contos sol e lua

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Degraus (Hermann Hesse).

Assim como as flores murcham e a juventude cede à velhice, também os degraus da Vida, a sabedoria e a virtude, a seu tempo, florescem e não duram eternamente. A cada apelo da vida deve o coração estar pronto a despedir-se e a começar de novo, para, com coragem e sem lágrimas se dar a outras novas ligações. Em todo o começo reside um encanto que nos protege e ajuda a viver Serenos transponhamos o espaço após espaço, não nos prendendo a nenhum elo, a um lar; sermos corrente ou parada não quer o espírito do mundo. Mas de degrau em degrau elevar-nos e aumentar-nos. Apenas nos habituamos a um círculo de vida, íntimos, ameaça-nos o torpor; só aquele que está pronto a partir e parte se furtará à paralisia dos hábitos. Talvez também a hora da morte nos lance, jovens, para novos espaços, o apelo da Vida nunca tem fim... Vamos, Coração, despede-te e cura-te!

àrvores.Hermann Hesse.

“Para mim, as árvores sempre foram os pregadores mais penetrantes. Eu as reverencio quando elas vivem em tribos e famílias, nas florestas e bosques. E eu as reverencio ainda mais quando elas estão sozinhas. Elas são como pessoas solitárias. Não como eremitas, que se perderam por alguma fraqueza, mas como grandes homens solitários, como Beethoven e Nietzsche. Em seus galhos mais altos o mundo sussurra. Suas raízes descansam no infinito. Mas elas não se perdem lá; elas lutam com toda a força de suas vidas para uma única coisa: a realizar-se de acordo com suas próprias leis, para construir a sua própria forma, para representar a si mesmo. Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore, bela e forte. Quando uma árvore é cortada e revela a sua morte ferida nua para o Sol, pode-se ler a sua história inteira no disco luminoso, inscrito em seu tronco: nos anéis dos seus anos, suas cicatrizes, toda a sua luta, todo o seu sofrimento, todas as suas doenças, toda a sua felicidade e prosperidade estão realmente escritas, os anos difíceis e os anos de luxo, os ataques resistidos, as tempestades vencidas. E cada jovem das roças sabe que a madeira mais nobre e mais sólida tem os menores anéis, que no alto das montanhas e em perigo permanente são as árvores mais indestrutíveis, mais fortes, mais ideais, que crescem. As árvores são santuários. Quem sabe como falar com elas, e quem saber ouvi-las, pode aprender a verdade. Elas não pregam a aprendizagem ou preceitos. Elas pregam, sem se abalar, a antiga lei da vida. Uma árvore diz: um núcleo está escondido em mim, uma faísca, um pensamento, eu sou a vida da vida eterna. A tentativa e o risco que a mãe eterna tomou comigo é único, exclusivas as formas e as veias da minha pele, único também a menor das folhas em meus galhos e a menor cicatriz da minha casca. Eu fui criada para formar e revelar o eterno em cada um dos meus pequenos detalhes. Uma árvore diz: minha força é a confiança. Não sei nada sobre meus pais, eu não sei nada sobre os milhares de crianças que a cada primavera nascem de mim. Eu vivo o segredo da minha semente até o fim, e eu não me importo com nada além disso. Eu confio que Deus está em mim. Eu confio que o meu trabalho é sagrado. É dessa confiança que eu vivo. Quando somos feridos e não podemos mais suportar nossas vidas, então a árvore tem algo a nos dizer: atenção! Atenção! Olhe para mim! A vida não é fácil, a vida não é difícil. Esses são pensamentos infantis. Deixe Deus falar dentro de você e seus pensamentos irão crescer em silêncio. Você está ansioso porque o seu caminho conduz para longe da mãe e do lar. Mas cada passo e cada dia o levam de volta para a mãe. O lar não está aqui nem lá. Ou o lar está dentro de você, ou o lar não está em lugar algum. Uma ânsia para vagar arranca lágrimas do meu coração quando ouço as árvores farfalhando ao vento durante a noite. Se alguém ouve em silêncio por um longo tempo, esse desejo revela o seu núcleo, o seu significado. Não é tanto uma questão de escapar de um sofrimento, embora possa parecer assim. É uma saudade de casa, de uma memória da mãe, de novas metáforas para a vida. Isso o leva para casa. Cada caminho leva em direção a casa, cada passo é o nascimento, cada passo é a morte, cada túmulo é a mãe. Assim, a árvore sussurra à noite, quando estamos inquietos diante dos nossos próprios pensamentos infantis: árvores têm pensamentos longos, uma respiração longa e tranquila, assim como elas têm uma vida mais longa que a nossa. Elas são mais sábias do que nós, enquanto nós não as ouvirmos. Mas quando aprendemos a ouvir as árvores, a brevidade e a rapidez e a pressa infantil de nossos pensamentos alcançam uma alegria incomparável. Quem aprendeu a escutar as árvores já não quer ser uma árvore. Ele não quer ser nada, exceto o que ele é. Isso é estar em casa. Isso é a felicidade.”

domingo, 26 de abril de 2015

SETE PASSOS PRA CONQUISTAR FELICIDADE E PAZ INTERIOR.

1-Dê uma chance ao Divino, seja grato. Deixe a devoção florescer ao máximo e dê-lhe uma chance de funcionar. Nosso amor, fé e crença devem estar profundamente enraizados e depois tudo mais andará por conta própria. O sentimento de “Eu sou abençoado” pode ajudar você a superar qualquer fracasso. Quando você percebe que é abençoado, então todas as reclamações e resmungos desaparecem, todas as inseguranças desaparecem e você se torna grato, contente e tranquilo. 2-Reserve tempo para si mesmo. Todos os dias você está focado somente em reunir informações e não separa tempo para si mesmo, para pensar e refletir. Então você se sente aborrecido e cansado. Passar alguns instantes em silêncio alimenta a fonte de criatividade. O silêncio cura, rejuvenesce, lhe dá profundidade e estabilidade. Em algum momento durante o dia, sente-se por alguns minutos, entre na gruta do seu coração, de olhos fechados, e chute o mundo para longe como uma bola. Reservar algum tempo para si mesmo melhora a qualidade da sua vida. 3-Conheça a impermanência da vida. Veja a impermanência nesta vida. Milhões de anos passaram e milhões virão e passarão. Nada é permanente. O que é sua vida? Nada mais que uma gota no oceano.Apenas abra seus olhos e pergunte: Quem sou eu? Como estou neste planeta? O que é minha vida? A consciência acorda e você deixará de se preocupar com coisas pequenas. Todas as miudezas simplesmente desaparecerão e você será capaz de viver cada momento de sua vida. Se você revisar o contexto da sua vida, a qualidade dela melhora. 4-Pratique atos de bondade aleatórios. Se comprometa a fazer deste mundo um lugar melhor para viver. Pratique alguns atos de bondade sem esperar nada em troca. O serviço por si só pode trazer contentamento na vida. Cria um senso de pertencimento. Quando você proporciona certo alívio para alguém através do serviço, boas vibrações vêm para você. Quando você mostra bondade, sua verdadeira natureza, que é amor e paz dá as caras. 5-Barateie o seu sorriso. Todos os dias, todas as manhãs, olhe no espelho e dê um grande sorriso para si mesmo. Não deixe seu sorriso ser arrebatado por ninguém! Normalmente você dá sua raiva gratuitamente e sorri raramente como se um sorriso fosse mais custoso. Barateie o seu sorriso e encareça sua raiva. Quando você sorri todos os músculos da face relaxam. Os nervos do cérebro relaxam e você se torna pacífico por dentro. Proporciona confiança, coragem e energia para mover-se na vida. 6-Faça da meditação uma parte da vida. Os objetivos mais altos da vida nos leva ao estresse e à inquietação, os quais podem ser liberados simplesmente através de alguns minutos de meditação e introspecção. Meditação proporciona a você um descanso profundo. Quanto mais profundo você é capaz de descansar, mais dinâmica será a sua atividade. O que é meditação? A mente sem agitação é meditação; A mente no momento presente é meditação; A mente que não tem nenhuma hesitação, nenhuma antecipação, é meditação; A mente que volta para casa, para a origem, que é paz e alegria, é meditação. 7-Seja sempre um Aprendiz. Saiba que você é um aprendiz para sempre. Não subestime ninguém. O conhecimento pode vir para você de qualquer canto. Cada ocasião e cada pessoa ensinam a você. O mundo é seu professor. Quando você estiver sempre procurando aprender, deixará de subestimar os outros. A humildade alvorecerá na sua vida. Sri Sri Ravi Shankar

sábado, 25 de abril de 2015

TEORIA DAS ALMAS GÊMEAS - Emmanuel.

Será uma verdade a teoria das almas gêmeas? No sagrado mistério da vida, cada coração possui no Infinito a alma gêmea da sua, companheira divina para a viagem à gloriosa imortalidade. Criadas umas para as outras, as almas gêmeas se buscam, sempre que separadas. A união perene é-lhes a aspiração suprema e indefinível. Milhares de seres, se transviados no crime ou na inconsciência, experimentaram a separação das almas que os sustentam, como a provação mais ríspida e dolorosa, e, no drama das existências mais obscuras, vemos sempre a atração eterna das almas que se amam mais intimamente, envolvendo umas para as outras num turbilhão de ansiedades angustiosas; atração que é superior a todas as expressões convencionais da vida terrestre. Quando se encontram no acervo real para os seus corações – a da ventura de sua união pela qual não trocariam todos os impérios do mundo, e a única amargura que lhes empana a alegria é a perspectiva de uma nova separação pela morte, perspectiva essa que a luz da Nova Revelação veio dissipar, descerrando para todos os espíritos, amantes do bem e da verdade, os horizontes eternos da vida. A atração das almas gêmeas é traço característico de todos os planos de luta na Terra? O Universo é o plano infinito que o pensamento divino povoou de ilimitadas e intraduzíveis belezas. Para todos nós, o primeiro instante da criação do ser está mergulhado num suave mistério, assim como também a atração profunda e inexplicável que arrasta uma alma para outra, no instituto dos trabalhos, das experiências e das provas, no caminho infinito do Tempo. A ligação das almas gêmeas repousa, para o nosso conhecimento relativo, nos desígnios divinos, insondáveis na sua sagrada origem, constituindo a fonte vital do interesse das criaturas para as edificações da vida. Separadas ou unidas nas experiências do mundo, as almas irmãs caminham, ansiosas, pela união e pela harmonia supremas, até que se integrem, no plano espiritual, onde se reúnem para sempre na mais sublime expressão de amor divino, finalidades profundas de todas as cogitações do ser, no Dédalo do destino. A união das almas gêmeas pode constituir restrição ao amor universal? O amor das almas gêmeas não pode efetuar semelhante restrição, porquanto, atingida a culminância evolutiva, todas as expressões afetivas se irmanam na conquista do amor divino. O amor das almas gêmeas, em suma, é aquele que o Espírito, um dia, sentirá pela Humanidade inteira. Perante a teoria das almas gêmeas, como esclarecer a situação dos viúvos que procuram, novas uniões matrimoniais, alegando a felicidade encontrada no lar primitivo? Não devemos esquecer que a Terra ainda é uma escola de lutas regeneradoras ou expiatórias, onde o homem pode consorciar-se várias vezes, sem que a sua união matrimonial se efetue com a alma gêmea da sua, muitas vezes distante da esfera material. A criatura transviada, até que se espiritualize para a compreensão desses laços sublimes, está submetida, no mapa de suas provações, a tais experiências, por vezes pesadas e dolorosas. A situação de inquietude e subversão de valores na alma humana justifica essa provação terrestre, caracterizada pela distância dos Espíritos amados, que se encontram num plano de compreensão superior, os quais, longe de desdenharem as boas experiências dos companheiros de seus afetos, buscam facultar-lhes com a máxima dedicação, de modo a facilitar o seu avanço direto às mais elevadas conquistas espirituais. Os Espíritos evoluídos, pelo fato de deixarem algum amado na Terra, ficam ligados ao planeta pelos laços da saudade? Os espíritos superiores não ficam propriamente ligados ao orbe terreno, mas não perdem o interesse afetivo pelos seres amados que deixaram no mundo, pelos quais trabalham com ardor, impulsionando-os na estrada das lutas redentoras, em busca das culminâncias da perfeição. A saudade, nessas almas santificadas e puras, é muito mais sublime e mais forte, por nascer de uma sensibilidade superior, salientando-se que, convertida num interesse divino, opera as grandes abnegações do Céu, que seguem os passos vacilantes do Espírito encarnado, através de sua peregrinação expiatória ou redentora na face da Terra. Somente pela prece a alma encarnada pode auxiliar um Espírito bem-amado que a antecedeu na jornada do túmulo? A oração coopera eficazmente em favor do que partiu, muitas vezes com o espírito emaranhado na rede das ilusões da existência material. Todavia, o coração amigo que ficou aí no mundo, pela vibração silenciosa e pelo desejo perseverante de ser útil ao companheiro que o precedeu na sepultura, para os movimentos da vida, nos momentos de repouso do corpo, em que a alma evoluída pode gozar de relativa liberdade, pode encontrar o Espírito sofredor ou errante do amigo desencarnado, despertar-lhe à vontade no cumprimento do dever, bem como orienta-lo sobre a sua realidade nova, sem que a sua memória corporal registre o acontecimento na vigília comum. Daí nasce à afirmativa de que somente o amor pode atravessar o abismo da morte. Emmanuel (“O Consolador” – 322 a 330 - Chico Xavier)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O ciclo dos sete anos.

A vida tem círculos de sete anos, ela se move em círculos de sete anos exatamente como a terra faz uma rotação em seu eixo em vinte e quatro horas. Ninguém sabe porque não são nem vinte e cinco nem vinte e três horas. Não há nenhum jeito de se responder isso. É simplesmente um fato. Assim, não me pergunte porque a vida se move em círculos de sete anos. Eu não sei. O máximo que eu sei é que ela se move em círculos de sete anos. E se você compreender esses círculos de sete anos, você compreenderá uma grande coisa sobre o crescimento humano. Os primeiros sete anos são os mais importantes porque os alicerces da vida estão sendo assentados. É por isso que todas as religiões estão muito preocupadas em agarrar as crianças o mais rápido possível. Os judeus circuncidam as crianças. Que bobagem! Mas eles estão carimbando a criança como uma judia. Essa é uma maneira primitiva de carimbar. Ainda se faz isso com o gado aqui nas redondezas. Aqueles primeiros sete anos são os anos em que você é condicionado, é preenchido com todos os tipos de idéias que irão atormentá-lo ao longo de toda a sua vida, que irão distraí-lo de sua potencialidade, que irão corrompê-lo, que nunca irão lhe permitir ver claramente. Elas sempre virão como nuvens diante de seus olhos e irão fazer com que tudo fique confuso. As coisas são claras, muito claras. A existência é absolutamente clara. Mas os seus olhos têm camadas e mais camadas de poeira. E toda essa poeira foi arranjada nos primeiros sete anos de sua vida, quando você era tão inocente, tão confiante, que qualquer coisa que lhe fosse dita você aceitava como sendo verdadeira. E mais tarde, será muito difícil você descobrir tudo aquilo que entrou em seus alicerces. Terá se tornado quase parte de seu sangue, ossos, de sua própria medula. Você perguntará mil outras questões, mas você nunca perguntará a respeito dos alicerces básicos de suas crenças. A primeira expressão de amor para com a criança é deixá-la absolutamente inocente em seus primeiros sete anos, sem condicionamento, deixá-la por sete anos completamente selvagem, uma pagã. Ela não deveria ser convertida ao hinduismo, ao islamismo, ao cristianismo. Qualquer um que esteja tentando converter a criança, não tem compaixão, é cruel, está contaminando a própria alma de um viçoso recém-chegado. Antes mesmo que a criança tenha formulado perguntas, ela já terá recebido respostas com filosofias , dogmas e ideologias pré-fabricadas. Essa é uma situação muito estranha. A criança não perguntou a respeito de Deus e você já está lhe ensinando. Por que tanta impaciência? Espere! Se algum dia a criança demonstrar interesse por Deus e começar a perguntar a respeito, então tente dizer a ela não apenas a sua idéia sobre Deus, porque ninguém tem qualquer monopólio. Coloque diante dela todas as idéias de Deus que estiveram presentes em diferentes povos, em épocas diferentes, por religiões, culturas e civilizações diferentes. E lhe diga: 'Você pode escolher dentre essas aquela que mais lhe atrai. Ou você pode inventar a sua própria, se nenhuma estiver adequada. Se todas lhe parecerem defeituosas, e você achar que pode ter uma idéia melhor, então invente a sua própria. Ou se você achar que não há jeito de inventar uma idéia sem falhas, então abandone toda essa história, ela não é necessária. Um homem pode viver sem Deus.' Não há qualquer necessidade de que o filho tenha que concordar com o pai. Na verdade parece muito melhor que ele não tenha que concordar. É assim que a evolução acontece. Se toda criança concordar com o pai, então não haverá qualquer evolução, porque o pai terá concordado com seu próprio pai, e todo mundo estará no ponto em que Deus deixou Adão e Eva: nus e expulsos do jardim do Éden. Todo mundo estará lá. O homem tem evoluído porque os filhos têm discordado de seus pais, dos pais de seus pais e de todas as tradições. Toda essa evolução é uma tremenda divergência com o passado. Quanto mais inteligente você for, mais você irá discordar. Mas os pais valorizam as crianças que concordam e condenam as que discordam. Até os sete anos, se a criança puder ser deixada inocente, não corrompida pelas idéias dos outros, assim tornar-se-á impossível distraí-la de seu crescimento potencial.Os primeiros sete anos da criança são os mais vulneráveis. E elas estão nas mãos dos pais, dos professores, dos padres.... Como defender as crianças dos pais, dos padres e dos professores é uma questão de tamanha proporção que parece quase impossível de se fazer. Não é uma questão de ajudar a criança. A questão é proteger a criança. Se você tiver uma criança, proteja-a de si mesmo. Proteja a criança dos outros que possam influenciá-la, pelo menos até os sete anos, proteja-a. A criança é como uma pequena plantinha, fraca e suave. Um simples vento forte pode destruí-la, qualquer animal pode comê-la. Você põe um fio protetor ao redor dela, mas não a aprisiona, você está simplesmente protegendo-a.Quando a planta estiver maior, o fio será removido. Proteja a criança de todo tipo de influência de modo que ela possa permanecer ela mesma. E isso é só uma questão de sete anos, porque então o primeiro círculo estará completo. Aos sete anos ele estará bem enraizado, centrado, forte o suficiente. Você não sabe o quanto uma criança de sete anos pode ser forte porque você só tem visto crianças corrompidas. Elas carregam os medos e a covardia de seus pais, mães e familiares. Elas não são elas mesmas. Se uma criança permanecer sem ser corrompida por sete anos... Você ficará surpreso ao encontrar tal criança. Ela será tão afiada como uma espada. Seus olhos serão claros, seus insights serão claros. E você verá nela uma tremenda força que você não poderá encontrar nem mesmo num adulto de setenta anos. Se você é um pai (ou mãe), você precisará muito dessa coragem para não interferir. Abra portas para direções desconhecidas de modo que a criança possa explorá-las. Ela não conhece o que ela tem dentro dela, ninguém sabe. Ela terá que tatear no escuro. Não faça com que ela tenha medo do escuro, não faça com que ela tenha medo do fracasso, não faça com que ela tenha medo do desconhecido. Dê a ela suporte. Quando ela estiver indo para uma jornada desconhecida, ofereça a ela todo o seu suporte, com todo o seu amor, com todas as suas bênçãos. Não deixe que ela seja afetada pelos seus medos. Você pode ter medos, mas mantenha-os consigo mesmo. Não descarregue esses medos em cima da criança, porque isso será interferência. Depois dos sete anos, no próximo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, algo novo é acrescentado à vida: os primeiros alvoroços da energia sexual da criança. Mas elas são apenas uma espécie de ensaio. Ser pai é uma tarefa difícil. Assim, a não ser que você esteja pronto para assumir tal tarefa difícil, não se torne um pai. As pessoas simplesmente seguem se tornando pais e mães sem saber o que estão fazendo. Você está trazendo uma vida à existência e todo o cuidado do mundo será necessário. Agora, quando a criança começa a brincar com seus ensaios sexuais, é o tempo em que os pais mais interferem, porque foi assim que fizeram com eles. Tudo o que eles sabem é o que foi feito com eles, assim eles seguem fazendo o mesmo com as suas crianças. As sociedades não permitem ensaio sexual, pelo menos não permitiram até o século XX, exceto nas duas e três últimas décadas em alguns países muito avançados. Agora já existem escolas mistas para as crianças, mas em um país como a Índia, mesmo agora, a educação mista começa a surgir apenas no nível universitário. O menino de sete anos e a menina de sete anos não podem estar no mesmo internato. E este é o momento para eles, sem qualquer risco, sem perigo de gravidez, sem que quaisquer problemas surjam para suas famílias; este é o momento em que lhes deveriam ser permitidas todas as brincadeiras. Sim, isso terá uma conotação sexual, mas será só um ensaio, não se trata de um drama teatral verdadeiro. E se você não permitir a eles nem mesmo esse ensaio, de repente então, um dia a cortina se abrirá e o verdadeiro drama começará... E eles não saberão o que está acontecendo e não haverá nem mesmo aquela pessoa escondida no palco para lhes soprar o que devem fazer. Você terá bagunçado a vida deles completamente. Esses sete anos, o segundo círculo da vida, são significantes como um ensaio. Eles se encontrarão, se misturarão, brincarão e se conhecerão. E isso ajudará à humanidade a se livrar de quase noventa por cento das perversões. Se às crianças dos sete aos quatorze for permitido estarem juntas, nadarem juntas, estarem nuas juntas, noventa por cento das perversões e noventa por cento das pornografias irão simplesmente desaparecer. Quem irá dar atenção a essas coisas? Quando um garoto conheceu tantas garotas nuas, que interesse uma revista tipo Playboy poderá ter para ele? Quando uma garota tiver visto tantos garotos nus, eu não vejo qualquer possibilidade de existir curiosidade a respeito do outro. Isso simplesmente desaparecerá. Eles irão crescer juntos naturalmente, não como duas espécies diferentes de animais. É assim que eles crescem agora, como duas espécies diferentes de animais. Eles não pertencem à mesma espécie humana, eles são mantidos separados. Mil e uma barreiras são criadas entre eles, e não lhes permitem qualquer ensaio de sua vida sexual que está chegando... Se você tiver feito o dever de casa direitinho, se você tiver brincado com sua energia sexual exatamente com o espírito de um desportista (e naquela idade este é o único espírito que você poderia ter), você não se tornará um pervertido, um homossexual. Todo tipo de coisas estranhas não virão à sua cabeça, porque você está se movendo naturalmente com o outro sexo e o outro sexo está se movendo com você. Não haverá qualquer bloqueio e você não estará fazendo nada errado com quem quer que seja. Sua consciência estará clara porque ninguém pôs nela idéias do que é certo e do que é errado. Você simplesmente está sendo o que você é. Dos quatorze aos vinte e um o seu sexo amadurece. E isso é significante para se entender: se o ensaio tiver sido bom no período dos sete aos quatorze quando o sexo amadurece, acontece uma coisa muito estranha que você nem mesmo deve ter pensado a respeito, porque não lhe foi dada a oportunidade. Eu disse a você que o segundo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, deu a você um vislumbre de antes da peça teatral. O terceiro círculo de sete anos da a você um vislumbre do que vem depois.Você está ainda com garotas ou garotos, mas agora uma nova fase começa em seu ser: você começa a se apaixonar. Não é ainda um interesse biológico. Você não está interessado em procriar, você não está interessado em se tornar marido ou esposa. Esses são os anos dos jogos românticos. Você está mais interessado na beleza, no amor, na poesia, na escultura, que são fases diferentes de romantismo. Dos vinte e um aos vinte e oito é um tempo em que eles podem se acertar. Eles podem escolher um companheiro. E eles são capazes de escolher agora, através de toda a experiência dos dois círculos passados eles podem escolher o companheiro certo. Não há mais ninguém que possa fazer isso por você. Isso é algo como um pressentimento. Nenhuma aritmética, nenhuma astrologia, nenhuma quiromancia, nenhum I-Ching poderão fazer isso. Isso é um pressentimento: entrando em contato com muitas, muitas pessoas, de repente alguma coisa dá um clique que nunca deu com qualquer outra pessoa. E isso clica com tanta certeza e tão absolutamente, que você não pode nem mesmo duvidar. Mesmo se você tentar duvidar, você não conseguirá. A certeza é tão tremenda. Com esse clique vocês se acertam. Entre os vinte e um e os vinte e oito, em algum lugar, se tudo correr bem do jeito que eu estou dizendo, sem interferência de outros, então vocês se acertam. E o período mais agradável da vida vem dos vinte e oito aos trinta e cinco: o mais alegre, o mais pacífico e harmonioso, porque duas pessoas começam a se derreter e a se fundir uma com a outra. Dos trinta e cinco aos quarenta e dois, um novo passo, uma nova porta se abre. Se até os trinta e cinco você sentiu profunda harmonia, uma sensação orgástica e tiver descoberto a meditação através disso, então, dos trinta e cinco aos quarenta e dois vocês ajudarão um ao outro a ir mais e mais fundo na meditação sem sexo, porque o sexo neste ponto começa a parecer infantil, juvenil. Quarenta e dois anos é o tempo certo quando a pessoa deveria ser capaz de saber exatamente quem ela é. Dos quarenta e dois aos quarenta e nove ela vai mais fundo e mais fundo na meditação, mais e mais para dentro de si mesmo, e ajuda o companheiro no mesmo caminho. Eles se tornam amigos. Não mais existe marido e não mais existe esposa. Esse tempo já passou. Isso já deu a sua riqueza para a sua vida. Agora existe alguma coisa mais alta, mais alta que o amor. Isso é amizade, um relacionamento de compaixão para ajudar o outro a ir mais fundo dentro de si mesmo, a se tornar mais independente, a se tornar mais só, como duas árvores altas, separadas mas ainda próximas uma da outra, ou dois pilares num templo suportando o mesmo teto, estando tão próximos e tão separados, tão independentes e tão sós. Dos quarenta e nove aos cinqüenta e seis essa solitude se torna o foco de seu ser. Tudo no mundo perde o significado. A única coisa significante que permanece é essa solitude. Dos cinqüenta e seis aos sessenta e três você se torna totalmente o que você está para ser: o florescimento potencial. Dos sessenta e três aos setenta você começa a ficar pronto para deixar o corpo. Agora você sabe que não é o corpo, você sabe que também não é a mente. O corpo era conhecido como separado de você em algum lugar quando você tinha trinta e cinco anos. Que a mente está separada de você foi conhecido em algum lugar quando você tinha quarenta e nove anos. Agora, tudo mais foi deixado de lado exceto a auto observação. Só a pura consciência, a chama da consciência permanece com você, e isso é a preparação para a morte. Setenta é a duração de vida natural para o homem. E se as coisas se moverem em seu curso natural, então ele morre com tremenda alegria, em grande êxtase, sentindo-se imensamente abençoado porque a sua vida não foi sem significado e que, pelo menos, ele encontrou o seu lar. E por causa dessa riqueza, dessa realização, ele é capaz de abençoar toda a existência. Só por estar perto de tal pessoa, quando ela está morrendo, é uma grande oportunidade. Você sentirá, na medida em que ele deixa o corpo, algumas flores invisíveis caindo sobre você. Embora você não possa vê-las, você poderá senti-las." OSHO

Vivendo aqui e agora.

Osho diz: Existem dois tipos de vida. Uma orientada pelo medo; e a outra, orientada pelo amor. A vida orientada pelo medo não pode nunca leva-lo a um relacionamento profundo. Você permanece no medo e não aceita o outro – não pode aceitar que penetrem no seu âmago mais profundo. Até um determinado ponto você aceita o outro; além desse ponto um muro vem e tudo estaciona. Perceba... A pessoa orientada pelo amor é aquela que não tem medo do futuro, não tem medo dos resultados e consequências – é aquela que vive aqui e agora. É isso o que Krsna diz a Arjuna no Gita: Não se preocupe com os resultados – não pense sobre o que acontecerá depois. Apenas esteja aqui, e aja totalmente. Não planeje. Um homem orientado pelo medo está sempre calculando, planejando, manipulando. Toda a sua vida é perdida dessa maneira. Ouvi falar sobre um velho monge Zen. Ele estava em seu leito de morte. Seu último dia chegou. E ele declarou que depois dessa noite não estaria mais vivo. Assim, seus seguidores, discípulos e amigos começaram a chegar. Todos eles vieram – chegaram pessoas de todas as partes. Um de seus antigos discípulos, quando ouviu que o Mestre estava morrendo, correu para o mercado. Alguém lhe perguntou: O mestre está morrendo em sua cabana – por que você está indo para o mercado¿ O discípulo respondeu: Sei que meu mestre adora um tipo especial de bolo, por isso estou indo comprá-lo. Era difícil encontrar esse bolo, mas, de algum modo, à noite, ele o conseguiu e voltou correndo com o bolo. Todo mundo estava preocupado – era como se o Mestre estivesse esperando por alguém. Ele abria os olhos, olhava e fechava-os novamente. Quando o discípulo chegou, ele disse: Que bom que você veio. Onde está o bolo¿ O discípulo lhe entregou o bolo – e ficou muito feliz do Mestre ter perguntado a respeito. Já morrendo, o Mestre pegou o bolo em suas mãos, mas elas não estavam tremendo. Ele era muito velho, mas suas mãos não tremiam. Então, alguém falou: Você é tão velho e está quase na hora da morte. Sua última respiração está se aproximando, mas suas mãos não tremem! O Mestre disse: Eu nunca tremo – porque não tenho medo. Meu corpo ficou velho, mas ainda sou jovem. E continuarei jovem mesmo quando este corpo se for. Então ele pegou um pedaço de bolo. Alguém perguntou: Qual é a sua última mensagem, Mestre¿ Você nos deixará logo. O que deseja que nós nos lembremos¿ O Mestre sorriu e disse: Ah! Que bolo delicioso! Perceba... Este é um homem que vive no aqui e agora: Que bolo delicioso! Até a morte é irrelevante. O próximo momento não significa nada. Este momento, este bolo é delicioso. Quando você puder estar neste momento, no momento presente, na presença – na plenitude, só então poderá amar. O amor é um florescimento raro. Acontece apenas algumas vezes. Milhões e milhões de pessoas vivem com uma atitude falsa, pensando que são amantes. Acreditam que amam, mas isso é apenas uma crença. O amor é um florescimento raro. Algumas vezes, ele acontece. É raro porque só acontece quando não há nenhum medo; antes disso, nunca. Esse amor significativo só acontece para uma pessoa profundamente espiritual, religiosa. O sexo é possível para todos; a familiaridade é possível para todos. O amor não. Quando você não tem medo, não tem nada para esconder – pode estar aberto, pode retirar todos os limites. E então, convidar o outro para penetrá-lo – na sua própria essência. Mas perceba... Em seu amor o medo está sempre presente. O marido tem medo da esposa, a esposa tem medo do marido. Os amantes são sempre medrosos. Então não há amor – há apenas um arranjo – de duas pessoas medrosas dependendo uma da outra, brigando, explorando, manipulando, controlando, dominando, possuindo – isto não é amor. Se você permitir que o amor aconteça, não haverá necessidade de oração, não haverá necessidade de meditação, não haverá necessidade de qualquer igreja ou templo.

Necessidades e desejos.

Procure perceber que os desejos são muitos, mas as necessidades são poucas. As necessidades podem ser satisfeitas... Os desejos nunca. Desejo é uma necessidade que enlouqueceu. É impossível satisfazê-lo. Quanto mais vc tentar satisfazê-lo, mais ele pedirá. Conta uma história Sufi que, quando Alexandre – O Grande, morreu e chegou ao paraíso, ele estava carregando todo o seu peso: Todo o seu reinado, ouro, diamantes... É claro que não em realidade, mas como uma idéia. O guardião do portal do paraíso começou a rir e perguntou: “Por que vc está carregando tanto fardo”? E Ele respondeu: “Que fardo”? Então o guardião lhe deu uma balança e em um de seus pratos colocou um olho e pediu a Alexandre para colocar no outro prato todo o seu peso, sua grandeza, seus tesouros e o reinado. Mas aquele olho ainda permaneceu mais pesado do que todo o reino de Alexandre. O guardião disse: “Esse é um olho humano. Ele representa o desejo humano e não pode ser satisfeito, não importa o tamanho do seu reino e a intensidade de seus esforços.” Depois, o guardião jogou um pouco de poeira no olho, que imediatamente piscou e perdeu todo o seu peso. Uma pequena poeira de entendimento precisa ser jogada no olho do desejo. O desejo desaparece e permanece somente a necessidade, que não é pesada. As necessidades são muito poucas e são belas. Os desejos são feios e transformam os seres humanos em monstros: Eles criam loucos. Assim que vc começar a escolher a serenidade, um pequeno quarto será suficiente, uma pequena quantidade de comida será suficiente, poucas roupas serão suficientes e apenas uma pessoa amada será suficiente.osho.

Humildade.

Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi. Que não sinta o que não tenho. Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou. Dai, Senhor, que minha humildade seja como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura numa terra sedenta e num telhado velho. Que eu possa agradecer a Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa. Cora Coralina

A MÚSICA DAS ESFERAS.

A MÚSICA DAS ESFERAS. Por Margarete Hülsendeger ⋅ O frio era intenso. A neve, que não parava de cair desde o dia anterior, acumulava-se pelas ruas. Dentro do quarto, no entanto, em uma pequena lareira, o fogo crepitava de forma reconfortante, diminuindo a sensação de frio. Na mesa velha e desconjuntada, um homem inclinava-se concentrado sobre diversos papéis. A barba por fazer e as profundas e cinzentas olheiras eram as marcas mais evidentes do seu cansaço. Contudo, apesar dos músculos doloridos, ele se negava a descansar. Distraído, pegou, de um prato colocado sobre a mesa, um pedaço de pão já meio duro. Sem interromper o que estava fazendo começou a mordiscá-lo – esse seria o seu café da manhã. O cosmos se mostrara de uma complexidade fantástica. Nem mesmo Copérnico poderia imaginar o quanto o conhecimento evoluiria após a sua morte. Descobertas impressionantes estavam, em sua opinião, conduzindo a humanidade para mais perto de Deus. Sendo um homem de fé, sentia-se na obrigação de buscar as respostas que melhor explicassem essa complexa organização do universo. Entretanto, as tabelas que ele mesmo elaborara, a partir de suas observações dos céus, não estavam, no momento, ajudando-o a compreender essa nova ordem cósmica. Algo não se encaixava. Sabia que alguma coisa estava faltando. Suas medições haviam comprovado que os planetas giravam a volta do Sol, com suas diferentes órbitas e tempos, em absoluta harmonia. Portanto, seus deslocamentos deviam seguir uma lei e ela, por sua vez, podia ser expressa por uma simples equação matemática. Tinha certeza que as respostas às suas dúvidas achavam-se bem diante de seus olhos. Era-lhe impossível acreditar que Deus – o Divino Geômetra –, em sua suprema sabedoria, construíra o Universo à sua imagem e semelhança para que seus mistérios permanecessem ocultos, longe da compreensão do homem. Empurrando para o lado todos aqueles papéis, debruçou-se sobre a mesa. Fechou os olhos. Se pudesse ver além de todos esses números. Se pudesse encontrar o caminho para compreender o que eles tentavam-lhe mostrar, quem sabe, a vontade de Deus não lhe fosse revelada. Suspirou. Em um crucifixo, na parede em frente à sua mesa, um Cristo de expressão triste e sofredora o encarava. Parecia sentir pena dele. O cansaço acabou vencendo-o e, sem querer, adormeceu. Viu-se caminhando por um velho cemitério. Tratava-se do cemitério onde sua mãe fora enterrada. Entretanto, ele sabia que não estava ali por causa dela. Procurava algo. Com ansiedade crescente ia percorrendo os túmulos, examinando as inscrições gravadas em cada lápide. Nomes, datas e epitáfios de todos os tipos sucediam-se um após o outro, aumentando ainda mais a sua angústia. Estava assim, procurando, quando ele o viu. Encontrava-se afastado dos demais túmulos. Mofo e ervas daninhas o cobriam quase que por completo. Seu aspecto era de total abandono. Aproximou-se bem devagar. Não tinha mais pressa. Quando estava diante dele, ajoelhou-se na terra e leu o que na lápide estava inscrito: Os céus medi, e agora meço as sombras. Meu espírito ao céu sempre esteve preso. E agora preso à terra jaz meu corpo*. E mais abaixo as iniciais J.K. Não ficou surpreso. Na verdade, em seu íntimo, sabia que era isso o que buscava, só não havia ainda tido coragem de reconhecer para si mesmo. Por essa razão, também não se surpreendeu quando, ao seu redor e por todo o espaço, passou a ouvir uma música que, por sua beleza, só podia ser de origem divina. Deixando-se embalar por ela, sentiu, talvez pela primeira vez, uma alegria e paz profundas. E, finalmente, estando tomado por essas emoções, foi capaz de ver. Encontravam-se todos lá – e mais outros que ele não reconheceu –, girando em harmonia em torno do Sol e, como sempre fora a sua convicção, obedecendo a leis que ele agora conseguiu compreender. Quando acordou, a neve havia parado de cair. Abrindo a janela viu que entre as nuvens cinzentas o Sol tentava aparecer. Com a música das esferas – assim resolveu chamá-la – ainda soando em seus ouvidos, entendeu que a morte não podia ser evitada. No entanto, agora compreendia que mesmo que o seu corpo viesse a pertencer à terra, os céus e todos os seus mistérios seriam para sempre o seu verdadeiro lar. * Epitáfio escrito por Johannes Kepler. Astrônomo alemão (1571-1630)

sábado, 4 de abril de 2015

Acima da Verdade.

Acima da verdade estão os deuses. A nossa ciência é uma falhada cópia Da certeza com que eles Sabem que há o Universo. Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses, Não pertence à ciência conhecê-los, Mas adorar devemos Seus vultos como às flores, Porque visíveis à nossa alta vista, São tão reais como reais as flores E no seu calmo Olimpo São outra Natureza. ricardo reis.

Aprender-a-ser.

A Provação do Peregrino. Todos vivemos várias provações ao longo da nossa existência terrena, períodos mais ou menos longos, em que somos assolados por diversas experiências bastante dolorosas; podemos citar a título de exemplo a perda de um ente querido, a falência de uma empresa, uma separação conjugal, algo intenso que provoca no indivíduo tristeza, instabilidade, insegurança, incerteza, lançando o ser numa crise profunda que atinge todas as áreas do seu ser, incluindo o seu lado espiritual. Os estudantes das várias correntes espirituais sabem que nada funciona por acaso e que tudo o que nos é dado viver tem um sentido oculto. Vários são os caminhos tomados face a estes períodos. Surge na maioria uma desorientação que, progressivamente, origina uma desconexão com o seu lado espiritual, até se perderem no nevoeiro e tempestades da vida. Podem deambular durante uma vida, desperdiçando oportunidades evolutivas, desmotivados, descrentes, longe do Sentido que inicialmente buscavam. Alguns costumam ficar obcecados com o passado longínquo e detêm-se em procurar ligações cármicas, buscando o fio antigo de sentidos; normalmente, tal é a obstinação por este trilho que rapidamente se perdem em mistificações ou deambulam em teias de fértil imaginação; outros refugiam-se numa atitude triste e submissa, aceitando o pesado destino com resignação. Entre o nevoeiro e a luz outros há que, após fases sucessivas de quedas e de recomeços, vão perdendo e reencontrando o caminho que procuravam, num balanço entre o afastamento e o retorno. Poucos são os que nunca perdem de vista o farol interior que os ilumina, ainda que se percam nos caminhos e atalhos da vida. Para todos a provação pode ser vista sob várias faces ou todas numa só: — funciona como uma prova às capacidades do peregrino, no fundo, um teste a aprendizagens anteriores; — necessidade de mudar de rumo, fazer novas escolhas difíceis, porém adequadas ao novo momento evolutivo; — necessidade de redefinir os sonhos, os objectivos de vida; novas aprendizagens estão na forja. Todos sentem que nesses momentos há determinadas aprendizagens – vontade, discernimento, pensamento positivo – que se afinam ou comportamentos que se adoptam, a disciplina, por exemplo; sentem também que há capacidades novas que emergem. Todas estas capacidades e atitudes podem tornar-se as nossas âncoras, mas só uma se afigura na provação como o nosso refúgio e salvação: a oração, esse fio de luz que nos liga à nossa Casa, nos devolve aos braços do Criador num breve alento para novas batalhas. Qualquer situação, por mais distorcida que se afigure, não tem mais força do que o poder de uma oração sincera e a nossa persistência nesse acto ajudará a ultrapassar qualquer provação, visível ou invisível, a seu tempo. Maria Coriel

À procura da felicidade.

Procustes: o ladrão de almas. Este mito conta a história dos caminhantes que viajavam para Atenas e eram atraídos por Procustes que lhes oferecia abrigo e comida. Uma vez deitados, Procustes amarrava-os e verificava se cabiam na cama, cortando-lhes as partes sobrantes, se fossem demasiado grandes, ou esticando-os dolorosamente, se fossem muito pequenos. Esta narrativa constitui uma metáfora de uma parte da nossa vida. Atenas simboliza o centro dos nossos objectivos, o sucesso a atingir, o êxito que delineámos. Mas nós não somos os únicos autores desta construção mental, do que idealizámos para nós. Os nossos pais começaram desde cedo, estabelecendo patamares que gostariam de ver realizados, depositando em nós muitas expectativas. No entanto, na maior parte das vezes, o seu sonho ainda menino não tem em conta a nossa singularidade, as nossas possibilidades e tendências, traços que a Astrologia ensina a identificar. O bebé que recebem é uma projecção do ser ideal, distante do ser real. Deste modo, Atenas é a metáfora de felicidade que varia consoante a cultura em que nascemos, o grupo social, a educação que recebemos, o sexo e a religião em que nos encontramos integrados. Atenas resulta, assim, de um triângulo nem sempre em equilíbrio: do meio envolvente, do que desejamos e do que os outros esperam de nós, aos níveis familiar, afectivo, profissional e social. Desde que nascemos que nos empurram para Atenas, ensinando-nos, moldando-nos, castigando-nos ou premiando-nos, durante as sucessivas etapas da infância e da juventude. Primeiro a família, depois a escola, o grupo de amigos, vamo-nos moldando, sempre em função de padrões comportamentais, em busca de sucesso, de reconhecimento, de aprovação, de afecto. Este processo de automutilação psíquica e de sacríficio desmedido acontece-nos amiúde e de forma inconsciente, muitas das vezes: quando a família nos crítica por determinadas atitudes ou devido a traços da nossa personalidade, quando o grupo nos rejeita por algum aspecto do nosso carácter, quando somos humilhados pela imagem física, quando sentimos que podemos ser abandonados por uma determinada atitude e tememos actuar, quando as memórias nos magoam e as amachucamos no fundo de nós, quando adoptamos posturas para não perdermos o emprego ou para subirmos na escala social. Desmembrando-nos ou esticando-nos, lá vamos a caminho de Atenas, aquela que projectámos, a terra prometida. O processo de moldagem – através do castigo, do prémio, da humilhação, do medo, da culpa, do julgamento social, da dor - de adaptação à cama de Procustes é dolorosa porque vamos abdicando de partes de nós, esquecendo outras, adormecidas e jogadas para o fundo do nosso íntimo, sacrificando-nos até não podermos mais. Aprendemos, ainda que distorcidamente, que devemos tudo isso para não sermos abandonados, rejeitados, humilhados, para não deixarmos escapar a felicidade, o sucesso profissional, o amor. Com o tempo, vamos perdendo a autenticidade, afastamo-nos da nossa natureza divina, amorosa e livre. Ficamos presos à cama de Procustes. Corremos sérios riscos de nos tornarmos inseguros, medrosos, ansiosos, amargos, intolerantes, perdendo pouco a pouco a autoestima. Vamo-nos isolando em terrenos íntimos, descrentes de que alguma vez atinjamos Atenas, mas, ainda assim, ela permanece como a terra prometida, até se tornar uma imagem distante, embaciada, difusa. Quando somos lançados em ciclos de crise profunda, somos convidados a descer ao mais íntimo de nós. Aí, olhamo-nos e vemo-nos a caminhar coxeando, porque mutilados; perdemos o equilíbrio, a segurança no andar. O sacrifício trouxe-nos um cansaço que secou a alma. Ao que sobrou de nós, juntam-se anos de medos, de culpas, de cansaços, de humilhações, de dor, de ressentimentos, de mágoas. Olhamos pedaços de nós que foram esquecidos, adiados, cortados e jogados fora. As crises podem ser processos de recuperação do nosso ser, de retorno à nossa autenticidade, de (re)decoberta da nossa natureza divina. Só nós podemos iniciar a mudança, só nós podemos resgatar-nos do processo de mutilação e de sacríficio desmesurado a que concordámos em nos submeter. Só nós podemos libertar-nos do que nos oprime e restringe. Só nós podemos sonhar Atenas, de novo, em função do que somos, do que queremos, do que valorizamos, do que é autêntico e verdadeiro para nós, do que amamos. Só nós podemos devolver a nós próprios a inteireza perdida. Maria Coriel

O tempo da Serpente.

Escolhemos habitar um tempo de transição para o qual julgamos não estar preparados. A mudança traz múltiplas transformações dentro e fora de nós que, pela sua rapidez, nos convocam a responder de forma igualmente rápida e decidida. No entanto, escolher num período caracterizado pela dispersão, pela mudança, pela incerteza, pelas dificuldades torna-se um desafio às nossas capacidades, ensonadas por alguns anos de facilitismo e alguma apatia. De todas as faculdades há uma que, neste tempo, precisamos de desenvolver: o poder de regeneração aos níveis interior e exterior. Somos, assim, semelhantes à serpente que despe a pele velha e cujo o próprio corpo tem a capacidade de se regenerar. Empurrados pelo instinto de sobrevivência, não podemos ser levados pela emoção numa corrente desabrida. É preciso parar, renascer, equilibrando o lado mental e afectivo, seguir uma orientação, ter um objectivo a cumprir de cada vez; saber também visualizar o resultado esperado. Para que aflore em nós o novo, há uma casca velha e pesada que precisamos de abandonar: a lamentação, a autocomiseração, a vitimização que faz de nós presas fáceis da indolência e da insegurança. No entanto, antes de renascer muitas questões necessitam de ser equacionadas: faremos nós aquilo de que realmente gostamos?Gostamos do que fazemos, mas necessitamos de renovar o modo como o fazemos? Deitamo-nos agradavelmente cansados ou frustrados por não termos feito aquilo de que gostaríamos? Gerimos bem o nosso tempo? Somos suficientemente disciplinados para cumprirmos o que estipulámos? Fomos generosos connosco e com os outros? Sentimo-nos conectados conscientemente com o nosso interior e com o divino? Estas e outras perguntas podem ser aclaradas durante o processo de regeneração que acontece muitas vezes durante a vida e se processa por ciclos mais ou menos lentos. Vagarosamente, umas vezes por nossa iniciativa, outras por imposição da vida, vamos abandonando as cascas grossas que pesam, magoam e atrasam o nosso processo evolutivo. Se escolhemos viver na transição entre dois tempos, devemos consciencializarmo-nos de que chegou o tempo de arrumar o quarto interior e de participar também na reorganização exterior em marcha, numa grande parte dos países. Chegámos ao final de uma estação; é tempo de colocar de lado o que nos faz dispender energia desnecessária, abandonar hábitos nocivos, deixar para trás padrões de pensamentos negativos, revitalizar a fé, reencontrar quem somos; observar se quem somos coincide ou não com quem nos tornámos. As fissuras que abundam no exterior quer sejam em forma de guerras, divisões entre famílias, atritos entre países, entre outros, espelham a divisão existente em cada um de nós. Renascer é um exercício semelhante ao arrumar o roupeiro em fim de estação; pomos de lado o que está desadequado ao tempo presente, usamos apenas o necessário e adequado ao novo tempo. É preciso ter coragem e sentido prático para deitar fora o que já não serve o nosso momento evolutivo. Do poder de regenerar não só faz parte aprender a reutilizar, reciclar mas também aprender a lidar com o corte, com as separações, com as fissuras. Regenerar é sinónimo de mudança, delineando com segurança o que já não queremos voltar a viver e a ser. Regenerar é sinónimo de transformação criativa; renascer deverá ser um acto con(sentido). Maria Coriel

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O SIGNIFICADO MÍSTICO DA PÁSCOA.

A festa cristã da Páscoa tem origem na festa judaica, mas possui um significado diferente. Enquanto para o Judaísmo, Pessach representa a libertação do povo de Israel do Egito, no Cristianismo a Páscoa é a festa maior que celebra a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Segundo Helena Blavatsky, “cada atitude do Jesus do Novo Testamento, cada palavra atribuída a Ele e cada evento relacionado a Ele estão baseados no Ciclo da Iniciação”. O Ciclo da Iniciação foi mencionado por Jesus como “o caminho estreito e apertado que só uns poucos encontram” (Mateus, 7:13-14).O caminho da Paixão, Morte e Ressurreição acontece no interior de todo Discípulo. Páscoa é a estação espiritual da purificação e da libertação. O Caminho Crístico da Iniciação foram representados no curso de vida do Cristo Jesus. O Caminho Iniciático dos Mistérios de Cristo é delineado durante a Páscoa. A Páscoa é o o único dia santo determinado pelas estrelas. Ela sempre cai no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia da primavera (no hemisfério norte), após o equinócio. A tradição esotérica conta-nos que somente os iniciados mais elevados eram capazes de participar dos Mistérios e das energias que ocorrem neste equinócio. Para a maioria das pessoas, incluindo os aprendizes dos Mistérios e os discípulos, as energias celestiais do equinócio eram festejadas por "reflexo" no dia da Lua Cheia. Vivemos novos tempos onde toda essas energias estão disponíveis para quem quiser recebê-las. A Páscoa é a época ideal para se entrar em contato com energias que transfiguram a nossa vida. É um período supervisionado pelo Arcanjo Raphael, o guardião do Santo Graal. Nesta época do ano, é missão de Raphael ajudar a aguçar nossos sentidos para que a alma possa realmente ver e conhecer o que no seu caminho ainda é preciso ser feito. A Páscoa é uma celebração que pode nos ajudar na nossa espiral sempre ascendente. É um tempo de grande celebração angélica, um tempo em que podemos nos ligar mais plenamente com os mensageiros angélicos para ressuscitar nossa vida. Nessa época há um chamado para que os Mestres encarnados despertem para suas tarefas e propósitos. É um tempo em que a energia da música e das fores pode ser descoberta pelas pessoas que são sensíveis a ela. É uma época para grande celebração e não de lamentações! SEMANA SANTA Quarta-feira Este é o dia da traição e da autodestruição de Judas. As meditações giram em torno da morte dos desejos inferiores e da purificação do caminho para alcançar maior Luz. Quinta-feira Última Ceia Este dia envolve o Mistério da Eucaristia - o mais elevado ensinamento sobre o processo alquímico. É tempo de meditar sobre a transmutação da matéria para expressá-la de forma mais elevada. Jardim do Getsemani "Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentái-vos aqui, enquanto vou além orar... E, indo um pouco mais para adiante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice"(Mateus 26:36-39) Momento de completa rendição a Vontade de Deus que podemos experimentar se entrarmos profundamente neste Mistério por meio da oração, a vigília e da meditação. Sexta feira - Crucificação O tempo que representa o último estágio da iniciação. Aqui aprendemos a carregar a nossa cruz, pois somos responsáveis pela nossa vida. Renunciamos ao inferior em favor do superior. O exercício recomendado é o silêncio, o jejum e a oração. Sábado Nos sistemas mais tradicionais de mistério, este foi o dia destinado ao Batismo, um ato que liberou e iluminou a estrutura energética das pessoas que levaram a visão consciente plena para os planos espirituais interiores da Natureza. Os véus entre a vida e a morte, entre o plano físico e o espiritual foram rompidos para sempre. Domingo Das trevas para a Luz A cerimônia mais exaltada é um tempo de celebração angélica dedicada aquele que se elevou acima do eu inferior e deu plena expressão à verdadeira energia de Cristo. É tempo de comunhão plena e verdadeira com a Hierarquia Angélica. FELIZ PÁSCOA!!!! Helena Gerenstadt.