domingo, 22 de novembro de 2009

ANJOS DA NOITE - UNDERWORLD.


"Uma batalha imortal por supremacia"
"Vampiros" e "Lobisomens" são algumas das mais fascinantes criaturas do Horror, e o cinema sempre procurou explorar da melhor forma possível o fascínio que esses monstros mitológicos despertam no público, através de uma infindável listagem de filmes de todos os níveis de qualidade imagináveis. Sobre isso, podemos dizer que é muito bem vinda a idéia de unir numa única produção esses dois tipos de seres misteriosos, e nesse caso envolvidos numa violenta batalha milenar travada num submundo sombrio, à margem da humanidade, cuja função parece ser mesmo apenas servir de alimento. Essa sangrenta e histórica guerra pode agora ser conferida em "Anjos da Noite - Underworld" (Underworld), do diretor estreante Len Wiseman e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 16/04/04.
O filme estreou nos Estados Unidos em 19/09/03, quase sete meses antes, e no Brasil recebeu um título meio equivocado, pois seria bem mais interessante manter apenas o nome original "Underworld" (que traduzindo seria algo como "submundo") também para o lançamento por aqui. Com distribuição nacional da "Europa Filmes", uma outra sugestão opcional de título poderia ser então "Demônios da Noite", pois as criaturas do filme estão longe de anjos e muito mais próximos de criaturas sombrias e seres do inferno.
Durante centenas de anos, duas raças sobrenaturais e mortalmente inimigas estão travando secretamente uma guerra sangrenta numa metrópole gótica, um submundo escondido da humanidade. Esses seres são os aristocráticos vampiros, que vivem numa sociedade sofisticada, tendo como seu líder atual o arrogante Kraven (o irlandês Shane Brolly, de "Impostor"), substituindo temporariamente o adormecido chefe supremo Viktor (Bill Nighy), e como principal guerreira, Selene (Kate Beckinsale), e os lycans (ou lobisomens), criaturas ferozes que vivem em menor número nos subterrâneos, liderados por Lucian (Michael Sheen, de "Linha do Tempo") e
tendo como um de seus membros mais brutais e agressivos o gigante Raze (Kevin Grevioux).
Numa ronda noturna, a vampira Selene descobre a existência de uma grande quantidade de lycans vivendo nos subterrâneos da cidade, sendo que se acreditava que eles estivessem quase exterminados. Porém, ao contrário, os lobisomens estão ainda mais fortes e se organizando para um ataque planejado, podendo se transformar independente da aparição da lua cheia, além de utilizarem armas modernas como projéteis formados de raios ultravioletas, mortais aos vampiros. E estes por sua vez, são seres que não temem crucifixos e símbolos religiosos, não tem aversão ao alho e possuem reflexos nos espelhos, ao contrário do que normalmente sabemos sobre essas criaturas, e entre suas armas poderosas estão projéteis carregados com nitrato de prata, fatais contra os lobisomens.
Quando numa noite ocorre um violento confronto entre as duas raças numa estação de metrô, a vampira Selene descobre que seus inimigos estavam na verdade perseguindo um humano, mas aparentemente não como alimento e sim com um propósito misterioso. Decidida a investigar a verdade, ela descobre que o homem é um jovem médico chamado Michael Corvin (Scott Speedman), que foi mordido pelo líder Lucian e que por isso está condenado a se tornar um lobisomem na próxima lua cheia. Selene acaba protegendo e se apaixonando pelo humano, criando com esse amor proibido um enorme conflito interior pois ele se transformará num ser que é historicamente seu inimigo mortal. Enquanto isso, ela descobre também a existência de uma perigosa conspiração envolvendo os líderes da batalha entre vampiros e lobisomens, o mistério do sangue de Michael, cobiçado pelos lycans para uma experiência científica de criação de uma nova raça predadora e superior, e principalmente algumas revelações trágicas sobre seu passado, ainda como uma humana, além da origem da guerra e as razões que iniciaram o conflito que perdura por séculos.
"Underworld" possui fortes elementos e relações com outros filmes similares como principalmente as franquias "Blade" (na violência e profusão de sangue) e "Matrix" (no visual da cidade, vestuário e cenas coreografadas de lutas, com direito até ao já famoso e mais do que manjado efeito "bullet time"). Antes de assistir o filme, eu não estava muito entusiasmado pois apesar de gostar de vampiros e lobisomens e achar interessante um crossover entre eles, eu estava esperando ver apenas muita porrada e excesso de violência em detrimento de uma história bem contada, tendo como base os dois filmes da série "Blade" que particularmente não me agradaram tanto, justamente pelo excesso de sangue e um personagem herói cheio de habilidades, e também pela trilogia "Matrix", com seu excesso de lutas e efeitos pirotécnicos, misturados numa história filosófica cansativa. Além da própria história de amor proibido, que poderia ser tornar um drama sem graça e previsível.
Porém, após assistir "Underworld", fiquei surpreso e satisfeito com o resultado final, pois a violência das lutas faz parte de uma história interessante sobre uma guerra histórica entre vampiros e lobisomens, que inclusive desconsidera os elementos tradicionais presentes nas lendas que conhecemos sobre esses seres obscuros, fato em que não vejo problema algum, num exercício de liberdade de criação de seus poderes, principalmente pela substituição do misticismo pela ciência, uma vez que esses seres no filme foram criados por um vírus.
A história de amor entre Selena e Michael também foi bem discreta e não pareceu óbvia e banal como eu confesso que receava que acontecesse, com aqueles beijos cinematográficos e diálogos descartáveis que felizmente não ocorreram. As cenas de lutas lembraram demais "Matrix", mas ainda assim não incomodoram tanto. A transformação dos lobisomens ficou um pouco abaixo do esperado, principalmente quando se sabe o quanto é possível fazer coisas incríveis com os efeitos especiais atuais, e quando se tem em mente situações similares em filmes nostálgicos mais antigos como "Grito de Horror" (The Howling), de Joe Dante, e "Um Lobisomem Americano em Londres" (An American Werewolf in London), de John Landis, ambos do início dos anos 80, e que mesmo sem os recursos de computação gráfica disponíveis hoje em dia, ainda são extremamente marcantes.
Algumas cenas de mortes são muito bem feitas, onde destaca-se uma sequência envolvendo o corte cirúrgico de uma cabeça, bem no estilo já lançado pelo excepcional "Cubo" e utilizado como algo rotineiro depois em vários outros filmes como "Resident Evil - O Hóspede Maldito", "Premonição 2", "Treze Fantasmas" e "Navio Fantasma", entre outros. Os cenários em estilo gótico, de um ambiente constantemente escuro, também foram bem produzidos realçando a característica de uma atmosfera visual de um submundo sombrio.
A história de "Underworld", cujos comentários dizem ser baseada em jogos de R.P.G. - Role Playing Game (aliás, não creditados), deixou de forma proposital um enorme gancho para sequências, e confirmando a tendência da realização de trilogias após o sucesso comercial do filme original (orçamento de U$ 24 milhões com uma renda bem superior a esse valor investido), os produtores já estão trabalhando num segundo capítulo da franquia, com previsão de início das filmagens no último trimestre de 2004 e lançamento no ano seguinte, e até já anunciaram também a intenção de um terceiro episódio sobre a guerra milenar dos vampiros e lobisomens, e que pode ser uma pré-sequência (outra tendência do mercado atual). Ambos os filmes deverão ter a mesma direção de Len Wiseman e roteiro de Danny McBride (que curiosamente era coordenador de dublês), além de trazer novamente a dupla principal de atores, Kate Beckinsale e Scott Speedman.

Nenhum comentário: