contos sol e lua

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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

“O JARDIM INTERNO INTOCADO” Por Pedro Tornaghi.

A palavra Anahata, que nomeia o Chakra do Coração em sânscrito, significa invicto, inviolado. Se carregamos mágoas no peito, elas se hospedam no espaço externo desse Chakra, encobrindo-o e impedindo nosso contato com ele, mas não penetram no íntimo dele. No momento em que entramos em contato com o chakra, percebemos que a essência de nosso sentimento nunca foi violada por nada que possa ter contrariado nossas vontades e convicções. O centro do Anahata Chakra é um espaço onde a pureza e a inocência estão intocadas e preservadas. Esse espaço secreto é o Shangri-lá que todos temos no peito, nosso jardim secreto, com flores de uma fragrância especial e divina, de um aroma íntimo, que revela os segredos da inspiração e da felicidade. Ao tocá-lo, evaporam-se quaisquer sentimentos de rancor, vingança ou mesquinhez. O Chakra do Coração traz consigo a possibilidade de entrarmos em contato com um espaço interno que permanece puro e intocado por todas as incompreensões e violentações de nossa biografia. Nesse lugar, nos percebemos plenos, sadios e capazes de lidar com cada situação nova à nossa frente, de maneira harmônica. Muitos dizem que esse chakra possui uma infinita capacidade de regeneração emocional, mas, na verdade, ele permite o contato com algo que nunca chegou a ser maculado e não precisa ser regenerado – a capacidade de amar, que se mostra inteiramente viva dentro de nós. No caminho até o centro do chakra podemos encontrar barreiras, nuances, sinuosidades e até caminhos tortuosos. Se anteriormente fomos estimulados a abafar a manifestação do chakra, as dificuldades se apresentam, mas o caminho até ele existe. E, se fomos nós quem o tampamos por inconsciência, podemos desimpedí-lo com a meditação. De qualquer modo, o centro do chakra permanece intacto e fresco. O tesouro permanece aí, inviolado. O Anahata Chakra promove regularidade à vida, sem que essa regularidade se confunda com monotonia. No centro dele é possível escutar o “anahata-nada”. Nada, na Índia ancestral, significa som. O Anahata-nada é um som contínuo, não corrompido, sem início e sem fim, que podemos escutar desde o princípio até o final dos tempos – se é que existe o final dos tempos. É um som infinito e ao escutá-lo, temos – só por esse ato – uma conexão direta com o infinito, uma conexão de nossa alma individual com a alma universal e ilimitada. A palavra Anahata também pode ser traduzida por “não tocado”. Este chakra – do coração e do afeto – nos leva a uma sensação de virgindade em relação ao mundo, nos sentimos virgens em cada novo instante que vivemos, limpos e livres para viver o momento de uma maneira totalmente fresca e nova. Quando se chama o conteúdo desse chakra de “não tocado”, evidencia-se que o amor experimentado anteriormente é diferente do amor que brota agora. E será sempre diferente, a cada vez. É como ilustra a parábola de Heráclito: “não se pode pisar duas vezes no mesmo rio”; você pode dar o mesmo nome ao rio que está à sua frente e ao que estava ontem, mas a água que está passando nele é outra. Ele é outro. O amor é sempre inédito, é sempre verde, é sempre algo surgindo do nada dentro de nós. É uma força brotando do zero. Brahman A expressão “não tocado” remete ao imanifestado: Brahman. Brahman é o nome que se dá na Índia à essência divina que não tem forma. Esse chakra permite uma intimidade tal com Brahman – o impalpável – que parece que ele foi apalpado. Ele permite sentir a fragrância do não manifestado, ouvir o som do silêncio maior. Por um lado, percebemos que a sua essência é tão sutil que não pode ser tangida, mas, por outro lado, tão próxima que parece tateável. Aqui podemos vivenciar o que não pode ser tangido pelos dedos, o que as mãos emitem, mas não podem segurar: o amor. O amor, essa substância formadora da própria existência. São Francisco de Assis dizia: “Amor clamam todas as pedras”. O amor quando o experimentamos, percebemos que tudo em volta grita por ele, tudo em volta o almeja, o quer, o deseja ardentemente, anseia por ele, tudo em volta se alimenta dele e se desenvolve a partir dele, da energia dele. A expressão “não tocado” faz referência ao som que se ouve quando se penetra fundo no Anahata Chakra, o som de Brahman, a perfeita melodia do silêncio. É um som não expresso, não é proferido por nós – ele é apenas escutado, apenas percebido. Quando o contatamos o espaço onde ele ecoa, não podemos mais interferir, só podemos usufruir, curtir. O coração físico cuida do ritmo da circulação. O Chakra do Coração, quando funcionando na plenitude, ordena as funções do coração e organiza os diversos ritmos do corpo. Ele sintoniza o pulsar do coração físico com o emocional, o vital, o mental e o espiritual, proporcionando a harmonização entre os ritmos dos seus diferentes corpos. Nesse estado de integração, ele nos evidencia Brahman – o criador – dentro de nós e dos outros. Ele evidencia a presença do “Não manifestado” dentro de cada objeto existente, seja ele vivo ou inanimado. Ele nos leva a descobrir o amor de Brahman e a perceber o que há de mais digno dentro do que antes podia parecer indigno. O Anahata Chakra muda a concepção de julgamentos que possamos ter dos que estão em volta de nós. Ao meditarmos no “Quarto Chakra” e nos afinarmos com Brahman, um sentimento profundo de afeto nos invade e contatamos com o lugar de onde toda a criação vem. Sentimos uma entusiasmada afeição por tudo que é criado ou incriado e percebemos que a própria essência da criação é o amor. Com isso, nossas palavras se tornam mais inspiradas e com uma música própria. Elas fluem de maneira original e tocam o coração do outro, tornando-o receptivo. Quando as palavras vêm da mente, parecem arrumadas de uma forma lógica, quando fluem do coração, têm uma delicadeza genuína e exalam frescor e poesia. Meditar no Anahata Chakra restaura a inocência e o sentimento de pureza, levando-nos a enxergar cada coisa que vivemos como algo especial e de maneira totalmente original e fresca. Aumentamos a nossa capacidade de compreensão, e nos sentimos invadidos por um sentimento de generosidade e alegria. Encontramos uma incrível capacidade de aceitação e de compaixão e nos vemos vivendo numa atmosfera de receptividade e aceitação. A abertura emocional que acontece em nós, aliada à sintonia e sensação de eixo, nos levam a uma bondade espontânea e a uma constante sensação de auto-estima e felicidade. Por tudo isso, o Anahata Chakra equilibra as diversas intenções e tendências dentro de nós e tem a chave de todos os equilíbrios. Ele é o chakra que, com suas meditações, mais facilmente aproxima o mestre do discípulo. E o ser comum do mestre interior.

“Osho – O Desapego-

O amor é a única libertação do apego. Quando você ama tudo, não está preso a nada. Na verdade, o fenómeno do apego precisa de ser entendido. Por que é que se agarra a algo? Porque tem medo de perdê-lo. Talvez alguém possa roubá-lo. O seu medo é de que amanhã não possa ter o que tem hoje. Quem sabe o que acontecerá amanhã? A mulher ou o homem que ama… qualquer movimento é possível: ou se aproximam ou se distanciam. Podem novamente se tornar estranhos ou podem ficar tão unidos que não seria correcto dizer nem mesmo que são duas pessoas diferentes; é claro, existem dois corpos, mas o coração é um só, a canção do coração é uma só e o êxtase que os envolve como uma nuvem. Desaparecem nesse êxtase: Tu não é tu, ela não é ela. O amor passa a ser tão total, tão grande e irresistível que não pode permanecer em si mesmo; precisa de submergir e desaparecer. Nesse desaparecimento, quem se prenderá, e a quem? Tudo é. Quando o amor desabrocha na sua totalidade, tudo simplesmente é. O receio do amanhã não surge, daí não surgir a questão do apego. “Todas as nossas misérias e sofrimentos não são nada mais do que apego. Toda a nossa ignorância e escuridão é uma estranha combinação de mil e um apegos. Nós estamos apegados a coisas que serão levadas no momento da morte, ou mesmo, talvez, antes. Pode estar muito apegado ao dinheiro, mas pode ir à bancarrota amanhã. Pode estar muito apegado ao seu poder e posição, mas eles são como bolhas de sabão. Hoje eles estão aqui; amanhã eles não deixarão nem um traço. Todas as nossas posições, todos os nossos poderes, o nosso dinheiro, o nosso prestígio, respeitabilidade são todos bolhas de sabão. Não fique apegado a bolhas de sabão; senão, estará em contínua miséria e agonia. Essas bolhas de sabão não se importam por estar apegado a elas. Elas continuam arrebentando e desaparecendo no ar e deixando-o para trás com o coração ferido, com um fracasso, com uma profunda destruição de seu ego. Elas deixam-no triste, amargo, irritado, frustrado. Elas transformam a sua vida num inferno. Compreender que a vida é feita da mesma matéria que os sonhos é a essência do caminho. Desapegue-se: viva no mundo, mas não seja do mundo. Viva no mundo, mas não permita que o mundo viva dentro de si. Lembre-se que ele é um belo sonho, porque tudo está mudando e desaparecendo. Não se agarre a nada. Agarrar-se é a causa de sermos inconscientes. Se começar a desprender-se, uma tremenda libertação de energia acontecerá dentro de si. A energia que estava envolvida no apego às coisas trará um novo amanhecer ao seu ser, uma nova luz, uma nova compreensão, um tremendo descarregar – nenhuma possibilidade para a miséria, a agonia, a angustia. Ao contrário, quando todas essas coisas desaparecem, encontra-se sereno, calmo e tranquilo, numa alegria subtil. Haverá um riso no seu ser. (…) Se tornar-se desapegado, será capaz de ver como as pessoas estão apegadas a coisas triviais, e quanto elas estão sofrendo por isso. E rirá de si mesmo, porque também estava no mesmo barco antes. O desapego é certamente a essência do caminho. “