sábado, 6 de novembro de 2010

A cabala de Eliphas Levi.


PRIMEIRA LIÇÃO.
Senhor e irmão: Posso conferir-vos este título posto que buscais a verdade na sinceridade de vosso coração e que estais disposto a fazer os sacrifícios que se façam necessários para alcançar o fim colimado. Sendo a verdade a própria essência daquilo que não é difícil encontrar, está em nós e nós estamos nela; é como a luz que os cegos não vêem. O Ser é. Isto é incontestável e absoluto. A idéia exata do Ser é a verdade, seu conhecimento é a ciência; sua expressão ideal é a razão; sua atividade é a criação e a justiça. Dizeis que desejais crer. Para tanto basta conhecer e amar a verdade. Porque a verdadeira fé é a adesão inquebrantável às deduções necessárias da ciência no infinito conjetural. As ciências ocultas são as únicas que dão a certeza, porque tomam por base as realidades e não as ilusões.
Estas cartas foram facilitadas por um discípulo de Eliphas Levi: M. Montaut. Permitem discemir em cada símbolo religioso a verdade e a mentira. A verdade é a mesma em qualquer lugar e a mentira varia, segundo os lugares, os tempos e as pessoas. Estas ciências são em número de três: a Cabala, a Magia e o Hermetismo. A Cabala, ou ciência tradicional dos Hebreus, poderia ser chamada de matemática do pensamento humano. É a álgebra da fé. Resolve, com suas equações todos os problemas da alma, isolando as incógnitas. Dá às idéias a sensatez e a rigorosa exatidão dos números; seus resultados são a infalibilidade da mente (sempre relativa na esfera dos conhecimentos humanos) e a paz profunda do coração.
A Magia, ou ciência dos magos, teve como representantes na antiguidade os discípulos e talvez os mestres de Zoroastro. É o conhecimento das leis secretas da natureza que produzem as forças ocultas dos ímãs naturais ou artificiais, e dos que podem existir ainda fora do mundo dos metais. Numa palavra e para empregar uma expressão moderna, é a ciência do magnetismo universal.
O Hermetismo é a ciência da natureza oculta dos hieróglifos e dos símbolos do mundo antigo. É a investigação do princípio de vida pelo sonho (para os que ainda não chegaram a ele), a realização da grande obra, a reprodução pelo homem do fogo natural e divino que cria e regenera os seres. Eis aí, senhor, as coisas que desejais estudar: seu círculo é imenso, porém seus princípios são muito simples e estão contidos nos números e nas letras do alfabeto. "É um trabalho de Hércules semelhante a um jogo de crianças", dizem os mestres da santa ciência.
Os requisitos para se sair airosamente deste estudo são uma grande retidão de juízo e amplo ecletismo. Não se pode ter preconceitos e razão por que Cristo dizia: "Se não tiverdes a simplicidade da criança, não entrareis em Maikubt", isto é, no reino da ciência. Começaremos pela Cabala, cuja divisão é: Berechit, Mercava, Gematria e Temura.Vosso na sagrada ciência.
SEGUNDA LIÇÃO.
A CABALA. OBJETO E MÉTODO.
A proposição que deveis fazer-vos ao estudar a Cabala é chegar à paz profunda, através da tranqüilidade do espírito e paz do coração. A tranqüilidade do espírito é um efeito da certeza; o sossego do coração deve-se à paciência e à fé. Sem a fé, a ciência conduz à dúvida; sem a ciência, a fé conduz à superstição. As duas unidas produzem a certeza e, para juntá-las, não é preciso confundi-las.
O objeto da fé é a hipótese e chega a converter-se em certeza quando a hipótese exige a evidência ou as demonstrações da ciência. A ciência é comprovada com fatos. As leis são inferidas da repetição dos fatos. A generalidade dos fatos em presença de tal ou qual força demonstra a existência das leis. As leis inteligentes são necessariamente desejadas e dirigidas pela inteligência. A unidade das leis faz supor a unidade da inteligência legisladora. A esta inteligência, que estamos obrigados a supor segundo as obras manifestas, mas que não é possível definir, é que chamamos Deus.
A minha carta chegou a vossas mãos; eis aqui um fato evidente; a minha escrita foi reconhecida, bem como meu pensamento, e deduzistes disso que fui eu quem vos escreveu. É uma hipótese razoável, porém a hipótese necessária é a de que alguém escreveu a carta. Poderia ser apócrifa, porém não tendes razão para supô-lo. Se pretendêsseis que a carta tivesse caído do céu, estaríeis beirando o absurdo, estabelecendo uma hipótese absurda. Segundo o método cabalístico, como se organiza a certeza:
Evidência. Demonstração científica. certeza Hipótese
necessária. Hipótese razoável. Probabilidade
Hipótese duvidosa. Dúvida Hipótese absurda. Erro.
Não saindo deste método, o espírito adquire uma verdadeira infalibilidade, posto que afirma o que sabe, crê no que deve necessariamente supor, admite as suposições razoáveis, examina as suposições duvidosas e afasta as absurdas.
Toda a Cabala está contida no que os mestres chamaram as trinta e duas vias e as
cinqüenta portas. As trinta e duas vias são trinta e duas idéias absolutas e reais unidas aos dez
Números da aritmética e as vinte e duas letras do alfabeto hebraico.
Eis aqui estas idéias:
Números
1 . Supremo poder.
2 . Sabedoria absoluta.
3 . Inteligência infinita.
4 . Bondade.
5 . Justiça ou rigor.
6 . Beleza
7 . Vitória.
8 . Eternidade.
9 . Fecundidade.
l0. - Realidade.
Letras.
Aleph – Pai
Beth – Mãe
Ghimel – Natureza
Daleth – Autoridade
Hé – Religião
Vau – Propriedade
Zain – Liberdade
Cheth – Repartição
Theth – Prudência
Iod – Ordem
Caph – Força
Lamed – Sacrifício
Mem – Morte
Nun – Reversibilidade
Samech - Ser universal
Snain – Equillbrio
Phé – Imortalidade
Tsade - Sombra e reflexo
Koph – Luz
Shin – Providência
Tau – Síntese
Vosso na sagrada ciência.
TERCEIRA LIÇÃO.
USO DO MÉTODO.
Na lição anterior falei tão-somente das trinta e duas vias; falarei depois das cinqüenta portas. As idéias expressas pelos números e pelas letras são realidades incontestáveis.Tais idéias encadeiam-se e se combinam como os números. Procede-se logicamente de um ao outro. O homem é o filho da mulher, porém a mulher procede do homem como o número da unidade. A mulher explica a natureza; a natureza revela a autoridade, cria a religião que serve de base à liberdade e que faz o homem dono de si mesmo e do universo, etc. (Procurai um Tarô; creio, porém que tendes um.) Disponde em duas séries de dez cartas alegóricas, numeradas de um a vinte e um. Vereis então todas as figuras que explicam as letras. Quanto aos números, do um ao dez, encontrareis neles a explicação repetida quatro vezes, com os símbolos de paus ou cetro do pai; copas ou delícias da mãe, espadas ou combate do amor e ouros ou fecundidade. O Tarô se encontra no livro hieroglífico das trinta e duas vias e a explicação sumária dele encontra-se no livro atribuído ao patriarca Abraão, que se chama Sepher-Jezirah. O sábio Court de Gebelin foi o primeiro que adivinhou a importância do Tarô, a grande chave dos hieróglifos hieráticos. Encontraram-se os símbolos e os números nas profecias de Ezequiel e de São João. A Bíblia é um livro inspirado, porém o Tarô é o livro inspirador, Também foi chamado de roda, rota, de onde se deduziram as formas taro e tora. Os antigos rosa-cruz conheciam-no e o marquês de Suchet fala dele em seu livro acerca dos iluminados. Deste livro é que surgiram nossos jogos de cartas. As cartas espanholas ainda possuem os principais signos do Tarô primitivo e são utilizados para jogar o voltarete ou jogo do hombre, reminiscência vaga do uso primitivo de um livro misterioso que contém as sentenças reguladoras de todas as divindades humanas. Os três Tarôs antigos eram feitos de medalhas que depois seriam de talismãs. As chavetas ou pequenas chaves de Salomão eram compostas por trinta e seis talismãs, tendo setenta e duas estampas semelhantes às figuras hieroglíficas do Tarô. Estas figuras, alteradas pelos copistas, encontram-se ainda nas várias chavetas manuscritas que se encontram nas bibliotecas. Existe um desses manuscritos na Biblioteca Nacional e outro na Biblioteca do Arsenal. Os únicos manuscritos autênticos delas são os que mostram a série dos trinta e seis talismãs com os setenta e dois nomes misteriosos; os demais, ainda que antigos, pertencem às quimeras da magia negra e não são mais que mistificações. Vede, para a explicação do Tarô, o meu Dogma e Ritual da Alta Magia .
Vosso na sagrada ciência.
QUARTA LIÇÃO.
A CABALA.
Senhor e irmão: Bereschith quer dizer génese; Mercavah significa "carrinho" em alusão às rodas e aos animais misteriosos de Ezequiel. Bereschith e Mercavah resumem a ciência de Deus e do mundo. Digo "ciência de Deus" e, portanto, Deus não é infinitamente desconhecido. Sua natureza escapa completamente a nossas investigações. Princípio absoluto do ser e dos seres, não pode ser confundido com os efeitos que produz e pode-se dizer, afirmando completamente sua existência, que não é nem o não-ser, nem o ser. Fato que confunde a razão sem extraviá-la e nos afasta definitivamente da idolatria. Deus é o único postalatam absoluto de toda ciência, a hipótese necessária que serve de base à certeza. Eis aqui como nossos antigos mestres estabeleceram cientificamente esta hipótese correta da fé: o Ser é. No Ser está a vida. A vida manifesta-se pelo movimento. O movimento perpetua-se pelo equilíbrio das forças. A harmonia resulta da analogia dos contrários. Existe, na natureza, lei imutável e progresso indefinido, mudança perpétua nas formas, indestrutibilidade da substância; e isto é o que se encontra estudando o mundo físico. A metafísica apresenta leis e fatos análogos, na ordem intelectual ou na moral, o verdadeiro, imutável, de um lado; do outro, a fantasia e a ficção. De um lado, o bem que é o verdadeiro; doutro, o mal que é falso, e destes conflitos aparentes surgem o juízo e a virtude. A virtude compõe-se de bondade e justiça. Boa, exatidão todas as deduções possíveis, de obter os conhecimentos novos e de desenvolver o espírito, sem deixar nada ao capricho da imaginação. Isto é o que se obtém pela Gematria e a Temura que são as matemáticas das idéias.A Cabala tem sua geometria ideal, sua álgebra filosófica e sua trigonometria analógica. É desta forma que obriga a natureza, de certo modo, a revelar seus segredos. Adquiridos estes altos conhecimentos, passa-se às últimas revelações da Cabala transcendental e estuda-se shemanphorash, a fonte e a razão de todos os dogmas. Eis aí, senhor e amigo, o que se deve aprender. Vede se não vos assusta; minhas cartas são curtas, porém são resumos muito concretos e que expressam muito em poucas palavras. Dei espaço, amplo o bastante, entre as minhas cinco primeiras lições, para vos dar tempo de refletir; posso, portanto, escrever-vos mais amiúde se o desejardes. Acreditai-me desejoso de vos ser útil.
Vosso, de todo coração, na sagrada ciência.
QUINTA LIÇÃO
A CABALA II.
Senhor e Irmão:
Este conhecimento racional da divindade, escalonado nas dez cifras que compõem os números vos oferece o método completo da filosofia cabalística. O método compõe-se de trinta e dois meios ou instrumentos de conhecimento que se denominam as trinta e duas vias, e de cinqüenta objetos, aos quais pode-se aplicar a ciência, e que se chamam as cinqüenta portas.
A ciência sintética universal considera-se como um templo com trinta e duas vias de
acesso e cinqüenta portas.
Este sistema numérico, que também poderia ser chamado decimal, porque sua base é dez, estabelece, pelas analogias, uma classificação exata de todos os conhecimentos humanos. Nada é mais engenhoso, lógico e exato.
O número dez aplicado às noções absolutas do ser na ordem divina, metafísica e natural, repete-se três vezes, o que dá trinta para os meios de análise; acrescentai a silepse e a síntese, a unidade postulada pelo espírito. e a do resumo universal, e tereis as trinta e duas vias.
As cinqüenta portas constituem uma classificação dos seres em cinco séries de dez, que abraça todos os conhecimentos possíveis.
Porém não basta ter encontrado um método matemático exato, é preciso, para ser perfeito, isto é, que nos dê o meio de obter com exatidão, todas as deduções possíveis, de obter os conhecimentos novos e de desenvolver o espírito, sem deixar nada ao capricho da imaginação.
Isto é o que se obtém pela Gematria e a Temura que são as matemáticas das idéias. A Cabala tem sua geometria ideal, sua álgebra filosófica e sua trigonometria analógica. É dessa forma que obriga a natureza, de certo modo, a revelar seus segredos.
Adquiridos estes altos conhecimentos, passa-se às últimas revelações da Cabala
transcendental e estuda-se shemahphorach, a fonte da razão e de todo os dogmas.
Eis aí, senhor e amigo, o que se deve aprender. Vede se não vos assusta; minhas cartas são curtas, porém resumos muito concretos e que expressam muito em poucas palavras. Dei espaço amplo o bastante, entre as minhas cinco primeiras lições, para vos dar tempo de refletir; posso, portanto, escrever-vos, mais amiúde se desejardes.
Acreditai-me desejoso de vos ser útil.
Vosso, de todo coração, na sagrada ciência.
SEXTA LIÇÃO.
A CABALA III.
Senhor e irmão: A Bíblia deu ao homem dois nomes. O primeiro é Adão, que significa saído da terra ou homem de terra; o segundo é Enos ou Enoch, que significa homem divino ou elevado até Deus. Segundo o Gênese, Enos foi o primeiro que dedicou homenagens públicas ao princípio dos seres, o qual, segundo se diz, foi elevado aos céus, depois de ter gravado nas duas pedras que se denominam as colunas de Henoch os elementos primitivos da religião e da ciência universal.
Enoch não é um personagem, mas uma personificação da humanidade, elevada ao sentimento da imortalidade peh religião e ciência. Na época designada com o nome de Enos ou Enoch, apareceu o culto de Deus representado no sacerdote. Na mesma época começa a civilização com a escritura e os monumentos hieráticos.
O génio civilizador que os hebreus personificavam em Enoch foi chamado Trismegistos pelos Egípcios, Kadmos ou Cadmus pelos Gregos. Foi Kadmos que viu, aos acordes da lira de Anfion, elevarem-se as pedras vivas de Tebas.
O primitivo livro sagrado, o livro que Postel chamou Gênese de Enoch, é a primeira fonte da Cabala, ou tradição divina, humana e religiosa. Nele, a tradição aparece em sua nobre simplicidade, cativando o coração do homem, bem como a lei eterna regulando a expensão infinita, os números na imensidade e a imensidade nos números, a poesia nas matemáticas e as matemáticas na poesia.
Quem acreditaria que o livro inspirador de todas as teorias e símbolos religiosos foi conservado até nossos dias sob a forma de um jogo de cartas? Não obstante, nada é mais evidente; e Court de Gebelin foi o primeiro a descobri-lo.
O alfabeto e os dez números - isto é, certamente, o mais elementar da ciência. Reuni a isso os signos dos quatro pontos cardeais ou das quatro estações e tereis completado o livro de Enoch.
Cada signo representa uma idéia absoluta ou, se preferis, essencial. A forma de cada cifra e de cada letra tem sua razão matemática e significação hieroglífica. As idéias, inseparáveis dos números, seguem, adicionando-se, dividindo-se ou multiplicando-se, etc., o movimento dos números, e adquirem a exatidão.
O livro de Henoch é, enfim, a aritmética do pensamento.
Vosso na santa ciência.
Vosso na sagrada ciência.
SÉTIMA LIÇÃO.
A CABALA IV.
Senhor e irmão: Court de Gebelin vislumbrou, nas vinte e duas chaves do Tarô, a representação dos mistérios egípcios, atribuindo sua invenção a Hermes ou Mercúrio Trismegistos, que foi chamado também Thaut ou Thoth.
É certo que os hieróglifos do Tarô se encontram nos antigos monumentos do Egito; é certo que os signos deste livro, traçados em quadros sinóticos ou em tabelas ou lâminas metálicas, assemelham-se às inscrições isíacas de Bembo (N. dos T. - Estas inscrições eram feitas em lâminas de cobre e representavam os mistérios de Ísis e da maior parte das divindades egípcias ), reproduzidas separadamente em pedras gravadas ou em medalhas, convertidas posteriormente em amuletos e talismãs.
Assim se separavam as páginas do livro, infinito em suas combinações diversas para reuni-las, transportá-las e dispô-las de modo sempre original, obtendo múltiplos oráculos da verdade. Possuo um destes antigos talismãs, trazido do Egito por um viajante amigo.
Representa o binário dos Ciclos ou, vulgarmente, o "dois de ouros". É a expressão figurada da grande lei da polarização e do equilíbrio, produzindo a harmonia pela analogia dos contrários. A medalha um pouco apagada é do tamanho de uma moeda de prata de cinco francos, porém mais grossa. Os dois ciclos polares estão representados exatamente como no nosso Tarô italiano, por uma flor de Loto, com uma auréola ou nimbo.
A corrente astral que separa e atrai ao mesmo tempo os dois focos polares está representada em nosso talismã egípcio pelo bode de Mendés, colocado entre duas víboras, análogas às serpentes do caduceu. No reverso da medalha, vê-se um adepto ou um sacerdote egípcio que, substituindo Mendés entre os dois ciclos do equilíbrio universal, conduz por uma avenida ladeada por árvores o bode transformado num animal dócil pela ação da vara mágica.
Os dez primeiros números, as vinte e duas letras do alfabeto e os quatro signos astronômicos das estações resumem toda a Cabala. Vinte e duas letras e dez números somam as trinta e duas vias do Sepher Jetzirah, quatro representam a mercavah e o shemanphorah.
É simples como um jogo de crianças e complicado como os mais árduos problemas das
matemáticas superiores.
É ingênuo e profundo como a verdade e a natureza.
Esses quatro signos elementares e astronômicos são as quatro formas da esfinge e os
quatro animais de Ezequiel e São João.
Vosso na sagrada ciência.
OITAVA LIÇÃO.
A CABALA V.
Senhor e irmão: A ciência da Cabala impossibilita toda dúvida relativa à religião, por ser ela a única que concilia a razão com a fé, mostrando que o dogma universal formulado de maneiras diversas, porém no fundo sempre o mesmo, é a expressão mais pura das aspirações do espírito humano iluminado pela fé necessária.
Clarifica a utilidade das práticas religiosas que concentram a atenção e fortificam a
vontade.
Prova que o mais eficaz dos cultos é aquele que aproxima, de certo modo, a divindade do homem, permitindo-lhe vê-lo, tocá-lo e, de certa forma, incorporá-lo.
É suficiente dizer que se trata da religião católica. Esta religião, tal como se apresenta ao vulgo, é a mais absurda de todas, por ser a mais bem revelada de todas; emprego esta palavra em sua verdadeira acepção: revelar e; velar de novo.
Sabeis que no Evangelho se diz que na morte de Cristo o véu do Templo se rasgou por completo; bem, todo trabalho dogmático da Igreja, através das idades, foi o de tecer e bordar um novo véu. É verdade que os próprios chefes do santuário, por haverem desejado ser príncipes, perderam há muito tempo às chaves da elevada iniciação. Isto não impede que a letra do dogma seja sagrada e os sacramentos eficazes.
Em meus livros que o culto cristão católico é a alta magia regulada e organizada pelo simbolismo e a hierarquia. É uma combinação de auxílios oferecidos à debilidade humana para afirmar sua vontade no bem.
Nada foi esquecido, nem o templo misterioso e sombrio nem o incenso que tranqüiliza e exalta ao mesmo tempo, nem os cantos prolongados e monótonos que colocam o cérebro em um semi-sonambulismo.
O dogma, cujas formas obscuras parecem o desespero da razão, serve de barreira às petulâncias de um crítico inexperiente e indiscreto. Parecem insondáveis, a fim de melhor representarem o infinito.
Os próprios ofícios, celebrados numa língua que a massa popular não entende, preenchem o pensamento daquele que ora e o deixam encontrar na oração tudo o que está em relação com as necessidades do espírito e do coração.
Eis aí por que a religião católica se assemelha à ave fênix da fábula que renasce continuamente de suas cinzas. E esse grande mistério da fé é simplesmente um mistério da natureza. Pode parecer um paradoxo dizer-se que a religião católica é a única que podei-ia chamar-se natural e, portanto, verdadeira; todavia é a única que satisfaz plenamente essa necessidade natural dos homens.
Vosso na santa ciência.
ELIPHAS LEVI.

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