sábado, 3 de julho de 2010

O Cavaleiro do Cisne.


Entre as óperas de Wagner, talvez nenhuma seja tão universalmente apreciada pela maioria das pessoas do que Lohengrin. Provavelmente porque a história, numa apreciação superficial, pareça muito simples e bonita. A música é de um caráter primoroso e incomum, agradando a todos de um modo não igualado pelas outras óperas do mesmo autor baseadas em mitos como Parsifal, o Anel do Niebelungo ou mesmo Tannhauser.
Apesar dessas obras afetarem poderosamente as pessoas que as ouvem pelo seu conteúdo espiritual (estejam conscientes ou não do fato), nem sempre são apreciadas, principalmente na América, onde o espírito de misticismo não é tão forte como na Europa.
É diferente com Lohengrin. Aqui há uma história do tempo em que a classe de cavaleiros florescia e, embora haja um encanto mágico na chegada de Lohengrin e do cisne em resposta às preces de Elsa, isto é apenas uma linda fantasia poética sem significado mais profundo. Neste mito é revelado um dos supremos requisitos da Iniciação - a fé.
Quem não possuir esta virtude não poderá obter a Iniciação, e quem a possuir verá atenuadas muitas de suas faltas.
O resumo do enredo é o seguinte: o herdeiro do Ducado de Brabant desapareceu. É apenas uma criança e irmão de Elsa, a heroína da peça, que no início da cena é acusada por seus inimigos, Ortrud e Telramund, de ter feito desaparecer esse irmão mais novo para que ela pudesse obter a posse do principado. Em conseqüência, foi intimada a comparecer perante a corte real para defender-se de seus acusadores. Na cena de abertura, nenhum cavaleiro havia ainda aparecido para defender sua causa e matar seus caluniadores. Então, aparece no rio um cisne com um cavaleiro que se aproxima do lugar onde está havendo o julgamento. Ele salta em terra e oferece-se para defender Elsa com a condição de que se casem. Ela logo concorda, pois ele não lhe é estranho; ela o tem visto freqüentemente em seus sonhos e aprendeu a amá-lo. No duelo entre o cavaleiro desconhecido e Telramund, este último é derrubado, mas sua vida é magnanimamente poupada pelo vencedor, que depois reivindica Elsa como sua noiva. Contudo, havia imposto outra condição, isto é, que ela nunca perguntasse quem ele era e de onde viera.
Bom e nobre, e como viera em resposta às suas preces, ela também não faz objeção a esta condição, e o casal se retira para os aposentos nupciais.
Embora temporariamente vencidos, Ortrud e Telramund não desistem da conspiração contra Elsa, e seu próximo passo é envenenar sua mente contra seu nobre protetor, para que ela o mande embora e fique novamente à mercê deles. Esperam, futuramente, ficar de posse do principado do qual Elsa e seu irmão são os legítimos herdeiros. Com este propósito em vista, ambos se apresentam à porta de Elsa e conseguem ser ouvidos por ela. Aparentam estar extremamente arrependidos pelo que fizeram e muito solícitos pelo seu bem-estar. Dizem sentir muito que ela tenha desposado alguém cujo nome nem mesmo sabe, e que tem tanto medo de que sua identidade seja conhecida, que a proibiu de perguntar seu nome, sob pena de ser abandonada por ele.
Argumentam que deve haver alguma coisa em sua vida da qual ele se envergonha, algo que não pode suportar a luz do dia, do contrário, por que desejaria negar a quem uniu-se por toda a vida, o conhecimento de sua identidade e antecedentes?
Por meio destes argumentos eles conseguem suscitar uma dúvida na alma de Elsa que, em seguida, dirige-se transformada para Lohengrin. Ele nota a diferença e pergunta-lhe a causa. Ela admite estar insegura em relação a ele e que gostaria de saber seu nome. Assim, quebrou a promessa feita, e ele lhe diz que agora havendo expressado uma dúvida a seu respeito, ser-lhe-á impossível ficar. Nem lágrimas nem protestos podem mudar esta resolução, e eles vão juntos para o rio onde Lohengrin chama seu fiel cisne. Quando este aparece, ele revela sua identidade dizendo: "Eu sou Lohengrin, o filho de Parsifal". Em seguida, o cisne transforma-se e aparece diante deles como o irmão de Elsa. Torna-se, portanto, seu protetor no lugar de Lohengrin, que se afasta.
Como foi dito, a história de Lohengrin contém uma das mais importantes lições a serem aprendidas no caminho da realização. Ninguém poderá jamais alcançar a Iniciação até que tenha aprendido isto. Para que possamos entender devidamente este ponto, olhemos primeiramente para o símbolo do cisne, vejamos o que ele representa e por que é usado. Os que assistiram a ópera Parsifal, ou que tenham lido atentamente a literatura sobre o Graal, já estão cientes do fato de que os cisnes estavam presentes nos emblemas usados por todos Cavaleiros do Graal.
Na própria ópera, são mencionados dois cisnes preparando um banho curativo para o sofredor Rei Amfortas Parsifal é mostrado matando um destes cisnes, e os Cavaleiros do Graal manifestam uma grande tristeza por esta crueldade não justificada.
O cisne é capaz de movimentar-se em vários elementos. Pode voar com grande ligeireza; também desliza majestosamente sobre a água; e, com seu longo pescoço, pode explorar profundidades e investigar o que pode ser encontrado no fundo de um lago não muito profundo. É o símbolo apropriado para o Iniciado que, em virtude do poder desenvolvido internamente, é capaz de elevar-se aos reinos superiores e movimentar-se em mundos diferentes. Assim como o cisne voa pelo espaço, da mesma forma alguém que tenha desenvolvido os poderes de seu corpo-alma, pode viajar por cima das montanhas e lagos; assim como o cisne mergulha abaixo da superfície da água, também o Iniciado pode ir abaixo da superfície do oceano, em seu corpo-alma, pois não está exposto aos perigos do fogo, da terra, do ar, ou da água. Na verdade, este é um dos primeiros ensinamentos mostrados aos Auxiliares Invisíveis e por isso quando se revestem com o Dourado Manto Nupcial, sobre o qual muito temos falado, estão imunes a qualquer perigo que possa atingi-los no corpo denso. Podem entrar num edifício em chamas para ajudar os que estão em perigo, algumas vezes de maneira miraculosa; ou podem estar a bordo de um navio que está naufragando para encorajar aqueles que estão próximos a enfrentar a grande mudança.
A antiga mitologia nórdica descreve como os nobres guerreiros de então entoavam seu canto de cisne quando, tendo guerreado, eram finalmente derrotados ou mortalmente feridos. Mas não pensemos que isto significava apenas a luta brutal travada no campo de batalha com espada e lança. Simbolizava, principalmente, a luta interna, o significado oculto, a luta de uma nobre alma na batalha da vida cantando seu canto de cisne, quando alcançava o que era possível nessa época, isto é, após ter feito seu juramento de Iniciação, tornar-se capaz de entrar em outro reino para lá ajudar outros como os havia ajudado aqui. Foi sempre o sagrado dever de um cavaleiro nobre socorrer os fracos e os oprimidos.
Elsa é filha de um rei. Portanto, é da mais alta e nobre linhagem. Ninguém que não seja tão bem-nascido pode exigir os serviços de um cavaleiro como Lohengrin. Isto quer dizer, naturalmente, que não há na humanidade nem superiores nem inferiores, a não ser na escala da evolução. Quando uma alma já passou por vários estágios da vida, quando já cursou a escola em muitos renascimentos, gradualmente adquire essa nobreza que se origina do aprendizado das lições e do trabalho executado, segundo as linhas estabelecidas pelos Mestres, nossos Irmãos Maiores, que estão agora a ensinar-nos as lições da vida. A nobreza conseguida pelo anseio de praticar boas ações em favor dos nossos companheiros menos desenvolvidos, é a chave para obtermos a sua preferência. Vimos que quando Elsa estava em perigo, foi-lhe enviada uma alma nobre para ensiná-la e guiá-la.
No Livro da Revelação lemos sobre o casamento místico da Noiva e do Cordeiro. Esse enlace existe na experiência de cada alma e sempre sob as mesmas circunstâncias. Um dos primeiros requisitos é que a alma tenha sido abandonada por todos os demais: deve estar sozinha, sem nenhum amigo no mundo. Quando este ponto for atingido, quando a alma não conta com nenhum socorro de origem terrena, quando se volta com todo seu coração para o céu e reza pela libertação, então, chega o libertador e também o pedido de casamento. Em outras palavras, o verdadeiro Mestre sempre vem em resposta às preces sinceras do aspirante, mas não antes que este tenha abandonado o mundo e tenha sido abandonado por ele. O Mestre se oferece para cuidar daquele que anseia por um guia e, imediatamente, vence a mentira com a espada da verdade, mas, tendo dado esta prova, exige doravante uma fé absoluta e inquestionável. Lembre-se por favor - deixe que isto fique gravado em sua mente, com letras de fogo e no mais íntimo do seu ser. Quando o Mestre vem, em resposta às orações do aspirante (que não devem ser apenas palavras mas uma vida de aspiração), é-lhe dada a prova indubitável e inquestionável do poder e habilidade do Mestre para ensiná-lo, guiá-lo e ajudá-lo. Daí para a frente, é exigido que haja fé absoluta nEle, do contrário, torna-se-Lhe impossível trabalhar com o aspirante.
Esta é a grande lição ensinada por Lohengrin e tem em si uma suprema importância. Há, atualmente, milhares de pessoas andando pelas ruas de muitas cidades, olhando para lá e para cá, procurando um Mestre. Alguns pretendem tê-lo encontrado ou iludem-se com essa crença: mas a exigência que é enunciada em Lohengrin é um requisito verdadeiro. O Mestre deve, quer e prova sua, capacidade. Ele é conhecido por seus frutos. Em troca, exige lealdade, e a não ser que esta fé, esta lealdade, esta prontidão em servir, esta disposição para fazer o que for exigido estejam disponíveis no aspirante, o relacionamento estará terminado. Não importa quão amargas sejam as lágrimas de arrependimento que possam ser vertidas no caso do aspirante falhar em sua lealdade para com o Mestre; não importa quão sincero seja seu arrependimento, a próxima oportunidade não virá na sua vida presente.
Portanto, é da máxima importância que aqueles que procuram a Iniciação compreendam que há algo que devem observar no pretenso Mestre, antes de aceitá-lo. Ele deve mostrar os frutos de seu trabalho, pois como Cristo disse "Vós os conhecereis por seus frutos". Isto o autêntico Mestre sempre apresenta sem lhe ser solicitado e sem parecer fazê-lo ou querer apresentar um sinal. Ele sempre apresenta alguma evidência à qual a mente do aspirante pode unir-se, como uma prova indubitável de seu superior conhecimento e habilidade. Quando isto for demonstrado, é absolutamente essencial que o passo seguinte seja a lealdade ao Mestre. Não importa quem diga isto, aquilo, ou qualquer outra coisa, o aspirante não deve se deixar perturbar, mas apegar-se firmemente ao fato provado, aferrar-se ao que acredita ser verdadeiro e apoiar-se fielmente naquele a quem recorre para ensiná-lo, pois, a não ser que essa fé exista, não há razão para continuar o relacionamento.
Entretanto, é muito significativo, como aprendemos na cena final, que o irmão de Elsa fosse o próprio cisne que levou Lohengrin até sua irmã, e que voltou à sua forma natural quando Lohengrin partiu. Havia passado pela Iniciação. Sem dúvida, ele sabia da situação angustiante de sua irmã, e como uma alma avançada e versada nestes assuntos, compreendia a luta dos outros. Mas, embora visse o dilema desta aspirante sincera ou alma irmã, não teve medo, pois, não foi ele o agente que trouxe o auxílio que ela poderia ter tido permanentemente, se tivesse sido tão fiel como ele o foi?
Max Heindel.

O Crepúsculo dos Deuses.


Quando Siegfried chega à corte de Gunther, Gutrune, a formosa irmã do rei oferece-lhe a taça mágica do esquecimento. Imediatamente ele perde a memória do passado e de Brunilda, o Espírito da Verdade, tornando-se uma alma nua, pronta para lutar a batalha da vida. Mas ele está armado com a sublime essência da experiência anterior. A espada de Nothung, a coragem do desespero, com a qual combateu a ganância e a crença simbolizadas por Fafner, o dragão, e Wotan, o deus, ainda está com ele; também está com Tarncap, ou o capacete da ilusão, que é um símbolo apropriado para o que nos tempos modernos chamamos de poder hipnótico, pois, aquele que colocasse este capacete mágico em sua cabeça apareceria aos outros em qualquer forma que desejasse. E possui ainda o cavalo de Brunilda, Grane, o discernimento, pelo qual ele próprio pode perceber a verdade e distingui-la do erro e da ilusão. Tem ainda poderes que pode usar para o bem ou para o mal, de acordo com a escolha que fizer.
Como já dissemos anteriormente, nossa idéia do que é a verdade muda à medida que progredimos. Gradativamente estamos galgando a trilha da evolução e, ao fazê-lo, fases da verdade antes nunca percebidas aparecem, e o que nos parecia correto num estágio, pode ser errado em outro. Contudo, toda vez que estamos na carne, vemos através do véu da ilusão simbolizado pela chama de Loge que circunda a rocha de Brunilda. Seu corcel Grane, o discernimento, também está conosco, e se lhe dermos rédea solta, a mente do cérebro material que está impregnada com a bebida letal do esquecimento, nunca poderá ganhar ascendência sobre o Espírito.
A primitiva Época Atlante, quando os homens viviam como inocentes "Filhos da Névoa" (Niebelungos) nas bacias nebulosas da Terra, está representada no Ouro do Reno. O último período Atlante é uma época de selvageria, onde a humanidade renega o amor, como fez Albérico, e forma o "Anel" do egoísmo, empregando suas energias para aquisições materiais simbolizadas pelo "tesouro" dos Niebelungos, pelo qual gigantes, deuses e homens lutam com brutalidade selvagem e vil astúcia, como é representado em "As Valquírias".
A primitiva Época Ária marca o nascimento do idealista, simbolizado pelos "Walsungs" (Siegmund, Sieglinda e Siegfried), uma nova raça que aspira, com sagrado ardor, algo novo e mais elevado - cavaleiros valorosos com coragem de manter suas convicções - estando sempre prontos para lutar pela verdade tal como eles a entendiam, e para dar suas vidas como penhor na defesa de suas sinceras convicções. Assim, a idade da selvageria realista deu lugar a uma era de bravura idealista.
Estamos agora na última fase da Época Ária. Os que procuravam a verdade do passado deixaram mais uma vez a rocha flamejante de Brunilda. Novamente assumimos o véu da carne e compartilhamos da bebida letal. Hoje estamos verdadeiramente participando da última parte do grande drama épico "O Crepúsculo dos Deuses", idêntico em importância ao nosso Apocalipse Cristão. "O Evangelho do Reino" nos tem sido pregado; "O Caminho, a Verdade e a Vida" nos foram abertos do mesmo modo que o foram para Siegfried. Estamos sendo provados agora, como ele o foi na corte de Gunther, para ver se viveremos como "casados com a verdade", ou se a tiraremos de seu refúgio e a prostituiremos, como fez Siegfried. Para ganhar a mão de Gutrune, ele arrebatou da mão de Brunilda o emblema do egoísmo, o Anel do Niebelungo, e colocou-o novamente em seu dedo; prendeu Gutrune e levou-a até Gunther para ser sua esposa. Ele a prostituiu e ele próprio cometeu adultério com Gutrune - pois, tendo uma vez desposado a verdade, é adultério espiritual ambicionar as honras do mundo.
Céu e Terra foram ultrajados por esta tremenda traição à verdade. O grande mundo "Ash", a árvore da vida e do ser, treme em suas raízes, onde Urd, Skuld e Verdende, o passado, o presente e o futuro tecem o fio do destino. Começa a escurecer na Terra; a lança de Hagen encontra o único ponto vulnerável do corpo de Siegfried - sua vida é o castigo, e como o mais alto ideal da época fracassou, não há razão para perpetuar a ordem das coisas existentes. Portanto, Heimdal, o guardião celestial, toca seu clarim e os deuses cavalgam pela última vez em procissão solene pela ponte do arco-íris para enfrentar os gigantes na batalha final, envolvendo a destruição do Céu e da Terra.
Este é um ponto muito significativo, pois na abertura do drama encontramos os Niebelungos "no fundo do rio". Mais tarde, Albérico molda o "Anel" em fogo, que só pode arder na atmosfera límpida como a da Época Ária. Nessa época, os deuses também celebraram suas reuniões sagradas na ponte do arco-íris, que é o reflexo do fogo celestial. Quando Noé conduziu os Semitas originais através do "Dilúvio", ele acendeu o primeiro fogo. "O arco" foi, então, colocado nas nuvens para permanecer por toda a época e, durante esse período, ficou convencionado que os ciclos alternantes, verão e inverno, dia e noite, etc., não cessariam. No Apocalipse (IV: 3), João recebeu instruções referentes às "coisas que virão", por "Alguém que tenha um arco-íris em redor de Si"; e mais tarde (X: 1) "um Anjo poderoso, com um arco-íris em sua cabeça proclamará solenemente o fim dos tempos". Está claro pelo mito nórdico e pelos ensinamentos Cristãos, que a época começou quando o arco foi colocado nas nuvens. Quando o arco for removido, a época terminará e novas condições físicas e espirituais surgirão.
O outro fenômeno acompanhando esta época conturbada é apresentado no antigo mito. Loge, o espírito da ilusão, tem três filhos: a serpente Midgaard - que rodeia a Terra mordendo sua própria cauda - é o elemento aquoso, o oceano que refrata e distorce todo objeto nele mergulhado. Os homens temem este elemento traiçoeiro; sempre empalidecem ao pensar no que pode acontecer quando revolto. O lobo Fenris - a atmosfera - também é filho da ilusão (óptica), e o pavoroso rugir da tempestade pode incutir medo no mais destemido coração. Hel - a morte - é a terceira filha de Loge e "a rainha dos terrores". Antes do homem entrar na existência concreta, como está descrito no começo do grande mito e no Gênesis, sua consciência estava focalizada nos mundos espirituais, onde os elementos ilusórios, Loge (fogo), Fenris (ar), e a Serpente (água) inexistem, portanto, a morte também era desconhecida. Mas, durante a presente época, quando a constituição do corpo humano está sujeita à ação dos elementos, a morte física é uma realidade.
Ao som da trombeta de Heimdal, todos os fatores de destruição atacam a planície de Bigrid, a contra-parte de Armageddon, onde os deuses da crença e seus defensores estavam reunidos para uma última pausa. Os filhos de Muspel (o fogo físico) vindos do sul, atacam demolindo a ponte do arco-íris. Os Gigantes de Gelo avançam vindos do norte. Com um grande rugido, Fenris, a atmosfera condutora da tempestade, lança-se sobre a Terra. Sua velocidade é tão terrível que a fricção gera fogo, pelo que se diz que sua mandíbula inferior está sobre a Terra, a superior alcança o Sol e que de suas narinas saem correntes de fogo. Engole Wotan, o deus que é responsável pela idade do ar, quando o arco estava nas nuvens. A serpente Midgaard, ou elemento aquoso, é vencida por Thor, o deus do raio e do trovão, mas quando as descargas elétricas finalmente acabarem com o elemento água, não poderá mais haver raio e trovão; daí o mito nórdico informar-nos que Thor morre pelos vapores que vêm da serpente. No nosso Apocalipse Cristão, também se fala em relâmpagos e trovões e nos é dito que, finalmente, "não haverá mais mar".
Mas, como a Fenix ressurge rejuvenescida e formosa de suas próprias cinzas, assim também uma nova Terra, visualizada pela antiga profetiza, ressurgirá da grande conflagração, mais bela e mais etérica, onde "os elementos derretem-se com o calor ardente". Ela chamou essa Terra de "Gimle", onde não faltaram habitantes, pois, enquanto a grande conflagração acontecia, um homem e uma mulher chamados Lif e Liftharaser (lif significa vida) foram salvos, e deles surge uma nova raça que vive em paz e perto de Deus.

"Um vestíbulo eu vejo,
mais brilhante que o Sol,
Com ouro revestido,
No cume de Gimle,
Lá viverá
Uma raça virtuosa e, na verdade,
Abençoada será
Até a eternidade.
"Dela vem o Onipotente - o Todo - o Pai,
Para a reunião dos deuses,
Na Sua força que do alto vem.
Ele, que por todos pensa bem,
Emite opiniões, sabe julgar;
Com as desavenças consegue acabar,
A paz estabelecer
E para sempre durar".
O antigo mito nórdico ensina, mas por um ângulo diferente, as mesmas verdades encontradas em maior plenitude nas Escrituras Cristãs, desde o Gênesis até o Apocalipse, e é importante que percebamos a verdade destes contos. Infelizmente, há muitos no grupo descrito por Pedro que dizem: "Onde está a promessa de Sua vinda? Desde que os antepassados adormeceram, todas as coisas continuam como eram no princípio". Há poucos que compreendem a importância da afirmação no segundo capítulo do Gênesis, de que "uma névoa elevou-se do solo e molhou a terra antes que chovesse", e que, portanto, os filhos da névoa devem ter sido fisiologicamente diferentes dos homens de hoje, que respiram ar desde "o dilúvio", quando a névoa condensou-se e tornou-se mar. Mas, com a mesma certeza de que ocorreram essas mudanças no passado, assim também estamos na iminência de novas mudanças. É verdade que poderá não acontecer em nossos tempos - "essa hora não a conhece o homem, nem os Anjos, nem o Filho" - e, repetidamente, o aviso de Noé é-nos apresentado nesta passagem. Naquele dia, eles comeram e beberam, casaram e foram dados em matrimônio, mas, subitamente, as águas os envolveram e todos os que não haviam desenvolvido os requisitos fisiológicos, pulmões, necessários para viver na nova condição, pereceram. A Arca conduziu os pioneiros em segurança através da catástrofe.
Para que a próxima transformação ocorra em segurança, é necessário tecer o Dourado Manto Nupcial, e é de suma importância que trabalhemos para isso. A mesma soma psuchicon ou "corpo-alma" mencionado por Paulo (I Cor. XV: 44), é um veículo etérico de primordial importância, pois, quando os elementos atuais forem dissolvidos na transformação iminente, como poderemos sobreviver se pudermos funcionar, como agora, apenas num corpo denso?
A raça Germano-Anglo-Saxônica será, com certeza, sucedida por mais duas outras, antes que a Sexta Época seja definitivamente introduzida, mas hoje, e proveniente da nossa estirpe, está sendo preparada a semente para a Nova Era. É exatamente a missão da Ordem Rosacruz, trabalhando através da Fraternidade Rosacruz, propagar um método científico de desenvolvimento, adequado especialmente para os povos ocidentais, pelo qual este Manto Nupcial poderá ser tecido, para que possamos apressar o dia do Senhor.Max Heindel.

MISTÉRIOS DAS GRANDES ÓPERAS.


O Anel dos Deuses
Ao apropriar-se de uma parte do ouro do Reno, que representa o Espírito Universal, e transformando-o em um anel, simbolizando que o Espírito não tem princípio nem fim, o Ego veio à existência como uma entidade separada. Dentro dos limites deste anel áurico, ele é regente supremo, auto-suficiente, ressentindo-se de qualquer intromissão em seus domínios. Assim, ele se coloca além do âmbito da fraternidade. A parábola do filho pródigo diz-nos que ele vagueou para longe do Pai, mas, mesmo antes de perceber que estava se alimentando dos resíduos da matéria, a religião surgiu para guiá-lo de volta ao seu lar eterno, para libertá-lo da ilusão e da desilusão próprias da existência material, para redimi-lo da morte que ocorre nesta fase da incorporação densa, e mostrar-lhe o caminho para a verdade e para a vida eterna.
No mito teutônico, as sentinelas da religião são representadas como deuses. Seu chefe é Wotan, que é idêntico ao Mercúrio latino, e Wotansday (dia de Wotan), ou Wednesday (quarta-feira) é assim chamado em sua honra. Freya, a Vênus da Noruega, era a deusa da beleza, que alimentava os outros deuses com maçãs douradas que preservavam-lhes a juventude. Friday (sexta-feira) é seu dia. Thor, o Júpiter dos escandinavos, dirige seu carro pelos céus e o barulho que se ouve é o trovão, e o relâmpago são as faíscas que voam de seu martelo quando golpeia seus inimigos. Loge é o nome do deus de Sábado. (Lorday em escandinavo, um derivado de lue que é o nome escandinavo para chama) Ele não é propriamente um dos deuses, mas é relacionado com os gigantes ou forças da natureza. Sua chama não é apenas a chama física, mas é também o símbolo da ilusão, e ele próprio é o espírito da fraude, às vezes, conseguindo os favores dos deuses e traindo os gigantes, outras vezes, enganando os deuses e ajudando os gigantes para favorecer seus próprios planos. Como Lúcifer, o flamejante Espírito de Marte, ele também é um espírito de negação, e alegra-se em obstruir a vida como o frio Saturno.
Há na mitologia nórdica uma referência a um culto ainda mais antigo, no qual as divindades da água eram adoradas, mas os deuses que mencionamos as substituíram, e diz-se que cavalgavam para o lugar do julgamento, todos os dias, sobre uma ponte de arco-íris, Bifrost. Assim, vemos que esta religião data do alvorecer da época presente, quando a humanidade emergiu das águas de Atlântida para a clara atmosfera de Ariana - na qual estamos vivendo agora - e onde contemplou o arco-íris pela primeira vez.
Foi dito a Noé, quando ele guiou a humanidade primitiva afastando-a do dilúvio, que, enquanto o sinal do arco-íris permanecesse nas nuvens, os ciclos alternantes de verão e inverno, noite e dia, não cessariam. O mito nórdico também nos mostra os deuses reunidos na ponte do arco-íris no princípio desta era. Ele e os deuses permanecerão até o momento em que termine esta fase de nossa evolução, um acontecimento que será mostrado para ser idêntico à descrição dada no Apocalipse Cristão e que o mito escandinavo ajudará a explicar.
A verdade é universal e ilimitada. Não conhece fronteiras, mas, quando o Ego envolveu-se num anel de veículos separados que segregou, o dos outros, esta limitação tornou-o incapaz de compreender a verdade absoluta. Portanto, uma religião incorporando a plenitude da verdade pura teria sido incompreensível para a humanidade e inadequada para ajudá-la. Como uma criança que vai para a escola e aprende algumas lições elementares no primeiro ano, preparando-se para enfrentar problemas mais complicados no futuro, assim foram dadas à humanidade religiões da mais primitiva natureza, a fim de educá-la para algo mais elevado através de estágios gradualmente fáceis.
Desta maneira, os sentinelas da religião, os deuses, são representados como desejosos de construir uma fortaleza murada para que possam entrincheirar-se por detrás dessa barreira e concentrar seus poderes contra a outra fé. O Espírito não pode ser limitado sem enredar-se no materialismo; portanto, os deuses, aconselhados por Loge, o espírito da fraude e da desilusão, fazem um pacto com os gigantes, Fafner e Fasolt (representando o egoísmo) para construir a muralha da limitação. Quando essa muralha cerca os deuses, eles perdem a luz universal e o conhecimento; em conseqüência, o mito deseja que parte do pagamento para os construtores do Valhal, sejam o Sol e a Lua.
Além disso, quando a religião limitou-se a ficar por detrás da muralha da crença, o espírito do declínio é apresentado; envelhece como uma vestimenta. Diz-se que Wotan (sabedoria ou razão), concordou em dar Freya, a deusa da beleza, aos gigantes, pois ela alimentava os deuses com suas maçãs douradas para preservar-lhes a juventude. Seguindo o conselho de Loge, o espírito da fraude, os deuses sacrificaram sua luz e seu conhecimento pela esperança da vantagem de uma eterna juventude. Como já foi dito, este procedimento era de certo modo necessário, senão a humanidade não poderia ter alcançado a verdade em sua plenitude, embora nós não possamos entendê-la, nem mesmo agora.
O poder espiritual da religião é simbolizado pela vara mágica de Arão na Bíblia, pela lança de Parsifal. no mito do Graal, e pela lança de Wotan na história dos Niebelungos. Para firmar o pacto com os gigantes, caracteres mágicos foram talhados no cabo da lança, que assim ficou enfraquecida e, deste modo, fica demonstrado que a religião perde em poder espiritual o que ganha em aspecto material, quando faz um pacto com os governantes do mundo e estabelece intrigas satisfazendo os mais baixos anseios.
De acordo com os ensinamentos dos nórdicos, apenas os que morriam combatendo adquiriam o direito de serem conduzidos ao Valhal. Wotan nada deseja, a não ser guerreiros fortes e poderosos. Os que morriam de enfermidades ou em paz em seus leitos eram condenados ao reino do inferno, o submundo. Isto também encerra uma grande lição, pois ninguém, a não ser os persistentes e os destemidos, que passam seus dias lutando a batalha da vida até o último alento, são dignos de progresso. Os ociosos, que preferem a comodidade e a paz ao trabalho do mundo, não têm direito à promoção na escola da vida. Não importa onde trabalhemos ou qual seja a linha de nossa experiência, é imprescindível que batalhemos fielmente com os problemas da vida conforme eles se nos apresentam. Também não basta que o façamos por um ano ou dois e depois voltemos à inatividade; devemos continuar trabalhando e esforçando-nos até o fim da vida.
Assim, a velha religião nórdica ensina a mesma lição transmitida por Paulo quando aconselhou "paciente perseverança em fazer o bem". Mesmo que compreendamos que não possuímos toda a verdade, mesmo que estejamos limitados pela separatividade - o egoísmo simbolizado pelo Anel de Niebelungo e por credos e convenções representados pelo Anel dos deuses - ainda assim, se cumprirmos nossa tarefa específica com o melhor de nossa capacidade através de toda nossa vida, temos a certeza de. estarmos em direção ao progresso numa era futura. Veremos mais claramente quando eliminarmos o véu do egoísmo; quando, com boa vontade, vivermos a vida aonde fomos colocados, pois os Anjos do Destino não cometem erros. Eles colocaram-nos no lugar onde devemos receber as lições necessárias e assim preparar-nos para uma esfera mais elevada e útil.
É evidente que a condição limitada da crença ditada pelas várias igrejas - a insistência sobre dogmas e rituais - não é o mal maior, como deve ter parecido a muitos. Na realidade, a necessária conseqüência das limitações que incidem sobre a existência material, através da qual o Espírito humano está agora passando, é que deve ser devidamente cuidada. Que o Espírito adquira tanta verdade quanto possa compreender e que ela seja benéfica para seu presente desenvolvimento. Não há necessidade de uma maior preocupação, pois ninguém ficará perdido. "Como em Deus vivemos, nos movemos e temos nosso ser", se alguém ficasse perdido, uma parte do Divino Autor do nosso sistema estaria também perdida, e esta é uma proposição inconcebível.
Mas, enquanto a maioria da humanidade está sendo orientada pelas religiões ortodoxas, há sempre alguns pioneiros - alguns cuja faculdade intuitiva fala-lhes de maiores alturas ainda não escaladas - que enxergam a luz do sol da verdade além da muralha do credo. Suas almas estão enfraquecidas pelos dogmas, e anseiam ardentemente pelo amor e pelas maçãs da juventude vendidas pelos deuses aos gigantes. Mesmo os deuses estão envelhecendo rapidamente, pois nenhuma religião que seja destituída de amor pode esperar reter a humanidade por qualquer período de tempo. Em conseqüência, os deuses foram forçados a procurar novamente os conselhos de Loge, o espírito da fraude, esperando que sua astúcia os libertasse dos dilemas. Loge conta-lhes como Albérico, o Niebelungo, conseguiu acumular um imenso tesouro escravizando seus irmãos. Com o consentimento dos deuses, ele usa de meios fraudulentos para capturar Albérico e força-o a restituir todos seus tesouros. Depois, aproveita-se da natureza avarenta dos gigantes e finalmente consegue resgatar Freya.
Assim, a maldição do Anel (egocentrismo e egoísmo) maculou até mesmo os deuses. Por causa do Anel (poder), Albérico, o Niebelungo, rejeitou o amor. Oprimiu seus irmãos e governou-os com disciplina férrea. A religião, por seu lado, renegou o amor vendendo Freya e enganando, aviltou-se para forçar os governantes do mundo a pagar tributo. Quando o Anel dos Niebelungos passou às mãos dos gigantes, o mau destino o acompanhou, pois um irmão mata o outro para ser o único possuidor das riquezas do mundo.
Os deuses, na verdade, resgataram Freya, mas ela não é mais a pura deusa do amor. Foi prostituída; portanto, ela é apenas a imagem do que foi, e não consegue satisfazer aqueles cuja intuição vêem além da aparência.
Na mitologia escandinava estes são chamados Walsungs. A primeira sílaba é derivada da palavra alemã wahlen, escolher, ou da escandinava vaelge. A última sílaba significa filhos. Eles são filhos do desejo por livre vontade e escolha, e querem escolher seu próprio caminho procurando seguir sua intuição divina.Max Heindel.