sexta-feira, 28 de junho de 2019

Julgamento – Rabindranath Tagore.

Não julgues… Habitas num recanto mínimo desta terra. Os teus olhos chegam Até onde alcançam muito pouco… Ao pouco que ouves Acrescentas a tua própria voz. Mantém o bem e o mal, o branco e o negro, Cuidadosamente separados. Em vão traças uma linha Para estabelecer um limite. Se houver uma melodia escondida no teu interior, Desperta-a quando percorreres o caminho. Na canção não há argumento, Nem o apelo do trabalho… A quem lhe agradar responderá, A quem lhe agradar não ficará impassível. Que importa que uns homens sejam bons E outros não o sejam? São viajantes do mesmo caminho. Não julgues, Ah, o tempo voa E toda a discussão é inútil. Olha, as flores florescem à beira do bosque, Trazendo uma mensagem do céu, Porque é um amigo da terra; Com as chuvas de Julho A erva inunda a terra de verde, E enche a sua taça até à borda. Esquecendo a identidade, Enche o teu coração de simples alegria. Viajante, Disperso ao longo do caminho, O tesouro amontoa-se à medida que caminhas. Rabindranath Tagore

Carpe Diem – Sociedade dos Poetas Mortos.

Aproveita o dia, Não deixes que termine sem teres crescido um pouco. Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever. Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário. Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo. Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta. Somos seres humanos cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem. Não caias no pior dos erros: o silêncio. A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas. Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas. Não atraiçoes tuas crenças. Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos. Isso transforma a vida em um inferno. Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante. Procures vivê-la intensamente sem mediocridades. Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo. Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam. Não permitas que a vida se passe sem teres vivido… //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Carpe Diem é uma frase em latim de um poema de Horácio, e é popularmente traduzida para colha o dia ou aproveite o momento. É também utilizada como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro. Vindo da decadência do império Romano o termo Carpe diem era dito para retratar o “cada um por si”, devido o império estar se desfazendo, naquele momento a visão de que cada dia poderia ser realmente o último era retratado pela frase que hoje é utilizada como uma coisa boa, porém sua origem vem do desespero da destruição de um grande império antigo. No filme “A Sociedade dos Poetas Mortos”, o personagem de Robin Williams, Professor Keating, utiliza-a assim: “Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurrar o seu legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? – Carpe – ouve? – Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas.”

A Morte, O Espaço, A Eternidade – Jorge de Sena.

De morte natural nunca ninguém morreu. Não foi para morrer que nós nascemos, não foi só para a morte que dos tempos chega até nós esse murmúrio cavo, inconsolado, uivante, estertorado, desde que anfíbios viemos a uma praia e quadrumanos nos erguemos. Não. Não foi para morrermos que falámos, que descobrimos a ternura e o fogo, e a pintura, a escrita, a doce música. Não foi para morrer que nós sonhámos ser imortais, ter alma, reviver, ou que sonhámos deuses que por nós fossem mais imortais que sonharíamos. Não foi. Quando aceitamos como natural, dentro da ordem das coisas ou dos anjos, o inominável fim da nossa carne; quando ante ele nos curvamos como se ele fora inescapável fome de infinito; quando vontade o imaginamos de outros deuses que são rostos de um só; quando que a dor é um erro humano a que na dor nos damos porque de nós se perde algo nos outros, vamos traindo esta ascensão, esta vitória, isto que é ser-se humano, passo a passo, mais. A morte é natural na natureza. Mas nós somos o que nega a natureza. Somos esse negar da espécie, esse negar do que nos liga ainda ao Sol, à terra, às águas. Para emergir nascemos. Contra tudo e além de quanto seja o ser-se sempre o mesmo que nasce e morre, nasce e morre, acaba como uma espécie extinta de outras eras. Para emergirmos livres foi que a morte nos deu um medo que é nosso destino. Tudo se fez para escapar-lhe, tudo se imaginou para iludi-la, tudo até coragem, desapego, amor, tudo para que a morte fosse natural. Não é. Como, se o fôra, há tantos milhões de anos a conhecemos, a sofremos, a vivemos, e mesmo assassinando a não queremos? Como nunca ninguém a recebeu senão cansado de viver? Como a ninguém sequer é concebível para quem lhe seja um ente amado, um ser diverso, um corpo que mais amamos que a nós próprios? Como será que os animais, junto de nós, a mostram na amargura de um olhar que lânguido esmorece rebelado? E desde sempre se morreu. Que prova? Morrem os astros, porque acabam. Morre tudo o que acaba, diz-se. Mas que prova? Só prova que se morre de universo pouco, do pouco de universo conquistado. Não há limites para a Vida. Não aquela que de um salto se formou lá onde um dia alguns cristais comeram; nem bem aquela que, animal ou planta, foi sendo pelo mundo este morrer constante de vidas que outras vidas alimentam para que novas vidas surjam que como primárias células se absorvam. A Vida Humana, sim, a respirada, suada, segregada, circulada, a que é excremento e sangue, a que é semente e é gozo e é dor e pele que palpita ligeiramente fria sob ardentes dedos. Não há limites para ela. É uma injustiça que sempre se morresse, quando agora de tanto que matava se não morre. É o pouco de universo a que se agarram, para morrer, os que possuem tudo. O pouco que não basta e que nos mata, quando como ele a Vida não se amplia, e é como a pele do ónagro, que se encolhe, retráctil e submissa, conformada. É uma injustiça a morte. É cobardia que alguém a aceite resignadamente. O estado natural é complacência eterna, é uma traição ao medo por que somos, áquilo que nos cabe: ser o espírito sempre mais vasto do Universo infindo. O Sol, a Via Láctea, as nebulosas, teremos e veremos até que a Vida seja de imortais que somos no instante em que da morte nos soltamos. A Morte é deste mundo em que o pecado, a queda, a falta originária, o mal é aceitar seja o que for, rendidos. E Deus não quer que nós, nenhum de nós, nenhum aceite nada. Ele espera, como um juiz na meta da corrida torcendo as mãos de desespero e angústia, porque nada pode fazer nada e vê que os corredores desistem, se acomodam, ou vão tombar exaustos no caminho. De nós se acresce ele mesmo que será o espírito que formos, o saber e a força. Não é nos braços dele que repousamos, mas ele se encontrará nos nossos braços quando chegarmos mais além do que ele. Não nos aguarda – a mim, a ti, a quem amaste, a quem te amou, a quem te deu o ser – não nos aguarda, não. Por cada morte a que nos entregamos ele se vê roubado, roído pelos ratos do demónio, o homem natural que aceita a morte, a natureza que de morte é feita. Quando a hora chegar em que já tudo na terra foi humano — carne e sangue —, não haverá quem sopre nas trombetas clamando o globo a um corpo só, informe, um só desejo, um só amor, um sexo. Fechados sobre a terra, ela nos sendo e sendo ela nós todos, a ressurreição é morte desse Deus que nos espera para espírito seu e carne do Universo. Para emergir nascemos. O pavor nos traça este destino claramente visto: podem os mundos acabar, que a Vida, voando nos espaços, outros mundos, há-de encontrar em que se continui. E, quando o infinito não mais fosse, e o encontro houvesse de um limite dele, a Vida com seus punhos levá-lo-á na frente, para que em Espaço caiba a Eternidade. Jorge de Sena.

Somos Eternos – Max Heindel.

Numa nuvem tormentosa sibilando; na asa de Zéfiro, O coro do espírito canta os hinos sacros do mundo, alegremente Escuta! Ouve suas vozes: “Pelas portas da morte nós passamos, a Morte não existe; alegrai-vos a vida continua eternamente”. Somos, sempre fomos e sempre o seremos Somos uma parte da Eternidade, Mais velha que a Criação, a parte de Um Grande Todo, Cada Alma é Individual, na sua imortalidade. No tear farfalhante do Tempo, nossa roupagem formamos, A rede do Pensamento urdidos eternamente; O que é modelada na Terra, é no céu que planejamos E ao nascer, nossa raça e nossa pátria, já as trazemos na mente. Brilhamos em uma jóia e sobre a onda dançamos Cintilamos em pleno fogo, a tumba desafiamos através de formas várias em tamanho, gênero e nome A essência individual é a mesma, é a que sempre carregamos. E quando alcançarmos o mais elevado grau, A gradação do crescer com nossas mentes relembraremos Para que, elo por elo, possamos juntá-los todos E passo a passo tragar o caminho que percorremos. Com o tempo saberemos, o que realmente foi feito O que eleva e enobrece, o certo e a verdade Sem malicia com ninguém, sempre agindo com bondade, Em e através de nós, a Deus será feita a Vontade. Max Heindel