quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Amor Místico.
Quando a minha alma nasceu
Para onde olhou primeiro,
E viu tudo um nevoeiro,
Foi lá cima para o céu.
Que a alma nunca lhe passa
De ideia a fonte da graça!
Em toda a ânsia de luz,
Em toda a ânsia de gozo,
Sempre aquele olhar ansioso
Nesse ideal dd criador.
Nesse bem que não se exprime.
Êxtase de amor sublime!
Olhava da solidão,
Onde se sentia presa,
Com a natural tristeza
Dos ferros de uma prisão.
À espera sempre da hora
Que lhe raiasse a aurora!
Bem a chamavam de cá
Sempre os cuidados do dia;
Ela, que nunca os ouvia,
Olhava, mas para lá.
Donde ela mesmo viera,
Donde todo o bem se espera!
Um dia (nem eu sei qual,
Que em suma foi isso há tanto!)
Vê com uns olhos de espanto
Romper-se a névoa geral;
E como um sol recortado
Nesse mar enevoado.
E dentro desse clarão,
Como em círculo de prata,
Que imagem se lhe retrata,
Fosse verdade ou visão?
A mesma que ela apertava
Nos braços quando sonhava.
Mas a visão, em lugar
De vir cair-lhe nos braços,
Voa por esses espaços
Até já mal se avistar.
Indo assim a luz minguando
E indo-se a névoa cerrando!
E hoje a minha alma, não sei
Se nessa névoa cerrada
Vê tal visão embrulhada
Ou nem já vestígios vê.
Sei que se ainda me anima,
É de olhos fitos lá cima.
João de Deus.
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