domingo, 17 de novembro de 2013

Grande Arcano do Ocultismo Revelado. de Eliphas Levi

O Abade Alphonse-Louis Constant que com o pseudônimo de Eliphas Levi se destacou como Grande Mago e Cabalista do século passado, nasceu em Paris, no dia 8 de fevereiro de 1810, e morreu na mesma cidade em 31 de maio de 1875. Sua convicção e seu pensamento são revelados magistralmente em seu Credo Filosófico: "Creio no desconhecido que Deus personifica, Provado pelo próprio ser e pela imensidade, Ideal sobre-humano da Filosofia, Perfeita inteligência e suprema bondade". Esta obra (Grande Arcano do Ocultismo Revelado) é o testamento do autor: É um dos mais importantes de seus livros sobre Ocultismo. Está dividida em duas partes: 1ª Parte: "O mistério real ou a arte de fazer-se servir pelas Forças". 2ª Parte: "O mistério sacerdotal ou a arte de fazer-se servir pelos Espíritos". PRIMEIRA PARTE: Para magnetizar sem perigo é necessário ter em si a luz da vida, ou seja, ser um sábio e um justo. O homem escravo das paixões não magnetiza, fascina; porém, a irradiação da sua fascinação aumenta em torno dele o círculo da sua vertigem, multiplica seus encantos e debilita cada vez mais a sua vontade. Os indivíduos e as massas a quem a razão não governa, são escravos da fatalidade, a qual rege a opinião que é por sua vez a rainha do mundo. Os homens querem ser dominados, arrastados; as grandes paixões parecem-lhes mais belas do que as virtudes, e, aqueles que chamam de grandes homens, muitas vezes não são mais do que grandes insensatos. Podemos concluir que os loucos são magnetizadores, ou melhor, fascinadores; e, é isto que torna a loucura tão contagiosa. Por não saber medir o que é grande, a maioria das pessoas se apaixona pelas coisas estranhas e ninguém ama tanto a turbulência como o impotente. Gostaríamos de ser sábios, mas, teríamos a certeza de nossa sabedoria enquanto acreditássemos que os loucos são mais felizes e até mais alegres do que nós? Sabedoria, moralidade, virtude, são palavras respeitáveis, porém, vagas, sobre as quais se discute há muitos séculos e sem conseguir entendê-las. A virtude supõe a ação, pois se opomos a virtude às paixões é para demonstrar que ela jamais é passiva. A virtude não é somente a força, é também a razão diretora da força. É o poder equilibrante da vida. É a arte de balançar as forças para equilibrar o movimento. O equilíbrio que é necessário ser alcançado não é aquele que produz a imobilidade, senão aquele que realiza o movimento. Pois a imobilidade é morte e o movimento é vida. A natureza, equilibrando as forças fatais, produz o mal físico e a destruição aparente do homem mal equilibrado. Os animais vivem por assim dizer, por si mesmos e sem esforços: Só o homem deve apreender a viver. A ciência da vida é a ciência do equilíbrio moral. Conciliar o saber e a religião, a razão e o sentimento, a energia e a doçura é o alicerce desse equilíbrio. A verdadeira força invencível é a força sem violência. Os homes violentos são homens débeis e imprudentes, cujos esforços sempre se voltam contra eles mesmos. A raiva faz com que as pessoas se entreguem cegamente aos seus instintos ou inimigos. "Desejai a Luz, pois ela se fará. Não procureis a Vitória pela espada pois o assassino provoca o assassínio. É pela paciência e a doçura que vos fareis senhores de vós mesmos e do mundo". Aquele que toma Tróia é o prudente e paciente Ulisses, que sempre sabe se conter e só fere com golpe seguro. Aquiles é a paixão e Ulisses a virtude. Sem dúvida o autor destes poemas conhecia profundamente o Grande Arcano da Alta Magia, o qual é Único, e tem por objetivo o de colocar o Poder Divino a serviço da vontade do homem. Para chegar a realização deste Arcano não esqueçamos jamais a palavra quadrupla do enigma eterno proposto pela Esfinge: "Saber, na sua cabeça de mulher de olhar penetrante; Querer, no perfil do laborioso touro; Ousar, nas suas garras de leão e Calar, nas suas asas dobradas." Toda substância modifica-se pela ação; toda ação é dirigida pelo espírito; todo espírito dirige-se conforme uma vontade, e, toda vontade é determinada por uma razão. SEGUNDA PARTE: A escravidão de um prazer chama-se paixão. O domínio de um prazer pode converter-se em poder. A natureza coloca o prazer junto ao dever; se o separamos do dever, corrompe-se e nos envenena. Se o juntamos com o dever, o prazer não se separará mais dele, nos seguirá e será a nossa recompensa. Um homem nulo e medíocre poderá chegar a tudo, porém jamais será algo. Um homem apaixonado, que se abandona aos excessos, morrerá por sua própria intemperança, ou será fatalmente arrastado ao excesso contrário. O espírito humano é um doente que ainda caminha com o auxílio de duas muletas: a ciência e a religião. A falsa filosofia tira-lhe a religião, e o fanatismo tira-lhe a ciência. Todo poder mágico está no ponto do equilíbrio Universal. A sabedoria equilibrante está nestas quatro máximas: Saber a verdade, Querer o bem, Amar o belo e Fazer o que é Justo. Porque a verdade, o bem, o belo e o justo são inseparáveis, de tal forma que aquele que sabe a verdade não pode deixar de querer o bem, amá-lo porque é belo e fazê-lo porque é justo. O ponto central na ordem intelectual e moral é o laço de união entre a ciência e a fé. Na natureza do homem este ponto central é o meio pelo qual se unem a alma e o corpo para identificar a sua ação. Todo homem está destinado a atingir este ponto, porque Deus deu a todos uma inteligência para saber, uma vontade para querer, um coração para amar e um poder para operar. O exercício da inteligência aplicada à verdade conduz a ciência. O exercício da inteligência aplicada ao bem da o sentimento do belo, o qual produz a fé. O homem equilibrado é aquele que pode dizer: sei o que é, creio no que deve ser e nada nego do que pode ser. O fascinado dirá: creio no que as pessoas, em quem acredito, me disseram para acreditar. Creio porque amo a certas pessoas e certas coisas. Em outros termos, o primeiro poderá dizer, creio pela razão e o segundo, creio pela fascinação. Porque é tão frio o homem quando se trata da razão, e tão ardente quando combate a favor de uma quimera? É que o homem, apesar de todo seu orgulho, é um ser que não ama sinceramente a verdade, senão que, pelo contrário, venera as ilusões e mentiras. Vendo que os homens são loucos, diz São Paulo: "Queríamos salvá-los pela sua própria loucura, impondo o bem à cegueira da sua fé". Aqui temos o Grande Arcano do Catolicismo de São Paulo, enxertado no Cristianismo de Jesus e completado pelo Jesuitismo de Santo Inácio de Loyola. É necessário absurdos às multidões. A sociedade compõe-se de um pequeno número de sábios e de uma massa enorme de insensatos. Para completar poderíamos dizer: "Os malvados instruídos são os perversos mais completos e mais emíveis". Os povos formam ídolos e os destroem; o inferno se encherá de deuses caídos até que a palavra do "Grande Iniciador" se faça ouvir. Deus é espírito e devemos adorá-lo em espírito e em verdade. E como diz o próprio testamento do autor: "Neste livro, está a última palavra do Ocultismo e foi escrito com a maior claridade possível. Pode e deve ser publicado este livro? Ignoramos; porém, julgamos que poderíamos e deveríamos fazê-lo. Se ainda existem verdadeiros Iniciados no mundo, é para eles que foi dedicado e cumpre somente a eles julgar-nos".

Magia e os poderes do ser humano:Eliphas Levi.

Definição e escolas principais. A crença na realidade dos poderes mágicos do ser humano é um fator comum a todas as culturas. Não há povo, tribo ou civilização, desde os primórdios da história até os nossos dias, que não traga o relato de pessoas especiais ou possuidoras de segredos e técnicas que os tornam capazes de operar efeitos surpreendentes ou mesmo aparentemente impossíveis. A Magia, de um modo geral, nada mais é do que a arte de causar EFEITOS VISÍVEIS a partir de CAUSAS INVISÍVEIS. O Mago, a bruxa ou o pajé são, portanto "colegas" de ofício, já que as leis mágicas pouco diferem entre si, apesar das diferenças culturais. O uso concentrado e determinado do pensamento, da emoção e da vontade constitui o material básico que permite ao Mago atingir os efeitos que procura. No entanto, para que esses conteúdos interiores tornem-se mais efetivos, são apoiados em sinais físicos, concretos, surgindo assim uma infinidade de símbolos, ritos e métodos específicos. Devido a seu potencial perturbador da Ordem Social, a Magia na Antigüidade ficava restrita à classe sacerdotal. O acesso aos Arcanos da Natureza era considerado um processo sagrado, sendo minuciosamente regulado. Também é importante observar que, muitas vezes, o acesso à própria escrita era também restrito aos Magos e Sacerdotes, categorias que muitas vezes confundiam-se em uma só. A Magia apresenta uma série de conceitos básicos, idênticos ou muito semelhantes entre si. Os Magos postulam que o Ser Humano possui uma capacidade inata para o exercício da Magia. Essa capacidade, modernamente, recebeu o nome de função psi, conhecida há milênios e também chamada de manas, ju-ju, od, vril, gri-gri, axé... "TUDO TEM A VER COM TUDO" Outro conceito importante é o da unidade de todas as coisas em um outro plano, mais sutil, no qual trabalham os Místicos e os Magos. Esse campo, conhecido por alguns como PLANO ASTRAL, corresponde, em linhas gerais, a um conceito moderno de INCONSCIENTE COLETIVO, embora englobe muitas outras derivações. Outro dado importante, e que também extrapola os limites do inconsciente coletivo, é o de que nesse "mundo" os Magos se encontram, convivem e até duelam. O QUE É A MAGIA? Magia, imagem, imaginação: A noção de que todos os seres e coisas da natureza integram um Todo articulado e coerente entre si, nos traz o terceiro conceito essencial para que se compreenda o que é a Magia: A LEI DA ANALOGIA. Esta Lei Mágica nos propõe que tudo no mundo possui um valor simbólico natural, intrínseco. Assim, por analogia: PARA OS MAGOS, O SOL NO UNIVERSO. O CORAÇÃO PARA O HOMEM. O LEÃO ENTRE OS ANIMAIS. O OURO ENTRE OS METAIS. E O DIAMANTE ENTRE AS PEDRAS. EXPRESSAM uma energia semelhante, cada um em seu REINO. Essa concepção deriva da relação entre o Microcosmo (o Ser Humano) e o Macrocosmo, pela qual o Homem representa no plano físico todas as Potências Espirituais. Assim, cada um é um universo único, singular, mas possui de forma potencial todos os poderes do Cosmo e da própria Divindade. Além dessas, outra lei universalmente reconhecida entre os Magos de todos os tempos é a de que é imprescindível optar por uma das Forças: da LUZ ou das TREVAS. Mesmo nos raros casos em que a dualidade sobrexiste, há sempre uma tendência predominante, persistindo um antagonismo inevitável. Apenas hoje em dia começaram a surgir, pelo influxo de novas concepções filosóficas, escolas mágicas que propõem a unificação das duas Forças, numa visão não - dualista da Existência. Escolas Principais. Como qualquer outra forma de Arte e principalmente por ser muito antiga, a Magia ramificou-se em uma infinidade de escolas e linhas distintas, de forma inumerável. Modernamente salientam-se algumas pelo seu caráter filosófico singular ou pelo expressivo número de seus adeptos. Inglesa A Escola Inglesa apresenta três correntes principais de grande importância na História da Magia. A mais antiga é a escola dita enochiana , a partir dos trabalhos do célebre mago John Dee (1527-1608)e de seu discípulo Edward Kelley, que levaram a cabo uma série de operações mágicas que culminaram com a descoberta, através de anjos, de uma poderosa linguagem mística que seria o próprio idioma angélico, ou enochiano. Suas obras e os alentados tratados que legaram continuam sendo objeto de intensa pesquisa e experimentação por parte dos Magos ainda hoje. Magia Wicca. Outra escola inglesa clássica de grande relevância é a da Magia Wicca, que também apresenta divisões. De modo geral, trabalha com o culto às Forças da Natureza através dos Antigos Deuses pagãos: a Grande Deusa-Mãe e o Grande Deus Chifrudo Cernunnos, que não se confunde com o Diabo, como querem alguns de seus detratores. A Wicca resgata os valores, ritos e instrumentos da antiga magia medieval e mesmo pré-cristã, de marcada influência celta. Os ciclos lunares, bem como os equinócios e solstícios, desempenham papel fundamental nessa escola. Também são essenciais as datas específicas do culto, relacionadas com o ciclo das Terra e das colheitas. As antigas sacerdotisas, para burlar a repressão, transformavam os próprios apetrechos domésticos em instrumentos mágicos, como a célebre vassoura, o caldeirão, a colher de pau, a faca, a corda, etc. Hoje em dia é uma das correntes mais atuantes dentro da Magia Moderna. Crowley. A mais moderna dentre as linhas da escola inglesa é também a mais radical. Deriva diretamente das obras de Aleister Crowley (1875-1947), um caso à parte na História da Magia. Auto-intitulado "A Besta do Apocalipse", devido à sua irredutível orientação anticristã, Crowley integrou e fundou algumas das mais poderosas sociedades secretas de seu tempo, como a Golden Dawn, na Inglaterra, a qual transformou completamente imprimindo a sua marca pessoal; e a O.T.O. , "Ordo Templi Orientis", grupo alemão de magia sexual de grande importância no cenário ocultista da época. Em suas inúmeras obras, tais como "Magick", "777"e "O Livro da Lei", Crowley propôs uma nova visão da Magia e do papel do Homem no Universo. Apesar de sua intensa crueldade pessoal e de uma trajetória cheia de incidentes sinistros, Crowley deixou um legado cultural fundamental para aqueles que procuram entender como a Magia pôde adentrar o século XX como uma forma ainda válida para compreender o mundo. França. A chamada escola francesa também lança raízes profundas no tempo. Desde o famoso alquimista Nicholas Flamel (1330-1418) e o legendário Michel de Notredame (1503-1566), até toda uma longa geração de "grimoires" (grimórios), livros quase sempre apócrifos com símbolos, encantamentos e receitas mágicas quase sempre macabras, dificílimas, grotescas ou tudo isso ao mesmo tempo. Dentre esses sobressaem-se "Le Grimoire de Honoire", atribuído talvez falsamente a um Papa do séc.XIII e "Le Grand Albert", ou "Le Dragon Rouge" e "Le Petit Albert", atribuídos errôneamente a Alberto Magno. Alta Magia. Também merecem destaque o "Heptameron", de Pietro de Abano e o "Lemegeton", suposta obra do próprio Rei Salomão. Toda essa base histórica lançou as sementes para o florescimento, no séc. XIX, da chamada Alta Magia, a partir dos trabalhos de Papus, Eliphas Levi, Stanilas De Guaita, Josephin Péladan e Saint-Yves D'Alveydre. Integrados entre si por identidades doutrinárias ou por vínculos de mestre e discípulo, esses autores propõem uma visão eticamente orientada, enfatizando a importância do Mago alinhar-se com as Forças da Luz. O apelo aos anjos católicos, à Jesus e mesmo à Virgem Maria não era descartado. Ainda hoje existem muitos adeptos dessa linha em todo o mundo. A Grade Chave de Salomão: O texto essencial de evocar, proteger e prender espíritos de todos os gêneros, creditado a Salomão, o Sábio, mas este livro foi muito alterado de edição para edição, perdendo muito de sua versão original. O Lemegeton - A Chave Menor de Salomão: Uma completa descrição judaico-cristã de anjos e demônios, alem de ritos para evoca-los. Escolas Orientais Muitas escolas orientais também influenciam o moderno pensamento mágico e constituem uma importante corrente filosófica dentro das Ciências Ocultas. Dentre elas sobressaem-se algumas, principalmente as linhas Tântricas, que utilizam magia, sexo e meditação de forma integrada para atingir as transformações interiores desejadas. Tantra. Originárias da região da Cachemira, na Índia, as seitas tântricas remontam a tempos imemoriais e propõem uma visão do mundo baseada no culto ao Deus Shiva e às forças femininas da Natureza, principalmente à Shakti, a força sexual feminina que permite ao adepto e sua parceira cavalgar o êxtase e abraçar os mundos! Divisão. De forma geral divide-se em duas linhas: a da "Mão Esquerda", que trabalha com práticas sexuais concretas e a da "Mão Direita", que utiliza materiais simbólicos como mandalas e mantras para evocar a energia sexual do Cosmo. O ponto comum entre elas é o trabalho sobre a Kundalini, o poder sexual que jaz mais ou menos adormecido em todo ser humano. As doutrinas Tântricas constituem um importante elemento incorporado pelos Magos modernos. Nas Antilhas, principalmente no Haiti, originaram o Vodu, marcado por seu potencial mágico extremamente forte e mesmo agressivo. Tribos de outras regiões da África originaram, principalmente no Brasil, a Macumba e suas derivações: a Umbanda e a Quimbanda. Apesar das diferenças, todos esses cultos são caracterizados por uma atitude de familiaridade com as divindades e de resistência à opressão social que atinge os devotos, quase sempre oriundos das camadas mais desfavorecidas da sociedade. Devido à sua natureza de resistência social e de apoio aos oprimidos, são cultos que preservam intensamente os seus segredos e suas técnicas.