se concentrar numa personalidade contemplativa ideal, por exemplo o Buda, Cristo, Sócrates, Ramakrishna, Einstein, Hermann Hesse ou Lao Tsé: siga o seu modelo como se ele fosse um ser com um corpo físico esperando por você. Junte-se a ele.
Se não obtiver sucesso com isso, não se aflija nem pense nisso. Talvez você não tenha um ideal místico ou transcendental. Isto significa que seus limites conceituais estão dentro de jogos exteriores. Agora que você sabe o que é a experiência mística, pode se preparar para a próxima vez. Você perdeu o fluxo livre-de-conteúdo e agora deve estar pronto(a) para mergulhar na excitante confrontação com a realidade externa. No Segundo bardo você pode experienciar profundamente as revelações de jogos.
Acabamos de antecipar as reações do naturalmente misticamente introvertido, da pessoa experiente e do extrovertido. Agora vamos nos voltar para o novato que demonstra confusão no estágio inicial da seqüência. O melhor procedimento é sinalizar confiança e mais nada. Teremos lido este manual e teremos alguma orientação. Deixe-o(a) em paz e ele(a) provavelmente mergulhará em seu pânico e o dominará. Se ele(a) indicar que deseja orientação, repita as instruções. Diga a ele(a) o que está acontecendo. Lembre-o da fase do processo em que ele(a) está. Inste-o a relaxar a luta do seu ego e a voltar ao contato com a Serena Luz.
Preparação e orientação deste tipo permitirão a muitos alcançar o estado iluminado, que não seria de outra forma por eles reconhecido.
Neste ponto, é necessário dar uma palavra como um alerta benigno. Ler este manual é extremamente útil, mas nenhuma palavra é capaz de comunicar a experiência. Você ficará surpreendido(a), espantado(a) e deliciado(a). Uma pessoa pode Ter ouvido uma descrição detalhada da arte de nadar e ainda assim nunca Ter tido a oportunidade de nadar. Igualmente, há aqueles que tentaram aprender a teoria da experiência da ego-perda, e nunca a aplicaram. Eles não conseguem manter intacta a continuidade da consciência, ficam desnorteados com a mudança de condição; falham em manter o êxtase místico; falham em tirar vantagem da oportunidade a não ser com a ajuda e a direção de um guia. Mesmo com tudo o que um guia pode fazer, eles ordinariamente, devido ao carma ruim (heavy ego games), falham em reconhecer a libertação. Mas isto não é motivo para preocupações. Nas pior das hipóteses, eles flutuam de volta à praia. Ninguém se afogou, e a maioria dos que fizeram a viagem ficaram ansiosos para repeti-la.
Mesmo aqueles que já se familiarizaram com os mapas e já tiveram previamente uma experiência de iluminação podem se achar em cenários nos quais o comportamento marcado por jogos intensos (heavy games) da parte dos outros os forcem ao contato com a realidade externa. Se isso acontecer, lembre-se das instruções. A pessoa que domina esse princípio pode bloquear o exterior. Quem dominou o controle da consciência fica independente do cenário.
Novamente há aqueles que, embora tenham tido sucesso anteriormente, podem Ter trazido consigo à sessão ego-jogos. Podem querer fazer com que alguém mais tenha um tipo particular de experiência. Podem estar atrás de algum objetivo próprio. Podem estar nutrindo sentimentos negativos, competitivos em relação a alguém do grupo. Se isso acontecer, lembre-se das instruções. Lembre-se da unidade de todos os seres. Desfaça-se de sua programação egoísta e flutue de volta à radiante beatitude do em-unicidade.
Se você alcançar a Serena Luz imediatamente e mantê-la, chuchu beleza! Mas se não, se você flutuou de volta às preocupações da realidade, lembrando-se destas instruções você deve ser capaz de recuperar o que os tibetanos chamam de Serena Luz Secundária.
Enquanto neste nível secundário, um interessante diálogo ocorre entre a transcendência pura e a consciência que esta visão extática lhe produz. A primeira irradiação não conhece nenhum eu, nenhum conceito. A experiência secundária envolve um certo estado de lucidez conceitual. O self paira num terreno transcendente do qual é normalmente excluído. Se as instruções forem lembradas, a realidade exterior não se intrometerá. Mas o envio de mensagens entre a divindade livre-de-ego e a individualidade lúcida de não-jogos produz um êxtase intelectual que desafia a descrição. A leitura filosófica de antes vai subitamente tomar um significado vivo!
Assim, no estágio secundário do Primeiro Bardo, são possíveis ambas as experiências do não-eu místico e do eu místico.
Depois de Ter experimentado esses dois estágios, você pode querer fazer essa distinção intelectual. Somos confrontados aqui com um dos mais antigos debates da filosofia oriental: É melhor ser parte do açúcar ou provar do açúcar? Controvérsias teológicas e suas dualidades ficam longe da experiência. Uma vez que o misticismo experimental tenha se tornado possível por meio de drogas que expandem a consciência, você pode Ter tido a sorte de Ter experimentado o vai-e-vem entre os dois estados. Você pode ser sortudo o bastante para conhecer o que os monges acadêmicos podiam apenas conjeturar.
Termino o Primeiro Bardo, o Período da Ego-perda e do Êxtase de Não-Jogos.
O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS.Tradução automática,via ferramentas de idiomas.