contos sol e lua

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os signos e a mitologia grega.


Áries
Jasão e os Argonautas.

Jasão era o filho do Rei Éson, que foi destronado pelo próprio irmão, Pélias. Quando se torna adulto, ele resolve reconquistar o que um dia foi de seu pai. Assim, embarca em uma perigosa jornada, na qual tem de reunir dezenas de guerreiros (os argonautas), construir uma embarcação gigantesca (a Argos) e partir em busca de um carneiro de lã de ouro (o Velocino), considerado um tesouro inigualável. O espírito de aventura, a coragem e a agilidade marcam esse mito, assim como a personalidade do nativo de Áries. Seu desafio é aprender a controlar a impulsividade e refletir sobre seus atos.

Touro.
O minotauro e o labirinto.

Como castigo por ter tentado trapacear em uma negociação com os deuses, o Rei Minos, de Creta, é traído por sua mulher, que se apaixona por um touro. Dessa união, nasce o Minotauro – metade homem, metade animal. Para abrigar a criatura, Minos constrói um traiçoeiro labirinto e, a partir de então, os cretenses são obrigados a alimentar a fera com donzelas e rapazes. Para livrar o povo desse mal, o jovem herói Teseu invade o labirinto e assassina o monstro. O desapego é a lição desse mito: assim como o ambicioso Minos e o selvagem Minotauro, os taurinos precisam lutar para não se tornar escravos do prazer e do poder.

Gêmeos.
Castor e Pólux.

Castor e Pólux são gêmeos, porém, com uma pequena diferença: um é mortal e o outro, imortal – Pólux é filho de Júpiter e Castor, de um homem comum. Certo dia, Castor é assassinado. Inconformado com a perda, Pólux pede a Júpiter que conceda vida eterna a seu irmão. O deus atende o pedido, mas sob a condição de que, enquanto um ficasse no Céu, o outro estivesse na Terra: somente quando fossem trocar de posição eles teriam alguns momentos juntos. A dualidade geminiana é muito bem representada nesse mito: entre conflitos de múltiplas personalidades, o desafio do nativo desse signo é encontrar um equilíbrio verdadeiro.



Câncer.
Hércules e o caranguejo.

Em um de seus 12 trabalhos, Hércules é enviado para matar a Hidra de Lerna, uma aterrorizante serpente de nove cabeças. Durante a batalha, no entanto, o guerreiro é atrapalhado por um antigo desafeto: Juno, a esposa de seu pai, Júpiter. A perigosa madrasta, que quer eliminar todos os herdeiros de seu marido da face da terra, envia um imenso caranguejo para morder o pé de Hércules e desviar sua atenção, mas o herói esmigalha o animal sob seus pés. Para os nativos de Câncer, esse mito traz um alerta importante: cuidado para não se tornar vítima de excessos emocionais, conflitos familiares e algemas do passado.

Leão.
A fera de Neméia.

Para cumprir a primeira de suas 12 tarefas, Hércules precisa matar o temido Leão de Neméia, que devorava os habitantes e rebanhos da região. Como a fera era totalmente invulnerável a ferro, pedra e bronze, a solução encontrada foi partir para uma luta corpo a corpo: depois de se atracar com o monstro, o herói o estrangulou com suas próprias mãos. A partir de então, passou a se vestir com a pele do animal, tornando-se ainda mais poderoso. Os principais elementos desse mito – força e autoconfiança – são também características marcantes dos leoninos. É importante, apenas, não exagerar na dose e controlar o egoísmo e orgulho excessivo.

Virgem.
O rapto de Perséfone.

Quando Hades, o deus do inferno, se apaixonou por Perséfone e a levou para seu mundo, não imaginava a confusão que iria causar. Isso porque a mãe da menina, era Deméter, deusa da colheita, que, furiosa com o rapto da filha, lançou o caos sobre a Terra: plantações começaram a morrer, rios secaram e nada mais floresceu. Para salvar o planeta, Zeus propôs um acordo: Perséfone voltaria para casa, mas, como já havia feito um pacto nupcial com Hades, viveria três meses por ano com o marido. Assim surgiu o inverno, que é o tempo em a deusa fica longe da filha, e todas as outras estações do ano. Quando a natureza volta a funcionar em harmonia, são exaltadas as palavras de ordem dos virginianos: ordem e perfeição.



Libra.
Amor e guerra em Tróia.

Páris, príncipe de Tróia, é chamado para resolver um impasse divino: qual seria a deusa mais bela? Conhecido por sua justiça, ele resiste às investidas de todas as concorrentes, que tentam lhe subornar oferecendo riquezas, e escolhe Vênus como campeã. A deusa, no entanto, havia lhe prometido algo mais valioso: o amor da mais bela das mortais. Essa mulher, no entanto, é Helena, esposa de um rei grego. Com um feitiço lançado, ela se apaixona por Páris e faz nascer a Guerra de Tróia. Para um libriano, essa conseqüência nefasta não tem muita importância: quase tudo é justificável em nome de um grande amor. Melhor ainda, se for possível manter o romance com justiça e equilíbrio.

Escorpião.
Hércules e a Hidra de Lerna.

Após vencer o caranguejo (mito de câncer), Hércules está pronto para enfrentar a Hidra de Lerna. A terrível serpente, no entanto, parece imbatível: cada vez que ele arranca uma de suas cabeças, outras duas surgem ainda mais poderosas. Diante do desafio, o herói resolve mudar de estratégia e atrair o monstro para fora do pântano. Quando a Hidra se depara com a luz do sol, começa a murchar lenta e completamente, deixando em seu lugar apenas uma pedra preciosa. Os nativos de escorpião não temem descer ao nível mais profundo das emoções, mas também precisam aprender a subir à superfície. Essa é a maior lição desse mito: que tal sair da escuridão e respirar um pouco de ar puro?

Sagitário.
Quíron, o centauro.

Quíron, o centauro, é uma estranha criatura: metade homem, metade cavalo. Mestre das artes e da ciência, é conhecido por entender a natureza dos homens. Por outro lado, não abandona suas características animais: é um hábil caçador e valoroso guerreiro, o que faz com que importantes heróis – como Aquiles, Hércules e Jasão – o procurem para tomar aulas de batalha. O desejo de expandir horizontes e conquistar novos conhecimentos move os nativos de sagitário, assim como movia o mítico centauro. Seu lado animal pode ser um ponto fraco ou, se bem trabalhado, um impulso extra para conquistar seus objetivos.



Capricórnio.
A cabra Amaltéia.

Saturno, o senhor do tempo, engolia seus filhos assim que eles nasciam, para que nenhum deles lhe tomasse o poder. Quando Júpiter nasceu, no entanto, sua mãe conseguiu escondê-lo e o mandou para longe, onde uma cabra chamada Amaltéia se tornou sua ama-de-leite.Quando a cabra morreu, após toda uma vida de dedicação, deixou instruções para que Júpiter conseguisse enfrentar e destronar seu pai: ele deveria usar como escudo a pele de Amaltéia, que era invulnerável, e levar seus chifres para a viagem, pois eles lhe proveriam alimentos e bebidas. A lição de generosidade da cabra é o ponto central do mito de capricórnio. O senso de responsabilidade e a preocupação com os outros são algumas das principais características desse signo.

Aquário.
O voo de Ganimedes.

O jovem Ganimedes cuida de seu rebanho quando é avistado por Júpiter, o deus dos deuses. Atordoado com a incrível beleza do mortal, Júpiter se transforma em uma águia e o rapta, possuindo-o em pleno vôo. O rapaz é então levado ao Olimpo e, apesar da ira de Juno, ciumenta esposa de Júpiter, passa a residir na montanha sagrada. Fica encarregado, a partir de então, de servir a todos o néctar da imortalidade, derramando, depois, os restos da bebida sobre a terra, para servir aos homens. A exemplo de Ganimedes, os nativos de aquário sentem a necessidade de voar longe e ultrapassar limites, mas também fazem questão de se ajudar os outros e se colocar a serviço da comunidade.

Peixes.
Anfitrite e o Delfim.

As Nereidas são divindades marinhas, filhas de Nereu e Dóris, e netas do Oceano. Dentre elas, há Anfitrite, a mais bela das criaturas dos seres mares. Netuno, o deus dos oceanos, se apaixona perdidamente por ela, mas acaba assustando-a com sua grandiosidade. Para conquistar a amada, ele resolve então mandar delfim, um golfinho, para convencê-la a se casar. E assim é feito: a ninfa aceita a proposta e se torna a rainha do oceano. Como as Nereidas, que vivem nas profundezas, os piscianos mergulham fundo em tudo o que fazem. O maior desafio do nativo desse signo é controlar seu excesso de sensibilidade e se manter firma, mesmo em águas turbulentas.

AS DÁDIVAS DA DEUSA HÉCATE.


O dia 13 de Agosto era uma data importante no antigo calendário greco-romano, dedicada às celebrações das deusas Hécate e Diana, quando Lhes eram pedidas bênçãos de proteção para evitar as tempestades do verão europeu que prejudicassem as colheitas.

Na tradição cristã comemora-se no dia 15 de Agosto a Ascensão da Virgem Maria, festa sobreposta sobre as antigas festividades pagãs para apagar sua lembrança, mas com a mesma finalidade: pedir e receber proteção.Com o passar do tempo perdeu-se o seu real significado e origem e preservou-se apenas o medo incutido pela igreja cristã em relação ao nome e atuação de Hécate. Esta poderosa Deusa com múltiplos atributos foi considerada um ser maléfico, regente das sombras e fantasmas, que trazia tempestades, pesadelos, morte e destruição, exigindo dos seus adoradores sacrifícios lúgubres e ritos macabros. Para desmistificar as distorções patriarcais e cristãs e contribuir para a revelação das verdades milenares, segue um resumo dos aspectos, atributos e poderes da deusa Hécate.



Hécate Trivia ou Triformis era uma das mais antigas deusas da Grécia pré-helênica, cultuada originariamente na Trácia como representação arcaica da Deusa Tríplice, associada com a noite, lua negra, magia, profecias, cura e os mistérios da morte, renovação e nascimento.”Senhora das encruzilhadas” - dos caminhos e da vida - e do mundo subterrâneo, Hécate é um arquétipo primordial do inconsciente pessoal e coletivo, que nos permite o acesso às camadas profundas da memória ancestral. É representada no plano humano pela xamã que se movimenta entre os mundos, pela vidente que olha para passado, presente e futuro e pela curadora que transpõe as pontes entre os reinos visíveis e invisíveis, em busca de segredos, soluções, visões e comunicações espirituais para a cura e regeneração dos seus semelhantes.

Filha dos Titãs estelares Astéria e Perseu, Hécate usa a tiara de estrelas que ilumina os escuros caminhos da noite, bem como a vastidão da escuridão interior. Neta de Nyx, deusa ancestral da noite, Hécate também é uma “Rainha da Noite” e tem o domínio do céu, da Terra e do mundo subterrâneo. “Senhora da magia” confere o conhecimento dos encantamentos, palavras de poder, poções, rituais e adivinhações àqueles que A cultuam, enquanto no aspecto de Antea, a “Guardiã dos sonhos e das visões”, tanto pode enviar visões proféticas, quanto alucinações e pesadelos se as brechas individuais permitirem.

Como Prytania, a “Rainha dos mortos”, Hécate é a condutora das almas e sua guardiã durante a passagem entre os mundos, mas Ela também rege os poderes de regeneração, sendo invocada no desencarne e nos nascimentos como Protyraia, para garantir proteção e segurança no parto, vida longa, saúde e boa sorte.

Hécate Kourotrophos cuida das crianças durante a vida intra-uterina e no seu nascimento, assim como fazia sua antecessora egípcia, a parteira divina Heqet. Possuidora de uma aura fosforescente que brilha na escuridão do mundo subterrâneo, Hécate Phosphoros é a guardiã do inconsciente e guia das almas na transição, enquanto as duas tochas de Hécate Propolos, apontadas para o céu e a terra, iluminam a busca da transformação espiritual e o renascimento, orientado por Soteira, a Salvadora.

Como deusa lunar Hécate rege a face escura da Lua, Ártemis sendo associada com a lua nova e Selene com a lua cheia. No ciclo das estações e das fases da vida feminina Hécate forma uma tríade divina juntamente com: Kore/Perséfone/Proserpina/Hebe - que presidem a primavera, fertilidade e juventude -, Deméter/Ceres/Hera – regentes da maturidade, gestação, parto e colheita - e o Seu aspecto Chtonia, deusa anciã, detentora de sabedoria, padroeira do inverno, da velhice e das profundezas da terra.

Hécate Trivia e Trioditis, protetoras dos viajantes e guardiãs das encruzilhadas de três caminhos, recebiam dos Seus adeptos pedidos de proteção e oferendas chamadas “ceias de Hécate”. Propylaia era reverenciada como guardiã das casas, portas, famílias e bens pelas mulheres, que oravam na frente do altar antes de sair de casa pedindo Sua benção. As imagens antigas colocadas nas encruzilhadas ou na porta das casas representavam Hécate Triformis ou Tricephalus como pilar ou estátua com 3 cabeças e 6 braços que seguravam suas insígnias: tocha (ilumina o caminho), chave (abre os mistérios), corda (conduz as almas e reproduz o cordão umbilical do nascimento), foice (corta ilusões e medos).

Devido à Sua natureza multiforme e misteriosa e à ligação com os poderes femininos “escuros”, as interpretações patriarcais distorceram o simbolismo antigo desta deusa protetora das mulheres e enfatizaram Seus poderes destrutivos ligados à magia negra (com sacrifícios de animais pretos nas noites de lua negra) e aos ritos funerários.

Na Idade Média, o cristianismo distorceu mais ainda seus atributos, transformando Hécate na “Rainha das bruxas”, responsável por atos de maldade, missas negras, desgraças, tempestades, mortes de animais, perda das colheitas e atos satânicos. Estas invenções tendenciosas levaram à perseguição, tortura e morte pela Inquisição de milhares de “protegidas de Hécate”, as curandeiras, parteiras e videntes, mulheres “suspeitas” de serem Suas seguidoras e animais a Ela associados (cachorros e gatos pretos, corujas).

No intuito de abolir qualquer resquício do Seu poder, Hécate foi caricaturizada pela tradição patriarcal como uma bruxa perigosa e hostil, à espreita nas encruzilhadas nas noites escuras, buscando e caçando almas perdidas e viajantes com sua matilha de cães pretos, levando-os para o escuro reino das sombras vampirizantes e castigando os homens com pesadelos e perda da virilidade. As imagens horrendas e chocantes são projeções dos medos inconscientes masculinos perante os poderes “escuros” da Deusa, padroeira da independência feminina, defensora contra as violências e opressões das mulheres e regente dos seus rituais de proteção, transformação e afirmação.

No atual renascimento das antigas tradições da Deusa compete aos círculos sagrados femininos resgatar as verdades milenares, descartando e desmascarando imagens e falsas lendas que apenas encobrem o medo patriarcal perante a força mágica e o poder ancestral feminino. Em função das nossas próprias memórias de repressão e dos medos impregnados no inconsciente coletivo, o contato com a Deusa Escura pode ser atemorizador por acessar a programação negativa que associa escuridão com mal, perigo, morte. Para resgatar as qualidades regeneradoras, fortalecedoras e curadoras de Hécate precisamos reconhecer que as imagens destorcidas não são reais, nem verdadeiras, que nos foram incutidas pela proibição de mergulhar no nosso inconsciente, descobrir e usar nosso verdadeiro poder.

A conexão com Hécate representa para nós um valioso meio para acessar a intuição e o conhecimento inato, desvendar e curar nossos processos psíquicos, aceitar a passagem inexorável do tempo e transmutar nossos medos perante o envelhecimento e a morte. Hécate nos ensina que o caminho que leva à visão sagrada e que inspira a renovação passa pela escuridão, o desapego e transmutação. Ela detém a chave que abre a porta dos mistérios e do lado oculto da psique; Sua tocha ilumina tanto as riquezas, quanto os terrores do inconsciente, que precisam ser reconhecidos e transmutados. Ela nos conduz pela escuridão e nos revela o caminho da renovação. Porém, para receber Seus dons visionários, criativos ou proféticos precisamos mergulhar nas profundezas do nosso mundo interior, encarar o reflexo da Deusa Escura dentro de nós, honrando Seu poder e Lhe entregando a guarda do nosso inconsciente. Ao reconhecermos e integrarmos Sua presença em nós, Ela irá nos guiar nos processos psicológicos e espirituais e no eterno ciclo de morte e renovação. Porém, devemos sacrificar ou deixar morrer o velho, encarar e superar medos e limitações; somente assim poderemos flutuar sobre as escuras e revoltas águas dos nossos conflitos e lembranças dolorosas e emergir para o novo.

ATHENA E MEDUSA.



Na arte clássica grega existem duas diferentes apresentações de Athena. A imagem mais familiar é a da deusa severa, paramentada com armadura, elmo e escudo, a virgem invicta e guardiã de Atenas, que protege as batalhas e os heróis. Já a mais antiga a mostra como uma deusa majestosa, com o manto e os cabelos decorados com serpentes e um fuso na mão esquerda. No entanto, mesmo a figura guerreira guarda as memórias arcaicas da sua verdadeira origem, que aparecem na cabeça da górgone com cabelos de serpentes, existente no seu escudo chamado Gorgoneion. Esta é a revelação da descendência de Athena, herdeira da deusa minoana das serpentes, cultuada um milênio antes do mito patriarcal transformá-la na filha nascida da cabeça do seu pai Zeus, surgindo totalmente armada e pronta para a batalha

Os mitos mais recentes descrevem a górgone como um monstro atemorizador, vencido e morto pelo herói Perseu, que após decapitá-la, entregou à deusa Athena sua cabeça como gratidão pela ajuda recebida.

Analisando detalhes do seu nascimento descobrimos que a mãe de Athena era a deusa Metis, uma das esposas de Zeus, que a engoliu, temendo que o filho que ela carregava no ventre pudesse destroná-lo, assim como ele tinha feito com o seu progenitor Chronos. Sofrendo de atrozes dores de cabeça Zeus pediu ajuda ao deus ferreiro Hefaisto, que lhe abriu a cabeça com seu machado e dela emergiu Athena, defensora da ordem patriarcal e não sua opositora. É evidente a metáfora que descreve o predomínio do direito paterno e patriarcal sobre a antiga ordem da sociedade matrilinear e matrifocal.Vemos nisso uma semelhança com o nascimento de Eva da costela de Adão, o primogênito; tanto Eva quanto Athena sendo associadas a serpentes.

Em grego, Athena pode ser compreendida como A Thea, a Deusa, que também deu origem ao nome da cidade por Ela patrocinada. Seu segundo nome, Pallas, significa “virgem”, pois em nenhum mito é feita qualquer referência à sua condição de mãe, sendo sempre conselheira, protetora e amiga de heróis e reis.

Uma antiga imagem minoana do período neolítico a retrata como uma deusa alada e com cabeça de pássaro. A transformação de Athena, de uma deusa pássaro e serpente em uma deusa guerreira que negou a sua filiação materna, ocorreu ao longo dos dois milênios de influências indo-européias e orientais na Grécia. O nome da sua mãe – Metis – permaneceu no seu atributo “sabedoria” ou “aconselhamento prático”. A origem serpentínea de Athena aparece ocultada na lenda da Medusa que foi transformada pelo patriarcado na terrível górgone cujo olhar petrificava os homens.

Na realidade Medusa era neta de Gaia, seu nome significava Senhora ou Rainha, sendo a deusa serpente das Amazonas da Líbia, uma das três irmãs górgones cujo cabelo encaracolado era semelhante a uma coroa de serpentes. Elas protegiam os mistérios matrifocais antigos e os limites dos lugares sagrados. Em uma inscrição antiga Medusa era chamada “Mãe dos Deuses, passado, presente, futuro, tudo o que foi, é e será” (frase posteriormente copiada pelos cristãos para definir Deus). Sua sabedoria era resumida nesta frase: “nenhum mortal foi capaz de levantar o véu que Me oculta”, por Ela ser a própria morte, sendo o aspecto destruidor da deusa tríplice. Outro significado da sua face oculta e perigosa era o tabu menstrual, pois os povos antigos temiam o poder mágico do sangue menstrual, que podia criar e destruir a vida. A serpente é um antigo símbolo da sabedoria feminina e também representa o poder da energia Kundalini, a capacidade de transmutação e regeneração.

Originariamente a cabeça da górgone era encontrada na entrada dos templos como um escudo de proteção, a górgone arcaica representando uma trindade lunar formada por sabedoria, força e proteção. A lenda conta que o sangue de Medusa - que tanto servia para curar como para matar - foi colhido dos seus dois lados (esquerdo e direito) colocado em duas ânforas e dado a Asclépio e à sua filha Hygéia, deuses da cura. A imagem das duas serpentes entrelaçadas existente no caduceu (o bastão das divindades de cura) simboliza o conceito de vida e morte, a polaridade masculino/ feminino, esquerda/ direita, a representação da hélice dupla do DNA. Os antigos símbolos da deusa serpente minoana sobreviveram na ordem patriarcal apenas no seu aspecto escuro e ameaçador (principalmente para os homens, que ficavam paralisados pelo poder do olhar da Medusa).

Um mito antigo atribui à Medusa o nascimento de Pégaso, o cavalo alado, como fruto da sua união com Poseidon, ambos metamorfoseados em eqüinos (cavalo e égua). Outro mito mais recente descreve sua criação do sangue jorrando do pescoço de Medusa quando a sua cabeça foi cortada pela espada brilhante de Perseu. A vitória de Perseu é vista como uma ode à vitória da luz sobre os terrores da escuridão e das serpentes, reforçando assim a dicotomia entre luz e sombra, masculino e feminino, Sol e Lua.

Compete às atuais sacerdotisas e seguidoras da Deusa compreender a complexa polaridade deste mito não como um conflito entre o arquétipo patriarcal de Athena e a sua antiga origem lunar e górgonica, mas uma complementação de opostos personificados por Athena - o aspecto solar, guerreiro, criativo, heróico - e Medusa, sua contraparte lunar, passiva, obscura e misteriosa, mas igualmente poderosa.