sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
PISTIS SOPHIA: OS ENSINOS INTERNOS DE JESUS.
O anseio de todo verdadeiro cristão de ter acesso aos ensinamentos secretos de Jesus já pode ser atendido. O livro "PISTIS SOPHIA - Os Mistérios de Jesus", recém-publicado pela editora Bertrand Brasil, contém boa parte destes ensinamentos mais reservados que foram ministrados aos discípulos após a ressurreição do Mestre.
Este documento, originalmente escrito em grego, tido como perdido, foi conservado pela providência divina numa tradução para o copto, a língua do Alto Egito nos primeiros séculos da nossa era. O manuscrito foi trazido para a Inglaterra por volta de 1772, mas somente em meados do século dezenove o texto foi traduzido para o latim e, no final daquele século e início do século XX, para algumas línguas vivas européias.
Apesar da tradição oral confirmar a importância daquele documento como o mais esotérico de todos os ensinamentos de Jesus que foram preservados, ele teve relativamente pouco impacto no mundo cristão e mesmo em seus círculos esotéricos, devido ao caráter velado da linguagem com que foi escrito, que dificultava sobremaneira o seu estudo por aqueles que não dispunham das chaves para a sua interpretação. Esta dificuldade foi em grande parte superada com a publicação da atual versão brasileira do livro, que contém uma introdução de quase 50 páginas com uma interpretação do mito de Sophia e mais de 400 notas explicativas, baseadas principalmente em comentários de Helena P. Blavatsky ao texto. A decodificação da linguagem simbólica apresentada na atual versão brasileira permite que os profundos ensinamentos da maravilhosa história possam ser melhor compreendidos.
O manuscrito descreve a Ascensão de Jesus como um evento iniciatório, e nele são apresentadas interpretações reservadas de vários aforismos e parábolas do Mestre proferidos durante seu ministério público, destacando-se a importância dos mistérios, ou sacramentos, que perdoam pecados. Mas é na narração do mito de Sophia que reside seu valor inestimável para a tradição cristã.
O mito de Sophia é a descrição simbólica da longa peregrinação da alma através de muitas encamações na Terra até o retorno ao seu lugar de origem. Ao despertar para a realidade de sua fonte divina, a alma volta-se ansiosa para a Luz do Alto, para Deus. A narrativa culmina com a revelação de que o destino de todas as almas é o retorno ao aconchego da Casa do Pai, como indicado na Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32) e no Hino da Pérola (publicado no TheoSophia nº 3 de 1997).
Evidencia-se o mito de Sophia na mais completa apresentação cosmogônica da tradição ocidental, com reveladores insights sobre as relações entre os diferentes níveis da manifestação do inefável e os princípios constituintes do ser humano.
Estes princípios são os fundamentos da psicologia moderna apresentada, dois milênios depois, por Jung. Pistis Sophia (P.S.), a heroína da história, simboliza a alma, a unidade de consciência da natureza inferior, quaternária, do homem, enquanto Jesus, o par de P.S., simboliza a natureza superior tríplice do homem que, no devido tempo, intervém como o Salvador da alma. O processo de salvação ocorre por meio de uma série de "arrependimentos" e invocações de P.S., em que ela se lamenta das aflições que lhe são causadas por várias entidades que a perseguem para retirar a sua luz. Dentre estas entidades destacam-se o Autocentrado e sua emanação, o 'poder com aparência de leão', e os 'regentes' dos eons. Estes seres são os verdadeiros inimigos da alma: o Autocentrado é a personalidade vaidosa, egoísta e presunçosa do homem; o poder com cara de leão é o egoísmo; os regentes dos eons são os desejos e as paixões que constantemente afligem a alma. Portanto, os perseguidores de P.S., os senhores das trevas, não são entidades exógenas, mas sim aspectos internos da constituição do homem.
O papel central dos 'arrependimentos' no processo de salvação de P.S. torna-se claro quando se verifica que o termo original traduzido por arrependimento vem da palavra grega metanoia, termo que extrapola esta acepção, pois que significa a transmutação do estado mental, o que leva ao arrependimento. Portanto, o longo processo de salvação de P.S. é a progressiva transformação dos estados mentais do homem, que leva finalmente a sua libertação do caos, que, na história, ocorre simultaneamente com a apoteótica ascensão de Jesus ao Alto. Assim, a salvação da natureza inferior do homem é coincidente com a glorificação de sua natureza superior, simbolizada pelo Mestre. As diferentes etapas da salvação de P.S. são apresentadas em correspondência com as cinco grandes Iniciações, indicando as expansões de consciência por que passa a alma, incluindo sua iluminação e a dolorosa 'noite escura', até sua libertação final da matéria. Curiosamente esta fórmula para a libertação, ou metanoia, é a mesma exposta na doutrina budista, comprovando que os ensinamentos esotéricos dos grandes Mestres provêm de uma fonte única, a Tradição-Sabedoria.
A cosmogonia de P.S. distingue claramente duas etapas: a não-manifestação e a manifestação. A entidade suprema, a fonte de tudo o que existe, visível e invisível, permanece não-manifestada, sendo chamada de Inefável, aquele ou aquilo sobre quem nada pode ser dito, pois está infinitamente além de qualquer concepção pelo homem. Quando o Inefável decide manifestar-se no processo de auto-expressão, surgem diferentes entidades em cinco planos básicos de manifestação. Neste sentido, a cosmologia de P.S. apresenta um estreito paralelo com o Vedanta e a Teosofia.
Cada um daqueles planos básicos está divido em três regiões: direita, meio e esquerda. Na região da direita, ou superior, manifestam-se entidades idealizadoras, isto é, criadoras de arquétipos para as entidades do meio que, por sua vez, são os mantenedores, e da esquerda, ou região inferior, que são os agentes, ou executores, das funções do plano. Seus papéis parecem ser respectivamente o de Pai, Mãe e Filho, ou seja, a semente, a terra que nutre e o fruto.
O lugar de origem de Pistis Sophia é o plano intermediário, chamado de Plano Psíquico, equivalente ao Plano Mental Concreto, onde se situa a unidade de consciência (a alma) do homem encarnado. Ela cai no caos, subentendido como o estado de perturbação da mente, sendo perseguida pelos regentes dos eons, que são os desejos, as emoções e paixões do plano astral. Seu salvador é Jesus, sua contraparte, que simboliza a luz do Alto, o divino no homem, o princípio Búdico (o Cristo interior).
O método de instrução de Jesus objetiva a transformação do homem a partir de seu interior, de dentro para fora, e, assim, não são enfatizados os ensinamentos tradicionais de valores morais, geralmente usados para promover o ajuste da personalidade de fora para dentro. O próprio nome Pistis Sophia transmite a chave para o entendimento do processo: Pistis significa fé, a fé primordial da alma em sua natureza divina, confirmada após seu despertar espiritual pelo conhecimento interior, a gnosis. A fé é a força que impele a alma para a salvação. Sophia, por sua vez, quer dizer Sabedoria, o objetivo final da peregrinação da alma, a sabedoria dos dois mundos, visível e invisível.
Após a entoação de cada 'arrependimento' de P.S., um dos discípulos oferece, alternadamente, sua 'interpretação' deste arrependimento, que se baseia nas mesmas idéias contidas nos Salmos de Davi e nas Odes de Salomão. Há aí a indicação de que os ensinamentos transformadores sempre estiveram disponíveis em todas as tradições, inclusive na dos profetas, da qual Jesus foi o maior representante.
Jesus procura despertar os homens para a realidade de sua origem divina e de sua missão na Terra. Visto sob este ângulo, o texto poderia ser interpretado como um 'mapa do tesouro', indicando a rota da grande jornada da alma e os principais acidentes geográficos do caminho, assinalando ainda as precauções a serem adotadas pelos peregrinos divinos.
Existem na obra inúmeros ensinamentos que podem tocar a alma de cada um dos leitores de forma diferente. Neste sentido o texto é mágico e está destinado a atuar em cada coração sincero que procura com afinco e determinação as chaves que lhe permitam abrir as Portas do Reino dos Céus.Edilson Pedrosa e Raul Branco.
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