contos sol e lua

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sábado, 21 de abril de 2012

Disse uma Rosa Rubra para a Cruz:

Disse uma Rosa Rubra para a Cruz: "Por que razão me crucificas e não me purificas na Magna Luz de que tanto falas, empolgada?!" Respondeu-lhe a Cruz, pausada e friamente: "É preciso que purgues de ti toda a essência sem perfume, para que somente este reste em tuas pétalas machucadas." Assustada, indagou a Rosa, novamente: "Qual a razão de me quereres ver ferida, emanando um perfume que só pode ser o da dor volatilizada? Prefiro, pois, a purificação sem sofrimento. Onde obterei a anestesia?" Deu-lhe a Cruz esta resposta: "A morfina que tanto queres é justamente o perfume dolorido. Para o obteres hás de sofrer, e hás de ter caído e levantado várias vezes. Somente então o deterás, como ópio permitido. Daí em diante mais nada sofrerás, pois de nada mais precisarás." "Oh!" - disse a Rosa, prosseguindo em suas indagações profundas - "Então não há como ser poupada dessa mágica e cruel alquimia?" "Não" - redarguiu-lhe a Cruz, enfatizando: "Para que serviria eu, com esses braços, cruzados sobre a reta do caminho, se tu aqui não viesses repousar, para conhecer a natureza do teu próprio espinho?" "Bem" - falou a Rosa para a Cruz - "penso em abolir tua existência e ficar à mercê de meus espinhos. Assim não os sentirei me atormentando, mesmo que a outros firam por acaso. Não terei culpa no processo, afinal não pedi que me tocassem e muito menos para ser colhida." "Como queiras" disse a Cruz, em tom indiferente. E prosseguindo: "Serás cortada e para um belo vaso irás, no qual logo, logo fenecerás. Não terás sido purificada e nem teu perfume sobrará. Outras rosas nascerão na Roseira que te deu Vida, mas não serão a tua continuação. De ti mesmo tu te esquecerás, será como se nunca tivesses existido. Eu continuarei aqui, no chão duro da Dualidade, porque algumas outras Rosas virão sobre mim repousar; destas, umas poucas florescerão e poderão ser purificadas. Do perfume puro que emanarão, uma nova Cruz será formada: Só que sem dor nem sofrimento, apenas para mostrar entendimento. Meu papel terá sido cumprido, uma vez mais, no firmamento, para onde todos olham e nada vêem além de vagas luzes cintilantes." Então, distante - bem distante - , Lá no final da Espiral da Vida, um Grande Portal Azul se abriu, e eis que Era Verde por dentro, como o Logos Do Santo Espírito (o Deus Abstrato por tudo Distribuído e docemente disseminado). Uma voz se ouviu, suave e dotada de Poder, Pronunciando o mantra OM, antigo E ao mesmo tempo nascituro , Criando mundos e eras novas Sempiternamente renovadas E depois trituradas ao ranger de dentes Ao som da Música das Esferas Numa fantástica sinfonia inacabada E sempre recomeçada novamente . Mas em seguida um grande silêncio se fez E uma Rosa Branca apareceu Falando por telepatia Com todos os seres existentes: "Eis que fui Vermelha um dia, depois vi-me Iniciada. Sobrou de mim a verdadeira natureza, com a qual eu fora originalmente inventada. Apresento-me agora no Portal Azul para mostrar minha nova imagem: A que eu tinha antes de nascer e que me fora retirada." Disse então a Rosa Rubra para a Cruz No chão cruel da Vida docemente estirada: "Agora entendo o que dizias e então quero ser purificada". "Assim será feito" - disse-lhe a Cruz - "e tu serás iniciada. Continuarei a fazer o meu serviço, convidando e sendo recusada. Nunca esmorecerei, porém, emitindo mensagens renovadas. No fim a instrução será sentida, e com agrado recebida, mesmo que depois de contestada." Assim Rosa e Cruz se uniram Em alquímicas bodas assumidas. E não muito depois se separaram Para viver suas novas vidas, Permanentemente renovadas. Aquela Rosa que era Rubra Agora é Branca; e aquela Cruz Antes deitada agora está erguida, Sem que nada em si esteja pregado. Um novo ciclo se inicia E tudo é recomeçado. Novas Rosas nascem na Roseira, Ante o Portal Azul escancarado. Umas florescerão na Cruz da Vida, Outras murcharão no vaso. A Cruz e a Rosa sempre existirão Formando a Rosa+Cruz Verdadeira Que aponta para a Eterna Luz, A qual por ela vela, permanentemente, Sendo continuamente emitida, Em uma mensagem transmitida Muito além da compreensão, Invisível e intocável, Perceptível pelo Coração. Frater Velado.

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