contos sol e lua

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domingo, 29 de abril de 2012

Anjos Cabalísticos.


A palavra hebraica para anjo é Malakl, que significa "Mensageiro". As primeiras descrições sobre anjos apareceram no Antigo Testamento. A menção mais antiga de um anjo aparece em Ur, cidade do Oriente Médio, há mais de 4.000 a.C.. Na arte cristã eles apareceram em 312 d.C., introduzidos pelo imperador romano Constantino, que sendo pagão, converteu-se ao cristianismo quando viu uma cruz no céu, antes de uma batalha importante. Em 325 d.C., no Concílio de Nicéia, a crença nos anjos foi considerada dogma da Igreja. Em 343 d.C. foi determinado que reverenciá-los era idolatria e que os anjos hebreus eram demoníacos. Em 787 d.C. no Sétimo Sínodo Ecumênico definiu-se dogma somente em relação aos arcanjos: Miguel, Uriel, Gabriel e Rafael. Os escritos essênios, fraternidade da qual Jesus fazia parte, estão repletos de referências angelicais.

No Novo Testamento, anjos apareceram nos momentos marcantes da vida de Jesus: nascimento, pregações, martírio e "ressurreição". Depois da ascensão, Jesus foi colocado junto ao Anjo Metatron.

São Tomás de Aquino foi um estudioso do assunto. Ele dizia que os anjos são seres cujos corpos e essências, são formados de um tecido da chamada luz astral. Eles se comunicam com os homens através da egrégora, podendo assim assumir formas físicas.

Cabala - Kabbalah - deriva de Kabbel, que significa "recebimento", "aceitação", acervo de normas, heranças espirituais, religiosas, filosóficas e sociais, recebidas pelos iniciados. Tratado filosófico-religioso hebraico, cujo conteúdo visa decifrar um sentido secreto da Bíblia, através de uma teoria e um simbolismo dos números e das letras. A cabala é a ciência do nome de Deus, a tradição oculta ou esotérica dos hebreus.

Existem dois tipos de cabala: a teórica, que estuda o mistério da Divindade, a criação espiritual e a renovação do mundo em sete dias; e a prática, que estuda as Clavículas de Salomão, o Tarot, os Talismãs etc.

A cabala prática, por sua própria natureza, só pode ser transmitida oralmente, de coração a coração, só podendo ser assimilada através de envolvimento individual, seguro e profundo.

Para a cabala, a letra é uma potência. O agrupamento das letras forma um nome, dando origem a um centro poderoso de energia.

Deus é representado pela letra Yod que é a décima letra do alfabeto hebraico (Yod=10). Se juntarmos ao 10, as grandezas 15, 21, 26, que são pela numerologia os valores dos grupos de letras da palavra Jehovah, teremos como resultado 72 (10 + 15 + 21 + 26=72).

Como os judeus ortodoxos não pronunciam o nome de Deus, os cabalistas desdobraram a palavra Jehovah através dos três versículos misteriosos do capítulo 14 do Êxodos e acrescentaram os nomes divinos IAH, EL, AEL, IEL; com esses desdobramentos e terminações deram nome aos 72 anjos. Cada anjo tem influência em cinco datas do nosso calendário, porque por ordem divina, cinco letras hebraicas se juntaram a cada anjo, portanto 72x5=360. Faltaram cinco dias (31/maio, 12/agosto, 24/outubro, 5/janeiro e 19/março) para completar os 365 que formam o ano; os cabalistas designaram então estas datas, aos anjos da humanidade. Os anjos estão reunidos em nove categorias cada uma liderada por um príncipe que governa oito anjos.
Monica Buonfiglio.

Um sonho apenas.


Em geral não é difícil fazer um espírito recém-desencarnado desistir de passar o tempo a observar o cotidiano dos vivos. Basta lembrá-lo de quantas outras coisas mais interessantes e emocionantes ele poderia estar fazendo. Mas nem sempre é tão simples assim.
O dia já havia amanhecido e seria esplendoroso, nenhuma nuvem manchava o céu. O casal dormia profundamente na grande cama, os corpos astrais a flutuar sobre os corpos físicos como balões, ligados apenas pelo fino cordão. Uma diferença era marcante: o corpo astral da mulher estava sereno, tão quieto quanto seu corpo físico. Já o corpo astral do homem parecia em constante ebulição, refletia o seu desconforto. Sentado numa poltrona em frente à cama estava o motivo: um espírito raivoso, que alguns vivos chamam de encosto. Ele parecia em transe, mas olhou para mim quando me aproximei.
- Você de novo? Não desistiu? Espíritos bonzinhos não têm mais o que fazer? - ironizou.
Podemos também chamar estes espíritos de perdidos, um bom nome, mas não era esta a impressão que ele passava. Era determinado, seguro, certo de seus objetivos e também de como levá-los a curso. Queria vingança. No dia anterior eu já havia tentado mostrar que ele estava perdendo tempo, mas a raiva o deixava surdo aos meus argumentos. Por isto eu voltara com outro plano.
- Não, não desisti. E se você pode ficar por aqui, por que eu também não posso?
- Porque você não tem motivo, eu tenho. Morei na casa de campo desde criança e ele nunca me ajudou, só queria que eu cuidasse das plantas. Impediu até que eu estudasse, me condenando a ser jardineiro para sempre.
Como se eu fosse um escravo, uma outra propriedade! Em vida eu nada podia fazer, precisávamos do emprego, mas agora posso atingi-lo. E não tente me desmentir, basta olhar para ele. Depois que cheguei ficou nervoso, irritadiço, desanimado. Parece até que está envelhecendo mais rápido.
Era este o problema. Enquanto o espírito sentisse que ainda podia influenciar o mundo dos vivos, não conseguiria pensar em mais nada. Mas eu sabia como resolver a questão.
- Se o que você quer é atingi-lo, por que não fala tudo de uma vez?
- Como assim, falar? Eu estou morto! - replicou, como se eu fora um asno.
- Fale quando ele estiver sonhando. Ele vai ouvir.
- Você na certa pensa que sou algum tipo de idiota, não é? Se fosse tão fácil, todos os mortos falariam com seus parentes nos sonhos...
- Não estou falando que é fácil. Estou falando que sei como fazer para que ele te ouça.
- E como você aprendeu? - desconfiou, mas sem conseguir esconder o interesse.
Eu o havia fisgado.
- Estou no astral há séculos, tive tempo para aprender alguma coisa.
Ele ainda hesitou um momento, mas depois acenou com a cabeça, pedindo para que eu fosse em frente. Solene, flutuei até o corpo astral do homem e com alguns leves e precisos movimentos consegui atrair sua atenção. Depois não foi difícil induzi-lo a me acompanhar. O espírito raivoso parecia admirado com minha destreza, o plano estava funcionando. Sem perda de tempo, comecei a falar:
- Você está sonhando, mas pode nos ouvir. Preste atenção, pois agora você terá um encontro importante. Vai descobrir quem anda te amedrontando e atrapalhando a vida.
Então fiz um sinal para que o espírito se aproximasse. Ansioso, ele colocou-se frente a frente com o corpo astral do vivo, que o reconheceu e reagiu de pronto. Sorrindo com desdém, desviou o olhar e passou a flutuar a esmo pelo quarto, como um balão de criança, como uma pluma solta ao vento. O espírito não se conteve, explodindo de raiva:
- Chame-o de volta! Ainda nem comecei a falar!
- Não adianta, você acaba de perder a influência sobre ele. Não há dúvida que ele recebia uma vibração negativa, mas ela tornou-se inofensiva agora que ele sabe de quem partia. Afinal, você está morto e ele não acredita em vida após a morte. Mau-olhado não pega em quem não acredita, nunca ouviu falar? Agora ouça o meu conselho, siga o seu caminho.
- Vou continuar aqui e ninguém pode me impedir! - insistiu, irado.
- Você prefere mesmo assistir às vidas dos outros ao invés de se interessar pelas suas? Não tem nem curiosidade em saber quem foi e o que fez nas encarnações anteriores?
Antes que o espírito respondesse, um despertador disparou. No mesmo instante os corpos astrais do casal voltaram para seus corpos físicos, sugados violentamente. Logo o homem sentou-se bocejando e desligou a campainha. Depois esfregou os olhos e percebeu que sua mulher também despertara. Então começou a falar.
- Você não imagina o sonho maluco que tive esta noite. Estava preso numa espécie de areia movediça úmida, escura e espessa, mas, conformado, nem tentava fugir. Foi quando surgiu alguém que conseguiu me tirar de lá facilmente, avisando que faria uma grande revelação. Mas não pôde fazê-la. Fomos interrompidos, sabe por quem? Pelo filho da caseira de Teresópolis, aquele que morreu atropelado no mês passado. Pode? Como era mesmo o nome dele? O engraçado é que logo depois passei a me sentir melhor, como se uma âncora tivesse sido arrancada dos meus pés. Que loucura, né? Sonhos são mesmo uma grande bobagem, nada faz sentido! O bom é que acordei sem dor na cabeça e nas costas. Acho até que vou ao clube jogar tênis.
O espírito ficou a pensar, amargurado, até que virou-se para mim.
- Vou embora - afirmou, vencido.
- Sabe para onde ir? - perguntei.
- Não, mas encontro o caminho sozinho.
- Boa sorte, então.
Sem sequer me responder, o espírito atravessou a parede e partiu em busca de passado e futuro. Deixei-me ficar ali a meditar sobre como é forte e instável o impulso de vingança, até que a voz da mulher me interrompeu.
- Falando em Teresópolis, precisamos despedir a Dona Rita. Depois que o filho morreu, ela não trabalha como antes, vive a choramingar pela casa. Vou ligar para umas amigas e ver se elas conhecem alguém mais jovem, sem filhos, de confiança e que aceite morar na serra.
- Cuidado para não se cansar com tanto afazeres - ironizou ele, alfinetando a mulher.
Ainda bem que o espírito não estava mais ali, senão eu teria trabalho dobrado para convencê-lo a partir! Mas o casal não precisava de influência externa para viver sob tensão, o clima era de guerra. Colhiam o que plantaram.
Antes que ela reagisse, bateram na porta. Era a empregada, carregando uma bandeja.
- Elza, não precisa mais trazer os remédios junto com o café. Seu patrão acordou melhor.
- Foi porque pedi por ele no centro, patroa. Vivo no meio desde pequena, a senhora sabe, sinto as coisas. Tinha um espírito ruim encostado no patrão, mas com certeza enviaram um bom para buscá-lo.
- Ah tá, Elza, você e seus espíritos! Ele melhorou e pronto, foi só isso! - desdenhou a patroa, caminhando até o espelho.
- Meu Deus, como estou envelhecida! Plásticas, ginástica e ainda uma fortuna com médicos, cremes e massagens! Não sei mais o que fazer para parecer jovem!
Em vez de aproveitar a dádiva de estar vivendo numa escola rica como a Terra, ela preferia apenas sonhar com o dia em que pareceria outra vez jovem. E, mesmo que este dia chegasse, ela em nada melhoraria. Continuaria apenas se preocupando em não envelhecer, em burlar a natureza.
Ora, para ficar mais jovem basta nascer de novo, pensei, amargurado, saindo pela janela.
Lá fora o dia continuava magnífico e eu tinha mais o que fazer.
Carlos Luz.