domingo, 14 de novembro de 2010

O Cerimonial dos Iniciados.


A ciência conserva- se pelo silêncio e perpetua- se pela iniciação. A lei do silêncio não é, pois, absoluta e inviolável senão para a multidão não iniciada. A ciência só pode ser transmitida pela palavra. Os sábios devem, pois, falar algumas vezes.
S im, os sábios devem falar, não para dizer, mas para levar os outros à procura. Noli ire, fac venire, era a divisa de Rabelais, que, possuindo todas as ciências do seu tempo, não podia ignorar a magia.
T emos, pois, de revelar aqui os mistérios da iniciação.
O destino do homem é, como dissemos, fazer ou criar a si próprio; ele é e será filho de suas obras no tempo e na eternidade.
Todos os homens são chamados a concorrer; mas o número dos eleitos, isto é, dos que têm êxito, é sempre pequeno; em outros termos, os homens que desejam ser alguma coisa são em grande número, e os homens de “elite ”sempre são raros. Ora, o governo do mundo pertence de direito aos homens de “elite ”e quando um mecanismo ou uma usurpação qualquer impede que lhes pertença de fato, opera - se um cataclismo político ou social.
Os homens que são senhores de si próprios, facilmente se tornam senhores dos outros; mas podem fazer um obstáculo mútuo se não reconheceram as leis de uma disciplina e de uma hierarquia universal.
Para se submeter a uma mesma disciplina é preciso estar em comunhão de idéias e desejos e só é possível chegar a esta comunhão por uma religião comum fundada nas próprias bases da inteligência e da razão.
E sta religião sempre existiu no mundo e é a única que pode ser chamada una, infalível, indefectível e verdadeiramente católica, isto é, universal.
Esta religião, da qual todas as outras foram sucessivamente os véus e as sombras, é a que demonstra o ser pelo ser, a vontade pela razão, a razão pela evidência e o senso comum.
É a que prova pelas realidades a razão de ser das hipóteses independentemente e fora das realidades.
É a que tem por base o dogma das analogias universais, mas também nunca confunde as coisas da ciência com as da fé. Não pode ser de fé que dois e um façam mais ou menos que três; que o contido em física seja maior do que aquilo que o contém; que um corpo sólido possa fazer como um corpo fluido ou gasoso; que um corpo humano, por exemplo, possa passar através de uma porta fechada, sem operar nem solução nem abertura. Dizer que a pessoa crê em tais coisas e falar como uma criança ou um louco; mas não é menos insensato definir o desconhecido e raciocinar com hipóteses, até negar a priori a evidência para afirmar suposições temerárias. O sábio afirma o que sabe, e só crê no que ignora, conforme a medida das necessidades razoáveis e conhecidas da hipótese.
Mas esta religião razoável não poderia ser a da multidão, que precisa de fábulas, mistérios, esperanças definidas e terrores materialmente motivados.
É por isso que o sacerdócio foi estabelecido no mundo. Ora, o sacerdócio se recruta pela iniciação.
As formas religiosas perecem quando a iniciação cessa no santuário, quer pela divulgação, quer pela negligência e o esquecimento dos mistérios sagrados.
Por exemplo, as divulgações gnósticas afastaram a igreja cristã das altas verdades da Cabala, que contém todos os segredos da teologia transcendente. Por isso, os cegos tendo - se tornado os guias dos outros cegos, produziram - se grandes obscuridades, grandes quedas e deploráveis escândalos; além disso, os livros sagrados, cujas chaves são todas cabalísticas, desde o Gênese até o Apocalipse, se tornaram tão pouco inteligíveis aos cristãos, que os pastores, com razão, julgaram necessário interdizer a sua leitura aos simples fiéis. Tomados ao pé da letra e entendidos materialmente, este livros seriam, como o demonstrou muito bem a escola de Voltaire, simplesmente um inconcebível tecido de absurdidades e de escândalos.
O mesmo acontece com todos os dogmas antigos, com suas brilhantes o teogonias e lendas poéticas. Dizer que os antigos acreditavam, na Grécia, nos amores de Júpiter ou adoravam, no Egito, o cinocéfalo e o gavião como deuses vivos e reais, é ser tão ignorante e de tão má fé como o seria sustentando que os cristãos adoram um tríplice Deus, que se compõe de um velho, um supliciado e uma pomba. A incompreensão dos símbolos é sempre caluniadora. É por isso que convém evitar zombar prematuramente das coisas que a pessoa não sabe, quando a sua enunciação parece supor uma absurdidade ou até uma singularidade qualquer; seria tão pouco sensato como admiti - las sem discussão e exame.
Antes que haja alguma coisa que nos agrade ou desagrade, há uma verdade, isto é, uma razão, e é por esta razão que as nossas ações devem ser reguladas mais que pelo nosso prazer, se quisermos criar em nós a inteligência, que é a razão de ser da imortalidade, e a justiça, que é a sua lei.
O homem verdadeiramente homem só pode querer o que deve, razoável e justamente, fazer; por isso, impõe silêncio aos desejos e ao temor, para escutar a razão.
Um homem assim é um rei natural e um sacerdote espontâneo para as multidões errantes. É por isso que o objeto das iniciações antigas se chamava indiferentemente arte sacerdotal ou arte real. As antigas associações mágicas eram seminários de sacerdotes e de reis, e a pessoa só podia ser admitida nelas por obras verdadeiramente sacerdotais e reais, isto é, pondo - se acima de todas as fraquezas da natureza.
Não repetiremos aqui o que em toda parte se encontra sobre as iniciações egípcias, perpetuadas, enfraquecendo - se, nas sociedades secretas da Idade Média. O radicalismo cristão, fundado na falsa inteligência destas palavras: “Só tendes um pai e um senhor, e todos sois irmãos ”, deu um golpe terrível na hierarquia sagrada. Desde então, as dignidades sacerdotais tornaram - se resultado da intriga ou do acaso; a mediocridade ativa chegou a suplantar a superioridade modesta, e, por conseguinte, desconhecida; e, todavia, a iniciação sendo uma lei essencial da vida religiosa, uma sociedade instintivamente mágica se formou no declínio do poder pontifical e logo concentrou em si todo o poder do cristianismo, porque só ela entendeu vagamente, mas exerceu positivamente o poder hierárquico pelas provas da iniciação e a onipotência da fé na obediência passiva.
Que fazia, com efeito, o recipiendário nas antigas iniciações? Abandonava inteiramente a sua vida e a sua liberdade aos mestres dos templos de Tebas ou Mênfis; avançava resolutamente através de inúmeros assombros que lhe podiam fazer supor um atentado premeditado contra a sua pessoa; atravessava fogueiras, passava a nado as torrentes de água escura e borbulhante, suspendia - se em balanços desconhecidos sobre precipícios sem fundo... Não era esta a obediência cega, em toda a força do termo? Abjurar momentaneamente a sua liberdade para chegar a uma emancipação não é o exercício mais perfeito da liberdade? Ora, eis o que devem fazer e sempre fizeram os que aspiram ao sanctum regnum da onipotência mágica. Os discípulos de Pitágoras condenavam - se a um silêncio rigoroso de vários anos; até os sectários de Epicuro só entendiam a soberania do prazer pela sobriedade adquirida e a temperança calculada. A vida é uma guerra em que é preciso dar suas provas para subir em grau: a força não se dá; é preciso tomá- la.
A iniciação pela luta e pelas provas é, pois, indispensável para chegar à ciência prática da magia. Já dissemos como se pode triunfar das quatro formas elementais: não voltaremos mais a isso, e para os nossos leitores que quiserem conhecer as cerimônias das iniciações antigas, aconselhamos a leitura das obras do barão Tschoudy, autor da Estrela Flamejante da maçonaria adonhiramita e de vários outros opúsculos maçônicos muito valiosos.
Devemos insistir, aqui, sobre uma reflexão: é que o caos intelectual e social no meio do qual perecemos, tem por causa a negligência da iniciação, das suas provas e dos seus mistérios. Homens nos quais o zelo era mais forte que a paciência, impressionados pelas máximas populares do Evangelho, acreditaram na igualdade primitiva e absoluta dos homens. Um alucinado célebre, o eloqüente e infeliz Rousseau, propagou, com toda a magia do seu estilo, este paradoxo: que só a sociedade deprava os homens, como se disséssemos que a concorrência e a emulação do trabalho fazem preguiçosos os operários. A lei essencial da natureza e da iniciação pelas obras e do progresso laborioso e voluntário foi fatalmente desconhecida; a maçonaria teve seus desertores, como o catolicismo tiveram os seus. Que resultou disso? O nível de aço substituído ao nível intelectual e simbólico. Pregar a igualdade àquele que está embaixo, sem lhe dizer como a pessoa se eleva, não é obrigar- se a descer? Pois desceram e houve o reino da carmagnole , dos sans- culottes e de Marat.
Para revelar a sociedade vacilante e decaída é preciso estabelecer de novo a hierarquia e a iniciação. A tarefa é difícil, mas todas as pessoas inteligentes já sentem a necessidade de empreendê - la. Será preciso, para isso, que o mundo passe por um novo dilúvio? Desejamos vivamente que não seja assim, e este livro, a maior, talvez, mas não a última das nossas ousadias, é um apelo a tudo o que ainda vive, para reconstituir a vida até no meio da decomposição da morte.Eliphas Levi.

Versos Dourados de Pitágoras.


01. Honra em primeiro lugar os deuses imortais, como manda a lei.
02. A seguir, reverencia o juramento que fizeste.
03. Depois os heróis ilustres, cheios de bondade e luz.
04. Homenageia, então, os espíritos terrestres e manifesta por eles o devido respeito.
05. Honra em seguida a teus pais, e a todos os membros da tua família.
06. Entre os outros, escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso.
07. Aproveita seus discursos suaves, e aprende com os atos dele que são úteis e virtuosos.
08. Mas não afasta teu amigo por um pequeno erro.
09. Porque o poder é limitado pela necessidade.
10. Leva bem a sério o seguinte: Deves enfrentar e vencer as paixões.
11. Primeiro a gula, depois a preguiça, a luxúria, e a raiva.
12. Não faz junto com outros, nem sozinho, o que te dá vergonha.
13. E, sobretudo, respeita a ti mesmo.
14. Pratica a justiça com teus atos e com tuas palavras.
15. E estabelece o hábito de nunca agir impensadamente.
16. Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá a todos.
17. E que as coisas boas do mundo são incertas, e assim como podem ser conquistadas, podem ser perdidas.
18. Suporta com paciência e sem murmúrio a tua parte, seja qual for.
19. Dos sofrimentos que o destino determinado pelos deuses lança sobre os seres humanos.
20. Mas esforça-te por aliviar a tua dor no que for possível.
21. E lembra que o destino não manda muitas desgraças aos bons.
22. O que as pessoas pensam e dizem varia muito; agora é algo bom, em seguida é algo mau.
23. Portanto, não aceita cegamente o que ouves, nem o rejeita de modo precipitado.
24. Mas se forem ditas falsidades, retrocede suavemente e arma-te de paciência.
25. Cumpre fielmente, em todas as ocasiões, o que te digo agora.
26. Não deixa que ninguém, com palavras ou atos,
27. Te leve a fazer ou dizer o que não é melhor para ti.
28. Pensa e delibera antes de agir, para que não cometas ações tolas.
29. Porque é próprio de um homem miserável agir e falar impensadamente.
30. Mas faze aquilo que não te trará aflições mais tarde, e que não te causará arrependimento.
31. Não faze nada que sejas incapaz de entender.
32. Porém, aprende o que for necessário saber; deste modo, tua vida será feliz.
33. Não esquece de modo algum a saúde do corpo.
34. Mas dá a ele alimento com moderação, o exercício necessário e também repouso à tua mente.
35. O que quero dizer com a palavra moderação é que os extremos devem ser evitados.
36. Acostuma-te a uma vida decente e pura, sem luxúria.
37. Evita todas as coisas que causarão inveja.
38. E não comete exageros. Vive como alguém que sabe o que é honrado e decente.
39. Não age movido pela cobiça ou avareza. É excelente usar a justa medida em todas estas coisas.
40. Faze apenas as coisas que não podem ferir-te, e decide antes de fazê-las.
41. Ao deitares, nunca deixe que o sono se aproxime dos teus olhos cansados,
42. Enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas ações do dia.
43. Pergunta: "Em que errei? Em que agi corretamente? Que dever deixei de cumprir?"
44. Recrimina-te pelos teus erros, alegra-te pelos acertos.
45. Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Tu deves amá-las de todo o coração.
46. São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina.
47. Eu o juro por aquele que transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado.
48. Aquela fonte da natureza cuja evolução é eterna.
49. Nunca começa uma tarefa antes de pedir a bênção e a ajuda dos Deuses.
50. Quando fizeres de tudo isso um hábito,
51. Conhecerás a natureza dos deuses imortais e dos homens,
52. Verás até que ponto vai a diversidade entre os seres, e aquilo que os contém, e os mantém em unidade.
53. Verás então, de acordo com a Justiça, que a substância do Universo é a mesma em todas as coisas.
54. Deste modo não desejarás o que não deves desejar, e nada neste mundo será desconhecido de ti.
55. Perceberás também que os homens lançam sobre si mesmos suas próprias desgraças, voluntariamente e por sua livre escolha.
56. Como são infelizes! Não vêem, nem compreendem que o bem deles está ao seu lado.
57. Poucos sabem como libertar-se dos seus sofrimentos.
58. Este é o peso do destino que cega a humanidade.
59. Os seres humanos andam em círculos, para lá e para cá, com sofrimentos intermináveis,
60. Porque são acompanhados por uma companheira sombria, a desunião fatal entre eles, que os lança para cima e para baixo sem que percebam.
61. Trata, discretamente, de nunca despertar desarmonia, mas foge dela!
62. Oh Deus nosso Pai, livra a todos eles de sofrimentos tão grandes.
63. Mostrando a cada um o Espírito que é seu guia.
64. Porém, tu não deves ter medo, porque os homens pertencem a uma raça divina.
65. E a natureza sagrada tudo revelará e mostrará a eles.
66. Se ela comunicar a ti os teus segredos, colocarás em prática com facilidade todas as coisas que te recomendo.
67. E ao curar a tua alma a libertarás de todos estes males e sofrimentos.
68. Mas evita as comidas pouco recomendáveis para a purificação e a libertação da alma.
69. Avalia bem todas as coisas,
70. Buscando sempre guiar-te pela compreensão divina que tudo deveria orientar.
71. Assim, quando abandonares teu corpo físico e te elevares no éter.
72. Serás imortal e divino, terás a plenitude e não mais morrerás