contos sol e lua

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sábado, 17 de abril de 2010

O nascimento da antiga Religião.


Depois de séculos sendo relacionada com o Mal e condenada pelas religiões chamadas oficiais, a wicca retoma seu lugar de direito e ganha adeptos em todo o mundo.
A wicca é uma religião xamânica, pois acredita na possibilidade de religar o ser humano ao princípio divino presente em tudo, e considera a possibilidade de comunicação entre as dimensões visíveis e invisíveis. Sua origem remonta aos celtas, povo que habitou boa parte da Europa e vivia de forma pacífica, tendo como grandes sábios os druidas. Algumas fontes afirmam que o nome wicca vem do inglês witch (bruxa) — que por sua vez vem de wise (sábia) — enquanto outras dizem que a palavra derivou do celta wicce (curar, moldar).
Pouco restou das tradições celtas, mesmo porque sua escrita era usada exclusivamente para fins mágicos. Eles acreditavam que o conhecimento era dinâmico e devia ser transmitido oralmente, e seus ritos permaneceram no folclore europeu, sendo que algumas festividades acabaram incorporadas pelo sistema religioso vigente, com algumas adaptações. As festividades celtas mais conhecidas são o Halloween (Dia dos Mortos), o Yule (Natal), Litha (São João), Imbolq (Candelária), Beltane (Dia do Trabalho). Essas celebrações coincidiam com as estações do ano, com os ciclos de fertilidade da Terra e as fases lunares.
A situação da wicca hoje em dia é bem diferente do que foi durante os longos séculos de perseguição que seus seguidores sofreram — período em que a palavra bruxa foi ganhando uma conotação cada vez mais negativa, em nada condizente com a realidade da religião. Hoje, a wicca está experimentando um renascer com força total, colocando-se numa posição oposta ao modelo adotado pelo sistema social de patriarcado, que seguiu o caminho da exploração e destruição indiscriminada dos recursos naturais, existentes para servir à humanidade.
Já é reconhecido mundialmente que erros brutais foram cometidos em função desse modo de pensar. Culturas acabaram dizimadas, pessoas foram perseguidas só por terem idéias diferentes, e o sistema que prevaleceu não conseguiu preencher o vazio na alma humana. Não só isso, ele nos ameaça de extinção.
NASCIMENTO.
Hoje, a antiga religião ou arte, como também é chamada, renasce porque as pessoas sentem que a Terra, ou Gaia, é um ser vivo consciente, e já está perdendo a paciência. Além disso, o homem foi se tornando tão desconectado da natureza que acabou esquecendo sua conexão consigo mesmo. Outras religiões pregam um mundo ideal, fora do alcance do ser humano comum, ou dizem que para ter acesso a uma divindade distante é preciso fazer grandes sacrifícios. A wicca já considera que a divindade está presente em tudo, o tempo todo. Assim, qualquer lugar é bom e qualquer momento é hora de reverenciá-la, sendo possível ter contato com ela em vida, sem a necessidade de desencarnar.
A wicca também é uma religião praticamente sem dogmas, considerando que tudo pode ser feito desde que não se prejudique ninguém — conceito que se estende às árvores, animais e à natureza em geral. Mais que isso, seu praticante irá responder por quaisquer prejuízos causados à natureza ou aos outros, recebendo de volta o triplo do que causou.
Os trabalhos têm como objetivo desenvolver plenamente o potencial humano, burilando as fraquezas internas e, por meio do contato com os poderes presentes na natureza e na magia, alterar e desencadear acontecimentos. Esses poderes e técnicas também aparecem em outras religiões xamânicas, como as indígenas e africanas, mas a forma de lidar com eles é diferente. Por exemplo, na wicca não são realizados sacrifícios de animais e os rituais não lidam exclusivamente com feitiços. Pelo contrário. Existem rituais de cura, de agradecimento, de reverência, e alguns até para se ter contato com a divindade e obter esclarecimentos. Nós também acreditamos que o mesmo empenho dedicado ao aprimoramento intelectual e profissional deve ser usado no crescimento espiritual. A falta disso gera muito dos problemas modernos, como o abuso nas drogas e no álcool, já que as pessoas buscam o êxtase pelos meios artificiais criados pela cultura.
No Brasil, as tradições da bruxaria foram mantidas, mas de forma disfarçada. Mesclando-se a outras tradições religiosas, muitas vezes elas surgem como feitiços transmitidos oralmente na forma de benzeduras, mandingas, patuás, orações, chás caseiros, etc.
A wicca ainda considera que, se existe uma polaridade masculina e uma feminina em todas as coisas, a manifestação divina também se dá nos dois sexos. Assim, para os celtas, o Deus era representado por um homem verde com folhas e chifres, dando idéia de sua conexão com a natureza — símbolo mal interpretado ou utilizado propositadamente para estabelecer uma falsa conexão entre a religião e a representação do Mal, o diabo, nas religiões cristãs —, e a Deusa, retratada como uma mulher de grande beleza, sempre em companhia de flores ou animais.
Diferentes Grupos.
A wicca não é considerada uma religião de masssa, e nem pretende atrair um grande número de seguidores. Normalmente, todo o trabalho religioso é feito em grupos chamados de covens, composto por um pequeno número de pessoas com valores e convicções afins. Esses grupos têm autonomia para realizar os trabalhos religiosos da maneira que acharem mais apropriada. Assim, as atividades de um podem ser diferentes das atividades de outro, sem que isso descaracterize a wicca.
Como se trata de uma religião com poucos dogmas, em alguns países a wicca chega a assimilar parte das religiões nativas que tenham maior semelhança com suas tradições, como ocorre em alguns grupos indígenas dos Estados Unidos.
Alguns covens só possuem treze membros, outros só têm mulheres, e outros ainda praticam os rituais despidos, ou como se diz, vestidos de Céu — uma forma das pessoas se despirem do ego e se exporem de alma limpa. O coven Wicca Cia das Bruxas, por exemplo, é aberto a membros de ambos os sexos, preferindo realizar suas práticas com roupa, uma vez que se situa em outra cultura e contexto social. Às vezes, os rituais são realizados ao ar livre, seguindo o calendário das festividades conforme o sistema europeu, sem inverter datas em razão das diferentes estações do ano. Isso ocorre porque são consideradas a correlação dos signos astrológicos com as festividades e a origem européia da religião, mantendo assim a força da egrégora.
Nas práticas ritualísticas são utilizados alguns instrumentos que simbolizam os elementos: o cálice representa a água; o bastão representa o fogo; o athame (punhal) simboliza o ar, e o pentagrama (estrela de cinco pontas apontada para cima), a terra. Os rituais também empregam velas, incensos, vestes e outros apetrechos. A roupa negra é usada porque negro é a cor da noite, ajuda na concentração e protege. O ingresso num coven segue alguns critérios. Na Cia. das Bruxas, por exemplo, é feita uma seleção prévia com o objetivo de avaliar o real interesse da pessoa em adotar a religião, evitando assim os curiosos ou mesmo aqueles que tenham interesse meramente intelectual.
A wicca tem crescido a olhos vistos no Brasil e no mundo. Aqui o movimento é mais recentemente, com o aparecimento de bruxas de linhagem hereditária e praticantes solitárias — coisa que também é possível, já que nem todos têm acesso a um coven. Nos países de língua inglesa, os sacerdotes da wicca têm o mesmo status dos de outras religiões, podendo oficiar casamentos, batizados, etc., com reconhecimento oficial.
O desenvolvimento da wicca no Brasil tem acompanhado o de outras religiões de cunho xamânico, o que não parece ser apenas um modismo, mas uma resposta à ânsia de propósito e plenitude, às necessidades que o homem moderno tem de resgatar sua conexão com a divindade, pois já não encontra respostas adequadas para o que procura no sistema em que vive.
O novo milênio marca o fim de um ciclo, a transição de uma Era para outra — uma Era na qual, nós esperamos, haja maior abertura para os pensamentos e filosofias diferentes, de modo que eles possam coexistir de forma respeitosa e reviver tradições até então perseguidas pelo preconceito irracional.
Novos Tempos.
Já vai longe a época em que bruxas eram queimadas em praça pública, ainda que muitas religiões continuem atacando a bruxaria, ainda que como forma de se protegerem da constante diminuição no número de fiéis. Um simples passeio pela Internet pode dar uma idéia da multiplicação dos covens e da forma aberta com que são apresentados.
Um grande impulso para a modificação no modo de encarar o tema deu-se nos anos 60, quando todo o planeta se voltou para a importância da ecologia e do contato com a natureza, retomando antigas tradições soterradas pela expansão de outras religiões, principalmente a cristã.
Pouco antes dos anos 60 as coisas estavam complicadas, tanto que Sybil Leek — durante muito tempo conhecida como a rainha das bruxas da Inglaterra — teve de emigrar para os EUA devido às perseguições que vinha sofrendo. Em 1954, o antropólogo e erudito britânico Gerald Brouseau Gardner também ajudou a mudar o status da bruxaria ao declarar publicamente que era um bruxo — ele já vinha escrevendo obras sobre o tema desde a década anterior com o pseudônimo de Scire.
Segundo o estudioso e pesquisador Félix Llaugé, existem grupos wicca que praticam os ramos mais perigosos da magia negra, mas a maioria e os principais covens seguem uma religiosidade pura. Ele diz que muitas bruxas regem-se pelo grimório ancestral The Book of Shadows (O Livro das Sombras), que traz rituais de iniciação e segredos mágicos antiquíssimos, além de oito propósitos básicos para que a bruxaria seja efetiva: concentração ativada pelo firme conhecimento do que se pode e quer conseguir, formando na mente a idéia exata do que se quer obter; estados de transe que incluem clarividência e projeção astral; conhecimento das ervas, do incenso e do vinho; a realização de rituais com um fim determinado; o uso da dança; o uso de cânticos e preces; ter controle do corpo; ter total dedicação ao culto.
Wikepédia.

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