domingo, 2 de setembro de 2012

Uma Reflexão Sobre o Carma - As Bases dessa Lei.


Uma semente decerto nunca germinará diante de condições adversas ao desenvolvimento do seu ciclo, isto é uma lei muito simples. A principal razão do seu existir, é a manutenção de sua espécie e biológicamente, pela própria natureza, ela foi programada para isso. Assim, como a semente não tem inteligência, como conhecemos, a mente da natureza é sua mente, o seu existir é verdadeiro por não depender de vontades, seu existir é apenas uma lei que se cumpre ou não, o que também é a lei.

Mas, o ser humano, como indivíduo Ego-personificado, criou seu próprio mundo, mundo esse paralelo ao mundo real. A linguagem da Natureza como mãe de todas as coisas, é muito simples, e os mais simples, dotados de inocência a entendem bem, assim são os animais sem razão, sem Ego-personalidade. É curiosa a sintonia que há entre os reinos dos elementos e os seres mentalmente a eles ligados. Assim, são os insetos, de desprezível razão, mas que dominam a arte da previsão do tempo, conhecem todos os ciclos da natureza, deles não estão separados, eles são estes ciclos.

"Para todo Efeito haverá sempre uma Causa inicial" ou "Tudo teve como princípio uma Causa inicial", dizem aqueles dotados de razão. Mas, não seria a própria Causa seu Efeito, poderia um existir sem o outro? Poderia existir alguma coisa sem o seu oposto, sem o conflito que a mantém viva? Haveria possibilidade de haver uma Ação sem nenhum tipo de Reação?

Ao criar seu próprio mundo, que é o condicionamento que criou toda personalidade humana existente na terra, o homem também criou a lei do mérito, lei essa que é a principal fonte de alimentação da Entidade humana como Ego-ser, individual, subjetivo, separado dos demais seres e da Mãe-natureza. Assim, surgiu dentro do mundo real, o mundo do Ego, que é artificial, feito à imagem e conveniência dos desejos e medos humanos, para que o homem como ser oposto à natureza pudesse existir. Então, da ilusão que é seu mundo artificial, feito real, surgiu o homem como ser pensante, cuja memória representa a totalidade do pensamento da humanidade.

Com a criação da Lei do Mérito, natureza essencial de um Ego sempre em busca do vir-a-ser algo, acumulador biológico inconsciente de conhecimentos, fato que lhe cria a ilusão da perpetuação e o mantém vivo, criou ele também a Lei do Demérito ou da Culpa com punição. Para aquele que acumula, nada mais justo que recompensas para sua satisfação, isso dá lastro e solidez ao vir-a-ser, e punição para condicionar e justificar um comportamento sempre meritório, deformador das coisas, hipócrita e egoísta como o é a natureza essencial desse Ego.

Nos ciclos da natureza, essência real do ser humano, não existem méritos ou punições, lógica ou abstração, motivos ou vontades, querer ou negação. Mas, ao ignorar estes ciclos, o ser humano, criou o mundo da Ego-personalidade, dando identidade à sua individualidade, criando todos os conceitos que o criariam como o ser psicológico dos tempos vindouros. Nasce assim, o mundo antagônico, irreal, ilusório dos seres humanos, mundo este que logo iria se transformar em realidade para seus autores. Desse modo, apoiado no tempo, estabelece ele todas as diretrizes do condicionamento que todos deveriam seguir, irrefletidamente, incondicionalmente, inconscientemente, de forma definitva por ter se tornado sua única verdade.


A criação vê a todos como iguais.
Uma criança muito pequena, pode viver na miséria mas não poderá saber o que é miséria. A semente do vir-a-ser, causadora do conflito humano, que é a mesma que o vir-a-desejar aquilo que não se tem, sem questionar necessidades, ainda não a induziu ao sofrimento causado pela doutrina do Ego-condicionamento instituído. É a Ego-doutrina da conduta humana, uma instituição criada desde o surgimento do primeiro homem sobre a terra, civilização após civilização aperfeiçoada, sempre à satisfazer seus anseios, apoiar sua bestialidade e desejo de dominação, sua vontade de tornar-se eterno, que logo lhe dará estes olhos, olhos que verão a miséria.
Onde há o desejo de vir-a-ser, sempre existirá a disputa, e aquele que explora e o explorado, o competidor àvido de vitória e toda angústia daqueles que perdem por força da instituição estabelecidada pelas diretrizes do Ego-mundo. Assim, dentro desse mundo virtual criado à deliberação do querer e vontade do homem, os dogmas e padrões por eles codificados, passaram a ser leis instituídas, verdades. Desse modo, o falso tornou-se verdadeiro e a condição de reconhecer a falsidade dessa verdade foi com o tempo, definitivamente negada e apagada do seu estado de Ego-personalidade.

Reconhecer as razões da existência de um Ego dissidente da realidade, pode não ser uma tarefa fácil. O Ego, que é memória baseada em conhecimento, também criou o pensamento que é a única ferramenta de que dispõe o homem para explorar a falsidade desse mesmo Ego. Como então, o próprio Ego iria reconhecer sua falsidade como Entidade válida se o tempo todo, ele trabalha com a intenção de se fortalecer e busca desesperadamente a própria imortalidade, e o pensamento que deveria negá-lo é ele mesmo?

Numa condição onde a realidade foi de forma brutal deformada, não poderiam os ciclos da natureza serem a verdade dominante. Eis o eterno conflito do Ego, de um lado seu mundo, uma deformação da realidade onde vive imerso sem se dar conta, do outro uma realidade que com o tempo ele esqueceu e a ignora completamente porque a nega. De um lado aquilo que é eterno e não sujeito a deformações, do outro o mundo ilusório, temporário, vulnerável e mortal do Ego. Sabendo disso, sua busca pela segurança que nunca encontrará tornou-se seu objetivo, e o acumular conhecimento sua fuga à realidade, sua distração mórbida. Criado a partir de uma ilusão que logo se tornaria realidade encontra-se o Ego finalmente sem saída visível, encurralado pelos seus próprios limites, limites que um dia foram criados para protegê-lo e hoje o aprisionam.

Num mundo deformado onde o vencedor criou o miserável para poder existir e servir de platéia para seu pódio, onde o austeridade criou o mendigo para lhe dar lastro, onde as leis criadas dão apenas uma forma institucionalizada à deformação desse modelo, verdades estabelecidas jamais poderiam ser reais. Assim, culpas causadas apenas para alimentar o desejo de mérito de um Ego faminto de recompensas, nunca poderiam ser verdadeiras.

Dharma - A Sabedoria.


Dharma significa sabedoria.

Os ensinamentos ou os conceitos do Budismo são normalmente chamados de Dharma, pois são sabedoria.

A sabedoria existe de duas maneiras: Uma é pela intuição, que é a voz do coração, que é o sentimento. Isso é por exemplo, quando lemos algo e sentimos que se trata de algo verdadeiro (eu senti isso quando li os textos do Carlos Antonio Fragoso Guimarães ) ou quando estamos preocupados com alguém e sentimos que essa pessoa está bem, ou quando sentimos que não está.

A intuição pode nos dar qualquer resposta que queremos, por isso é sabedoria, mas é preciso aprender acessá-la e é perigoso confundí-la com a emoção. Por exemplo: achar que uma pessoa é boa porque ela te agradou, mas ela pode ter feito por interesse e você confundido pelas suas emoções acha que ela é boa, acha que sentiu isso, mas na verdade são suas emoções.
É possível não apenas sentir se as respostas são verdadeiras, mas é possível que o coração da gente diga coisas para nós mesmos e elas são verdadeiras, pois vêm do coração, por isso é sabedoria. “O coração jamais mente” (S. L. P.)

As Quatro Nobres Verdades e o Caminho do Meio do Buda foram revelação que vieram pela voz do coração do Buda, pelos sentimentos ou pela intuição e ele passou a ensiná-los. As grandes revelações de diversos profetas, seres que atingiram o nirvana e Santos, vieram pelos sentimentos e pela intuição e eles passaram sua vida ensinando aquilo, que foram pilares e conceitos importantes de grandes religiões.

Tudo que existe está dentro de você e você pode acessar através dos seus sentimentos.

Para entender a outra forma de sabedoria é preciso entender que a sabedoria é a informação correta da realidade.

Nós temos nossa visão de mundo, mas por interesse ou por alguma dificuldade emocional ou mental ou psicológica essa nossa visão não é correta, por isso não é sabedoria. Por exemplo: uma pessoa materialista, que tem dinheiro e que adoro o dinheiro, ela acredita que o dinheiro é o motivo da pessoa estar bem, ou pior, ser bem, por isso ela acredita que quem não tem muito dinheiro está mal, e muitas vezes que é inferior a ela e coisa e tal.

Esse é um exemplo de uma pessoa que por interesse no dinheiro, ela o tendo e o adorando, é conveniente pensar isso. São muitas pessoas no nosso mundo de hoje que tem essa visão, mas ela é uma ilusão, pois o dinheiro não é motivo para uma pessoa ser ou estar bem, pois o próprio Buda não tinha dinheiro e gozava de grande felicidade, pois tinha atingido o nirvana. E não só Buda, como grandes mestres da humanidade como Jesus e Gandhi e o que trás felicidade para as pessoas é a realização que vem do coração; e como vem do coração implica em auxiliar os outros e crescer espiritualmente.

Agora como você imagina que uma pessoa com interesse de dinheiro como citado em nosso exemplo, pode sair da sua ilusão de sua visão do dinheiro?

Ela tem que conhecer a si mesma, tem que reconhecer que é seus interesses e que é a sua visão defeituosa de mundo que a faz pensar assim. Só que pessoas materialistas assim geralmente demoram muito para se conhecer, pois não tem interesse em fazer uma coisa profunda como o auto-conhecimento, então ela demora muitas reencarnações para isto.

Uma ilusão é o contrário da sabedoria, uma vez que a ilusão é uma informação errada da realidade. O exemplo da pessoa que enxerga a importância com o dinheiro, se trata de uma ilusão.

Um exemplo da pessoa estar iludida pelo emocional é o de um pai ser uma pessoa ruim, mas finge ser uma pessoa boa; ele jogo suas frustrações em cima da filha, pois isso é o que pessoas ruins fazem e abusa dela, fazendo ela fazer o que ele quer, mas isso acontece de forma muito mascarada e a filha, por ser filha, não enxerga o pai, acha que ele é bom como finge ser e não percebe estar sendo usada. Ela está iludida pelo emocional, não enxergando a realidade, por isso não é sabedoria.

Esse caso citado acima é muito comum e é possível que a pessoa atinja a sabedoria, enxergando o pai dela, a realidade como ela é.

Também são comuns pessoas que tem amigos ruins e não os enxergam eles; lutam e defendem, sem saber quem eles são realmente.

Toda vez que você está aprendendo a enxergar o outro ela está se desenvolvendo nisso e aprende, uma vez que nas próximas vezes que ocorra um caso parecido com o que ela passou, ela já sabe enxergar e isso mesmo em suas próximas encarnações, pois isso é um desenvolvimento espiritual. Existem pessoas que já enxergam seus pais e amigos desde pequenos, pois isso já foi aprendido em vidas passadas.

É um conhecimento muito útil saber quem o outro é para não cair em golpes ou jogos emocionais, coisas que só tendem a fazer mal a gente.

Uma ilusão que a pessoa tenha por causa do ego, é uma ilusão que a pessoa tenta se engrandecer, se vendo muito grande.

Os exemplos dados são poucos perto das ilusões que existem, pois todos nós temos diversas ilusões por causa do emocional, e ou do mental, e ou do ego e ou de interesses.

Para você ter uma idéia de que também tem ilusões, vamos voltar ao caso do amigo falso, pense se você não cairia nas mentiras dele?

As ilusões vão sendo quebradas quando a pessoa ilumina a si mesma. Na escuridão, não se pode ter informações corretas da realidade, só com a luz podemos enxergar as coisas.

O caminho da sabedoria é portanto o caminho da iluminação.

O fato de Buda ter despertado quando ele atingiu o nirvana, significa ter despertado das ilusões, por isso a sabedoria.

Quando atingimos o nirvana nos iluminamos de tal maneira que enxergamos toda a realidade deste mundo material em que vivemos.

O Budismo visa despertar a sabedoria das pessoas, visa que elas atinjam o nirvana.

Buda dizia que só o conhecimento de si leva a iluminação. Um meio de se enxergar a realidade é o do conhecimento de nossos defeitos. Os nossos defeitos são grandes produtores de ilusões, como é o caso do materialismo, como é o caso da pessoa que distorce os valores por adorar o dinheiro, isso é um defeito. A vaidade por exemplo pode distorcer os valores como fez com o dinheiro, o orgulho, a cobiça e demais defeitos. O orgulho também pode criar uma falsa auto-imagem, o que não seria sabedoria. A soberba por si só é uma ilusão.

Quando a pessoa conhece seus defeitos ela vai pouco a pouco, quebrando as suas ilusões.

Mas não para por ai, o conhecimento das nossas qualidades também dissipam as ilusões, por exemplo da baixa auto-estima, de não achar que não é capaz de algo quando é, da ilusão de achar que não tem a beleza interna que realmente se tem e outras ilusões mais.

O conhecimento das nossas qualidades dá sentimentos muito bons para nós mesmos.

O conhecimento dos outros também quebram ilusões, como demonstrado nos exemplos acima.

Práticas como meditação, mantras, mandalas e outras ajudam à pessoa ter consciência sobre seus defeitos, qualidades e sobre os outros.

Buda e também outros mestres que não são budista dizem que o mal do mundo é a ignorância, mas eles não estão falando da ignorância dos livros, dos jornais, meios de comunicação, do que acontece no mundo e da história passada como algumas vezes se pensa e sim da ignorância de si mesmo e dos outros.

Pois a ignorância de si mesmo traz defeitos, uns deles tem a ver com os interesses e outros tem a ver com o egoísmo. O egoísmo somado aos interesses fazem as pessoas roubar, como fazem os políticos desonestos, os golpistas e os ladrões, fazem as pessoas passarem por cima dos sentimentos dos outros, por interesse em sexo por exemplo. Ao mesmo tempo em que você conhece os outros pode evitar que as pessoas se aproveitem de você.
Ricardo Chioro.