sábado, 2 de novembro de 2013
O Zodíaco e os Solstícios.
Em astronomia e em astrologia, o Zodíaco é a zona ou faixa do firmamento dentro da qual estão o Sol, a Lua e os principais Planetas. Uma vez que as órbitas dos Planetas são praticamente fixas, um observador na Terra vê estes corpos celestes movendo-se em estreita faixa da esfera celestial (15º).
As várias configurações das estrelas fixas foram agrupadas, há mais de cinco mil anos, na Mesopotâmia (Tigre/Eufrates), em constelações que representavam objetos ou animais. Uma vez que as órbitas dos Planetas passavam pela maioria destas constelações, os gregos chamaram a esta zona do espaço “Zodiako Kyklos”, isto é, círculo de animais.
O desenvolvimento da matemática astronômica permitiu aos sábios da Mesopotâmia estabelecer com precisão os doze signos zodiacais, cada um deles ocupando um arco de 30º da elíptica orbital do Sol. A história dos nomes dos símbolos zodiacais é desconhecida. Eles apareceram pela primeira vez em manuscritos gregos da alta Idade Média.
O conceito de Zodíaco chegou ao Egito Antigo sob a dominação grega no século III aC . Após receber influências babilônicas e egípcias, o sistema zodiacal grego propagou-se para a Índia, Roma e Bizâncio, de onde retornou enriquecido por novos elementos recebidos do Islã e do Cristianismo (Santo Agostinho – responsável não só pelo enriquecimento do sistema, mas também, por ser figura proeminente do cristianismo, pela sua aceitação pela Igreja da Idade Média). A influência do Zodíaco na arte e na literatura foi bastante acentuada no Renascimento Italiano.
É de extrema importância o simbolismo do Zodíaco, pelo fato de se constituir no protótipo de todos os ciclos da natureza, alegorizando tanto as fases da vida humana desde o nascimento até à morte, como as do Maçom, desde a sua Iniciação até atingir o Mestrado.
Nos Mistérios de Ceres, em Eleusis (culto à deusa Deméter), o iniciando partilhava o destino do grão de trigo confiado à terra. Como o grão, o iniciando sofria a influência solar para desenvolver-se e frutificar, passando pelas fases da geração, da infância, da juventude, da maturidade e da velhice e morte.
Sob este ponto de vista, cada signo do Zodíaco tem um significado específico, atuando sobre o ser humano nascido sob sua influência. Estes signos são representados nas Lojas Maçônicas pelas doze colunas zodiacais que ornam o Templo. Estas colunas, identificadas pelo símbolo colocado em cada uma delas, são assim dispostas no Templo:
COLUNA DO NORTE.
Do Ocidente para o Oriente: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão e Virgem.
COLUNA DO SUL.
Do Oriente para o Ocidente: Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.
O Zodíaco exerce influência sobre os desejos, as sensações e os sentimentos humanos, reprimindo-os ou amplificando-os, de acordo com o signo em ascendente no momento de seu nascimento. Este signo é o que ocupa a posição mais próxima do Sol neste momento.
As Colunas Zodiacais, pela sua distribuição no Templo Maçônico, mostram que o grande candidato à Iniciação se relaciona com Áries, cuja impetuosidade o leva a forçar as portas do Templo. Ele é colocado na Câmara de Reflexões, onde se submete à prova da Terra, enquanto o Sol está em Touro.
Morrendo para a vida profana, sob a influência de Gêmeos e seguindo a fórmula alquímica V.I.T.R.I.O.L, (Visita Interiora Terrae Rectificandoque Invenies Occultum Lapidem), o candidato faz um profundo exame de consciência, analisa os aspectos negativos de seu caráter e se propõe a abandoná-los, começando a descobrir a Pedra Polida que existe em seu coração.
Em seguida o Sol se levanta e o recipiendário sai do interior da Terra, para passar pela Prova do Ar. O Sol inicia em seguida o seu curso descendente em Câncer, e o recipiendário passa pelas provas da Água e do Fogo, que é presidido por Leão, que devora tudo o que ele ainda possua de impuro. Fortificado pela energia de Leão, o neófito esposa Virgem, que o eleva às alturas do mais puro ideal.
Já na Coluna do Sul, o obreiro aprende com o signo da Balança a raciocinar com clareza, e a expor suas idéias com firmeza. Passando à influência de Escorpião, o obreiro adquire uma vida interior rica, elevando a sua parte intelectual e espiritual.
Em Sagitário, o Iniciado desce ao fundo de seu Eu interior e, usando os conhecimentos já adquiridos, acelera o aperfeiçoamento do seu caráter. Com o Sol em Capricórnio, domicílio de Saturno, o Maçom busca a via ascensional e se compraz na Câmara do Meio.
Após ter visto a estrela Sírius no céu de Sagitário, o Iniciado se recolhe e se isola para se lamentar junto túmulo do Mestre. Esta é a prova suprema, que o leva a renovar os seus votos de trabalhar em prol da Humanidade, sob os auspícios de Saturno, agora menos sombrio e mais favorável à meditação construtiva. Neste momento, o Sol acelera a sua marcha ascendente, a partir do oceano de Peixes, para recomeçar um novo ciclo, que se inicia em Áries, ou Carneiro.
Pitágoras elaborou toda uma teoria sobre as relações do Zodíaco com a migração das Almas. Quer para descer na geração, quer para tornar a subir no caminho da espiritualização da matéria, as almas deviam transpor uma das duas portas do céu. Estas portas são os pontos extremos alcançados pelo Sol em sua marcha anual, onde ele parece deter o seu movimento. Daí o nome de solstícios (paradas do Sol), ou portas solsticiais.
OS SOLSTÍCIOS OU PORTAS SOLSTICIAIS
A expressão Solstício vem do Latim SOLSTITIUM, de Sol e Sístere, parar. Em astronomia, o solstício é qualquer um dos dois pontos nos quais o Sol atinge o maior afastamento de sua elíptica, em relação ao equador celeste. O termo solstício é também usado para designar as datas do ano em que o Sol atinge os pontos assim definidos.
Assim, no hemisfério Sul, o solstício de inverno ocorre quando o Sol está em Câncer, a 21 de junho, e o solstício de verão ocorre com o Sol em Capricórnio, a 21 de dezembro.
Os solstícios determinam a separação das duas grandes fases em que a Natureza passa por transformações e fenômenos notáveis, comemorados em todos os cultos desde a Antiguidade, sob várias formas e alegorias. Os solstícios, ou portas solsticiais, são também chamados de “Porta dos Homens” e de “Porta dos Deuses”.
A primeira corresponde ao solstício de inverno e a segunda ao solstício de verão. No hemisfério sul, a primeira metade do ciclo anual é “descendente”, quando o curso do Sol vai do solstício de inverno para o de verão. A segunda metade do ciclo anual é “ascendente”, quando o Sol vai do solstício de verão para o de inverno.
Após a vida terrena, o ser humano, de acordo com o aperfeiçoamento espiritual alcançado, sairá por uma das portas solsticiais. Assim, a porta dos homens é ao mesmo tempo uma saída e uma entrada, para os que necessitam se aperfeiçoar. A porta solsticial dos deuses é aquela pela qual saem aqueles que não mais necessitam retornar à vida terrena.
O Bhagavad Gitâ, ou Mensagem do Mestre, Livro Sagrado dos Brâmanes hindus, assim se expressa:
“Aqueles que se desencarnam quando neles arde o fogo do amor divino, iluminados pela Luz do verdadeiro conhecimento recebido do Sol da Sabedoria, conhecem o Espírito Supremo e com Ele se unem; esses passam pela porta dos deuses e não são mais obrigados a renascer. Aqueles, porém, que desencarnam no meio da fumaça dos erros, na noite da ignorância, hão de voltar à esfera da mortalidade, e renascerão até que adquiram o necessário grau de amor e de sabedoria. Esses passam pela porta dos homens”.
Simbolicamente, os solstícios do dia ocorrem ao meio-dia e à meia-noite. A metade ascendente do ciclo vai da meia-noite ao meio-dia, e a metade descendente vai do meio-dia à meia-noite.
No simbolismo maçônico, o trabalho iniciático inicia-se ao meio-dia e termina à meia-noite, isto é, inicia-se na porta dos homens e termina na porta dos deuses.
Enquanto o zênite do Sol visível ocorre ao meio-dia, hora em que começam os trabalhos maçônicos, o zênite do Sol espiritual ocorre à meia-noite, quando terminam os trabalhos do aperfeiçoamento espiritual.
Na Antiguidade, os iniciados dos Grandes Mistérios contemplavam o Sol da meia-noite, significando que as trevas, ou cor negra são o símbolo do não manifestado, o Grande Arquiteto do Universo. No simbolismo maçônico, o solstício de verão, ou porta solsticial dos deuses, simboliza o Templo Ideal no qual o iniciado se transformou ao atingir a perfeição, ao completar o polimento da sua Pedra Bruta.
Na antiga Grécia, os pontos solsticiais eram representados sob o trípode da Pitonisa do Templo de Delfos, e sob os pés dos cavalos do carro solar de Apolo.
São João Batista e São João Evangelista são os dois patronos da Maçonaria. Desde a instituição da Maçonaria Especulativa, os Maçons celebram duas grandes festas anuais, ambas chamadas de festas de São João, as festas solsticiais; a do solstício de inverno, dedicada a São João Batista, realiza-se a 24 de junho, e a do Solstício de verão, dedicada a São João Evangelista, que se celebra a 24 de dezembro.
Revista Universo Maçõnico.
Ir. Antonio Rocha Fadista.
Se eu pudesse viver novamente.
Se eu pudesse viver novamente a minha vida;
na próxima, não temeria cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tonto do que fui, e de pronto
tomaria muito poucas coisas com seriedade.
Seria até menos higiênico,
correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios,
iria a mais lugares onde nunca fui,
comeria mais sorvetes e menos coisas amargas,
teria mais problemas reais, e menos imaginários.
Eu fui dessas pessoas que vivi
sensata e prolificamente cada minuto e sua vida,
claro que tive momentos de alegria.
Porém, se pudesse voltar atrás,
trataria de ter somente bons momentos.
Se vocês não sabem, é disso que é feita a vida,
somente de momentos, não percamos tempo.
Eu era desses que não iam a nenhuma parte,
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e uma bengala,
se eu pudesse voltar a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar
descalço no início da primavera e seguiria
assim até o final do outono.
Andaria mais pelas ruazinhas,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria mais com as crianças,
se eu tivesse outra vida pela frente.
Porém vejam, tenho oitenta e cinco
e sei que estou morrendo.Revista Universo maçônico.
Ir∴ João Carvalho.
Anjo da Vida.
Duas mulheres, uma anciã e uma jovem viúva, estão sentadas em um quarto, na penumbra. As mãos da jovem seguram o retrato do marido que acaba de perder a vida em um acidente. Tinham-no enterrado na manhã daquele dia.
Seus vestidos de luto fazem com que dos seus rostos e mãos emane uma pálida claridade.
Por muito tempo as duas mulheres ficaram sentadas, sem palavras e sem lágrimas. Finalmente a anciã tira das mãos da neta o retrato do marido e diz com voz baixa:
A anciã não encontrando palavras para consolar a jovem, tenta uma parabola de Jesus:
- Filha, ouve o que quero dizer-te.
A jovem não responde, mas a anciã começa a falar:
- Quando Deus me deu o primeiro filho, aconteceu que ele ficou doente e eu, sentada à noite ao seu lado, com uma mão no berço, e a outra no terço adormeci.
Tive um sonho muito estranho: detrás de uma cortina longa e densa saiu um anjo escuro e aproximou-se do berço, querendo levar o meu filho. Estendi logo as mãos com o terço e sobre o berço gritei:
- Não, Morte, não te deixo levar o meu filho!
O anjo sorriu e disse:
- Não me chamo Morte, chamo-me vida! Precisarei levar o teu filho. Ou preferes trocar? Queres este em lugar do bebê? Erguendo ele a cortina, saiu de lá um menino bonito e forte, de pele clara, olhos azuis e cabelos louros em caracóis. Mas a mim era estranho e gritei:
- Não, não o quero! Antes mata-me.
Ninguém pode matar – replicou o anjo – Precisas concordar com a troca! Ou preferes este?
O menino desapareceu e em seu lugar apareceu um jovem.
- Toma este! Vê como ele é belo, seus membros bem proporcionados, corpo e alma com forças vibrantes.
- Não, não! – gritei outra vez.
E o anjo disse:
- Mas este amarás com certeza. – E mostrou-me a imagem de um homem de barba escura, bronzeado pelo sol e pelos ventos.
- Não, – voltei a gritar – nunca o amarei! Vou odiá-lo!
- Mas este aqui – o anjo continuou a argumentar comigo: era um velho de ombros largos e cabelos grisalhos.
- Não, não, não! Jamais trocarei. Vai embora e não toques no meu filhinho!
O anjo sorriu outra vez, dizendo:
- Certamente irás trocar e serás feliz. Vida e morte são uma coisa só. A morte não existe.
Assim dizendo, desapareceu. Acordei trêmula, ao lado do berço do meu filho que estava dormindo tranqüilamente. Os anos passaram e eu fui trocando: o bebê pelo menino, o menino pelo jovem, o jovem pelo homem e o homem pelo velho. E fui me lembrando de cada um como o tinha visto no sonho.
De todos eles, só o grisalho tu bem conheces: é meu filho, o teu pai!
A anciã se calou. E a jovem viúva ergueu o retrato do marido, dizendo:
- Mas isto aqui não é troca, vovó, isto é roubo!
- Espera – disse a anciã – ainda não terminei. Na noite seguinte o sonho se repetiu, e na minha visão o anjo voltou.
Vi outra vez o menino, o jovem, o homem e o velho e não quis saber nada deles. Mas, depois de mostrar-me tudo como na noite anterior, o anjo disse:
- Até aqui era só por brincadeira. Agora precisas aceitar uma troca bem mais difícil: aceita este em troca!
- Mas não vejo ninguém! – exclamei.
- Não podes vê-lo – replicou o anjo.
- Mas também não ouço ninguém.
- Pois ele não se deixa ouvir – respondeu o anjo.
Eu tateava ao redor:
- Ninguém está aqui!
E o anjo disse:
- Tampouco podes palpá-lo.
- Então zombas de mim?
- Não. Tu não me entendes. Vou falar de outra maneira.
- Tu me darias os teus olhos em troca do filho?
- Leva-os! – gritei.
Logo caiu uma escuridão profunda sobre mim, mas ouvia ainda a respiração tranqüila do meu filho, como se fosse uma brisa noturna deliciosa.
- Mas não é ainda suficiente – disse o anjo – Dá-me a tua audição.
- Leva-a! – ordenei, e peguei o corpinho de meu filho com as duas mãos, beijando-o ternamente.
- Mas ainda não é suficiente – exigiu o anjo novamente.
- Dá-me todos os teus sentidos.
- Leva-os todos! – gritei, e afundei no nada.
- Onde está o meu filho? Onde?
- Podes crer: ele vive. O que desaparece dos sentidos nem por isso está morto.
A morte não existe para aqueles que tem Jesus como seu salvador, Deus criou só a vida. Entendes agora?
A estas palavras do anjo acordei. Muitas vezes tenho meditado sobre o que o anjo disse, e paulatinamente comecei a compreender. Muitas vezes somos servos dos nossos sentidos. Mas Deus como Senhor dos mil sentidos consegue transformar o que amamos, mil vezes.
São transformações que não nos permitem ver, nem ouvir, nem apalpar. É por isso que falamos da morte.
Mas a morte não existe quando se tem Jesus como vida.
A vida natural rouba, e dá sem cessar. Se soubermos isto, qualquer sofrimento poderá transformar-se em alegria antecipada.
A anciã calou-se. Depois de algum tempo a jovem viúva repousou a cabeça nas mãos da velha, perguntando:
- Quem te ensinou tudo isso, amada avó?
- A vida, minha filha, a vida…
E a anciã acrescentou:
…e a morte!Revista Universo Maçônico.
Ir. Carmo Capozzi
Os Essênios.
Eram originários do Egito, e durante a dominação do Império Selêucida, em 170 A.C., formaram um pequeno grupo de judeus, que abandonou as cidades e rumou para o deserto, passando a viver às margens do Mar Morto, e cujas colônias estendiam-se até o vale do Nilo
Os essênios pertenciam a uma das cinco seitas judaicas da época, a saber:
Os Fariseus – Flexíveis na interpretação das escrituras, valorizavam a erudição, questionavam a tradição e adaptavam as leis às circunstâncias. Acreditavam na alma imortal e na ressurreição, mas não eram messiânicos.
Os Saduceus – Aristocráticos estavam sempre ao lado de quem detinha o poder. Dominavam os serviços religiosos no Templo em Jerusalém, e interpretavam literalmente as leis. Negavam a imortalidade da alma e a ressurreição.
Os Sicários – “Homens com punhal” partilhavam das mesmas crenças dos fariseus, mas viam a guerrilha contra Roma como um preparo de ações maiores a serem realizadas na chegada do Reino de Deus.
Os Zelotas – De origem sacerdotal pregavam a expulsão dos romanos e a morte dos judeus que colaboravam com o invasor, chegando a matar os que se casavam com mulheres pagãs. Desencadearam a revolta contra os romanos que levou à Guerra Judaica ( 66-70 d.C.). Entre os seguidores de Jesus, Pedro, Judas e seu irmão Thiago teriam sido zelotas.
No meio da corrupção que imperava na época, os essênios conservavam a tradição dos profetas e o segredo da Pura Doutrina. De costumes irrepreensíveis, moralidade exemplar, pacíficos e de boa fé, dedicavam-se ao estudo espiritualista, à contemplação e à caridade, longe do materialismo avassalador. Segundo alguns estudiosos, foi nesse meio onde passou Jesus, no período que corresponde entre seus 13 e 30 anos.
Os essênios suportavam com admirável estoicismo os maiores sacrifícios para não violar o menor preceito religioso. Procuravam servir a Deus, auxiliando o próximo, sem imolações no altar e sem cultuar imagens. Eram livres, trabalhavam em comunidade, vivendo do que produziam. Em seu meio não havia escravos.
Tornaram-se famosos pelo conhecimento e uso das ervas, entregando-se abertamente ao exercício da medicina ocultista. Em seus ensinos, seguindo o método das Escolas Iniciáticas, submetiam os discípulos a rituais de Iniciação, conforme adquiriam conhecimentos e passavam para graus mais avançados. Mostravam então, tanto na teoria quanto na prática, as Leis Superiores do Universo e da Vida, tristemente esquecidas na ocasião.
Alguns dizem que eles preparavam a vinda do Messias. Eram uma seita aberta aos necessitados e desamparados, mantendo inúmeras atividades onde a acolhida, o tratamento de doentes e a instrução dos jovens eram a face externa de seus objetivos.
Muitos estudiosos acreditam que a Igreja Católica procura manter silêncio acerca dos essênios, tentando ocultar que receberam dessa seita muitas influências. Não há nenhum documento que comprove a estada essénia de Jesus, no entanto seus atos são típicos de quem foi iniciado nessa seita.
A missão dos seguidores do Mestre Verdadeiro foi a de difundir a vinda de um Messias e nisso contribuíram para a chegada de Jesus. Na verdade, os essênios não aguardavam um só Messias, e sim, dois. Um originário da Casa de Davi, viria para legislar e devolver aos judeus a pátria e estabelecer a justiça.
Esse Messias-Rei restituiria ao povo de Israel a sua soberania e dignidade, instaurando um novo período de paz social e prosperidade. Jesus foi recebido por muitos como a encarnação desse Messias de sangue real. No alto da cruz onde padeceu, lia-se a inscrição: “Jesus Nazareno Rei dos Judeus”.
O outro Messias esperado nasceria de um descendente da Casa de Levi. Esse Salvador seguiria a tradição da linhagem sacerdotal dos grandes mártires. Sua morte representaria a redenção do povo e todo o sofrimento e humilhação por que teria que passar em vida seria previamente traçado por Deus.
O Messias-Sacerdote mostrar-se-ia resignado com seu destino, dando a vida em sacrifício. Faria purgar os pecados de todos e a conduta de seus atos seria o exemplo da fé que leva os homens a Deus. Para muitos, a figura do pregador João Batista se encaixa no perfil do segundo Messias. Até os nossos dias, uma seita do sul do Irã, os Mandeanos, sustenta ser João Batista o verdadeiro Messias.
Vivendo em comunidades distantes, os essênios sempre procuravam encontrar na solidão do deserto o lugar ideal para desenvolverem a espiritualidade e estabelecer a vida comunitária, onde a partilha dos bens era a regra. Rompendo com o conceito da propriedade individual, acreditavam ser possível implementar no reino da Terra a verdadeira igualdade e fraternidade entre os homens. Consideravam a escravidão um ultraje à missão do homem dada por Deus.
Todos os membros da seita trabalhavam para si e nas tarefas comuns, sempre desempenhando atividades profissionais que não envolvessem a destruição ou violência. Não era possível encontrar entre eles açougueiros ou fabricantes de armas, mas sim grande quantidade de mestres, escribas, instrutores, que através do ensino passavam de forma sutil os pensamentos da seita aos leigos. O silêncio era prezado por eles. Sabiam guardá-lo, evitando discussões em público e assuntos sobre religião. A voz, para um essénio, possuía grande poder e não devia ser desperdiçada. Através dela, com diferentes entonações, eram capazes de curar um doente. Cultivavam hábitos saudáveis, zelando pela alimentação, físico e higiene pessoal. A capacidade de predizer o futuro e a leitura do destino através da linguagem dos astros tornaram os essênios figuras magnéticas, conhecidas por suas vestes brancas. Eram excelentes médicos também. Nos escritos dos rosacruzes, são considerados como uma ramificação da Grande Fraternidade Branca, fundada no Egito no tempo do faraó Akenaton.
Em cada parte do mundo onde se estabeleceram, eles receberam nomes diferentes, às vezes por necessidade de se protegerem contra as perseguições ou para manterem afastados os difamadores. Mestres em saber adaptar seus pensamentos às religiões dos países onde se situavam, agiram misturando muitos aspectos de sua doutrina a outras crenças. O saber mais profundo dos essênios era velado à maioria das pessoas. É sabido também que liam textos e estudavam outras doutrinas. De sua teologia e de suas doutrinas se conhece muito pouco. Não se sabe se tiveram outros livros sagrados além do Pentateuco.
Para ser um essênio, o pretendente era preparado desde a infância na vida comunitária de suas aldeias isoladas. Já adulto, o adepto, após cumprir várias etapas de aprendizado, recebia uma missão definida que ele deveria cumprir até o fim da vida.. Vestidos com roupas brancas, ficaram conhecidos em sua época como aqueles que “são do caminho”. Foram fundadores dos abrigos denominados “beth-saida” , que tinham como tarefa cuidar de doentes e desabrigados em épocas de epidemia e fome. Os beth-saida anteciparam em séculos os hospitais, instituição que têm seu nome derivado de hospitaleiros, denominação de um ramo essênio voltado para a prestação de socorro às pessoas doentes. Fizeram obras maravilhosas, que refletem até os nossos dias.
Cotidiano e Filosofia dos Essênios.
É possível conhecer o dia a dia dos essênios a partir de informações do historiador judeu Flávio Josefo ( 37 d.C – 100 d.C) que com 16 anos viveu durante três anos com um mestre essênio e deixou documentos relatando as suas experiências.
De acordo com Josefo, os membros da seita acordavam antes do nascer do Sol. Permaneciam em silêncio e faziam suas preces até o momento em que um mestre dividia as tarefas entre eles de acordo com a aptidão de cada um. Trabalhavam durante 5 horas em atividades como o cultivo dos vegetais ou o estudo das escrituras. Terminadas as tarefas, banhavam-se em água fria e vestiam túnicas brancas. Comiam uma refeição em absoluto silêncio, só quebrado pelas orações recitadas pelo sacerdote no início e no fim. Retiravam então a túnica branca, considerada sagrada, e retornavam ao trabalho até o pôr-do-sol. Tomavam outro banho e jantavam com a mesma cerimônia.
Josefo também nos conta que os essênios tinham com o solo uma relação de devoção. Um dos rituais comuns deles consistia em cavar um buraco de cerca de 30 centímetros de profundidade em um lugar isolado dentro do qual se enterravam para relaxar e meditar. As refeições eram frugais, com legumes, azeitonas, figos, tâmaras e, principalmente, um tipo muito rústico de pão, que quase não levava fermento. Eles possuíam pomares e hortos irrigados pela água da chuva, que era recolhida em enormes cisternas e servia como bebida. Além dela, as bebidas essênias se resumiam ao suco de frutas e “vinho novo”, um extrato de uva levemente fermentado.
Os hábitos alimentares frugais e a vida metódica dos essênios garantiam-lhes uma vida saudável. Segundo Josefo, muitos deles teriam atingido idade extraordinariamente avançada. Uma das principais obras que permitem o estudo sobre a filosofia essênia é um manuscrito encontrado em 1785 por um historiador francês em viagens pelo Egito e pela Síria. É um dialogo entre Josefo e o mestre essênio Banus a respeito das leis da natureza. Abaixo estão algumas definições:
O Bem – Tudo aquilo que preserva ou produz coisas para o mundo, como “o cultivo dos campos, a fecundidade de uma mulher e a sabedoria de um professor”.
O Mal – O que causa a morte, como a matança de animais. Por esse motivo, o sacrifício de animais, mesmo que para a alimentação, é condenável.
A Justiça – O homem deve ser justo porque na lei da natureza as penalidades são proporcionais às infrações. Deve ser pacífico, tolerante e caridoso com todos, “para ensinar aos homens como se tornarem melhores e mais felizes”.
A Temperança – Sobriedade e moderação das paixões são virtudes, pois os vícios trazem muitos prejuízos à saúde. A Coragem – Ela é essencial para “rejeitar a opressão, defender a vida e a liberdade”.
A Higiene – Uma outra virtude essencial para os essênios para “renovar o ar, refrescar o sangue e abrir a mente à alegria”.
O Perdão – No caso de as leis não serem cumpridas, a penitência é simples e para se obter o perdão, deve-se “fazer um bem proporcional ao mal causado”.
Jesus Cristo teria sido um Essênio?
Há dezenas de dúvidas sobre os essênios, mas a hipótese de que Jesus Cristo teria tido contato com eles é uma das mais intrigantes.
Não há relatos sobre onde esteve nem o que Jesus fez entre seus 13 e 30 anos. Assim, a hipótese que os estudiosos adotam é a de que Jesus, durante esse tempo, esteve com os essênios e teve sua “clarividência” despertada junto a esse povo.
Outro fato intrigante, é que, sendo os essênios uma das três mais importantes seitas da Palestina naquela época, por que o evangelho não fala deles? Teria sido o evangelho “censurado”? A verdade ainda é desconhecida, mas, de acordo com os manuscritos do mar Morto, eis alguns costumes dos essênios:
• Batismo • Santa Ceia • Caridade • Andavam em grupo de doze • Jejum • Curandeirismo (por imposição das mãos).
O tipo de vida dos essênios se parecia muito com a dos primeiros cristãos, o que faz algumas pessoas pensarem que Jesus fez parte dessa seita antes de começar sua missão pública. O que se tem certeza é de que Jesus pode tê-la conhecido, mas não há nada que prove que Ele a tenha adotado, e tudo o que se escreveu sobre esse assunto não tem comprovação.
O Legado Essênio.
No fim de 1946 (Novembro ou Dezembro) três pastores em Ain Feshka, oásis próximo ao Mar Morto, descobrem em uma das grutas da região uns jarros de argila e em um deles três rolos escritos em hebraico antigo, o que dificulta a identificação. Essa gruta está situada nos rochedos de uma falésia aproximadamente 1300 metros ao norte de algumas ruínas que os árabes conhecem pelo nome de Khirbet Qumran. Assim, com a descoberta, os arqueólogos relacionam o grupo que vivia nessas ruínas com os possíveis responsáveis pelos manuscritos encontrados. E ao redor, outras grutas são encontradas contendo outros fragmentos cuidadosamente embalados em jarros, o que leva a crer que aqueles documentos não estariam ali por acaso.
No total, são recuperados, em 11 grutas de Qumran, 11 manuscritos mais ou menos completos e milhares de fragmentos de mais de 800 manuscritos em pergaminhos e papiros. Escritos em hebraico, aramaico e grego, cerca de 225 manuscritos são cópias de livros bíblicos, sendo o restante livros apócrifos. Os manuscritos estão sendo traduzidos até hoje e muito já foi descoberto.Revista Universo Maçônico.
Ir. José Maria Vidotto
Assinar:
Postagens (Atom)