domingo, 11 de janeiro de 2015
O Pecado de Minhas Orações.
Huberto Rohden -
Penso com horror nas minhas preces de outrora,
Quando eu pedia alguma coisa
Vida, saúde, prosperidade e outros ídolos
Como se algo houvesse de real,
Fora de ti, meu Deus,
Realidade única, total, absoluta!
Como se em ti não estivessem contidas
Todas as coisas do universo!...
Como se todos esses pequenos "realizados"
Não fossem reflexos de ti, o grande "Real"!...
Tamanha era a minha ilusão dualista,
Que eu julgava poder possuir algum efeito individual
Sem possuir a Causa Universal!...
Hoje morreu em mim toda essa idolatria,
Esse ilusório dualismo objetivo.
Redimido pela verdade libertadora,
Sinto, hoje, nas profundezas do meu Ser,
O grande monismo do Universo.
Hoje, o alvo das minhas orações
És tu, Senhor, unicamente tu.
Hoje, sei e sinto que, possuindo a ti,
Possuo em ti todas as coisas
Que de ti emanaram,
E em ti ficaram...
Todas as coisas que, por mais distintas de ti,
São todas imanentes em ti.
Porque tu és a eterna Essência
De todas essas Existências temporárias.
Hoje não quero mais nada
Senão a ti somente, Senhor,
Porque em ti está tudo
Que, fora de ti, parece existir.
E, porque assim te amo, Senhor,
Amo também tudo que é teu,
Tudo que, disperso pelo cenário cósmico,
Veio de ti,
Está em ti,
Voltará a ti.
Revestiu-se de mística sacralidade
O meu antigo amor profano,
Desde que vejo o Deus do mundo
Em todas as coisas do mundo de Deus.
E o pecado das minhas orações de outrora
Foi remido pela verdade da minha prece de hoje.
Entre dois Mundos.
- Huberto Rohden -
Estendera o Eterno, de um a outro extremo, a sua potência creadora - desde os puros espíritos até à matéria bruta.
Desde a mais alta vida intelectual - até à mais profunda negação do intelecto.
Entretanto, não atingira ainda o Eterno o extremo limite de sua divina audácia...
Restava-lhe ainda o mais temerário e paradoxal de todos os atos - a união do espírito e da matéria.
Seria possível fundir em um único ser a luz dos puros espíritos - e a noite da matéria inerte?...
Reduzir a uma síntese essas duas antíteses?...
"E disse o Senhor: Façamos o homem - e fez Deus, da substância da terra, um corpo e inspirou-lhe na face o espírito vivente"...
E ergueu-se, no meio da natureza virgem, esse paradoxo ambulante, esse enigma anônimo, essa indefinível esfinge, semi-animal e semi-anjo - o homem...
Quando os espíritos celestes viram o homem, exultaram sobre a sua grandeza e choraram sobre a sua miséria......
Cristalizaram-se, na alma humana, essas centelhas de júbilo e essas lágrimas de dor - e formaram um mar imenso de doce amargura e inextinguível nostalgia...
Principiou, então, neste mundo visível, a luta entre a luz e as trevas - entre o bem e o mal...
A história da humanidade......
Têm os puros espíritos sua pátria - lá em cima......
Tem a matéria bruta sua sede - cá embaixo...
Mas onde está a pátria do espírito-matéria?...
Na terra? - protesta o espírito!
No céu? - protesta a matéria!
Entre o céu e a terra? - mas lá se erguem os braços duma cruz!
É por isto mesmo que o mais humano e mais divino dos homens expirou entre o céu e a terra - na sua pátria cruciforme...
"Não havia lugar para ele" - em outra parte...
E é por isso mesmo que os melhores dentre os homens são sempre crucificados...
Não os compreende a terra - nem os acolheu ainda o céu...
E assim, entre o céu e a terra, vive o homem esta vida dilacerada de angústias e paradoxos.
Sem pátria certa,
Em perene exílio,
Oscilando entre a matéria e o espírito.
Lutando,
Sofrendo,
Amando.
Até que a matéria volte à matéria,
E o espírito ao Espírito.
Sintetizando dois mundos
Em Deus.
A Irmandade Invisível.
Huberto Rohden -
Desde que me encontrei com o Grande Anônimo,
Me tornei anônimo do meu velho ego,
Esse ego faminto de nomes...
E ingressei na Fraternidade Branca
Dos irmãos anônimos,
Incolores,
Amorfos,
Invisíveis,
Onipresentes...
Ingressei na mística "ekklesía"
Dos arautos da Divindade,
Das vestais do Fogo Sagrado.
Que operam no mundo inteiro,
Em todos os universos do Cosmos.
Mas ninguém os conhece,
Esses anônimos,
Envoltos no manto branco
Do eterno silêncio,
De inefável beatitude...
Onde quer que haja uma dor
A ser suavizada,
Uma alegria
A ser compartilhada,
Onde quer que agonize
Um coração chagado,
Lá estão os Irmãos Anônimos
Da Fraternidade Branca...
Nenhum monumento ostenta seus nomes,
Nenhuma estátua perpetua seus atos,
Nenhum obelisco lhes canta as glórias,
Nenhum poema celebra a grandeza
Desses invisíveis arautos do bem,
Dessas alvas vestais do amor...
Somente nas páginas brancas
Do livro da vida eterna
Estão escritos seus nomes,
Com as tintas da reticência,
Em perpétuo anonimato...
Suas obras ocultam sempre
Suas pessoas...
A presença do seu visível "agir"
Coincide com a ausência do seu invisível "ser"...
Porque anônimos como Deus
São esses ignotos filhos de Deus,
Benéficos raios solares
Do Grande Sol do universo,
Sempre ausente de mim
E sempre presente a Ti...
Na Tua longínqua transcendência,
Na Tua propínqua imanência...
Desde que me encontrei com o grande Anônimo
Me tornei anônimo do meu eu humano,
Eclipsado por seu Tu divino,
Pelo eterno Eu divino
Em mim...
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