sexta-feira, 1 de abril de 2011
Nós e a Lua.
Foi das fases e dos aspectos da Lua que veio outrora o costume de medir o tempo por meses e semanas de sete dias. Por isso, as fases da lua constituíram a primeira medida de tempo. Não havia no céu sinal algum cujas diferenças, alternativas e épocas fossem mais notáveis do que estas. As famílias reuniam-se no prazo convencionado por algumas das fases da Lua. Era ela que regulava as reuniões públicas, os sacrifícios e cerimónias. As Luas Novas que coincidiam com os começos das quatro estações deram origem às festas mais solenes. É esta a origem das “têmporas” da Igreja. Os Orientais também observavam estes uso, entre eles os Caldeus, os Egípcios, os Judeus, os Persas e os Gregos.
A influência da Lua não se resume apenas ao calendário dos actos públicos ou religiosos. É visível no comportamento dos seres vivos. Sabe-se que, em linhas gerais, as plantas que dão flores e frutos devem ser plantadas no quarto crescente. As que dão fruto debaixo da terra crescem melhor quando plantadas no quarto minguante. Lá diz o ditado “Lua Nova, muita rama e pouca abóbora”. Não é superstição. Frank Brown e Emma Terraci observaram a existência de ciclos lunares no consumo de oxigénio em batatas, cenouras, feijoeiros e nos “hamsters”. O desenvolvimento do plancton e das algas, durante a Lua Nova, é outra evidência da influência lunar nos organismos vivos.
A influência da Lua não se fica por aqui. Actua da mesma forma nos seres humanos. As descobertas da ciência moderna reforçam a ideia da existência de forças cósmicas que influenciam incessantemente o comportamento humano. E de todas essas forças a mais notável é a lunar. Os ritmos diários do organismo, como o adormecer e o acordar estão associados à Lua1. Num hospital norte-americano — conta um médico psiquiatra — era costume, até 1808, bater nos doentes mentais à aproximação das fases lunares. O objectivo era antecipar as crises. E quem não ouviu já falar de Jack, o Estripador, que atacava sinistramente em Londres, nas noites de Lua Cheia? E no “Estripador de Lisboa” que entre 31 de Julho de 1992 e 15 de Março de 1993 chocou a opinião pública com os assassínios em série, incluindo mutilação das vítimas do submundo da capital, atacava sempre durante o quarto crescente.2
Como é Em Cima é Em Baixo.
O organismo humano tem cerca de três quartos de água e um quarto de minerais, orgânicos e inorgânicos. Ora, a Lua age sobre os líquidos do corpo da mesma forma que provoca as marés no oceano e na atmosfera. O corpo funciona como um universo minúsculo. Estas mudanças do meio líquido que banha as células, dando origem a autênticas “marés” no organismo, podem ser causa de modificações do comportamento. Não é que as “marés” do organismo produzam por si só alterações. Mas, em pessoas já predispostas para actos violentos, a “maré alta” pode despoletar a tensão que dá origem a actos violentos irracionais, uma vez que o excesso de água no organismo provoca inchaços e irritabilidade. Um caso muito conhecido no mundo feminino é a “tensão pré-menstrual”. Caracteriza-se por irritabilidade, depressão, inchaço do abdómen, dores de cabeça, etc. A solução aconselhada é, naturalmente, beber menos líquidos e reduzir o sal, para evitar a sua acumulação. As hemorragias são mais abundantes durante a fase de Lua Cheia (ou Lua Nova). Os exemplos não faltam.
Nestas duas fases da Lua aumenta no sangue a quantidade de certas substâncias químicas que aceleram o ritmo do coração. Tudo isto cria condições para que surjam casos de sonambulismo ou perturbações do sono e dos sonhos. O resultado é sempre uma alteração no comportamento das pessoas mais sensíveis.
Ao ritmo biológico da agressividade deve juntar-se o ritmo da sexualidade, já que a agressividade e a sexualidade são impulsos básicos subjacentes à conduta humana e animal. Isto explica por que Jack, o assassino da cidade de Londres, actuava nas noites de Lua Cheia.
Restaurar a União.
Um instrumento importante para restaurar a unidade entre o que está em baixo, e o que está lá em cima, é a oração. Além das têmporas do cristianismo, a que já nos referimos, também alguns místicos judeus3 instituíram a festa da véspera da Lua Nova, chamada Yon Kippur Katon, o pequeno dia da expiação.4
De facto, muitas pessoas admitem estar mais descontraídas e calmas nas fases de Lua Cheia ou Nova e, por isso, consideram-se estas fases excelentes para actividades passivas, como a oração e meditação. Verificou-se já, em laboratório, que durante a Lua Cheia as pessoas eram mais propensas a experimentar faculdades como a precognição ou telepatia.5
Outra arma importante para encontrar a harmonia é o jejum. É particularmente benéfico nesta fase lunar. Além dos benefícios que lhe são atribuídos, contribui para restaurar o equilíbrio quando as tensões começam a acumular-se, durante a Lua Cheia (ou Lua Nova).
É possível evitar-se a utilização de grandes doses de tranquilizantes restaurando simplesmente o equilíbrio dos líquidos do corpo!
E assim vemos que a cultura popular, com base nos ciclos lunares e com as suas tradições míticas e poéticas, nos dá profundas lições. Ainda que pouco agradáveis à mente racional, se estudasse a sua linguagem, enraizada nas estruturas emocionais e no inconsciente, encontrar-se-iam forças poderosas, misteriosas e, ao mesmo tempo, aterrorizadoras e formosas.
Bibliografia.
Brown, F. A.—Biological Clocks: Endogenous Cicles Synchronozied by Subtle Geographical Rhythms, in Biosysthems, nº 8, pág. 67-81, 1976; Gauquelin, Michel—A Cosmopsicologia, Lisboa, 1977; Le dossier des Influences Cosmiques, Ed. Denöel, 1973; Lieber, Dr. Arnold L. —El Influjo de La Luna, Madrid, 1980.
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