terça-feira, 12 de janeiro de 2010

LEWIS, O MONGE.


Em 1796, Beckford foi substituído por Matthew Gregory Lewis, autor de The Castle Spectre (1797), um melodrama gótico que ajudou na introdução de temas proibídos na sociedade inglesa. Como Beckford, ele nasceu com muitas vantagens e estudos, identificando-se mais com os europeus do que com os ingleses.
Em 1792, ele estava em Weimar, aprendendo alemão e traduzindo baladas fantasmagóricas populares, escritas por seu compatriota, Bishop Thomas Percy, Reliquies of Ancient English Poetry, em 1765.
Em 1794, manteve uma coluna diplomática em The Hogue, onde conheceu os franceses aristocratas que haviam escapado da Revolução e do Reino de Terror, uma época na França descrita por Wordsworth como carnificina doméstica.
Os franceses emigraram, carregando na mémoria muito terror, em parte porque escaparam de assassinatos, prisões, torturas, massacres e injustiças. Lewis encontrou na filosofia sensacionalista do Marquês de Sade, a tortura, a humilhação, a perseguição, o sofrimento e a exploração das mulheres, iniciando, assim, uma nova e macabra direção para a literatura de sentimentos. (Bloom, 1981)
Juntamente com o sobrenaturalismo da literatura germânica e a depravação da literatura contemporânea francesa, Lewis influenciou a bem delimitada tradição gótica nativa. Em dez semanas, enquanto cumpria seu trabalho diplomático, Lewis escreveu Ambrosio, ou O Monge, que surgia para ser uma resposta diabólica para a obra sentimental Vicar of Wakefield, de Oliver Goldsmith, de 1766.
O Marques de Sade escreveu em Reflexões Acerca dos Romances:
Talvez devêssemos analisar aqui os romances modernos cujo mérito reside quase inteiramente no sortilégio e na fantasmagoria, colocando à cabeça O Monge, superior em todos os aspectos às bizarrias da brilhante fantasia de Radcliffe. (Sade, 1794)
Para o advento de O Monge, foi necessária a conjunção num coração de vinte anos de todas as brasas que o vento tempestuoso de 1789 a 1794 havia reanimado no fundo do principais cadinhos do mundo ocidental, escreve André Breton, o pai do surrealismo, em 1915, que reinstalou o gosto irracional do romance noir, na cultura moderna. Para a elaboração das obras e das histórias modernas que ornam e complicam a trama central, Lewis inspira-se nos modelos germânicos (O Visionário, de Schiller; O Bruxo, de Weit Weber; lendas alemãs como a Monja Sangrenta, e, evidentemente, o Fausto, de Goethe).
Sofre igualmente a influência dos franceses (O Diabo Amoroso, de Gazzote, Justina, de Sade, a literatura anticlerical da Revolução e o Auto-da-Fé, de Gabiot), bem como dos espanhóis, dos escoceses e dos dinamarqueses, sobretudo da Balada de Alonso e Inogênia.
Na trama, Ambrosio, abade de um convento capuchinho, em Madri, cuja eloqüência, virtude e perfeição espiritual atrai a atenção de Satã, é cercado por um luxurioso e insaciável demônio, quando é seduzido por Matilde, uma nobre dama que entra no convento, vestida como uma jovem noviça. Ambrosio resolve obter os favores de uma das suas penitentes e entra nos aposentos da vítima escolhida, a bela Antonia, mas é surpreendido pela mãe da jovem. Louco de furor e despeito, ele estrangula a pobre senhora e, em seguida, obriga Antonia a beber um poderoso narcótico.
Todos a julgam morta e transportam a infeliz para os subterrâneos da igreja. Ali, em plenas trevas, entre os túmulos, o frade viola Antonia e a mata. Descoberto e denunciado à Santa Inquisição, Ambrosio é preso, torturado e condenado à fogueira. Para escapar do suplício, tenta concluir um pacto com Satã e vende-lhe a alma. Mas Satã não cumpre a sua palavra. Revela-lhe até que as mulheres que matou covardemente eram sua mãe e sua irmã. Depois, Lúcifer o carrega pelo céu, por cima de horríveis montanhas e precipita-o no interior dos abismos mais profundos.
Alguns escritores criticaram o realismo, a fascinação pela decadência da carne, a corrupção física, a blasfêmia, enfim, os elementos que destruíram a delicadeza do drama O Monge, mas também aplaudiram o que poderia somente ter sido uma expressão de ira de um vigário contra a igreja, contra toda a filosofia de benevolência e sensibilidade, contra o modelo de virtude que foi promovido por Hannah More, e Maria Edgeworth em seus panfletos educacionais, contra qualquer coisa que tenha sido defendida pelos escritores devotos e críticos que reclamavam para agradar o público.
Embora os críticos descrevessem Beckford e Lewis como maus, obscenos, depravados ou sempre demoniamente possuídos, eles simplesmente representaram um público que estava sendo espiritual e esteticamente preparado por todo um século de razão, de empirismo e pensamento democrático. Depois dessa geração, esses autores iniciados continuaram sendo uma potente força na literatura inglesa, auxiliados por autores como Wordsworth, Tennyson, e Matthew Arnold, que experimentaram comparáveis períodos de confusão.
André Breton acrescenta:
O fantástico céu tempestuoso de O Monge, que cobre e descobre com uma violência sem igual o conflito entre as aspirações à virtude mais austera e o desejo carnal exasperado pela provocação mais ardente exercerá uma perseverante fascinação ao longo de todo o século XIX. Matthew Gregory Lewis.O monge.Wikepédia.

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