quarta-feira, 18 de agosto de 2010

LE VAMPIRE.


Toi que, comme un coup de coufeau,
Dans mon ur plaintif es entrée,
Toi Qui, fort comme un troupeau
De démons, vins, folle et parée

De mon esprit humilié
Faire ton lit et ton domaine;

- Infâme à Qui je suis lié
Comme le forçat à la chaîne,

Comme au jeu joueur têtu,
Comme à la bouteille l'ivrogne,
Comme aux vermines la charogne,
- Maudite, maudite sois-tu!

J'ai prié le glaive rapide
De conquérir ma liberté,
Et j'ai dit au poison perfide
De secourir ma lâcheté.

Hélas! Le poison et le glaive
M'ont pris en dédain et m'ont dit:
"Tu in'es pas digne qu'on t'enlève
A ton esclavage maudit,

Imbécile! - de son empire
Si nos efforts te délivraient,
Tes baisers ressusciteraient
Le cadavre de ton vampire!"

O VAMPIRO

Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste,
Tu que, qual furiosa manada
De demônios, ardente, ousaste,

De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
- Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão

Como ao baralho o jogador,
Como à carniça o parasita,
Como à garrafa o bebedor
- Maldita sejas tu, maldita!

Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao veneno, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.

Ai de mim! Com mofa e desdém,
Ambos ma disseram então:
"Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque à escravidão,

Imbecil! - se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!
Charles Baudelaire

Amor Místico.


Quando a minha alma nasceu
Para onde olhou primeiro,
E viu tudo um nevoeiro,
Foi lá cima para o céu.
Que a alma nunca lhe passa
De ideia a fonte da graça!

Em toda a ânsia de luz,
Em toda a ânsia de gozo,
Sempre aquele olhar ansioso
Nesse ideal dd criador.
Nesse bem que não se exprime.
Êxtase de amor sublime!

Olhava da solidão,
Onde se sentia presa,
Com a natural tristeza
Dos ferros de uma prisão.
À espera sempre da hora
Que lhe raiasse a aurora!

Bem a chamavam de cá
Sempre os cuidados do dia;
Ela, que nunca os ouvia,
Olhava, mas para lá.
Donde ela mesmo viera,
Donde todo o bem se espera!

Um dia (nem eu sei qual,
Que em suma foi isso há tanto!)
Vê com uns olhos de espanto
Romper-se a névoa geral;
E como um sol recortado
Nesse mar enevoado.
E dentro desse clarão,
Como em círculo de prata,
Que imagem se lhe retrata,
Fosse verdade ou visão?
A mesma que ela apertava
Nos braços quando sonhava.

Mas a visão, em lugar
De vir cair-lhe nos braços,
Voa por esses espaços
Até já mal se avistar.
Indo assim a luz minguando
E indo-se a névoa cerrando!

E hoje a minha alma, não sei
Se nessa névoa cerrada
Vê tal visão embrulhada
Ou nem já vestígios vê.
Sei que se ainda me anima,
É de olhos fitos lá cima.
João de Deus.