sexta-feira, 15 de outubro de 2010
"O Código da Vinci".
Uma conspiração envolvendo um personagem de grande importância para a cultura ocidental. Se o tema já é suficiente para instigar a curiosidade de um amplo número de pessoas, acrescente cenas aventurescas à la Indiana Jones. Dá para imaginar? Assim é o livro "O Código da Vinci", de Dan Brown, lançado no Brasil pela Editora Sextante. Só aqui ele já vendeu quase 200 mil cópias. No mundo todo, foram mais de 10 milhões e a versão para o cinema deve chegar às telas no primeiro semestre de 2006 com Tom Hanks no papel principal, interpretando o fictício Robert Langdon, professor da prestigiosa Universidade de Harvard.
O sucesso do livro em um país como o Brasil - onde, infelizmente, há poucos leitores - não é difícil de ser explicado. Apesar de ser um calhamaço de quase 500 páginas, a linguagem é simples e muito acessível. Além disso, a solução por parte dos personagens sobre os mistérios milenares em torno da história de Jesus Cristo é muito rápida, quase um milagre - chegando a ponto de decepcionar leitores mais exigentes, mas sem cansar quem não está acostumado a enfrentar a leitura de tantas páginas. Não há como negar, no entanto, que o autor tem seus méritos e sabe passar de um capítulo a outro com grande suspense, prendendo o leitor até o fim.
Junto com o sucesso, o livro gerou protestos em muitos países católicos. Tudo isso porque sua trama rememora em pleno século XXI uma estória - nunca confirmada cientificamente e nunca descartada também - do suposto casamento de Jesus Cristo com Maria Madalena e da linhagem descendente desta união. Segundo Brown e outros autores de alguns livros mais antigos sobre o mesmo assunto, o Santo Graal na verdade não seria a taça na qual Jesus tomou vinho na Última Ceia, e sim objetos e textos que comprovariam esta união. Este segredo e a localização destes documentos estariam sendo guardados por gerações e gerações pelo Priorado de Sião, um grupo originado dos Cavaleiros Templários que guardavam o templo de Salomão na época das cruzadas. O pintor e gênio Leonardo da Vinci teria sido um dos guardadores do segredo e deixou pistas dele em algumas de suas obras, como em "A última ceia". A trama do livro "O Código da Vinci" inclui ainda uma participação não muito positiva da Opus Dei, um movimento da Igreja Católica.
O Graal.
A taça que teria sido utilizada por Jesus para beber vinho na última ceia não tem qualquer citação na Bíblia cristã - seja na versão católica ou na protestante. No livro, Dan Brown diz que a origem da palavra Santo Graal vem do francês "sangraal", que evoluiu para "sangreal" e dividida depois em "San Greal". Em resumo, "sangue real", explicando ser ele uma reunião de textos que tratam do casamento de Jesus e Maria Madalena e sua linhagem.
O casamento de Jesus.
O livro de Brown afirma que o casamento de Cristo é óbvio. Como base, ele usa argumentos como o de que sendo judeu e adulto, é certo pela tradição cultural da época de que ele teria se casado. Ele cita ainda evangelhos considerados apócrifos que contariam esta história e afirma que Jesus teria deixado a responsabilidade pela continuidade de sua obra não nas mãos de Pedro, mas de Maria Madalena, e por isso ela teria sido perseguida pelos apóstolos enciumados e ido refugiar-se, grávida, na França, após a crucificação de Cristo.
"Essa é uma tradição antiga, que lembra uma relação especial de Jesus com Maria Madalena e os evangelhos apócrifos falam disso. Mas não dá para afirmar isso no contexto histórico, pois parece que o assunto não é considerado dentro das últimas pesquisas", afirma Cornelli. O professor lembra ainda que muitos profetas do tempo de Jesus optaram pelo celibato, e outros não. "Portanto não há evidências de que ele teria se casado. Como também não há evidências do contrário", diz.
A divindade de Cristo.
Segundo a obra de Dan Brown, Jesus começou a ser considerado filho de Deus apenas após o Conselho de Nicéia, no ano 325. Nesta reunião da liderança da igreja católica, teria sido decidido politicamente conveniente dar o título a ele. O professor Cornelli, no entanto, explica que o título já era utilizado antes e a reunião apenas determinou um consenso entre as diversas correntes do Catolicismo.
"A história no começo da igreja primitiva tem muita pluralidade, muita gente falando coisas diferentes. Quando um movimento carismático começa a ganhar força e a se institucionalizar, é preciso acertar algumas coisas e diminuir as diferenças", explica Cornelli. É neste contexto que começam a acontecer os Concílios, a fim de estabelecer uma certa base única para a Igreja cristã. "Quem bateu o martelo no Concílio sobre a questão da divindade faz parte deste grande movimento, isso não quer dizer que antes disso não houvesse em várias comunidades a crença na divindade de Jesus", afirma.
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