contos sol e lua

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Vampiros e a Ficçõa Científica.


A Ficção Científica sempre andou de braços dados com os gêneros Horror e Terror, já que, juntamente com o Fantástico, lidam exatamente com as mesmas questões limites da realidade e da fantasia.
Dentro desta mistura, há as histórias de vampiros. Segundo alguns críticos, o que vai dizer se a história é Terror ou Ficção Científica são as explicações. Se o vampiro for fruto de um ataque de vírus, de uma doença hereditária ou se ele for um alienígena ou alguma forma de vida não sobrenatural, a história é FC. Se não houver explicação nenhuma para a causa do vampirismo ou ela for originada por magia ou maldição é Terror ou Horror.
Levando isso em consideração, vamos apresentar algumas histórias de FC que envolvem vampiros em seu enredo. A primeira delas é do pioneiro H. G. Wells, A Floração da Estranha Orquídea escrita em 1896, conto reproduzido na antologia O Vampiro Antes de Drácula, publicado pela editora Aleph. O ser vampiresco aqui é uma planta. Como todas as histórias de Wells, esta também é apenas um pretexto para criticar a sociedade onde vivia, a Inglaterra Vitoriana. No caso, é a vida medíocre da classe média e seus preconceitos gerados por olhar o apenas o próprio umbigo.
Em 1954, Richard Matheson escreveu o excelente Eu sou a Lenda (esqueçam qualquer adaptação cinematográfica – ninguém acertou a mão, muito menos Francis Lawrence e Will Smith), onde num mundo atacado por um vírus, todas as pessoas são transformadas em vampiros, menos uma que se dedica então a matar vampiros. Matheson além de criar uma excelente trama procura inserir e explicar todos o elementos das lendas dos vampiros, por exemplo a estaca, o alho e o crucifixo. As explicações são toscas por que são obtidas pelo personagem principal, sem muitos recursos para fazer uma pesquisa séria. Há até um certo humor: o que aconteceria com o crucifixo, se o vampiro fosse judeu?
Vampiros de Almas surge nas telas do cinema em 1956. Neste filme arrepiante, seres alienígenas vegetais vampirizam a personalidade das pessoas, clonando-as e ocupando seu lugar na sociedade. A metáfora aqui é a paranóia vigente nos anos 50 nos EUA. De um lado, o governo americano alimentando o medo ao comunismo e, do outro, o medo de uma perseguição marcatista promovida por este mesmo governo, fazendo todos desconfiarem de todos, inclusive de parentes muito próximos (irmãos, filhos, cônjuges).
Colin Wilson escreveu, em 1976, Vampiros do Espaço, onde astronautas recolhem de uma antiga nave extraterrestre orbitando a Terra, seres humanóides aparentemente mumificados. Inadvertidamente libertam seres de energia que parasitam humanos, vivendo a custas de sua força vital. A intenção dos seres é preparar uma invasão e usar os terrestres como uma espécie de fonte de alimentos para eles. Só por esta sinopse, percebe-se uma clara influência de H. G. Well (A Guerra dos Mundos). Como Wells, Colin Wilson tinha outras preocupações por trás de seu romance. Psicólogo, usa os alienígenas infiltrados como pretexto para analisar o comportamento humano. Ocultista, usa este romance para introduzir suas crenças. Político, critica o comportamento “duas caras” dos políticos, pois um dos infiltrados é o próprio Primeiro Ministro da Inglaterra, que não percebe a presença do alienígena, por estar habituado a dizer uma coisa e fazer outra.
Indo para a pura diversão, temos a pulp ficction, escrita em 1980, Sabella, uma Vampira nas Galáxias, da escritora inglesa Tanith Lee. Neste livro, a ambientação é num planeta similar a Marte, colonizado pela Terra num futuro longínquo. O livro é contado do ponto de vista do vampiro que desconhece as causas de seu estado. Sabella é uma descendente de terrestres que vive neste planeta e aos poucos vai descobrindo sua natureza vampiresca e sua real origem. Há um caçador que a persegue, que parece saber mais sobre ela do que ela mesma. Aqui a FC está bem caracterizada, com uma boa ambientação extraterrestre, alguns artefatos e uma boa descrição de uma raça alienígena extinta e da causa do comportamento vampírico.
No limite entre o Terror e a FC, temos dois contos onde fica em aberto a origem do vampiro, mas há alguma tendência apontando para seres evoluídos, artificiais ou alienígenas.
O Vampiro Antes de Drácula. Publicado originalmente em 1886, o vampiro é um ser não humano e invisível, que se apodera de seu hospedeiro e o controla e dele se alimenta. Aqui o horla seria um sucessor da raça humana, produto da evolução não necessariamente do homem.
O segundo é um conto de Ray Bradbury, O Hospede do Segundo Andar, publicado pela primeira vez em 1947. Um menino vai para casa da avó ficar hospedado alguns dias, durante suas férias. A avó, por viver sozinha, aluga um dos quartos da casa. Crimes começam a acontecer nas imediações. Suspeita-se que os crimes estão sendo praticados por um vampiro. O menino começa desconfiar do hóspede pelo seu comportamento estranho: dorme de dia, evita a luz e espelhos, etc. Quando o vampiro é morto, seus órgãos internos são formas geométricas gelatinosas (cilindros, esferas, pirâmides, cones etc.), dando a entender ou que é um ser artificial ou não humano. Aqui o tema é “o estranho em casa”. A avó, ao saber dos crimes, se sente segura de estar em casa, mas na realidade abriga o assassino.
O que dificulta a classificação destas duas histórias como sendo FC é a ambigüidade com que são narradas as descrições e ações dos vampiros. No caso de Maupassant, a história é contada em primeira pessoa por uma das vítimas do vampiro, que não tem condições de analisar cientificamente o fato tanto pela sua condição de vítima, como por não conhecer em profundidade alguns conceitos científicos. Isso permite que se paire dúvidas no ar, inclusive da sanidade do personagem-narrador.
No caso de Bradbury, apesar do narrador ser em terceira pessoa, ele olha do ponto de vista do menino, aterrorizado e ao mesmo tempo, determinado a resolver a questão. Mas também não tem conhecimentos técnicos nem maturidade emocional suficientes para analisar. Mike Mignola, Christopher Golden

Como pensa um morto.

Para começarmos a entender as diferenças entre uma pessoa comum e um vampiro, precisamos compreender algo muito importante: um vampiro está morto. Por mais que ele queira ainda se manter humano, seu estado de morte-em-vida o faz se distanciar das pessoas comuns.
Desprovido de funções biológicas, ele é incapaz de sentir diversas das necessidades de uma pessoa comum. Isso afeta seu comportamento, suas atitudes, suas prioridades e até seus sentimentos.
Em primeiro lugar, estando morto, um Cainita não respira. Embora alguns (aqueles com alta Humanidade) ainda o façam inconscientemente, a maioria dos vampiros precisa se concentrar nessa função para simulá-la, e isso não é fácil: qualquer distração e ele inconscientemente pararão de respirar. A falta de respiração parece algo pequeno para afetar o comportamento de um vampiro, mas não é. Analisemos mais a fundo.
Vejamos. Você não respira. Logo, não suspira, não boceja, não bufa, não fica ofegante. Parece pouco, mas muitas de nossas expressões são acompanhadas por um ritmo específico de nossa respiração. Para as pessoas, o vampiro parece frio, desprovido de emoções em muitos casos. Um vampiro furioso não irá bufar enquanto um apaixonado não suspira... Mesmo que sinta tais emoções, ele as demonstra de forma imperfeita. Essa frieza aparente afeta os relacionamentos de um vampiro com pessoas comuns. A dificuldade em se expressar aos poucos faz com que o vampiro se isole das pessoas, mesmo que inconscientemente. Esse isolamento com o tempo vai mudando o comportamento do vampiro. Conforme ele se afasta dos mortais, se distancia de sua própria humanidade.
Respiração é, porém, um fator pequeno se comparado a outras funções biológicas. Aí, um dos fatores mais importantes do comportamento humano, a sexualidade, precisa ser discutida. Em primeiro lugar, sexo é, para a maioria dos vampiros, algo supérfluo e sem sentido. Eles não sentem atração sexual como os mortais. Uma pessoa bonita é apenas isso: uma pessoa bonita. Não há aquela atração forte, não há excitação involuntária. O vampiro consegue se excitar apenas quando quer, e ainda assim isso gasta a energia de seu precioso sangue. O ato sexual, então, não traz o mesmo prazer. Embora o toque e as carícias sejam semelhantes, não há orgasmo, não há a respiração, o suor, tornando relações sexuais extremamente frustrantes. Os vampiros que praticam relações sexuais costumam usá-las para aquilo que
Realmente lhes dá prazer: beber sangue e adquirir vantagens. Ou então o fazem tentando se sentir humanos novamente, embora as sensações não sejam em nada semelhantes a sexo real entre duas pessoas vivas.
Há outras funções importantes. Até mesmo a falta de vontade de comer ou de ir ao banheiro afeta os vampiros. Conforme se esquecem de como era ter tais necessidades quando vivos, os Cainitas tendem a tratar os vivos como fracos que perdem muito tempo em suas necessidades biológicas. Pode parecer besteira, mas até mesmo isso impede que um vampiro de compreender a humanidade.
Conforme seus anos de vida ficam mais distantes, ele perde aquilo que o fez humano um dia.Wikepédia.

Vampiros Emocionais.


"Para essas pessoas que vampirizam as amizades, os ambientes de trabalho, as relações afetivas, você não passa de um suculento "pescoço" (objeto de desejo) e de "sangue fresquinho" (nova conquista). Acredite, esse tipo de "vampiro" é muito mais comum do que você possa imaginar, assim como é incrivelmente comum o número de pessoas que se deixam "vampirizar" porque em um mundo tão distante e carente"
Nós, que nascemos para viver em sociedade, convivemos hoje com um tipo de sociedade muito diferente daquela em que nossos ancestrais exercitavam a conviviabilidade.
Claro que sempre houve competição no mundo, mas também é evidente que sua proporção, intensidade e insanidade cresceram em função do tempo, razão pela qual o individualismo é hoje muito mais frequente que em épocas não tão remotas da própria sociedade brasileira.
Isso explica o sucesso das redes sociais na internet: as pessoas se sentem solitárias, sem tempo, e às vezes sem disposição para o convívio real, mas continuam com a necessidade humana básica de estabelecerem laços e estarem "conectadas". A tecnologia une as pessoas, não da mesma maneira que as relações não virtuais, mas une. Deve ser encarada como complementar, não suplementar. Deve aproximar as pessoas e não apenas "criar" conveniência para um encasulamento. A necessidade de dividir fotos, trechos de livros, filmes e músicas com as outras pessoas da comunidade virtual expressa um desejo de identidade em um "mundo sem rosto".
A segunda questão envolve os aspectos psicológicos (arquétipos) contidos nos vampiros: a sexualidade, a tensão e o risco da paixão extrema e perigosa, onde se expõe o próprio "pescoço" e se entrega o próprio "sangue", uma paixão que evidencia seus aspectos patológicos de vida e morte. Os vampiros são tratados na literatura e no cinema como profundamente sedutores, misteriosos e, à sua maneira, encantadores, pelo menos para quem se identifica.
Na literatura e nos filmes sempre encontramos as pessoas que querem ser mordidas pelos vampiros, querem viver essa intensa emoção de vida e morte, desejam viver a sedução e penetrar no mundo do mistério e, não raro, da fusão com o outro (desejo interior, embora perigoso, de todos os amantes).
O vampiro de Crepúsculo parece-se mais com o doce vampiro de Rita Lee.
No fundo, as pessoas andam muito carentes, e se encontram alguém que se importe e pareça as proteger, se entregam de maneira irracional e inconsequente.
Lembre-se que fora das telas existem vampiros reais, vampiros emocionais que não amam, não se apaixonam, não protegem de verdade e estão apenas interessados no que os favoreça.
Para essas pessoas que vampirizam as amizades, os ambientes de trabalho, as relações afetivas, você não passa de um suculento "pescoço" (objeto de desejo) e de "sangue fresquinho" (nova conquista). Acredite, esse tipo de "vampiro" é muito mais comum do que você possa imaginar, assim como é incrivelmente comum o número de pessoas que se deixam "vampirizar" porque em um mundo tão distante e carente. Ter um vampiro para chamar de seu, parece uma opção válida, mas não é...
Vampiros poéticos como Edward são pouco prováveis na vida real. Vampiros reais são sempre vampiros predadores e, assim como os escorpiões, à primeira oportunidade, manifestam sua essência e seus reais interesses. Como dizia nossa avó: mais vale estar só que mal acompanhado. Não saia por aí expondo sua jugular a qualquer um que se ofereça a cuidar de você!R.Planeta

A VIDA SIMBÓLICA DE PAPAI NOEL.


A arcaica figura do simpático velhinho que habita nossas mentes fala de uma intraduzível época a divagar por nossos sonhos. Entremeados na ilusão de escuras fantasias, a sombra de uma cultivada imagem se inquieta em nosso tempo.
Todos nós conhecemos a referente marca do antropológico homem de longas barbas brancas, a delatada lenda que culturalmente nos implica o reconhecimento natalino.
Mas a mitologia referente a Papai Noel nos leva muito adiante em alguns apontamentos. Se colocarmos nossos olhos na tradição que o envolve, veremos uma poderosa figura e entidade mítica que atravessa os campos e fronteiras culturais, transladando épocas, países e costumes dos povos da terra. Seu estudo, as aparições que o concernem e possibilitam, nos colocam até o fértil oceano mitológico das idéias culturais, propostas individual e especificamente em cada tradição folclórica.
Já no século passado o renomado antropólogo alemão Adolf Bastian (1826-1905), abria o campo da experiência da datação dos mitos para distinguir duas importantes concepções da esfera mitológica. Obsessivo historiador dos costumes de cada povo, experimentado e curioso explorador, Bastian, dentro das longas viagens que fez, desenvolveu a teoria das "idéais elementares" (Elementargedanke), em contrapartida as "idéias étnicas ou culturais" (Volkergedanke).
Dentro das "idéias étnicas", dizia ele, encontravam-se os possibilitadores, as inferências culturais e personalizadas que motivavam o desenvolvimento do mitos criadores, mais profundos e fundamentais a toda experiência humana no passar das eras (as "idéias elementares").
Assim, dentro de sua teoria, enfocava ele a maneira como um mito fundamental (um princípio criador/mobilizador ou um sistema de símbolos geral a experiência humana através dos tempos) ganhava corpo e instituía-se na possibilidade de transmutação e transmigração através dos tempos, mudando de forma, adquirindo novas carapaças/vestimentas e tonalidades para sobreviver ao longo de eras (na medida em que os povos davam novas e diferenciadas interpretações/afirmações).
Esta teoria, afirmava ele, fazia crer na maneira peculiar como os mitos iam gradual e progressivamente se modificando em novos povos e em novas épocas, quando assumiam e repercutiam novas e emergentes tendências de uma dada necessidade étnica.
Um mito genuíno, segundo ele, não ficava livre das novas e fortalecedoras vestimentas, os realces das máscaras culturais de um determinado povo sob determinada necessidade simbólica.
A mercê da síntese e decodificação, os mitos e as referidas mitologias eram "explorados" pelo sistema cultural emergente, quando uma "idéia elementar" comum ao psiquismo humano adquiria uma nova roupagem em abandono da estrutura antiga menos favorecida.
Tendo como base uma teoria difusionista (aceita por renomados mitólogos como Joseph Campbell), na qual os povos dominadores e tecnologicamente mais desenvolvidos sobrepujavam os menos favorecidos, mas sofrendo e incorporando influências das tradições e costumes locais (existindo grande intercâmbio entre culturas), podemos ver então como um mito particular e restrito inicialmente a um determinado povo, o Papai Noel da antiga Lapônia, vai sendo "adotado" e levado adiante pelas inumeráveis conquistas dos vencedores, na medida em que é sistemática e culturalmente absorvido pelos padrões mitológicos de cada povo diferente.
Visto dessa forma, podemos "revisitar" o mito de Papai Noel e explicá-lo em sua contraparte mitológica, resgatando seu valor pagão (os elementos que o compunham existiam muito antes da cristalizada imagem, do celebrado ícone da nossa era moderna).
Assim, tendo o mito de Papai Noel incorporado grandes significações, sendo adquirido e desenvolvido simbolicamente por muitas eras até "receber" a forma mítica padronizada dos tempos modernos.
Vendo-o sob a ótica dos primeiros tempos da alma, aos estágios e as camadas mais antigas da psique, e não apenas como a invenção-convenção institucionalizada pelo capitalismo, Papai Noel surge como o velho ser de natureza indômita e ancestral que resgata o arquétipo do velho homem de natureza pura e espirituosa, do brincalhão espírito da floresta que, adentrando pelas chaminés das casas em jornadas noturnas traz a possibilidade do desconhecido que existe em nós. E as imagens evocadas pelo símbolo do Papai Noel perdura insistentemente em nossos sonhos, indo muito além da mera marca, a distorcida e falsificada impressão proposta/imposta pelo mundo moderno.
Mas Papai Noel não teria sobrevivido, não teria sido "ocidentalizado", se não fosse necessário como símbolo e arquétipo de cada povo ao qual penetra, sensibilizando a imagem do sorridente e benévolo velhinho que, vivendo em terras distantes e desconhecidas, preenche o nosso sonho de paz, harmonia, reverência e compaixão que o natal nos trás. Por entre uma melodiosa atmosfera de conto de fadas que Papai Noel concede, podemos vislumbrar a realidade do natal em nossas vidas, nas distantes passagens das nossas mentes e no mais fundo de nós mesmos para recebermos a completude da mensagem que o pitoresco ancião, com suas aventuras fabulescas e inusitadas, insistentemente nos remete.
Trazendo de volta o campo perdido da onírica infância e da mitologia que esquecemos de olhar, que deixamos de "saber" procurar e talvez assim nos encontrar.
Por entre as chamas de uma estranha fogueira, cativando os numinosos sonhos esquecidos de nossa mente ancestral, Papai Noel sobrevive no coração de cada um de nós; como uma crença, um distorcido princípio ou uma esquecida possibilidade de imagem a ser miticamente reconhecida.Joseph Campbell ("As Transformações do mito através do tempo").