terça-feira, 13 de julho de 2010
O Cajado que Floresceu.
No prólogo de Fausto, referindo-se ao herói, Deus é representado dizendo:
"Embora, em perplexidade, ele me sirva agora,
Para onde aparecer a luz, Eu logo o guiarei;
Quando a árvore nova tiver brotos, o jardineiro sabe,
Com flores e frutos seus anos vindouros beneficiarei".
Este é um fato real concernente a toda humanidade. Na época atual, todos nós servimos a Deus imperfeitamente por causa de nossa visão limitada. Não temos a real e verdadeira percepção do que seremos, e de que modo deveríamos usar os talentos com os quais somos dotados. No entanto, Deus, através do processo de evolução, está constantemente dirigindo-nos para uma luz cada vez maior e, gradativamente, deixaremos de ser espiritualmente estéreis: floresceremos e daremos frutos. Assim, seremos capazes de servir a Deus como deveríamos e não como o fazemos.
Embora o que dissemos acima se refira a todos em geral, aplica-se particularmente àqueles que são professores, pois, naturalmente, onde a luz é mais forte, as sombras também são mais profundas, e as imperfeições daqueles entre nós que devem arcar com a responsabilidade do ensino são, por isso, mais notadas.
Na história de Tannhauser, o Papa fecha a porta da esperança na face do penitente, porque a palavra da lei assim o exige, mas, nem por isso a misericórdia de Deus foi frustrada. O cajado do Papa floresceu para provar que o penitente foi perdoado devido à sincera penitência e, em conseqüência, o mal foi apagado do registro impresso no átomo-semente. Por uma lei superior, a inferior foi suplantada.
Há nesta lenda do cajado do Papa uma semelhança com o conto do Santo Graal e da lança; com a história da vara de Arão que também floresceu, e com o cajado de Moisés que fez brotar da rocha, a água da vida. Todos esses fatos têm um importante significado sobre a vida espiritual do Discípulo que, almejando seguir o caminho para a vida superior, procura, como Kundry, desfazer as más ações de vidas passadas por uma vida presente de serviço totalmente dedicada ao Eu superior. A lenda do Graal distingue a taça do Graal, propriamente dita, e o Sangue Purificador que ela contém.
A história conta como Lúcifer, quando lutou com o Arcanjo Miguel sobre o corpo de Moisés, perdeu a pedra mais preciosa de sua coroa. Ela caiu durante a luta. Esta linda e incomparável gema era uma esmeralda chamada "Exilir". Foi lançada ao abismo, mas foi recuperada pelos Anjos, e dela foi feito o cálice ou Santo Graal, que mais tarde foi usado para conter o Sangue Purificador que fluiu do lado do Salvador quando foi ferido pela lança do centurião. Notemos que esta jóia era uma esmeralda: era verde, e verde é uma combinação do azul com o amarelo e é, portanto, a cor complementar da terceira cor primária, o vermelho. No Mundo Físico, o vermelho tem a tendência de excitar e energizar, enquanto que o verde tem um efeito refrescante e calmante, mas o oposto é verdadeiro, quando vemos o assunto do ponto de vista do Mundo do Desejo. Aí, a cor complementar é ativa e tem o efeito sobre nossos desejos e emoções que atribuímos à cor física. Portanto, a cor verde da gema perdida por Lúcifer mostra seu efeito e sua natureza. Esta pedra é a antítese da Pedra Filosofal. Tem o poder de atrair a paixão e gera o amor do sexo para sexo, que é o vício oposto ao amor casto e puro, simbolizado pela pedra branca apocalíptica, cujo final é o amor da alma para alma. Como este efeito das cores complementares é bem conhecido, embora não percebido conscientemente, falamos também do ciúme, que é gerado pelo amor impuro, caracterizado como um monstro de olhos verdes.
O Santo Graal tem sua réplica no cálice ou na casca da semente da planta, que é verde. O fogo criador está adormecido dentro da casca. Igualmente, o mesmo fenômeno deve manifestar-se dentro de cada um que começa a procura do Santo Graal. Vontade é a qualidade masculina da alma; imaginação é a qualidade feminina. Quando a vontade é o atributo mais forte, a alma, durante uma certa vida, usa um revestimento masculino e, em outra, onde a qualidade da imaginação é maior, uma forma feminina. Pela Lei de Alternância que prevalece nesta presente era do arco-íris, a alma usa trajes diferentes em vidas alternadas mas, quer seja feminino ou masculino, o órgão do sexo oposto está sempre presente em estado latente. Por conseguinte, o homem é agora e será tanto masculino como feminino, enquanto o corpo denso permanecer.
No passado, quando sua consciência estava focalizada no mundo espiritual, ele era uma perfeita unidade criadora com os dois órgãos sexuais igualmente desenvolvidos, como muitas flores o têm ainda hoje. Portanto, era capaz de gerar um novo corpo quando o antigo já estivesse gasto, mas, nessa época, ele não estava ciente, como está hoje, do fato de que possuía um corpo. Os pioneiros - alguns que viram mais claro do que os outros - contaram a seus companheiros a extraordinária história de que o homem tinha um corpo e é natural que tenham enfrentado o mesmo ceticismo que hoje enfrentam aqueles que afirmam que o homem possui uma alma.
Vemos que a história simbólica de Lúcifer, perdendo a gema verde, é a mesma do homem quando deixou de conhecer-se a si próprio e passou a conhecer sua mulher: de como o Graal foi perdido e como só poderá ser encontrado quando o sangue físico saturado de paixão estiver novamente purificado como o contido originalmente nesse vaso verde.
Numa época propícia do ano, nem antes nem depois, os raios emanados das orbes celestiais penetram na semente plantada e despertam suas forças geradoras latentes para a atividade. Então, uma nova planta surge do solo para novamente embelezar a Terra. Desta maneira, o ato de gerar é executado em perfeita harmonia com a Lei da Natureza, e uma coisa bela é gerada para adornar a Terra. O resultado é diferente nos seres humanos, desde a época em que a qualidade feminina da imaginação foi despertada por Lúcifer.
Presentemente, o ato gerador é executado independente dos raios solares propícios e, como resultado, o pecado e a morte apareceram no mundo. Desde então, a luz espiritual empalideceu e agora estamos cegos para a glória celestial.
Nas mãos dos divinos guias da humanidade, um deles representado por Arão, a vara viva era um veículo de poder. Mais tarde, a vara florida secou e foi preservada na Arca. Não devemos concluir que, por causa disso, não haja mais redenção. Mas, como o homem foi exilado do seu estado celestial quando a gema verde da paixão e do desejo caiu da coroa de Lúcifer, que guiou a humanidade através da geração para a degeneração, assim também existe a pedra branca, a Pedra Filosofal, o símbolo da emancipação. Usando o poder de geração para a regeneração, superamos a morte e o pecado e isto confere-nos a imortalidade e leva-nos a Cristo.
Esta é a mensagem da história de Tannhauser. Paixão é veneno. O abuso da geração, sob a influência de Lúcifer, tem sido o meio de nos afundarmos nas trevas da degeneração. O mesmo poder canalizado em direção oposta, e usado com propósitos de regeneração, é capaz de livrar-nos das trevas e elevar-nos a um estado celestial, e então, teremos vencido a batalha. Pela paixão, o Espírito cristalizou-se num corpo e os grilhões somente poderão ser quebrados pela castidade, pois o céu é a morada da virgem e somente quando elevarmos o amor do sexo pelo sexo à categoria do amor da alma pela alma, poderemos desatar as algemas que nos prendem. Portanto, quando aprendermos a criar pela concepção imaculada, nascerão salvadores que abrirão os grilhões do pecado e do sofrimento que agora nos prendem.
Ao realizarmos este ideal, devemos lembrar que a repressão do desejo sexual não é o celibato; a mente deve contribuir para isso e devemos de boa vontade abster-nos da impureza. Isto só pode ser conseguido pelo que os místicos chamam "encontrar a mulher dentro de si mesmo". (Para a mulher é, naturalmente, encontrar o homem dentro de si mesma). Quando conseguirmos isto, teremos chegado ao estágio em que poderemos viver a mesma vida pura da flor.
Em relação a isto, poderá ser também muito esclarecedor lembrar que o "Guardião do Umbral que devemos enfrentar antes que possamos entrar nos mundos suprafísicos, assume sempre a aparência de uma criatura do sexo oposto. No entanto, esta aparência assemelha-se à nossa própria. Devemos também compreender que quanto mais licenciosos ou libidinosos tenhamos sido, pior será a aparência deste monstro. Parsifal permanecendo ereto diante de Kundry - quando sua recusa de submissão a ela converteu-a num virago - está na mesma situação que o candidato fica ao defrontar-se face a face com o guardião, antes que a lança lhe seja colocada nas mãos.Max Heindel.
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