contos sol e lua

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segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Canção de Amairgin.


Eu sou o vento sobre o mar,
Sou uma onda do oceano,
Sou o rugido do mar,
Sou um boi dos sete exílios,
Sou um falcão num penhasco,
Sou uma lágrima do sol,
Sou uma curva num labirinto,
Sou um javali em bravura,
Sou um salmão numa lagoa,
Sou um lago numa planície,
Sou uma força a distribuir-se,
Sou o espírito do dom da habilidade,
Sou uma folha de grama a oferecer à terra matéria decomposta,
Sou um deus da criação a oferecer inspirações.

Quem mais limpa as pedras da montanha?
Quem é que declama o nascer do sol?
Quem é que diz onde o sol se põe?
Quem traz o gado da casa de Tethra?
Sobre quem sorri o gado de Tethra?
Quem é este boi?
Quem é o deus tecelão que remenda a palha dos ferimentos?
O encantamento de uma lança.
O encantamento do vento.
Versão da Canção de Amairgin in: MATTHEWS, Caitlín & MATTHEWS, John. The Encyclopedia of Celtic Wisdom: a Celtic Shaman’s Sourcebook. London: Rider, 2001.

Ritos Celtas.


Os primeiros celtas não construíam templos para a adoração de seus deuses, mas mantinham altares em bosques de (Nemeton) dedicados a serem locais de adoração. Algumas árvores eram consideradas elas próprias sagradas. A importância das árvores na religião celta pode ser mostrada pelo fato que o nome da tribo dos Eburônios contém uma referência a yew tree, e nomes como Mac Cuillin (filho de acebo), e Mac Ibar (filho de yew) aparecem nos mitos irlandeses. Apenas durante o período de influência romana os celtas começaram a construir templos, um hábito que foi passado as tribos germânicas que os suplantaram.
Escritores romanos insistiam que o sacrifício humano era praticado pelos celtas em larga escala e há indícios dessa possibilidade vindos de achados na Irlanda, no entanto a maior parte da informação sobre isso veio de rumores de "segunda mão" que chegavam a Roma. São muito poucas as descobertas arqueológicas que substanciam o processo de sacrifício e assim os historiadores modernos consideram que os sacrifícios humanos eram um acontecimento extremamente raro nas culturas Celtas.
Mas havia também, no entanto, um culto guerreiro centrado nas cabeças cortadas de seus inimigos. Os celtas muniam seus mortos de armas e outros pertences, o que indica que acreditavam na vida após a morte. Depois do funeral, eles também cortavam a cabeça do morto e esmagavam seu crânio para evitar que seu espírito permanecesse preso.
Nenhuma menção aos cultos celtas pode deixar de descrever os druidas. Esses sacerdotes representam simplesmente a classe mais ou menos hereditária de xamãs, característica de todas as sociedades indo-européias antigas. Em outras palavras, eles são o equivalente a casta brâmane indiana ou aos magi persas, e como estes um especialista nas práticas de magia, sacrifício e augurio. Eles eram conhecidos por ser particularmente associados a carvalhos e trufas; essas últimas talvez usadas na confecção de medicamentos ou alucinógenos. Outra figura importante na manutenção das lendas célticas era o bardo; aquele que, através de suas músicas, difundia os feitos de bravura dos heróis do passado. Desse ponto de vista a cultura celta não foi uma cultura histórica - do ponto de vista que não teve história escrita (ainda que os celtas possuíssem formas rudimentares de escrita, baseadas em traços verticais e horizontais). Suas histórias eram transmitidas oralmente, e os bardos eram particularmente bons nisso já que, uma vez que suas histórias eram musicadas, tornava-se fácil lembrar das palavras exatas que a compunham. Além disso, eles podem ter sido considerados uma espécie de profetas. Os historiadores Estrabo descreveu-os como "vates", palavra que significa inspirado, estasiado. É bem possível que a sociedade céltica tivesse, além da religião taumatúrgica e ritualística dos druídas, um elemento de comunicação estásica com o Além. A Conversão dos Druidas.
O Cristianismo se espalhou com muita facilidade pelas regiões célticas como a Gália, Bretanha, Grã-Bretanha e Irlanda. A presença se faz notar desde o século II, mas mais intensamente a partir do século IV. Vários mosteiros são abertos. São Colombano fundou mosteiros em Annegray no Vosges, em Luxeit na Borgonha, e até em Bobbio na Lombardia. São Patrick (ou São Patrício) é o santo padroeiro da Irlanda. Vários manuscritos da Idade Média contam a sua lenda. Nascido possivelmente em 390 ou 415 (não há certeza sobre as datas), ele não tem origem irlandesa, mas grã-bretã. Quando jovem, foi raptado por piratas e tornado escravo na Irlanda. Liberto seis anos depois, se torna sacerdote e depois bispo, quando decide responder a um chamado divino para converter os seus sequestradores. Desembarca em Ulster, querendo implantar uma rede de discipulos, e inicia a conversão dos druidas, ritualísticos da sociedade local. E, desde então, oficialmente, em cada ultimo domingo do mês de julho, multidões de irlandeses galgam o monte Croagh Patrick para render homenagem ao santo fundador.
Resquícios Modernos.
Os modos e as crenças celtas tiveram um grande impacto na atualidade das regiões em que se encontravam. Conhecimentos sobre a religião pré-cristã ainda são comuns nas regiões que foram habitadas pelos celtas, apesar de agora estarem diminuindo. Adicionalmente, muitos santos não-oficiais são adorados na Escócia, como Saint Brid na Escócia (Brigid, na Irlanda), uma adaptação cristã da deusa de mesmo nome. Vários ritos envolvendo peregrinações a vales e poços considerados sagrados aos quais creditam propriedades curativas têm origem celta. As festas dos celtas eram baseadas nos solstícios e equinócios.O Imbolc era celebrado no dia 1º de fevereiro e marcava o começo da vida da natureza depois da hibernação do inverno.O Samhain,a festa dos mortos,ocorria em 1º de novembro.A festa cristã de todos os santos no dia 1º de novembro é derivada dessa data comemorativa celta.F.P.Wikepédia.

A Iniciação.


Iesod – Bonum.
O iniciado é aquele que possui a lâmpada de Trismegisto, o manto de Apolônio, e o bastão dos patriarcas.
A lâmpada de Trismegisto é a razão esclarecida pela inteligência; o manto de Apolônio é a posse plena e total de si mesmo, que isola o sábio das correntes instintivas; e o bastão dos patriarcas é o auxílio das forças ocultas e perpétuas da natureza.
A lâmpada de Trismegisto alumia o presente, o passado e o futuro, mostra claramente a consciência dos homens, ilumina os recônditos do coração das mulheres. A lâmpada brilha com tríplice chama, o manto se redobra três vezes, e o bastão se divide em três partes.
O número nove é o dos reflexos divinos: ele exprime idéia divina em toda sua força abstrata, mas também exprime o luxo na crença e, por conseguinte, a superstição e a idolatria.
É por isso que Hermes fez dele o número da iniciação, porque o iniciado reina sobre a superstição e pela superstição, e só ele pode caminhar nas trevas, apoiado como está no seu bastão, envolto no seu manto e iluminado pela sua lâmpada.
A razão foi dada a todos os homens, mas nem todos sabem fazer uso dela; é uma ciência que é preciso aprender. A liberdade é oferecida a todos, mas nem todos sabem apoiar- se nela; é um poder de que é preciso apoderar- se.
A nada chegamos que não nos custe mais de um esforço. O destino do homem é que se enriqueça do que ganha e que depois tenha, como Deus, a glória e o prazer de dar.
A ciência mágica se chamava, outrora, arte sacerdotal e arte real, porque a iniciação dava ao sábio o império sobre as almas e a aptidão para governar as vontades.
A adivinhação é também um dos privilégios do iniciado; ora, adivinhação é simplesmente o conhecimento dos efeitos contidos nas causas e a ciência aplicada aos fatos do dogma universal da analogia.
Os atos humanos não se escrevem somente a luz astral; deixam também os seus traços na fronte, modificam as feições e o andar, mudam o acento da voz.
Cada homem traz, pois, consigo a história da sua vida, legível para o iniciado. Ora, o futuro é sempre a conseqüência do passado, e as circunstâncias inesperadas não mudam quase nada dos resultados racionalmente esperados. É possível, pois, predizer a cada homem o seu destino.
É possível julgar de uma existência inteira por um só movimento; um só desacerto pressagia uma série de desgraças. César foi assassinado porque amava as poesias de Ossian; Luiz Filipe devia deixar o trono como o fez, porque usava um guarda - chuva. São paradoxos para o vulgo, que não compreende as relações ocultas das coisas; mas são razões para o iniciado, que compreende tudo e de nada se admira.
A iniciação preserva das falsas luzes de misticismo; ela dá à razão humana o seu valor relativo e a sua infalibilidade proporcional, unindo -a à razão suprema pela cadeia das analogias.
O iniciado não tem, pois, esperanças duvidosas, nem temores absurdos, porque não tem crenças desarrazoáveis; sabe o que pode e nada lhe custa ousar. Por isso, para ele, ousar é poder.
Eis, pois, uma nova interpretação dos atributos do iniciado; a sua lâmpada representa o saber, o manto que o envolve representa a sua discrição, o seu bastão é o emblema da sua força e da sua audácia. Ele sabe, ousa e cala- se.
Sabe os segredos do futuro, ousa no presente e cala - se sobre o passado.
Sabe as fraquezas do coração humano, ousa servir- se delas para fazer a sua obra, e cala- se sobre os seus projetos.
Sabe a razão de todos os simbolismos e de todos os cultos, ousa praticá- los ou abster- se deles sem hipocrisia e sem impiedade, e cala- se sobre o dogma único da alta iniciação.
Sabe a existência e a natureza do grande agente mágico, ousa fazer os atos e pronunciar as palavras que o submetem à vontade humana, e cala - se sobre os mistérios do grande arcano.
O or isso, podeis vê- lo muitas vezes triste, nunca abatido nem desesperado; muitas vezes pobre, nunca envilecido nem miserável; muitas vezes perseguido, nunca abandonado nem vencido.
Ele se lembra muitas vezes da viuvez e do assassinato de Orfeu, do exílio e da morte solitária de Moisés, do martírio dos profetas, das torturas de Apolônio, da cruz do Salvador; sabe em que abandono morreu Agrippa, cuja memória ainda é caluniada; sabe a que fadigas sucumbiu o grande Paracelso, e tudo o que teve de sofrer Raimundo Lullo para, enfim, chegar a uma morte sanguinolenta. Lembra - se de Swedenborg fazendo - se de louco ou mesmo perdendo a razão, a fim de fazer perdoar a sua ciência; de Saint-Martin, que se ocultou toda a sua vida; de Cagliostro, que morreu abandonado nos calabouços da Inquisição; de Cazotte, que subiu ao cadafalso. Sucessor de tantas vítimas, não ousa menos, mas compreende ainda mais a necessidade de calar - se.
I mitemos o seu exemplo, aprendamos com perseverança; quando soubermos, ousemos e calemo -nos. Eliphas Levi - Ritual e Dogma da Alta Magia.