contos sol e lua

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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O Tempo da Serpente.

Escolhemos habitar um tempo de transição para o qual julgamos não estar preparados. A mudança traz múltiplas transformações dentro e fora de nós que, pela sua rapidez, nos convocam a responder de forma igualmente rápida e decidida. No entanto, escolher num período caracterizado pela dispersão, pela mudança, pela incerteza, pelas dificuldades torna-se um desafio às nossas capacidades, ensonadas por alguns anos de facilitismo e alguma apatia. De todas as faculdades há uma que, neste tempo, precisamos de desenvolver: o poder de regeneração aos níveis interior e exterior. Somos, assim, semelhantes à serpente que despe a pele velha e cujo o próprio corpo tem a capacidade de se regenerar. Empurrados pelo instinto de sobrevivência, não podemos ser levados pela emoção numa corrente desabrida. É preciso parar, renascer, equilibrando o lado mental e afectivo, seguir uma orientação, ter um objectivo a cumprir de cada vez; saber também visualizar o resultado esperado. Para que aflore em nós o novo, há uma casca velha e pesada que precisamos de abandonar: a lamentação, a autocomiseração, a vitimização que faz de nós presas fáceis da indolência e da insegurança. No entanto, antes de renascer muitas questões necessitam de ser equacionadas: faremos nós aquilo de que realmente gostamos?Gostamos do que fazemos, mas necessitamos de renovar o modo como o fazemos? Deitamo-nos agradavelmente cansados ou frustrados por não termos feito aquilo de que gostaríamos? Gerimos bem o nosso tempo? Somos suficientemente disciplinados para cumprirmos o que estipulámos? Fomos generosos connosco e com os outros? Sentimo-nos conectados conscientemente com o nosso interior e com o divino? Estas e outras perguntas podem ser aclaradas durante o processo de regeneração que acontece muitas vezes durante a vida e se processa por ciclos mais ou menos lentos. Vagarosamente, umas vezes por nossa iniciativa, outras por imposição da vida, vamos abandonando as cascas grossas que pesam, magoam e atrasam o nosso processo evolutivo. Se escolhemos viver na transição entre dois tempos, devemos consciencializarmo-nos de que chegou o tempo de arrumar o quarto interior e de participar também na reorganização exterior em marcha, numa grande parte dos países. Chegámos ao final de uma estação; é tempo de colocar de lado o que nos faz dispender energia desnecessária, abandonar hábitos nocivos, deixar para trás padrões de pensamentos negativos, revitalizar a fé, reencontrar quem somos; observar se quem somos coincide ou não com quem nos tornámos. As fissuras que abundam no exterior quer sejam em forma de guerras, divisões entre famílias, atritos entre países, entre outros, espelham a divisão existente em cada um de nós. Renascer é um exercício semelhante ao arrumar o roupeiro em fim de estação; pomos de lado o que está desadequado ao tempo presente, usamos apenas o necessário e adequado ao novo tempo. É preciso ter coragem e sentido prático para deitar fora o que já não serve o nosso momento evolutivo. Do poder de regenerar não só faz parte aprender a reutilizar, reciclar mas também aprender a lidar com o corte, com as separações, com as fissuras. Regenerar é sinónimo de mudança, delineando com segurança o que já não queremos voltar a viver e a ser. Regenerar é sinónimo de transformação criativa; renascer deverá ser um acto con(sentido). Maria Coriel.

Almas Perdidas.

DEUS é LUZ e VERDADE! Por este motivo dizemos que não há religião superior à verdade; e tantas vezes se diz, também, que “a voz do povo é a voz de Deus”, querendo com isto significar, exactamente, que na voz do povo anda a verdade. E a verdade é que dentro de cada um de nós há um deus, que chamamos EGO, ESPÍRITO, EU. Temos dentro de nós mesmos um deus e um demónio! O deus chama-se EU SUPERIOR ou EGO, ou ESPÍRITO, a parte de nós mesmos que pertence à eternidade e por isso não morre com o corpo, mas volta a renascer para se libertar inteiramente das suas condições mesquinhas de luz obscurecida pela carne e pelos seus instintos; o demónio chama-se EU INFERIOR e é a sombra do EU SUPERIOR, tendo sido criado nas relações deste com a Terra e as suas leis, que sempre conspiram contra o Céu. As condições terrenas buscam as celestes, e estas, por meio da Luz e da Verdade, procuram elevar as terrenas a mais altas possibilidades. Portanto, a nossa existência terrena traz consigo mesma altíssima finalidade. E quando tivermos atingido este glorioso estado – glorioso porque foi conquistado pelo nosso esforço pessoal e persistente –, seremos DEUSES de facto, e não podemos voltar às condições dolorosas da Terra, porque despimos inteiramente as nossas vestes materiais, terrenas e vestimos a nossa própria luz criadora, que atrairá outros seres ao mesmo estado em que existimos. Nos esforços para atingir a craveira divina vamos pondo em vibração certas camadas de matéria. Os espíritos que vivem nela estão infinitamente abaixo de nós. Por isso dizemos que pertencem ao reino sub-humano. Estes Espíritos da Natureza, que se movem e vivem nesses estados de matéria, ajudam-nos a graduar para mais altos destinos. Mas fazem-no criando-nos dificuldades, aumentando as nossas debilidades! Por isso dizemos que as leis que regem a matéria nos limitam os movimentos e nos prendem às condições terrenas, utilizando para esse fim as ilusórias satisfações que se nos deparam no atrito com o mundo material. E como não conhecemos outras de maior transcendência, vamo-nos deixando vencer por estes efémeros prazeres, que sempre se esvaiem como fumo. E tal como este deixa um resíduo que chamamos fuligem, assim também o poder vibratório da matéria posta em acção pelo espírito que demanda o prazer terreno deixa resíduo a que chamamos EU INFERIOR. Será depois o SACRIFICADOR de que tanto falam as religiões, o TENTADOR, o nosso CARRASCO IMPLACÁVEL! Porém, desta mesma substância terrena, o EU SUPERIOR vai extraindo uma essência, subtilizando muito mais a já subtil matéria que nos dá sensações gratas mas ilusórias; e com ela forma aquilo que chamamos ALMA. É ela que nos permite entrar, de vida em vida, em novos corpos, umas vezes masculinos, outras femininos, para irmos provando bem e profundamente as ilusões terrenas e sentindo a necessidade pungente de mais elevadas condições. Desde que o homem pôde ter apurado na matéria com que formou a ALMA, ele pôde também entrar em corpos terrenos e usá-los, estando dentro deles, em plena posse de todas as suas células! Sem ALMA os seres humanos ficam totalmente impedidos de RENASCER, de continuar as suas experiências em corpos terrenos até se graduarem como deuses. E a ALMA, que representa um penosíssimo esforço do EGO para preparar um meio de poder entrar em corpos de matéria para com eles acelerar a sua evolução, pode perder-se também, exactamente como sucede com todas as nossas aquisições que, assim como vieram, se podem perder! E muitas vezes, em vez de chamar ao criminoso “alma perdida”, exclama dum modo simples: “Que desalmado!” Nestas duas expressões o povo afirma que podemos perder a ALMA, essa aquisição admirável que nos permitiu iniciar a ascese a mais altas esferas, que nos capacitou para evoluir, para ascender gradualmente a melhores condições! Mas o povo não diz – porque não sabe: as tais verdades que emergem da voz do povo são sempre veladas, limitadas, não permitindo um exame profundo de cada problema posto à nossa resolução – é como se perde a ALMA. Nem vislumbram como poderá o criminoso perder uma tão importante conquista! Mas, como a ALMA foi criada gradualmente, ao longo de muitas vidas e de penosíssimos esforços, assim também a podemos perder, ao longo de vidas mal vividas, criminosamente vividas. Todo aquele que vive contrariando as leis da Natureza, desprezando a virtude e dando largas aos seus instintos viciosos, vai negando à sua alma o alimento predilecto, que se resume na prática de boas obras, em viver virtuosamente, em seguir a doutrina pregada por CRISTO para nossa redenção. E assim definha as energias psíquicas, tornando a sua alma cada vez mais débil até que se perde! Praticando a caridade, o amor puro, a virtude, e buscando constantemente a luz da sabedoria, a alma vai sendo ampliada. Torna-se cada vez mais forte! Vivendo a vida pelo seu lado mais grotesco e grosseiro, contrariando a virtude que sempre pode elevar-nos, recusando a prática da bondade, da caridade, dando largas aos instintos é como vamos debilitando a ALMA. E quando esta debilidade atinge certo grau perde-se o que restava! É a morte da ALMA! Por isso os grandes clarividentes, que puderam sondar estas coisas, nos dizem como tais desgraçados seres estão inteiramente despidos, nus, sem possibilidade alguma de voltarem a RENASCER para continuarem a sua evolução! Pretende-se, no tempo em que vivemos, fomentar os prazeres materiais, numa total descrença dos poderes divinos. E isto é muito mau sintoma! E a culpa deste estado reside no materialismo que tudo subverte, inclusivamente o campo religioso, onde se despreza um princípio fundamental que é negado aos fiéis. Este princípio é o selo de santidade que deve ser impresso SEMPRE nos ensinamentos religiosos! Ao pregar, será bom que se pregue apenas o que de cristalino existe em nossos corações! Se assim não for, se pregarmos apenas com os lábios, as nossas palavras são ocas ou envenenadas. E, então, o que pregamos é mau, fomenta o materialismo, a descrença. Só pode afundar-nos, desarmar-nos! Atentem nisto os que ministram a religião! E sigam CRISTO, vivendo a sua doutrina de modo que, ao pregá-la, as suas palavras levem conteúdo bom e santo para contagiar os ouvintes. Não o façam como simples fariseus, dados apenas às cómodas aparências. Se assim não fizerem será grande a sua responsabilidade! O EGO é de natureza divina. E tudo quanto é divino perdura, não pode perder-se irremediavelmente! Portanto, os EGOS caídos no caos ou Inferno não ficam para sempre perdidos. Mas terão de aguardar nessas tremendas condições uma oportunidade para voltarem à evolução. Essa oportunidade só virá quando a Humanidade a que pertencem tenha concluído a sua evolução, terminado o seu dia de manifestação, passado a noite cósmica que sempre vem após o fim de um ciclo evolutivo e cuja duração é sempre de muitos milhões de anos. Nessa altura ser-lhes-á dada a libertação das condições infernais e irão dirigir, como pioneiros, os novos seres que iniciam a sua evolução. O Purgatório também não é um lugar onde crepitam fogueiras para envolverem as almas! É simplesmente um estado de espírito em que se faz o exame de todo o mal que fizemos enquanto vivemos neste mundo, com o sofrimento emergente de cada acção praticada. A permanência no estado purgatorial é limitada a cerca de um terço da vida que vivemos neste mundo; a permanência no estado infernal é muito longa, parece eternizar-se! Mas ao fim todos serão salvos! As ALMAS PERDIDAS são como as folhas a que foi recusada a seiva e amareleceram e caíram, sendo depois arrastadas pelo vento, acabando por apodrecerem e se dissolverem na terra, donde tinham sido edificadas. Os seus materiais voltarão a ser utilizados em novas criações, porque tudo tem a sua utilidade, nada se perde irremediavelmente! Que nenhum de nós se deixe vencer pela maldade nem pelos vícios, para que não perca a sua alma! Cultivemos a virtude, pratiquemos a caridade, falemos sempre a VERDADE e só a VERDADE! Não aticemos, NUNCA, as chamas devoradoras do ódio, que sempre desgraça a ALMA! Vivamos sempre em AMOR PURO a todos os seres da Criação, dando-lhe todo o auxílio para que subam a melhores alturas! E desta maneira fortaleceremos as nossas almas, daremos maior brilho ao que CRISTO chamou dourado traje de bodas, que é o CORPO GLORIOSO com que havemos de entrar na vida eterna, na Glória Eterna! Francisco Marques Rodrigues.

A Árvore da Vida.Max Heindel.

A árvore da Vida, de que fala a Bíblia, é a mesma coisa que a pedra filosofal dos alquimistas? Em parte. Para compreender o assunto é necessário retroceder na História da Humanidade. Houve tempo em que a Humanidade era bissexual e cada um dos seus membros podia gerar corpos sem ajuda de outro. Porém, quando foi necessário formar um cérebro, para que o espírito pudesse criar por meio do pensamento, metade da força sexual foi retirada, para se construir com ela o órgão do pensamento. Tornou-se então necessário a cada ser humano, procurar a cooperação de outro que tivesse o polo contrário. Como antes da separação dos sexos, os seres humanos ainda não tinham cérebro e os seus olhos ainda não estavam abertos, viviam inconscientes no Mundo Físico e não se podiam guiar por si mesmos. Por isso, os Anjos juntavam-nos em certas épocas do ano, quando as forças planetárias eram propícias à realização do acto gerador, como um sacrifício religioso, no qual davam parte dos seus corpos para gerar veículos para outros espíritos. Nesse simples contacto o espírito atravessava por um momento o véu da carne e Adão conheceu a sua esposa. Os precursores da Humanidade dessa época notaram também que os corpos morriam; por isso, começaram a preocupar-se com a maneira de substitui-los. A solução deste problema foi dada por certa classe de espíritos, saídos dentre os Anjos, e que eram uma espécie de semi-deuses. Estes espíritos, também chamados lúciferes, ou dadores da luz, iluminaram a Humanidade nascente, mostrando-lhes que podia gerar corpos em qualquer altura. Desde então os corpos foram gerados sem terem em conta as condições planetárias e por isso o parto passou a ser acompanhado com dor, como profetizara o Anjo e daí por diante produziram-se corpos inferiores. Então, os Anjos ensinaram à Humanidade como deviam construir corpos de crescente e gradual perfeição entre a morte e o novo nascimento. Se o Homem nesse afastadíssimo passado tivesse aprendido a renovar o seu corpo vital, como se lhe ensinou a construir o seu corpo denso, a morte teria sido impossível e então seria imortal como os deuses; mas como era ainda um ser imperfeito, também seriam imortalizadas as suas imperfeições, e o progresso, a evolução, seria impossível. Nesta peregrinação contínua entre a vida e a morte, chegará o tempo em que o Homem estará pronto para possuir os poderes da Vida. Só então o seu corpo se purificará e o tempo de Vida terrena será muito maior. Só então encontrará a pedra filosofal, ou elixir da Vida. Os alquimistas procuraram obter esse veículo puro e santo, mas não foi da maneira como supõe a maior parte dos ignorantes, segundo processos químicos, em laboratórios. A nomenclatura que deu essa impressão foi necessária porque viviam numa época em que uma igreja dominadora os arrastaria para a morte se conhecessem a verdade. Quando diziam que tratavam de transformar os metais pobres em ouro, diziam a verdade, não só no ponto de vista material como no espiritual. O ouro foi sempre o símbolo do espírito. E esses alquimistas tratavam de tratar os seus corpos, que eram de natureza inferior, e transmutá-los em corpos superiores e espiritualizados, pela sublimação dos instintos. Sempre se empregaram os símbolos para designar o poder da pureza. No Antigo Testamento fala-se no templo de Salomão, que se construiu sem ruído de martelos. O mais formoso ornamento dele era o mar fundido, que Hirão Abiff, o construtor, conseguiu, pela transformação de todos os metais da terra, tornando-os tão transparentes como o cristal! Também no Oriente o Iniciado procura converter-se numa alma diamantina, pura e transparente. Aí, a Pedra Filosofal é o símbolo duma alma purificada, saída dos corpos que se foram transformando e espiritualizando, O corpo da alma que peca, morre, mas o da alma pura, será imortal mediante o elixir da vida, a “Árvore da Vida”, convertendo-se num corpo vital que durará milénios como veículo do espírito. Quando abusa dele, isto é, quando o usa para satisfazer os sentidos, como um vício, com ou sem matrimónio legal, então peca contra o Espírito Santo. Esse pecado tem de ser expiado. A humanidade está actualmente sofrendo por causa desse pecado. Os corpos débeis, as enfermidades que nos assaltam, foram causados por centenas de abusos; e, enquanto não aprendamos a dominar as nossas paixões, não haverá saúde perfeita na raça humana. Nascemos de pais que satisfizeram as suas paixões em qualquer momento e de qualquer modo, sem o devido respeito pelo seu semelhante. Por isto sofremos, e estamos lançando as mesmas enfermidades sobre os nossos filhos de geração em geração, seguidos de sofrimento e tristezas, até que compreendamos que a criança tem de nascer bem, porque tem esse direito, assim como tem de receber os cuidados devidos e ter as necessárias condições físicas durante o período subnatal.