domingo, 5 de dezembro de 2010
Vivendo e morrendo conscientemente.
Agora que o bardo da morte desponta diante de mim,
Eu vou parar de prender as coisas, de desejar e me apegar,
Vou entrar sem distrações na clara percepção dos ensinamentos,
E ejetar a minha consciência para a dimensão da percepção não nascida.
Quando eu deixar este corpo composto de carne e sangue,
Saberei ser ele apenas uma ilusão passageira.
Padma Sambhava em O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS.
Nos ensinamentos tibetanos, a morte é mais um momento no qual devemos praticar a atenção plena. Lembrar-se da inevitabilidade de nossa morte, encarar o fato inescapável da nossa própria mortalidade e da impermanência de todas as coisas, pode ser a mais liberadora das meditações, porque apresentar a realidade das coisas como realmente são, ajuda a desalojar o egoísmo grosseiro, o apego e a miopia - colocando nossas vidas na perspectiva correta.
A morte é um espelho, que reflete e ilumina tanto a vaidade quanto o sentido de nossas vidas. A morte é o momento da verdade, quando nos encontramos com a realidade face a face. Para todos nós, é também um momento de oportunidade, quando podemos atingir nossa natureza original. A morte é mais certa do que o amor, e com certeza aguarda a todos nós na doença ou na velhice. A sabedoria perene nos diz que deveríamos nos preparar para o nosso fim, o que nos tornará melhor preparados para viver - ou morrer - de forma iluminada.
Diz-se que na morte apenas duas coisas contam: o que fizemos em nossas vidas e o estado interior que temos na hora de morrer. Estes dois fatores determinam o que vem depois. Buda ensinou que a experiência real do momento de morrer é crucial para o próximo renascimento, e que no momento da morte ocorrem experiências espirituais extraordinárias que oferecem um portal para a grande liberação. Portanto, a atmosfera física e os estados de espírito daqueles que estão ao redor do moribundo são extremamente importantes, e paz, conforto, gentileza, amor, aceitação e harmonia ajudam a guiar o morto, da melhor maneira possível, em sua travessia.
Tradicionalmente no Tibet, o Bardo Thodol, conhecido no ocidente como o livro tibetano dos mortos, é lido na cabeceira da cama de alguém que está morrendo, tanto na hora da morte como por vários dias subseqüentes. Ele é uma meditação guiada, lida em voz alta, normalmente por um lama, para ajudar a direcionar o morto ou o moribundo através dos vários estados de transição no bardo. Este maravilhoso livro antigo é uma escritura de sabedoria que nos conduz à liberdade e à iluminação através do reconhecimento da clara luz da realidade na hora da morte, e depois. Ele também mostra como reconhecer e atingir a clara luz (a qualidade luminosa inata da mente natural) dentro de cada um de nós, nesta vida. Apesar de ter sido ostensivamente escrito para oferecer ao morto ou moribundo conforto, orientação e libertação pela audição, o Bardo Thodol também nos mostra como viver, porque cada momento é tanto um nascimento quanto uma morte.
Bardo1 é uma palavra tibetana que significa "No meio" ou "Em transição". Ensina-se que existem ao todo seis estados de bardo, acabam oferecendo suas oportunidades específicas. Três delas ocorrem quando ainda estamos vivos: o bardo desta vida cobre o período inteiro desde que nascemos até a nossa morte; o bardo da meditação se refere ao estado meditativo quando conseguimos reconhecer nossa natureza búdica; e o bardo do sonho ocorre quando dormimos, e também pode ser usado para treinar a mente.
Os outros três estados de bardo cobrem o período entre a morte e o renascimento, e constituem o foco primário do Livro Tibetano dos Mortos.
O Bardo da Morte.
Este bardo se refere ao processo de morrer em si. No Tibet, a morte é considerado um processo de purificação, porque estamos voltando para clara luz, nosso estado natural intrínseco de luminosidade - estamos nos dissolvendo nele. No momento da morte, esta clara luz da realidade desponta para cada um de nós. É a nossa própria natureza radiante, algumas vezes chamada de Rigpa – o estado desperto e iluminado. Entretanto, para podermos realmente nos beneficiar deste "Momento da Verdade" e atingir a libertação, precisamos estar preparados. Se não, ele vai nos escapar rapidamente. Como a maioria de nós ainda está ligada aos hábitos e padrões de comportamento estabelecidos em vida, não reconhecemos a luminosidade pelo que ela é. Reagimos de forma não apropriada e inconsciente. Em vez de mergulharmos nela, em um ato de fé, nos entregando à luminosidade, nos fundindo nela. E assim o momento passa. As instruções de Kalu Rinpoche para esse momento de grande luminosidade foram: "Solte o corpo e a mente, e dissolva-se na clara luz da luminosidade interior. Reconheça o raiar da clara luz e se liberte neste instante. Enxergue além das ciladas, do dualismo da vida e da morte".
O Bardo do Dharmata (Realidade.
Neste segundo estado de bardo, temos outra oportunidade de atingir a libertação. Kalu Rinpoche dizia que a coisa mais importante para nos lembrarmos aqui é que, como nos sonhos, tudo o que veremos aqui é criação de nossas mentes, e pode ser mudado, da mesma forma que se pode acordar dentro dos sonhos e alterá-los. Neste estado, é como se sonhássemos, e nada mais pode realmente nos fazer mal. A libertação pode ocorrer se conseguirmos apagar a resistência e as dúvidas, soltar tudo e nos entregarmos à luminosidade inata da mente natural. Se não pudermos fazer isso, então o próximo bardo inexoravelmente começará.
O Bardo do Vir-a-Ser.
Neste terceiro estado de bardo pós-morte, nossas percepções estão voltando. Novamente, temos preferências e aversões, e somos atraídos para lugares e pessoas que nos são familiares. À medida que nossos apegos, paixões e propensões cármicas começam a se afirmar, estamos nos aproximando do renascimento. Nesse momento, faríamos bem em voltar nossas mentes para as intenções do bodhisativa, que são beneficiar e servir todos os seres sem exceções. Livres das ciladas da atração e da repulsão, devemos procurar o meio ambiente oportuno para exercer o voto de bodhisativa. Se você achar que está neste estado do bardo, através da coragem destemida e da visão pura, vá além e abandone sua atração e seu desejo pelo homem e mulher que se unem em união sexual. Em vez disso, perceba este casal amoroso, que serão seus novos pais, como um casal búdico - Sr. e Sra. Sabedoria e Compaixão. Graciosamente, entre neste templo humano e encontre sua nova vida.
Vivendo a Morte: Uma Meditação.
Todos nós temos que nos defrontar com as questões da vida e da morte. Quer seja a morte de um familiar idoso ou o nascimento de um filho, o nascimento e a morte são parte da vida. A filosofia, a ciência, a religião, as artes lidam com a vida e a morte, e com a morte ou renascimento. Todos nós nos perguntamos o que acontece quando morremos. Será que a morte é o nosso fim? E o que isso significa para nós? Como podemos dar mais sentido às nossas vidas?
Existem diversas religiões e culturas, mas todas compartilham de pelo menos um princípio comum: todas têm ritos, rituais e especialistas para lidar com a morte e o morrer. Estes ritos nos oferecem conforto e segurança diante da precariedade e da insegurança da existência. Será que continuamos? Será que atingimos um fim abrupto? Não existe mais nada? E o céu? E o inferno? Existe vida depois da morte? Vamos nos defrontar com Deus ou com o carma? Verdade ou conseqüência? Como podemos ter certeza de qualquer coisa? Isso pode ser verificado ou estão nos pedindo para acreditar e confiar em um mito ou na imaginação? Devemos acreditar nas pessoas que dizem ter voltado das experiências de quase morte? Devemos acreditar em Edgar Cayce e nos outros videntes? Devemos acreditar nos lama encarnados, muitos dos quais dizem que se lembram de vidas passadas e parecem ter algum controle consciente sobre o processo - como se estivessem evoluindo, por escolha, através de diferentes níveis da escola espiritual? Como podemos saber? Quem sabe?
Os budistas perceberam há muito tempo que contemplar a própria mortalidade é uma prática que ajuda a ter foco e estabelecer prioridades. A vida espiritual, a jornada de despertar e dar sentido às nossas vidas enquanto aprendemos a amar, é na verdade uma questão tanto de vida quanto de morte. A precariedade da vida nos ajuda a permanecer totalmente dispersos no aqui agora.
O que o budismo tibetano nos oferece, juntamente com seus ensinamentos pragmáticos e éticos, é uma forma de lidar com a própria experiência da morte - uma forma de encarar a morte no momento presente. Este treinamento pode nos ajudar muito a lidar com o momento da morte. Passamos a apreciar mais, estar mais atentos e mais abertos a cada momento da vida, que se torna mais pungente devido à sua absoluta impermanência.
Ao aprender a deixar esta vida ir embora, aprendemos também a viver cada momento sem arrependimentos. Aprendemos a tomar decisões sem arrependimentos. Cada decisão se torna a decisão certa. Quando aprendemos a largar as coisas em vida, abandonamos nossos rancores, obtemos o perdão e nos aliviamos do fardo do ressentimento, da amargura e da hostilidade. Assim, encontramos uma conclusão e podemos soltar velhas tristezas e antigas queixas, deixando estes padrões congelados morrerem. É assim que morremos sem arrependimentos, enquanto aprendemos a viver de novo. Aqui, neste momento. Respiração por respiração. Eis aqui uma meditação que nos ajuda a fazer isso:
Respire profundamente relaxe. Deixe tudo se acomodar. Esteja totalmente presente, naturalmente presente, sem esforço. Você está se sentando por um instante, um instante eterno. Não perca o momento. Só existe este.
Sinta tudo, como é. Esteja presente, alerta, desperto e relaxado. Abra-se para a presença sem esforço, para a consciência pura. A presença total. Tenha consciência de estar consciente, uma percepção luminosa, sem centro, aqui e agora. Deixe que tudo aconteça sem esforço, de forma transparente. Abandone o controle, a manipulação e o julgamento.
A cada respiração, solte um pouco mais. A cada respiração, solte, relaxe, abra e centre-se cada vez mais profundamente. Cada expiração é uma pequena morte. Simplesmente esteja com a expiração, e a cada expiração solte um pouco mais. Um pouco mais ... solte os nós do seu psiquismo. Relaxe. Largue tudo. Solte a tensão dos ombros, expire-a. Expire aquele pensamento, aquela lembrança, solte, solte, solte.
Solte a expiração. Morra um pouco a cada expiração. Morra no momento presente. Qualquer sensação sinta, deixe-a partir. Largue o corpo, largue a mente, largue os pensamentos e a personalidade. Largue tudo. Solte. Largue sua auto-imagem, sua casa, suas posses, seus planos, sua carreira. Solte. Tudo está perfeitamente resolvido na mente natural que não nasce nem morre.
Abandone as tentativas de controlar a mente. A cada expiração, solte. Aperte a embreagem do desapego espiritual e desengrene a marcha. A cada expiração, solte mais alguma coisa - o que vier à cabeça, uma sensação, uma emoção, um sentimento, um relacionamento uma pessoa, um medo, uma posse. Respiração à respiração, momento a momento - simplesmente solte tudo. Habitue-se a evoluir, a se transformar, a passar sem resistência, sem se agarrar, sem apegos. Respiração a respiração, vá soltando. Deixe todos fenômenos ilusórios irem embora.
A cada respiração, perdoe aos outros. Perdoe às pessoas de seu passado - aquelas com quem não tem mais contato, e também as que ainda estão ao seu redor. Perdoe a sí. Aceite os outros como são. Aceite totalmente a si mesmo. Deixe tudo ser como é. Isto é a sabedoria em ação. A cada respiração, abandone o medo, a expectativa, a raiva, o arrependimento, o desejo, a frustração, a fadiga. Abandone a necessidade de aprovação. Abandone os velhos julgamentos e as opiniões. Morra para tudo isto, e voe livremente. Eleve-se na liberdade da ausência de desejos.
Solte. Deixe. Veja através de tudo seja livre, completo, luminoso e volte para casa.
Com este tipo de meditação, as camadas sutis que formam quem nós somos começam a se arrumar, e nós penetramos mais profundamente no nosso estado natural - o estado despojado do ser autêntico. Isto é uma transformação ocorrida aqui e agora. Um renascimento espiritual.Do livro "O despertar do buda interior"Lama Surya Das.
A Esfinge e a Cruz.
O grande enigma dos séculos antigos, a esfinge, depois de ter feito a volta ao mundo sem achar repouso, parou ao pé da cruz, este outro grande enigma; e há dezoito séculos e meio a contempla e medita.
Que é o homem? - pergunta a esfinge à cruz, - e a cruz responde à esfinge, perguntando-lhe: - Que é Deus?
Já dezoito vezes, o velho Ahasverus fez também a volta do globo; e, no fim de todos os séculos, e no começo de todas as gerações, passa perto da cruz muda e diante da esfinge imóvel e silenciosa.
Quando estiver cansado de caminhar sempre, sem nunca chegar, é aí que ele repousará, e então a esfinge e a cruz falarão por sua vez para o consolar.
Eu sou o resumo da sabedoria antiga - dirá a esfinge. - Sou a síntese do homem. Tenho uma fronte que pensa e peitos que se inflamam de amor; tenho garras de leão para a luta, flancos de touro para o trabalho e asas de águia para subir à luz. Só fui entendida nos tempos antigos pelo cego voluntário de Tebas, este grande símbolo da misteriosa explanação que devia iniciar a humanidade à eterna justiça; mas agora o homem não é mais o filho maldito que um crime original faz expor à morte do Cytheron; o pai veio, por sua vez, expiar o suplício do filho; a sombra de Laios gemeu com os tormentos de édipo; o céu explicou ao mundo o meu enigma nesta cruz. é por isso que eu me calo, esperando que ela mesma se explique ao mundo: repousa, Ahasverus, porque é aqui o termo da tua dolorosa viagem.
Eu sou a chave da sabedoria futura - dirá a cruz. - Sou o signo glorioso do stauros que Deus fixou nos quatro pontos cardiais do céu, para servir de duplo eixo ao universo. Expliquei na Terra o enigma da esfinge, dando aos homens a razão da dor: consumei o simbolismo religioso, realizando o sacrifício. Eu sou a escada sangrenta pela qual a humanidade sobe a Deus e pela qual Deus desce aos homens. Eu sou a árvore do sangue, e as minhas raízes o bebem em toda a terra, para que não seja perdido, e forme nos meus braços frutos de devotamento e de amor. Sou o sinal da glória, porque revelei a honra; e os príncipes da terra me penduraram ao peito dos bravos. Um dentre eles me deu um quinto braço para fazer de mim uma estrela; mas sempre me chamo a cruz. Talvez aquele que foi o mártir da glória previa o sacrifício, e queria, acrescentando um braço à cruz, preparar um encosto para a sua própria cabeça ao lado da do Cristo. Estendo os meus braços tanto à direita como à esquerda, e espalhei igualmente as bênçãos de Deus sobre Madalena e sobre Maria; ofereço a salvação aos pecadores, e aos justos a graça nova; espero Caim e Abel para os reconciliar e unir. Devo servir de ponto de ligação entre os povos, e devo presidir ao último julgamento dos reis; sou o resumo da lei, porque trago escrito nos meus braços: Fé, Esperança e Caridade. Sou o resumo da ciência, porque explico a vida humana e o pensamento de Deus. Não temas, Ahasverus, não mais temas minha sombra; o crime do teu povo tornou-se o do universo, porque também os cristãos crucificaram o seu Salvador; eles o crucificaram, lançando aos pés a sua doutrina de comunhão; eles o crucificaram na pessoa dos pobres; eles o crucificaram, maldizendo a ti próprio e prescrevendo o teu exílio; mas o crime de todos os homens os envolve no mesmo perdão; e tu, o Caim humanitário, tu, o mais velho dos que a cruz deve resgatar, vem repousar embaixo de um dos seus braços ainda tinto do sangue redentor! Depois de ti, virá o filho da segunda sinagoga, o pontífice da lei nova, o sucessor de Pedro; quando as nações o tiverem proscrito como tudo, quando não houver senão a coroa do martírio, e quando a perseguição o tiver feito submisso e dócil como justo Abel, então virá Maria, a mulher regenerada, a mãe de Deus e dos homens; e ela reconciliará o judeu errante com o último papa, depois começará de novo a conquista do mundo para dá-lo aos seus dois filhos. O amor regenerará as ciências, e razão e a fé. Então serei a árvore do paraíso terrestre, a árvore da ciência do bem e do mal, a árvore da liberdade humana. Os meus imensos ramos cobrirão o mundo inteiro, e as populações afadigadas descansarão debaixo da minha sombra; os meus frutos serão o alimento dos fortes e o leite das criancinhas; e as aves do céu, isto é, os que passam cantando, levados nas asas da inspiração sagrada, estes repousarão nos meus ramos, sempre verdes e carregados de frutos. Repousa, pois, Ahasverus, na esperança deste belo porvir; porque é aqui o termo da tua dolorosa viagem.
Então o judeu errante, sacudindo o pó de seus pés doloridos, dirá à esfinge:
Eu te conheço desde há muito! Ezequiel te via outrora, atrelada a esta carruagem misteriosa que representa o universo e cujas rodas estreladas giram umas nas outras; realizei uma segunda vez os destinos errantes do órfão do Cytheron; como ele, matei meu pai, sem o conhecer; quando o deicídio se realizou e quando chamei sobre mim a vingança do seu sangue, me condenei a mim mesmo à cegueira e ao exílio. Eu fugia de ti e te procurava sempre, porque era a primeira causa das minhas dores. Mas tu viajavas penosamente como eu, e, por caminhos diferentes, devíamos chegar juntos; bendito sejas tu, ó gênio das antigas idades, por me haveres levado ao pé da cruz!
Depois, dirigindo-se à própria cruz, Ahasverus dirá, enxugando a sua última lágrima:
Desde há dezoito séculos te conheço, porque eu te vi levada pelo Cristo que sucumbiu sob este fardo. Abanei a cabeça e te blasfemei então, porque ainda não tinha sido iniciado à maldição; era preciso à minha religião o anátema do mundo para lhe fazer compreender a divindade do maldito; é por isso que sofri com coragem meus dezoito séculos de expiação, vivendo e sofrendo sempre no meio das gerações que morriam ao redor de mim, assistindo à agonia dos impérios e atravessando todas as ruínas e olhava sempre com ansiedade para ver se não estavas caída; e depois de todas as convulsões do mundo, sempre te via de pé! Mas não me aproximava de ti, porque os grandes do mundo ainda te haviam profanado, e feito de ti o patíbulo da Liberdade santa! Não me aproximava de ti, porque a Inquisição tinha entregue meus irmãos à fogueira em presença da tua imagem; não me aproximava de ti, porque não falavas, ao passo que os falsos ministros do céu falavam, em teu nome, de danação e vinganças; e eu só podia ouvir as palavras de misericórdia e união! Por isso, desde que a tua voz chegou ao meu ouvido, senti meu coração mudado e a minha consciência se acalmou! Bendita seja a hora salutar que me levou ao pé da cruz!
Então uma porta se abrirá no céu e a montanha do Gólgota será o seu sólio e, diante desta porta, a humanidade verá, com admiração, a cruz irradiante guardada pelo judeu errante, que terá deposto a seus pés o seu bastão de viagem, e pela esfinge, que estenderá as suas asas e terá os olhos brilhantes de esperança, como se fosse tomar um novo vôo e se transfigurar!
E a esfinge responderá à pergunta da cruz, dizendo: - Deus é aquele que triunfa do mal pela prova de seus filhos, aquele que permite a dor, porque possui em si o remédio eterno; Deus é aquele que é, e diante de quem o mal não existe.
E a cruz responderá ao enigma da esfinge: - O homem é o filho de Deus que se imortaliza ao morrer, e que se liberta, por um amor inteligente e vitorioso, do tempo e da morte; o homem é aquele que deve amar para viver, e que não pode amar sem ser livre; o homem é o filho de Deus e da Liberdade!
Dogma e Ritual da Alta Magia', de Eliphas Levi.
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