quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Magia Natural.


A magia natural é direta e objetiva. Apesar de tudo o que possa ter ouvido, a magia não é algo sobrenatural, não natural ou mesmo alienígena. Ela está em nossos próprios quintais, em nossas casas; na própria essência de nossos seres. As forças da Natureza dão poderes à magia – e não aos demônios, "Satã" ou anjos caídos.

Um dos maiores mistérios da magia é que não há mistérios. Pelo contrário, eles estão constantemente se revelando ao nosso redor. O estudo de um simples botão de rosa, de uma folha de grama ou do sopro do vento por meio das folhas de uma árvore revelará tanto quanto, senão mais, sobre a verdadeira natureza da magia do que uma centena de empoeirados tomos renascentistas.

A Natureza é o universo em si. Não apenas seus poderes, mas também suas manifestações. Algumas dessas manifestações, como os espelhos, são artificialmente produzidas, mas estão ligadas e conectadas aos poderes da Natureza por intermédio de seu simbolismo.

Em nossa era cada vez mais automatizada, muitas pessoas se encontram isoladas do planeta que sustenta e mantém nossas próprias vidas. A verdadeira dependência que temos da Terra está esquecida. Muitos estão rompendo suas conexões com a Terra. Como resultado, este é um período de grande agitação, tanto nos planos individuais como no global.

A magia da Terra pode ajudar a descobrir, trabalhar e resolver muitas das pequenas crises e problemas que nos afligem atualmente enquanto indivíduos. Certamente não é uma solução simples para os problemas do mundo, mas pode trazer ordem a nossas vidas, e isso já é um bom começo.

Segundo o pensamento da magia, o corpo humano é o "microcosmo" (pequena representação) da Terra, que seria o "macrocosmo". A Terra é também o microcosmo do Universo. Em outras palavras, somos representações da essência do planeta e, por conseqüência, do Universo. Assim sendo, ao mudarmos a nós mesmos, mudamos a Terra e o Universo.

A magia é útil quando traz tais mudanças a nossas vidas e, dessa forma, à própria Terra, e tais mudanças devem ser positivas.

O objetivo de toda magia, trilhas ocultas e religiões místicas é a perfeição do ser. Embora isto possa não ser obtido em uma vida, é perfeitamente possível que melhoremos a nós mesmos. Este ato singular já faz com que a Terra se torne muito mais saudável.

Se praticar qualquer magia, seja ao desenhar um coração na areia, contemplar um espelho para antever o futuro, seja para atar um nó para auxiliar um amigo com problemas, tenha em mente os mais elevados aspectos de seus trabalhos. Você está melhorando o mundo e ajudando a curá-lo das terríveis mazelas que sofreu por nossas mãos.

É isso que torna o praticante da magia natural verdadeiramente divino.

Os elementos da Magia

Os "elementos" dentro do simbolismo mágico são os componentes básicos de tudo o que existe. Esse quatro elementos – Terra, Ar, Fogo e Água – são ao mesmo tempo visíveis e invisíveis, físicos e espirituais.

A partir desses elementos todas as coisas foram formadas, de acordo com o pensamento mágico. Nosso conhecimento científico atual, que sustenta haver muitos outros "blocos de construção", não contraria este princípio; é apenas uma versão mais elaborada.

Não é nada sábio encarar os quatro elementos em termos puramente físicos. Terra, por exemplo, refere-se não apenas ao planeta no qual vivemos, mas também ao fenômeno terreno, da base e da estabilidade. Similarmente, o Fogo é muito mais do que a labareda.

Uma vez que esta é a magia da Natureza, utilizando poderes, instrumentos e símbolos naturais, é importante compreender tais poderes. Um dos meios de fazê-lo é por intermédio do estudo dos elementos.

O sistema elemental foi elaborado e aprimorado na Renascença, mas sua raízes se estendem muito mais para trás na história. Pode ser visto apenas como um conveniente sistema de organização para os diversos tipos de magia. Pode também ser encarado como o real sistema de poderes que podem ser acessados para auxiliar em encantamentos e rituais. Cabe a você definir o modo como os vê.

Apesar de os elementos serem descritos como "masculinos" e "femininos", isso não deve ser encarado de maneira preconceituosa. Assim como todos os sistemas da magia, isso é simbólico – descreve os atributos básicos dos elementos em termos facilmente compreendidos. Não significa que seja mais masculino praticar magia do Fogo, ou que a magia de Água seja mais apropriada para mulheres. É apenas um sistema de símbolos.

Sua compreensão ajudará muito em seus trabalhos de magia.

Magia das Pedras

A magia das pedras é aquela com a qual quase todas as pessoas estão familiarizadas, pois muitas sabem ao menos da existência das pedras de nascimento, aquelas que "pertencem" ao mês de seu aniversário. Há também uma grande massa de folclore relacionada aos poderes e usos mágicos de pedras preciosas e semipreciosas. Por exemplo, dizia-se que as pérolas causavam lágrimas, as opalas trazem azar a quem as usa e que diamantes representam a constância do amor; eis o porquê de serem usados em anéis de casamento e noivado.

Apesar de o folclore das pedras preciosas e semipreciosas ser geralmente contraditório (alguns peritos dizem que as pérolas causam lágrimas de alegria, e que as opalas atraem boa sorte), isso não é realmente importante, pois é uma prática muito cara que poucos de nós teriam condições de praticar.

Mas as pedras comuns, as quais vemos nas ruas ou escavamos de nossos quintais, aquelas que se amontoam em leitos de rios e praias, ou que se espalham como se uma mão gigante as houvesse espalhado sobre o terreno, essas pedras possuem poderes e podem ser utilizadas em magia do mesmo modo que aquelas de enorme valor comercial.

O simples fato de a pedra ser valiosa não lhe confere nenhum poder especial. Claro que, quanto mais rara for a pedra, maior a mística que a cerca. Os diamantes são um ótimo exemplo. Mas eles não são necessários em magia.

Alguma vez você já se pegou apanhando pedras em um passeio, guardando pedregulhos em seus bolsos sem motivo aparente? Ou talvez você já tenha comprado um pedaço brilhante de ágata ou ônix numa loja de presentes ou de curiosidades. Já se perguntou por quê?

Centenas de milhares de anos atrás, as pedras eram usadas como ferramentas. Elas – e ossos – eram as únicas ferramentas disponíveis, e os povos antigos as utilizavam para colher plantas como alimento, para caçar, costurar suas vestes e executar qualquer tarefa que não pudessem com suas próprias mãos.

Hoje em dia, as pedras não recebem muita atenção, a não ser quando um jardineiro as encontra no solo, e silenciosamente as xinga pelo trabalho que representam para ele. Mas elas podem ser instrumentos valiosos na magia, são baratas e facilmente obtidas. Você mora na cidade? Deve haver um parque em alguma parte, ou um terreno baldio.

Magia das Imagens

A magia de imagens surge como visões de desdenhosos bonecos de vodu repletos de alfinetes pretos. Temos que "agradecer" à mídia e a um século de propaganda fundamentalista por isso...

O tão famoso "boneco de vodu", que nem é ligado apenas àquela religião tão incompreendida nem tampouco é necessariamente um boneco, tem suas origens na magia de imagens, a qual é bem conhecida por todos os sistemas mágicos desde o início da história registrada.

Por toda a parte, foram feitas imagens – de diversos tipos de madeira, argila, chumbo, ouro e prata; gravadas em grandes folhas, cascas de árvore, peles de animais; moldadas em limões, cebolas, maçãs, ovos, nabos, castanhas, cocos, limas, batatas e a famigeradas da raiz de mandrágora.

Algumas vezes, a imagem era esculpida em grande detalhe, até mesmo as tranças do cabelo. Em outras, era uma rústica representação esculpida em superfícies planas, como as cascas de frutas, cascas de árvore ou mesmo na própria terra, rabiscada com as pontas dos dedos ou com bastões na areia.

Sejam quais forem as substâncias, ou os encantamentos, as imagens permanecem sendo um dos objetos mais utilizados na história da magia.

Hoje, após quase cinco mil anos de uso contínuo de uma técnica que remete a um período no qual vivíamos em cavernas, ainda carrega uma infundada reputação maligna.

Certo, a magia de imagens foi utilizada para propósitos negativos, mas do mesmo modo quase todos os outros tipos de magia também o foram. Sua contribuição mais útil às artes da magia foi permitir a nós que tivéssemos uma planta, um diagrama de nós mesmo ou daqueles para os quais queremos praticar magia.

A imagem realmente não se torna a pessoa representada; nenhuma imagem é batizada ou recebe o sopro da vida, como nos trabalhos mais obscuros.

As figuras ou imagens servem apenas como uma planta com a qual planejamos e geramos nosso futuro, sempre visando melhores condições.

Magia de Nós

A magia de nós tem suas origens há pelo menos 4.000 anos, quando as tabuletas cuneiformes foram confeccionadas no Oriente Próximo, descrevendo vários tipos de magia que envolvem o uso de nós.

Apesar de ser conhecida em todas as culturas e provavelmente por todas as eras, a magia de nós está caindo em desuso atualmente e corre o risco de ser completamente esquecida.

Por que deveria uma forma de magia global, simples, prática e eficaz ser esquecida? Provavelmente pelo simples fato de ser simples e prática. Na maioria das vezes a magia tem sido adornada em rituais que beiram o absurdo: algo muito simples era desdenhado por aqueles que aprenderam rituais pomposos e estilizados.

A magia de nós ainda é tão poderosa quanto em 2000 a. C. e ainda pode ser utilizada hoje em dia com bons resultados.

Há muitos "remanescentes" da magia de nós na cultura contemporânea. Um dos focos de "remanescência" é o folclore, num costume ou superstição praticado ou lembrado por pessoas que esqueceram suas origens.

Por que amarramos um barbante ao redor de um dedo para nos lembrarmos de algo importante, por exemplo? O que exatamente significa a expressão em inglês "he's bound to do it"? ("Ele está destinado a isso", ou, literalmente, ele está 'amarrado' a isso".)

Atar um nó de forma concreta, física, a uma idéia, concepção ou pensamento abstrato. Portanto, quando ata um nó ao redor de seu dedo, pensando na coisa que deseja lembrar posteriormente, você está estabelecendo uma conexão em sua mente entre nó (o físico) e o pensamento de que precisa se lembrar (o mental). Num plano mais mágico, você ata o nó não para se lembrar do assunto, mas para ter certeza de que você irá se lembrar dele.

Uma das técnicas da magia de nós é atá-lo, especialmente ao redor da imagem de uma pessoa, literalmente "amarrando" a imagem com um barbante, ou a imagem a um objeto, com a intenção de inibir as ações, os pensamentos da pessoa. "He's bound to do it", ele está amarrado a esse destino, remete-nos a um tempo no qual acreditava-se literalmente nessa expressão – alguém teria que fazer algo porque sua imagem estava amarrada.

Difícil de acreditar? Séculos atrás havia muitas leis e estatutos proibindo que imagens fossem amarradas, assim como o uso de nós em magia.

De fato, a certa altura qualquer ornamento torcido ou com nós era considerado pagão e idólatra na Alemanha, enquanto, por outro lado, entalhava-se freqüentemente nós mágicos em igrejas para proteger contra a entrada de magia ou "espíritos" pagãos.

Magia com Velas

A magia com velas é uma arte complexa, e vários bons livros foram escritos sobre o assunto. Entretanto, apresentamos aqui as bases, uma vez que elas podem ser incorporadas a outras formas de magia. É também um método bem prático. Os poucos rituais e encantamentos aqui apresentados cobrem uma grande variedade de situações e, com uma dose de criatividade, podem ser levemente adequadas para servir a qualquer necessidade.

A magia com velas acesas funciona com o auxílio do fogo (a chama da vela), das cores (a vela em si) e outros itens que deseje utilizar. É habitual utilizar ervas em conjunto com a magia de velas, pois são um reservatório de energia por si só.

Magia dos espelhos

A pergunta da rainha das feiticeiras a seu espelho mágico no antigo conto de fadas, hoje conhecido como "Branca de Neve", é um eco de práticas tão velhas quando o próprio tempo. Como muitos dos instrumentos de magia, o espelho é um objeto inspirado na Natureza.

Os primeiros espelhos eram os lagos. Num dia tranqüilo, quando as águas não formam ondas, pode-se observar um reflexo bastante detalhado. Na tentativa de capturar esse fenômeno, poliam-se pedras e metais até que, por fim, produziu-se o vidro que, quando revestido em um dos lados com uma fina camada de prata, produzia uma superfície reflexiva perfeita – um lago perfeitamente cristalino, "congelado" para ser usado quando desejado.

Espelhos (e superfícies reflexivas) há muito dominam nossa imaginação. Há diversas referências a espelhos no folclore, assim como na magia, se bem que tais práticas estão quase que esquecidas hoje.

O simbolismo do espelho é simples e ao mesmo tempo complexo. É considerado sagrado à lua, pois, como a lua reflete a luz do sol, o espelho é um objeto reflexivo. Sendo um símbolo lunar, os espelhos utilizados em magia são geralmente de forma redonda.

Além disso, os espelhos nos permitem ver coisas que não poderíamos ver sem sua ajuda – não apenas as coisas físicas, mas também coisas mais elevadas, como as memórias de vidas passadas, visões do futuro, ou de eventos ocorrendo simultaneamente em outros locais.

A magia com espelhos provavelmente teve seu apogeu durante a Grécia Clássica e em Roma. Espelhos polidos de bronze eram utilizados em rituais de magia e cosméticos. A maioria desses espelhos era pequena e usada com as mãos.

Uma antiga técnica para induzir clarividência é refletir a luz de uma fogueira na lâmina brilhante de uma espada ou faca; o reflexo assim apanhado causava visões a quem nela se concentrava. Esta é apenas mais uma forma de magia com espelhos metálicos.

Apesar de práticas como essa ainda serem utilizadas, a maioria das práticas de magia com espelhos atualmente é feita com espelhos de vidro. Espelhos antigos não são necessariamente melhores, pois tendem a possuir imperfeições (como a perda da folha de prata), o que pode interferir. Muitas vidraçarias cortam espelhos sob medida, portanto não é impossível obter aqueles redondos.

Para rituais rápidos, pode-se até mesmo utilizar um espelho de bolso, se bem que isso é muito mais fácil para mulheres. Muitos encantamentos foram lançados enquanto uma mulher fingia retocar sua maquiagem.

Lembre-se sempre de que o espelho é uma simples ferramenta, um elo com a lua, com seu subconsciente, e por fim com a própria Natureza.

A magia costuma ser espontânea, e você deve estar preparado praticamente para tudo.

Magia do Mar

É aquela praticada próximo ao oceano, ou com objetos criados e transformados pelo oceano.

Há milênios o mar é cultuado, temido, consagrado, ora-se a ele, oferecem-se sacrifícios a ele, é reverenciado. Tem sido a morada de deusas e deuses, sereias e tritões, ondinas e serpentes – monstros horrendos e encantadoras sereias que enganavam os marinheiros, atraindo-os para a morte em rochas traiçoeiras.

Sob suas ondas escondem-se antigas e fabulosas terras e civilizações – Atlântida, Lemúria, Lyonesse, para citar algumas – e dele toda a vida surgiu. Portanto, o mar é tanto o início quanto o fim, o alfa e o ômega – a fonte de toda a vida e daquilo que a consome.

Em priscas eras, assim como hoje, os centros populacionais localizam-se nas proximidades de rios ou na costa, garantindo acesso fácil e alimentos – peixes, crustáceos, algas - bem como uma plataforma pela qual artefatos de bambu e piche, madeira e cordas, e posteriormente de formas mais sofisticadas, podiam flutuar e viajar para terras distantes.

Esses povos dependiam do mar para obter alimento; assim, suas próprias vidas eram nele personificadas. Deusas e deuses surgiram de suas profundezas e amorosamente abriram seus braços para abraçar os povos simples, ou sopravam ondas que destruíam suas frágeis embarcações e devastavam aldeias.

Assim como os rios, nascentes e riachos eram reverenciados, também o mar o era. Em conjunto com os ritos religiosos, praticava-se magia, assim como hoje.

Muitas das antigas deidades do mar são hoje objeto de livros – Possêidon, Ísis, Llyr, Mari, Netuno, Shony, Tiamat, Dylan, Manannan – todos esses e muitos outros receberam libações, incensos, sacrifícios.

O que os livros parecem desconhecer é que eles ainda vivem; seus murmúrios são ouvidos nos ruídos do oceano e seus poderes aumentam e minguam com a lua. Eles aguardam o momento de se erguer e serem novamente reconhecidos.

Apesar de não precisar cultuar o mar ou suas deidades para praticar a magia do mar, você deve respeitá-lo como um amplo depósito de poder. É nossa mãe ancestral, mais antiga que os continentes sobre os quais vivemos, mais velha que a árvore ou a pedra. É o próprio tempo.
Rituais e Encantamentos da Tradição', de Scott Cunningham;

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