quinta-feira, 16 de abril de 2015

O ciclo dos sete anos.

A vida tem círculos de sete anos, ela se move em círculos de sete anos exatamente como a terra faz uma rotação em seu eixo em vinte e quatro horas. Ninguém sabe porque não são nem vinte e cinco nem vinte e três horas. Não há nenhum jeito de se responder isso. É simplesmente um fato. Assim, não me pergunte porque a vida se move em círculos de sete anos. Eu não sei. O máximo que eu sei é que ela se move em círculos de sete anos. E se você compreender esses círculos de sete anos, você compreenderá uma grande coisa sobre o crescimento humano. Os primeiros sete anos são os mais importantes porque os alicerces da vida estão sendo assentados. É por isso que todas as religiões estão muito preocupadas em agarrar as crianças o mais rápido possível. Os judeus circuncidam as crianças. Que bobagem! Mas eles estão carimbando a criança como uma judia. Essa é uma maneira primitiva de carimbar. Ainda se faz isso com o gado aqui nas redondezas. Aqueles primeiros sete anos são os anos em que você é condicionado, é preenchido com todos os tipos de idéias que irão atormentá-lo ao longo de toda a sua vida, que irão distraí-lo de sua potencialidade, que irão corrompê-lo, que nunca irão lhe permitir ver claramente. Elas sempre virão como nuvens diante de seus olhos e irão fazer com que tudo fique confuso. As coisas são claras, muito claras. A existência é absolutamente clara. Mas os seus olhos têm camadas e mais camadas de poeira. E toda essa poeira foi arranjada nos primeiros sete anos de sua vida, quando você era tão inocente, tão confiante, que qualquer coisa que lhe fosse dita você aceitava como sendo verdadeira. E mais tarde, será muito difícil você descobrir tudo aquilo que entrou em seus alicerces. Terá se tornado quase parte de seu sangue, ossos, de sua própria medula. Você perguntará mil outras questões, mas você nunca perguntará a respeito dos alicerces básicos de suas crenças. A primeira expressão de amor para com a criança é deixá-la absolutamente inocente em seus primeiros sete anos, sem condicionamento, deixá-la por sete anos completamente selvagem, uma pagã. Ela não deveria ser convertida ao hinduismo, ao islamismo, ao cristianismo. Qualquer um que esteja tentando converter a criança, não tem compaixão, é cruel, está contaminando a própria alma de um viçoso recém-chegado. Antes mesmo que a criança tenha formulado perguntas, ela já terá recebido respostas com filosofias , dogmas e ideologias pré-fabricadas. Essa é uma situação muito estranha. A criança não perguntou a respeito de Deus e você já está lhe ensinando. Por que tanta impaciência? Espere! Se algum dia a criança demonstrar interesse por Deus e começar a perguntar a respeito, então tente dizer a ela não apenas a sua idéia sobre Deus, porque ninguém tem qualquer monopólio. Coloque diante dela todas as idéias de Deus que estiveram presentes em diferentes povos, em épocas diferentes, por religiões, culturas e civilizações diferentes. E lhe diga: 'Você pode escolher dentre essas aquela que mais lhe atrai. Ou você pode inventar a sua própria, se nenhuma estiver adequada. Se todas lhe parecerem defeituosas, e você achar que pode ter uma idéia melhor, então invente a sua própria. Ou se você achar que não há jeito de inventar uma idéia sem falhas, então abandone toda essa história, ela não é necessária. Um homem pode viver sem Deus.' Não há qualquer necessidade de que o filho tenha que concordar com o pai. Na verdade parece muito melhor que ele não tenha que concordar. É assim que a evolução acontece. Se toda criança concordar com o pai, então não haverá qualquer evolução, porque o pai terá concordado com seu próprio pai, e todo mundo estará no ponto em que Deus deixou Adão e Eva: nus e expulsos do jardim do Éden. Todo mundo estará lá. O homem tem evoluído porque os filhos têm discordado de seus pais, dos pais de seus pais e de todas as tradições. Toda essa evolução é uma tremenda divergência com o passado. Quanto mais inteligente você for, mais você irá discordar. Mas os pais valorizam as crianças que concordam e condenam as que discordam. Até os sete anos, se a criança puder ser deixada inocente, não corrompida pelas idéias dos outros, assim tornar-se-á impossível distraí-la de seu crescimento potencial.Os primeiros sete anos da criança são os mais vulneráveis. E elas estão nas mãos dos pais, dos professores, dos padres.... Como defender as crianças dos pais, dos padres e dos professores é uma questão de tamanha proporção que parece quase impossível de se fazer. Não é uma questão de ajudar a criança. A questão é proteger a criança. Se você tiver uma criança, proteja-a de si mesmo. Proteja a criança dos outros que possam influenciá-la, pelo menos até os sete anos, proteja-a. A criança é como uma pequena plantinha, fraca e suave. Um simples vento forte pode destruí-la, qualquer animal pode comê-la. Você põe um fio protetor ao redor dela, mas não a aprisiona, você está simplesmente protegendo-a.Quando a planta estiver maior, o fio será removido. Proteja a criança de todo tipo de influência de modo que ela possa permanecer ela mesma. E isso é só uma questão de sete anos, porque então o primeiro círculo estará completo. Aos sete anos ele estará bem enraizado, centrado, forte o suficiente. Você não sabe o quanto uma criança de sete anos pode ser forte porque você só tem visto crianças corrompidas. Elas carregam os medos e a covardia de seus pais, mães e familiares. Elas não são elas mesmas. Se uma criança permanecer sem ser corrompida por sete anos... Você ficará surpreso ao encontrar tal criança. Ela será tão afiada como uma espada. Seus olhos serão claros, seus insights serão claros. E você verá nela uma tremenda força que você não poderá encontrar nem mesmo num adulto de setenta anos. Se você é um pai (ou mãe), você precisará muito dessa coragem para não interferir. Abra portas para direções desconhecidas de modo que a criança possa explorá-las. Ela não conhece o que ela tem dentro dela, ninguém sabe. Ela terá que tatear no escuro. Não faça com que ela tenha medo do escuro, não faça com que ela tenha medo do fracasso, não faça com que ela tenha medo do desconhecido. Dê a ela suporte. Quando ela estiver indo para uma jornada desconhecida, ofereça a ela todo o seu suporte, com todo o seu amor, com todas as suas bênçãos. Não deixe que ela seja afetada pelos seus medos. Você pode ter medos, mas mantenha-os consigo mesmo. Não descarregue esses medos em cima da criança, porque isso será interferência. Depois dos sete anos, no próximo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, algo novo é acrescentado à vida: os primeiros alvoroços da energia sexual da criança. Mas elas são apenas uma espécie de ensaio. Ser pai é uma tarefa difícil. Assim, a não ser que você esteja pronto para assumir tal tarefa difícil, não se torne um pai. As pessoas simplesmente seguem se tornando pais e mães sem saber o que estão fazendo. Você está trazendo uma vida à existência e todo o cuidado do mundo será necessário. Agora, quando a criança começa a brincar com seus ensaios sexuais, é o tempo em que os pais mais interferem, porque foi assim que fizeram com eles. Tudo o que eles sabem é o que foi feito com eles, assim eles seguem fazendo o mesmo com as suas crianças. As sociedades não permitem ensaio sexual, pelo menos não permitiram até o século XX, exceto nas duas e três últimas décadas em alguns países muito avançados. Agora já existem escolas mistas para as crianças, mas em um país como a Índia, mesmo agora, a educação mista começa a surgir apenas no nível universitário. O menino de sete anos e a menina de sete anos não podem estar no mesmo internato. E este é o momento para eles, sem qualquer risco, sem perigo de gravidez, sem que quaisquer problemas surjam para suas famílias; este é o momento em que lhes deveriam ser permitidas todas as brincadeiras. Sim, isso terá uma conotação sexual, mas será só um ensaio, não se trata de um drama teatral verdadeiro. E se você não permitir a eles nem mesmo esse ensaio, de repente então, um dia a cortina se abrirá e o verdadeiro drama começará... E eles não saberão o que está acontecendo e não haverá nem mesmo aquela pessoa escondida no palco para lhes soprar o que devem fazer. Você terá bagunçado a vida deles completamente. Esses sete anos, o segundo círculo da vida, são significantes como um ensaio. Eles se encontrarão, se misturarão, brincarão e se conhecerão. E isso ajudará à humanidade a se livrar de quase noventa por cento das perversões. Se às crianças dos sete aos quatorze for permitido estarem juntas, nadarem juntas, estarem nuas juntas, noventa por cento das perversões e noventa por cento das pornografias irão simplesmente desaparecer. Quem irá dar atenção a essas coisas? Quando um garoto conheceu tantas garotas nuas, que interesse uma revista tipo Playboy poderá ter para ele? Quando uma garota tiver visto tantos garotos nus, eu não vejo qualquer possibilidade de existir curiosidade a respeito do outro. Isso simplesmente desaparecerá. Eles irão crescer juntos naturalmente, não como duas espécies diferentes de animais. É assim que eles crescem agora, como duas espécies diferentes de animais. Eles não pertencem à mesma espécie humana, eles são mantidos separados. Mil e uma barreiras são criadas entre eles, e não lhes permitem qualquer ensaio de sua vida sexual que está chegando... Se você tiver feito o dever de casa direitinho, se você tiver brincado com sua energia sexual exatamente com o espírito de um desportista (e naquela idade este é o único espírito que você poderia ter), você não se tornará um pervertido, um homossexual. Todo tipo de coisas estranhas não virão à sua cabeça, porque você está se movendo naturalmente com o outro sexo e o outro sexo está se movendo com você. Não haverá qualquer bloqueio e você não estará fazendo nada errado com quem quer que seja. Sua consciência estará clara porque ninguém pôs nela idéias do que é certo e do que é errado. Você simplesmente está sendo o que você é. Dos quatorze aos vinte e um o seu sexo amadurece. E isso é significante para se entender: se o ensaio tiver sido bom no período dos sete aos quatorze quando o sexo amadurece, acontece uma coisa muito estranha que você nem mesmo deve ter pensado a respeito, porque não lhe foi dada a oportunidade. Eu disse a você que o segundo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, deu a você um vislumbre de antes da peça teatral. O terceiro círculo de sete anos da a você um vislumbre do que vem depois.Você está ainda com garotas ou garotos, mas agora uma nova fase começa em seu ser: você começa a se apaixonar. Não é ainda um interesse biológico. Você não está interessado em procriar, você não está interessado em se tornar marido ou esposa. Esses são os anos dos jogos românticos. Você está mais interessado na beleza, no amor, na poesia, na escultura, que são fases diferentes de romantismo. Dos vinte e um aos vinte e oito é um tempo em que eles podem se acertar. Eles podem escolher um companheiro. E eles são capazes de escolher agora, através de toda a experiência dos dois círculos passados eles podem escolher o companheiro certo. Não há mais ninguém que possa fazer isso por você. Isso é algo como um pressentimento. Nenhuma aritmética, nenhuma astrologia, nenhuma quiromancia, nenhum I-Ching poderão fazer isso. Isso é um pressentimento: entrando em contato com muitas, muitas pessoas, de repente alguma coisa dá um clique que nunca deu com qualquer outra pessoa. E isso clica com tanta certeza e tão absolutamente, que você não pode nem mesmo duvidar. Mesmo se você tentar duvidar, você não conseguirá. A certeza é tão tremenda. Com esse clique vocês se acertam. Entre os vinte e um e os vinte e oito, em algum lugar, se tudo correr bem do jeito que eu estou dizendo, sem interferência de outros, então vocês se acertam. E o período mais agradável da vida vem dos vinte e oito aos trinta e cinco: o mais alegre, o mais pacífico e harmonioso, porque duas pessoas começam a se derreter e a se fundir uma com a outra. Dos trinta e cinco aos quarenta e dois, um novo passo, uma nova porta se abre. Se até os trinta e cinco você sentiu profunda harmonia, uma sensação orgástica e tiver descoberto a meditação através disso, então, dos trinta e cinco aos quarenta e dois vocês ajudarão um ao outro a ir mais e mais fundo na meditação sem sexo, porque o sexo neste ponto começa a parecer infantil, juvenil. Quarenta e dois anos é o tempo certo quando a pessoa deveria ser capaz de saber exatamente quem ela é. Dos quarenta e dois aos quarenta e nove ela vai mais fundo e mais fundo na meditação, mais e mais para dentro de si mesmo, e ajuda o companheiro no mesmo caminho. Eles se tornam amigos. Não mais existe marido e não mais existe esposa. Esse tempo já passou. Isso já deu a sua riqueza para a sua vida. Agora existe alguma coisa mais alta, mais alta que o amor. Isso é amizade, um relacionamento de compaixão para ajudar o outro a ir mais fundo dentro de si mesmo, a se tornar mais independente, a se tornar mais só, como duas árvores altas, separadas mas ainda próximas uma da outra, ou dois pilares num templo suportando o mesmo teto, estando tão próximos e tão separados, tão independentes e tão sós. Dos quarenta e nove aos cinqüenta e seis essa solitude se torna o foco de seu ser. Tudo no mundo perde o significado. A única coisa significante que permanece é essa solitude. Dos cinqüenta e seis aos sessenta e três você se torna totalmente o que você está para ser: o florescimento potencial. Dos sessenta e três aos setenta você começa a ficar pronto para deixar o corpo. Agora você sabe que não é o corpo, você sabe que também não é a mente. O corpo era conhecido como separado de você em algum lugar quando você tinha trinta e cinco anos. Que a mente está separada de você foi conhecido em algum lugar quando você tinha quarenta e nove anos. Agora, tudo mais foi deixado de lado exceto a auto observação. Só a pura consciência, a chama da consciência permanece com você, e isso é a preparação para a morte. Setenta é a duração de vida natural para o homem. E se as coisas se moverem em seu curso natural, então ele morre com tremenda alegria, em grande êxtase, sentindo-se imensamente abençoado porque a sua vida não foi sem significado e que, pelo menos, ele encontrou o seu lar. E por causa dessa riqueza, dessa realização, ele é capaz de abençoar toda a existência. Só por estar perto de tal pessoa, quando ela está morrendo, é uma grande oportunidade. Você sentirá, na medida em que ele deixa o corpo, algumas flores invisíveis caindo sobre você. Embora você não possa vê-las, você poderá senti-las." OSHO

Vivendo aqui e agora.

Osho diz: Existem dois tipos de vida. Uma orientada pelo medo; e a outra, orientada pelo amor. A vida orientada pelo medo não pode nunca leva-lo a um relacionamento profundo. Você permanece no medo e não aceita o outro – não pode aceitar que penetrem no seu âmago mais profundo. Até um determinado ponto você aceita o outro; além desse ponto um muro vem e tudo estaciona. Perceba... A pessoa orientada pelo amor é aquela que não tem medo do futuro, não tem medo dos resultados e consequências – é aquela que vive aqui e agora. É isso o que Krsna diz a Arjuna no Gita: Não se preocupe com os resultados – não pense sobre o que acontecerá depois. Apenas esteja aqui, e aja totalmente. Não planeje. Um homem orientado pelo medo está sempre calculando, planejando, manipulando. Toda a sua vida é perdida dessa maneira. Ouvi falar sobre um velho monge Zen. Ele estava em seu leito de morte. Seu último dia chegou. E ele declarou que depois dessa noite não estaria mais vivo. Assim, seus seguidores, discípulos e amigos começaram a chegar. Todos eles vieram – chegaram pessoas de todas as partes. Um de seus antigos discípulos, quando ouviu que o Mestre estava morrendo, correu para o mercado. Alguém lhe perguntou: O mestre está morrendo em sua cabana – por que você está indo para o mercado¿ O discípulo respondeu: Sei que meu mestre adora um tipo especial de bolo, por isso estou indo comprá-lo. Era difícil encontrar esse bolo, mas, de algum modo, à noite, ele o conseguiu e voltou correndo com o bolo. Todo mundo estava preocupado – era como se o Mestre estivesse esperando por alguém. Ele abria os olhos, olhava e fechava-os novamente. Quando o discípulo chegou, ele disse: Que bom que você veio. Onde está o bolo¿ O discípulo lhe entregou o bolo – e ficou muito feliz do Mestre ter perguntado a respeito. Já morrendo, o Mestre pegou o bolo em suas mãos, mas elas não estavam tremendo. Ele era muito velho, mas suas mãos não tremiam. Então, alguém falou: Você é tão velho e está quase na hora da morte. Sua última respiração está se aproximando, mas suas mãos não tremem! O Mestre disse: Eu nunca tremo – porque não tenho medo. Meu corpo ficou velho, mas ainda sou jovem. E continuarei jovem mesmo quando este corpo se for. Então ele pegou um pedaço de bolo. Alguém perguntou: Qual é a sua última mensagem, Mestre¿ Você nos deixará logo. O que deseja que nós nos lembremos¿ O Mestre sorriu e disse: Ah! Que bolo delicioso! Perceba... Este é um homem que vive no aqui e agora: Que bolo delicioso! Até a morte é irrelevante. O próximo momento não significa nada. Este momento, este bolo é delicioso. Quando você puder estar neste momento, no momento presente, na presença – na plenitude, só então poderá amar. O amor é um florescimento raro. Acontece apenas algumas vezes. Milhões e milhões de pessoas vivem com uma atitude falsa, pensando que são amantes. Acreditam que amam, mas isso é apenas uma crença. O amor é um florescimento raro. Algumas vezes, ele acontece. É raro porque só acontece quando não há nenhum medo; antes disso, nunca. Esse amor significativo só acontece para uma pessoa profundamente espiritual, religiosa. O sexo é possível para todos; a familiaridade é possível para todos. O amor não. Quando você não tem medo, não tem nada para esconder – pode estar aberto, pode retirar todos os limites. E então, convidar o outro para penetrá-lo – na sua própria essência. Mas perceba... Em seu amor o medo está sempre presente. O marido tem medo da esposa, a esposa tem medo do marido. Os amantes são sempre medrosos. Então não há amor – há apenas um arranjo – de duas pessoas medrosas dependendo uma da outra, brigando, explorando, manipulando, controlando, dominando, possuindo – isto não é amor. Se você permitir que o amor aconteça, não haverá necessidade de oração, não haverá necessidade de meditação, não haverá necessidade de qualquer igreja ou templo.

Necessidades e desejos.

Procure perceber que os desejos são muitos, mas as necessidades são poucas. As necessidades podem ser satisfeitas... Os desejos nunca. Desejo é uma necessidade que enlouqueceu. É impossível satisfazê-lo. Quanto mais vc tentar satisfazê-lo, mais ele pedirá. Conta uma história Sufi que, quando Alexandre – O Grande, morreu e chegou ao paraíso, ele estava carregando todo o seu peso: Todo o seu reinado, ouro, diamantes... É claro que não em realidade, mas como uma idéia. O guardião do portal do paraíso começou a rir e perguntou: “Por que vc está carregando tanto fardo”? E Ele respondeu: “Que fardo”? Então o guardião lhe deu uma balança e em um de seus pratos colocou um olho e pediu a Alexandre para colocar no outro prato todo o seu peso, sua grandeza, seus tesouros e o reinado. Mas aquele olho ainda permaneceu mais pesado do que todo o reino de Alexandre. O guardião disse: “Esse é um olho humano. Ele representa o desejo humano e não pode ser satisfeito, não importa o tamanho do seu reino e a intensidade de seus esforços.” Depois, o guardião jogou um pouco de poeira no olho, que imediatamente piscou e perdeu todo o seu peso. Uma pequena poeira de entendimento precisa ser jogada no olho do desejo. O desejo desaparece e permanece somente a necessidade, que não é pesada. As necessidades são muito poucas e são belas. Os desejos são feios e transformam os seres humanos em monstros: Eles criam loucos. Assim que vc começar a escolher a serenidade, um pequeno quarto será suficiente, uma pequena quantidade de comida será suficiente, poucas roupas serão suficientes e apenas uma pessoa amada será suficiente.osho.

Humildade.

Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi. Que não sinta o que não tenho. Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou. Dai, Senhor, que minha humildade seja como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura numa terra sedenta e num telhado velho. Que eu possa agradecer a Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa. Cora Coralina

A MÚSICA DAS ESFERAS.

A MÚSICA DAS ESFERAS. Por Margarete Hülsendeger ⋅ O frio era intenso. A neve, que não parava de cair desde o dia anterior, acumulava-se pelas ruas. Dentro do quarto, no entanto, em uma pequena lareira, o fogo crepitava de forma reconfortante, diminuindo a sensação de frio. Na mesa velha e desconjuntada, um homem inclinava-se concentrado sobre diversos papéis. A barba por fazer e as profundas e cinzentas olheiras eram as marcas mais evidentes do seu cansaço. Contudo, apesar dos músculos doloridos, ele se negava a descansar. Distraído, pegou, de um prato colocado sobre a mesa, um pedaço de pão já meio duro. Sem interromper o que estava fazendo começou a mordiscá-lo – esse seria o seu café da manhã. O cosmos se mostrara de uma complexidade fantástica. Nem mesmo Copérnico poderia imaginar o quanto o conhecimento evoluiria após a sua morte. Descobertas impressionantes estavam, em sua opinião, conduzindo a humanidade para mais perto de Deus. Sendo um homem de fé, sentia-se na obrigação de buscar as respostas que melhor explicassem essa complexa organização do universo. Entretanto, as tabelas que ele mesmo elaborara, a partir de suas observações dos céus, não estavam, no momento, ajudando-o a compreender essa nova ordem cósmica. Algo não se encaixava. Sabia que alguma coisa estava faltando. Suas medições haviam comprovado que os planetas giravam a volta do Sol, com suas diferentes órbitas e tempos, em absoluta harmonia. Portanto, seus deslocamentos deviam seguir uma lei e ela, por sua vez, podia ser expressa por uma simples equação matemática. Tinha certeza que as respostas às suas dúvidas achavam-se bem diante de seus olhos. Era-lhe impossível acreditar que Deus – o Divino Geômetra –, em sua suprema sabedoria, construíra o Universo à sua imagem e semelhança para que seus mistérios permanecessem ocultos, longe da compreensão do homem. Empurrando para o lado todos aqueles papéis, debruçou-se sobre a mesa. Fechou os olhos. Se pudesse ver além de todos esses números. Se pudesse encontrar o caminho para compreender o que eles tentavam-lhe mostrar, quem sabe, a vontade de Deus não lhe fosse revelada. Suspirou. Em um crucifixo, na parede em frente à sua mesa, um Cristo de expressão triste e sofredora o encarava. Parecia sentir pena dele. O cansaço acabou vencendo-o e, sem querer, adormeceu. Viu-se caminhando por um velho cemitério. Tratava-se do cemitério onde sua mãe fora enterrada. Entretanto, ele sabia que não estava ali por causa dela. Procurava algo. Com ansiedade crescente ia percorrendo os túmulos, examinando as inscrições gravadas em cada lápide. Nomes, datas e epitáfios de todos os tipos sucediam-se um após o outro, aumentando ainda mais a sua angústia. Estava assim, procurando, quando ele o viu. Encontrava-se afastado dos demais túmulos. Mofo e ervas daninhas o cobriam quase que por completo. Seu aspecto era de total abandono. Aproximou-se bem devagar. Não tinha mais pressa. Quando estava diante dele, ajoelhou-se na terra e leu o que na lápide estava inscrito: Os céus medi, e agora meço as sombras. Meu espírito ao céu sempre esteve preso. E agora preso à terra jaz meu corpo*. E mais abaixo as iniciais J.K. Não ficou surpreso. Na verdade, em seu íntimo, sabia que era isso o que buscava, só não havia ainda tido coragem de reconhecer para si mesmo. Por essa razão, também não se surpreendeu quando, ao seu redor e por todo o espaço, passou a ouvir uma música que, por sua beleza, só podia ser de origem divina. Deixando-se embalar por ela, sentiu, talvez pela primeira vez, uma alegria e paz profundas. E, finalmente, estando tomado por essas emoções, foi capaz de ver. Encontravam-se todos lá – e mais outros que ele não reconheceu –, girando em harmonia em torno do Sol e, como sempre fora a sua convicção, obedecendo a leis que ele agora conseguiu compreender. Quando acordou, a neve havia parado de cair. Abrindo a janela viu que entre as nuvens cinzentas o Sol tentava aparecer. Com a música das esferas – assim resolveu chamá-la – ainda soando em seus ouvidos, entendeu que a morte não podia ser evitada. No entanto, agora compreendia que mesmo que o seu corpo viesse a pertencer à terra, os céus e todos os seus mistérios seriam para sempre o seu verdadeiro lar. * Epitáfio escrito por Johannes Kepler. Astrônomo alemão (1571-1630)