contos sol e lua

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Grande Arcano.


Alphonse Louis Constant, (8 de fevereiro de 1810 - 31 de Maio de 1875
Envelheci e me embranqueci no estudo dos livros mais desconhecidos e mais terríveis do Ocultismo; meus cabelos caíram, minha barba cresceu tanto como a dos padres do deserto; procurei as Chaves dos Símbolos de Zoroastro; penetrei nas criptas de Manés, surpreendi o segredo de Hermes, esquecendo-me de roubar para mim uma ponta do véu que esconde eternamente a Grande Obra; sei o que é a Esfinge colossal que lentamente penetrou na areia, contemplando as pirâmides. Penetrei nos enigmas dos Brahmanes. Sei que mistérios Schimeon ben Jochal enterrara consigo durante doze anos na areia; as Clavículas de Salomão apareceram-me resplandecentes de luz, e li corretamente nos livros que o próprio Mefistófeles não sabia traduzir a Fausto. Pois bem, - em nenhum lugar, nem na Pérsia, nem na Índia, nem entre os palimpséstos do antigo Egito, nem nos grimórios malditos subtraídos às fogueiras da Idade Média, encontrei um livro mais profundo, mais revelador, mais luminoso nos seus mistérios, mais espantoso nas suas revelações esplêndidas, mais certo nas suas profecias , mais profundo prescrutador dos abismos do homem e das trevas imensas de Deus, maior, mais verdadeiro, mais simples, mais terrível, e mais doce do que o Evangelho de Jesus-Cristo."
- Trecho magistral de Eliphas Levi, reconhecido por Max Heindel, como um Grande Cabalista do século XIX, extraído de sua obra póstuma "O Grande Arcano, ou O Ocultismo Desvendado" , cap. XV. Eliphas Lévi.

A Rosa e o Seu Simbolismo.


Todas as flores nos trazem uma sublime mensagem de pureza e de amor, mas nós, absorvidos na ânsia de experiência terrena, não lhes prestamos a devida atenção. E nada lucramos procedendo assim!
No Oriente há uma planta estranha, – que também existe em Portugal – que desenvolve poderosas raízes no lodo repugnante dos pântanos, mas eleva para o Sol as suas folhas e flores. É o nenúfar, ou lótus. Liga-se a esta planta uma importância transcendente, porque ela tem qualquer analogia com o ser humano, pois finca no lodo as suas raízes, em busca de sustento, e lança os seus pecíolos através da água em busca do ar e da luz fecundante do Sol.
Nós temos corpo um terreno, feito de um lodo vivo, alma que nos garante as viagens entre os estados espirituais e terrenos, e um ego, eu, ou espírito, a parte divina, eterna. Daí os orientais ligarem ao lótus tão grande importância, vendo nesta planta dos pântanos um simbolismo divino, Deus manifestado nos seus três aspectos: físico – lodo –, emocional ou de desejos – água –, mental – ar. É o triângulo Pai, Filho, Espírito Santo.
Para tornar o lótus mais estranho, a sua flor abre todos os dias ao “nascer” do Sol, para receber o seu longo beijo, e quando a Estrela do dia se aproxima do ocaso, cerra as suas pétalas e recolhe novamente ao seio da água, para na manhã seguinte emergir de novo e reabrir gloriosamente as suas branquíssimas pétalas, para que o Sol beije de novo a sua amarela corola, os seus órgãos geradores, instalados nela, dando-lhe em pleno a vida que há de fecundar as suas sementes. E esta estranha operação vai repetir-se durante vários dias, até que o mistério da fecundação se consume. Porém, quando as sementes estão fecundadas, a maravilhosa flor do lótus não volta ao seio das águas lodacentas do pântano, mas abandona-se a si mesma na superfície! As suas belas pétalas começam logo a murchar e vão apodrecer, enquanto no gineceu a vida acumulada nas sementes, se prepara para uma nova e triunfante reprodução ninfeácea.
Também o Homem vem para a Terra por vias impuras, para que evolua, seja cada vez mais perfeito como o seu Criador, que está nos Céus. Mas a sua falta de educação moral profunda, realista, sem fantasias hipócritas, não o deixa conhecer o sagrado dever da reprodução, que a mensagem das flores nos patenteia e ensina com o mais profundo realismo e pureza.
Por força da ignorância o elemento masculino olha o feminino como se fora um objecto de satisfação instintiva, viciosa, lodacenta, simbolizada pelo repugnante lodo em que o golfão branco estende as suas poderosas raízes em busca de alimento!
Ele desconhece o tesouro que ela tem na sua alma e por isso não sabe como encontrá-lo. E ela vem nas mesmas condições para, como o lótus, através do lodo fazer a sua busca da beleza que leva à Perfeição. Criada na mais profunda ignorância do que no ser humano há de mais puro e sagrado, ela consente em ser vitima dos lodacentos instintos sexuais masculinos e assim vai, do berço ao túmulo. Perde uma oportunidade maravilhosa de viver alegre e feliz no conhecimento perfeito do que em nós temos de divino.
Criador não nos deu órgãos reprodutores para nos perder, mas para nos permitir uma evolução mais fácil e harmoniosa. Porém, nós é que, ignorando a realidade nos desviamos do caminho do dever para o da transgressão. Por isso temos a inteira responsabilidade das nossas acções e havemos de lhes sofrer as consequências. Vivemos iludidos e somos constantemente surpreendidos pela dor e a amargura que, desfazendo as nossas ilusões, procuram despertar-nos para uma conduta correcta.
Temos órgãos para reproduzirmos a forma e ao usá-los sentirmos alegria sã, encorajante para esta série de lutas que se chama vida. Por isso é necessário conhecer o mistério do sexo, diluir a ignorância que nos leva por vias lodacentas como faz a ninfeia na sua luta pela existência, encaminhando as suas raízes fortes como são os nossos instintos vis, através do lodo pestilento, mas como ela buscando o ar e a luz puríssimos que nos fortalecerão com sabedoria.
Na medida em que o homem e a mulher buscarem um no outro o que lhes falta, saberão que, dentro dos seus corpos, feitos de lodo, há uma flor radiosa de perfume e beleza, como no lótus. Ambos, assim unidos pelo amor, poderão ser imensamente felizes, não voltarão a ser carrascos um do outro. Uma sociedade formada com tal cultura será finalmente perfeita, em corpo e alma.
Na medida em que o homem vir na mulher o que lhe falta para ser completo, ele não olhará mais a mulher como um artigo que se adquire pela escritura do casamento. Verá nela aquele ser que o recebe, que se lhe dá para o ter no seu próprio sangue e alma, e tudo fará para tê-la contente e satisfeita. E ela fará também os esforços necessários para se desviar do lodo das paixões e na maior pureza viver para o seu companheiro e ambos se voltarem para o Criador num movimento de límpida gratidão por os ter trazido para a Terra com tão excelentes meios de viver e de progredir na sua direcção divina.
O prazer puro nunca virá do que é torpe, sujo, grosseiro, mas do que é cristalino, para que dure e contribua para uma felicidade perfeita.
No Ocidente é a rosa quem nos fala do poder criador que vem de Deus e para Deus nos desperta, pois somos seus filhos e andamos na Terra em busca de graduação para experiência nos domínios do terreno. Só estaremos graduados como Deuses quando tivermos aprendido as lições que a Terra nos reserva.
O lodo em que o golfão vive fala-nos da queda do Homem, os Espíritos Virginais, sem experiência, inocentes, no pântano dos desejos que nos amarraram à Terra. A terra em que a roseira encaminha as suas raízes não tem o aspecto repugnante do lodo, nem o seu nauseante e doentio cheiro; e não se eleva na água estagnada mas no ar impregnado de oxigénio, o que alimenta o fogo. Todavia o seu corpo está eriçado de espinhos ameaçadores! Assim a roseira nos fala do Homem, dominado pelos instintos e levado por eles cria responsabilidades que não o deixam ser feliz, pois tem de esperar sempre pelo resultado das suas acções. E como a maior parte delas é má, porque feriram os outros, os seus frutos estão simbolizados nos espinhos da roseira, prontos para ferirem. Porém quando chega a altura de se reproduzir, a roseira dá-nos a sua flor, bela na forma, na cor e no perfume; e na sua corola mostra-nos como o acto da reprodução deve ser praticado com simplicidade e pureza, pois vemos como os estames elaboram o pólen, elemento fecundante masculino, e como os pistilos se erguem e aprontam para receber e conduzir ao gineceu o elemento fecundante. Tudo no meio de grande alegria e felicidade que emergem da beleza das formas, das suas cores e perfumes!
Por esta razão, inconscientemente, as rosas são levadas ao matrimónio dos seres humanos. E quando a cerimónia termina cobrem-se os noivos com pétalas de rosas, para lhes recordar a lição da roseira e do lótus, que após o acto reprodutor deixam murchar as suas pétalas, que caiem, para que toda a vitalidade se concentre nos órgãos genitais com o fim de produzirem a sua reprodução.
Mas todos gostam das flores e as usam no casamento, sem saberem ler a sua mensagem de ternura e amor imaculados!
A ignorância só enfraquece; a sabedoria fortifica, prepara-nos para a vida.
Falta aos seres humanos uma preparação para o casamento! Por isso a maioria esmagadora dos casais são infelizes, muitos adoecem e morrem, ou se desfazem, pois foram mal organizados.
Só deve falar do casamento quem sabe, pelo que estudou e pelo que viveu, para com maior segurança encaminhar outros.
São muitos os livros sobre a vida sexual, mas poucos os que são dignos de confiança, porque aos seus autores nem sempre a ciência e a moral lhes deram apoio, mas apenas a morbidez contagiosa e o desejo de dinheiro os moveram a produzir tais obras, que fazem maior mal que bem.
É necessário que as pessoas que falem do problema sexual não corem ao abordá-lo, pois se o sangue lhes aflora ao rosto é sinal inequívoco de que as suas consciências os acusam de mal usar o poder criador, e tais condições não são as necessárias a quem há-de falar do mistério do sexo.
A rosa fala-nos do desenvolvimento espiritual, e este sempre nos dá um coração puro e mente sã.
Os cristãos viram sempre na rosa o símbolo do amor, da virtude e da compaixão.
A rosa simboliza o estado de perfeição que o ser humano há-de alcançar quando tiver o seu próprio sangue liberto de todo o desejo impuro, for casto, análogo a Cristo.
Por este motivo a Rosa e a Cruz são o símbolo da mais elevada Iniciação.
Nos antigos mistérios do Egipto a rosa era consagrada a Isis, a Lua, que é a condutora dos processos de reprodução, tanto através do sexo como do intelecto, e por isso a rosa foi um emblema importantíssimo naqueles mistérios cheios de sabedoria, tanto sob o ponto de vista místico-hermético, como na tradição Rosacruz.
Francisco Marques Rodrigues.
"Revista "Rosacruz"

A experiencia Mística.


O tema da experiência mística é abordado na obra “A Dança da Vida” do psicólogo Havelock Ellis. A experiência mística é apreciada como uma extensão temporária da consciência a valores universais. Em determinado momento é estabelecida uma relação singular entre as chamadas vidas interna e externa.
Aquilo que é real, geralmente esquecido ou ignorado, assume o primeiro plano na relação figura e fundo, enquanto que o irreal é visualizado claramente como mera ilusão.
A maioria das pessoas passa pela existência sem jamais vislumbrar o real significado da vida. Flutuam como folhas ao vento na atmosfera da existência fenomenal, definindo a vida como um mero conjunto de rotinas de subsistência, como comer, dormir e trabalhar, ignorando seu próprio self.
O mundo externo, com suas ocupações e responsabilidades, parece muito próximo e muito real enquanto a placidez da esfera dos sábios, parece muito distante e inacessível. A experiência mística mostra o erro deste ponto de vista. Na realidade a paz da vida interna se revela mais próxima que o próprio hálito, enquanto o mundo é vislumbrado mais longe.
Através da experiência mística velhos padrões de percepção e compreensão são ultrapassados. A vida interior desponta vitoriosamente acima dos preconceitos , da ansiedade e da dúvida, revelando a imanência da vida, da lei e do amor.
Segundo Manly P. Hall, “Nenhum conhecimento é importante em si mesmo, porém é importante em relação às inferências que podem advir através dele. Todas as artes e ciências são portais para o templo do cosmos, portas para a casa do verdadeiro ensino. Cada arte e ciência conduz ao fim à Deus.” A experiência mística reúne o que o homem sabe e constrói o que ele é. É a aquisição que resulta da destilação final da experiência. É o momento da iluminação que faculta a todas as coisas um significado .
A experiência mística é o meio através da qual a mais alta forma do saber chega aos humanos, não o saber exterior, produto da mente alheia, mas aquele que emana da fonte de sabedoria infinita que irrompe, naturalmente, em seu interior, e que o guiará e o ensinará sempre que for capaz de sintonizar-se com ele. Tal saber é chamado Voz do Silêncio, ou a Voz de Deus, que fala na placidez de uma consciência, voz que tudo sabe e que realmente ensina, timão seguro para todas as horas e em todas as tempestades. Através desta Voz , Jacob Boheme, o humilde sapateiro foi iluminado pela consciência divina.
A mitologia nos mostra os semideuses como seres mistos, humano e divinos, fruto da união entre seres humanos e seres divinos, ou seja entre mortais e imortais. Tais figuras ilustram o ser humano, com todos os seus atributos humanos, com todas as suas virtudes e defeitos se relacionando com a sua contraparte divina, sempre presente e todavia desconhecida.
A verdade é insofismável, todavia não pode ser dita . Ultrapassa, escapa a demarcação da linguagem, o campo das representações. Por isso Pilatos, a mente concreta, diante de Cristo, ao indagar o que era a Verdade, não recebeu nenhuma resposta. A Verdade ultrapassa o campo das representações.
É importante ressaltar que “um místico não pode ser aquilatado simplesmente pelo número de livros que tenha escrito ou pelas instituições que tenha representado como dirigente.Um místico só pode ser avaliado pela intensidade da iluminação que tenha projetado no caminho da humanidade. Buda, Jesus e Muhammad nunca escreveram nada “.(KA)
O místico torna-se alegoricamente o cálice do Graal, um receptáculo de forças ordinariamente consideradas sobrenaturais. Como Jesus será tentado e à medida que renuncie a efêmera glória material pelo serviço amoroso e desinteressado pela humanidade, torna-se um instrumento eficaz de mediação da Hierarquia Espiritual.
A Dança da Vida.Havelock Ellis.

Saudade.


Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que
não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu,
do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida
é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem
se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade,
mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem
vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se
menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe
como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando
num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa
daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista
como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa
daquela mania de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald’s;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer
com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas
que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor
de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro,
e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz,
e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos.
É não querer saber se ele está mais magro,
se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama,
e ainda assim doer…
Saudade é isso que senti
enquanto estive escrevendo
e o que você, provavelmente, está sentindo
agora depois que acabou de ler.
Miguel Falabella.