contos sol e lua

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quarta-feira, 22 de junho de 2011

CAMINHOS DO CORAÇÃO.


Joanna de Ângelis

Multiplicam-se os caminhos do processo evolutivo, especialmente durante a marcha que se faz no invólucro carnal.
Há caminhos atapetados de facilidades, que conduzem a profundos abismos do sentimento.
Apresentam-se caminhos ásperos, coalhadas de pedrouços que ferem, na forma de vícios e derrocadas morais escravizadores.
Abrem-se, atraentes, caminhos de vaidade, levando a situações vexatórias, cujo recuo se torna difícil.
Repontam caminhos de angústia, marcados por desencantos e aflições
desnecessárias, que se percorrem com loucura irrefreável.
Desdobram-se caminhos de volúpias culturais, que intoxicam a alma de soberba, exilando-a para as regiões da indiferença pelas dores alheias.
Aparecem caminhos de irresponsabilidade, repletos de soluções fáceis para os problemas gerados ao longo do tempo.
Caminhos e caminhantes!
Existem caminhos de boa aparência, que disfarçam dificuldades de acesso e encobrem feridas graves no percurso.
Caminhos curtos e longos, retos e curvos, de ascensão e descida, estão por toda parte, especialmente no campo moral, aguardando ser escolhidos.
Todos eles conduzem a algum lugar, ou se interrompem, ou não levam a parte alguma... São, apenas, caminhos: começados, interrompidos, concluídos...
Tens o direito de escolher o teu caminho, aquele que deves seguir.
Ao fazê-lo, repassa pela mente os objetivos que persegues, os recursos que se encontram à tua disposição íntima assinalando o estado evolutivo, a fim de teres condição de seguir.
Se possível, opta pelos caminhos do coração.
Eles, certamente, levarão os teus anseios e a tua vida ao ponto de luz que brilha à frente esperando por ti.
O homem estremunha-se entre os condicionamentos do medo, da ambição, da prepotência e da segurança que raramente discerne com correção.
O medo domina-lhe as paisagens íntimas, impedindo-lhe o crescimento, o avanço, retendo-o em situação lamentável, embora todas as possibilidades que lhe sorriem esperança.
A ambição alucina-o, impulsionando-o para assumir compromissos perturbadores que o intoxicam de vapores venenosos, decorrentes da exagerada ganância.
A prepotência anestesia-lhe os sentimentos, enquanto lhe exacerba as paixões inferiores, tornando-o infeliz, na desenfreada situação a que se entrega.
A liberdade a que aspira, propõe-lhe licenças que se permite sem respeito aos direitos alheios nem observância dos deveres para com o próximo e a vida; destruindo qualquer possibilidade de segurança, que, aliás, é sempre relativa enquanto se transita na este física.
Os caminhos do coração se encontram, porém, enriquecidos da coragem, que se vitaliza com a esperança do bem, da humildade, que reconhece a própria fragilidade, e satisfaz-se com os dons do espírito - ao invés do tresvariado desejo de amealhar coisas de secundário importância - os serviços
enobrecedores e a paz, que são a verdadeira segurança em relação às metas a conquistar.
Os caminhos do coração encontram-se iluminados pelo conhecimento da razão, que lhes clareia o leito, facilitando o percurso. Jesus escolheu os caminhos do coração para acercar-se das criaturas e chamá-las ao reino dos Céus.
Francisco de Assis seguiu-Lhe o exemplo e tornou-se o herói da humildade.
Vicente de Paulo optou pelos mesmos e fez-se o campeão da caridade.
Gandhi redescobriu-os e comoveu o mundo, revelando-se como o apóstolo da não-violência.
Incontáveis criaturas, nos mais diversos períodos da humanidade e mesmo hoje, identificaram esses caminhos do coração e avançam com alegria na direção da plenitude espiritual.
Diante dos variados caminhos que se desdobram convidativos, escolhe os caminhos do coração, qual ovelha mansa, e deixa que o Bom Pastor te conduza ao aprisco pelo qual anelas.

Psicografia de Divaldo P. Franco – Momentos de Felicidade

A Tempestade do Destino.

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de
mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de
ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no
teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de
dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é
uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta
tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta
deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os
ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma
ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a
noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca
e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma
tempestade de areia assim que deves imaginar.
E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa
tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e
simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue
de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho,
quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos
outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido
atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a
tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres
da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem
sentido.

Haruki Murakami.

As Lições dos Gansos.


Quando um ganso bate as asas, cria um "vácuo" para o pássaro seguinte. Voando numa formação em "V", o bando inteiro tem o seu desempenho 71% melhor do que se a ave voasse sozinha.
Lição: Pessoas que compartilham uma direção comum e senso de comunidade podem atingir seus objetivos mais rápido e mais facilmente pois estão contando com a ajuda de outros.
Sempre que um ganso sai de formação, sente subitamente a resistência por tentar voar sozinho e, rapidamente, volta para a formação, aproveitando a "aspiração" da ave imediatamente à sua frente.
Lição: Se tivermos tanta sensibilidade como um ganso, permaneceremos em formação com aqueles que se dirigem para onde pretendemos ir e nos dispomos a aceitar a sua ajuda, assim como prestar a nossa aos outros.
Quando o ganso líder se cansa, muda para trás na formação e imediatamente, um outro ganso assume o lugar, voando para a posição de ponta.
Lição: É preciso acontecer um revezamento das tarefas pesadas e dividir a liderança.
As pessoas, assim como os gansos, são dependentes umas das outras. Os gansos de trás, na formação, grasnam para incentivar e encorajar os da frente a aumentar a velocidade.
Lição: Precisamos nos assegurar que nosso "grasno" é ENCORAJADOR, e não outra coisa...
Quando um ganso fica doente, ferido ou abatido, dois gansos saem da formação e seguem-no para ajudá-lo ou protegê-lo. Ficam com ele até que esteja apto a voar de novo ou morra. Só assim, eles voltam ao procedimento normal, com outra formação, ou vão atrás do bando.
Lição: Se tivermos bom senso tanto quanto os gansos, também estaremos ao lado dos outros nos momentos difíceis.[D.A]

Orações Místicas - Jalal-ud-din Rumi.

Ó Deus, Sua graça é o correto objeto do nosso desejo.
Não é próprio acrescentar outro ao Senhor.
Nada é mais amargo do que afastar-se do Senhor.
Sem Sua proteção não há nada, exceto desorientação.
Nossos bens materiais nos privam de nossos bens espirituais.
Nosso corpo rompe as vestes da nossa alma.
Nossas mãos, como estão, oprimem nossos pés.
Sem confiarmos no Senhor, como poderemos viver?
E se a alma escapa destes grandes perigos,
É capturada como vítima de infortúnios e medos.
Pois quando a alma não está unida ao Bem-Amado,
Ela vive cega e obscurecida por si mesma.

Invocação Sufi.

Louvado seja, ó Oculto e Manifesto. Louvada seja Sua glória, Sua força, Seu poder e Sua grande habilidade. Ó Alá, toda a grandeza é Sua. Ó Senhor, que possui o poder, a beleza e a perfeição; É o espírito de tudo. Louvado seja, ó Soberano de todos os monarcas; Mestre de todos os assuntos; Controlador de todas as coisas; Governante de todos os seres. O Senhor é livre da morte, livre do nascimento e livre de todas as limitações. Ó Eterno, o Senhor é livre de todas as condições, intocado por todas as coisas. Ó Alá, o Senhor é o Deus de todas as almas na terra; é o Deus das hostes celestes.Jalal-ud-din Rumi

Esvazie a mala.


Pessoas que não conseguem desapegar-se das coisas que acumulam na vida deixam de aproveita-la porque não conseguem livrar-se de suas pesadas bagagens.
Em minhas viagens, costumo encontrar muitas pessoas que não curtem a jornada porque estão preocupadas demais com sua imensa bagagem.
O mesmo acontece com as pessoas que não conseguem desapegar-se das coisas que acumulam na vida: bens, cargos, posições e até mesmo relacionamentos.
Elas, com freqüência, deixam de aproveitar a vida porque não conseguem livrar-se de suas pesadas bagagens.
A ruptura de um relacionamento, por exemplo, não é nada fácil, embora em geral, no começo da relação, tudo seja muito simples e gostoso. Estamos, normalmente, tomados pelo delicioso anestésico da paixão. Lidar com o fim de uma relação, porém, é coisa que poucos sabem – embora todos nós possamos aprender.
A melhor história de desapego que conheço aconteceu com um casal de amigos meus. Certo dia, eles me convidaram para uma festa. Ao chegar, vi que se
tratava de uma ocasião especial: decoração caprichada, banda de música, todos os amigos e familiares presentes. Lá pelas tantas, para surpresa geral, o casal anunciou que a festa era em comemoração de sua despedida.
Estavam celebrando o fim de um ciclo de sua vida após dezessete anos de união. Em um discurso, explicaram:
– Para que a planta nasça, é preciso matar a semente. Para que o fruto exista, é preciso morrer a florada. A borboleta só surge com o desaparecimento da lagarta. O ser humano não existe sem o embrião e só vinga
com a transformação do óvulo. Estamos morrendo para esse relacionamento, porém sinceramente preocupados e comprometidos em nascer para outros muito
melhores, em que possamos doar o máximo de cada um de nós! Por favor, não fiquem tristes com nossa separação porque os amigos do coração nunca se separam.
Eles decidiram separar-se quando perceberam que estavam mais preocupados em anular a alegria um do outro do que em ser felizes. Se, para serem felizes, era importante transformar essa relação, eles dariam esse passo. Até mesmo para manter a amizade.
Que coragem, não?
É muito raro que alguém admita diante do parceiro que está casado por causa do conforto e não tem mais coragem de enfrentar a própria vida.
Se meu casal de amigos insistisse em seu relacionamento, provavelmente acumularia infelicidades e não poderia aproveitar os diversos passarinhos do amor que ainda surgiriam.
Por isso, não tema deixar para trás as coisas que já morreram. Elas são como uma bagagem que não é mais necessária. Somente nossa experiência de vida e nosso desejo de criar uma existência cheia de significado são tesouros leves para carregar.
Roberto Shinyashiki.