sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Almas Perdidas.

DEUS é LUZ e VERDADE! Por este motivo dizemos que não há religião superior à verdade; e tantas vezes se diz, também, que “a voz do povo é a voz de Deus”, querendo com isto significar, exactamente, que na voz do povo anda a verdade. E a verdade é que dentro de cada um de nós há um deus, que chamamos EGO, ESPÍRITO, EU. Temos dentro de nós mesmos um deus e um demónio! O deus chama-se EU SUPERIOR ou EGO, ou ESPÍRITO, a parte de nós mesmos que pertence à eternidade e por isso não morre com o corpo, mas volta a renascer para se libertar inteiramente das suas condições mesquinhas de luz obscurecida pela carne e pelos seus instintos; o demónio chama-se EU INFERIOR e é a sombra do EU SUPERIOR, tendo sido criado nas relações deste com a Terra e as suas leis, que sempre conspiram contra o Céu. As condições terrenas buscam as celestes, e estas, por meio da Luz e da Verdade, procuram elevar as terrenas a mais altas possibilidades. Portanto, a nossa existência terrena traz consigo mesma altíssima finalidade. E quando tivermos atingido este glorioso estado – glorioso porque foi conquistado pelo nosso esforço pessoal e persistente –, seremos DEUSES de facto, e não podemos voltar às condições dolorosas da Terra, porque despimos inteiramente as nossas vestes materiais, terrenas e vestimos a nossa própria luz criadora, que atrairá outros seres ao mesmo estado em que existimos. Nos esforços para atingir a craveira divina vamos pondo em vibração certas camadas de matéria. Os espíritos que vivem nela estão infinitamente abaixo de nós. Por isso dizemos que pertencem ao reino sub-humano. Estes Espíritos da Natureza, que se movem e vivem nesses estados de matéria, ajudam-nos a graduar para mais altos destinos. Mas fazem-no criando-nos dificuldades, aumentando as nossas debilidades! Por isso dizemos que as leis que regem a matéria nos limitam os movimentos e nos prendem às condições terrenas, utilizando para esse fim as ilusórias satisfações que se nos deparam no atrito com o mundo material. E como não conhecemos outras de maior transcendência, vamo-nos deixando vencer por estes efémeros prazeres, que sempre se esvaiem como fumo. E tal como este deixa um resíduo que chamamos fuligem, assim também o poder vibratório da matéria posta em acção pelo espírito que demanda o prazer terreno deixa resíduo a que chamamos EU INFERIOR. Será depois o SACRIFICADOR de que tanto falam as religiões, o TENTADOR, o nosso CARRASCO IMPLACÁVEL! Porém, desta mesma substância terrena, o EU SUPERIOR vai extraindo uma essência, subtilizando muito mais a já subtil matéria que nos dá sensações gratas mas ilusórias; e com ela forma aquilo que chamamos ALMA. É ela que nos permite entrar, de vida em vida, em novos corpos, umas vezes masculinos, outras femininos, para irmos provando bem e profundamente as ilusões terrenas e sentindo a necessidade pungente de mais elevadas condições. Desde que o homem pôde ter apurado na matéria com que formou a ALMA, ele pôde também entrar em corpos terrenos e usá-los, estando dentro deles, em plena posse de todas as suas células! Sem ALMA os seres humanos ficam totalmente impedidos de RENASCER, de continuar as suas experiências em corpos terrenos até se graduarem como deuses. E a ALMA, que representa um penosíssimo esforço do EGO para preparar um meio de poder entrar em corpos de matéria para com eles acelerar a sua evolução, pode perder-se também, exactamente como sucede com todas as nossas aquisições que, assim como vieram, se podem perder! E muitas vezes, em vez de chamar ao criminoso “alma perdida”, exclama dum modo simples: “Que desalmado!” Nestas duas expressões o povo afirma que podemos perder a ALMA, essa aquisição admirável que nos permitiu iniciar a ascese a mais altas esferas, que nos capacitou para evoluir, para ascender gradualmente a melhores condições! Mas o povo não diz – porque não sabe: as tais verdades que emergem da voz do povo são sempre veladas, limitadas, não permitindo um exame profundo de cada problema posto à nossa resolução – é como se perde a ALMA. Nem vislumbram como poderá o criminoso perder uma tão importante conquista! Mas, como a ALMA foi criada gradualmente, ao longo de muitas vidas e de penosíssimos esforços, assim também a podemos perder, ao longo de vidas mal vividas, criminosamente vividas. Todo aquele que vive contrariando as leis da Natureza, desprezando a virtude e dando largas aos seus instintos viciosos, vai negando à sua alma o alimento predilecto, que se resume na prática de boas obras, em viver virtuosamente, em seguir a doutrina pregada por CRISTO para nossa redenção. E assim definha as energias psíquicas, tornando a sua alma cada vez mais débil até que se perde! Praticando a caridade, o amor puro, a virtude, e buscando constantemente a luz da sabedoria, a alma vai sendo ampliada. Torna-se cada vez mais forte! Vivendo a vida pelo seu lado mais grotesco e grosseiro, contrariando a virtude que sempre pode elevar-nos, recusando a prática da bondade, da caridade, dando largas aos instintos é como vamos debilitando a ALMA. E quando esta debilidade atinge certo grau perde-se o que restava! É a morte da ALMA! Por isso os grandes clarividentes, que puderam sondar estas coisas, nos dizem como tais desgraçados seres estão inteiramente despidos, nus, sem possibilidade alguma de voltarem a RENASCER para continuarem a sua evolução! Pretende-se, no tempo em que vivemos, fomentar os prazeres materiais, numa total descrença dos poderes divinos. E isto é muito mau sintoma! E a culpa deste estado reside no materialismo que tudo subverte, inclusivamente o campo religioso, onde se despreza um princípio fundamental que é negado aos fiéis. Este princípio é o selo de santidade que deve ser impresso SEMPRE nos ensinamentos religiosos! Ao pregar, será bom que se pregue apenas o que de cristalino existe em nossos corações! Se assim não for, se pregarmos apenas com os lábios, as nossas palavras são ocas ou envenenadas. E, então, o que pregamos é mau, fomenta o materialismo, a descrença. Só pode afundar-nos, desarmar-nos! Atentem nisto os que ministram a religião! E sigam CRISTO, vivendo a sua doutrina de modo que, ao pregá-la, as suas palavras levem conteúdo bom e santo para contagiar os ouvintes. Não o façam como simples fariseus, dados apenas às cómodas aparências. Se assim não fizerem será grande a sua responsabilidade! O EGO é de natureza divina. E tudo quanto é divino perdura, não pode perder-se irremediavelmente! Portanto, os EGOS caídos no caos ou Inferno não ficam para sempre perdidos. Mas terão de aguardar nessas tremendas condições uma oportunidade para voltarem à evolução. Essa oportunidade só virá quando a Humanidade a que pertencem tenha concluído a sua evolução, terminado o seu dia de manifestação, passado a noite cósmica que sempre vem após o fim de um ciclo evolutivo e cuja duração é sempre de muitos milhões de anos. Nessa altura ser-lhes-á dada a libertação das condições infernais e irão dirigir, como pioneiros, os novos seres que iniciam a sua evolução. O Purgatório também não é um lugar onde crepitam fogueiras para envolverem as almas! É simplesmente um estado de espírito em que se faz o exame de todo o mal que fizemos enquanto vivemos neste mundo, com o sofrimento emergente de cada acção praticada. A permanência no estado purgatorial é limitada a cerca de um terço da vida que vivemos neste mundo; a permanência no estado infernal é muito longa, parece eternizar-se! Mas ao fim todos serão salvos! As ALMAS PERDIDAS são como as folhas a que foi recusada a seiva e amareleceram e caíram, sendo depois arrastadas pelo vento, acabando por apodrecerem e se dissolverem na terra, donde tinham sido edificadas. Os seus materiais voltarão a ser utilizados em novas criações, porque tudo tem a sua utilidade, nada se perde irremediavelmente! Que nenhum de nós se deixe vencer pela maldade nem pelos vícios, para que não perca a sua alma! Cultivemos a virtude, pratiquemos a caridade, falemos sempre a VERDADE e só a VERDADE! Não aticemos, NUNCA, as chamas devoradoras do ódio, que sempre desgraça a ALMA! Vivamos sempre em AMOR PURO a todos os seres da Criação, dando-lhe todo o auxílio para que subam a melhores alturas! E desta maneira fortaleceremos as nossas almas, daremos maior brilho ao que CRISTO chamou dourado traje de bodas, que é o CORPO GLORIOSO com que havemos de entrar na vida eterna, na Glória Eterna!) Francisco Marques Rodrigues.

O Peregrino das Idades.

O Peregrino das Idades O homem é, necessariamente, um eterno peregrino das idades, vagando através das malhas da ilusão; não age, entretanto, como o Judeu Errante, como um prisioneiro, galgando as espirais das idades sem fim, mas como, um espectador, um apreciador da maravilhosa construção de um Grande Arquitecto, que observa os acontecimentos nos quais toma parte, os quais não pertencem ao seu Ego e estão além dele. O homem sábio aproveita as lições da vida ilusória e fica livre das suas limitações e ansiedades. Não foi um sábio e esclarecido místico que disse: “Porque não temos aqui cidade permanente, mas vamos buscando a futura” (Heb 13,14)? E ainda: “...casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2Cor 5,1). Pode parecer-nos um objectivo distante, uma caminhada infinda, porém, algum dia, alcançaremos o lugar onde faremos e usaremos “túnicas de peles” (Gén 3,21) à vontade e então ficaremos como nossos Irmãos Maiores, os “Filhos da Mente de Brama”, “sem pai, nem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias, nem fim de vida” (Heb 7,3). Para atingir esse objectivo, é necessário que o homem esteja apto a manejar o ceptro poderoso que cria e destrói, voluntariamente, tudo que o espírito quiser. Esse poder somente pode ser alcançado por intermédio das experiências que o tempo oferece e pela convicção de que o homem não é sujeito á variação dos dias, mas que permanece fora disso, embora ligado a corpos que sofrem variações. Nessas ocasiões é que compreendemos o significado da frase: “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (2Pe 3,8). Inspirado por essa expressão profética, um dos maiores poetas do mundo compôs um poema no qual um monge, não compreendendo o significado do tempo para o próprio Deus que adorava, saiu a passeio pelos arredores. E, ouvindo o canto suavíssimo de um pássaro, durante dez minutos (como ele havia pensado), resolveu voltar ao mosteiro. Verificou então que os dez minutos tinham sido mil anos para o mundo que ele ignorou totalmente durante o seu êxtase. A razão pela qual o tempo parece a única realidade ao peregrino é que, durante suas experiências, tem necessidade de mudar constantemente as “túnicas de pele”, pois é por meio delas que adquire o saber e é por meio delas que o tempo estende sua sombra como realidade. Pois, para elas, descanso, alimento e abrigo, são necessidades e uma das maiores imposições do tempo é a ideia de que o peregrino começa a vida como uma criatura nova, ágil e cheia de frescura; porém, à proporção que o tempo passa, começa a crescer, seus músculos se enrijecem, o rosado das faces desaparece, o passo torna-se inseguro, a vista embaçada, o paladar desaparece e, finalmente, a ilusão completa-se e o homem transforma-se num velho prisioneiro entre os muros do tempo, cercado pelas suas próprias deficiências e curvando-se aos golpes dos seus dias que se encurtam. Até mesmo o próprio indivíduo que se adapta às ilusões do tempo, crendo que envelhece com o decorrer dos anos, mentalmente se revolta contra o entorpecimento das faculdades e dos membros corporais que não mais lhe obedecem. O espírito incansável que habita em seu íntimo conhece o seu parentesco com as estrelas e aguarda o alento divino para fortalecer seu coração e renovar suas energias. A sua verdadeira morada é em qualquer parte. O espírito é um habitante da esfera maior, de horizontes infinitos, e nunca fica satisfeito com o limite do tempo. A sua peregrinação começa através dos infindos caminhos do tempo, como uma centelha viva da divindade, que deve crescer mercê de uma sabedoria acumulada pelas suas circunvoluções em torno da Chama Infinita, de onde emanam outras centelhas, seguindo o mesmo destino. A princípio, e durante muitas incarnações, essa centelha habitando numa túnica de pele, ignora que existe outra vida que lhe pertence, outra morada além das estrelas, temporariamente abandonada. Porém, gradualmente, à proporção que os frutos de suas experiências se acumulam no íntimo, despontam alguns lampejos. Surgem cenas diante da vista interna, as quais o peregrino tem a sensação de ter conhecido anteriormente. Vê muitas paisagens de lugares distantes e exclama: “já estive ali!” Velhos amigos são encontrados e calorosamente cumprimentados, pois tem diante de si a visão clara de um conhecimento anterior; velhos inimigos são também encontrados e as dividas são pagas; ocorre, então, uma grande expansão da consciência. Quando isso acontece, a vida, não só no corpo, como fora dele, torna-se uma maravilhosa aventura que se realiza, não no tempo, mas nos infinitos campos da eternidade. Colhemos no nosso corpo aquilo que plantámos e guardámos no celeiro dos nossos conhecimentos. O peregrino atinge o grande plano de evolução, lenta, porém, seguramente e por si próprio; o drama é assistido através dos véus do tempo, mas nem por isso é menos real e impressionante. Uma nova criatura sai das sombras da adversidade, reconhece as oportunidades perdidas, quando habitava outros corpos, em tempos idos, e desprezou a tarefa que lhe cumpria desempenhar e que foi realizada por outrem. Pela agonia da perda, aprende três coisas: não pode reter o que lhe não pertence; o que é tirado de outrem deve ser pago, ainda que seja em gotas de sangue; e, finalmente, nada que verdadeiramente lhe pertence, pode ser tirado. (...) Seguro pelo conhecimento das idades, ele passa entre as colunas do tempo, absorvendo novas experiências e transmutando-as no ouro da sabedoria, a qual persistirá além do tempo. Sorri diante da sua própria dor e não recusa conforto aos seus irmãos de sofrimento. Aceita a adversidade porque ela lhe traz a força de resistência. Aprende a sentir todas as agonias, todos os cruéis desesperos que abalam a vida do espírito; todas as esperanças que fenecem deixando a dor no seu lugar; todas as separações que parecem eternas; todas as provações que não parecem ter fim. Aprende a trilhar o caminho com o coração magoado pelas dores do mundo, derramando lágrimas secretas; porém, caminha com a certeza de que tudo passa, porque tem os olhos abertos. Colhe todos os benefícios, embora saiba que um dia será crucificado e que outros virão para tomar parte no grande drama da evolução. Sabe que nesse dia estará em união com tudo o que vive. E este conhecimento torna suave o espinhoso trajecto do Caminho. Finalmente, chegará o tempo em que o peregrino, purificado, apenas verá luz à sua frente, felicidade no seu caminho. Bastará estender a mão para obter aquilo que almejou através das angústias de amargas existências. Então, é-lhe oferecida a escolha. Ele pode gozar a paz da perfeição, a glória de sua união com o Espírito, o puro amor que o aguarda, ou pode voltar para junto dos seus irmãos de sofrimento, escolhendo o caminho da renuncia, a fim de os auxiliar na sua evolução. E quando ele escolha renúncia, entregando-se ao mundo que conquistou, o peregrino transmuta-se na mais sagrada essência que a terra pode produzir: torna-se a flor mais esplendorosa e o portador do mais elevado título: “Salvador dos Homens”. Rev. rasacrus nº 394 - Dez / 2009