contos sol e lua

contos sol e lua

sábado, 21 de novembro de 2009

Literatura Gótica.


Na literatura, o termo gótico se refere a uma forma peculiar de romance popular no século XIII. Até o surgimento desse gênero, havia dois tipos de romances. O primeiro afastava-se da verossimilhança nas aventuras narradas, enquanto o segundo era fiel demais à realidade, por isso carente de imaginação. Assim, com a união desses dois tipos de romances, o gênero gótico emergiu como uma forma de romantismo, mas procurando mostrar o lado mais negro e obscuro do ser. Na melhor das hipóteses, as obras góticas forçavam o leitor a considerar tudo o que a sociedade considera ruim na vida humana.
Os autores góticos desafiavam as estruturas sociais e intelectuais pela apresentação da intensa, inegável e inevitável presença do não-racional, da desordem e do caos. Estas presenças são quase sempre retratadas como forças incontroláveis, materializando-se, a partir do subconsciente, em manifestações sobrenaturais do monstruoso e do horrendo.
A literatura gótica impõe o sentido do pavor. Cria uma mistura complexa de três elementos distintos: terror - a ameaça da dor física, mutilação e/ou morte; horror - a confrontação direta com uma força ou entidade do mal repulsiva; e o misterioso - a realização intuitiva de que o mundo é muito maior do que a nossa capacidade ou compreensão poderiam dominar.
A PRAGA AMALDIÇOADA DE STRAWBERRY HILL

Em 1747, Horace Walpole (1717-1797), 4o Conde de Oxford e membro do Parlamento, filho do poderoso Primeiro Ministro, fixou-se em Strawberry Hill, em Thames, próximo a Windsor, e, apaixonado pela Idade Média, começou a reformar sua propriedade, apelidada por ele de pequeno castelo gótico. Esta paixão declarada terá as mais espantosas repercussões na história literária da Europa. Anos mais tarde, Walter Scott descreverá a morada de Walpole como um verdadeiro castelo feudal, com armaduras, broquéis, lanças de torneio, em suma, todo o armamento típico da cavalaria.
Dezessete anos depois, deve-se precisamente a um dos típicos sonhos estratosféricos de Walpole o advento de um sinistro e conhecido romance, muitas vezes plagiado, O Castelo de Otranto (1764), que povoará de pesadelos, fantasmas e pobres heroínas perseguidas a literatura popular e os filmes de horror do nosso século. Em seu sonho, Walpole viu, sobre o degrau cimeiro de uma escada interminável, uma mão gigantesca escondida numa luva de ferro. Na mesma noite, Walpole começou a escrever seu romance e publicou-o, anonimamente, dois meses mais tarde, com o título de História Medieva de 1528, reencontrada na biblioteca de uma velha família católica da Inglaterra do Norte e traduzida pelo gentil-homem William Marshall. O seu autor teria sido um tal Onófrio Muralto, cônego da Igreja de São Nicolau, em Otranto, mas, depois, com o sucesso da obra, Horace Walpole assumiria a autoria desse romance em que acontecimentos sobrenaturais sobrepujam as personagens.
A ação ocorre na Itália, durante a época das Cruzadas. Manfredo, duque de Otranto, descendente de um usurpador, deverá sofrer as conseqüências do crime do seu antepassado. Retomando, nesse aspecto, a desmedida, característica do herói trágico grego, que, tal como Édipo, deve resgatar os crimes de seus antepassados e ser punido pelos crimes cometidos, o desequilíbrio deve ser corrigido e o equilíbrio deve ser restaurado. Segundo a profecia de São Nicolau, o domínio dos usurpadores deverá cessar no dia em que a sua linhagem deixe de ter herdeiros masculinos e o proprietário legítimo do castelo se torne muito grande para poder habitá-lo. Esmagado sob um enorme capacete coberto de plumas e caído subitamente do céu, o jovem Conrado, filho único de Manfredo, morre antes de ter podido casar-se com a doce Isabel. Manfredo resolve, então, rejeitar a sua esposa para desposar Isabel, mas a garota resiste-lhe e consegue fugir, auxiliada pelo jovem Teodoro, de obscura ascendência. Furioso pela afronta sofrida, Manfredo prende Teodoro numa torre, mas a sua filha, Matilde, apaixonada pelo rapaz, liberta-o.
Advertido por um empregado de que uma dama do castelo tem se encontrado com Teodoro, o rebelde, no cemitério, Manfredo arma uma cilada à culpada e mata-a. Ao desvendar o rosto do cadáver, percebe que acabou de matar a própria filha, Matilde. Com esse acontecimento, nem sequer a segunda parte da profecia deixa de realizar-se.
O fantasma de Afonso, duque legítimo de Otranto, torna-se tão grande que abala e faz ruir o castelo. Manfredo confessa o crime do seu antepassado, e vai para um convento com a esposa, ao passo que Teodoro, que é o descendente legítimo dos duques de Otranto, desposa Isabel e ascende ao trono de seus antepassados.
Tudo isso é acompanhado de aparições de fantasmas, de mãos gigantescas, empunhando enormes espadas, de misteriosos cavaleiros aparecendo às portas da cidade para denunciar Manfredo como usurpador, de estátuas e retratos subitamente dotados do gesto e da palavra e a sangrarem das faces, entre outras coisas sinistras. Juntamente com as conhecidas tragédias gregas, temas como falsa herança, vingança, erros de identidade, e incesto, e conhecidos fantasmas shakesperianos aparecem no romance em infinitas variações.
Assim, uma crença no sobrenatural surgia para acompanhar uma preocupação com o materialismo, como se a instabilidade do mundo material inspirasse uma compensada fé em uma outra ordem religiosa. Para Walpole e muitos dos seus seguidores, crer no sobrenatural era uma reação para uma sociedade que priorizava uma empírica e exagerada verdade transcendental e que bania a gótica e convencional leitura para o mesmo lugar da literatura infantil. Não só para Walpole, mas para muitos autores do século XIX, a arquitetura e a literatura gótica contribuíram para uma fantasia que era favorável à degeneração, destruição e visível decadências da política e da igreja, com a qual muitos deles estavam envolvidos.
No romance gótico, o pano de fundo, influenciado pela Idade Média, é composto, quase sempre, de um castelo, que é palco de aparições e acontecimentos sobrenaturais como, por exemplo, a ira de um fantasma vingativo. No Castelo de Otranto, como nos romances góticos subseqüentes, aparece uma versão diferente dos contos de fada - coisas inanimadas e fantasiosas rebelam-se e adquirem poder sobre o homem que, gradualmente, perde ou abdica o controle de si mesmo. Na época, o sobrenatural e a fantasia tinham uma relevância social muito grande, porque transmitiam à classe média um sentimento de insegurança acerca da propriedade, autoridade e status social. Na verdade, romances e peças teatrais, geralmente góticos, no que se refere à herança, reforçam-se imperceptivelmente no século XVIII, expressando os precoces medos e desejos das pessoas que viviam em uma sociedade que surpreendentemente se tornara fluida, na qual herdar status era ser desafiado por mérito e dinheiro e as mulheres não tinham direito a nada. Enfim, O Castelo de Otranto é uma obra primariamente masculina em que um dominante e insensível vilão mantém uma infeliz, inocente e medrosa virgem subjugada.(Bloom, 1981)
ATERRORIZAR PARA COMOVER.
O sucessor imediato de Walpole é uma mulher, Clara Reeve (1729-1807), filha de um pastor protestante, que publicou, em 1777, O Campeão da Virtude, intitulado depois de O Velho Barão InglêS, História Medieval. Clara Reeve reconhece bem cedo e, espontaneamente, a sua dívida com Walpole, mas vangloria-se de ter modernizado as estruturas do gênero e de ter, sobretudo, suprimido numerosos exageros. Ela achava que um fantasma, para ser uma verdadeira personagem de um romance, deveria ter um comportamento discreto e submeter-se às leis naturais que limitam a ação desta espécie de figurante.
O sobrenatural deve aparecer sob a forma de sonhos, pesadelos e os habituais ruídos misteriosos, tais como gemidos, correntes que se arrastam e murmúrios.
Em seu romance, Edmundo foi despojado dos seus bens por um tio malvado que lhe assassinou os pais covardemente. Mas é recolhido e protegido pelo velho barão inglês, amigo de infância de seu pai, justamente regressado da Palestina e que fora rogado em sonhos pelo seu velho companheiro para vir vingá-lo e proteger os direitos do órfão. Assim como Hamlet, após variadas peripécias, o tio infame é finalmente punido.
O romance do castelo fortificado tem vida breve, nasce com Walpole e morre com Clara Reeve. Mas a semente plantada pelo extravagante dono de Strawberry Hill crescerá com Ann Radcliffe, Gregory Lewis e o reverendo Maturin, que a transplantam para um terreno muito mais fértil. Com isso, desaparecem as intervenções sobrenaturais muito forçadas ou muito artificiais.
Nada mais resta agora do medieval senão a decoração, ainda hoje de importância neste gênero de literatura: castelos em ruínas, torres freqüentadas por fantasmas errantes, salteadores ferozes e monges demoníacos, que se encarniçam contra frágeis donzelas ou órfãos desamparados.
Há, então, uma conciliação entre os dois tipos de romance, o antigo e o moderno, pois o primeiro tem muito de fantasia e pouco de verossimilhança, ao passo que, no segundo, há muita verdade e pouca imaginação, como disse Walpole no trecho a seguir:
Foi uma tentativa de combinar os dois gêneros de romance, quer dizer, o antigo e o moderno. No primeiro, tudo é imaginação e inverossimilhança; já no segundo a natureza é sempre contemplada para ser ilimitada e às vezes tem-no sido com sucesso. Aí não falta imaginação, mas suas grandes riquezas encontram-se obscurecidas, por causa da estrita aderência às circunstâncias banais da vida.
Por fim, pode-se dizer que no segundo a imaginação está limitada pela natureza, esta, por sua vez, foi totalmente banida dos romances antigos. As ações, os sentimentos, as conversas dos heróis e das heróinas dos tempos passados são tão artificiais quanto os mecanismos que se empregam para dar-lhes vida. (Walpole, 1766)

Com a Santíssima Trindade do romance noir - Radcliffe, Lewis e Maturin - passa-se a uma nova concepção, resumida nesta fórmula breve: aterrorizar para comover. (Orlandi, 1969)
OS MISTÉRIOS DE ANN RADCLIFFE.
Nascida em Londres, no ano em que Walpole publicou O Castelo de Otranto, Ann Radcliffe (1764-1824) passava a maior parte do tempo sozinha, lendo os seus grandes mestres, Shakespeare e Rousseau. Casada com o editor de um jornal semanal, ela não teve filhos e foi considerada morta durante 30 anos. Publica o seu primeiro livro em 1789, Os Castelos de Athlin e de Dunbayne, confuso romance de aventuras que mostra a luta feroz que opõe, na Idade Média, duas velhas famílias escocesas. No ano seguinte, surge a obra O Siciliano, na qual narra as aventuras da infortunada marqueza Mazzini, presa num medonho subterrâneo pelo seu cruel marido.
Em 1791, Radcliffe obtém o seu primeiro sucesso com O Romance da Floresta, aceito de maneira muito benévola, mesmo pela crítica mais severa. No enredo, uma pobre órfã, Adelina, é obrigada a conviver com o pai adotivo, um falsário perseguido pela justiça - nas ruínas de uma velha abadia medieval.
Em 1794, Ann Radcliffe publica, finalmente, a sua obra-prima: Os Mistérios de Udolfo, que é editada em quase todos os países da Europa, e mesmo na América, onde influenciou Charles Brockden Brown. A obra é ambientada na França e na Itália do século XVI. Emília de Saint-Aubert é vítima das perseguições de uma tia megera e de seu marido, o malvado conde Montoni, chefe de bandoleiros - nota-se aqui a nítida influência de Os Bandoleiros, de Schiller. Montoni aprisiona Emilia em seu castelo, em Udolfo, na Itália, e tenta forçá-la a doar sua propriedade. A excessiva imaginação de Emília povoa o castelo, o principal foco do romance, com espíritos e efeitos sobrenaturais, como se o genuíno mal com o qual ela convive não fosse suficiente para aterrorizá-la. No final, Montoni, que assassinou a sua cúmplice, é punido pela justiça, e Emília é salva pelo seu amor, Valancourt.
A descrição formal, o gosto pelo sublime e especialmente a evocação da sensibilidade contribuíram para a popularidade dos romances de Ann Radcliffe, apesar de serem obviamente anacrônicos, uma projeção de gostos contemporâneos e personagens do século XVI. (Fairclough,1986)
Após a publicação de O Italiano e até a sua morte, a escritora leva uma vida isolada e não volta a escrever. Aproveitou-se essa circunstância para fazer correr o boato de que os horrores descritos com tanto agrado nos seus livros a teriam enlouquecido.
INFINITO E IMAGINÁRIO MUNDO DE BECKFORD
Nas mãos de uma ressentida e deturpada pessoa como William Beckford, que se refere a Walpole como a praga amaldiçoada de Strawberry Hill, o gótico, aceitação popular do terror e do sobrenatural, tornou-se uma forma de fuga da moral restrita e elementar que mantinha pessoas a par da existência de tortura, assassinato e mutilação.
Nascido em 1760, filho do Lorde Principal de Londres e neto de um colonialista jamaicano, Beckford obteve a herança de seu falecido pai aos onze anos de idade. Estudou música com Mozart, arquitetura com William Chambers e pintura com Alexander Cozens, enquanto adquiria facilidade em muitas línguas, falando e escrevendo francês com uma facilidade impecável. (Orlandi, 1969)
Beckford escreveu, em francês, o livro The History of Caliph Vathek, descrevendo-o como uma coletânea de situações e mortes horripilantes. A obra tem como ambiente o infinito e imaginário mundo oriental das noites árabes.
Vathek, com suas diversas esposas, vivia em um palácio composto de cinco pavilhões e uma torre central, onde sua mãe, Carathis, uma bruxa com gostos particularmente demoníacos, cuidada por cinco negros mudos e muitos eunucos, realizava constantes feitiços com esqueletos e óleos venenosos.
A ambição pelo poder faz com que o califa Vathek entregue ao diabo o corpo de cinqüenta crianças dentre as mais lindas de todo o reino. Após realizar tal oferenda, ele adquire o direito de visitar o Palácio do Fogo Subterrâneo, local onde se encontram os maiores tesouros e talismãs do mundo. Contudo, Eblis, o diabo maometano, impõe uma única condição: durante a jornada até o Palácio, o califa não deve entrar em nenhuma aldeia ou residência. Vathek desobedece a ordem e invade um povoado. Na sua passagem pelo Inferno, o califa encontra esqueletos, fantasmas, vampiros e várias outras criaturas assustadoras.
Com essa obra, o leitor depara-se com a seguinte questão moral: vale a pena encarar o inferno para se tornar ainda mais poderoso? (Fairclough, 1986.F.Wikepédia.

Literatura Gótica.


LEWIS, O MONGE.
Em 1796, Beckford foi substituído por Matthew Gregory Lewis, autor de The Castle Spectre (1797), um melodrama gótico que ajudou na introdução de temas proibídos na sociedade inglesa. Como Beckford, ele nasceu com muitas vantagens e estudos, identificando-se mais com os europeus do que com os ingleses.
Em 1792, ele estava em Weimar, aprendendo alemão e traduzindo baladas fantasmagóricas populares, escritas por seu compatriota, Bishop Thomas Percy, Reliquies of Ancient English Poetry, em 1765.
Em 1794, manteve uma coluna diplomática em The Hogue, onde conheceu os franceses aristocratas que haviam escapado da Revolução e do Reino de Terror, uma época na França descrita por Wordsworth como carnificina doméstica.
Os franceses emigraram, carregando na mémoria muito terror, em parte porque escaparam de assassinatos, prisões, torturas, massacres e injustiças. Lewis encontrou na filosofia sensacionalista do Marquês de Sade, a tortura, a humilhação, a perseguição, o sofrimento e a exploração das mulheres, iniciando, assim, uma nova e macabra direção para a literatura de sentimentos. (Bloom, 1981)
Juntamente com o sobrenaturalismo da literatura germânica e a depravação da literatura contemporânea francesa, Lewis influenciou a bem delimitada tradição gótica nativa. Em dez semanas, enquanto cumpria seu trabalho diplomático, Lewis escreveu Ambrosio, ou O Monge, que surgia para ser uma resposta diabólica para a obra sentimental Vicar of Wakefield, de Oliver Goldsmith, de 1766.
O Marques de Sade escreveu em Reflexões Acerca dos Romances:

Talvez devêssemos analisar aqui os romances modernos cujo mérito reside quase inteiramente no sortilégio e na fantasmagoria, colocando à cabeça O Monge, superior em todos os aspectos às bizarrias da brilhante fantasia de Radcliffe. (Sade, 1794)

Para o advento de O Monge, foi necessária a conjunção num coração de vinte anos de todas as brasas que o vento tempestuoso de 1789 a 1794 havia reanimado no fundo do principais cadinhos do mundo ocidental, escreve André Breton, o pai do surrealismo, em 1915, que reinstalou o gosto irracional do romance noir, na cultura moderna. Para a elaboração das obras e das histórias modernas que ornam e complicam a trama central, Lewis inspira-se nos modelos germânicos (O Visionário, de Schiller; O Bruxo, de Weit Weber; lendas alemãs como a Monja Sangrenta, e, evidentemente, o Fausto, de Goethe).
Sofre igualmente a influência dos franceses (O Diabo Amoroso, de Gazzote, Justina, de Sade, a literatura anticlerical da Revolução e o Auto-da-Fé, de Gabiot), bem como dos espanhóis, dos escoceses e dos dinamarqueses, sobretudo da Balada de Alonso e Inogênia.
Na trama, Ambrosio, abade de um convento capuchinho, em Madri, cuja eloqüência, virtude e perfeição espiritual atrai a atenção de Satã, é cercado por um luxurioso e insaciável demônio, quando é seduzido por Matilde, uma nobre dama que entra no convento, vestida como uma jovem noviça. Ambrosio resolve obter os favores de uma das suas penitentes e entra nos aposentos da vítima escolhida, a bela Antonia, mas é surpreendido pela mãe da jovem. Louco de furor e despeito, ele estrangula a pobre senhora e, em seguida, obriga Antonia a beber um poderoso narcótico.
Todos a julgam morta e transportam a infeliz para os subterrâneos da igreja. Ali, em plenas trevas, entre os túmulos, o frade viola Antonia e a mata. Descoberto e denunciado à Santa Inquisição, Ambrosio é preso, torturado e condenado à fogueira. Para escapar do suplício, tenta concluir um pacto com Satã e vende-lhe a alma. Mas Satã não cumpre a sua palavra. Revela-lhe até que as mulheres que matou covardemente eram sua mãe e sua irmã. Depois, Lúcifer o carrega pelo céu, por cima de horríveis montanhas e precipita-o no interior dos abismos mais profundos. (Orlandi, 1969)
Alguns escritores criticaram o realismo, a fascinação pela decadência da carne, a corrupção física, a blasfêmia, enfim, os elementos que destruíram a delicadeza do drama O Monge, mas também aplaudiram o que poderia somente ter sido uma expressão de ira de um vigário contra a igreja, contra toda a filosofia de benevolência e sensibilidade, contra o modelo de virtude que foi promovido por Hannah More, e Maria Edgeworth em seus panfletos educacionais, contra qualquer coisa que tenha sido defendida pelos escritores devotos e críticos que reclamavam para agradar o público.
Embora os críticos descrevessem Beckford e Lewis como maus, obscenos, depravados ou sempre demoniamente possuídos, eles simplesmente representaram um público que estava sendo espiritual e esteticamente preparado por todo um século de razão, de empirismo e pensamento democrático. Depois dessa geração, esses autores iniciados continuaram sendo uma potente força na literatura inglesa, auxiliados por autores como Wordsworth, Tennyson, e Matthew Arnold, que experimentaram comparáveis períodos de confusão. (Bloom, 1981)
André Breton acrescenta:
O fantástico céu tempestuoso de O Monge, que cobre e descobre com uma violência sem igual o conflito entre as aspirações à virtude mais austera e o desejo carnal exasperado pela provocação mais ardente exercerá uma perseverante fascinação ao longo de todo o século XIX. (Breton, 1915)
O DIABÓLICO MELMOTH DO REVERENDO MATURIN.
O criador de Melmoth ou Homem Errante é o reverendo Charles Robert Maturin (1782-1824), da paróquia de São Pedro, em Dublin. O reverendo publicara já vários livros sob o pseudônimo de Dennis Jasper Murphy (A Desforra Fatal ou a Família Montório, em 1804; O Jovem Selvagem Irlandês, em 1808 e O Chefe Milesiano, em 1813), antes de publicar com o seu nome verdadeiro, primeiro uma tragédia, Bertran, e depois, Melmoth.
A história é inspirada, em grande parte, num romance aparecido em 1799, São Leão, de William Godwin, o pai de Mary Shelley. Há, também, influências de O Monge, de Lewis, e da Religiosa, de Diderot, bem como da lenda do Judeu Errante. A figura dominante é a do terrível Melmoth, personagem misteriosa e imponente, cujos olhos eram dos que nunca se desejaria ter visto e que não é possível esquecer. Melmoth fez um pacto com Satã, e ele próprio dirá no final de sua história (Marilyn, 1988):
Disseram de mim que eu obtivera do inimigo das almas uma vida mais longa do que a do prazo normal, cerca de cento e cinqüenta anos, e o poder de sulcar o espaço velozmente e sem qualquer estorvo, bem como o de visitar as regiões mais distantes à velocidade do próprio pensamento, que eu pude desafiar o raio sem temer ser atingido por ele e que logrei entrar nos cubículos mais recônditos e sombrios apesar das portas e dos ferrolhos.
Ajuntaram ter-me sido dado este poder para eu tentar os infelizes na hora terrível do desespero, oferecendo-lhes a esperança da libertação e da salvação desde que concordassem em trocar a sua situação pela minha.
Jamais, porém, alguém quis permutar a sua sorte com a de Melmoth, o homem errante. Percorri todo o mundo no decurso das minhas buscas e não se me deparou ninguém que para permanecer cá em baixo quisesse perder a sua alma. Nem Stanton no asilo, nem Monçada nos ergástulos da Inquisição, nem mesmo Walberg, embora tenha visto os seus filhos morrerem de fome, nem ainda uma outra.(Maturin, 1813)
Esta outra é Isidora, sua mulher, que ele conheceu sob o nome de Immalee, uma jovem pura, ignorante, que vivia numa ilha deserta após um terrível naufrágio, e que ele reencontrara mais tarde na Espanha, filha de uma rica família nobre. O casamento de ambos foi celebrado por um fantasma, após Melmoth ter morto em duelo o irmão de Isidora. A pobre garota, grávida, e depois abandonada por Melmoth, fora trancafiada nos cárceres da Inquisição por ter tido relações com o demônio. Mesmo Isidora, que viu morrer o filho nos seus braços e que vai ela própria morrer de desgosto, recusa trocar a sua sorte pela do seu tenebroso amante. Uma vez passados os cento e cinqüenta anos, Melmoth é atirado pelo demônio ao mar. (Orlandi, 1969)
A influencia da obra Melmoth foi importante na literatura francesa. Victor Hugo (Han de Islândia), Charles Nodier, Alexandre Dumas e Eugene Sue devem-lhe a evocação de certas atmosferas e de certas formas narrativas. Eis o que escreveu Baudelaire na obra Paraísos Artificiais:
Lembremo-nos de Melmoth, esse admirável símbolo. O seu espantoso sofrimento reside na desproporção entre as suas maravilhosas faculdades, adquiridas instantaneamente mercê de um pacto satânico, e o ambiente em que, como criatura de Deus, está condenado a viver.
Nenhum daqueles que pretende seduzir consente em comprar-lhe nas mesmas condições o seu terrível privilégio. Com efeito, todo o homem que não aceita as condições da existência vende a sua alma.
É fácil de apreender a relação existente entre as criações satânicas dos poetas e as criaturas vivas que se entregam aos estimulantes. (Baudelaire, 1855)
FRANKENSTEIN, O PROMETEU MODERNO.
Romance de caráter bastante gótico, apresenta narrativa aventureira, pessimista e com uma disputa entre criador e criatura, no campo das divagações, dos sonhos e da guerra física, na qual vence, com certeza, a criatura, que se mostra mais sensível, mais imaginativa e letrada que seu criador.
A comparação com Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, vem a calhar no sentido que Victor Frankenstein dá à luz o ser inanimado.Há quem diga que a criatura de Prometeu, analogamente à de Victor, seria Júpiter, pois com esse deus supremo a humanidade corria riscos. Prometeu poderia ser encarado como Cristo e Lúcifer, expulso do mundo que ofendera, em função da necessidade de transmitir e apresentar conhecimento. (Marilyn 1988)
A história do ensandecido Victor, e sua horrenda criação, rendeu filmes, peças e algumas polêmicas no sentido do reforço à idéia de que para ser cientista, sábio, criador, é necessário uma boa dose de loucura, solidão e sofrimento.
Mary Wollstonecraft Shelley (1797-1851), filha do casal Mary Wollstonecraft, uma das grandes porta-vozes do feminismo do século XVIII, e William Godwin, filósofo e romancista, teve uma vida marcada por tragédias e alegrias.
Perdeu a mãe onze dias após seu nascimento devido a complicações do parto. Inteligente e com conhecimento de línguas, terminou sua educação com o marido Percy Shelley, que conheceu na casa do pai. Em dezoito meses, leu noventa obras de autores variados, entre eles: Goethe, Gibbon, Virgílio, Ovídio, Schiller e outros. Com apenas dezenove anos, Mary convivia muito bem com as cabeças pensantes radicais do seu tempo e seus amigos. Formavam um grupo apelidado de Liga do Incesto e do Ateísmo, tendo como seu principal representante, um vizinho do casal Shelley, o poeta Byron.(Millor, 1981)
Num dia de tempestade, Mary Shelley, Byron e um certo Dr. Polidori fizeram uma aposta: cada um escreveria uma história de horror e, depois, seria escolhida a melhor.
A única que levou adiante o projeto foi Mary, cujo texto foi publicado junto com leituras filosóficas, contos alemães que conhecia, e o seu poema Mazeppa. A autora escreve no prefácio de seu romance:
O tempo estava frio e chuvoso. À noite juntávamo-nos, portanto, em volta de um belo fogo de cavacas, e distraíamo-nos a ler histórias alemãs de fantasmas que vinham às mãos. Essas leituras concitaram em nós uma ânsia burlesca de emulação. Dois dos meus amigos e eu própria decidimos cada qual escrever sua história, baseada num fato sobrenatural. Mas o tempo tornou-se de súbito mais agradável, e os meus amigos trocaram-me por uma excursão aos Alpes. A minha história foi, pois, a única levada a bom termo.
A autora ainda aproveita para explicar como surgiu o monstro:
Vi, em sonho, o hediondo fantasma de um homem estirado e, em seguida, graças a ação de alguma máquina poderosa, mostrar ele sinais de vida, mexendo-se com movimentos contrafeitos, semivivos. (Shelley, 1818)
A obra O Frankenstein foi publicada em 1818 e obteve imediatamente um estrondoso sucesso de público e crítica. No enredo, Victor Frankenstein é um jovem sábio que, qual novo Prometeu, utilizando peças do corpo humano obtidas em cemitérios e em casas mortuárias, consegue fabricar um homem que, mais tarde, adquirirá o nome de seu criador.
Obviamente, este monstro é desprovido de alma e não tem a mínima experiência do mundo. Mas em poucos dias percorre as principais etapas da história humana, desde a descoberta do fogo até à cultura moderna, por ter encontrado numa arca alguns livros que se apressa a ler.
O monstro depressa trava conhecimento com a realidade da vida social, com a injustiça e a crueldade dos homens. Torna-se mau e utliza a sua força descomunal para cometer assassinatos. Vinga-se de sua desventura, matando a mulher, o irmão e o amigo do seu criador. Depois, refugia-se no Ártico. Perseguido e apanhado pelo sábio que o procurou para vingar a sua família destroçada, o monstro revolta-se uma última vez. Mata o seu dono e desaparece para sempre. (Orlandi, 1969)
AS LOUCURAS DE HOFFMANN.
Se a Inglaterra é a pátria do romance medieval e, posteriormente, do romance noir, a Alemanha, em compensação, é a da literatura fantástica do terror, a ponto de Edgar Allan Poe, para responder a críticos que o acusam de ter plagiado autores europeus, se sentir obrigado a dizer que o terror que suas histórias e contos encerram não proveio da Alemanha, mas sim, e unicamente, do mais profundo do seu coração.
O maior escritor fantástico alemão é Ernst Theodor Amadeus Hoffmann (1776-1822), músico, mestre de orquestra e escritor maldito. Para se libertar das preocupações da vida, Hoffmann entrega-se à bebida, e não é impossível.
Que grande número das suas alucinações provenha justamente de excessos alcoólicos. Sabe-se disso por meio de uma pequena coleção de contos, as Fantasias à Maneira de Callot (1814), prefaciada por outro grande escritor fantástico, Jean Paul Ritcher (1763-1825), autor de A Loja Invisível (1793), do Espero (1795) e sobretudo de O Titã (1803), que terão notável influência na obra de Hoffmann e na dos escritores da Alemanha.
Num livro complexo, Os Elixires do Diabo, encontram-se reunidas, de forma caótica, todas as teorias estéticas, literárias, filosóficas e morais de Hoffmann.
O santo frade Medardo bebe um misterioso elixir, encontrado no seu convento, que lhe provoca uma espécie de furor sensual. Enviado pelo seu prior numa embaixada a Roma, apaixona-se, no decurso da viagem, pela jovem Aurélia.
Para conseguir os seus propósitos, não hesita em cometer um crime. Mata Eufêmia, a sogra, e Hermógeno, o irmão de Aurélia, e depois refugia-se na Itália, onde é ajudado por uma personagem misteriosa e bizarra, o barbeiro Pietro Belcampo. Antes de se arrepender, Medardo deverá suportar as mais estranhas aventuras.
A inspiração medieval e negra, evidente em numerosos episódios do romance, reaparece nos contos da compilação Nocturnos, por exemplo, O Morgado e A Promessa, que retomam os temas de A Balada de Alonso e Imogénia e de O Monge, de Lewis, aparecidos em 1817.
Pouco apreciado na Alemanha, Hoffmann torna-se célebre fora do seu país. É sobretudo na França que cresce a sua notoriedade, por influência de Balzac na sua Peau de Chagrin, e rivaliza em sucesso com as Histórias Extraordinárias de Poe. (Bloom, 1981)
CHARLES BROCKDEN BROWN, PRECURSOR DE POE.
O primeiro homem de Letras americano a fazer da literatura uma profissão é Charles Brockden Brown (1771-1810), o importador do medievalismo na América, por meio das obras de William Godwin, Caleb Williams, mas sobretudo de Os Mistérios de Udolfo, de Ann Radcliffe, e dos escritores alemães.
Brockden Brown escreve, em 1798, a sua obra-prima Vieland ou A Transformação. Depois, em quatro anos, cinco outros romances do mesmo gênero são lançados, dos quais os mais notáveis são Ormond ou o Testemunho Secreto e Edgar Huntley ou as Memórias de um Sonâmbulo, ambos de 1799.
Contrariamente às obras européias similares, quer inglesas, quer alemãs, o americano situa as suas histórias no presente. O terror deixa de ser um sentimento exterior, causado pela atmosfera diabólica das velhas abadias em ruínas, das noites negras e das aparições de espectros.
Nasce no homem, no seu espírito e nas suas visões, que podem ser mesmo de caráter religioso.
Justamente por isso, Brockden Brown é o verdadeiro precursor direto de Edgar Allan Poe, que não contente de herdar a sua metafísica do horror, recebe dele igualmente temas para contos (O Poço e o Pêndulo é inspirado no capítulo XV do Edgar Huntley), sem falar no estilo muito peculiar que procura transmitir para o leitor o êxtase da vítima. O ponto de partida de Vieland é um acontecimento verídico. Em 1781, um agricultor de Tamhannock tinha sacrificado todos os seus animais, e em seguida sua mulher e os seus quatro filhos, para obedecer - novo Abraão - aos desejos de dois anjos que lhe haviam aparecido. Brockden Brown esforça-se por encontrar para o caso uma explicação racional: o seu assassino religioso foi arrastado, não por vozes celestiais, mas por um infame ventríloquo que abusou do seu espírito. (Orlandi, 1969)
O GATO GÓTICO DE POE.
Baudelaire, que tornou Poe conhecido na Europa, estimava a sua produção em cerca de setenta contos, cinqüenta poemas, oitocentas páginas de artigos de crítica e uma obra filosófica, Eureka. Poesia, ficção, crítica, eis os três primeiros domínios em que a arte de Poe se exercitou durante a sua curta e trágica existência.
Foi contudo como prosador que Poe registrou os primeiros sucessos artísticos e materiais. O Manuscrito Encontrado Numa Garrafa valeu-lhe, em 1833, um prêmio de 50 dólares, oferecido peloSaturday Visiter de Baltimore. Foi seguidamente na qualidade de crítico que se tornou célebre, sobretudo pela perseguição que promove contra os plagiadores, e pela violência verbal.,BR> A sua obra caracteriza-se por uma constante variação de temas, de situações e de imagens, tanto na prosa como na poesia e no ensaio. Apesar de ser considerada importante e interessante toda a obra de Poe, será estudado neste trabalho somente um conto, O Gato Preto, considerado um dos trabalhos mais góticos do autor.
O Gato Preto (1843) foi o conto que mais impressionou a fértil imaginação de Baudelaire e dos artistas franceses em geral, a tal ponto que, um cabaré, dedicado ao animal, abriu as suas portas em Montmartre em 1881. No conto, um homem é perseguido por um gato preto de quem gostou muito, mas ao qual um dia, embriagado, vazou um olho.
O ódio que o animal passou a ter dele torna-se tão insuportável que o dono do animal acaba por enforcá-lo. Sente, porém, um amargo arrependimento, e quando encontra, durante um passeio, um gato tão preto como o precedente e igualmente zarolho, leva-o para casa. Mas o animal também passa a odiá-lo.
Um dia, o homem desce ao sótão em companhia da mulher e do gato. Este o faz tropeçar e cair. Enfurecido, o homem tenta acertar uma machadada no animal, mas é a esposa que, ao tentar defender o animal, recebe o golpe. O homem empareda o cadáver da mulher no local e corre atrás do gato para o matar, mas não o encontra em parte alguma.
Depois de vários dias, durante uma busca da polícia, que procura a desaparecida, o homem está tão seguro de si que zomba da polícia, chegando até a perguntar porque não derrubam a parede do sótão. E bate com a mão na parte da parede que, recentemente, construíra. Sai dela um grito horrível. Os guardas derrubam a parede e deparam-se com o corpo da esposa e sobre o crânio está o fatídico gato. (Orlandi, 1969)
REI STEPHEN.
Stephen King é um divisor de águas na literatura do horror, pois reconquistou o grande público, transportando o gênero das masmorras e noites tempestuosas para o cotidiano do mundo moderno e a luz do dia.
Dentre suas obras, a que mais se assemelha com os ideais da Idade Média, uma das características retomadas pelo gótico, é Os Olhos do Dragão, apesar de haver, em todo o seu trabalho, muitos fantasmas e monstros, inspirados nos mestres do passado.
Em Os Olhos do Dragão, Flagg, um bruxo com mais de quatrocentos anos, planeja a destruição total do reino de Delain. Ele inicia seus planos malignos, convencendo uma parteira a matar a Rainha-Mãe, Sacha, no momento em que nasce Tomás. Depois, o bruxo coloca um veneno chamado areia-do-dragão na bebida do rei Rolando e na refeição de um pequeno camundongo. Ambos morrem. Flagg, então, coloca o rato no cofre de Pedro, filho mais velho de Rolando, e, assim, indiretamente o acusa de assassinar o próprio pai. Pedro é condenado a passar o resto dos seus dias na prisão, no alto da torre do Obelisco, enquanto, Tomás assume o trono e elege Flagg como conselheiro.
Porém, o bruxo não sabia, mas no dia em que levou o veneno até Rolando, Tomás o observava através da cabeça do dragão Nier, empalhada e pendurada no quarto do rei.
Com a ajuda da casa de boneca de Sacha e de fios de guardanapos, Pedro tece uma corda e foge do Obelisco, no momento em que Flagg preparava-se para matá-lo. A fuga leva-os para o quarto de Rolando, onde Tomás, com a arma utilizada pelo pai para matar o dragão Niner, acerta um tiro certeiro no olho esquerdo de Flagg, que desaparece, em meio à fumaças e gritos de dor.F.Wikepédia

PARA QUE OS ANJOS NÃO SEJAM LENDAS.


Quando já não há lagrimas para mostrar que teu rosto sofre dor atroz.
Quando a verdade não basta para que o perdão seja prêmio de quem sempre mentiu.
Vista-se então de coragem e segure as mãos dos anjos.
Quando as mãos frias da morte tocarem quem vai ao teu lado, saberá que palavras não bastarão para convencer-te de que o amor é imortal.
Então vista-se de esperança e olhe para o azul do mar.
Quando toda a alegria for arrebatada do fundo da alma e saltar de um abismo, não destruirá nenhum sonho.
Crie seus próprios sonhos e vá desafiar as aguias no céu.
Pode parecer lenda, mas quando a sensibilidade , o perdão e o amor reinam, não há nada de errado em sentir uma tênue vontade de voar.Aisha Jaliah.

Eu Interior.


De repente, um magnetismo cultivado em seu interior explode como uma bomba atômica. Você não vê o fogo que está arrombando os portais de uma nova realidade em sua vida. Mas, você é capaz de sentir essa propagação em seu mundo interior. A paixão é capaz de originar tudo à sua volta. Intimamente, você sabe que este fogo invisível é o resultado de uma viagem em seu mundo mental, espiritual e emocional. Você pode sentir o calor de uma realização, pois a propagação da energia gerada em seu íntimo é capaz de dar vida àquilo que um dia foi apenas um pensamento, uma ideia.
Quando desejamos um resultado, por mais grandioso ou comum que ele possa parecer, temos que dar origem à forma num mundo invisível. O mundo que vai além da matéria é aquele que é capaz de gerar uma determinada realidade. Quer você sinta que este mundo é possível ou não, você estará certo. Onde houver dúvida, haverá lacunas em sua força interior que é capaz de moldar qualquer realidade.
Uma forma de conquistar aquilo que você deseja é perceber intimamente que isso está acontecendo com você. Sinta-se realizado com o seu desejo e ele se fará presente em sua vida. Você está lidando com uma força física que conclui tudo o que se origina em seu mundo interior. Você cria o efeito e a causa o seguirá. Não há efeito sem causa, assim com não há causa sem efeito. Você dá origem a uma idéia e vai construindo alicerces criativos para que ela possa fermentar seus pensamentos e sentimentos. Contudo, as dúvidas vão dando lugar a uma segurança que é imantada pelos seus sentimentos a respeito daquilo que você deseja.
Coloque seus pensamentos naquilo que você gostaria de se tornar – músico, empresário, pescador, programador de sistemas, viver um grande amor, viajar o mundo... Suas escolhas são os seus códigos pessoais e por serem tão valorosas elas acabam definindo o seu destino. Imagine que você já está vivenciando uma escolha e que os seus talentos pessoais estão aflorando agora mesmo. Se há o desejo é porque já há a habilidade que o torna real dentro do seu mundo interior. Comece a agir como se você já fosse o que quer ser. Não se trata de que um dia você possa vir a ser. Você já é! A partir deste sentimento o universo começará a se mover para fechar as arestas que separam o seu mundo invisível do mundo real. Lentamente, pontes vão sendo construídas entre você e a possibilidade que começa a ganhar materialidade em sua vida.
Inúmeros sentimentos vão surgir no processo de criar uma realidade. Dúvida, admiração, encantamento, gratidão, espanto, medo, cansaço, alegria, incertezas e finalmente a tranqüilidade de que um rumo, de acordo com seus desejos, está sendo definido. Essa certeza vai finalizar todo o processo e fazer com que você relaxe quase ao ponto de esquecer a paixão que originou seus ideais.
Quanto mais você imaginar e sentir que já é e possui aquilo que gostaria de ser e ter, mais inspirado vai estar. Este é um sinal de que o espírito está no caminho grandioso da alma. Neste caminho de luz, suas partes em desequilíbrio irão entrar em harmonia naturalmente. Você começará a observar que a maneira como você vê determinadas situações estão passando por uma transformação. Essas mudanças estão direcionando o seu foco preciso para o caminho em que alma lhe espera segurando toda e qualquer realização que você já tenha pretendido. O seu olhar vai mudar e para combinar com aquelas conquistas que você tanto almeja, este olhar vai estar movido pelo sentimento inspirado que observa tudo pelo melhor lado. E como você sabe que aquilo que está em seu interior se expande e cria forma, você direcionará seus pensamentos e sentimentos para onde eles devem ir, sem esforço algum.
A alma deseja que você seja feliz muito antes de vivenciar uma realidade desejada.
Não é preciso que você faça grande esforço desde que uma semente genuína e apaixonada que deseja nascer esteja plantada em sua terra interior. Quanto mais inspirado você estiver em relação ao seu propósito, mais tocado pela sabedoria do espírito você estará. A inspiração é o oposto da ansiedade que se constrói nas bases da dúvida.
Mas, como posso me inspirar?
Provoque-se!
Apaixone-se pela sensação que uma realização lhe provoca. Apaixonado, você será tocado pelos mais simples eventos e concluirá que tudo não passa de um milagre da existência. Apaixonado, você estará vivendo o seu propósito em um nível tão sublime quanto espiritual e físico.
O meu desejo pode ser absurdo para você e o seu desejo pode parecer desmotivador para mim. Porém, ele é um complexo de magnetismo direcionado por estar vibrando dentro do seu precioso mundo particular.
O que agiganta a sua alma e faz com que tudo o mais tenha sentido?
O medo trancará o fluxo do seu desempenho no caminho da conquista, porém o amor e a sua combustão interior farão com que você se torne o que está destinado a ser. Se você ainda não conhece o seu destino, olhe para o seu coração; lá estão todas as respostas.
Caso você não realizasse o seu maior desejo como se sentiria?
Se você sentir que a vida perderia todo o sentido, ande mais adiante em seu caminho, pois algo em seu interior ainda está tomado pelo medo. Siga em frente. E as amarras da incerteza cairão naturalmente.
Se você der de ombros e sentir que isso não é o importante, pois o seu desejo já o tornou realizado mesmo antes da realização. Parabéns, pois você está próximo de uma libertação que o amor compreende bem. E tomado por essa liberdade que faz de você uma pessoa feliz sem qualquer motivo, você notará um poder crescendo em seu íntimo. Um poder tão criador quanto o fato de você estar vivo aqui e agora.
O medo lhe dirá que a vida não faz sentido; contudo, a paixão dará uma gargalhada alta, pois ela nem prestou atenção à pergunta anterior. Porque a paixão está em combustão em seu interior...Encantada, admirando as possibilidades que a mente cria. A paixão é o seu motor de arranque, ela o moverá para um mundo gerador das engrenagens da vida: onde todos os sonhos se realizam e lá você estará seguro e pronto para todo o tipo de triunfo.R.Planeta.

Karma.


Karma é uma lei do Hinduismo que defende que qualquer acto, por mais insignificante, voltará ao individuo com igual impacto. Bom será devolvido com bom; mau com mau. Visto os Hindus acreditarem na reincarnação, o karma não conhece limites de vida/morte. Se o bem e o mal caem sobre si, se as pessoas se comportam de determinado modo consigo, isso deve-se ao que fez nesta ou numa vida passada.
Por um lado, o karma serve para explicar porque acontecem coisas boas a pessoas más e coisas más aos bons. A injustiça do mundo, a distribuição aparentemente ao acaso do bem e do mal é apenas aparente. Na verdade todos recebem o que merecem. Mesmo a criança brutalizada por adultos merece esse horror. Os atrasados mentais, os milhões de Judeus mortos pelos nazis, merecem-no pelo que fizeram no passado. O escravo espancado até à morte merece-o, não pelo que faz agora, mas pelo que fez numa vida passada. O mal é racional, de acordo com a lei do karma.
Apesar de não haver provas de karma e que essa crença não se baseia em mais que no desejo de que o mal deste mundo faça sentido, a ideia do karma é popular entre as culturas ocidentais onde se separou das suas raízes hindus. Os teósofos, por exemplo, acreditam no karma e na reincarnação. Tambem James Van Praagh, que afirma ser um condutor psíquico para os biliões de pessoas que morreram ao longo dos séculos.
Digamos que alguem mata outro.num multibanco. Podem ser duas coisa. A pessoa que cometeu o crime usou o seu livre arbítrio para o fazer. Ou, e isot pode parecer estranho, pode tratar-se de uma situação kármica em que a pessoa assassinada teve de pagar o ter morto alguem nuna anterior incarnação.
Van Praagh deixa claro que pensa que é o karma, não o livre arbítrio, que leva as pessoas a matarem-se umas às outras. Se Van Praagh está certo, podemos desmantelar os nossos sistemas de ética e de justiça criminal. Ninguem é realmente bom ou mau. É apenas o nosso karma. Ninguem é realmente responsável por nada do que faz. Somos apenas peões karmicos dançando com o destino. Mas porque é que um principio amoral como o karma deve ser apresentado como explicando a injustiça máxima num universo indiferente? Porque, diz Van Praagh, "Estamos nesta Terra para aprender lições. Esta é a nossa escola primária. Devemos passar certas lições para crescermos." De acordo com Van Praagh, a vida na terra é uma vida no purgatório. Estamos a sofrer dos nossos pecados, a evoluir as almas. Estas são as mesmas razões que os teólogos dão para a existência do mal num mundo alegadamente criado por um Deus todo-poderoso e todo-bondade.
Puxando um pouco as afirmações, hindus, teosofistas e teólogos (os que tentam justificar os desígnios do Senhor) todos apelam ao "mistério" de tudo isto. Mas não há mistério no mal se reconhecemos que não há propósito na vida, não há vida depois da morte, não há recompensas no Céu nem punições no Inferno, não há Nirvana. Embora possa não haver sentido na vida, pode haver vidas com sentido. A crença no karma, contudo, não é essencial para uma vida com sentido. De fato, o karma parece tornar a vida trivial, uma mera "lei" metafisica que reduz os humanos a criaturas desumanizadas, deprovidas de moral e responsabilidade. O Karma não permite que o mal que cai sobre si possa ser imerecido. Isto é uma verdade que os fracos não conseguem plhar de frente. O Karma não permite que o bem que recebe possa ser merecido. Isto é uma verdade que os impotentes e desadequados conseguem olhar.

Como tal noção se tornou uma verdade essencial numa das grandes religiões? Como ganhou audiência fora da India? É uma lei para carneiros. Não nos admiremos que os pastores a defendam. É uma lei para passivos, para os que não perturbam o status quo, que aceitam qualquer mal como "natural" e inevitável. Karma é uma lei para escravos, para conquistados, e não foram os escravos que inventaram os dogmas religiosos. Os seus donos sabiam o que faziam. Aceitar o mal que lhes aconteça. ser bom, isto é, aceitar as ordens do dono e comportar-se de maneira ordeira. Que camponês pensaria que devia ter havido uma primeira vida sem vidas passadas? Como funcionava o karma nessa altura? Se não funcionava ou não era necessário então, porque era necessário para as outras vidas? Os mestres teriam as respostas. Teem sempre. São os donos da linguagem. Usando o poder das palavras podem reconciliar leis inexoráveis com liberdade. Podem fazer as contradições parecerem tautologias. E se os mestres não tivessem as respostas, podiam sempre calar os que se atreviam a perguntar o que não compreendiam. É um mistério e toda a gente gosta de mistérios! E se isso não funcionasse havia sempre a morte. Geralmente isso cala os dissidentes e os perturbadores.R.Planeta.