segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Coletânea de contos celtas de várias épocas.


Diferentemente da mitologia grega, a mitologia celta, apesar de sua forte influência nas lendas arturianas e da recente expansão da Wicca, que se apropria dela, é pouco conhecida. Este livro busca resgatar alguns dos mitos celtas e trazê-los ao leitor de hoje.
Existem duas razões principais para este desconhecimento:
Os celtas, apesar de terem uma escrita, faziam pouco uso dela, pois consideravam que a palavra tinha poderes mágicos e reservavam a escrita para casos especiais.
Foram derrotados pelos romanos que destruíram monumentos, documentos e mataram detentores de conhecimentos, eliminando boa parte dos parcos registros da história do povo celta.
O livro é composto por 16 histórias, seguidas por um posfácio em que o autor explica suas escolhas e analisa um pouco do material disponibilizado ao leitor. É inteligente colocar este tipo de informação no final do livro, pois evita spoilers e uma leitura contaminada pela posição do ensaísta.
Os contos devem ser lidos pelo que são: uma narrativa construída para, principalmente, entreter.
Muito mais que os gregos, os celtas deixam os deuses próximos dos homens, a ponto de só os percebermos por seus feitos extraordinários. Deusas sofrem as dores do parto e deuses envelhecem ou são mortos por flechas, enquanto homens podem se transformar em animais.
A primeira história, "O Erro do Rei Nuada", conta a saga das tribos de Dana e seu rei em confronto com os filborg, com a ajuda dos fomores. Os filborg e os fomores representam as forças primitivas e destrutivas, enquanto a tribo de Dana e seu rei são as forças da ordem. Mas a ordem em si mesma não é um bem puro, pois pode se transformar em tirania, como ocorre quando Bres assume o trono.
A saga do rei Nuada segue em "A Segunda Batalha de Mag Tuareg", onde os antes aliados fomores agora são o inimigo. Neste conto tomamos consciência de quem são os filhos de Dana.
O terceiro conto, "A Busca dos Filhos de Tuireann", nos mostra um dos valores caros aos celtas: o heróismo, considerado desta forma como a capacidade de realizar feitos maravilhosos (vencer monstros invencíveis, subir a mais alta montanha, descer ao mais profundo dos mares, etc.).
O heroísmo pode mesmo trazer redenção ao mais cruel assassino, mesmo ante aos familiares das vítimas, e uma morte com honra seria um dos mais admiráveis feitos, como nos é mostrado nesta história.
A quarta e a quinta histórias (“O Príncipe do Abismo” e “A Cavaleira de Aberth”) são sobre Pwyll, conhecido por ser Príncipe do Abismo. O “abismo”, o que seria? Como em muitas culturas, é o reino subterrâneo dos mortos. Pwyll, após ter cometido uma descortesia com um estranho numa caçada, se oferece para reparar o erro. O estranho, porém, não é ninguém menos que Arawn, príncipe do abismo. Na nossa cultura seria o mesmo que encontrar-se com Satã, porém, para os Celtas não existe tanta polarização entre o senhor dos mortos e os homens ou deuses. Tanto que é possível um acordo entre eles, sem que haja um comprometimento maior a não ser cada um cumprir sua parte, e tanto um como outro honram o combinado.
O conto 6, "A Montanha Sobre o Mar", conta a origem de Londres e por que ela venceu tantos ataques até os dias de hoje.
O sétimo, "A Mulher Mais Bonita do Mundo", é sobre a relutância de Arianrod, uma poderosa maga, em aceitar seu filho e os estratagemas do pai adotivo da criança, Gwydion, para conseguir as bençãos da mãe para o menino. Nesta mesma história, há a criação de uma mulher artificial (feita por magia), por quem todos se apaixonam, até quem deve destruí-la.
O conto 8 fala de "A Fraqueza dos Ulates" (irlandeses). Uma deusa, Macha, vive oculta entre os homens, casada com um um deles, de quem fica grávida. Essa deusa, por falta da compaixão dos irlandeses em relação a seu estado, os amaldiçoa a sentir as dores do parto uma vez por ano, durante 15 dias.
O nono conto fala de um jovem Cuchulainn, que ousa reivindicar para si “O pedaço do herói”, a primeira porção do primeiro porco a ser servido num banquete. Aqui a questão da honra e da bravura ganham novamente relevância, mostrando quão caro eram esses valores para os celtas. No conto, os dois pretendentes ao pedaço do herói brigam o dia inteiro para provar quem é digno de tal iguaria, mesmo que ao cair da noite a carne esteja pra lá de fria.
O décimo conto, "O Touro Castanho de Culnge", tem como tema a inutilidade da guerra movida por simples ambição, em que os dois lados saem perdedores. Apesar dos celtas serem um povo guerreiro e conquistador, tinham uma ética bem delineada em relação aos conflitos, como está retratado nesse conto.
O 11o conto, "Um Voo dos Cisnes", é uma bela história de amor com um final surpreendente, cuja mensagem é o verdadeiro amor transcende a aparência física, um conceito que só volta a aparecer nos contos de fada após a Bela e a Fera e mais recentemente em Shrek.
Os contos 12, 13 e 14 ("O Rei sem Reino", "O Casamento de Fionn" e "O Ciúme de Fionn") são sobre o Fionn, rei dos fiana, com destaque para "O Ciúme de Fionn". O amor proibído, mas realizado sob duras penas, de Diarmaid e Graine é o tema desta grande história, que pode ser considerada ancestral de "Tristão e Isolda" do ciclo arturiano e de todas as histórias de amor, de Romeu e Julieta à novela das sete.
O conto 15, “A ilha das mulheres”, conta uma história com contornos fantásticos, em que aparecem seres belíssimos e tentadores que afastam os homens de seus propósitos e distorções de tempo, que lembram histórias fantásticas e até de ficção científica mais contemporâneas.
O último conto, "O Príncipe dos Bardos", conta a história de Tailesin, o maior de todos os bardos. A sua origem foi recontada inúmeras vezes em várias lendas orais e escritas. Tailesin faz parte do ciclo arturiano. Uma parte importantante é o duelo com Keridwen, em que Gwyon e a maga duelam entre si cada um assumindo a forma de um animal (como aparece no duelo entre o mago Merlin e a Madame Min no desenho A Espada era a Lei, dos estúdios Disney).
O último conto encerra muito bem o livro, pois os celtas colocavam o homem dentro de um universo em que conviviam com os deuses lado a lado e poderiam não só interagir diretamente como lutar e até vencê-los e, como acreditavam no poder da palavra, o simples fato de fabular e contar histórias dava um poder extraordinário a quem tinha capacidade de imaginação. Tal qual Tailesin, os criadores de fábulas atuais – escritores, poetas, roteiristas, diretores de cinema e teatro – tem um poder incomensurável, sendo capazes de criar mitos e lendas que ultrapassam a época em que foram escritos. Contos e Lendas da Mitologia Celta
Álvaro A. L. Domingues

O lago Emprestado.


Um jovem chefe cortejava a filha de outro chefe, cujo forte se achava situado no limite de Loch Ennel em Westmeath.
A dama era bastante altaneira e melindrosa, e lhe disse claramente que não aceitaria assumir a condição de dona de casa se não pudesse ver da sua janela um lago tão belo como o que se divisava frente à casa de seu pai.
Este era um assunto delicado, o vale era adequado, mas as ladeiras das colinas estavam cobertas de casinhas e o riacho que serpenteava lá no fundo demoraria muitíssimos anos para encher o vale, e uma vez terminada a represa, cuja construção necessitaria de uma dúzia de anos, o galã seria já velho.
Sua mãe adotiva, uma feiticeira (isto ocorria nos tempos dos Danaans), ao vê-lo arrancar os cabelos em um par de ocasiões, induziu-o a refazer-se e lhe ordenou que respeitasse até o dia seguinte seus soltos cachos.
Logo, a feiticeira dirigiu-se com o meio corrente de transporte das feiticeiras, à cabana de uma irmã Firbolg na arte da magia, situada sobre a margem ocidental do Shannon.
Esta cabana estava comodamente localizada sobre o corte de uma colina, dando sobre um agradável lago, e a mulher Danaan foi hospitaleiramente agasalhada pela mulher Firbolg.
Depois de seu singelo refrigério, a visitante revelou o motivo de sua viagem e suplicou a sua sabia amiga que lhe emprestasse seu lago até o dia da lua seguinte, acrescentando num resmungo enganoso
-"depois da semana da eternidade".
Um lago era algo difícil de conseguir, mas finalmente obteve-o e o levou triunfalmente debaixo da capa ao vale de Leinster.
As pessoas que viviam nas ladeiras das colinas despertaram naquela noite de seus sonhos ouvindo um estrondo, digamos assim como o de dez mil cascatas.
Todos fugiram até as terras altas e foram hospitaleiramente resguardados pelos edifícios do forte, e ao alvorecer da manhã seguinte, milhares de assombrados olhos contemplaram o plácido lençol de água que cobria suas moradas do dia anterior.
Assim foi conquistada a altaneira noiva.
A desgarrada mulher de Connacht esperou até o dia da segunda lua, irritadíssima ante o lamacento leito que exibia o fundo de seu lago debaixo da influência de um sol ardente e sem aparentes perspectivas de que lhe devolveriam com gratidão as águas.
Até uma mulher sábia pode perder a paciência.
Esta voou à casa de sua enganadora colega em bruxarias, cavalgando sobre sua vassoura e foi recebida com fingida alegria.
-Não há tempo para cumprimentos, comadre - lhe disse
-Chegou o dia da lua seguinte e até o da lua subseqüente, e em vez do meu agradável lago, só vejo rochas, barro e peixe podre. Devolva-me meu lago, te digo.
- Ah, querida irmã! A ira te tirou a memória. Prometi-te devolver-te teu formoso pedaço de água no dia da lua seguinte à semana da eternidade, não antes; reclama-o quando vencer o prazo.
A ira da bruxa traída não teve limites, mas não tinha argumento algum, devido à traiçoeira reserva da astuta Danaan.
O resultado foi trágico para a maior parte dos interessados; mas a incorporação de Loch Owel às agradáveis planícies de Meath é tudo o que nos interessa por agora.F.P.Wikepédia

A SOMBRA RUIVA.

A Irlanda é cheia de lendas sobre a banshee, criatura lacrimosa cujas visitas anunciam mortes. Seu nome, em Celta, é bansidhe - fada - embora muitos digam seja um espírito, ora bondosos ora malévolos. Essas aparições estão ligadas por lendas centenárias às grandes casas da Irlanda, cujos infortúnios ficam registrados nos gritos lamuriantes ou nas risadas demoníacas do espírito. Existem vários relatos corroborando essas Lendas, mas talvez o mais impressionante ocorreu no século XVII na Irlanda, na residência dos O'Brien. Certa noite, Lady Ann Honora O'Brien foi acordada por numa noite por uma voz suave. Olhou pela janela e viu uma mulher que parecia flutuar bem em frente à vidraça. O corpo do fantasma se perdia na bruma, mas seu rosto, delineado pela Lua, estava claro - pálida, de olhos verdes, linda e uma farta cabeleira ruiva. A aparição gemeu três vezes, suspirou e sumiu. Aquela imagem fascinou e amedrontou a jovem Ann, mas pensando que fosse apenas um sonho, dormiu novamente . Na manhã seguinte, Lady Ann encontrou sua família em prantos. seu irmão mais jovem havia morrido durante a noite. Sem saber o que fazer, a jovem contou aos pais sobre a visão que tivera na noite anterior. Aquilo não alertou ninguém, pois os mais velhos sabiam que sempre que um O'Brien morria, uma jovem ruiva que morrera no castelo e fora enterrada no jardim - logo abaixo da janela de Lady Ann - aparecia para um membro da família e chorava pelo parente morto.F.PWikepédia.