segunda-feira, 25 de abril de 2011
"A Megera Domada”
A Megera Domada (no original, The Taming of the Shrew) é uma das primeiras comédias escritas por William Shakespeare. Tem como tema central – que compartilha com outras comédias do autor, como Much Ado About Nothing (“Muito Barulho por Nada”) e A Midsummer Night’s Dream (“Sonho de uma Noite de Verão”) – o casamento, a guerra dos sexos e as conquistas amorosas. Contudo, “A Megera Domada” diferencia-se ao dedicar boa parte da ação à vida matrimonial, ou seja, aos acontecimentos que se sucedem à cerimônia nupcial em si, já que não raro as comédias shakespeareanas tem o casamento como final da ação, a exemplo de Much Ado About Nothing. Os principais personagens são Lucêncio, o filho de um rico mercador, e seu empregado Trânio; Petruchio, um rico viajante; Catarina, uma megera; e a doce e meiga Bianca.
Enredo.
A trama, relativamente simples, teria sido coletada por Shakespeare de antigos contos da tradição oral e diz respeito a um pai, Batista, que estabelece como condição para ceder a mão de sua filha mais jovem, a bela e doce Bianca, aos possíveis pretendentes, que sua filha mais velha, a megera Catarina, consiga antes um esposo. Bianca tem não menos que três pretendentes – Gremio, Hortencio e Lutencio, este último um jovem forasteiro que chega à cidade de Pádua e enamora-se de imediato por Bianca. Os dois primeiros, rivais nas pretensões de casar-se com Bianca, fazem um acordo para conseguir um marido para Catarina e, assim, deixar livre o caminho para seguirem em sua disputa amorosa. Petrúquio, um nobre falido de Verona, chega à cidade em busca de um bom casamento e apaixona-se pela idéia de se casar com Catarina, proposta feita a ele por seu amigo Hortensio. Aparentemente contra a vontade da moça, o casamento de Catarina e Petrúquio é realizado e ambos voltam para Verona, onde o esposo, impondo algumas privações e um tanto de mau humor à nova esposa, termina por amansá-la. Após diversas peripécias, dentre as quais o disfarce dos rivais em professores de música e retórica para que pudessem fazer a corte à jovem Bianca, Lucencio e Bianca casam-se, em segredo; Batista e Vicencio, pai de Lucencio, terminam por aceitar o casamento dos jovens e, ao final, Petrúquio prova a todos que Catarina tornou-se uma esposa mais obediente que a doce Bianca.
Técnicas dramatúrgicas.
Para obter o efeito desejado em “A Megera Domada”, o riso, Shakespeare usa diversos elementos anteriormente citados. A trama central, por exemplo, parte justamente de uma quebra de expectativa – a forma de agir de Catarina, a de uma mulher insubmissa, e a maneira pela qual ela é conquistada pelo futuro esposo, Petruqúio –, a qual é reforçada pelo uso exacerbado do engano e das inversões retratadas nos disfarces usados pelos pretendentes para obter o acesso à jovem Bianca com o intuito de cortejá-la. Além disso, há a forma grosseira com que Petrúquio trata os demais, em contraste com todo o ambiente de cavalheirismo e cortesias extremadas dos que disputam o amor da irmã de sua noiva Catarina – um contraste que é refletido até mesmo na forma de vestir e no desrespeito às regras de etiqueta na cena do casamento.
O engano e a assimilação para melhor, bem como a quebra de hierarquia, estão presentes, aliás, já no prólogo da peça, no qual Shakespeare cria uma situação cômica na qual um lorde resolve brincar com um bêbado miserável que encontra em uma taverna, Sly, vestindo-o de roupas nobres e cercando-o de cuidados e serviçais, para que ele pensasse ser um nobre que acordava de um pesadelo no qual vivia na pobreza absoluta. Curiosamente, tal prólogo, que serviria de moldura à trama central de The Taming of the Shrew, já que esta seria uma “peça dentro da peça”, encenada para o nobre/miserável Sly por um grupo de atores, não é retomado ao final do texto de Shakespeare, provavelmente por uma extração feita da peça original no decorrer dos tempos. Há registros de versões anteriores na qual a trama do prólogo é retomada ao final da peça, como o despertar de Sly novamente como um reles bêbado na taverna de onde o lorde o havia recolhido para seu jogo cômico, dizendo que “havia tido o mais incrível dos sonhos” e que agora ele, Sly, “sabia como devia tratar a mulher em casa”.
Há ainda, em “A Megera Domada”, um interessante paralelismo entre as tramas de Lucentio/Bianca e Petrucchio/Katherine. Em verdade, a primeira parece assumir um caráter de protagonista em boa parte da peça, servindo a relação conflituosa de Petrucchio e Katherine como um contraponto burlesco ao amor proibido e sublimado de Lucentio e Bianca. Além disso, o relacionamento de Katherine e Petrucchio oferece a Shakespeare a possibilidade de composição de um humor popular que atingiria boa parte do público de seu teatro, em oposição ao humor que a relação de Lucentio e Bianca podem oferecer, algo mais sofisticada.
INTRODUÇÃO.
Cena I
(Num prado. Defronte de una cervejaria. Entram a Estalajadeira e Sly)
SLY – Hei de vos dar uma tunda, palavra de honra.
ESTALAJADEIRA – Um par de algemas, velhaco!
SLY – Marafona! Os Slys não são velhacos. Lede as crônicas. Chegamos aqui com Ricardo, o conquistador. Por isso, pauca palabris. Deixai o mundo rodar. Cessa!
ESTALAJADEIRA – Não quereis pagar os copos que quebrastes?
SLY – Não, nem um real. Vai, por São Jerônimo! Vai te aquecer em tua cama fria.
ESTALAJADEIRA – Já sei o que tenho a fazer; vou chamar o inspetor do quarteirão.
(Sai.)
SLY – Quarteirão ou quinteirão, pouco me importa. Hei de responder-lhe de acordo com a lei. Não cederei uma polegada, rapaz. E ele que venha com jeito.
(Deita-se no chão e dorme. Toque de trompa. Entra um nobre que volta da caçada, com caçadores e criados.)
NOBRE – Caçador, recomendo-te cuidado com meus cachorros. A cadela Merriman de cansada até espuma. Atrela Clowder com a de latido forte. Não notaste, rapaz, como o Prateado fez bonito lá na dobra da sebe, quando o rasto já fora interrompido? Não quisera perdê-lo agora nem por vinte libras.
PRIMEIRO CAÇADOR – Bellman vale, senhor, tanto quanto ele; não deixou de latir, e por duas vezes voltou a achar a pista, embora o rasto se achasse quase extinto. Acreditai-me: esse é o melhor de todos os cachorros.
NOBRE – És um bobo; se fosse Eco mais ágil, valeria por doze iguais a Bellman. Mas alimenta-os bem e não descures de nenhum, que amanhã teremos caça.
PRIMEIRO CAÇADOR – Pois não, milorde.
NOBRE (enxergando Sly) – Que é isso? Morto ou bêbedo? Respira?
SEGUNDO CAÇADOR – Respira, sim, milorde. Se a cerveja não o aquecesse, o leito em que se encontra por demais frio fora para o sono.
NOBRE – Óh animal monstruoso! Está deitado como um porco. Medonha morte, como tua pintura é feia e repulsiva! Vamos fazer uma experiência, amigos, com este bêbedo. Que tal a idéia de o pormos numa cama e de o cobrirmos com lençóis bem macios, colocarmos-lhe anéis nos dedos, um banquete opíparo junto ao leito lhe pormos e solícitos serventes ao redor, quando ele a ponto estiver de acordar? Não esquecera sua própria condição este mendigo?
PRIMEIRO CAÇADOR – Não teria outra escolha, podeis crer-me.
SEGUNDO CAÇADOR – Ao despertar, perplexo ficaria.
NOBRE – Como de um sonho adulador, ou mesmo de inócua fantasia. Carregai-o, portanto, e preparai a brincadeira. Ponde-o com jeito em meu mais belo quarto, que adornareis com quadros mui lascivos; água cheirosa e quente na vazia cabeça lhe passai, e no aposento queimai lenha aromática, deixando cheiroso todo o ambiente. Arranjai música logo que ele acordar, para que toadas possa ouvir agradáveis e divinas. E, se acaso falar, sede solícitos E com profunda e humilde reverência lhe perguntai: “Vossa Honra que deseja?” Um se apresente com bacia argêntea cheia de água de rosas em que pétalas donosas sobrenadem; o jarro outro sustente; o guardanapo, enfim, terceiro, que lhe perguntará: “Vossa Grandeza não quer lavar as mãos?” Vestes custosas tenha alguém prestes, para perguntar-lhe que muda ele prefere; outro lhe fale de seus cavalos e dos cães de caça, e lhe diga que a esposa ainda lastima sua infelicidade, convencendo-o de que esteve lunático. E se acaso declarar seu estado verdadeiro, dizei que está sonhando, pois, de fato, ele é um nobre importante. Fazei isso, gentis senhores, sim, porém, com jeito. Passatempo será muito agradável, se discrição souberdes ter em tudo.
PRIMEIRO CAÇADOR – Garanto-vos, milorde, que sairemos bem do nosso papel, sendo certeza vir ele a convencer-se, tão-somente por nossa diligência, de que é tudo quanto lhe sugerirmos.
NOBRE – Levantai-o com bem jeito e na cama o ponde logo. E quando despertar, todos a postos
(Sly é carregado. Toque de trombeta.)
Rapaz, vai logo ver o que esse toque de trombeta anuncia.
(Sai um criado.)
Com certeza é algum fidalgo que se encontra em viagem e se deteve aqui para descanso.
(Volta o criado.)
Então, que é que há?
CRIADO – Com permissão de Vossa Senhoria, os atores, que oferecem a Vossa Honra os serviços.
NOBRE – Manda-os vir.
(Entram comediantes.)
Amigos, sois bem-vindos.
COMEDIANTES – Obrigados ficamos a Vossa Honra.
NOBRE – É intenção vossa passar a noite aqui?
UM COMEDIANTE – Caso Vossa Honra se digne de aceitar nossos serviços.
NOBRE – De todo o coração. Ainda me lembro deste rapaz, quando representava de filho de rendeiro.
Era na peça em que a corte fazíeis gentilmente a uma senhora nobre. Vosso nome já me esqueceu; mas é certeza: dita foi vossa parte com bastante engenho e naturalidade.
UM COMEDIANTE – Vossa Graça decerto pensa no papel de Soto.
NOBRE – Perfeitamente! E tu o representaste por maneira admirável. Bem; chegaste na hora precisa, tanto mais que tenho já iniciado um desporto em que vossa arte muito útil me será. Há aqui um nobre que esta noite deseja ver alguma peça do vosso elenco. Mas receio que não possais guardar a compostura à vista da atitude extravagante de Sua Senhoria, por ser certo que Sua Honra jamais foi ao teatro, o que explosão de riso vos causara, podendo isso ofendê-lo. Pois vos digo, senhores, que se rirdes, ele torna-se impaciente a valer.
UM COMEDIANTE – Nenhum receio vos cause isso, milorde; saberíamos conter-nos, muito embora se tratasse do mais risível ser que acaso exista.
NOBRE – Recolhe-os tu à copa, dando a todos bom tratamento, sem que lhes faleça coisa nenhuma do que houver em casa.
(Sai um criado com os comediantes.)Shakespeare.
A tempestade.
Uma história de dor e reconciliação - Última peça escrita por Shakespeare, A tempestade é Uma história de vingança, é uma história de amor, é uma história de conspirações oportunistas, e é uma história que contrapõe a figura disforme, selvagem, pesada dos instintos animais que habitam o homem à figura etérea, incorpórea, espiritualizada de altas aspirações humanas, como o desejo de liberdade e a lealdade grata e servil.
Uma Ilha é habitada por Próspero, Duque de Milão, mago de amplos poderes, e sua filha Miranda, que para lá foram levados à força, num ato de traição política. Próspero tem a seu serviço Caliban, Um escravo EM terra, homem adulto e disforme, e Ariel, o espírito servil e assexuado que pode se metamorfosear em ar, água ou fogo.
Os poderes eruditos e mágicos de Próspero e Ariel combinam-se e, depois de criar um naufrágio, Próspero coloca na Ilha seus desafetos (no intuito de levá-los à insanidade mental) e um príncipe, noivo em potencial para a filha. Se o amor acontece entre os dois jovens, se a vingança de Próspero é bem-sucedida, se Caliban modifica-se quando conhece os poderes inebriantes do vinho numa cena cômica com outros dois bêbados, tudo isso Shakespeare nos revela no enredo desta que por muitos é considerada sua obra-prima . Shakespeare.
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